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RESUMO: Nos últimos anos, a pecuária de corte vem se desenvolvendo ligeiramente devido
à estabilidade da moeda e à contenção da inflação. Esses motivos têm levado os profissionais
da área a se tornarem mais competitivos, não havendo mais a possibilidade de ganhos
financeiros compensatórios decorrentes de produção ineficiente. O enfoque deste estudo está
na maximização de lucro do produtor de gado de corte utilizando a teoria econômica da firma.
Em outras palavras, encontrar a partir de qual dia o benefício de continuar mantendo o boi
vivo não compense o seu custo marginal. Com base nas pesagens realizadas em 133 animas
da raça Nelore, em modelos de regressão e de séries temporais serão estimadas as curvas de
receita e de custo marginais, levando-se em conta os ganhos e as despesas para a produção do
gado. De acordo com os resultados obtidos, é vantajoso financeiramente para o produtor
manter os animais vivos até 794 dias após o nascimento para maximização de seus lucros com
o gado de corte.
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Figura 1 – Preço da arroba do boi gordo em Mato Grosso do Sul, desde a década de 70 até o
ano de 1997.
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Com relação ao mercado internacional, pode-se predizer um aumento nas exportações
visto que a produção brasileira possui grande competitividade (custos menores) em relação à
produção européia e americana. Isto fica ainda mais evidente ao considerarmos a retirada de
subsídios nesses países, permitindo amplas vantagens competitivas ao Brasil. Apesar de
exportar para mais de 140 países, mercados como Estados Unidos, Japão e Coréia, que
correspondem à metade das compras mundiais de carne, vetam a carne brasileira devido a
questões sanitárias. De acordo com notícia do sítio RankBrasil, em 2006 o Brasil foi o maior
exportador mundial de carne bovina, mesmo com as restrições feitas por mais de 50 países a
esse produto, devido aos focos de febre aftosa detectados no país. Sabendo que as restrições
em relação à carne bovina brasileira diminuíram nestes últimos anos, espera-se que a
exportação desse produto brasileiro aumente nos próximos anos.
Dada essa perspectiva de aumento da demanda do produto, além da entrada de novos
produtores em função de estarmos num mercado de competição perfeita, possivelmente
ocorrerá um aumento da oferta de carne. Por esses motivos, observa-se a necessidade de
manejo mais eficiente dos recursos disponíveis, havendo aumento na competição do mercado
externo tornando as fases da pecuária de corte mais especializadas.
Por conseguinte, o produtor precisa utilizar um método de produção tecnicamente
eficiente, no qual não ocorra o desperdício de insumos. Essa suposição é perfeitamente
plausível, já que está sendo feita uma projeção para um período de longo prazo no qual a
fazenda pode alterar a quantidade de todos os seus insumos.
A questão crucial a ser considerada é o estudo da lucratividade por cabeça de boi
possível de ser atingida em determinado período de produção, calculada com base na receita e
no custo da fazenda, especialmente dos valores dos insumos da ração. Neste trabalho
propomos uma metodologia para encontrar o dia ótimo para o abate do animal de forma a
atingir a lucratividade máxima, isto é, obter o dia em que não será compensatório manter o
animal vivo, uma vez que os seus gastos com alimentação e demais custos variáveis excedem
o ganho potencial com o acréscimo de peso do boi.
2. METODOLOGIA
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preço. Em mercados com concorrência perfeita os produtores podem vender qualquer
quantidade ao preço de equilíbrio (intersecção das curvas de oferta e demanda) e o aumento
de preços faz com que percam grande parte de seus clientes. O modelo de competição perfeita
baseia-se em três suposições básicas: todas as empresas produzem um produto idêntico; cada
uma delas é tão pequena em relação à dimensão do setor que suas decisões não têm impacto
sobre o preço de mercado (são aceitadoras de preços) e há livre entrada e saída de
concorrentes. No curto prazo, estas empresas operam com lucro econômico positivo. No
longo prazo, quando a entrada de participantes no mercado torna-se viável, o lucro econômico
positivo atrai a entrada de novos competidores e essa entrada ocorre até o ponto no qual o
lucro econômico passa a ser zero, não sendo mais um investimento atrativo a novos
investidores.
