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ISSN: 1414-9893
revista@pol.org.br
Conselho Federal de Psicologia
Brasil
Desemprego e Juventude:
Jovens em Busca do Primeiro
Emprego
Unemployment and Youth:
young in their search for the first job
Universidade
Federal do
Rio Grande do Sul
Artigo
trabalhador. Esse processo tem indicado a modelo social e como uma forma de organização
constituição de um novo paradigma econômica, muitos foram os processos, os
socioeconômico, que se distingue do taylorista- esquemas de controle e os dispositivos
fordista, vigente em boa parte do século XX utilizados.
(Cattani, 1999).
Em termos de acontecimentos, o que se teve,
Tais mudanças afetam os modos de ser e de primeiramente, foi a utilização de esquemas
viver, pois, como assinala Colbari (1995), o coercitivos que objetivavam obrigar os pobres
taylorismo e o fordismo não se reduziram a a trabalhar. Diante da ineficácia de tais
simples conjuntos de princípios de caráter esquemas, estes foram, paulatinamente,
técnico e organizacional, mas exprimiram a substituídos por dispositivos científico-
racionalização explícita da produção capitalista, disciplinares, ou seja, por mecanismos de saber
consolidando a subordinação real do trabalho e poder que constituíram, ao longo do tempo,
ao capital. Essa subordinação se efetivou com uma valoração/dignificação do trabalho,
a constituição de um regime de verdade estabelecendo relações entre trabalho,
valorativo do trabalho. honestidade e dignidade. Então, o trabalho, que
até o advento do capitalismo era considerado
“A mercadoria A problematização da valorização do trabalho algo aviltante, passa a ser valorizado e
força de trabalho é fundamental à nossa discussão por remeter-
tem a considerado porta de acesso ao lugar social. Tal
particularidade de, nos aos modos de subjetivação do período
processo se fez necessário, pois, para que o
legalmente, a taylorista-fordista e da atualidade. Podemos
engendramento capitalístico vigorasse; era
partir do contrato, conceituar modos de subjetivação como a
pertencer ao preciso que suas premissas fossem assumidas
capitalista, mas
forma pela qual os homens, ao relacionarem-
pelos homens, afinal:
continuar sob o se com os regimes de verdade próprios de cada
controle físico do período histórico, se constituem sujeitos de
seu portador.” “A mercadoria força de trabalho tem a
suas próprias ações (Eizirik, 1997, Nardi, 2002).
particularidade de, legalmente, a partir do
Conforme Ortega (1999), a construção de si,
Colbari contrato, pertencer ao capitalista, mas continuar
que se dá na subjetivação, nunca ocorre de
sob o controle físico do seu portador. A adesão
modo isolado, pois inexistem auto-estilizações
na solidão, ou seja, não há a possibilidade de ao trabalho e o engajamento subjetivo do
constituição do que comumente se chama trabalhador no processo produtivo não estão
subjetividade sem a relação com o outro. plenamente assegurados pelo aspecto contratual
da relação de compra e venda da força de
É no campo das relações com o outro que o trabalho; presumem sempre a (boa) vontade do
sujeito de depara com os códigos e os regimes trabalhador de desprender-se de suas capacidades
de verdade de sua época, ou seja, com as física e intelectual e canalizá-las para a atividade
verdades construídas e legitimadas socialmente, produtiva” (Colbari, 1995, p. 12).
verdades que sustentam e caracterizam o
modo como os sujeitos se reconhecem e se Diante dessa necessidade do capitalismo, a
governam (Nardi, 2002). adesão ao trabalho e o engajamento subjetivo
no processo produtivo passam a estar sob a
Entende-se que o paradigma taylorista-fordista responsabilidade de inúmeras instituições, que
contribuiu para o fortalecimento de uma ética se organizam a fim de cumprir esse estatuto
valorativa do trabalho, que já vinha constituindo- social. O termo instituição é utilizado na
se desde os meados do capitalismo. É seguinte concepção: conjunto de normas e de
importante destacarmos que a valorização do valores instituído sob a forma de regimes de
trabalho não foi algo espontâneo ou rápido. verdade, que estabelece e cristaliza
Para que o capitalismo se efetivasse como um provisoriamente as formas de relação social.
