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RESUMO
1
Acadêmico da Faculdade de Medicina da Revisa-se a abordagem do paciente com dor torácica e discutem-se seus principais
Universidade Federal de Minas Gerais
2
Professor adjunto da Faculdade de Medicina da
diagnósticos diferencias. Serão abordadas, especialmente, as dores de origem muscu-
Universidade Federal de Minas Gerais; Membro titular da loesquelética, gastrointestinal, psicogênica e pulmonar, além das de origem cardíaca e
Academia Mineira de Medicina
isquêmica.
Palavras-chave: Dor no Peito; Diagnóstico diferencial. Sinais e Sintomas; Emergências.
ABSTRACT
Reviews the current approach to the patient with chest pain complain, discussing the
main diferential diagnosis. Although the studies show that most these pains are of non-
cardiac orgin, anciliary exams made have as their objectivies discard coronary diseases
and other fatal patologies. Since the non ischemic causes are more prevalent in the
medical practice we will discuss in this article the musculoskeletal, gastrointestinal orgin,
psicogenic, pulmonary orgin pains, other than ischemic pain.
Key words: Chest Pain; Diagnosis, Differential; Signs and Symptons; Emergencies.
Introdução
priorizando a discussão desse grupo cujas etiologias O diagnóstico da dor pode ser favorecido pelas
são, em geral, pouco enfatizadas. características de sua localização e da sintomatolo-
gia associada. É comum encontrar-se,no paciente
com dor musculoesquelética, a presença de história
PRINCIPAIS CAUSAS DE DOR TORÁCICA de atividade física repetitiva ou não usual2, 9. A dor é,
em geral, bem localizada e desencadeada pela com-
Os cinco principais grupos de etiologias de dor pressão de um ponto. Sua intensidade pode variar
torácica, por ordem decrescente de prevalência, são desde surda até desconforto intenso e persistente, du-
as causas: musculoesqueléticas; gastrointestinais; rando horas a dias. A sintomatologia álgica frequente-
cardíacas; psiquiátricas; e pulmonares (Tabela 1)1. mente surge durante os movimentos ventilatórios, em
Além da SCA, algumas se destacam por seu caráter especial na inspiração profunda ou na movimetação
potencialmente fatal, como dissecção aguda de aorta dos braços e do pescoço2,9. A presença de sintomato-
(DAA), tromboembolismo pulmonar (TEP), pneumo- logia osteomuscular em outras áreas do tórax pode
tórax hipertensivo, tamponamento cardíaco, ruptura alertar para possível causa musculoesquelética. É
e perfuração esofagiana1,6. importante a avaliação cuidadosa da pele buscando
lesões específicas associadas a síndromes musculo-
Tabela 1 - Distribuição das principais causas de esqueléticas9.
dor torácica por sistemas. A presença de área sensível na parede torácica,
Causas Prevalência achado bastante característico da origem musculoes-
Musculoesquelética 36 quelética, não exclui a presença de causa mais grave,
Gastrointestinal 19 como SCA ou TEP. A coexistência de sensibilidade da
Cardíaca 16* parede torácica e de infarto do miocárdio (IAM) é
Psiquiátrica 8 observada em alguns pacientes9,10.
Pulmonar 5 A costocondrite caracteriza-se por dor difusa à
Outras/desconhecida 16 palpação das cartilagens costais sem edema locali-
Fonte: MIRNET: Michigan Research Network1. zado. É frequente confundir-se a costocondrite com o
*Dos 16%, 10,5; 1,5; e 3,5% representam, respectivamente, angina estável; diagnóstico de síndrome de Tietze em que se observa
angina instável; e causas não coronarianas.
tumefação dolorosa nas articulações acometidas3.
A escolha dos exames laboratoriais diante da
Causas musculoesqueléticas suspeita de síndrome musculoesquelética é dirigida
pela história clínica e pelo exame físico. Os pacien-
As condições que afetam as estruturas musculo- tes saudáveis, com áreas sensíveis mas sem edema
esqueléticas da parede torácica são frequentemente ou outras alterações osteomusculares ou sistêmi-
referidas como potenciais causas de dor torácica cas, podem ser conduzidos sem qualquer exame
não cardíaca, representando 36% dos diagnósticos1, complementar 9.
7, 8
. Suas principais causas podem ser divididas em A sintomatologia pode ser aliviada com a admi-
primárias e secundárias, segundo sua incidência nistração de analgésicos, agentes antiinflamatórios
(Tabela 2)9. e injeções locais de corticóides3. A opção inicial é
a administração de Ácido Acetilsalicílico na dose de
Tabela 2 - Principais causas de dor torácica de ori- 500 mg a cada período de seis horas.
gem musculoesquelética.
