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MANUAL DE

SANEAMENTO E
SEGURANÇA AMBIENTAL
EM MATO GROSSO

2015/16
MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

PARCERIAS

O presente Manual de Saneamento é o resultado de um trabalho


coletivo que envolveu técnicos das seguintes instituições:

• Embrapa Instrumentação
• Embrapa Pecuária Sudeste
• UFMT
SAFRA 2015/2016 • Vértice
Manual de Saneamento
e Segurança Ambiental E autônomas (Tanise Martins e Josimare Silva).
em Mato Grosso
O Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) informa que todos os de-
EDITOR poimentos, informações e opiniões contidas neste manual são de inteira
IMAmt responsabilidade dos autores que contribuiram para sua elaboração.
www.imamt.com.br
Ampa
www.ampa.com.br

EDITOR TÉCNICO
Jean-Louis Belot

REVISÃO
Patrícia Andrade Vilela

PROJETO GRÁFICO
Editora Casa da Árvore
editoracasadaarvore.com.br

PUBLICAÇÃO
2ª edição - Revista e ampliada
2.000 exemplares

ISBN
978-85-66457-08-7

CONTATO
Rua Engenheiro Edgard
Prado Arze, 1777
Ed. Clóves Vettorato, 2º andar
Quadra 3 - Centro Político
Administrativo, Cuiabá-M.
CEP: 78.049-015
publicacoesimamt@imamt.
com.br

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AMPA
AMPA
- IMAmt
- IMAmt
2015/2016
2012

APRESENTAÇÃO

A atividade agrícola no cerrado do Cen- químicos nas águas superficiais e nos len-
tro-Oeste é baseada no modelo de produ- çóis freáticos.
ção intensiva, altamente mecanizada e com A fim de ajudar o produtor rural, e em
uso importante de insumos agrícolas. Esse particular os associados da Associação Ma-
modelo, em áreas extensas, permite alta to-grossense dos Produtores de Algodão
produtividade nos cultivos de grãos e fibras. (AMPA), o Instituto Mato-grossense do Al-
Ao longo dos anos, os próprios produ- godão (IMAmt) editou em 2008 o primeiro
tores começaram a adotar nas fazendas “Manual de Saneamento e Segurança Am-
medidas para limitar o impacto da ativida- biental”, de autoria de Vecchiato e colabo-
de agrícola sobre o meio ambiente. Foram radores. Esse manual foi um instrumento
implementadas corriqueiramente, nas uni- muito valioso para as fazendas adequarem
dades produtivas, a reciclagem de emba- suas infraestruturas e seus processos pro-
lagens vazias, a proteção das nascentes e dutivos à legislação ambiental.
matas ciliares, entre outras medidas. Porém, a legislação evoluiu bastante
Os governos federal e estadual elabora- nos últimos anos. Isso motivou o IMAmt
ram regras nas quais as fazendas precisam a atualizar esse Manual de Saneamento,
se enquadrar. Essas regras evoluíram mui- com a ajuda dos mais conceituados espe-
to nos últimos anos, em virtude principal- cialistas da área.
mente da adoção do Novo Código Florestal Neste Manual de Saneamento, em parti-
Brasileiro (Lei nº 12.651, de 25 de maio de cular, são apresentados os principais passos
2012), que dispõe sobre a proteção da ve- para o produtor se cadastrar no CAR, além
getação nativa, tendo revogado o Código de dados básicos sobre reciclagem de resí-
Florestal Brasileiro de 1965. duos líquidos e sólidos, saneamento básico
Ademais, muitas recomendações e e boas práticas de uso de agroquímicos.
normas emitidas por diversas instituições Esperamos que este manual seja um ins-
regem a organização das fazendas e das trumento valioso a ser seguido pelos pro-
instalações rurais a fim de reciclar as águas dutores de algodão, visando produzir cada
provenientes da atividade agrícola, ou para vez mais e com impacto ambiental cada
mitigar a dispersão de resíduos ou insumos vez menor.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

QUEM SOMOS
O Instituto Mato-grossense do Algodão tem o
propósito de oferecer total suporte a pesquisas
necessárias para o desenvolvimento e fortalecimento
da cotonicultura. Além de profissionais altamente
capacitados, possui uma ampla infra-estrutura no
campo experimental em Primavera do Leste, com
laboratórios de fitopatologia, sementes e entomolo-
gia, estrutura para beneficiamento, armazenamento
de sementes, deslintamento, câmaras frias.

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AMPA
AMPA
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- IMAmt
2015/2016
2012

SUMÁRIO

6 INSTALAÇÕES RURAIS

32 CAPTAÇÃO E USO DA ÁGUA

52 SANEAMENTO BÁSICO RURAL: POR QUE E COMO FAZER

70 RESÍDUOS SÓLIDOS: O QUE FAZER COM ELES

82 ARMAZENAMENTO, EMBALAGENS E RESÍDUOS,


SEGURANÇA DO TRABALHADOR E EPI

102 LICENCIAMENTO AMBIENTAL RURAL

128 ORIENTAÇÕES PARA O MANEJO DE ÁREAS DE CULTIVO DE ALGODÃO


NO ESTADO DE MATO GROSSO VISANDO A PROTEÇÃO AMBIENTAL

143 INFORMAÇÕES SOBRE OS AUTORES DO “MANUAL DE SANEAMENTO


E SEGURANÇA AMBIENTAL”

