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Faculdade de Psicologia
Belo Horizonte
2013
Sérgio Alexandre Alves Fernandes
Belo Horizonte
2013
1 - Introdução
A Fraternidade Espírita Luiz Sérgio é uma instituição espírita que atua no acolhimento
assistencial de dependentes químicos de álcool e outras drogas. Atualmente está situada à rua
Palermo, 1595 no bairro Bandeirantes, região da Pampulha em Belo Horizonte. A doze anos eles se
dedicam à árdua tarefa de ser um grupo de apoio à recuperação dos dependentes de álcool e drogas,
nos moldes de outros grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos. No
caso da Luiz Sérgio, eles se diferenciam dos grupos de apoio tradicionais pela criação de um
programa de apoio baseado nos valores da doutrina espírita, o Programa Renascer de apoio para as
dependências. Atualmente, os cerca de 25 assistidos em regime de internamento recebem
gratuitamente além de hospedagem e 4 refeições por dia os grupos de apoio, atendimento de
psicólogos, terapeutas ocupacionais, acupuntura, atividades de arteterapia (pintura, cerâmica, dança,
artesanato), atividades de condicionamento físico dentre outras.
A maior parte do trabalho da casa com os assistidos e é realizado por um grupo de 42
voluntários, na maioria espíritas ou simpatizantes do Espiritismo – doutrina espiritualista
organizada por Alan Kardec no final do século XIX ; no Brasil o Espiritismo é reconhecido pelo seu
viés religioso da doutrina espírita e seus adeptos são identificados por sua forte vinculação às
atividades assistenciais. A fundadora e atual diretora da Fraternidade Luiz Sérgio é a Sra. Janete
Reis, uma abnegada trabalhadora que recebe a todos os que a procuram com otimismo e simpatia. E
foi assim, como muita simpatia que ela nos recebeu quando manifestamos o nosso interesse de
estudar as questões da motivação, os processos de grupo e a liderança naquela instituição espírita.
Este trabalho apresenta um resumo de uma atuação de um grupo de 3 estagiários de
Psicologia da PUC Minas, no estabelecimento supra identificado, em novembro de 2011. Os
objetivos foram conhecer os principais fatores motivacionais dos voluntários espíritas vinculados
aquele estabelecimento e verificar quais os níveis de maturidade do grupo e as características de
suas lideranças.
2 - Metodologia
3 - Revisão da literatura
O ser humano participa de muitos tipos de situações de grupo na luta pela satisfação de seus
desejos e necessidades, sendo que tais grupos tem grande influencia na vida desses indivíduos.
Criamos o processo de grupo, como um meio de administrar nossos problemas comuns. Das
diversas formas de agrupamento, por sua importância, destacam-se os grupos democráticos.
3.1.1 - Democracia
O radical grego Demos, povo, combina-se com a palavra Kratos, autoridade, para significar
que toda autoridade provém do povo. A democracia é, então, o meio pelo qual os indivíduos
determinam até onde lhes vai a liberdade de agir sem que infrinjam os direitos dos outros. Não se
mede a democracia pelo grau dessa liberdade de ação, mas pelo grau de autoridade que tem aqueles
para fixar as restrições aos seus próprios atos.
Os grupos democráticos tem maior estímulo para o trabalho, contam com maior satisfação
entre os membros e produzem mais. São menores as manifestações de frustração e agressividade.
Há camaradagem, cooperação e espírito de grupo. Em que pese a orientação do grupo, neles existe
maior iniciativa individual.
3.2 – Motivação
Há várias teorias sobre motivação para o trabalho, a maioria delas compartilhando alguns
elementos comuns. De fato, há muito tempo se sabe da importância de metas, feedback e incentivos
para dirigir e gerenciar pessoas.
● A Teoria do Reforço: Descreve como recompensas ou reforços podem afetar o comportamento.
Não lida com estados internos como a motivação, tem um ponto de vista ambiental, e afirma que o
comportamento é uma função do histórico de reforço de uma pessoa. Segunda essa teoria,
comportamentos relacionados ao trabalho, que tenham sido recompensados, encontram maior
probabilidade de se repetir no futuro. Ela declara que a probabilidade da ocorrência de um
determinado comportamento aumenta se for seguida por uma recompensa; inversamente, a
probabilidade de um comportamento diminui se ele for seguido de punição.
