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DECLÍNIO DE ATRIBUIÇÕES

Inquérito Civil n.º 1.26.000.002569/2015-32

I – OBJETO DO PROCEDIMENTO
01. O presente Inquérito Civil foi instaurado para apurar as condutas
objeto de expediente proveniente da Delegacia da Receita Federal do Brasil de
Recife, pelo qual encaminhou cópia da Representação Fiscal para Fins Penais nº
10480-734326/2012-84 (Processo Administrativo Fiscal nº 10480-723985/2011-
12), noticiando que a Prefeitura municipal de Aliança/PE, no período de 01/2009
a 12/2009, deixou de recolher parte das contribuições por ela devidas ao PASEP.
II – RAZÕES DO DECLÍNIO
02. Da análise dos autos, verifica-se que o Município de Aliança/PE
aderiu ao parcelamento de seus débitos tributários relativos às contribuições
sociais nos termos da Lei n° 10.522/2002, conforme informado pela Procuradoria
Regional da Fazenda Nacional na 5ª Região (fls. 19/33), em resposta ao Ofício nº
518/2016/3ºOCC/PRPE.
03. O parcelamento dos créditos tributários suspende a pretensão
punitiva estatal, nos termos do art. 83, § 2º da Lei n.º 9.430/1996, que assim
dispõe:
Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes
contra a ordem tributária previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a
Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão
final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito
tributário correspondente. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de
2010)

§ 2o É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos


crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa
física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos
crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de
parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da
denúncia criminal. (Incluído pela Lei nº 12.382, de 2011)

04. Assim, este órgão ministerial encontra-se impossibilitado de propor


ação penal contra os agentes responsáveis pela omissão no recolhimento e
repasse das contribuições sociais da Prefeitura Municipal de Aliança, que
caracterizaria crime contra a ordem tributária, previsto na Lei n° 8.137/90, art.
1°, inciso I, sob pena de nulidade da ação penal por ausência de condição de
procedibilidade da ação, isto é, da exigibilidade do crédito tributário, em face do

Z:\1º OCC - Substituição\3º OCC\1.26.000.002569-2015-32 - MPPE- ALIANÇA - crime contra ordem tributária - parcelamento do crédito - Enunciado
35 da 5ªCCR.odt
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parcelamento.
PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. SONEGAÇÃO FISCAL.
PARCELAMENTO DO DÉBITO. EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL E DA PRESCRIÇÃO.
REMESSA DOS AUTOS À VARA DE ORIGEM. 1. Havendo informação
de que o réu aderiu ao parcelamento de que trata a Lei
12.996/2014, cabível a suspensão da ação penal e do curso do
prazo prescricional. Precedente desta Corte. 2. Ressalva-se a
possibilidade de retomada do feito, se descumpridos os termos e
condições impostas pelo órgão fazendário. 3. O feito deve ser
remetido à origem, cabendo ao órgão do Ministério Público que
atua na primeira instância a fiscalização do cumprimento das
condições do parcelamento. (TRF-4 – ACR: 009209 RS
2006.71.05.009209-7, Relator: CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI,
Data de Julgamento: 24/03/2015, SÉTIMA TURMA, Data de
Publicação: D.E. 26/03/2015)

05. No tocante à improbidade administrativa, é de se notar que os fatos


em apreço caracterizam em tese atos de improbidade administrativa previstos
no artigo 10, inciso X, da Lei n.º 8.429/1992, abaixo transcrito:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:

X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem


como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

06. Contudo, nos parcelamentos concedidos sob o regime da Lei n.º


10.522/2002 os pagamentos se dão mediante retenção das parcelas no Fundo
de Participação dos Estados – FPE ou Fundo de Participação dos Municípios –
FPM, consoante expressa previsão do seu artigo 14-D:
Art. 14-D. Os parcelamentos concedidos a Estados, Distrito Federal
ou Municípios conterão cláusulas em que estes autorizem a
retenção do Fundo de Participação dos Estados – FPE ou do Fundo
de Participação dos Municípios – FPM.

