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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

CAMPUS TIMÓTEO

Processos Industriais - Módulo Aço, parte 2


Prof. Armin Isenmann

2. ENTENDER O DIAGRAMA DAS FASES DO AÇO


2.1. Características gerais de misturas binárias fundidas
Nesta consideração introdutória referimo-nos a sistemas binários, contendo os compostos A e
B. A partir da sua solução, líquida e homogênea, observamos os típicos comportamentos de
solidificação. Como a discussão do cap. 2.1 tem caráter geral, então não importa se tivermos
um sistema de dois metais fundidos, sais fundidos ou um sal soluto em água.

2.1.1. Separação dos compostos sólidos puros


Ao dissolvermos um composto B (por exemplo, nitrato de prata) em um líquido A (por
exemplo, em água), o ponto de congelamento de A abaixa-se, um fenômeno conhecido como
efeito coligativo. O gráfico da temperatura de fusão verso fração molar em B, obtemos uma
curva decrescente (linha AC, na Fig. 1).
O mesmo se observa quando no líquido B se dissolve cada vez mais A (curva BC, na Fig. 1).
As duas curvas cruzam-se no ponto mais baixo C, denominado de ponto eutéctico. Aqui
solidifica-se, a partir de uma solução da composição C, uma mistura micro-cristalina de
cristais A e cristais B. Mesmo que os cristalitos por si são os puros compostos A e B,
geralmente não é possível separar esta mistura eutéctica (do grego: fácil de fundir) em seus
componentes.
Então o diagrama dos estados é dividido em vários campos distintos quando colocamos as
duas curvas de fusão. Acima das curvas encontra-se o campo da solução insaturada. Aqui é
possível variar temperatura e composição da mistura, sem provocar a formação de uma nova
fase sólida. A regra das fases de Gibbs permite prever o grau de liberdade, isto é, o número de
parâmetros que podem ser livremente escolhidos sem criar novas fases ou extinguir uma das
fases existentes; em nosso exemplo, o grau de liberdade é de 2 (composição e temperatura):
No equilíbrio encontram-se apenas duas fases, a solução sob sua própria pressão de vapor. O
número de componentes é dois (A e B).
A regra das fases de Gibbs diz:
No das fases + grau de liberdade = No de componentes + 2 ( = 4) 1.
Podemos então resfriar uma solução insaturada, até cruzar com uma das curvas de
congelamento (= curvas de saturação). Daí ocorre a separação de cristais de A ou de B. Por
exemplo, resfriamos uma solução da composição 1 (ver Fig. 1), isto é, andamos na vertical
para baixo seguindo a seta, observamos a formação dos primeiros cristais quando chegar na
curva AC. A composição destes cristais é puro A, já que ultrapassamos a temperatura de fusão
dos cristais de A.

1
Essa regra presume que os componentes A e B se misturem em qualquer proporção, tanto no estado gasoso
como no líquido. No entanto, conhecemos sistemas onde coexistem duas ou até mais fases líquidas. Nestes casos
a regra de Gibbs não se aplica.

1
Ao se procurar a composição dos cristais que se depositam por resfriamento de uma solução,
então andamos na vertical para baixo até encontrar uma linha marcante do diagrama; daí
procuramos na horizontal a intersecção com outra linha marcante do diagrama onde se faz a
leitura da composição da nova fase. No entanto, neste procedimento nunca se deve passar por
cima de um ponto eutéctico ou outro ponto fixo do diagrama!
Isto faz com que a solução empobreça em A o que, conforme a curva AC, acarretando o
abaixamento do seu ponto de congelamento. Sendo assim, caminhamos ao longo da curva AC
para baixo em direção ao ponto C, sempre precipitando mais A. Chegamos no ponto C as
condições para o composto B também são para congelar, assim se solidifica o eutéctico.

Fig. 1. Diagrama de fusão de um sistema binário onde os compostos sólidos são


totalmente incompatíveis.

Voltando ao nosso exemplo, como já precipitamos cristais de A antes do eutéctico, a mistura


sólida tem a aparência de ilhas de A (que geralmente são cristais maiores), dentro de um mar
de eutéctico. De maneira análoga, quando resfriarmos uma mistura da composição 2,
solidifica-se primeiramente puro B que depois será enluvado pelo eutéctico.
Deduzimos que as curvas AC e BC da Fig. 1 representam as condições de solução saturada.
Exatamente em cima destas curvas temos um grau de liberdade a menos do que na solução
insaturada. Isto é, podemos escolher livremente somente um parâmetro e todos os outros
parâmetros são dados pelo sistema - se mexermos em dois parâmetros independentes, então
corremos o perigo de criar novas fases ou perder uma das antigas. Podemos então escolher a
temperatura, daí a composição da mistura (%) é definida. Ou escolhemos a composição, daí se
conhece já a temperatura.