● A Teoria da Expectativa: Busca explicar como as recompensas levam a determinados
comportamentos, focalizando estados cognitivos interiores que provocam a motivação. A motivação
para ela é uma força que propele o indivíduo para um certo comportamento, é uma função
multiplicativa da expectativa, ou seja, a probabilidade subjetiva sentida de que aquele resultado irá
ocorrer. Os três principais conceitos subjacentes à esta teoria são os de Valência, Instrumentalidade
e Expectativa
● A Teoria da Auto-Eficácia: Preocupa-se em estudar como a crença das pessoas em suas próprias
habilidades pode afetar o seu comportamento. Pessoas com grande auto-eficácia acreditam ser
capazes de realizar tarefas e serão motivadas a aplicar o esforço necessário para isso. De acordo
com essa teoria, a motivação para uma tarefa está relacionada ao fato de a pessoa acreditar ou não
que é capaz de concluir a tarefa com sucesso. Uma das formas em que a grande auto-eficácia se
desenvolve é pelo sucesso. Indivíduos com altos níveis de habilidade provavelmente terão obtido
sucesso no passado, e assim, tendem a ter uma elevada auto-eficácia.
● A Teoria da Equidade: afirma que as pessoas são motivadas a alcançar uma condição de igualdade
ou justiça nas suas relações com outras pessoas e com as organizações. De acordo com o mesmo, os
funcionários que se encontram em situação de desigualdade experimentam uma insatisfação e
tensão emocional que eles procurarão reduzir. A teoria especifica condições sob as quais a
desigualdade ocorrerá, condições essas que os funcionários deverão reduzir. Acredita-se que
quando uma pessoa avalia o resultado do seu trabalho, qualquer diferença percebida em relação ao
dos outros é um estado de consciência motivador.
● Teoria da Fixação de Metas: É a teoria de motivação que provavelmente tem sido mais útil para
os psicólogos organizacionais, é uma forma popular de aumentar o desempenho no trabalho. O
princípio básico dessa teoria diz que o comportamento das pessoas é motivado por suas intenções e
seus objetivos, que podem estar intimamente relacionados a comportamentos específicos. As metas
de uma pessoa são o principal determinante da motivação relacionada à tarefa, visto que as metas
dirigem os pensamentos e as ações.
● Teoria dos Dois Fatores: Freederick Herzberg desenvolveu a teoria dos Dois Fatores da
Motivação, que identifica fatores diferentes como sendo fundamentais na satisfação no trabalho,
chamados de Fatores de Higiene e Fatores de Motivação. Os aspectos do trabalho relevantes às
necessidades de natureza animal são chamados fatores Higiênicos. Os aspectos do trabalho
importantes para as necessidades de crescimento são chamados fatores de Motivação.
● Teoria da Ação: De origem alemã, descreve um processo relacionando os objetivos às ações. Essa
teoria propõe que as teorias de motivação para o trabalho se concentrem principalmente em
comportamentos orientados aos objetivos chamados de ações. Tais ações são o produto da intenção
consciente de alcançar algo, que pode ser pequeno, como a conclusão de uma peça em uma linha de
produção, até alcançar uma promoção no trabalho. O principal foco dessa teoria está nas ações em
si e nos processos que levam a essas ações.
O ciclo motivacional inicia com o surgimento de uma necessidade; esta é uma força
dinâmica, que persiste e provoca comportamento. Toda vez que surge uma necessidade, esta rompe
o estado de equilíbrio do organismo, causando um estado de tensão, insatisfação, desconforto e
desequilíbrio. Esse estado leva o indivíduo a um comportamento, ou ação, capaz de descarregar a
tensão ou de livrá-lo do desconforto e do desequilíbrio. Se o comportamento for eficaz, o indivíduo
encontrará a satisfação da necessidade e, portanto, a descarga da tensão provocada por ela. Satisfeita
a necessidade, o organismo volta ao estado de equilíbrio anterior, que é a sua forma de ajustamento
ao ambiente. Estas são as etapas do ciclo motivacional envolvendo a satisfação da necessidade:
3.3 - Liderança
O modo como os líderes de uma organização compreendem o que venha a ser motivação no
trabalho e as suas suposições a cerca do conceito, influenciarão decisivamente as ações necessárias
sobre a construção de políticas e programas direcionados a incentivos, recompensas e outros
assuntos relacionados à motivação da força de trabalho.