07. No caso, verifica-se que o parcelamento do débito municipal relativo


às contribuições sociais em exame importam suspensão da pretensão punitiva
do Estado que se equipara ao próprio pagamento, já que as prestações são
automaticamente retidas de recursos do Fundo de Participação dos Municípios
para saldar a dívida confessada, não havendo possibilidade legal de ocorrência
de não pagamento, com consequente revogação do benefício.
08. Portanto, com o parcelamento, a União deixa de ser lesada, haja
vista que os seus créditos tributários sonegados serão integralmente ressarcidos
com juros, multas e correção monetária, não subsistindo possibilidade de
inadimplemento do município sonegador.
09. Entretanto, remanesce o interesse público local adstrito ao próprio
âmbito do Município, haja vista que este ente arca com o efetivo prejuízo
decorrente dos seguidos regimes de parcelamento com os quais anuiu seu
ordenador de despesas, uma vez que o parcelamento gerará débitos (juros e
multa) que serão descontados dos repasses constitucionais destinados ao ente
público municipal.

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10. Quanto aos agentes que praticaram os atos ímprobos, também não
se vê o envolvimento de servidores públicos da União, de suas autarquias e
empresas públicas, tendo as condutas sido praticadas no âmbito da
administração municipal. Ou seja, aquele que praticou em tese o ato de
improbidade de não recolhimento e repasse das contribuições sociais pertence
aos quadros de servidores do Município de Aliança/PE.
11. Conclui-se, portanto, que, não havendo verbas ou servidores
federais envolvidos, a legitimidade ativa para propor a ação de improbidade é do
Ministério Público do Estado de Pernambuco. Este é o entendimento do Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, conforme o acórdão abaixo colecionado:
EMENTA: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. AUSÊNCIA
DE RECOLHIMENTO DE TRIBUTOS (CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA). PAGAMENTO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA VIA
PARCELAMENTO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO.
ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – MPF.
AUTORIDADE MUNICIPAL. TUTELA DOS PRINCÍPIOS DA
ADMINISTRAÇÃO NO EXERCÍCIO DE CARGO MUNICIPAL.
LEGITIMAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL.
EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.

(...)

IV. O fato em análise, consiste na questão de quem teria a


legitimidade ativa para propor a presente ação, o Ministério
Público Federal – MPF ou o Ministério Público Estadual – MPE.

V. Não se está aqui debatendo o tema da atribuição do MPF ou dos


Ministérios Públicos Estaduais para demandas envolvendo repasse
de verbas federais desviadas pelo Município. Aqui, não há
qualquer repasse de verbas federais, não há qualquer desvio de
verba, mas inadimplemento tributário do Município por omissão
do prefeito em contrariedade às regras de direito financeiro e
tributário.

VI. Sabendo-se que a dívida perante o fisco vem sendo adimplida


com a retenção de verbas do próprio Município, falta interesse à
União e, consequentemente, legitimidade ao MPF para requerer a
condenação do réu a penalidade de ressarcimento da quantia
devida, nos termos da Lei nº 8.429/92.

VII. Quanto ao outro ponto levantado, violação aos princípios da


Administração Pública, nos termos do art. 11, incisos I e II da Lei
8.429/92, não teria também legitimidade o MPF para questionar
tal situação, uma vez que o réu exerceu cargo eletivo de Chefe do
Executivo Municipal. Portanto, ao omitir o dever de ofício, fê-lo na
qualidade de autoridade municipal, sendo legitimado o Ministério
Público Estadual para tutelar os princípios da moralidade
administrativa e da legalidade em tais atos da autoridade
municipal.

VIII. Apelação improvida. (TRF-5 – APELREEX:


00000558920144058307 AL, Relator: Desembargador Federal Ivan
Lira de Carvalho, Data de Julgamento: 31/10/2013, Quarta Turma,
Data de Publicação: 16/10/2014). (grifamos).

12. Questão idêntica foi levada ao Supremo Tribunal Federal, na Ação


Cível Originária 1677 ES, que assim decidiu

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CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. ALEGAÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE GESTORES PÚBLICOS
ESTADUAIS. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO AO INSTITUTO
NACIONAL DE SEGURO SOCIAL DAS CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS ARRECADADAS DE SERVIDORES PÚBLICOS
ESTADUAIS. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA
DIRIMIR O CONFLITO. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESPÍRITO SANTO.

(...)

