Colegiado do Curso de Licenciatura em Geografia Componente curricular: Aspectos Políticos da Análise Geográfica Discentes: Adriele Costa, Damires Mota, Edriane Gordiano, John Wolter, Vanessa Merces
Imaginário político e território: natureza, regionalismo e representação
O texto vem abordando em seu interior questões chaves da representação
territorial da política tentando compreender o mundo em que os geógrafos requerem considerar certos simbolismos com a força dos símbolos, das imagens e dos conteúdos estudados na geografia. Argumenta ainda sobre a inseparabilidade entre imaginário, política, é território e suas espontâneas possibilidades empíricas do conceito de imaginário para a compreensão das formas de apropriação do espaço pela sociedade. Relembra em seu corpo alguns conceitos chaves como espaço, território, rede considerando sempre a importância de conceito e empírico constituindo como alternativa metodológicos é a partir de então que a autora se aprofunda nos argumentos da análise da inseparabilidade conceitual de espaço e política extraindo fragmentos para reuni-los optando pelo percurso metodológico, optando pela discussão conceitual do imaginário social e se desdobrando no imaginário político o qual por sua vez se alum3ntq e realim2nta do imaginário geográfico. Tomando como ponto de partida a proposta da discussão do imaginário político e sua utilidade conceitual e empática para ampliar a agenda da geografia política a autora aborda que o termo imaginário remete às suas raízes imagem e imaginação e consequentemente ao significado corrente de produto da imaginação, sem possibilidade de existência concreta, opondo-se à experiência como fonte do conhecimento. E que este é o fundamental problema de atribuir ao vocabulário um conceito academicamente útil fora das disciplinas que têm nas imagens mentais e psicológicas seu objeto de reflexão, ela cita alguns filósofos gregos como Sócrates, que têm na experiência dos fatos como única via para se chegar ao conhecimento da razão, e que apesar de Platão e seus seguidores considerarem o mito uma possibilidade para alcançar verdades indemonstráveis, as correntes racionalistas que renegavam a imaginação por construir fontes de erros e de falseamentos impuseram- se progressivamente no pensamento ocidental, foram excluídas dos procedimentos intelectuais a partir do século XVII, todas as reflexões que não estivessem apoiadas na experiência e na razão como fonte de acesso ao conhecimento verdadeiro . Mas a autora diz que apesar do domínio das correntes racionalistas, a tensão entre os dois conjuntos de concepções filosóficas sobre as mais consistentes vias de acesso ao conhecimento não desapareceram completamente na modernidade ocidental. O primeiro desses conjuntos pertence a tradição iluminista que desvaloriza a imagem e a função da imaginação entre imaginário e realidade concreta que só pode ser apreendida pela razão. A função da imaginação é justamente liberta-se da razão e, portanto, nega-la, dificultando a compreensão da realidade. Descartes, Pascal, Spinoza, Leibniz denunciava a imaginação como fim do progresso do conhecimento, atribuindo-lhe as noções de ilusão e fantasia, considerando-a o vazio da razão. O segundo pode-se dizer que representa a herança platônica que embora de modo esporádico fincou alguns alicerces para a crítica do domínio da razão como única fonte de acesso à verdade, pois no século XVIII, Kant já elaborava a resistência a um racionalismo dogmático, fortalecida no século XIX, primeiro pela reação romântica aos excessos do mecanicismo e do materialismo cartesianos e posteriormente pela revolução filosófica do final do século, que resgatou a imagem, não como objeto do conhecimento atual, mas como objeto passível de uma representação ou seja o imaginário, sendo função e produto da imaginação, incorpora e reconstrói o real, também os avanços da psicologia especialmente com Freud que apontou o papel decisivo das imagens como mensagens que chegam à consciência a partir do inconsciente, abriram caminhos para a revalorização da imagem do simbólico diz a autora. Para Iná as discussões acima permitem uma primeira tomada de posição conceitual de imaginário como a força atuante da ideia e da representação mental da imagem. Nesse sentido o imaginário constitui uma energia que se formaliza individual e coletivamente, materializando-se em ações informadas por imagens e símbolo citando uma fala de (DUBOIS, 1995). Portanto afirma que desvendar o imaginário significa, pois, revelar o substrato simbólico das ações concretas dos atores sociais tanto no tempo como no espaço. Porem para ela nesse texto não se trata de explicar os valores metafísicos da imagem e da imaginação desde os tempos clássicos e sim de argumentar em favor do simbólico e do imaginário como objeto de reflexão acadêmica e como possibilidade metodológica da abordagem do real, também nas pesquisas empíricas que se propõe a ampliar o conhecimento sobre o espaço, isso partindo da proposta de DURAND (1994) de que todo pensamento humano é representação, quer dizer, passa pelas