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Instalações rurais
Introdução preservação permanente (APP).
Neste capítulo será apresentada toda a
infraestrutura necessária para adequação 1. Áreas de vivência
Tanise Carla de uma propriedade rural, tudo dentro As áreas de vivência são destinadas
Zambiasi das normas ambientais, com emissão das a assegurar as condições dignas do am-
Martins licenças e aprovação da Sema (Secreta- biente de trabalho ou lazer.
Campo Verde-MT
ria Estadual do Meio Ambiente de Mato Segundo a Norma NR 31, as áreas de
tanise_zambiasi@
yahoo.com.br Grosso) e outros órgãos competentes, se vivência devem atender os seguintes re-
necessário. quisitos:
Licença Prévia (LP) - é concedida na • Instalações sanitárias;
fase preliminar do planejamento da ati- • Locais para refeições;
vidade e corresponde à fase de estudos • Alojamento quando houver perma-
para a localização do empreendimento, nência de trabalhadores no estabele-
observados os planos municipais, es- cimento;
taduais e federais de uso dos recursos • Local adequado para preparo de ali-
naturais, sendo que o prazo de validade mentos;
Josimare Vieira da licença será determinado pelo órgão • Lavanderias.
da Silva ambiental. O empregador deve assegurar as
Campo Verde-MT Licença de Instalação (LI) - é concedi- condições dignas no meio ambiente do
da para autorizar o início da implantação trabalho, não só durante a realização
do empreendimento, de acordo com dos afazeres, mas também nos momen-
as especificações constantes do projeto tos de descanso, refeições e higieniza-
executivo aprovado, sendo que o prazo ção pessoal.
de validade da licença será determinado Porém, o empregado deve zelar pe-
pelo órgão ambiental. las áreas de vivência, contribuindo para
Licença de Operação (LO) - é conce- a limpeza, higiene, sempre seguindo as
dida após cumpridas todas as exigên- normas do local de trabalho.
cias feitas por ocasião da expedição
da LI, autorizando o início da atividade 1.1. Instalações sanitárias
licenciada e o funcionamento de seus Devem atender aos seguintes requi-
equipamentos de controle ambiental, sitos:
de acordo com o previsto nas licenças • Lavatório e vaso sanitário na propor-
Prévia (LP) e de Instalação (LI), sendo ção de uma unidade para cada 20 tra-
que o prazo de validade da Licença de balhadores ou fração;
Operação será determinado pelo órgão • Mictório e chuveiro na proporção de
ambiental. uma unidade para cada dez trabalha-
Cadastramento Ambiental Rural dores;
(CAR) – cadastro declaratório obrigató- • Devem ter portas de acesso que im-
rio para todas as propriedades e posses peçam a vista para dentro;
rurais, com a finalidade de integrar as in- • Devem ser separados por sexo;
formações ambientais. • Situados em local de fácil acesso;
Programa de Regularização Ambien- • Dispor de água limpa e papel higiê-
tal (PRA) – programa que compreenderá nico;
o conjunto de ações a serem desenvol- • Estar ligadas à sistema de esgoto, fos-
vidas por proprietário e posseiros rurais, sa séptica ou sistema equivalente;
com o objetivo de adequar os passivos • Possuir recipientes para a coleta de
ambientais de reservas legais e áreas de lixo;

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• A água para banho deve ser disponibilizada • Água limpa para higiene;
em conformidade com os usos e costumes da • Depósitos de lixo com tampas;
região ou na forma estabelecida em convenção • Local para conservação de refeições preparadas,
ou acordo coletivo; em condições higiênicas, independentemente
• Nas frentes de trabalho, devem ser disponibiliza- do número de trabalhadores;
das instalações sanitárias fixas ou móveis, com- • Não podem ter contato direto com os alojamentos;
postas de vasos sanitários e lavatórios, na pro- • Nas frentes de trabalho, devem ser disponibi-
porção de um conjunto para cada grupo de 40 lizados abrigos, fixos ou móveis, que protejam
trabalhadores ou fração. os trabalhadores contra intempéries, durante as
refeições;
1.2. Refeitórios • Os locais para preparo de refeições devem ser
Devem atender aos seguintes requisitos: dotados de lavatórios, sistema de coleta de lixo,
• Boas condições de higiene e conforto; instalações sanitárias exclusivas para o pessoal
• Capacidade para atender a todos os trabalhadores; que manipula os alimentos.

Planta 1. Modelo de refeitório com capacidade para 40 pessoas (Corte AA)

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MANUAL DE SANEAMENTO

Planta 1.
Modelo de
refeitório com
capacidade
para 40 pessoas
(Corte BB)

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Planta 1. Modelo de refeitório com capacidade para 40 pessoas (Elevação)

Planta 1. Modelo de refeitório com capacidade para 40 pessoas (Cobertura)

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Planta 1.
Modelo de
refeitório com
capacidade
para 40 pessoas
(Planta Baixa)

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Planta 2. Modelo
de alojamento
com sala de TV,
com capacidade
para 32 pessoas
(Planta Baixa)

Planta 2. Modelo de alojamento com sala de TV, com


capacidade para 32 pessoas (Planta Baixa)

1.3 Alojamentos
metro, sendo permitido o uso de beliches, limitados a
1.3.1 Alojamentos individuais duas camas na mesma vertical, com espaço livre mínimo
Devem atender aos seguintes requisitos: de 110 centímetros acima do colchão;
• Ser separado por sexo; • Ter armários individuais para guardar objetos pessoais;
• Ter portas e janelas capazes de oferecer boas condições • Ter recipientes para coleta de lixo;
de vedação e segurança; • Proibição da utilização de fogões, fogareiros ou similares
• Ter camas com colchão, separadas por no mínimo um no interior dos alojamentos.