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Logo abaixo das curvas encontram-se as áreas de supersaturação. Isto significa que as
soluções contêm mais A (ou B) do que permitido pelas curvas de saturação. O sistema quando
se encontra nesta região do diagrama, é instável e se decompõe espontaneamente. Isto é
mostrado pelo ponto 3 na Fig. 1 que se desfaz em uma parte de cristais B e outra solução
saturada. Podemos até predizer as quantidades relativas destas novas fases, aplicando a
“Regra de alavanca” (ver p. 8).
Um ponto especial no diagrama das fases é C, o ponto eutéctico. Nesta temperatura e
composição temos a solução coexistente com o eutéctico que é uma mistura de cristalitos de
puro A e cristalitos de puro B. Sendo assim, temos quatro fases coexistentes (incluíndo a fase
do vapor em cima do sistema), ou seja, pela regra das fases o grau de liberdades é zero.
Abaixamos a temperatura perdemos a fase líquida. Andamos ainda à direita ou à esquerda,
obteremos misturas sólidas de B e eutéctico e A e eutéctico, respectivamente.
Mencionamos alguns exemplos para sistemas onde componentes solidificados se tornam
incompatíveis, conforme mostrado na Fig. 1 - todos com relevância industrial: refinamento da
prata, a partir de minérios de chumbo, abaixamento da temperatura de fusão da bauxita por
criolita no processo da eletrólise em fundição, na produção de alumínio metal. Também
referido um exemplo encontrado no laboratório já mencionado acima, a mistura de água e
nitrato de prata.
Componente A Componente B Eutéctico C
Fórmula Tfus Fórmula Tfus % mássica Tfus
Ag 961 °C Pb 327 °C 2,5% Ag 304 °C
Al2O3 2045 °C Na3AlF6 1009 °C 18,5% Al2O3 935 °C
AgNO3 212 °C H2O 0 °C 47,1% AgNO3 -7,3 °C

Todos eles podem ser separados em cristais de A e eutéctico ou B e eutéctico, através de um


simples resfriamento da solução.

2.1.2. Formação de um composto sólido de composição definida


Alguns sistemas dos compostos A e B mostram a tendência de formar um novo composto de
composição definida, por exemplo, o composto da fórmula AB. Daí tanto A como B podem
formar um diagrama do tipo Fig. 1 com o composto AB. Ao juntarmos esses dois diagramas
na ordenada em comum recebemos um diagrama do tipo Fig. 2, onde a linha pontilhada no
meio representa a existência do composto AB. O mais marcante neste diagrama é a aparência
de um máximo de temperatura de congelamento (também é conhecido como "distéctico"), o
que é idêntico com a temperatura de fusão do composto AB. Neste princípio se baseiam os
métodos para descobrir a composição de compostos de acesso difícil. Por exemplo, através
das temperaturas de congelamento se descobriram as fórmulas dos hidratos do ácido sulfúrico.
No exemplo mostrado na Fig. 2 o composto AB se destaca por ter um ponto definido de
fusão. Além disso, as composições são idênticas em solução e no cristal (= 50%, no exemplo).
Estas transformações das fases, onde não há mudanças nas composições químicas, se chamam
de transformações congruentes. No exemplo da Fig. 2 tem-se uma fusão congruente do
composto sólido AB. Mas também existem outros sistemas onde o composto AB somente
existe em fase sólida. Ao derreter ela se desproporciona em uma fase líquida e um novo sólido
cuja composição é diferente. Este caso, a fusão incongruente do composto AB que ocorre
num intervalo térmico, é discutido abaixo ("peritéctico"; esboçado na Fig. 3).

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Fig. 2. Diagrama de fusão onde se separa um composto definido, neste exemplo da
fórmula AB.

Portanto, o distéctico ou fusão congruente não deve ser confundido com o peritéctico. Na
reação peritéctica, uma fase líquida L e uma fase sólida α estão em equilíbrio termodinâmico
com uma fase sólida β cuja composição química e estrutura cristalina são diferentes da fase α,
conforme esboçado na Fig. 3.

Fig. 3. Diagrama das fases com peritéctico (P).


Arrefece-se lentamente uma mistura contendo as fases L e α, atingindo a temperatura
peritética aquela proporção da mistura que corresponde à composição peritética se transforma
em uma fase β. Somente depois desta transformação se completar a temperatura da mistura

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volta a cair. Uma vez que a composição de β não é a mesma que da fase L ou da fase α, a
reação peritética é chamada de transformação incongruente.
Na transformação peritética a nova fase sólida β é formada na interface entre as fases α e L, de
modo que possa atuar como uma barreira de difusão. O recém-formado cristal misto β então
cresce em volta do já existente cristal misto α, daí o nome peritética (do grego: construído em
volta). O crescimento do sólido  a custo do líquido L e do sólido , enluvando a fase 
completamente, separa cada vez mais os reagentes, L e . Isso tem como consequência que
reações peritéticas ocorram muito mais lentamente do que as transformações semelhantes,
eutéctica e eutetóide e, portanto, geralmente são de menor importância técnica.
Um bom exemplo de uma transição peritéctica é a reação entre o ferro fundido e cristais
mistos de ferro δ / C, para cristais mistos de ferro-γ com carbono (= austenita), ocorrendo na
temperatura de peritéctica de 1493 ° C e numa composição mássica de 0,16% C (ver Fig. 12,
em volta do ponto I).

