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Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Alberto Chipande

ISCTAC

Trabalho de Direito

Tema: Direito de Greve e Lockout

Discente: Ana Paula Constâncio Martins

Pemba Março de 2018


Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Alberto Chipande

ISCTAC

Curso: Gestão de Empresas e Recursos Humanos

Cadeira de Direito
Curso Gestão de Empresas e Recursos
Humanos
3o Ano

Docente: dra Carla

Pemba Março de 2018


Índice
Introdução ................................................................................................................................... 1

Fundamentação ........................................................................................................................... 2

Conceito e fundamentos da Greve .............................................................................................. 2

Evolução Histórica do Direito A Greve...................................................................................... 3

Natureza jurídica da greve .......................................................................................................... 4

O direito de greve na Constituição da República de Moçambique de 2004............................... 5

O lock-out ................................................................................................................................... 6

Origem histórica do Lock-out ..................................................................................................... 6

Conclusão ................................................................................................................................... 8

Referencias ................................................................................................................................. 9
Introdução
A greve é, sem sombra de dúvida, uma das maneiras mais eficazes de busca dos interesses da
classe trabalhadora no sistema laboral mundial. É a forma de obtenção quase imbatível de
aceite total ou parcial do empregador aos reclames quase sempre justificados da classe
trabalhadora, através da paralisação coletiva da força de trabalho, de modo a pressionar a
classe patronal a posicionar-se numa mesa de negociações, situação inaceitável em dias
arcaicos. Portanto, o trabalho descreve aspetos tais como a greve e Louckout.

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Fundamentação
A greve é um meio usado para se chegar a um fim: o debate das questões pendentes na
relação patrões - empregados. Exige, por lógica, um mínimo de organização, agrupamento
organizado e liderança eficaz. É considerada uma arma essencial na luta de classe. A greve é
uma demonstração de força e união da classe trabalhadora, "de natureza violenta", mas
controlada, "compreendida e consentida", no dizer de SEGADAS VIANA.

Justifica-se pela necessidade social de se balancear a questão da hipossuficiência tanto


financeira quanto política dos trabalhadores em face do poderio do patronato, que em
determinadas ocasiões, será tão poderoso que não haveria, de outra forma, meio de se alcançar
o direito.

Tal instituto baseia-se, portanto, nos ditames de segurança social, de modo a frear as
disparidades entre o patronato e o empregado. Não obsta, de forma alguma, ainda, que tal
exercício de direito não sofra suscitação de legitimidade perante o Poder Judiciário por
iniciativa do empregador. Se não se pode proteger demais o empregador, o mesmo deve ser
verificado em razão aos empregados.

A questão essencial, núcleo do pensamento que devemos ter no estudo do instituto da greve,
não é proteger uma parte em detrimento dos direitos legítimos da outra, mas sim, diminuir a
hipossuficiência de modo a garantir o melhor alcance da justiça.

Conceito e fundamentos da Greve


Segundo relatos históricos, a palavra greve remete a uma praça parisiense, conhecida
como Place de Grève, por ser um local onde acumulavam-se objectos trazidos pelo Rio
Sena. Nessa praça, trabalhadores reuniam-se frequentemente, paralisando seus serviços
para protestar contra as más condições de trabalho.
Daí o significado do termo greve, que consiste na suspensão pacífica e temporária do
trabalho, por parte dos trabalhadores, com a finalidade de obter melhores condições de
trabalho.

Como afirma NASCIMENTO64, grupos de pressão formados para a consecução de


objetivos específicos “são uma constante na história”. Trata-se, portanto, de um
fenómeno muito antigo que concorreu para o próprio surgimento do direito do trabalho,

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provocando diferentes reações nos sistemas jurídicos. Ora figurando como expressão de
liberdade, ora como delito. Actualmente, porém, grande parte dos ordenamentos
jurídicos já admite tais manifestações como um direito inerente aos trabalhadores em
geral e aos funcionários públicos em particular.

Entretanto, na opinião de MARTINS,

o conceito de greve “dependerá de cada legislação, se a


entender como direito ou liberdade, no caso de a admitir;
ou como delito, na hipótese de a proibir”. Em resumo, o
conceito jurídico mais aceito é o que entende a greve
como a suspensão ajustada e colectiva de trabalho, com o
intuito de receber do empregador determinada vantagem;
na maioria das vezes, melhores condições de trabalho.