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PRÁTICAS

Planta 2. Modelo de alojamento com capacidade para 32 pessoas (Elevação E)

Planta 2. Modelo de alojamento com capacidade para 32 pessoas (Elevação D e F)

1.3.2. Alojamento familiar (moradia) • Devem ser instaladas em local cober-


Devem atender aos seguintes requi- to, ventilado e adequado, para que os
sitos: trabalhadores alojados possam cui-
• Capacidade dimensionada para uma dar das roupas de uso pessoal;
família; • Devem ser dotadas de tanques indi-
• Condições sanitárias adequadas; viduais ou coletivos e água limpa;
• Ventilação e iluminação suficiente;
• Poço ou caixa de água protegidos 2. Demais instalações
contra contaminação;
• Fossas sépticas, quando não houver 2.1. Armazenamento de defensivos
rede de esgoto, afastadas da casa e agrícolas
do poço de água, em lugar livre de O armazenamento de agroquímicos,
enchentes e a jusante do poço; seus componentes e afins obedecerá à
• Afastadas, no mínimo, 50 metros de legislação vigente e às instruções for-
construções destinadas a outros fins; necidas pelo fabricante, inclusive es-
• É vedada, em qualquer hipótese, a pecificações e procedimentos a serem
moradia coletiva de famílias. adotados no caso de acidentes, derra-
• mamento ou vazamento de produto e,
1.4. Lavanderias ainda, às normas municipais aplicáveis,
Devem atender aos seguintes requi- inclusive quanto à edificação e à locali-
sitos: zação.

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As regras para o armazenamento adequado a propriedades rurais, empresas e prestadoras de


desses agroquímicos são regidas de acordo com serviço, quando localizadas em área rural.
normas, que especificam local de armazenamento, Devem ser consideradas também as legislações
critérios de construções, proteção contra incêndios, locais, inclusive de municípios, que muitas vezes
ficha de informação de segurança de produtos, saú- estabelecem detalhes, especialmente quanto à lo-
de e meio ambiente. Ou seja, normas que se aplicam calização dos armazéns de produtos perigosos.

Planta 3. Modelo de alojamento familiar (moradia)

2.1.1. Requisitos para construção do depósito de com a legislação estadual e as normas técni-
defensivos agrícolas na propriedade rural cas aplicáveis);
Devem atender aos seguintes requisitos: • Quando construído parede-parede com outras
• Ser exclusivo para produtos agroquímicos e afins; instalações, a separação não pode possuir ele-
• Ter altura que possibilite ventilação e iluminação; mentos vazados, permitindo o acesso restrito
• Possuir ventilação comunicando-se exclusiva- ao depósito pelo interior de outras instalações;
mente com o exterior e dotada de proteção • Deverão dispor de saídas, em número suficiente
que não permita o acesso de animais; e dispostas de modo que aqueles que se encon-
• Ser construído em alvenaria e/ou material que trem nesses locais possam abandoná-los com
não propicie a propagação de chamas (todos rapidez e segurança, em caso de emergência;
os empregadores devem adotar medidas de • Ter piso que facilite a limpeza e não permita in-
prevenção de incêndios, em conformidade filtração;

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Planta 4.
Modelo de
depósito de
defensivos
agrícolas
(Planta Baixa)

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Planta 4. Modelo de depósito de defensivos agrícolas (Corte AA)

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• Ter sistema de contenção de resí- • Ter vestiários com chuveiros e armá-