Goleman comprovou através de pesquisas realizadas com líderes de grandes empresas, que
liderança não se nasce sabendo, aprende-se. Com isso percebe-se a importância de auxiliar as
pessoas a desenvolver suas habilidades. Para ele, existem diversos estilos de líderes:
1) Estilo Visionário: mantém seus colaboradores valorizados, servem de sustentáculos para apoio
dos problemas explicitando seus valores ambientais e sociais criando um clima emocional agradável
onde cada um compreende o seu papel;
2) Estilo Conselheiro: é o estilo que os líderes tendem a exibir com menos frequência, porém, é uma
das ferramentas mais poderosas que os líderes poderiam ter em mãos. Pois ela produz uma resposta
emocional positiva e melhores resultados. Os líderes conselheiros estabelecem relações de simpatia
e confiança com seus colaboradores procurando dar importância às conversas pessoais em vez de
vê-lo como meras ferramentas de trabalho;
3) Estilo Agregador: promovem harmonia, mantém seus colaboradores satisfeitos e dão prioridade
as suas necessidades emocionais. Um traço típico desse estilo agregador é ser firme nas repreensões
quando necessário;
4) Estímulo Democrático: corresponde a um estilo de líder que atua como participação, seus
membros trabalham em conjunto e tem interesse em ouvir a opinião das pessoas, não decide
sozinho. São pessoas participativas, colaboradoras, cooperativas, transparentes, tranqüilas e
pacientes;
6) Estilo Agressivo: é o estilo de líder que cria uma ressonância, atingindo metas desafiadoras e
estimulantes. Geralmente é extremamente negativo e quando obtém sucesso, depende sempre de
uma equipe motivada e competente.
De acordo com Shin e Kleiner, voluntário é um indivíduo que oferece o seu serviço a uma
determinada organização, sem esperar uma compensação monetária, serviço que origina benefícios
ao próprio indivíduo e a terceiros. O voluntariado pode ser distinguido em informal e formal. O
voluntariado informal inclui comportamentos como por exemplo ajudar os vizinhos ou idosos. O
voluntariado formal caracteriza-se por comportamentos semelhantes, mas que se enquadram no
âmbito de uma organização. Importa também distinguir o voluntariado dirigente e o não dirigente,
que têm características distintas. O voluntariado dirigente executa tarefas de gestão, enquanto o não
dirigente executa atividades rotineiras e tem um contacto mais próximo ou direto com o
público-alvo da ONG beneficiária
Quanto melhor uma organização conhecer os seus voluntários, mais essa organização poderá
ir de encontro às necessidades e expectativas desses mesmos indivíduos. Por isso, compreender as
motivações que podem levar um indivíduo a doar o seu tempo a uma determinada organização é
relevante na gestão das ONG.
Existem pelo menos quatro áreas consideradas importantes para o voluntariado: as
características demográficas do fenômeno de voluntariado que podem incluir a distribuição
geográfica, o estatuto social, a educação e/ou a personalidade dos voluntários; as motivações que
conduzem ao voluntariado; o comportamento dos voluntários na organização; e as recomendações
para uma gestão efetiva de voluntários, sendo que estas duas últimas áreas são as menos exploradas.
A extensa literatura existente acerca do comportamento de indivíduos profissionalizados nas
organizações não pode ser generalizada e aplicada a indivíduos voluntários porque existem
diferenças importantes entre estes dois grupos de trabalhadores. Uma das principais diferenças está,
exatamente, nas motivações. Outras diferenças importantes entre elementos profissionalizados e
voluntários incluem: as questões monetárias; o tempo disponibilizado – apenas algumas horas por
semana pelos voluntários; a afiliação dos voluntários a mais do que uma organização; a fraca
dependência dos voluntários, nomeadamente em termos econômicos e regalias sociais; o
recrutamento dos voluntários que tende a ser informal; as normas e os valores das organizações nem
sempre são aceites pelos voluntários e a relutância das organizações em avaliarem o trabalho dos
voluntários, já que pode parecer que estão questionando a dedicação do voluntário.
Mas, quais são então as motivações dos voluntários ? Porque se envolvem os indivíduos
com as ONG, oferecendo o seu trabalho? As motivações oriundas de estudos sobre indivíduos
profissionalizados referidas anteriormente representam alicerces importantes e indispensáveis para a
compreensão das motivações na área do voluntariado. Contudo, várias questões distinguem a
natureza do trabalho efetuado em regime de voluntariado.
Em primeiro lugar, as recompensas associadas ao trabalho são completamente diferentes.
Para a maior parte das pessoas, as recompensas financeiras são críticas para a sua qualidade de vida
e para a sua sobrevivência. Contudo, o voluntário pode renunciar a esta forma de recompensa,
exigindo da gestão das ONG técnicas mais centradas na compreensão da motivação e dos benefícios
associados a este trabalho.
Alguns autores consideram que a “vida útil” de um voluntário pode ser limitada por um
propósito, por uma organização específica ou por um determinado período de tempo.