O lucro (L) de produção é definido como a diferença entre a receita ou ganho (R) e o
custo (C) de produção. A curva da receita reflete o fato de que a empresa só consegue vender
um nível maior de produto reduzindo o preço. A inclinação desta curva recebe o nome de
receita marginal, que mostra em quanto varia a receita quando o nível de produção aumenta
em uma unidade. Da mesma forma, a inclinação da curva do custo é o custo marginal da
empresa e indica o custo adicional da produção de uma unidade a mais de produto. Todas
estas quantidades dependem do peso do boi, que depende do tempo de vida do animal.
O enfoque deste estudo está na maximização de lucro, por cabeça de boi, ou seja,
obter o dia em que, a partir dele, o benefício marginal de continuar mantendo o boi vivo não
compense o seu custo marginal. De acordo com a teoria econômica da firma, para todas as
empresas competitivas ou não, o lucro é maximizado quando a receita marginal é igual ao
custo marginal.
Esta regra pode ser facilmente obtida de maneira algébrica. O lucro (L = R - C) é
maximizado no ponto em que um incremento adicional no nível de produção mantém o lucro
inalterado, isto é,
∆L ∆ (R − C ) ∆R ∆C
= = − = Receita Marginal − Custo Marginal = 0 , (1)
∆peso ∆peso ∆peso ∆peso
em que
∆R é a variação da receita (em Reais),
∆C é a variação do custo (em Reais) e
∆peso é a variação do peso do animal (em arrobas).
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E, desta forma, podemos concluir que o lucro é maximizado quando a receita marginal
é igual ao custo marginal. Para mais detalhes sobre o resultado anterior, vide, por exemplo,
Pindyck e Rubinfeld (2006) e Stockman (1999).
A receita marginal será representada pelo produto do ganho de peso diário (medido em
arrobas), do aproveitamento da carcaça do animal (54%, segundo o produtor), do preço diário
da arroba de boi e do número de bois, ou seja, a receita marginal é dada pela equação
Desta maneira, para calcular a receita marginal com base na curva de ganho de peso
dos animais, que depende do tempo, precisamos estimar o ganho de peso. Isso será feito
usando um modelo de regressão linear cuja variável resposta é o ganho de peso do animal (em
Kg) e as variáveis explicativas são o tempo de vida do animal (em dias) e seu quadrado. Além
disso, precisamos estimar o preço da arroba do boi no cenário futuro, que será feito com base
num modelo de séries temporais.
Sabe-se que o ganho de peso para bovinos varia muito segundo suas características
próprias, tais como sexo, idade, peso, tamanho, raça, cor, comprimento do pêlo e outras; além
de condições ambientais como temperatura, chuva, velocidade do vento, presença de barro no
chão e tamanho do local, por exemplo. Desta forma, o estudo foi restringido a animais
machos, castrados, de raça Nelore, mantidos com água, sal mineral e alimento volumoso,
todos disponíveis de forma ilimitada, sem considerar estresse significativo ligado à
temperatura, vento ou precipitações.
O custo total de produção pode ser dividido em duas categorias: os custos fixos e os
custos variáveis. Os custos fixos são aqueles que não variam com a quantidade produzida e
têm duração superior ao curto prazo (período de tempo mínimo necessário para que um ciclo
produtivo se complete), ou seja, são custos relacionados a despesas com mão-de-obra,
sanidade, reprodução e benfeitorias na fazenda. Os custos variáveis são aqueles que variam de
acordo com a quantidade produzida e cuja duração é igual ou menor que o ciclo de produção
(curto prazo).