duos no próprio depósito, por meio rios para os operadores;
da construção de lombadas, mure- • Utilizar equipamento de refrigeração
tas, desnível de piso ou recipiente de exclusivo para o armazenamento dos
contenção e coleta; produtos de controle biológico den-
• Possuir instalações elétricas, quando tro do depósito.
existentes, em bom estado de con- • Definição de área segregada: local
servação, para evitar acidentes; físico, reservado, sinalizado e iden-
• As embalagens devem ser armaze- tificado para a finalidade específica,
nadas sobre palete, para evitar o con- de acordo com o sistema de contro-
tato direto do produto com o piso; le utilizado.
• No caso de armazenamento de agro-
químicos e afins em quantidade até 2.2. Pátio de descontaminação
100 litros ou 100 kg, admite-se o uso Devem atender os seguintes requisitos:
de armário exclusivo e trancado para • O pátio de descontaminação das
material que não propague chamas, aeronaves agrícolas deverá ser cons-
abrigado fora de residências, aloja- truído sob orientação de técnico
mentos para pessoas ou animais, es- habilitado, em local seguro, quanto
critórios, ambientes que contenham à operação aeronáutica e à contami-
alimentos e rações; nação ambiental;
• Admite-se o uso de estantes ou • Deverá haver distância mínima de
prateleiras para acondicionamen- 250 metros de mananciais hídricos.
to de agrotóxicos e afins, as quais • Deverá ser feita sondagem no local
poderão estar fixadas nas paredes, da construção, para determinação
desde que não interrompam as saí- do nível do lençol freático, que não
das de emergência e rotas de fuga. deve estar a menos de um metro e
Os produtos devem manter uma meio da superfície;
distância mínima de 0,50m das pa- • O tamanho do pátio de descontamina-
redes, 1 m das luminárias ou teto; ção será de acordo com as dimensões
da aeronave, devendo ser acrescidos
2.1.2. Requisitos de segurança dois metros em relação à envergadu-
Devem atender os seguintes requisi- ra e dois metros em relação ao com-
tos: primento da aeronave, sendo que, no
• Possuir, afixada no depósito, placa de caso de uso de aeronaves de diferentes
sinalização com os dizeres “cuidado envergaduras, o pátio deverá estar di-
veneno”; mensionado para a de maior tamanho;
• Ter acesso restrito aos trabalhadores • O sistema coletor do pátio de des-
devidamente orientados a manusear contaminação da água de lavagem
e manipular os agroquímicos e afins; das aeronaves agrícolas deverá ser
• Recolher os resíduos com material situado no meio do pátio, preferen-
absorvente como serragem, areia ou cialmente na projeção do hopper,
similares, e comunicar ao fabricante reservatório da aeronave agrícola no
em caso de vazamento ou derrama- qual são colocados os produtos a se-
mento de agroquímicos e afins; rem utilizados na operação aérea;
• Fechar e lacrar as embalagens com as • O sistema coletor do pátio de des-
tampas voltadas para cima, seguindo contaminação da água de lavagem
as demais orientações de acondicio- das aeronaves agrícolas deverá ser
namento e manuseio do fabricante, conduzido através de canaleta ou de
de acordo com ABNT NBR-7500; caixa coletora por tubulação para o
• Armazenar as embalagens com as reservatório de decantação, passan-
identificações ou rótulos à vista; do pela caixa de inspeção;
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Planta 5. Modelo de descontaminador de aeronaves agrícolas (Planta)

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Planta 5.
Modelo de
descontaminador
de aeronaves
agrícolas
(Corte AA)

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Planta 6. Modelo de lavanderia de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) com capacidade de até 10 pessoas (Planta Baixa)

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• O sistema coletor do pátio de des- rados em propriedades rurais devem ser


contaminação da água de lavagem gerenciados de forma adequada, uma vez
das aeronaves agrícolas deverá ter que, dependendo da forma que são dis-
uma tubulação para o reservatório postos, podem contaminar solo e água.
de decantação, dispondo de sistema A separação deve ser feita na fonte
de derivação da água das chuvas. geradora, ou seja, nas casas, cantinas e
• Qualquer alteração na construção do alojamentos presentes na propriedade ru-
pátio de descontaminação e no seu ral, bem como em outras instalações que
sistema de descontaminação de suas gerem resíduos sólidos. Uma forma de
aeronaves deverá ser previamente separação simples, que pode ser adotada
aprovada pelo Ministério da Agricul- na propriedade rural, é a separação em re-
tura Pecuária e abastecimento (Mapa). síduos úmidos (orgânico), resíduos secos
(recicláveis), rejeitos e resíduos perigosos.
(Plantas do pátio de descontaminação Devem atender aos seguintes requi-
nas páginas 17 e 18) sitos:
• O resíduo úmido ou orgânico deve
2.3. Lavanderia de EPIs preferencialmente ser compostado,
Devem atender aos seguintes requi- ou seja, transformado em adubo. Este
sitos: composto pode ser usado para recu-
• As lavanderias devem ser instaladas peração de solos desgastados, culti-
em local coberto, ventilado, possuin- vos de alimentos, reflorestamentos,
do tanques individuais ou coletivos e dentre outros. Caso essa não seja uma
água limpa. solução viável à propriedade, os resí-
• Ser lavados separadamente das de- duos podem ser destinados ao aterro.
mais vestimentas e guardados correta- • Os resíduos secos devem preferen-
mente, para assegurar maior vida útil; cialmente ser destinados a centros de
• Não utilizar alvejantes, pois poderá reciclagem ou reaproveitados dentro
retirar a hidrorrepelência das vesti- da propriedade. Caso essas não sejam
mentas; soluções viáveis à propriedade, os resí-
• Ser secos à sombra; duos podem ser destinados ao aterro.
• Fazer revisão periódica e substituir • Rejeitos são resíduos que não podem
os EPIs danificados; ser mais reciclados ou reaproveitados
• Os EPIs danificados e ou inutilizados e não apresentam outra possibilidade
devem ter destinação final adequa- além da disposição final. São exem-
da, conforme legislação pertinente; plos de rejeitos: papel higiênico usado,
fralda, papel, embalagens de alumínio
(Planta da lavanderia de EPIs na pá- ou filmes plásticos engordurados, etc.
gina 19.) • Os resíduos que se classificam como
perigosos devem ser separados e
2.4. Gerenciamento e disposição dos acondicionados em local apropria-
resíduos sólidos do até serem destinados ao local
Resíduos sólidos (lixo) são os rejeitos adequado, por exemplo, centros de
provenientes de atividades humanas, recebimento destes resíduos. Eles
considerados como inúteis, indesejáveis não podem em hipótese alguma ser
ou descartáveis. Os resíduos sólidos ge- destinados ao aterro da propriedade.