2.1.3. Separação de cristais mistos (de composição não definida)


Caso A: Miscibilidade contínua.
Na p. 2 vimos que sistemas de pouca compatibilidade separem-se em seus compostos puros,
cristais de A e cristais de B. Mas também existem muitos exemplos onde os componentes se
misturam a nível molecular enquanto se solidificam. Daí se fala de cristal misto.
Vamos primeiro sondar em quais casos temos que contar com cristais mistos.
Metais entre si formam frequentemente cristais mistos - conhecidos como ligas metálicas.
Nestas observamos frequentemente solubilidade mútua, ou seja, os átomos do segundo metal
se encontram em lugares estatísticos da rede cristalina do primeiro2.
Já mais delicada é a questão da compatibilidade entre os sais. Relativamente raros são os
exemplos onde os cátions ou os ânions de um cristal iônico podem repor-se aos poucos, sem
que o tipo da rede cristalina seja perturbado ou até alterado. Um exemplo deste é o cloreto de
sódio, onde os íons Na+ podem ser repostos aos poucos por Ag+. Observamos uma transição
suave, das propriedades do sal de cozinha em cloreto de prata. Isto se conhece como
"isomorfia", o produto é um cristal misto. Podemos ainda discriminar entre miscibilidade
completa e incompleta, dependendo se os íons podem se substituir em quaisquer proporções
ou somente dentro de uma faixa limitada.
Antigamente acreditava-se que a condição para cristais mistos seja o mesmo número de carga
naqueles íons que se repõem. Só que logo se evidenciou que essa "Regra de Mitscherlich" não
era satisfatória para explicar um grande número de misturas. Hoje sabemos que mais
importantes para a formação de cristais mistos são:
 a identidade do tipo de fórmula (AX, A2X, A3X2, etc.),
 ter as mesmas distâncias interiônicas (que têm a ver com os raios iônicos) e,
 na maioria dos casos, também ter o mesmo tipo de rede iônica (cúbico, hexagonal,
tetraédrico, etc.)
- mais do que as cargas iônicas e a semelhança química entre os íons, que são critérios de
menor importância. Um exemplo:

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Também se conhecem casos de formação de cristais metálicos de fórmula definida. São discutidos no artigo A.
Isenmann, "Como se explica a estrutura dos sais?", cap. 8: As regras de Hume-Rothery.

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os sais K[MnO4] - K[BF4] - Ba[SO4] - Y[PO4] formam cristais mistos entre si, mesmo
que as cargas iônicas e a reatividade química são bastante distintas.
Na maioria dos pares de sais onde as distâncias da rede cristalina são quase idênticas,
observamos compatibilidade ilimitada, enquanto os pares com maiores diferenças nas
dimensões (a temperatura ambiente, este limite fica em torno de 6%) um sal consegue
acomodar o outro sal somente até um valor limite e vice versa - nós observamos uma lacuna
de miscibilidade (ver discussão na p. 7), mais ou menos larga.
Raros são os exemplos onde os íons ocupam lugares definidos dentro da rede cristalina de
outros sais. Exemplos para estes "sais duplos" são: a dolomita CaMg(CO3)2 ou o alúmem
KAl(SO4)2.12H2O. Aqui temos como resultado uma estequiometria fixa entre os cátions, ou
seja, um composto definido do tipo representado na Fig. 2.
Olhamos então no diagrama das fases para um sistema de miscibilidade total (Fig. 4).

Fig. 4. Diagrama das fases onde se solidificam cristais mistos de composição


variável.
Observamos que, além das curvas líquidus que já observamos no sistema incompatível (ver
Fig. 1, linhas AC e CB), neste sistema precisamos mais duas curvas para descrever a
composição dos cristais mistos que é diferente da solução a parir da qual se formaram. Essas
novas curvas são chamadas de "curvas sólidus". Ao ligar as curvas líquidus e sólidus por uma
linha horizontal, então podemos fazer a leitura da composição de equilíbrio térmico, do
líquido e do cristal misto. É característico que a composição do cristal misto varia com a
composição da solução saturada, além disso, sua composição é diferente da mistura fundida.
Somente no ponto especial C (= eutéctico) temos o caso que a composição do cristal misto e
da solução saturada são idênticas.

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Uma questão prática: é possível separar os componentes puros, A e B, a partir de um sistema
compatível? A resposta é sim, mas isso requer de esforços maiores do que em sistemas
incompatíveis. Em analogia à destilação fracionada (por exemplo, de O2 e N2, sistema
perfeitamente compatível) é preciso refinar os cristais em várias etapas operacionais. A
técnica utilizada se chama cristalização fracionada. Ela é usada, por exemplo, na refinação de
silício para fim de produção de chips semicondutores.
Exemplos para este tipo de diagrama são os sistemas ouro-cobre e cloreto de potássio - cloreto
de sódio.

Caso B: Advento de uma lacuna de miscibilidade (imiscibilidade parcial).


Nem sempre os dois componentes formam cristais mistos de qualquer composição, como era
o caso na Fig. 4. Pode ocorrer uma lacuna de miscibilidade, mais ou menos larga. Isso é
representado na Fig. 5. A diferença mais marcante é que a solução saturada no ponto eutéctico
C se transforma no primeiro caso em uma mistura íntima de mini-cristais de A e B (eutéctico
da Fig. 1), no segundo caso em uma mistura micro-cristalina de cristais mistos da composição
I e II (ver Fig. 5). Aqui temos então uma aparência do eutéctico sólido, que fica entre os
extremos do eutéctico da Fig. 1 (cristalitos de puro A + puro B) e do eutéctico da Fig. 4
(mistura molecular e uniforme). Além desta, a interpretação dos diagramas da Fig. 4 e da Fig.
5 é a mesma.
Exemplos para este tipo de mistura são os sistemas Fe-C e Fe-Fe3C, discutidos logo a seguir.