O processo institucional não consegue abarcar e identificadora do trabalho, entre elas, a família e
o fluxo de forças que constituem o que se a escola. Como escreve Colbari, “a preparação
entende por poder. As instituições são práticas, para o trabalho e para o desenvolvimento de papéis
são mecanismos operatórios, que tentam fixá- sociais determinados é um componente do
lo sob uma função homogenizadora e processo de sociabilização que ocorre no interior
reprodutora, mas que não obtêm êxito total no da família...” (1995, p. 114). Diante de um
seu intuito (Deleuze, 1988). Essa impossibilidade processo de sociabilização que prevê a filiação
1
de total controle do poder se deve às suas social atrelada ao processo de trabalho assalariado,
características de produção, de positividade, cabe à família preparar os seus membros para essa
pois, quando nos referimos ao poder, inserção. Cumpre à família “...uma função
remetemo- nos à conceituação foucaultiana, estabilizadora, que complementa a função
que o entende como diagramático, isto é, como socializadora de adequar as personalidades ao
campo de forças dispersas que mobiliza matérias desempenho de papéis padronizados
e funções não-estratificadas. Caracteriza-se por culturalmente” (Cooper apud Colbari, 1995, p. 133;
não ser essencialmente repressivo, visto que Rodrigues apud Colbari, 1995, p. 133). É
incita, induz, produz; não ser possuído, imprescindível que tenhamos claro que não
somente exercido, passando tanto pelos devemos considerar a família exclusivamente como
dominantes quanto pelos dominados, existindo
mera reprodutora dos padrões sociais, pois também
na relação, mas não localizável. Como coloca
apresenta possibilidades de singularização e
Deleuze “...um exercício de poder aparece
diferença. É ela que, perpassada por inúmeras
como um afeto, já que a própria força se define
instituições, tem-se encarregado de sustentar os
por seu poder de afetar outras forças” (1988,
processos de sociabilização, ficando sob sua 1 A noção de desfiliação,
p. 79). Dessa forma, a relação de poder é ação para Castel, “pertence ao
responsabilidade desacelerar o avanço do
sobre ações, é “condução de condutas” mesmo campo semântico
individualismo, ao mesmo tempo em que o articula que a dissociação, a
(Foucault, 1988). desqualificação ou a
com as necessidades coletivas. Como coloca Ariès, invalidez social” (1998,
“é como se a família moderna tivesse substituído p. 26). Refere-se à
O exercício de poder não é um dado situação do sujeito que
as antigas relações sociais desaparecidas para não mais encontra
institucional, tampouco uma estrutura que se proteção e tutela nos
permitir ao homem escapar a uma insustentável
mantém ou se rompe, pois não tem esse processos de
caráter localizável; está sempre em processo solidão moral” (1981, p. 274). sociabilidade primária e
secundária (com
intermediação de
de transformação, de elaboração, de i n s t i t u i ç õ e s
organização, provendo diferentes Cabe aqui destacarmos a função social das específicas), ou seja,
procedimentos de acordo com as circunstâncias organizações escolares, visto que estas foram que se encontra sem
respaldo social. O autor
que se apresentam (Foucault, 1988). São essas estruturadas para atender as necessidades de utilizou esse conceito
expansão do capitalismo, tendo como foco para analisar os
características de positividade de poder que mecanismos de suporte
possibilitam rupturas nos regimes de verdade. central a preparação dos futuros trabalhadores. social relacionados ao
assalariamento,
Como problematiza Nardi (2002), as verdades Por essa razão, faz-se relevante discutirmos destacando o papel das
servem como justificativa para as formas de brevemente a instituição escolar, principalmente instituições públicas que
configuram o Estado de
dominação e de resistência que marcam os ao analisarmos que, “em situação ideal”, Bem-Estar. Nesta
pesquisa, a
modos de subjetivação de cada contexto crianças e adolescentes precisam de, no conceituação de filiação
histórico. Desse modo, “o regime de verdades mínimo, onze anos para completar o nível social é utilizada de
maneira mais ampla.
próprio do capitalismo nos seus diferentes médio de ensino. Entende-se por filiação
social os processos que
períodos permite explicar e justificar as posições legitimam/reconhecem
de classe, o lugar dos sujeitos na estrutura social, Nesse aspecto, a contribuição de Foucault em os sujeitos sociais, sendo
que tais processos não
as possibilidades e as restrições à mobilidade “Vigiar e Punir” (1987) deve ser retomada, pois necessariamente se dão
social” (Nardi, 2002, p.22). o autor enfatiza o processo de disciplinarização pelo assalariamento,
apesar de este ainda
e hierarquização das escolas como um dos persistir como um
facilitador de maior/
É importante destacarmos a ação de algumas dispositivos de docilização dos corpos melhor inscrição/
instituições no fortalecimento da ética valorativa necessários ao capitalismo. Nos inserção social.