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2.5. Depósito para embalagens de defensivos propriedades.


agrícolas vazias • No depósito, as embalagens contaminadas de-
As embalagens vazias de agroquímicos e afins vem estar separadas das embalagens tríplices
deverão ser armazenadas temporariamente nas lavadas.
propriedades rurais, em depósito apropriado e • Fica facultado ao produtor rural o armazenamen-
que atenda aos critérios mínimos estabelecidos to das embalagens vazias, em espaço delimita-
pela resolução CONSEMA-02/09 do estado de do, no próprio depósito de agroquímicos e afins,
Mato Grosso, à espera da transferência para o pos- desde que este atenda às normas estabelecidas
to, central de recebimento de embalagens vazias, para o armazenamento de agroquímicos.
conforme indicado na nota fiscal. • Cabe ao produtor rural a obrigação de pro-
porcionar treinamentos, equipamentos de
2.5.1. Sobre os depósitos de embalagens vazias: proteção individual (EPI’s) adequados, exames
• O depósito de embalagens vazias de agroquí- médicos periódicos ao(s) funcionário(s) respon-
micos e afins deve ser dimensionado de acor- sável(is) pelo manuseio das embalagens vazias
do com o volume de embalagens geradas, por de agroquímicos e afins.

Planta 7. Modelo de depósito de embalagens vazias de defensivos agrícolas

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MANUAL DE SANEAMENTO

Planta 7. Modelo
de depósito de
embalagens vazias
de defensivos
agrícolas

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Planta 7. Modelo de depósito de embalagens vazias de defensivos agrícolas ( Corte AA, sem escala)

2.5.2. A localização do depósito deve atender aos 2.5.3. Exigências mínimas para instalações para o
seguintes critérios: depósito de embalagens vazias
• O depósito deve ser construído em terreno pre- • A área de depósito deve ser adequada à quanti-
ferencialmente plano, não sujeito a inundação. dade de embalagens vazias geradas.
• A área escolhida deve estar a uma distância Fundações:
de, no mínimo, de 300 (trezentos) metros, • Pé direito a partir de 3 (três) metros de altura.
respeitada a área de preservação perma- • Piso cimentado com canaletas direcionando
nente, de corpos hídricos, tais como lagos, para a caixa de contenção de efluentes.
rios, nascentes, pontos de captação de água, • Canaletas para água pluviais.
áreas inundáveis etc., de forma a diminuir os • Cobertura do depósito com beiral de 1 (um)
riscos de contaminação em caso de even- metro, no mínimo.
tuais acidentes. • Estrutura do depósito: muretas com 1 (um) me-
• Manter uma distância 50 (cinquenta) metros tro de altura e tela de proteção associada à cor-
das habitações, escolas, estabelecimentos de tina de lona em todo o perímetro, para proteção
serviços de saúde, abrigos de animais, em lo- contra chuvas, acima da mureta até o telhado;
cais onde são consumidos alimentos, de forma ou paredes com espaço na parte superior, para
que os mesmos não sejam contaminados em garantir ventilação.
casos de eventuais acidentes. • Calçadas de 1 (um) metro de largura em todo o
• Eventuais efluentes líquidos gerados no depó- perímetro do depósito.
sito de armazenamento de embalagens vazias • Segurança: o depósito deve ser devidamente
de agroquímicos devem ser direcionados para trancado, identificado com placas de sinaliza-
uma caixa de contenção para posterior destina- ção, alertando sobre o risco e o acesso restrito a
ção final adequada. pessoas autorizadas.

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MANUAL
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Planta 8.
Modelo de
lavador de
veículos
(Planta Baixa)

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Planta 9. Modelo de Bacia de Conteção (Planta Baixa)

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• Proteção contra incêndio; aceiro de efluentes será feita por meio de um


largura mínima de 3 (três) metros sumidouro.
em todo o perímetro do depósito. A • O sistema de tratamento a ser utili-
largura fixada neste dispositivo deve zado será o mesmo descrito no item
ser ampliada quando as condições 2.8 Oficina Mecânica, sendo que as
ambientais, incluídas as climáticas, e dimensões serão de acordo com o
topográficas a determinarem. volume de efluente gerado no em-
preendimento.
2.6 Lavador de veículos, máquinas e
equipamentos (Planta do lavador na página 24.)
Deve atender aos seguintes requisitos:
• Deverá ser composto de uma área pa- 2.7 Bacia de contenção do tanque de
vimentada com inclinação para o cen- combustível e abastecimento, óleos
tro, onde haverá uma canaleta com vegetais e inutilizados
grelha para coleta de água da lavagem A área de abastecimento apresenta
dos veículos ou para canaletas nas considerável risco ambiental e de aci-
bordas do piso. A água é então condu- dente. Para minimizar possíveis impac-
zida para o sistema de tratamento. tos negativos, essa área deve:
• Quando é executada a lavagem de • Ser impermeabilizada;
equipamentos e veículos, caso em • Ser circundada por canaletas direcio-
que o contaminante é apenas óleo nadas de fluxo, de ferro, com largura e
mineral, a água é encaminhada para profundidade mínima de 0,5 centíme-
a caixa de areia, onde é retirado o tro, com recuo da área impermeável
material pesado, como areia, terra e em no mínimo 50 centímetros;
outros, e posteriormente passa por • Na ligação das canaletas à tubulação,
duas caixas de separação de água deve-se instalar um ralo de espessu-
e óleo em série e por uma caixa de ra tal, que este consiga segurar uma
passagem, antes de seguir para a parte dos sólidos brutos, mas não
infiltração no solo. A disposição dos obstrua o fluxo hídrico;

