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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e
poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
Para todos que querem um país melhor
Sumário

INTRODUÇÃO
A DENÚNCIA
A ESTRATÉGIA DA DEFESA DE LULA
A SUPOSTA GUERRA JURÍDICA
SUPOSTA ANIMOSIDADE DE MORO EM RELAÇÃO AOS DEFENSORES DE LULA
SUPOSTA INCOMPETÊNCIA DE MORO
INQUÉRITO 4325 NO STF
SUPOSTO CERCEAMENTO DE DEFESA
TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO – COLABORADORES PREMIADOS
A DENÚNCIA DO TRIPLEX
O DEPOIMENTO DE LÉO PINHEIRO E A SUPOSTA CONTA DE PROPINAS
O ARMAZENAMENTO DO ACERVO PRESIDENCIAL
CONCLUSÃO
EPÍLOGO
INTRODUÇÃO

Política é assunto que sempre despertou paixões e polêmicas. Tanto que está no rol dos três
assuntos “que não se discutem”, junto com futebol e religião. Não é que não se discutam, mas se deve
avaliar a chance de perder amigos em discussões acaloradas sobre esses temas.
Num assunto dessa magnitude, que envolve a condenação de um popular ex-Presidente da
República, condenação esta que pode interromper seu desejo de vir a governar o Brasil novamente, não é
prudente se apegar às paixões ou ao ódio. Embora seja estranho, muita gente tem suas convicções
extremas sobre o processo mesmo sem ter lido o processo. Fato é que a verdade não está nos extremos,
mas em algum ponto entre (1) Lula é um “santo” injustiçado por ter melhorado a vida dos pobres no
Brasil e (2) Lula criou a corrupção no Brasil e só chegou ao poder para roubar.
A sentença condenatória tem 238 páginas, o que explica a preguiça da maioria da população em lê-
la, não obstante a facilidade de acesso para quem estivesse interessado. Afinal, basta um smartphone, que
a grande maioria tem, e uma conexão por wi-fi, que se consegue em qualquer lanchonete, para digitar num
site de busca “sentença Lula” e poder ter acesso à mesma.
A obra pretende apresentar análise simplificada da sentença assinada pelo Juiz Federal Sérgio
Fernando Moro, para fornecer subsídios às discussões, saindo um pouco do campo da paixão ou do ódio.
A obra não pretende se ater longamente aos demais réus do processo.
A DENÚNCIA

A denúncia foi realizada pelo Ministério Público Federal, órgão responsável por buscar a defesa
do patrimônio, serviços e interesses da União, em coautoria com a Petrobras, que é uma sociedade de
economia mista cujo maior acionista é a própria União. Daí infere-se que a denúncia trata de crimes que
lesaram a Petrobras, e obviamente, seu maior acionista. Há oito réus no processo, sendo cinco
representantes da empresa OAS, além de Paulo Okamotto, representante do Instituto Lula e do próprio
ex-Presidente Lula e de sua falecida esposa, Sra. Marisa.
O MPF denunciou essas pessoas pelos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro, no âmbito
da Operação Lava Jato. Em geral os crimes de lavagem de dinheiro vêm na sequência do crime de
corrupção, pois o corrupto acaba por acumular certo patrimônio incompatível com seus ganhos legais,
necessitando “limpar” esse patrimônio de alguma maneira.
O crime envolvido nessa Ação Penal 5046512-94.2016.4.04.7000/PR seria uma fração dos crimes
no esquema de corrupção da Petrobras, conforme item 6 da sentença. O centro desta ação é o
recebimento de R$3.738.738,00 pelo ex-Presidente Lula, como parte dos recursos provenientes do
esquema de corrupção, tendo como pagadora a empresa OAS. A ação se divide em dois crimes, sendo o
primeiro, com foco predominante, o recebimento pessoal de vantagens indevidas na diferença de valores
entre o apartamento originalmente adquirido e o tríplex, além da reforma personalizada do mesmo, ambas
sem pagamento pelo beneficiado. O segundo crime seria o pagamento pelo armazenamento do acervo do
ex-Presidente, valores pagos também pela OAS.
O réu principal é o ex-Presidente Lula.
Sua falecida esposa também era ré na primeira parte do processo por ser a signatária do processo
de aquisição do imóvel relacionado no processo. Como faleceu durante o processo, foi declarada a
extinção de punibilidade, ou seja, não foi absolvida. Apenas foi declarado pelo Juiz Federal que não
seria possível puni-la por não estar mais viva.
Paulo Okamotto é réu na segunda parte do processo por representar o Instituto Lula, que seria
responsável pelo acervo armazenado, com pagamentos feitos pela OAS.
Os representantes da OAS são réus porque seriam os responsáveis pelos pagamentos.
Em termos de conjuntos, ter-se-ia o grande conjunto universo como todos os valores desviados da
Petrobras através de percentuais de contratos com empreiteiras pertencentes ao “clube” que realizava as
grandes obras. Esses percentuais eram destinados parte aos dirigentes da estatal e parte a agentes
políticos. Não há estimativa de valores desse conjunto.
Um subconjunto desse seriam os valores pagos pela empresa OAS, uma das participantes do clube.
Não se tratou desse montante na sentença.
A ação estima outro subconjunto, com montante de R$87.624.971,26, que seriam 3% dos valores
contratuais correspondentes à OAS nos empreendimentos nas quais participou nos consórcios
CONEST/RNEST (RNEST - Pernambuco) e CONPAR (REPAR - Paraná).
O item 10 da sentença aponta mais um subconjunto, cerca de 1% (1/3 dos 3%) desse valor (algo
em torno de R$29MM) seriam destinados ao Partido dos Trabalhadores. Os valores não seriam pagos de
uma vez, e sim haveria uma conta corrente geral de propinas administrada unilateralmente pela OAS, que
efetuava os pagamentos conforme solicitado.
No último subconjunto, o valor de R$3.738.738,00 utilizado para custear a diferença entre o
apartamento comum e o tríplex, as obras de reforma no próprio tríplex e no sítio de Atibaia, além do
pagamento dos custos com armazenamento do acervo do ex-Presidente, que seria oriundo dessa conta
corrente geral de propinas.
A ESTRATÉGIA DA DEFESA DE LULA