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Desemprego e Juventude: Jovens em Busca do Primeiro Emprego
por inúmeras instituições para um dever ser p. 774). Mas, a seguir, agregamos a
trabalhador/adulto, encontravam um mundo problematização feita por Michel Foucault sobre
que lhes negava esse lugar? Será que essa outra o termo:
configuração social mobiliza forças disruptoras?
Promove outros movimentos de subjetivação? “O enunciado não é uma unidade do mesmo
gênero da frase, proposição ou ato de linguagem;
Quais os processos de resistência e de
não se apóia nos mesmos critérios; mas não é
subjetivação frente ao cenário de desemprego?
tampouco uma unidade como um objeto material
poderia ser, tendo seus limites e sua
Encontrando jovens em busca do independência. (...) O enunciado não é, pois,
primeiro emprego uma estrutura (isto é, um conjunto de relações
entre elementos variáveis, autorizando assim um
Para responder a essas questões, buscamos número talvez infinito de modelos concretos), é
encontrar jovens que estavam à procura de seu uma função de existência que pertence
primeiro emprego. Para tanto, viabilizamos uma exclusivamente aos signos e a partir da qual se
pode decidir, em seguida, pela análise ou pela
parceria de pesquisa com o Programa do Estado
intuição, se eles “fazem sentido” ou não, segundo
do Rio Grande do Sul – Primeiro Emprego, ação
que regra se sucedem ou se justapõem, de que
governamental de inserção de jovens de 16 a
são signos e que espécie de ato se encontra
24 anos, sem relação formal de emprego
realizado por sua formulação (oral ou escrita)”
anterior (Lei n° 11.363, de 30 de julho de 1999). (Foucault, 1997, pp. 98-99).
Foram realizadas 20 entrevistas com inscritos Desse modo, o enunciado pode ser tomado na
no Programa, sendo 15 com jovens que sua função de “elucidação” da existência de certos
estavam candidatando-se a uma vaga e as discursos. Cabe aqui destacar que entendemos
restantes com jovens que haviam sido que a linguagem não é um simples meio de
contratados através do mesmo. transmitir pensamento, comunicar; ela faz bem
mais do que isso, pois insere-se como uma
A fim de pesquisar os modos de subjetivação prática individual e coletiva, historicizada, marcada
dos jovens de 16 a 24 anos, optamos por pelo tempo e pelo espaço (Briggmann, 1996).
entrevistas semi-estruturadas, pois estas
Pela análise dos dados, algumas categorias se
permitem-nos melhor acessibilidade às
configuraram por sua recorrência e poder
percepções, sensações e entendimentos dos
enunciativo. São elas: relação familiar,
sujeitos entrevistados. Buscávamos enunciados
qualificação, consumo, independência e
que elucidassem a experiência da busca do “qualquer coisa, alguma coisa”. Tais categorias
primeiro emprego. são apresentadas ao longo da discussão dos dados
da pesquisa.
As entrevistas foram gravadas em áudio-tape e
transcritas. A análise destas se efetivou a partir Jovens tentando entrar no mundo
do referencial arquegenealógico foucaultiano,
do trabalho
que nos aponta a importância da análise do
contexto socio-histórico e do poder enunciativo Os dados da pesquisa apontam uma produção
de certas falas. de subjetividade marcada pela confrontação dos
ideais éticos pró-trabalho assalariado e o
Primeiramente, o entendimento de enunciado contexto social de desemprego. Os jovens
foi tomado na sua significação latina entrevistados buscam a inserção social por
“enunciatu”: “expresso, declarado... resultado motivos de ordem moral e financeira.
da produção discursiva, levando-se em conta o Compreendem que atingirão sua adultez
contexto em que ocorreu...” (Ferreira, 1999, quando forem capazes de sustentar-se
social de seus membros. Os jovens, se ainda fala de uma jovem que afirmou que, por ter
não são trabalhadores, precisam encontrar na família, ainda não precisava submeter-se a
família algum espaço de reconhecimento social, entregar panfletos na rua (Manoela, 16 anos).
