Você está na página 1de 5

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: Direito Penal III


DOCENTE: Prof. Caio Patricio de Almeida
ALUNO: Adriano Pereira Adura
PERÍODO: 4° Período
DATA: 28/11/2017

Com base nos arquivos encaminhando em anexo (Denúncia, Certidão de Antecedentes e Sentença),
analise a dosimetria da pena realizada pelo Juiz de Direito da 2ª Vara de Delitos de Trânsito e
promova as correções que julgar necessária. Para tanto, aponte e fundamente cada equívoco no qual
incorreu o juízo e, na sequência, realize a dosimetria de forma correta.
O trabalho poderá ser entregue manuscrito ou digitalizado – desde que impresso – até o dia 28 de
novembro de 2017.

Réu Paulo, crime embriaguez ao volante (artigo 306, do código de Trânsito Brasileiro).
Condenação. Aplicada pena de 08 (oito) meses de detenção, 23 (vinte e três) dias-multa e 03 (três)
meses de suspensão do direito de dirigir. Regime ABERTO para início do cumprimento da pena
privativa de liberdade. Réu reincidente. Não substituição por penas restritivas de direito. Réu
mantido em liberdade.

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência
de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior
a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.

Da análise das circunstâncias judiciais.

a) Culpabilidade: trata-se do grau de reprovabilidade e censura da conduta do réu. Este quesito o


magistrado considerou como NEUTRO, tendo em vista entender que o autor não possuía nem mais,
nem menos conhecimento e capacidade em relação a sua conduta.

b) Antecedentes do réu: refere-se à vida pregressa do agente, anterior ao crime. Inquérito policial
arquivado, ou em andamento, ação penal em andamento, processo penal com absolvição, processo
penal em andamento com decreto condenatório, passagem por atos infracionais, não geram maus
antecedentes.
Ainda, não basta que o réu pratique nova infração penal após o trânsito em julgado da primeira
condenação. Para a incidência da presente agravante, faz-se necessário o respeito ao prazo previsto
no art. 64, inciso I, do Código Penal, ao qual a doutrina convencionou denominar de período
depurador da reincidência:
Art. 64 - Para efeito de reincidência:

I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a


infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período
de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
Portanto, caso o réu tenha contra si sentença condenatória definitiva por crime praticado no
Brasil ou no estrangeiro, ao praticar novo crime ou nova contravenção penal será considerado
reincidente desde que a nova infração seja cometida após o trânsito em julgado da primeira sentença
e antes do prazo de 05 (cinco) anos após o cumprimento ou extinção da pena imposta na
condenação anterior.
Sendo assim, avaliada a sentença transitada em julgado na data de 15/04/2014, constatou-se
a reincidência, que hora, denota maus antecedentes. Contudo, entendeu o juiz, de forma correta,
desconsiderar essa circunstância na primeira fase da dosimetria, tendo em vista ponderá-la na
segunda faze, ou seja, dentro das circunstâncias legais. Por fim, esse entendimento evita o bis in
idem no somatório final da pena.

c) Conduta Social: refere-se ao comportamento do réu em seu meio familiar, social, profissional. É
a relação e convivência perante a sociedade. Este quesito também não foi analisado pelo
magistrado, pois nos autos não consta elementos suficientes para sua avaliação.

d) Personalidade do agente: É o caráter do delinqüente, o retrato psíquico deste. Está mais afeto à
psicologia do que às Ciências Jurídicas, sendo assim o juiz não efetuou sua analise, tendo em vista
não possuir elementos e nem formação para fundamentar um parecer.

e) Motivos do crime: É o porquê, o motivo pelo qual, a razão do agente ter praticado o delito. Em
tese, todo crime possui um motivo. Foi também um quesito não analisado pelo magistrado, haja
vista que em todo processo não se evidencia nenhum motivo fora da elementar do tipo.

f) Circunstâncias do crime: O modo de execução refere-se ao modus operandi, forma de execução


do crime. Os meios empregados relacionam-se ao instrumento utilizado na execução do crime. As
circunstâncias de tempo e lugar referem-se ao local do cometimento do crime e às condições
temporais. Sendo assim e por não identificar nada que some-se ou diminua-se a valoração desta
circunstância o magistrado deixa de considerá-la.

g) Consequências do crime: são as consequências do crime, efeitos deste para a vítima, familiares e
a sociedade. Entende-se no mesmo sentido do juiz.

h) Comportamento da vítima: refere-se à atitude da vítima, se provocativa ou facilitadora da


ocorrência do crime. Neste quesito a vítima específica não se encontra, sendo assim desconsiderado
pelo magistrado.