Planta 10.
Caixa de
retenção de
areia

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Planta 10. Caixa separadora de água e óleo (Corte AA)

Planta 10. Caixa separadora de água e óleo (Corte BB)

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Planta 10. Caixa


Coletora de Óleo
(Registro de
gaveta)

Planta 10.
Caixa de
Inspeção

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Planta 10. Sumidouro (Fossa)

• Ter a tubulação de aço ou ferro fundido no- mínimo de duas horas;


dular, para evitar que se danifique em caso de • O piso da bacia de contenção deve possuir de-
combustão do líquido drenado; clividade mínima de 1% na direção do ponto
• Possuir no mínimo um extintor de incêndio de coleta do efluente (águas de lavagem da
classe B, capaz de combater incêndios em su- área e produto vazado em caso de acidente);
perfícies e não deixem resíduos; o extintor não • O ponto de coleta de efluente deve estar li-
deve possuir obstáculos ao seu redor, evitando gado a uma válvula, posicionada do lado ex-
dificuldades de acesso; terno da bacia. Esta válvula deve ser mantida
• Ser bem sinalizado, com placas instaladas em fechada;
locais de fácil visualização; • Deve possuir no mínimo uma via adjacente, que
• Deve estar identificado o tipo de combustível permita a passagem de um veículo de combate
estocado, e; a incêndio. Esta via deve ter largura igual ou su-
• Deve estar distante de outras instalações no mí- perior a 3 metros;
nimo 30 m. • A área deve permitir fácil acesso de pessoas e
equipamentos ao seu interior, tanto em situa-
2.7.1. Bacia de contenção ção normal como em caso de emergência;
Este item tem a função de evitar a contami- • A altura máxima da parede da bacia de con-
nação de solo, corpos d’água ou lençóis freáti- tenção, medida pela parte interna, deve ser 3,2
cos, caso ocorra derramamento do óleo com- metros, sendo que 0,2 metro deve ser utilizado
bustível armazenado no tanque. Para que sua para conter vazamentos em caso de movimen-
função de proteção seja cumprida devem-se tação do líquido, não podendo ser utilizado no
obedecer às seguintes normas: cálculo do volume, e;
• Bacia de contenção (mureta), dimensionada • O sistema de tratamento a ser utilizado será o
para conter 10% a mais do volume armazenado mesmo descrito no item 2.8 Oficina Mecânica,
nos tanques; sendo que as dimensões serão de acordo com
• A construção da bacia de contenção deve ser o volume de efluente gerado no empreendi-
feita em concreto, ou outro material quimica- mento.
mente compatível, sendo impermeável. Esta
estrutura deve resistir ao fogo por um período (Planta da bacia de contenção na página 25.)

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

2.8. Oficina mecânica para a caixa separadora de água e óleo.


Nas oficinas mecânicas, durante o Deve ter dimensões que proporcionem
procedimento de lavagem de peças e baixa velocidade do fluxo líquido, para
equipamentos, a água usada fica con- que haja a deposição de resíduos sóli-
taminada com resíduos de óleos lubrifi- dos como areia, pedras, estopas, entre
cantes, graxas, estopas, areias e sólidos outros, no fundo da caixa. Para aumen-
em geral. Esses resíduos não devem tar sua eficiência, deve-se adaptar uma
chegar aos cursos d’água, lençóis freá- tampa furada no cano de saída da caixa,
ticos e solos, portanto as propriedades a fim de ajudar na filtragem dos sólidos
rurais que possuírem esse estabeleci- em suspensão. A limpeza deve ser feita
mento devem instalar dispositivos de sempre que houver lavagem da área de
retenção de tais rejeitos. abastecimento ou da bacia de conten-
ção. Durante a época das chuvas, a ma-
2.9. Sistema de tratamento de nutenção deve ser periódica para evitar
efluentes o entupimento. A limpeza da caixa con-
O sistema de tratamento serve para siste na retirada dos sólidos sedimenta-
separar óleo e graxas da água usada na dos (planta na página 26).
lavagem dos veículos, evitando a conta-
minação do meio ambiente, bem como Caixa separadora de água e óleo
possibilitando o reaproveitamento do É responsável pela separação do
óleo para outros fins. óleo combustível do restante do
O sistema é composto de uma caixa efluente. O óleo separa-se naturalmen-
de retenção de areia, uma caixa separa- te da água, por ser menos denso, man-
dora de água e óleo, uma caixa coleto- tendo-se na superfície. A captação da
ra de óleo, uma caixa de inspeção e um água ocorre por um fecho hídrico, ins-
sumidouro. talado no fundo da caixa; essa tubula-
Devem atender aos seguintes requi- ção deve ser vedada na parte superior,
sitos: para que não haja a entrada do óleo.
• As caixas situadas em garagens ou A saída do óleo é composta por uma
locais sujeitos a tráfego de veículos tubulação em formato de sifão, com
deverão ser providas de tampas de a abertura voltada apara cima; esta
ferro fundido reforçadas; tubulação deve ser instalada na parte
• Se as caixas estiverem em passeios superior da caixa e ser ligada à caixa
ou áreas verdes, podem ter suas tam- coletora de óleo (planta na página 27).
pas feitas tanto de concreto como de
ferro fundido; Caixa coletora de óleo
• A caixa retentora de areia e a separa- Destina-se ao acúmulo do óleo com-
dora de óleo devem ser impermeabi- bustível para posterior sucção e/ou rea-
lizadas no seu interior com alvenaria proveitamento. Trata-se de uma caixa
de espessura mínima de 20 cm, e; escavada no solo, que recebe o efluente
• Devem possuir dimensões que ab- através de um registro de gaveta. O es-
sorvam os efluentes gerados no coamento do óleo combustível, da caixa
manuseio e na utilização da área de separadora para a caixa coletora, deve
lavagem; os resíduos podem ser des- ser feito de forma manual, pela abertura
tinados ao aterro. do registro. O coletor pode ser um balde/
tina impermeável, com volume que pos-
Caixa de retenção de areia sa acomodar todo o óleo escoado. Esse
Serve para reter o material mais pe- balde/tina deve possuir alça e tampa para
sado, impedindo que materiais passe transporte, ser adaptado com uma tor-