Causas Distúrbios
Costocondrite, Sindrome de Tietze, Fibromialgia, Causas gastroesofágicas
Artite reumatóide
Primárias
Espondilite anquilosante, Infeccções por herpes
zoster (neurossensorial) A dor de origem esofágica pode resultar de altera-
Síndrome da parede torácica posterior, Subluxação ções associadas com a percepção anormal imposta
esternoclavicular espontânea, Lúpus eritematoso pela diminuição do limiar da dor, ou de transmissão
Secundárias
sistêmico, Artrite séptica, Policondrite recidivante,
Neoplasias, Osteoporose (fraturas de estress) anormal do estímulo no sistema nervoso12. Suas cau-
Fonte: adaptada de Uptodate. Wise CM. Major causes of musculoskeletal sas mais comuns são: refluxo gastroesofágico (RGE),
chest pain9.
espasmo esofágico, esofagite e outras desordens mo-
toras13. A principal é o RGE, que representa a segunda má perfusão tecidual. A radiografia de tórax revela
causa mais prevalente de dor torácica não cardíaca1. contorno aórtico anormal e aumento do mediastino.
A apresentação clínica do paciente frequente- O diagnóstico pode ser feito pela arteriografia ou
mente não oferece substrato adequado para se dis- ecocardiograma1.
tinguir a dor cardíaca da esofágica3, 11, 14. Existem, Valvulopatias: as lesões da valva aórtica e da mi-
entretanto, alguns sintomas que sugerem etiologia tral podem cursar, raramente, com dor torácica. A
esofágica: presença de pirose, regurgitação, disfagia; estenose aórtica deve ser considerada diante de an-
dor tipicamente pós-prandial persistente por mais de gina progressiva, dispneia ou sincope. O exame físi-
uma hora e aliviada pela ingestão de antiácidos11, 15. co revela pulsos parvus e tardus, ictus sustentado, e
O alívio da dor com o uso de nitroglicerina não in- sopros característicos. O eletrocardiograma pode de-
dica necessariamente a origem cardíaca11. Em alguns tectar hipertrofia ventricular esquerda. A dor torácica
casos de espasmo esofágico, a dor pode ser aliviada na estenose mitral é rara. Sua presença relaciona-se
por nitroglicerina, o que dificulta o diagnóstico13. à hipertensão pulmonar, hipertrofia do ventrículo di-
A abordagem inicial ao paciente deve incluir a reito, ou dilatação atrial importante1, 6. O ecocardio-
exclusão da SCA usando a triagem apropriada em grama permanece como método de escolha para seu
todos os pacientes com dor torácica aguda11, 14. A dor diagnóstico.
precordial atípica deve ser avaliada com eletrocar- Pericardite: a pericardite aguda evolui com dor
diograma e teste de esforço, antes da realização de torácica, usualmente pleurítica, presença de atrito
propedêutica gastrointestinal14. pericárdico à ausculta e supra-desnivelamento de ST
Pode-se realizar prova empírica com objetivo difuso ao eletrocardiograma. A dor típica é súbita,
diagnóstico, usando inibidor de bomba protônica em fincada ou opressiva, em tórax anterior, ventila-
(IBP), após a exclusão de outras dores não cardíacas. tório-dependente, que piora com a posição assenta-
A resposta clínica a esse tratamento tem sensibilida- da. Pode irradiar, principalmente, para a região do
de e especificidade diagnósticas do RGE, respectiva- trapézio1, 6.
mente, de 80% e 74%. Em pacientes cuja resposta ao Miocardite: pode associar-se com sintomatologia
teste com IBP é negativa, a pHmetria e endoscopia es- cardíaca e sistêmica, como febre e mialgia. A dor to-
tão indicadas, sendo a primeira o padrão-ouro3, 14, 16. rácica, quando presente, decorre de pericardite com
suas características clínicas. Podem estar presentes
as características clínicas e eletrocardiográficas de
Causas cardíacas evento coronariano isquêmico1, 6.
Não pode ser ignorada A síndrome de Munchau- cia de ruídos ventilatórios à ausculta17. A dor torá-
sea, na qual o paciente mimetiza sintomaia de doen- cica associada a acometimento pleural tem caráter
ças graves, inventando-os, sendo o mais comum a ventilatório-dependente, e pode ter como etiologia:
dor torácica1. doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico e
artrite Reumatóide), síndrome lúpus-símile causada
por drogas, ou doenças virais1.
Causas pulmonares
Não
Pneumotórax Tratamento depende do tamanho e
gravidade. Se hipertensivo, punção no 2o
Alargamento do EIE e posterior drenagem
Sim mediastino e
RX diagnóstico arco aórtico+ Confirmação por ecocardiograma,
Clínica Sugestiva angiografia ou TC; controle da
de DAA PA; avaliação cirúrgica imediata
Dosagem de Positivo
História, exames e Avaliação cardiológica+
marcadores
ECG diagnósticos ou anticoagulação e outras
cardíacos
sugestivos de medicações adequadas
pericardite ou
Negativo
tamponamento cardíaco
Sim
Confirmação de Tratar etiologia da dor. Avaliar alta
Ultrassonografia e tratamento diagnóstico
adequado. Se tamponamento, alternativo OU < Não Investigação adicional baseada
pericardiocentese imediata 40a sem fator de risco
no risco do paciente
Figura 1 - Abordagem da dor torácica no pronto atendimento..Fonte: adaptada do Uptodate Hollander JE, Chase
M. Evaluation of chest pain in the emergency department