Neste trabalho, utilizaremos apenas a parcela do custo total referente aos custos
variáveis, mais especificamente os gastos com alimentação dos animais, pois estes são o
principal fator do custo variável e é esta parte do custo total que pode ser controlada de acordo
com o peso e o tempo dos animais. Ademais, mesmo que coloquemos os custos fixos, não tem
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sentido calcular custo fixo diário, uma vez que não podemos demitir funcionários ou deixar de
fazer benfeitorias na fazenda por conta do peso do boi antes do abate.
Desta forma, o custo marginal é dado pelo produto do custo da ração, de acordo com o
peso do boi, pelo número de animais, ou seja,
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para maximizar a lucratividade, será necessário saber qual o dia ótimo para o abate do
animal. Com base na teoria econômica da firma, na amostra de pesagens dos bois, nos custos
e nas receitas fornecidos, o lucro máximo se dará no dia em que a receita marginal se igualar
ao custo marginal, conforme equação (1). Para tanto, é necessário estimar a curva que
representa o comportamento da receita e do custo marginais para estes animais.
O trabalho foi desenvolvido com base numa amostragem de 133 animais e suas
respectivas pesagens durante determinados períodos de vida. Consideraremos uma ração já
existente, elaborada pelo produtor e pela Embrapa, com o preço dado e que o boi tem um
rendimento de carcaça de 54%, ou seja, do peso vivo, apenas 54% será efetivamente
considerado para a remuneração do produtor.
Para modelar o ganho de peso dos animais foi considerado o tempo de vida do animal
e seu quadrado como variáveis explicativas e o logaritmo neperiano do ganho de peso como
variável resposta. Tal alternativa foi considerada segundo uma análise gráfica da engorda ao
longo do tempo, que evidenciou o ganho de peso (em Kg) como uma função logarítmica da
idade (em dias) dos animais. Isso significa que o animal vai ganhando peso até determinado
dia e então começa a estabilizar seu peso (índice de conversão alimentar começa a crescer, ou
seja, o animal ingere determinada quantidade de comida, mas engorda menos quando
comparado ao período anterior).
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Para estimar os parâmetros do modelo foi utilizado o método dos mínimos quadrados
ordinários, implementado no software Eviews. Vale notar que a intenção deste modelo não é
relacionar o ganho de peso a todas as variáveis que o influenciam, mas sim verificar qual a
importância do tempo de vida do animal para sua respectiva engorda. O modelo estimado e os
erros padrões (entre parênteses) são
l̂n (ganho de peso ) = 0,006354 x tempo − 0,00000366 x tempo 2 , (4)
(0,00063 ) (0,00000080 9 )
em que
ln( ) representa o logaritmo neperiano;
ganho de peso = (peso final – peso nascimento) / peso nascimento, em Kg;
tempo = data de abate – data de nascimento, em dias.
Isto é, o ganho de peso, que estava crescendo, começa a decair a partir do ponto em
que o intervalo de tempo é igual a 868 dias, o que corresponde a 2 anos, 4 meses e 28 dias.
Para verificar a adequabilidade do modelo apresentado, foi feita uma análise completa
de resíduos com alguns métodos gráficos e inferenciais para validar as suposições do modelo
de regressão linear. A partir da observação dos gráficos dos resíduos em função das variáveis
explicativas, foi possível perceber que não há evidências de falta de linearidade nos
parâmetros; não há presença de valores com comportamento anômalo; e, aparentemente, não
há problemas de heterocedasticidade dos erros. Para testar a presença de heterocedasticidade
nos erros, foi utilizado o teste de White (1980), cujos resultados indicaram existência de
homocedasticidade (p-valor = 0,287). Já para verificar a suposição de normalidade dos erros,
foi realizado o teste Jarque-Bera (1981), cujo resultado indicou a não normalidade dos
mesmos (p-valor < 0,05). Contudo, como apenas dois parâmetros estão sendo estimados e o
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tamanho amostral é relativamente grande (n = 133), podemos usar os resultados provenientes
da teoria assintótica. Para detalhes vide Wooldridge (2003) e Heij et al. (2004).