Evolução Histórica do Direito A Greve


A figura da greve foi construída e desenvolvia no decorrer da história da humanidade.
Existem várias teorias que objectivam determinar quando o movime nto grevista surgiu,
tendo em vista que não é pacífico o marco inicial.

Há relatos de paralisações já no Egipto Antigo. Contudo,


não é correto afirmar que tais movimentos constituíram
greves, uma vez que não havia o conceito de luta
organizada a fim de reivindicar interesses de um grupo.
Ademais, a mão-de-obra era escrava, sendo inconcebível
pensar em exercício do direito de greve quando a
dignidade da pessoa humana é negada de maneira tão
primitiva

Nesse sentido, transcreve-se um trecho do rico ensinamento de MELO

Não podem ser consideradas tipicamente como greve,


porque, naquela época, ainda não havia uma estrutura de
relações de trabalho; o que existia era um sistema social
escravista e servil. Em greve, propriamente dita, só se
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pode falar a partir da Revolução industrial, quando então
surge o trabalho assalariado, como ocorreu com os
movimentos sindicais dos ingleses, marco inicial da
história da greve.

Portanto, parece mais razoável considerar que somente com o trabalho livre e
assalariado o instituto da greve surgiu.

Natureza jurídica da greve


A natureza jurídica da greve deve ser avaliada levando-se em consideração as leis do país
onde se deu a sua deflagração, tendo em vista que, em alguns ordenamentos jurídicos a
mesma ainda é considerada ilícita para os funcionários públicos em alguns países, e em outros
países é considerada ilícita, tanto para os funcionários públicos como para os trabalhadores
privados.

Actualmente, porém, prevalece na maioria dos ordenamentos jurídicos a concepção da


natureza jurídica da greve como direito fundamental de carácter colectivo, oriundo da
autonomia colectiva privada, que é intrínseca às sociedades democráticas.

Nesse sentido, a característica mais marcante do fenómeno da greve é, sem dúvida, o


carácter colectivo. A suspensão do trabalho por uma só pessoa não constitui greve, pois,
esta é, por definição, uma conduta de natureza grupal, que se justifica pelo interesse de
um número razoável de pessoas por uma determinada vantagem apta a satisfazer as
necessidades comuns, não sendo, contudo, a soma, mas, a combinação dos interesses
individuais em relação àquela determinada vantagem.

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O direito de greve na Constituição da República de Moçambique de 2004
O artigo 87.º da CRM 2004 dispõe sobre o instituto de greve nos seguintes termos:

1. Os trabalhadores têm direito à greve, sendo o seu exercício regulado por lei.

2. A lei limita o exercício do direito à greve nos serviços e actividades essenciais, no


interesse das necessidades inadiáveis da sociedade e da segurança nacional.

Embora o direito de greve esteja assegurado constitucionalmente, competindo aos


funcionários decidir sobre a oportunidade e os interesses a serem defendidos através do
movimento grevista, não se trata de um direito ilimitado. Na opinião de NÓBREGA, o
que se pretende, a partir do referido texto constitucional, é impedir “ a vinculação do
seu exercício a prévias deliberações estatais que interfiram na vontade dos trabalhadores
relativamente à oportunidade do movimento e aos interesses que pretendem por meio
dele defender”.

Observa-se, ainda no n.º 2, do artigo 87.º, que nos “nos serviços e actividades essenciais,
interesse das necessidades inadiáveis da sociedade e da segurança nacional.” a greve foi
proibida, tanto que, o texto constitucional determina que o atendimento das necessidades
inadiáveis da sociedade, bem como os serviços e actividades indispensáveis como a segurança
nacional, não sejam interrompidos por causa da greve na função pública.

Entretanto, sobre o abuso do exercício do direito de greve, DELGADO explica que, a conduta
colectiva dos grevistas, embora amplamente franqueada, não traduz permissão normativa para
actos abusivos, violentos ou similares, pelos grevistas”. Seguindo o mesmo entendimento, o
ALVES afirma que, as acções ou omissões que venham a contrariar o conceito de greve, ou
que deste se distanciem, são abusivas e bastam para retirar a legitimidade constitucional do
movimento, tornando possível, a partir daí, a responsabilização de seus autores pelos actos
praticados durante a greve, cabendo a respectiva apuração em todas as esferas.