A sentença mostra que a defesa de Lula, ao invés de focar nos autos do processo e tentar provar a
inocência do acusado, gastou bastante energia na tentativa de desqualificar o julgador, questionando sua
imparcialidade, acusando–o de suspeição e abuso de autoridade. Esta estratégia não se mostrou bem-
sucedida, não trouxe ganhos no processo, mas manteve-se o tempo inteiro a afirmação de que se trata de
uma “guerra jurídica” contra seu cliente.
A SUPOSTA GUERRA JURÍDICA

O Juiz Sérgio Moro utilizou boa parte da sentença para se defender da acusação de que promove
guerra jurídica contra Lula.
Sérgio Moro buscou explicar porque deferiu autorização para condução coercitiva do ex-
Presidente, afirmando que em escutas telefônicas o réu demonstrava pressentir que a busca e apreensão
seria realizada e que planejava turbar a diligência. Parece Sérgio Moro não ter total convicção de que
agiu corretamente, pois no item 72 da sentença reconhece as controvérsias jurídicas em torno de uma
condução coercitiva, sem intimação prévia.
Sérgio Moro também se defende da acusação de que monitorou a estratégia de defesa de Lula,
interceptando os telefones de seus advogados. Ele afirma que interceptou um dos telefones dos
advogados, por ser este réu em outra ação penal. E que interceptou outro telefone de um escritório de
advocacia que defendia Lula, pois o titular da linha seria a empresa de palestras de Lula, a LILS
Palestras. Se defende ainda informando que não foram interceptados diálogos relevantes provenientes
desses números.
Outra controvérsia sobre a qual Moro tenta se explicar, é a divulgação dos áudios interceptados em
16/03/2016, cujo mais conhecido é a conversa com a então Presidente Dilma Rousseff, sobre seu termo
de posse como Ministro. Moro afirma que sempre foi praxe dele levantar o sigilo sobre interceptações
telefônicas, que não fez isso exclusivamente contra Lula. No item 121 da sentença, Moro reconhece que
levou um “puxão de orelhas” do então Ministro Teori Zavascki sobre essa divulgação dos telefonemas,
atenuado pelo fato de que o tal “puxão de orelhas” não gerou qualquer providência disciplinar a Moro.
Moro classificou como uma “parcial censura” ao seu ato.
Moro cita ainda a reclamação feita pela defesa de Lula sobre a entrevista coletiva dos
Procuradores da República em 14/09/2016, a famosa reunião onde apresentou-se um slide de power
point, onde todos os crimes apontavam para o nome de Lula. No item 130 da sentença, Moro atenua
afirmando que “ainda que eventualmente se possa criticar a forma ou a linguagem utilizada na referida
entrevista coletiva, isso não tem efeito prático para a presente ação penal”, e mesmo que a entrevista não
tenha sido, na forma, apropriada, na visão de Moro não pode ser caracterizada como uma guerra jurídica.
Na última defesa contra a acusação de que trava guerra jurídica contra Lula, Moro afirma que não
tem qualquer influência sobre o que a imprensa publica.
SUPOSTA ANIMOSIDADE DE MORO EM RELAÇÃO AOS DEFENSORES DE LULA