O modelo (4) relaciona o logaritmo do ganho de peso com o intervalo de tempo de
vida do animal, contudo, o objetivo é relacionar o ganho de peso do animal ao tempo. Ou seja,
serão necessárias algumas transformações para calcular o ganho de peso, efetivamente. Em
outras palavras, para descobrir qual o ganho de peso em relação ao peso inicial para um
animal com idade qualquer basta calcular o logaritmo estimado do ganho de peso no modelo
(4) e substituir este valor na seguinte equação
(
ĝanho de peso = 1,017689 x exp l̂n (ganho de peso ) . ) (5)
O uso da equação (5), proposta por Wooldridge (2003), se faz necessário para gerar
previsões não-tendenciosas para o ganho de peso.
Tabela 1 – Previsão para o preço real da arroba do boi gordo para janeiro de 2010 a dezembro
de 2012.
Data Preço da Arroba Data Preço da Arroba
Jan - 2010 75,36 Jul - 2011 76,71
Fev - 2010 75,58 Ago - 2011 76,78
Mar - 2010 75,57 Set - 2011 76,86
Abr - 2010 75,58 Out - 2011 76,93
Mai - 2010 75,66 Nov - 2011 77,01
Jun - 2010 75,75 Dez - 2011 77,08
Jul - 2010 75,82 Jan - 2012 77,16
Ago - 2010 75,90 Fev - 2012 77,23
Set - 2010 75,97 Mar - 2012 77,31
Out - 2010 76,04 Abr - 2012 77,38
Nov - 2010 76,12 Mai - 2012 77,46
Dez - 2010 76,19 Jun - 2012 77,53
Jan - 2011 76,26 Jul - 2012 77,61
Fev - 2011 76,34 Ago - 2012 77,68
Mar - 2011 76,41 Set - 2012 77,76
Abr - 2011 76,49 Out - 2012 77,84
Mai - 2011 76,56 Nov - 2012 77,91
Jun - 2011 76,64 Dez - 2012 77,99
Fonte: Elaborado pelos autores.
Vale lembrar que as previsões foram feitas para os preços reais, devendo-se
acrescentar a previsão da inflação para obtenção de valores nominais. Além disso, está sendo
projetado um grande intervalo de tempo, o que gera grandes erros de previsão. Vale ressaltar
que qualquer outra metodologia pode ser usada para obtenção das previsões do preço da
arroba, uma vez que, independente destes valores, a teoria utilizada será a mesma.
Tabela 2 – Custo da ração por animal, de acordo com as diversas pesagens dos bois.
Peso (Kg) Custo (R$) Peso (Kg) Custo (R$)
200 0,90 390 0,70
210 0,89 400 0,71
215 0,89 410 0,71
217 0,88 420 0,72
220 0,62 430 0,73
230 0,61 440 0,74
240 0,61 450 0,74
250 0,61 460 0,75
260 0,61 480 0,76
270 0,62 490 0,77
280 0,63 500 0,77
290 0,63 510 0,79
300 0,64 520 0,81
310 0,64 530 0,83
320 0,65 540 0,85
330 0,65 550 0,87
340 0,66 560 0,89
350 0,67 570 0,92
360 0,68 580 0,94
370 0,68 590 0,96
380 0,69 600 0,99
Fonte: Embrapa
Para calcular o ganho de peso diário, foi subtraído o peso do dia t em relação ao peso
do dia t-1, gerando assim a variação diária no peso (em kg). Ainda, dividindo-se o valor do
ganho diário de peso (em kg) por 15 tem-se o ganho diário de peso medido em arroba.
O custo marginal foi calculado com base na equação (3) e a receita marginal foi
calculada segundo a equação (2). O lucro ótimo é obtido igualando-se o custo e a receita
marginais e este valor ocorre no dia 794, vide linha em negrito da Tabela 3. Portanto, o dia
ideal para o abate, no sentido de maximizar o lucro, é 794 dias após o nascimento dos
animais, aproximadamente, pois, a partir desta data a receita marginal não compensa mais o
custo marginal.
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4. CONCLUSÕES
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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