Fig. 5. Diagrama com cristais mistos, enquanto suas composições são limitadas.

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2.2. Cálculo das proporções mássicas das fases, aplicando a
“Regra da alavanca”
A partir de um ponto C no diagrama das fases, quando se traceja uma linha horizontal e chega
de ambos os lados deste ponto às beiradas de outras linhas de transformação, isto significa
que a mistura C se desproporciona formando duas novas fases, de composições conforme os
pontos de cruzamento com as linhas características, lidas na abscissa do diagrama. Daí pode-
se calcular as proporções molares (ou mássicas) das duas novas fases. Maior a proximidade ao
ponto C, maiores suas proporções mássicas. No diagrama das fases, Fe-cementita (Fig. 6)
temos três destas linhas:
 a linha peritéctica (horizontal cortando o ponto B; sem relevância prática)
 a linha E-C-F que permite calcular as proporções de austenita e cementita dentro da
fase da ledeburita.
 a linha P-S-K que permite estimar as grossuras relativas das lamelas, feitas de ferrita e
cementita, dentro da perlita.

O cálculo que se conhece como “Regra de alavanca”, seja exemplificado no último caso.

Na horizontal a 723 °C percebe-se que o ponto S fica bem mais perto de P do que de K.
Portanto, podemos esperar na perlita maiores proporções de ferrita (tamanho do peso azul) do
que de cementita (tamanho do peso verde). Olhando nos comprimentos das linhas PS e SK,
basta referir-se à distância total de PK para se obter as porcentagens:
SK 6,67  0,8 PS
%( ferrita )    88 % e %(cementita)   12% .
PK 6,67  0,02 PK

Parte específica:
2.3. O rosto do diagrama Ferro-Cementita
A Fig. 6 mostra a parte do diagrama das fases Ferro-Carbono que é importante na prática
siderúrgica. Observamos que a relevância se estende apenas até 6,7% mássicos em carbono,
isto corresponde à composição molar 3 Fe . C (Fe3C = cementita). Neste sistema o carbono
pode aparecer tanto em forma pura (grafita, cristalização hexagonal), quanto em forma da liga
cementita (também chamada de carbeto de ferro; rômbico). Como a cementita se decompõe
ao ser temperada por um tempo prolongado, ela deve ser considerada sendo meta-estável. A
explicação deste fato é a endotermia da sua formação (lembre-se que um equilíbrio
endotérmico se desloca à esquerda, ao abaixar a temperatura; Princípio de LeChatelier):

21,8 kJ + 3 Fe + C Fe3C.

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No entanto, a decomposição da cementita é bastante lenta. Como as velocidades de
resfriamento na prática quase sempre são maiores (  20 °.min-1) que a velocidade da reação
acima dada, a cementita se mantém dentro das fases da liga resfriada.

Fig. 6. Diagrama das fases Fe-C.


Linhas pontilhadas: limites de solubilidade para a modificação grafita;
Linhas diretas: limites de solubilidade para a modificação cementita, Fe3C.

Da Fig. 6, das linhas diretas podemos identificar os limites de existência de aços, ferro gusa
branco e ferro fundido duro (todas as fases meta-estáveis; formadas durante um resfriamento
não muito lento). Nas linhas pontilhadas, por outro lado, identificamos as existências do ferro
gusa temperado e do ferro fundido cinzento (a coloração escura destas duas fases tem sua
origem na grafita; fases termodinamicamente estáveis, formadas por um resfriamento
extremamente lento). Ao temperar ligas ricas em carbono pode então acontecer a
transformação da cementita em grafita. Essa tendência é bastante atenuada em ligas pobres
em carbono.
Mais importante para a formação dos aços de alta performance, sem dúvida, é o sistema Fe -
Fe3C 3.
Observamos três transformações das fases neste diagrama:

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Note que existem aços tecnicamente importantes (por exemplo, a Martensita) que se devem a taxas de
resfriamento mais elevadas. As fases que se apresentam nestes materiais estão completamente fora do equilíbrio
químico e, portanto, não são tratados aqui. Literatura especial: W.D.Callister Jr., Ciência e engenharia de
materiais – uma introdução. LTC 2008, Cap. 10.