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neira em sua base, utilizada para separar a água que Sumidouro (fossa séptica)
por acaso possa vir misturada a esse óleo. A água É uma caixa em alvenaria, ou em manilha pré-
deve ser novamente enviada à caixa separadora, e o -moldada, que deve permitir a infiltração do
óleo, para o destino final (planta na página 28). efluente tratado no solo. Para a definição da pro-
fundidade do sumidouro, deve ser observado o ní-
Caixa de inspeção vel do lençol freático, sendo normalmente utilizada
Serve para avaliar o funcionamento e a eficiên- a profundidade de 1 metro. O sumidouro deve ser
cia do sistema de tratamento. Deve ser construída construído em cota inferior à do poço de captação
em alvenaria. A ligação entre a caixa de inspeção e de água. Recomenda-se acrescentar brita (casca-
o sumidouro deve ter uma declividade que permi- lho) no fundo do sumidouro, para ajudar a infiltra-
ta o fluxo hídrico entre estes (planta na página 28). ção do efluente no solo (planta na página 29).

Referências bibliográficas

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e afins - Armazenamento, movimentação e gerenciamento em armazéns, depósitos e
laboratórios;

BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 9843-3 - Agrotóxi-


co e Afins - Parte 3: Armazenamento em propriedades rurais.

BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 7505-1 - Arma-


zenagem de líquidos inflamáveis e combustíveis - Parte 1: Armazenagem em tanques
estacionários.

BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT 12235 - Armazenamen-


to de resíduos sólidos perigosos.

BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT 13968 - Embalagem


rígida vazia de agrotóxico - Procedimento de lavagem.
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BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Norma-


tiva nº. 2, de 03/01/2008. Resolução CONAMA 273/2000. Campina Grande: Embrapa
Algodão, 2009. p. 22-22.

BATISTA, V. G. L.; PINHEIRO, M. P.; PINTO, F. S. L.; SANTOS, R. C. Estudo da


expressão de genes relacionados ao botão floral do algodoeiro por meio de
rt-PCR semiquantitativa. In: V Congresso Brasileiro de Mamona / II Simpósio Inter-
nacional de Oleaginosas Energéticas & I Fórum Capixaba de Pinhão Manso, 2012,
Guarapari - ES. Congresso Brasileiro de Mamona, 5; Simpósio Internacional de Ole-
aginosas Energéticas, 2 & I Fórum Capixaba de Pinhão Manso, 2012, Guarapari.
Desafios e Oportunidades: Anais, 2012. p. 35-35.

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PRÁTICAS

Captação e uso da água


As ameaças à quantidade e à qualida- Na 5ª edição da pesquisa “O que o
de das águas no Brasil e no mundo com- Brasileiro pensa do Meio do Ambien-
preendem crescimento populacional, te”, publicada pelo Ministério do Meio
Julio Cesar urbanização, industrialização, formas de Ambiente, preservação, conservação,
Pascale uso do solo, produção agropecuária, mu- poluição e desperdício de recursos
Palhares danças climáticas e fontes de poluição hídricos são citados com frequência
Embrapa Pecuária
(pontuais e difusas). No Brasil também é pelos respondentes. Dentre as opi-
Sudeste
julio.palhares@ um problema crônico a falta de sanea- niões analisadas nas várias edições, a
embrapa.br mento urbano e rural. A ausência signifi- que apresenta maior variação nos úl-
ca constante ameaça às saúdes humana, timos 15 anos é a concordância sobre
animal e ecológica. Quanto maior o grau a insustentabilidade da forma como a
de poluição e contaminação de nossas água vem sendo utilizada. Em 1997,
águas, maior o impacto econômico do 55% dos respondentes brasileiros
uso da água nos custos de produção concordavam com a afirmação. Atual-
dos alimentos, maior a vulnerabilidade mente, 82% da população concorda
sanitária e menor a competitividade do com a afirmação. Das intenções cita-
país na produção de commodities agro- das visando mudar o comportamento
pecuárias. a fim de tornar a relação com o meio
Os estudos mostram que nos países ambiente mais amigável destaca-se
em desenvolvimento, como o Brasil, a “comprar produtos que utilizem me-
maior parte da água captada e consu- nos água”, citada por 82%.
mida é utilizada pela agropecuária. Em O setor agropecuário precisa inter-
países desenvolvidos, a maior parte é nalizar o manejo hídrico, definido como
utilizada pelos setores industrial e de uso cotidiano de conhecimentos e prá-
serviços. Anualmente, a Agência Nacio- ticas que garantam a oferta de água em
nal de Águas divulga a publicação Con- quantidade e qualidade. Não existe o me-
juntura dos Recursos Hídricos no Brasil. lhor manejo! Devem ser consideradas as
A última edição traz a informação de características produtivas, econômicas,
que 72% da água consumida no país foi culturais e ambientais da propriedade
utilizada pela irrigação e 11% para des- para propor o manejo hídrico mais ade-
sedentação animal. Portanto, a agrope- quado a essa. A imposição de “receitas”
cuária representou 83% do consumo. não dará segurança hídrica, trará maiores
Em vista desses números, podemos custos hídricos e frustrações ao produtor.
concluir que a produção de alimentos é Qualquer manejo que for proposto deve
intensiva no uso da água, tendo, assim, prezar pela segurança hídrica da proprie-
o dever de prezar pelo uso eficiente dade. Segurança hídrica é definida como
desse recurso natural. a condição na qual o uso e o consumo
Detemos 12% da água doce do mun- de água pela propriedade propiciam a
do, mas quase 70% estão concentrados manutenção dos benefícios ambientais,
na região Norte do país (Bacia Amazôni- econômicos e sociais ao indivíduo e à so-
ca). O Sudeste, região mais urbanizada, ciedade e a conservação do recurso natu-
detém em torno de 6% para serem divi- ral em quantidade e qualidade.
didos entre cidades, indústrias, serviços É possível desenvolver atividades
e agropecuária. Então, se não houver agropecuárias sem agredir o meio am-
gestão hídrica, situações de escassez e biente, mas, para isso, temos de querer.
conflito serão cada vez mais comuns, in- Achar simplesmente que temos as pro-
dependentemente da falta de chuva. duções mais sustentáveis do planeta