Os voluntários apenas querem que o seu trabalho seja apreciado. O desejo de apreciação e de
reconhecimento do trabalho está associado, tal como vimos no ponto anterior, aos níveis superiores
da pirâmide de necessidades de Maslow, i.e., às necessidades de reconhecimento social e de
auto-realização ou aos factores de motivação segundo a teoria da higiene-motivação de Herzberg,
Mausner e Snyderman.
Se as motivações dos voluntários têm este tipo de enquadramento, será que podemos esperar
deste grupo um maior envolvimento no trabalho e em consequência um melhor desempenho
comparado aos empregados tidos como regulares? O altruísmo, na força de trabalho voluntária, não
é falso nem pode ser esquecido. No entanto, muitas vezes pode ser artificial e podem existir
motivações distintas por trás desta força de trabalho. Os quadros abaixo sintetizam as pesquisas em
torno do assunto.
Em uma das entrevistas, a Sra. Janete, diretora da casa, nos relatou que as principais
dificuldades encontradas estavam relacionadas com a falta de comprometimento dos voluntários
com o trabalho junto aos assistidos, segundo ela, eles (os voluntários) não se comprometiam com o
trabalho de forma total. Dizia que por qualquer dificuldades particulares os voluntários faltavam ao
trabalho e isso lhe causava muitas dificuldades e também aos voluntários que tinham que substituir
os faltosos, o que normalmente sobrecarregava um pequeno grupo que se mostrava mais atuante. Na
visão da dirigente os voluntários aqui no Brasil não teriam o mesmo nível de investimento de outros
países, lá os voluntários seriam mais profissionalizados que os daqui. O trabalho só prosseguia
graças a esse pequeno número de colaboradores sempre disponíveis e mais motivados, o que
também gerava algum descontentamento entre eles, por se julgarem explorados pelos menos
comprometidos.
Em outra visita ao grupo conversamos com os colaboradores do dia e verificamos havia uma
dificuldade de que os voluntários se reunissem fora dos dias de suas tarefas habituais, o que
resultava na formação de sub grupos e de várias lideranças dentro do grupo maior, além do que
raramente esses sub grupos se comunicavam dentro de um planejamento macro da instituição. A
comunicação de assuntos de natureza institucional era realizada basicamente por e-mails enviados
para todos indistintamente, o que produzia também alguns mal entendidos entre os voluntários.
As reuniões gerais da instituição normalmente eram realizadas apenas quando havia uma
demanda ou algum problema urgente a ser resolvido (geralmente de ordem financeira) e a diretoria
se queixava da baixa participação dos voluntários nas reuniões administrativas.
As entrevistas realizadas nos apontaram as diretrizes de nossa atuação. Os dois fatores alvo
identificados foram a formação de subgrupos desconexos com a proposta da fraternidade e a falta
de comunicação entre os líderes com os voluntários. Também foram identificadas algumas
lideranças autocráticas. De maneira geral o nosso trabalho foi tentar melhorar a comunicação entre
os sub-grupos e melhorar as relações entre os líderes e os seus voluntários, além de ressaltar a
responsabilidade e a importância de cada voluntário no concerto das atividades realizadas pela casa.
A proposta de intervenção junto aos voluntários da casa foi a produção de um grande painel
artístico com uma paisagem a ser desenhada com giz de cera colorido. Os participantes foram então
divididos em quatro grupos escolhidos por nós (para evitar os fenômenos de competição entre os
subgrupos que já existiam os facilitadores escolheram aleatoriamente os novos grupos). Um grupo
ficou responsável por criar o céu, outro grupo as montanhas, outro o rio e o último grupo os
animais. Como já dissemos, o objetivo dessa atividade era fazer que os participantes percebessem e
se conscientizassem da necessidade de que os subgrupos trabalhassem com vistas à meta geral, de
forma a atender aos objetivos do todo e não visando apenas os objetivos do seu subgrupo.
6 - Referências
BEAL, M. G. et all. Liderança e dinâmica de grupo. Zahar. 5 ed. São Paulo, 1998
FIGUEIREDO, N. Interfaces do Trabalho Voluntário na Aposentadoria. Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre.2005
FERREIRA, M. et all. As Motivações no trabalho voluntário. Disponível em
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rpbg/v7n3/v7n3a06.pdf>. Acessado em nov. 2011.
CALDANA, Adriana Cristina Ferreira; FIGUEIREDO, Marco Antonio de Castro. O Voluntariado
em questão: a subjetividade permitida. Psicol. cienc. prof., Brasília,v.28, n.3, set.2008 .Disponível
em<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.phpscript=sci_arttext&pid=S1414-98932008000300003&lng=p
t&nrm=iso>. acessos em 22 nov. 2011.