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TEMPO PRESENTE
A. D. Sertillanges
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Bousset, Oração fúnebre de Ana de Gonzaga.
Nisso, ela não os suplanta, continua-
os, visto como eles já estão nela. Com eles
ela revela o divino no homem. Ela é uma
síntese de milagres e um milagre a mais.
Propriamente, esse milagre novo
consiste na existência entre nós de um
organismo social humano-divino e que leva
uma vida humano-divina, mostrando,
portanto, Deus em sociedade com o homem
e o homem em sociedade com Deus.
Esse organismo, nos seus primórdios,
no momento em que todo recém-nascido
exerce o mais poderosamente a sua força
assimiladora, deslumbra o mundo pagão. A
sua unidade, a sua constituição já forte, a
evidência do seu fermento intenso, a vida do
Espírito nela, brilhavam, e às almas
chamadas e predestinadas persuadiam de que
a sua pátria ali estava. Como dissemos, isso
fez mais para a conversão do mundo do que
os milagres particulares relatados nos Atos.
Esses “sinais” apagavam-se, de alguma
sorte, ante o sinal por excelência.
Hoje em dia, embora o trabalho do
Espírito seja menos visível, em compensação
são mais visíveis os seus resultados. E a
Igreja pretende que esse sinal baste,
normalmente, para convencer uma alma
atenta e reta. Não nos podemos admirar
disto. Se Deus age deveras em cooperação
com o homem, e com o homem social, que
evolve no visível, isso deve ver-se. Que Deus
seja aqui como em toda parte o “Deus
oculto” a título de causa invisível em si
mesma e que quer ser discreta, isso não
impede que fenômenos em que ele
desempenha um papel essencial não possam
deixar de revelar a sua presença, se já o
coração o procura.
É preciso para isso o coração, porque
sempre, nas coisas morais, é requerido este
ponto de partida, e porque, aliás, sendo a fé
uma graça, semente de vida eterna, não se vê
que, para se revelar, possa o Bem soberano
assim oferecido desprezar as disposições
morais de quem se abeira dele. Assente,
porém, isto, a convicção deve ser possível,
ou melhor, normalmente falando, a negação
impossível. “É impossível que os que amam
a Deus d e todo o seu coração desconheçam
a Igreja, tão evidente é ela”, escreveu Pascal.