5. O objeto da presente Ação Cível Originária é a definição da


atribuição do Ministério Público Federal ou do Ministério Público do
Estado do Espírito Santo para apurar eventual improbidade
administrativa de agentes públicos estaduais, que teriam deixado
de recolher aos cofres do Instituto Nacional de Seguro Social –INSS
as contribuições previdenciárias descontadas dos servidores do
Departamento de Imprensa Oficial daquele estado, no período de
1996 a 2000.

6. O presente conflito de atribuições deve ser conhecido. Na


assentada de 28.9.2005, ao julgar a Petição n. 3.528/BA, Relator o
Ministro Março Aurélio, este Supremo Tribunal Federal reconheceu-
se competente para solucionar conflito de atribuições entre órgãos
no Ministério Público de diferentes entidades da federação (art.
102, inc. I, alínea f, da Constituição da República):

COMPETÊNCIA
“ - CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES - MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. Compete ao
Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o
Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual.
CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES - MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL - ROUBO E
DESCAMINHO. Define-se o conflito considerado o crime de que
cuida o processo. A circunstância de, no roubo, tratar-se de
mercadoria alvo de contrabando não desloca a atribuição, para
denunciar, do Ministério Público Estadual para o Federal ” (PET
3.528/BA, Rel. Min. Março Aurélio, Tribunal Pleno, DJ 3.3.2006).

7. Em seu parecer, o Procurador-Geral da República destacou: ”Em


“
decorrência do critério fundamental utilizado pela Constituição
para o estabelecimento da competência da Justiça Federal, deve
ser examinada a natureza jurídica da pessoa que seria interessada
na causa. 12. O Departamento de Imprensa Oficial do Espírito
Santo é uma autarquia estadual destinada a produzir e editar o
Diário Oficial do Estado do Espírito Santo. 13. É certo que a União
Federal é quem arrecada e fiscaliza as contribuições
previdenciárias (...) 14. Ocorre, entretanto, que os responsáveis
pela retenção dessas contribuições previdenciárias e a realização
de seu regular recolhimento são agentes públicos estaduais da
mencionada autarquia estadual, observando-se que esse fato é
relevante quando se discute a fixação da competência para a
apreciação da prática, em tese, de improbidade administrativa. 15.
Nessa esteira, o suposto descumprimento do dever de probidade
(...) ocorreu no interior do Departamento de Imprensa Oficial do
Espírito Santo, revelando-se, inafastavelmente, o interesse
estadual. 16. Atente-se, por outro lado, que os autos noticiam o
parcelamento do débito (...) [que] fundamentou o arquivamento
do inquérito policial que tratava da possível prática de crime de

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apropriação indébita previdenciária, previsto no artigo 168-A do
Código Penal (fls. 333/335). Esse fato poderia amparar a extinção
de um eventual interesse da União, que se justificaria pela lesão
aos seus cofres, independentemente da medida judicial que
pudesse ser adotada no campo cível” ” (fls. 355-357, grifos nossos).

8. A situação posta nos autos não se enquadra na competência da


Justiça Federal, estabelecida no art. 109 da Constituição da
República, tampouco está compreendida nas funções
institucionais atribuídas ao Ministério Público Federal pelo art. 5º
da Lei Complementar n. 75/1993 (Lei Orgânica do Ministério
Público da União), pois não envolve bem, serviço ou interesse da
União, de suas autarquias ou empresas públicas. Na assentada de
11.5.2011, no julgamento da Ação Cível Originária n. 1.445/MG,
Relator o Ministro Março Aurélio, o Plenário deste Supremo Tribunal
decidiu:

COMPETÊNCIA
“ –CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES –MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL VERSUS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. Compete ao
Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o
Ministério Público Federal e Ministério Público estadual –Petição nº
3.528-3/BA, Tribunal Pleno, relator Ministro Março Aurélio, Diário da
Justiça de 3 de março de 2006. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES –
DEFINIÇÃO. A definição do conflito de atribuições ocorre
considerado o objeto do procedimento administrativo criminal. Não
envolvido bem, serviço ou interesse da União, entidade autárquica
ou empresa pública federal, cumpre ao Ministério Público do
Estado atuar” (DJe 24.5.2011, grifos nossos). No mesmo sentido:
“EMENTA Agravo regimental. Ação cível originária. Conflito de
atribuição. Ministério Público Federal. Ministério Público estadual.
Investigação. Ato de improbidade. Agente público. Sociedade de
economia mista. 1. A investigação envolve possíveis atos de
improbidade administrativa cometidos por agentes públicos (...) A
situação descrita não se enquadra nas hipóteses de defesa do
patrimônio nacional ou dos direitos constitucionais do cidadão,
previstas na Lei Complementar nº 75/93 e capazes de justificar a
atuação do Ministério Público Federal. 2. Agravo regimental
desprovido” (ACO 1.233-AgR, Rel. Min. Menezes Direito, DJe
28.8.2009, grifos nossos).

