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CRIMES, DROGAS E
ADOLESCENTES DIANTE DA LEI
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Psicóloga; Especialista em Psicologia Jurídica; Psicanalista; Membro da Associação Psicanalí-
tica de Porto Alegre. E-mail: marciar@cpovo.net
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logo, todo adolescente envolvido com droga corre o risco de cometer crime.
Então, resultado da equação: a droga é a culpada, quando não a autora.
Vários autores propõem que a modernidade se caracteriza por uma
positivação do objeto. Nesse sentido, haveria uma tendência de que toda
questão subjetiva poderia ser resumida por um objeto. Os anúncios publicitá-
rios parecem estar sempre nos convocando a essa saída: se você tem, você
é, você pode.
No contexto das instituições que lidam com o adolescente, o objeto
droga ocupa, como no imaginário social, o centro da cena e o lugar de perso-
nagem principal; assim, desloca o sujeito ao papel de coadjuvante.
As casas de privação de liberdade e a justiça – lugar simbólico na pólis
– são exemplos de instituições que lidam com adolescentes em conflito com a
lei e que não estão imunes aos efeitos do que circula no social. Observa-se
que um processo judicial – onde ficam registrados fragmentos da história de
um sujeito, informações essas que produzem efeito nos diferentes profissio-
nais que a ele tem acesso, assim como no próprio sujeito do processo, seja
na condição de autor ou de vítima – pode se constituir em uma das formas de
viabilizar ao adolescente responder simbolicamente sobre aquilo que se rom-
peu do pacto social, de prestar contas sobre seus atos.
Dessa forma, considerando que o personagem principal de um proces-
so seja o sujeito adolescente, que efeitos se podem produzir quando o objeto
droga o desloca ao papel secundário, ocupando o lugar de autor?
Tenho como hipótese provisória de que a tentativa de buscar a causa,
a culpa, a autoria, fora do sujeito possa ser uma forma de tentar desculpá-lo,
de protegê-lo, pois, nessa lógica, se a violência não foi obra do sujeito em sua
sã consciência, não foi sua escolha; se a violência é provocada por um agen-
te externo, a cura será viabilizada ao se conseguir mantê-lo asséptico,
abstinente, entrincheirado.
Jovem adolescente de 15 anos ingressa, por tempo indeterminado,
numa casa de privação de liberdade por envolvimento em latrocínio. Diz, em
síntese, a peça acusatória: “o representado, agindo com o imputável fulano,
subtraiu para si de fulana, um pacote contendo objetos não especificados,
mediante violência, causando-lhe a morte. Os agentes decidiram assaltar a
vítima”. Consta ainda: “Não havia consumido nenhum tipo de droga, salvo
bebida alcoólica.”
O adolescente relata que ele e dois amigos, ambos mais velhos, ao
saírem do jogo de futebol, decidiram tomar cerveja. Depois de algumas, como
o dinheiro acabara, um deles propõe “buscá-lo” na casa de uma mulher, co-
nhecida de todos. A mulher, além de antiga conhecida prostituta da pequena
cidade, transformara-se, aos 84 anos, em empresária do sexo.
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VARIAÇÕES
1
O nome aqui utilizado é fictício, embora guarde semelhança com o verdadeiro.
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2
Os adolescentes privados de liberdade podem participar de atividades externas mediante auto-
rização judicial, quando essa possibilidade está determinada na sentença judicial ou, posterior-
mente, quando, por seus méritos, alcançam esse benefício.
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VARIAÇÕES
3
Grifo da autora.
4
Idem.
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REFERÊNCIAS
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