Moro continua a sentença se defendendo da acusação de animosidade em relação aos advogados


de Lula. Moro afirma que tratou-os com urbanidade, a despeito de todas as tentativas de tumultuar o
processo, selecionando inclusive trechos nos quais se sentiu ofendido por advogados de Lula e de Paulo
Okamotto. Informa ainda que o comportamento dos advogados não causou influência em suas decisões,
pois absolveu Paulo Okamotto, apesar do comportamento do defensor, que Moro considerou inadequado.
SUPOSTA INCOMPETÊNCIA DE MORO

Moro confirma que a competência é da Justiça Federal, por se tratar de acusação contra atos de
então agente público federal. Ratifica ainda com o entendimento do Tribunal de Apelação e dos Tribunais
Superiores de que os casos são conexos com as demais investigações sobre o esquema criminoso que
vitimou a Petrobras, e devem ser analisados pelo mesmo Juízo, sob risco de dispersão da prova.
INQUÉRITO 4325 NO STF

Os itens 175 a 178 da sentença são cruciais (ou deveriam ser) na questão, embora pouco sejam
tratados nas análises apaixonadas sobre o caso.
A defesa de Lula pediu a suspensão da presente ação penal, a fim de aguardar o resultado das
investigações do Supremo Tribunal Federal do Inquérito 4325, que visa apurar a participação do ex-
Presidente no grupo criminoso organizado que praticou crimes no âmbito da Petrobras. Moro informou
que não cabe a suspensão pretendida, pois o julgamento dos crimes de corrupção e lavagem da presente
ação penal não dependeriam da conclusão das investigações do Inquérito 4325.
Lembram da história dos subconjuntos? A presente ação penal é um pequeno subconjunto do outro
processo. Moro ousou em não aguardar o resultado do conjunto maior, antecipando o resultado da outra
ação que não era de sua competência. Se ele condenou Lula, afirmando que o mesmo recebeu o tríplex
pago dinheiro do esquema criminoso que vitimou a Petrobras, já confirmou o resultado da ação em
andamento em instância superior à sua. Foi minimamente uma ousadia, pois como o outro processo não
está finalizado, pode ocorrer uma aberração jurídica. Vai que ele é absolvido no conjunto maior? Seria
mais prudente aguardar o resultado do Inquérito 4325.
Esse assunto recebeu pouquíssimo destaque na sentença e nos comentários pós-sentença,
considerando sua importância.
SUPOSTO CERCEAMENTO DE DEFESA

Longamente, Moro se defende das acusações de cerceamento de defesa, que realmente não se
sustentam.
TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO – COLABORADORES PREMIADOS

Moro faz longa defesa do uso de testemunhas que firmaram acordos de colaboração premiada,
voluntariamente, buscando deixar claro que não utilizou prisões preventivas como ferramenta de pressão.
Estranho essa necessidade de ficar explicando, até mesmo citou exemplos de dois colaboradores que
celebraram os acordos quando estavam em liberdade, o que nada prova que quem celebrou acordo
quando estava preso o fez só porque estava preso, ou se faria de qualquer maneira. No item 244 da
sentença ele corretamente desqualifica a já batida argumentação de quem é citado em delação, falado “o
colaborador é um criminoso. Vão acreditar na palavra de um criminoso?”. Ser criminoso é pré-requisito
para ser delator premiado. Sua palavra deve ser corroborada por provas. Moro chega a afirmar que
“crimes não são cometidos no céu, e em muitos casos, as únicas pessoas que podem servir de
testemunhas são igualmente criminosos”.
A DENÚNCIA DO TRIPLEX