9. Na espécie vertente, o interesse econômico ou patrimonial da


União e do Instituto Nacional de Seguro Social –INSS, que adviria
do não recolhimento das contribuições previdenciárias
arrecadadas pelo Departamento de Imprensa Oficial de seus
servidores, arrefeceu-se em virtude da confissão de dívida
tributária pelo Estado do Espírito Santo e por seu parcelamento,
mediante retenção de percentual do Fundo de Participação dos
Estados – FPE. A suspensão da pretensão punitiva estatal
decorrente desse parcelamento resultou no arquivamento do
Inquérito Policial n. 392/2002, instaurado para apurar a
materialidade e autoria de suposta apropriação indébita tributária.
Não se cogita, por ora, de prática de infração criminal contra
bens, serviços ou interesses da União ou de suas autarquias, a
atrair a competência da Justiça Federal (art. 109, inc. IV, da
Constituição da República), não se justificando a atuação do
Ministério Público Federal na apuração das irregularidades
denunciadas e na propositura das medidas natureza criminal
pertinentes. A instauração de inquérito civil para apurar
responsabilidades, por outro lado, é atribuída ao Ministério Público

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Estadual, por competir à Justiça comum estadual processar e
julgar eventual a ação civil pública ou ação por improbidade
administrativa ajuizadas contra agentes públicos estaduais. Essa
regra de competência da Justiça comum estadual somente pode
ser excepcionada se a União, suas autarquias ou fundações
públicas tiverem interesse legítimo em atuar no feito na qualidade
de autoras, rés, assistentes ou opoentes, circunstância que atrairá
a competência da Justiça Federal (art. 109, inc. I, da Constituição
da República) e, consequentemente, a atuação do Ministério
Público Federal.

10. No caso vertente, a suposta improbidade administrativa em


apuração no procedimento administrativo em foco somente pode
ser atribuída a agentes públicos estaduais. Infere-se, daí, a
inexistência de interesse jurídico direto da União e de sua
autarquia. Isso porque, em casos tais, como realçado pelo
Procurador-Geral da República, exsurge o interesse do Estado ao
qual os agentes públicos faltosos estão vinculados, sendo este o
titular do bem jurídico supostamente lesado, a probidade
administrativa. Na assentada de 5.10.2011, no julgamento da Ação
Cível Originária n. 1.109, Relator para o Acórdão o Ministro Luiz
Fux, o Plenário deste Supremo Tribunal decidiu:

Ementa:
“ CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. CARACTERIZAÇÃO.
AUSÊNCIA DE DECISÕES DO PODER JUDICIÁRIO. COMPETÊNCIA DO
STF. ART. 102, I, f, CF. FUNDEF. COMPOSIÇÃO. ATRIBUIÇÃO EM
RAZÃO DA MATÉRIA. ART. 109, I E IV, CF. 1. Conflito negativo de
atribuições entre órgãos de atuação do Ministério Público Federal e
do Ministério Público Estadual (...) 4.A competência penal, uma vez
presente o interesse da União, justifica a competência da Justiça
Federal (art. 109, IV, CF/88) não se restringindo ao aspecto
econômico, podendo justificá-la questões de ordem moral. (...) 5. A
competência da Justiça Federal na esfera cível somente se verifica
quando a União tiver legítimo interesse para atuar como autora,
ré, assistente ou opoente, conforme disposto no art. 109, inciso I,
da Constituição. A princípio, a União não teria legítimo interesse
processual, pois, além de não lhe pertencerem os recursos
desviados (...), tampouco o ato de improbidade seria imputável a
agente público federal. 6.Conflito de atribuições conhecido, com
declaração de ( ) atribuição do Ministério Público do Estado de São
Paulo para apurar hipótese de improbidade administrativa, sem
prejuízo de posterior deslocamento de competência à Justiça
Federal, caso haja intervenção da União ou diante do
reconhecimento ulterior de lesão ao patrimônio nacional nessa
última hipótese (ACO
” 1109, Relator para o Acórdão o Min. Luiz Fux,
Plenário, DJE 6.3.2012, grifos nossos).