mediações simbólicas e que não há solução de continuidade, para o homem entre o imaginário e o simbólico, sendo então “ o imaginário esta conexão obrigatória pela qual se constitui toda a representação humana” e acrescenta que esta conexão se faz necessária no espaço, como fonte inesgotável de signos e símbolos do imaginário social, embora não haja unanimidade nas correntes que reconheçam a imaginação como fonte de conhecimento, estas desdobraram-se na perspectiva do símbolo como indica Durand ou na imaginação como objeto de reflexão que não pode ser excluído pela razão, como quer Sartre, ou como fonte de criação psiquicamente fundamental, como aponta Bachelard, ou ainda com Castoriadis, como alternativa aos limites impostos pela rigidez explicativa do materialismo histórico e seu conceito de ideologia. Portanto para autora, qualquer que seja a perspectiva dada â questão, deve ser ressaltada pela posição de BALANDIER (1997) para quem o “imaginário permanece mais do que nunca necessário, sendo de algum modo o oxigênio sem o qual toda a vida pessoal e coletiva se arruinariam.” Bachelard, aponta a importância da imaginação, desenvolvendo simultaneamente uma dupla fenomenologia do imaginário: na ciência e na poesia. Incorporando o papel do simbolismo imaginário na representação à discussão dos limites do debate entre as correntes racionalistas e realistas. Critica a encruzilhada dos caminhos dos caminhos entre realismo e racionalismo que produz o duplo movimento pelo qual a ciência simplifica o real e complica a razão. Para o autor, a imaginação é dinamismo organizador e este é fator de homogeneidade na representação. O espaço é interpretado como um arquético (ou seja, um modelo que se utiliza como exemplo), como um elemento essencial da estrutura psicológica do indivíduo. O espaço contém os símbolos do imaginário social e é um componente dele, tanto em sua dimensão emocional como material, e por isso um campo de disputas entre interesses privados de indivíduos ou grupos. Castoriadis na perspectiva de que a realidade é criada pelo imaginário social e não uma mera representação das imagens como reflexos de um real distorcido, aprofunda sua discussão entre imaginário e representação como meios de conhecimento, em contraposição do materialismo histórico marxista. O autor propõe como conceito de imaginário “a criação incessante e essencialmente indeterminada (social-histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens, a partir das quais somente é possível falar-se de alguma coisa. Aquilo que determinamos realidade e racionalidade são seus produtos. ”, ou seja, a realidade é criada pelo imaginário social. Para o autor, privilegiar a imaginação e o imaginário é propor despertar de um sono dogmático do ser determinado, é ser capaz de perceber a realidade histórico-social na sua dimensão de criação continuada. Já Maffesoli, aponta o imaginário social como força instituidora do imaginário político e o espaço como lócus por excelência do armazenamento e liberação desta energia. O autor apoia-se na perspectiva da política como controle das tensões inerentes às relações sociais através da força imaginal existente em toda vida em sociedade, tomando–a como ponto de partida para compreender a violência fundadora de toda agregação social sem descartar, porém, os princípios da territorialização das sociedades e sua influência no comportamento e nas ações sociais. Maffesoli aponta o ela fundamental da política com o espaço, quando chama a atenção para a origem ecológica do poder e desdobra o argumento do laço que se torna lugar. Para ele, o espaço é um nicho, um abrigo no qual “o portador do poder cristaliza a energia interna da comunidade, mobiliza a força imaginal que constitui e assegura um bom equilíbrio entre esta e o meio em torno, tanto social como natural.” Sua discussão revela o enraizamento cósmico na essência da política necessária a toda vida em sociedade. Após essa discussão conceitual no qual a autora destaca como o imaginário social se desdobra em imaginário geográfico, nesse próximo tópico ela vai tecer suas concepções acerca da relação existente entre imaginário político e imaginário geográfico. De início vai ser explicitado sobre a relevância dos símbolos constituintes do território, conseguinte é proposto que todo imaginário social tem um componente político e um forte componente espacial pois os objetos naturais e construídos possuem um grande poder simbólico. Diante da complexidade de se compreender o mundo, os geógrafos estão preocupados em desvendas não só os processos visíveis como os subjetivos. Então Castro, vai afirmar que no imaginário social há uma profunda geograficidade pela relação concreta que se estabelece entre o homem e a terra. Posteriormente ela vai explanar como os aspectos na natureza são utilizados para a construção do imaginário coletivo da sociedade e como é instrumentalizado para ações de base política e por fim vai ser destacado o caso do semiárido nordestino, que o elemento natural climático seco é utilizado para a criação de um imaginário. O autor cita