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1. A 1493 °C ocorre a transformação peritéctica, numa liga de 0,1 a 0,51% em C. Como já
mencionado na p. 4, ela não tem relevância técnica, portanto não precisa de uma discussão
mais aprofundada.
2. Já mais importante é a transformação eutéctica da fundição que ocorre numa temperatura
de 1147 °C, em misturas entre 2,06 e 6,67% em C. A mistura eutéctica consiste de cristais
mistos de austenita e cementita, em homenagem ao metalúrgico A. Ledebur é conhecida
como ledeburita. Os cristalitos nesta mistura são tão finos que é impossível separar
mecanica ou quimicamente os componentes. A mistura eutéctica aparece, portanto,
pseudo-homogênea.
3. De suma importância para a produção de aço de qualidade é a decomposição eutoectóide.
Abaixo de 723 °C a solução de C em Fe- (= austenita) se decompõem durante o
resfriamento não muito rápido (< 40 °.min-1, aproximadamente), em um cristal misto de
Fe- / C e cementita. Entende-se por decomposição eutectóide uma transformação de
uma fase sólida com as características de uma reação eutéctica (por sua vez definida
rigorosamente só para líquidos).
O eutectóide é conhecido como perlita, pois essa fase tem um brilho parecido à madrepérola
quando observada numa amostra recentemente polida. Sua formação ocorre abaixo de 723 °C.
Assim, podemos constatar os seguintes limites de solubilidade para o carbono:
 Solubilidade na rede cfc (= Fe-): no máximo 2,06%, isso acontece a 1147 °C; a
distribuição dos carbonos é estatística e conta com 1 carbono a cada 2,6 células
unitárias de Fe. A solubilidade é apenas de 0,8% a 723 °C.
 Solubilidade na rede ccc (= Fe- e Fe-): o máximo é a 723 °C, mas esta vez são
apenas 0,02% de C (ou seja, 1 carbono a cada 538 células unitárias do Fe). E isso
diminui continuamente e chega a 0,001% a temperatura ambiente.

2.3.1. Discussão dos processos de solidificação das ligas fundidas, em


ordem de crescente C.

Em seguida fala-se de „cristais mistos“ (nas Fig. 9 e Fig. 10 referidos com a sigla “CM”, na
Fig. 12 com a sigla “MK”, do alemão: Mischkristall), quando há quantidades variáveis de C
solutos no ferro; nestes casos os átomos de carbono ocupam as lacunas da rede cristalina do
ferro, de maneira randômica.

0 a 2,06% de C = "aço"
Da fundição separam-se cristais abaixo da linha liquidus AC os primeiros cristais mistos de
Fe-que são chamados em homenagem de Robert Austen de austenita. Os primeiros são
pobres em C, mas enriquecem-se continuamente ao crescer. Ao mesmo tempo, a quantidade
mássica da fase líquida está diminuindo, pois está sendo consumida pela formação dos cristais
de austenita. Como consequência o contínuo do resfriamento leva a uma fase líquida, cada
vez mais rica em C. Após completar a solidificação tem-se um conjunto de cristais mistos ,
conforme descritos acima Esses cristais mistos cresceram livremente e sem impedimentos
dentro da fundição, desta maneira aparecem com hábito alongado com galhos laterais. Eles
parecem um pouco árvores de natal (chamados de dentritos ou dentrímeros). Como também
dito acima, o limite superior da solubilidade é de 2,06% de C (atingido a 1147 °C, no ponto

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E), mas cai novamente para 0,8% de C neste mesmo cristal , quando deixar resfriá-lo
lentamente a 723 °C (ponto S). Implica que o carbono em excesso é expulso dos cristais da
austenita, ele se enriquece nas beiradas dos cristais e leva à formação de uma liga rica em
carbono, no caso a cementita secundária. Note que a cementita secundária somente aparece
em ligas super-eutectóides, ou seja, em ligas com > 0,8% em C. Mas isso acontece somente
quando tudo já se solidificou, portanto será mais bem descrito na p. 15.

2,06 a 4,3% de C = liga subeutéctica.


Abaixo da linha liquidus AC separam-se cristais mistos  da fundição, como vimos acima. Ao
abaixar a temperatura o grau em C nestes cristais aumenta até chegar no máximo de 2,06%.
Igualmente aumenta o teor em C na fase fundida e, quando chegar na temperatura eutéctica de
1147 °C, ela tem a composição eutéctica de 4,3% C. Ao tirar mais energia do sistema, a
temperatura não cai até que todo o eutéctico (= mistura íntima de cristalitos de austenita e
cementita) se solidificou. Sendo assim, essa mistura mostra um definido ponto de fusão, igual
a um componente puro. Abaixo da linha solidus EC tudo é sólido e tem a aparência de cristais
mistos  banhados em um contínuo de eutéctico (= ledeburita). Continuamos o resfriamento,
os cristais mistos  diminuem em tamanho segregando cementita secundária, ao longo da
linha SE.

4,3 a 6,67% C (= ligas supereutécticas)


Essa mistura líquida, muito rica em carbono, mostra o comportamento típico de uma mistura
binária totalmente incompatível. Isto quer dizer, separa-se aquele componente que está em
excesso em referência à composição eutéctica. Isto são, no caso, cristais de cementita,
chamados de "cementita primária" (linha CD). O restante líquido empobrece então em
carbono e aproxima-se ao ponto eutéctico. Lá solidifica-se totalmente e deixa aparecer a
mistura sólida como cristais alongados e bem formados de cementita, dentro de um mar
congelado de eutéctico. A Fig. 11 representa a aparência desta fase.