Daí para a frente, discorre sobre a questão do triplex, onde mostra claramente a defesa de Lula
atrapalhada e contraditória, tentando se defender do óbvio: Lula iria sim receber o triplex da OAS. Seus
simpatizantes insistem em dizer que é tudo invenção, que é perseguição, mas a verdade é que Lula, como
a quase totalidade dos políticos, também abusou do patrimonialismo, presente no Brasil desde D. João
VI, onde se confunde o que é público com o que é privado. Lula usou de seu poder e influência, para
envolver um ente privado visando resolver uma questão particular: sua esposa Marisa havia financiado
um apartamento (comum) junto à Bancoop no (hoje) famoso prédio do Guarujá. A Bancoop estava com
dificuldades de tocar o empreendimento, daí seu Diretor Presidente João Vaccari Neto (reconhecem esse
nome?) procurou a OAS para assumir o empreendimento. A OAS abriu exceção em sua estratégia de
tocar empreendimentos apenas em capitais, e vindo de quem veio o pedido, assumiu o empreendimento.
O processo mostra provas de que o tal triplex nunca foi posto à venda, diferentemente do outro
apartamento inicialmente adquirido por D. Marisa. Estava sim reservado para a família Lula. Recebeu
reformas personalizadas, diferente de qualquer outro empreendimento da OAS. Em nenhum momento a
defesa de Lula demonstrou que ele tenha pago por isso, mantendo a afirmação de que ele seria apenas um
potencial comprador, que desistiu do negócio. Há muitas contradições na defesa de Lula, com relação a
datas e afirmações. A verdade é que o triplex seria dele, e só não o foi após a prisão de Léo Pinheiro,
então homem forte da OAS. Aí Lula e D. Marisa desistiram oficialmente do empreendimento.
O DEPOIMENTO DE LÉO PINHEIRO E A SUPOSTA CONTA DE PROPINAS

Depoimento chave na elucidação do caso foi o de Léo Pinheiro. Ele afirmou que reservou o triplex
para Lula, foi fazendo as reformas, nem Lula falava sobre pagamento nem ele também perguntava. Mas o
empresário obviamente gostaria de receber por isso, e segundo ele, combinou com João Vaccari Neto, já
tesoureiro do PT à época, que os valores seriam abatidos de uma suposta conta de propinas entre a OAS
e o PT, que ele Leó Pinheiro movimentava unilateralmente. É um ponto muito polêmico, pois a palavra de
um delator para ser aceita, precisa ser corroborada por provas, as quais ele não apresentou. Por outro
lado, em se tratando de propinas, Léo Pinheiro não teria como apresentar extrato da conta de propinas,
cujas movimentações por natureza seriam camufladas. E então, o Juiz deveria aceitar seu depoimento
como verdadeiro ou não? Situação difícil. Não se pode esquecer que, embora representando o equilíbrio
da balança, Juiz é um ser humano como outro qualquer e julga também baseado em suas convicções.
Moro não parece mesmo ser muito fã de Lula. Também não se pode deixar de levar em consideração que
durante todo o processo, Moro foi se deparando com contradições de Lula e sua defesa, que tentaram
negar o inegável, que o triplex estava destinado a ele, e que foram feitas reformas para ele. Isso vai
causando má vontade no julgador, que passa a ter uma tendência a não acreditar em mais nada do que o
acusado diz. Então se ele também desconhecia a tal conta de propinas, seria verdade ou não?
Fato é que Moro entendeu o depoimento de Léo Pinheiro como verdadeiro e esta passou a ser “a
prova” da corrupção de Lula, condenando-o por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A palavra
sentença origina-se do verbo “sentir”. Por algum motivo, Moro “sentiu” que a afirmação de Léo Pinheiro
seria verdade e aceitou-a como prova no processo. Por isso a Justiça tem várias instâncias, para eventual
correção de decisões equivocadas de um determinado Juiz.
Outra questão a ser verificada pelas instâncias superiores foi que em nenhum momento foi levado
em consideração que o crime em potencial não chegou a se consumar, pois efetivamente Lula não ficou
com o triplex, que se manteve com a OAS, sendo até mesmo penhorado para pagar dívidas com credores.
Analisando a sentença, verifica-se que Lula iria cometer um crime, arrependeu-se em 2015 (se por surto
de consciência ou por medo só ele pode afirmar) e foi denunciado em 2016, sendo que efetivamente não
ocupou o triplex, não lucrou nada com isso e foi condenado da mesma maneira que tivesse ficado com o
triplex.
O ARMAZENAMENTO DO ACERVO PRESIDENCIAL