que existe, pois, um imaginário político que se funda na força imaginal do estar junto e se realiza na inserção territorial do fato social. Esta dupla dimensão partilhada da sociedade implica duas dimensões da dialética do um versus o todo. Com o desdobramento dessa dialética territorial da parte versus todo, o regionalismo que é um movimento político de base territorial surge como reação a o jacobinismo (prática política revolucionária), do estado-nação e levantando bandeiras da identidade, da autonomia, do direito à diferença. Há, portanto, uma associação necessária entre os regionalismos e a formação dos estados nacionais. O regionalismo, enquanto mobilização política de base territorial decorre justamente dos quais o estado nacional tem organizado, ou administrado, as diferenças culturais e econômicas em seu território para fundar a ideologia da unidade nacional. Os estados-nacionais hoje conhecidos foram consolidados, em sua maior parte, a partir do domínio hegemônico de uma região que impôs cultura, língua, religião e sistema produtivo sobre as outras, é justamente nas clivagens desta dominação que se tem desenvolvido a ideologia regionalista. Os regionalismos apresentam muito mais lutas por disputas de recursos com base no poder simbólico da afirmação de uma identidade ou solidariedade a territórios particulares do que um desejo real de soberania. Embora identidades culturais fortes como língua, religião e etnia sejam símbolos eficientes nas disputas regionalistas, o regionalismo não se esgota neste tipo de viés cultural. Uma distinção é necessária entre o sentido dos regionalismos e nacionalismos. Embora ambos mobilizem símbolos para alimentar os rituais da identidade sócio territorial, a teleologia de cada um é diferente. O primeiro busca a construção de um estado-nação, o segundo busca mais vantagens, ou menos desvantagens nas disputas com outras regiões, no conjunto de um estado-nação consolidado. A institucionalização da representação política e do equilíbrio dos poderes nas democracias modernas é, necessariamente, especializada a partir de diferentes escalas que englobam desde os espaços da convivência estabelecidos da proxemia, até aqueles mais amplos do domínio simbólico do pertencimento a uma nacionalidade. Mesmo a dimensão não espacial do político, como a pretensão universal e cósmica das leis, precisa do território delimitado e organizado historicamente pela sociedade para se exercer. Como a representação política, instituinte da cidadania do individuo nas democracias modernas, se faz também com base nos recortes territoriais administrativos, é na perspectiva da representação territorializada do cidadão que devem ser compreendido os recortes territoriais da política nas democracias representativas contemporâneas. Não apenas o cidadão é representado como indivíduo, mas também o seu território como parte inseparável da sua cidadania. A cidadania intitulada pelo contrato fundador do estado moderno, em sendo um conceito de caráter universal, estabelece a igualdade de todos no usufruto dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres, porém, se há na essência do conceito a universalidade, a mediação territorial do seu exercício impõe alguns problemas. Não havendo homogeneidade na base material do território, as condições para o exercício desta cidadania ampliada que inclui hoje não apenas o direito à proteção, o de votar e de ser votado ou a possibilidade de controle dos governantes, mas também direitos relacionados à qualidade de vida e às condições para a sua produção, encontram-se afetadas. Nessa perspectiva, o problema do exercício da cidadania em países com grande disparidade econômicas e sócias é, mais do que um problema constitucional. Um problema territorial. O debate sobre os problemas de representação política no Brasil não se esgota no cálculo dos coeficientes que estabelecem o número de representantes por estado, eixo das análises políticas, mas numa compreensão mais profunda das muitas realidades sociais do espaço brasileiro, especialmente aquelas que historicamente, em algumas áreas do país, têm levado muitos “ cidadãos” a perceberem o voto, não como certificado de cidadania, mas como um bem virtual que pode transformar-se em outros bens mais palpáveis, como alimentos, roupas, documentos, etc. Na perspectiva da compreensão da base material do território como significante, a partir do qual o imaginário político constrói seu significado, que as pesquisas em geografia política podem contribuir para a compreensão das forças, das tensões e dos conflitos que presidem o processo de organização espacial das sociedades, assim, a agenda da geografia política brasileira encontra-se em aberto, especialmente na necessária busca de informações que permitem compreender as diferenças territoriais no exercício pleno da cidadania; a complexidade e a dinâmica dos interesses que os ligares representam e o devir da sua sociedade e do seu território no contexto de uma política cada vez mais globalizada, de lugares cada vez mais competitivos e de estruturas estatais em mutação.