2.3.2. Transformações em estado sólido


Dentro do diagrama das fases Fe-Fe3C repete-se o mesmo padrão de transformação das fases
que se observou na região do ferro fundido, onde acima do eutéctico têm-se linhas de
solubilidade em forma de um "V", levando à austenita (ao lado esquerdo do eutéctico) e à
cementita (ao lado direito do eutéctico). Em fase sólida observa-se o mesmo tipo de triângulo,
também conhecida como "esquina do aço": forma-se o eutectóide no ponto S. Do seu lado
esquerdo há formação de ferrita (= cristais mistos de C em Fe-), enquanto do seu lado direito
separa-se a cementita secundária. O acontecimento nestas duas regiões será discutido
detalhadamente a seguir.

Ligas com 0 a 0,02% C.


A mais importante fase nesta composição são os cristais mistos de C em Fe- (= "ferrita",
também "aço doce") Acima da linha GS essas ligas ainda são de austenita. Quando a
temperatura cai abaixo da linha GS, ocorre uma transformação dos cristais mistos de Fe- (na
austenita) em cristais mistos de Fe- (na ferrita). Como os cristais de ferrita têm muito menos
carbono do que a austenita, então a parte que ainda está austenítica enriquece em carbono, e
ao abaixar a tempratura a composição da austenita muda-se aos poucos, ao longo da linha GS.
Neste mesmo tempo, também a parte da ferrita enriquece em carbono ao abaixar a
temperatura (até chegar em 723 °C e 0,02% em C; ponto P). Note que não há formação de
perlita nestas ligas, pois a parte austenítica é consumida antes de chegar ao ponto S. Abaixo
da linha GP encontram-se até 723 °C cristais mistos  homogêneos. O teor máximo em C é
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de 0,02%. Abaixo do ponto P a ferrita separa carbeto de ferro em forma de cementita
terciária, devido à inclinação da curva PQ (ver Fig. 7). Por muitos metalurgistas essa
cementita terciária não vale como fase distinta, pois nas ligas resfriadas até temperatura
ambiente ela evidencia-se apenas como beirada fina em volta dos grãos bem formados de
ferrita.

Ligas com 0,02 a 0,8% C (= ligas subeutectóides ou hipoeutectóides)


Também essas ligas separam cristais mistos de ferrita a partir da austenita, logo abaixo da
linha GS. Esses novos cristais depositam-se de preferência nas beiradas dos grandes grãos de
austenita. Ao abaixar a temperatura mais, os novos cristais saturam-se em carbono que chega
em 0,02% (a 723 °C). Ao mesmo tempo aumenta também o carbono nos cristais mistos .

Fig. 7. Parte do canto do aço: formação de ferrita

A última parte em austenita tem 0,8% C e transforma-se no ponto eutectóide em cristais


mistos  e cementita, formando uma nova fase heterogênea não muito valorizada pelos
metalurgistas: a perlita. A formação da perlita certamente representa um processo marcante
dentro da liga Fe-C, portanto seja discutida mais em detalhe a seguir.
A formação da perlita começa na beirada do grão de austenita porque lá encosta na ferrita -
cristal que promove a nucleação da fase  da perlita. A perlita assim cresce para dentro do
grão de austenita, em forma de tufos. Esse acontecimento é ilustrado na Fig. 8. A formação da
perlita pode-se explicar na seguinte forma: os átomos de carbono difundem, organizando-se
em camadas finas de grossura na ordem de um micrômetro. Assim dão origem a uma lamela
fina de cementita. A outra parte empobrece em C até chegar em 0,02%, para finalmente
transformar sua célula unitária do Fe- em Fe-. Aplicando a regra da alavanca, pode-se
calcular uma quantidade de 12% de cementita e 88% de ferrita que resultam da decomposição
eutectóide. Na micrografia da Fig. 8 identificamos, portanto, as lamelas escuras e mais
grossas como ferrita e as tiras claras e finas como cementita.
O mecanismo da formação da perlita é de suma importância para o tratamento térmico dos
aços.
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Fig. 8. Mecanismo da transformação eutectóide: crescimento da perlita

Abaixa-se mais a temperatura (< 723 °C), a parte da ferrita dentro da perlita não consegue
mais manter seus 0,02% em C. Ela separa, conforme a curva PQ, cementita terciária. Note
que a cementita terciária aqui não se percebe como nova fase, uma vez que acrescenta-se
diretamente à lamela de Fe3C da perlita. Desta forma, mudam apenas as espessuras relativas
dentro da perlita, ou seja, a cementita cresce a custo da ferrita.

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Fig. 9. Processos de transformação das fases em estado sólido, para aços
subeutectóides, sob resfriamento lento.
a) (à esquerda): liga de 0,01% C. Também chamado de aço doce. Serve para latas,
chapas para carrocerias de carros, pregos, rebites, peças de formas prensadas em
molde.
b) (à direita): liga de 0,2% C. Aço de construção. Serve para vergalhões, perfis, aços
adequados para solda, aços que podem ser endurecidos posteriormente.

Liga de 0,8% de C (= aço eutectóide)


Essa é a liga eutectóide. Os grãos bem formados de austenita decompõem-se a 723 °C em
duas novas fases, ferrita e cementita, em forma de lamelas finas que já conhecemos como
perlita. Isso é a aparência final deste aço: pura perlita (ver também Fig. 10), um material
bastante duro mas infelizmente pouco plástico e elástico.