Estranhamente, a segunda parte da denúncia é tratada o tempo inteiro como um crime menor, foram
dedicadas poucas páginas a essa parte.
Pelo que se pode obter da sentença, após sair da Presidência, Lula ficou com um “abacaxi” na
mão: todo o seu acervo presidencial e presentes recebidos, sem ter onde guardar. Então, mais uma vez
utilizando-se do patrimonialismo e das relações escusas entre público e privado, acionou um empreiteiro
amigo para bancar os custos do armazenamento desse material. A OAS então pagou por cinco anos a
armazenagem junto à empresa Granero, totalizando R$1.313.747,24 de gastos.
Mais uma vez Moro se apegou à palavra de Léo Pinheiro, sendo que dessa vez o empreiteiro
afirmou que arcou com esses valores por deliberação sua, sem se utilizar da tal conta de propinas, por
não ser material de uso pessoal nem gerar enriquecimento para o ex-Presidente. Estranhamente o Juiz
aparenta induzir sua decisão pela simples opinião do delator. Veja o relato:
“Juiz Federal:- Então para esses pagamentos o senhor não entende que havia alguma espécie
de ilicitude ou vantagem indevida envolvida?
José Adelmário Pinheiro Filho:- Eu achei que não, e continuo achando que não.
Juiz Federal:- Certo. Foi solicitada alguma contrapartida, algum benefício à empresa por
conta desse pagamento da Granero?
José Adelmário Pinheiro Filho:- Não, diretamente não, é claro que nós tínhamos uma
intenção porque eu já tinha conhecimento do que o presidente pretendia fazer quando saísse da
presidência e assumisse o instituto, e nós tínhamos muito interesse em estreitar mais ainda essas
relações sobretudo por causa do mercado internacional."
A verdade é que ninguém dá nada para outro de graça, e corrupção é corrupção independente do
uso que o corrupto faz com o dinheiro que recebeu. Se ele adquire um triplex ou se gasta com
armazenamento de bens móveis, se compra de doces, se faz doações.
Enfim, baseado na opinião de Léo Pinheiro, Moro absolveu Lula nessa segunda parte da sentença
“por falta de provas”.
CONCLUSÃO

A Sentença de Moro é falha, pois condenou Lula por um crime que não chegou a cometer, a posse
do triplex (embora estivesse se encaminhando para isso) e o absolveu por um crime cometido, o uso de
uma empreiteira para pagar despesas pessoais com armazenamento de seus bens. Não foi prudente
quando deveria ter suspendido o processo para aguardar o fim do processo maior, o Inquérito 4325 no
STF. Deu total credibilidade à palavra do delator, sem corroborar provas, tanto para condenar na
primeira parte da denúncia, quanto para absolver na segunda parte da denúncia.
Moro ainda falhou quando utilizou como argumentos os atos de ofício indeterminados, ou seja, não
relacionou diretamente o recebimento do triplex a um ato de Lula que trouxesse essa contrapartida. Disse
que isso não é relevante, pois ele poderia retribuir “numa primeira oportunidade”. Sendo que a denúncia
é que o dinheiro teria vindo dos contratos nas Refinarias do Paraná e Pernambuco. Ficou no mínimo
confusa essa parte.
Na segunda parte da sentença, não levou em consideração que Léo Pinheiro disse que bancou o
armazenamento dos bens de Lula com interesse em estreitar mais ainda as relações sobretudo por causa
do mercado internacional. Esses sim seriam atos indeterminados, embora Lula já nem ocupasse mais
cargos públicos na ocasião.
Foi um processo com diversas falhas, o que no mínimo, dá musculatura ao argumento dos
simpatizantes de Lula, que afirmam que há pressa em condená-lo por algum crime, para barrar sua
eventual candidatura à Presidência da República com base na Lei da Ficha Limpa.
O julgamento pelo TRF-4 também não atentou às falhas da primeira instância no julgamento da
apelação, mantendo e ampliando a sentença, fato muito comemorado por aqueles que não simpatizam com
o ex-Presidente, que agora aguardam ansiosamente a execução da pena, com sua prisão. Aos
simpatizantes do ex-Presidente, vai ficar o eterno direito de espernear e dizer que ele foi condenado sem
provas, que é perseguição política.
EPÍLOGO

Se você é um apaixonado fervoroso por Lula ou contra Lula, é compreensível que a presente
análise da sentença certamente desagrade ambos. Quem gostaria de ler que Moro acertou na condenação,
e que Lula deve ser preso, ou quem gostaria de ler que Moro o perseguiu e que não há nada contra Lula,
que foi tudo invenção, realmente ficam desiludidos. Porém, não tem jeito. Contra fatos não há
argumentos. A Justiça deve se basear na Lei.
Recomenda-se que se dispa das paixões ou ódio e volte a ler a sentença ou este resumo, para
chegar às mesmas conclusões.

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