Boletim Operário 492
Caxias do Sul, 05 de maio de 2018.
A Época
Rio de Janeiro
22 de setembro de 1912.
Página 10
Edição 54
Coluna Operária
Exploração de mulheres e crianças
É doloroso o que vai por esta cidade a
exploração do trabalho das mulheres e
crianças, em todas as fábricas de várias
indústrias, até há pouco só entregues ao
trabalho dos homens. Não se trata somente
de combater essas detestável exploração
porque envolva uma concorrência ao
trabalho do home, mas pela intenção com
que a interpretamos, a nosso modo de ver,
que é esse um processo pelo qual tais
industriais procuram assim tirar mais lucros e
estar em contato com o maior número de
mulheres com as quais contam em pouco
tempo gozar nos rendez-vous baratos,
afastando-as do seio de suas famílias e
encaminhando-as, como já aqui dissemos,
para a prostituição.
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É revoltante a exploração capitalista, com o
trabalho das mulheres e crianças, a quem
sempre se pagam menores salários.
Com relação às crianças não se pode imaginar
o que vai hoje por essas indústrias que tem
enriquecido tantos argentários; basta dizer-se
que todas as crianças que se vem pelas manhãs
em caminho do trabalho e da aprendizagem,
não ganham o suficiente para a sua
subsistência, e, a quase totalidade, trabalha
gratuitamente a título de estarem aprendendo
uma arte ou oficio que nunca aprendem,
porque não lhes ensinam, porque nas fábricas,
nas oficinas, levam todo o tempo ocupados em
fazer serviços de criados!
Em tempos que já lá vão, quando ainda não
estávamos na República, todos os industriais e
qualquer patrão que admitisse para aprendiz
um menor, é certo que os admitiam com
tempo determinado pelos seus pais ou
representantes legais, mas, estes logo que
fossem aceitos, tinham comida, casa, não raras
vezes algumas roupas, instrução primária, e,
quando bons aprendizes, em pouco tempo até
dinheiro lhes davam.
Hoje em dia tomam menores a título de
ensinarem artes e ofícios, aproveitam os seus
serviços enquanto estes o podem fazer, até
que ficam doentes e lá vão para a casa dos seus
pais, enfermos, consumi-los com o desespero
que tais enfermidades ocasionam a quem vive
dos miseráveis salários com que vivemos todos
os que trabalhamos. E o capital progride, a
indústria floresce e frutifica como há dias disse
um deputado na Câmara e nós aqui
transcrevemos, só nós vamos de exploração
em exploração até a miséria!
Cremos, porém, que isso terá um paradeiro no
dia em que o despertar do operariado
consciente mostrar a esse capitalismo o seu
valor e a sua força, unindo-se todos por um só
ideal, a justiça da nossa causa.
Mariano Garcia
Workers’ Bulletin
A Época
Rio de Janeiro
26 de setembro de 1912.
Página 4
Edição 58
Telegramas
Inglaterra
A Pérsia não será partilhada entre a
Rússia e a Inglaterra
Londres, 25 – Nos centros oficiosos
desmentem-se que a Rússia e a
Inglaterra tencionem partilhar a
Pérsia entre si.
O Salão de “Wagran” campo de
batalha
Paris, 25 – Realisou-se hoje aqui na
sala “Wagaran” a reunião organizada
pelo jornal La Guerre Sociale.
O discurso pronunciado pelo
conhecido antimilitarista Hervé,
diretor daquele jornal provocou um
sério tumulto, trocando-se insultos e
tiros de revólver entre a assistência,
ficando várias pessoas feridas.
Devido a atitude hostil da assistência,
o jornalista Hervé, teve de
abandonar a tribuna.
Os ferroviários declaram-se em
greve
Madrid, 25 – Os ferroviários catalães
iniciaram a greve a meia noite.
Até agora, o movimento é
completamente pacifico, não tendo
havido perturbação da ordem.
Regimento de Mahon
Madrid, 25 – Partiram hoje de
Barcelona um regimento de Mahon,
um de Valência e dois esquadrões,
sendo um de Pamplona e um de
Zaragoza. Para substituição daqueles
contingentes militares seguirão
brevemente para as respectivas
localidades, forças da guarnição
desta capital.