Levando em conta o exposto, chega-se ao mesmo entendimento do magistrado, o qual fixou a pena
base em seu mínimo, ou seja, 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa.
Segunda Fase:

Art. 61 do CP c/c Art. 65 do CP. Agravantes e atenuantes genéricos, o primeiro sempre agravam a
pena, não podendo o juiz deixar de levá-las em consideração. A enumeração é taxativa, de modo
que, se não estiver expressamente previsto, poderá ser considerada conforme o caso como
circunstância judicial. São as seguintes:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:

I - a reincidência;

II - ter o agente cometido o crime:

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou


impossível a defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
podia resultar perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de


hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça


particular do ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.

Das agravantes.

O magistrado, corretamente, não considerou a reincidência como maus antecedentes na fase de


circunstâncias judiciais, considerando-a dentro das circunstâncias legais art 61, I.
Das atenuantes.

As circunstâncias genéricas atenuantes sempre atenuam a pena. Sua aplicação é obrigatória. Nunca
podem reduzir a pena aquém do mínimo legal. São as seguintes:

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data
da sentença;

II - o desconhecimento da lei;

III - ter o agente:

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade
superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.

Analisando todas as atenuantes e os depoimentos da corrente ação não foi localizada


nenhuma conduta que se enquadre dentro das atenuantes. Sendo assim segue-se com o mesmo
entendimento do magistrado.

Sendo assim, o aumento de pena de 02 meses considerando a reincidência tem sua aplicação de
forma correta chegando-se a pena a um total de 08 (oito) meses de detenção e 23 (vinte e três) dias-
multa.

Terceira Fase:

Causas de aumento ou diminuição de pena: são assim chamadas porque são causas que aumentam
ou diminuem as penas em porções fixas (1/2, 1/3, 1/6, 2/3 etc.).

Circunstâncias legais e especiais ou específicas são aquelas que se situam na Parte Especial do CP.

a) Qualificadoras: só estão previstas na Parte Especial. Sua função é a de alterar os limites mínimos
ou máximo da pena.

b) Consequência das qualificadoras: elevam os limites abstratos da pena privativa de liberdade.

Fixação do regime inicial do cumprimento da pena, de acordo as regras do art. 33 do CP.

Verificação obrigatória da possibilidade de substituição de pena encontrada por alguma outra


espécie de pena, se cabível (Art. 59, IV, CP).
Verificar possibilidade de concessão de suspensão de pena.

Na avaliação do juiz não foi considerada nenhuma hipótese constante da terceira fase. Assim
também entendo.

Contudo na fixação de regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade ( art 59,
insciso III, do código Penal), nota-se que houve a aplicação da súmula 269/stj, In verbis :

Súmula 269/STJ - 11/07/2017. Pena. Regime semi-aberto. Possibilidade. Reincidentes condenados


à pena igual ou inferior a quatro anos. CP, art. 33, § 2º, «c».

«É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual
ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.»

Contudo.

Entende-se que para o regime semi-aberto não seria necessário a aplicação da súmula ora citada,
tendo em vista que não há o que se falar em regime FECHADO para crimes apenados com
DETENÇÃO. Isto é, reincidente: deve iniciar no regime semiaberto, uma vez que é o mais rigoroso
nesse caso;

Obs. 1: não existe o regime inicial fechado nos casos de crimes apenados com detenção. Porém,
nada impede que seja aplicado em face de regressão (STJ, REsp 493.846/DF, DJ 01/09/2003).

Por fim, entende-se que a quantidade de pena e o seu regime foram aplicados de forma correta pelo
magistrado.

Você também pode gostar