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O lock-out
O lock-out é um processo que se traduz na cessação temporária da atividade acompanhada
normalmente, do encerramento do estabelecimento ou unidade empresarial, levada a cabo por
iniciativa do empregador por forma a que este, através de meios de pressão, procure impor aos
trabalhadores determinadas condições ou defender-se das reivindicações destes.

Deste conceito extraem-se dois elementos; por um lado, o encerramento da empresa por parte
do empregador ou a não permissão dos trabalhadores acederem ao seu local de trabalho e, por
outro, as motivações dessa atuação podem ser duas:

 Lock-out defensivo. O empregador pretende exercer pressão junto dos trabalhadores


para
que se mantenham as mesmas condições de trabalho.

 Lock-out ofensivo. O empregador tenciona criar condições de trabalho que lhe sejam
mais
favoráveis a si.

Há situações em que, por motivos de natureza económica ou técnica, os empregadores são


obrigados a suspender a produção da sua empresa por via do encerramento. Neste caso,
não existe qualquer tensão ou conflito de trabalho, logo, não estamos perante qualquer
situação que possamos classificar como de lock-out em qualquer das suas modalidades.

Origem histórica do Lock-out


Esta figura tem a sua origem no «principio da paridade das armas», consagrado no sistema
jurídico da antiga República Federal da Alemanha, onde se pretendeu extrair a
legitimidade do lock-out justificando como legítima a liberdade de escolha dos meios de
luta. Do lado dos trabalhadores a greve, do lado do empregador o lock-out.

Esta tese não teve seguidores nos vários ordenamentos jurídicos europeus. O lock-out não
é considerado um meio de luta legítimo porque não existe equilíbrio entre a greve e o
lock-out. A diferença entre a força dos trabalhadores e o empregador é muito grande.
No que diz respeito aos seus efeitos, esta forma de pressão exercida pela entidade
empregadora implicaria a exoneração do dever de pagamento dos salários, pelo que

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surgiriam dificuldades para os trabalhadores que os levariam a desistir das suas intenções
ou a aceitar as propostas que o empregador impunha mesmo no seu próprio prejuízo.

Neste sentido , em mocambique o Lock-out e proibido segundo a CRM 1990 do artigo 87.

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Conclusão
Após a realização da pesquisa em torno do tema pelo qual nos propusemos apresentar,
resta-nos de seguida fazer as seguintes constatações:

A greve surgiu no âmbito das relações privadas, onde se deram todos os meios
desencadeadores para o nascimento dessa paralisação. Foi com as mudanças dos
mecanismos de produção ocasionados pela Revolução Industrial que houve a
sobreposição do capital à dignificação do trabalho humano. E frente ao cenário de
degradação do ambiente laboral, a classe operária tomou consciência de que teriam a
força necessária para lutar por melhores condições laborais.

O exercício da greve, seja no sector privado assim como no público, é um direito


fundamental que cabe a todos os trabalhadores ou funcionários sem reservas ou
exclusões. É ainda, um meio a que se recorre depois de fracassadas todas as outras vias
alternativa de se encontrar um consenso sobre um problema. Assim, não faz sentido que
se aprove uma lei de sindicalização que não preveja o exercício da greve.
Embora a greve seja admitida apenas para os trabalhadores do sector privado, ficou
constatado a greve nada mais é do que um instrumento de garantia da dignidade da
pessoa humana do trabalhador; independente do sector abrangido, seja público ou
privado.

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Referencias

ALVES, A. C. Novo Contrato de Emprego. Parassubordinação Trabalhista. São Paulo:


LTR, 2004
Constituição da República de Moçambique de 2004 (2004), Maputo: Plural;

DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2009


DELGADO. M. G. Curso de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004
Lei 14/2009 de 17 de Março, que aprova o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado.

Lei 18/2014 de 27 de Agosto, Aprova a Lei da Sindicalização da Função Pública;

MARTINS, S. P. Direito do trabalho. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2000


MARTINS, S. P. Direito do Trabalho. 27.ª edição. São Paulo: Atlas, 2011.
MELO, R. S. de. A greve no direito brasileiro. São Paulo: LTr, 2009
NASCIMENTO, A. M. Curso de direito do trabalho. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2001
NÓBREGA, A. R. Greve e responsabilidade civil. Revista Consulex, São Paulo, n.160, 2003.

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