mesmo que este se dê na categoria de filhos. A acolhida se materializava em frases familiares
do tipo: “Ah, a próxima vez tu consegue. De
Apesar da existência de uma rede discursiva na repente, não era... Eles diziam muito que não
fala dos familiares que convoca ao era para ser meu, que quando chegasse a hora, “A saída da escola
eu ia conseguir” (Paula, 18 anos, empregada). supõe para o
assalariamento, formulados em enunciados do
jovem um período
tipo: “tu tem que ter teu dinheiro” ou “quem de transição. Sai
não trabalha é vagabundo”, cabe à família Entre a convocação discursiva feita pela família de uma instituição
continuar provendo a sustentação subjetiva e para que o jovem assuma o lugar social de organizada e
organizadora para
material de seus jovens que ainda não trabalhador e a realidade de desemprego deste,
um espaço social
trabalham. encontramos um tensionamento paradoxal que no qual o tempo e
configura e altera a própria convocação pró- a atividade não
assalariamento. A mesma família que objetiva estão tão
Isso se torna mais complexo com a saída da estruturados. O
escola, pois esta representa um espaço de o assalariamento precisa dar suporte ao jovem papel, antes do
socialização. O ambiente escolar oferece a quando este não consegue corresponder a essa aluno, torna-se um
norma subjetivante. papel confuso e
possibilidade de reconhecimento de um sujeito
pouco definido.
social – o aluno. Sarriera et alli (2000, p. 45), Esse novo espaço
referindo-se ao jovem que termina o ensino Em algumas entrevistas, observa-se um certo de transição é
médio, afirma: misticismo, uma religiosidade que aplaca a chamado de terra
de ninguém, isto é,
angústia das buscas sem resultados pela
nenhuma
“A saída da escola supõe para o jovem um explicação de que existe uma hora certa, um instituição social se
período de transição. Sai de uma instituição destino. Talvez estas possam ser compreendidas responsabiliza pelo
como um resquício católico de que o céu está jovem nessa fase.
organizada e organizadora para um espaço social
Nesse momento, o
no qual o tempo e a atividade não estão tão garantido pelo sofrimento. Uma jovem já jovem passa a ser
estruturados. O papel, antes do aluno, torna-se empregada relembra a sensação de quando saía pressionado pela
um papel confuso e pouco definido. Esse novo a procurar emprego: “A sensação que eu tinha família para
mostrar a sua
espaço de transição é chamado de terra de era que...seja o que Deus quiser...porque tinha capacidade de
ninguém, isto é, nenhuma instituição social se gente que tinha muito mais curso que eu, né?” conseguir um
responsabiliza pelo jovem nessa fase. Nesse (Diana, 19 anos, empregada). “Às vezes, eu trabalho que
complemente a
momento, o jovem passa a ser pressionado pela fico com medo. Às vezes, eu fico pensando:
renda familiar”
família para mostrar a sua capacidade de ah, vai ter bastante gente qualificada, né? Vai
conseguir um trabalho que complemente a ter bastante gente com faculdade. Vai ter Sarriera et alli
renda familiar” (2000, p. 45). bastante gente que não é qualificada. Mas, eu
acredito em Deus. Eu rezo todos os dias. Eu
Os dados desta pesquisa concordam em parte acho que uma hora vai aparecer um serviço
com essa afirmação. Como já afirmei acima, as pra mim. Não sei. Eu acho que uma hora vai
entrevistas demonstram que a família incentiva acontecer. Se não foi ontem, vai ser amanhã
a inserção no mercado de trabalho, mas que ou depois, não sei” (Joana, 18 anos). Parece,
também é ela que está fazendo frente a esse aos jovens que buscam o primeiro emprego,
não-lugar. Explico: são os laços familiares que que existe um Deus que escreve certo por linhas
sustentam/filtram a sensação de não-inserção. tortas, sendo que esse misticismo se apresenta
como defesa contra o sofrimento, uma crença
Ficou bastante evidente nas entrevistas que os necessária que consola.