11. As irregularidades apuradas no procedimento administrativo


em foco poderiam lesar, em tese, o patrimônio do Estado do
Espírito Santo, do que decorre ser do Ministério Público daquele
Estado a atribuição de apurar responsabilidades e propor as
medidas judiciais cabíveis contra seus agentes.

12. Assim, as medidas de natureza cível a serem adotadas contra


agentes públicos estaduais em virtude do não recolhimento, no
prazo e na forma legal, das contribuições previdenciárias dos
servidores do Departamento de Imprensa Oficial do Espírito Santo
devem ser coordenadas e promovidas pelo Ministério Público
capixaba, na linha da manifestação do Procurador-Geral da
República (fls. 353-357) e da assentada jurisprudência deste

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Supremo Tribunal Federal. Tanto não afasta, contudo, a
possibilidade de que eventual manifestação de interesse da União
em ação ajuizada na Justiça Comum estadual enseje o
deslocamento da competência para a Justiça Federal.

13. Pelo exposto, conheço da presente Ação Cível Originária e


declaro a atribuição do Ministério Público do Estado do Espírito
Santo para investigar e apurar responsabilidades contra os
agentes públicos estaduais responsáveis pelas irregularidades
tratadas no Processo Administrativo n. 22.080/2004. Remetam-se
os autos à 27ª Promotoria de Justiça Cível de Vitória/ES. (STF -
ACO: 1677 ES, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento:
25/11/2012, Data de Publicação: DJe-238 DIVULG 04/12/2012
PUBLIC 05/12/2012)

13. Carece, pois, ao Ministério Público Federal atribuição para atuar no


feito, uma vez que com o parcelamento deixou de haver afronta direta a bens,
serviços ou interesses da União, suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, que pudessem atrair a competência da Justiça Federal, consoante regra
de competência prevista no artigo 109, inciso I, da Constituição Federal, e
consequente legitimidade do MPF para propor a demanda pertinente.
14. O raciocínio acima traçado conta inclusive com o aval da 5ª Câmara
de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, consolidado no
Enunciado n.º 35, abaixo transcrito
Enunciado nº 35: SONEGAÇÃO E NÃO REPASSE DE
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

A persecução dos atos de improbidade administrativa


relativos à sonegação de contribuições previdenciárias ou
não repasse destas à Previdência Social, quando imputados a
agente público das esferas estadual e municipal, é da
atribuição do Ministério Público Estadual se efetivado o
pagamento ou se existir parcelamento dos respectivos
débitos.

15. Ex positi, impõe-se reconhecer a falta de atribuição do Ministério


Público Federal para atuar no feito e consequente remessa dos autos ao
Promotor Natural, in casu, o Ministério Público do Estado de Pernambuco.
III – CONCLUSÕES
16. Diante das razões acima mencionadas, PROMOVO O DECLÍNIO DE
ATRIBUIÇÃO da presente Inquérito Civil ao Ministério Público do Estado de
Pernambuco, Promotoria de Aliança.
17. Outrossim, com fulcro no Enunciado n.º 32 da 5ª CCR 1, determino a
adoção, sucessivamente, das seguintes providências:

1 Enunciado nº 32: DECLÍNIO DE ATRIBUIÇÃO EM PP, ICP OU PIC COM BASE EM


ENUNCIADO
Quando o declínio de atribuições, em procedimento cível ou criminal, tiver por base
entendimento já expresso em enunciado ou orientação da 5ª Câmara, os autos poderão
ser remetidos diretamente ao Ministério Público com a respectiva atribuição,
comunicando-se à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão por meio do Sistema Único.
Aplicação analógica do §3º, art. 6º, da Resolução 107 do CSMPF, de 6.4.2010.

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17.1) Comunique-se o presente declínio de atribuições à 5ª Câmara de
Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal mediante registro no
Sistema Único;
17.2) Remeta-se os autos deste Inquérito Civil à Promotoria de Justiça que
responde pela Comarca de Aliança;

Recife, 21 de novembro de 2016.

JOÃO PAULO HOLANDA ALBUQUERQUE


Procurador da República

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