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Fig. 10. Processos de transformação em aços:
a) (à esquerda): aço eutectóide (= 0,8% C).
b) (à direita): aço com 1,5% C. Esse marca a concentração superior em carbono
para aços de ferramenta. Serve para peças com alta demanda à abrasão.

Ligas de 0,8 a 2,06% C (= aço hipereutectóide)


Essas ligas são as chamadas hipereutectóides, usada para produzir os aços de qualidade mais
duros. A capacidade para dissolver o carbono é no caso da austenita, como já discutido, de
2,06% (a 1147 °C). Porém, essa concentração não foi atingida, pois a fase ainda líquida
(acima da linha líquidus, BC) já tinha se esgotada antes de chegar ao ponto eutéctico. Agora,
resfriamos abaixo de 1147 °C, o limite de solubilidade da austenita para o carbono fica cada
vez menor e a composição da austenita caminha ao longo da linha ES. O carbono não pode ser
mais segurado dentro do grão de austenita, daí há uma migração do carbono para a beirada do
grão onde se enriquece. Forma-se nesta beirada a cementita secundária. Isso acontece de
forma contínua até a temperatura chegar em 723 °C. Neste ponto o grão da austenita reduziu
seu teor em carbono a 0,8%. Espontaneamente ocorre a mudança da austenita em perlita,
devido à transformação eutectóide. Na perlita, como ilustrado na Fig. 8, as duas novas fases
estão organizadas em lamelas finas e retas, enquanto a cementita secundária que já se separou
antes, permanece como casca em volta dos grãos de perlita (ver imagem na Fig. 10b). A liga
resfriada aparece assim em grãos de perlita, separados por uma rede de cementita secundária.
Note que a cementita que foi formada na mistura sólida, é sempre mais fina (cristalitos
menores) do que a cementita primária, onde o ambiente ainda líquido não impediu o
crescimento livre dos cristais de Fe3C.
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Ligas com 2,06 a 4,3% C (ferro fundido, liga hipoeutéctica ou subeutéctica)
Essas ligas contêm, logo após sua solidificação, mais ou menos cristais de austenita de
exatamente 2,06% de carbono, além de uma fase contínua de ledeburita. Junto ao
resfriamento prolongado (< 1147 °C) ocorre a segregação descrita acima, da cementita
secundária, ao longo da linha ES. Essas ligas dispõem da máxima grossura da cementita
secundária possível, quando medida em relação ao tamanho dos grãos de austenita. A 723 °C
os grãos têm um teor de 0,8% de carbono, então ocorre a transformação eutectóide. À
temperatura ambiente a liga consiste então de eutéctico ledeburita 4 e grãos de perlita que por
si são enluvados por uma camada grossa de cementita secundária.

Ligas com 4,3 a 6,67% de carbono


As ligas hipereutécticas do ferro fundido não têm cristais de austenita "autônomos", mas
todos esses cristais são escondidos dentro da fase do eutéctico, em forma de cristalitos
submicroscópicos. Portanto, não se observa a estruturação típica da perlita - nem à
temperatura ambiente. Esse material não tem importância como material de construção, mas é
usado quase que exclusivamente na aciaria, para recarbonatar o ferro puro ("aço doce") que
sai do processo LD.

2.3.3. Resumo e vista geral sobre as fases observadas no diagrama Fe-Fe3C


Austenita:
Cristal misto (= solução sólida) de Fe- (rede cfc) e C. Solubilidade máxima a 1147 °C 
2,06% de C. Não é magnético, coeficiente de dilatação térmico maior que o da ferrita,
condutividade térmica menor que a ferrita.

Ferrita:
Cristal misto de Fe- (rede ccc) com carbono, onde a solubilidade é bem menor que na
austenita: no máximo 0,02%, a 723 °C. À temperatura ambiente a solubilidade para o carbono
é ainda menor: <0,001% a 20°C. Essa fase é magnética.

Cementita:
Composto intermetálico da fórmula definida, Fe3C (o que corresponde a 6,67% em massa de
carbono).
rede romboédrica, bastante duro e pouco plástico.

Perlita:
Eutectóide formado de ferrita e cementita, em forma de tiras finas e retas. O comprimento das
lamelas diminui quando a velocidade do resfriamento for mais alta, enquanto sua grossura
depende diretamente da temperatura que rege (conforme explicado no fim da descrição da
mistura “0,02 a 0,8% C).

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Como a ledeburita contém também cristalitos de austenita, em uma mistura ultra-fina com cementita, ela sofre
igualmente uma transformação abaixo de 723 °C, já que isso é o limite inferior para a existência da austenita.
Como os grãos são tão pequenos, porém, a formação dessa perlita nem se percebe. Portanto, em algumas
literaturas é referida uma "ledeburita I" acima de 723 °C e uma "ledeburita II" abaixo desta temperatura. De fato,
elas não podem ser distinguidas, nem por ensaios mecânicos nem químicos.

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Ledeburita:
Eutéctico que consiste, primeiramente de austenita e cementita. Após passar pelo limite de
723 °C a austenita se transforma em perlita que, porém, é tão finamente distribuída que não
tem a aparência em lamelas. Ver também nota de rodapé 4.