jovens com “melhor” relacionamento familiar
sentiam-se acolhidos e menos pressionados a Quanto à utilização da remuneração, apesar
aceitarem “qualquer coisa”. Como evidencia a de a maioria dos jovens ser proveniente de
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Desemprego e Juventude: Jovens em Busca do Primeiro Emprego
famílias com pouco recurso financeiro, a Pela via do “consumo”, capta-se um ideário social
perspectiva de receber algum dinheiro não que paira: quem tem dinheiro consome. Para
estava particularmente atrelada a um auxílio ter dinheiro, é necessário trabalhar... Quem
das despesas domésticas. Isso não significa dizer trabalha pode decidir o que, quando e como
que os jovens não auxiliariam no orçamento comprar. Uma jovem chega a dizer, ao comentar
familiar, mas que as falas destacavam que o sobre os amigos que trabalham: “Quando eu
objetivo do salário não era subsistência saio com eles, eles colocam: ah, que eu tô
imediata. Esta parecia estar a cargo das famílias, trabalhando, que eu tô ganhando, claro que
ninguém comenta salário, mas que eu tô
enquanto, ao jovem, cabia encontrar maneiras
trabalhando numa coisa que eu gosto, tenho a
de sustentar seu consumo individual. “Ai. É
minha independência, quero morar sozinha. Daí
porque assim oh: os meus pais trabalham, né?
pode planejar um futuro, sabe? Quem tá
Só que tem necessidade. Às vezes, eu quero
trabalhando, acho que tem pelo menos o direito
sair, dar uma volta, aí tem que pedir pra minha
de tu... de tu achar o teu futuro. Porque tu não
mãe. Qualquer coisa assim. Não é a mesma tá dependendo de alguém” (Nair, 22 anos).
coisa que tu trabalhar, ter teu dinheiro e poder
sair. Claro que eu posso comunicar ela, mas O trabalho, para esses jovens, é a porta de
daí eu não preciso ficar pedindo dinheiro. Às entrada em um novo mundo: um mundo de
vezes, eu quero vir ao centro, comprar uma consumo. Parece-lhes, no contexto atual, que
calça, daí tem que ficar pedindo dinheiro pra mais importante do que ser um trabalhador é
ela, então é mais ou menos pra isso. E pretendo ser um consumidor. Isso se efetiva pela
fazer um cursinho e ingressar na faculdade” dificuldade de inserção profissional, que prejudica
(Joana, 18 anos). “Porque eu gostaria de ter a realização dos planos de vida e um certo
meu próprio, pra quando eu quiser sair, não planejamento de futuro. O ato de trabalhar acaba
depender do meu pai, pra ter as minhas coisas. restringindo-se a um possibilitador de consumo.
Em geral, pra mim comprar as coisas que eu Para esses jovens, o sonho de se realizarem como
quero” (Renato, 16 anos). sujeitos se vê enfraquecido. Fazem o que lhes
mandam. Aqui retomamos o entendimento da
Com os dados até aqui apresentados, podemos escravidão. Não há proposições novas. Buscam
pontuar a relação entre “capacidade de ser aquilo que pensam que os outros querem
consumo” e uma certa sensação de que sejam. Para ser contratado, precisa saber
“independência”, que se mostra fundamental inglês, então tenho que estudar inglês. Tem que
saber informática, então preciso matricular-me
nos discursos no que tange à motivação pela
num curso de informática. Tem que estar bem
busca laboral. Vetor importante na
vestido e saber falar bem, então me comportarei.
movimentação por um “emprego/trabalho” é
A escravidão os empurra à fraqueza, à renúncia,
um certo desejo de “independização”, que,
ao aplacamento de si.
por vezes, vem atrelado à questão do
“consumo”. “Olha a minha vontade é ser
Para finalizar...
independente. A minha vontade é não
depender desse dinheiro” (pensão que recebe Abordar a temática do desemprego juvenil
do pai falecido) (Salete, 20 anos). “Porque eu constitui desafio que permanece pela sua
não posso ficar a vida inteira dependendo de atualidade. A dificuldade de inserção laboral dos
alguém, né? Eu tenho que saber... (...) então jovens em busca de seu primeiro emprego
um emprego pra mim é aprender (...) Pra ganhou destaque em jornais e telejornais nos
pensar no futuro. Eu pretendo fazer uma últimos anos. Trata-se de um problema social
faculdade. Eu quero fazer fisioterapia. Até para que repercute nos modos de ser de uma geração.
ajudar a pagar, né? É muito caro. Mais é pra
isso, né? Pra ter o meu dinheiro. A minha Os dados desta pesquisa evidenciaram uma
independência” (Nair, 22 anos). parcela da população jovem que encontra sérias
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