2.3.4. Aparência da liga resfriada, em dependência do teor em carbono


Em ordem de carbono crescendo (ver também Fig. 11 / Fig. 12) um pedaço de liga Fe – Fe3C
tem a seguinte aparência à temperatura ambiente:
No início têm-se apenas grãos de ferrita. O pouco carbono que pode conter se acumulou quase
que exclusivamente nas beiradas dos grãos, em forma de cementita terciária.
Ao aumentar o carbono, tem-se cada vez mais perlita na liga.
A 0,8% de C a liga é 100% de perlita.
Acima de 0,8% de C tem-se a cementita secundária como nova fase distinguível, que separa
os grãos da perlita.
Em ligas com mais de 2,06% aparece como nova componente a ledeburita.
Ao aumentar o carbono a ledeburita ganha em peso, enquanto as ilhas de perlita estão
menores. A grossura da camada de cementita secundária, em relação à perlita, fica constante,
a dizer, máxima.
A 4,3% de carbono a liga é 100% de ledeburita.
Teores mais altos ainda em carbono deixam aparecer os primeiros cristais grandes de
cementita primária.
A 6,67%, finalmente, a liga é 100% de cementita.

2.4. Influência sobre as propriedades tecnológicas e


mecânicas
Junto ao teor da cementita dura, a dureza da liga aumenta de maneira praticamente linear. A
resistência à tração aumenta no início, até chegar em 0,8% de carbono. Acima desta marca
diminui novamente, devido à aparência da cementita nas beiradas dos grãos - o que deixa o
conjunto dos grãos de perlita menos consistente e menos elástico.
O alongamento até ruptura e o recolhimento perpendicular à direção da tração são
maiores no conjunto de pura ferrita. A cementita é uma fase quebradiça, portanto piora essas
qualidades. Igualmente diminui a tenacidade, medida pela resistência ao impacto com entalhe
(ensaio de Vicat), com a aparência de qualquer cementita.
A plasticidade da liga decresce ao aumentar a porcentagem em carbono. Isto interfere na
trabalhabilidade do material a quente. O limite da forjabilidade fica em torno de 2%.
A plasticidade a frio (importante no processo de laminação) cai drasticamente com a
aparência da cementita, que é dura e quebradiça. O limite para este tipo de transformação fica
em torno de 0,8% C. Consta-se forças necessárias cada vez mais altas quando maior o teor em
carbono.
A soldabilidade depende fortemente do teor em carbono. A solda mais fácil se consegue em
aços pobres em carbono, de preferência abaixo de 0,22% de C. Com teores de carbono mais

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altos a técnica deve ser cada vez mais sofisticada, incluindo pré-aquecimento da peça, metais
aditivos ao eletrodo de solda e técnicas especiais de solda.
A facilidade de soltar lascas, por exemplo, ao furar buracos ou diminuir a espessura da peça
no torno, vai paralelamente à resistência de tração e à dureza da liga. Isto é, aumento em
carbono melhora essa qualidade (importante nas técnicas de torno e em furações). No entanto,
o contrário é observado quando o carbono aparece na forma de grafita: sua propriedade de
lubrificar opõe à tendência de soltar lascas.

2.5. Anexos
Coordenadas exatas dos pontos marcantes no diagrama das fases Fe-C (ver Fig. 6):
A (0% / 1536 °C) P (0,02% / 723 °C)
B (0,53% / 1492 °C) S (0,8% / 723 °C)
C (4,3% / 1147 °C) Q (<0,001% / 300 °C)
D (6,67% / 1320 °C) M (0,017% / 769 °C)
E (2,06% / 1147 °C) O (0,58% / 769 °C)
F (6,67% / 1147 °C) S´ (0,68% / 738 °C)
G (0% / 911 °C) E´ (2,01% / 1153 °C)
K (6,67% / 723 °C) C´ (4,2% / 1153 °C)
L (6,67% / 20 °C)

Linhas marcantes na Fig. 6 (= linhas univariantes):


Linha líquidus: A-B-C-D; linha solidus: A-H-I-E-C-F
Linha eutectical (isotérmica): E-C-F; linha eutectóide (isotérmica): P-S-K; linha peritectical:
H-I-B.

Fenômenos pontuais na Fig. 6 (= pontos invariantes):


Eutéctico: 4,3% a 1147 °C (ponto C)
Eutectóide: 0,8% a 723 °C (ponto S)
Peritéctico: 0,16% a 1493 °C (ponto I)

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Fig. 11. Diagrama mostrando a aparência das fases no estado sólido.

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Fig. 12. Diagrama das fases Fe - Fe3C, mostrando as fases distintas das ligas após o
resfriamento à temperatura ambiente (velocidade do resfriamento: 20 ° min-1).
“MK” significa cristal misto.

Fontes:
Primeira parte (do alemão): A.F. Holleman, E. Wiberg, Lehrbuch de Anorganischen Chemie,
Ed. 91 a 100, Walter de Gruyter Berlin 1985.
Segunda parte (do alemão):
http://www.haw-hamburg.de/fileadmin/user_upload/IWS/PDF/Skript_teil09.pdf
Leitura para aprofundar:
W.D.Callister Jr., Ciência e engenharia de materiais – uma introdução. LTC 2008, Cap. 9.

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