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não irá torná-las sustentáveis. O meio ambiente Fontes de água


tem de ser parte da tomada de decisão que pro- Em uma propriedade rural, pode haver várias
dutores, agroindústrias e todos os elos das cadeias fontes de água e todas são passíveis de uso. A op-
produtivas, incluindo consumidores, fazem dia- ção por utilizar uma fonte será determinada pela
riamente. Dispomos de muitos conhecimentos e quantidade e qualidade da água, pelo risco am-
tecnologias para utilizar a água de forma eficiente, biental e pelo custo de uso (captação e distribui-
reduzir os impactos ambientais negativos e pro- ção). No Quadro 1, listam-se vantagens e desvan-
duzir alimentos sem culpa ambiental. tagens de alguns tipos de fonte de água.

Quadro 1. Vantagens e desvantagens das fontes de água


Fonte Vantagem Desvantagem
Rios, Ocorrência natural, sem custo de • Pode apresentar sazonalidade de vazão e escassez ou falta
riachos e instalação d’água em alguns períodos.
córregos • A água pode tornar-se estagnada com baixa qualidade e
baixas vazões.
• Altos níveis de coliformes fecais e outros microrganismos.
• O acesso dos animais pode desencadear processos erosivos
e depreciar a qualidade da água, comprometer a mata ciliar e
promover a perda de área agrícola
• A legislação ambiental para o uso é restritiva.
Lagos e • Adaptável a várias condições produtivas. • O acesso direto dos animais pode depreciar a qualidade da água.
lagoas • Armazena grandes quantidades de • O assoreamento e a erosão limitam a vida útil do
água. reservatório.
• Não é necessário o uso de • Os custos de construção e restauração são elevados.
equipamentos e energia. • Dificuldade de utilização em solos arenosos e rochosos.
• Podem ser utilizados para multiúsos • Se o reservatório não possuir uma saída de água, o manejo
(pesca e recreação). será dificultado.
Nascentes • Baixo custo de uso, geralmente • Pequenas nascentes necessitam de construção de um
apresenta boa qualidade da água. reservatório para armazenamento de quantidade de água
• Não requer o uso de energia. razoável.
• Pode ter vazão baixa e sofrer efeitos de sazonalidade.
• Necessita de intervenções ao redor da nascente para que
as águas de escorrimento superficial não comprometam sua
qualidade.
• A legislação ambiental para o uso é muito restritiva.
Poços • A qualidade da água é geralmente boa, e as • Os custos de instalação e manutenção são altos,
mudanças nesta ocorrem de forma vagarosa, principalmente para poços profundos.
ao longo do tempo. • Em épocas de seca, o nível do lençol freático pode baixar,
• O solo e a cobertura vegetal atuam diminuindo a vazão do poço ou mesmo secando-o.
como protetores, conservando a • Em função da dinâmica das águas subterrâneas, a qualidade
qualidade da água. da água pode ser alterada.
• Não há perdas de água por evaporação. • O manejo da área do entorno é um risco à qualidade da água
• Têm vida útil longa, se bem manejados. do poço.
• Deve ser reservada uma área de exclusão ao redor do poço, a
fim de protegê-lo quanto à entrada de contaminantes.
Captação • Utilizada em áreas remotas onde outras • Dependendo do regime de chuvas da região, só suprirá água
de água da fontes não estão disponíveis ou quando por reduzido período.
chuva essas fontes não têm oferta de água • A quantidade e a qualidade da água dependem da
suficiente. precipitação e das emissões na região.
• Alta relevância para regiões áridas e • Custo de implantação considerável se o objetivo é o uso da
semiáridas. água para dessedentação animal e humana.
• Possibilita a descentralização da oferta
de água.
• A estrutura pode ser feita com material
de baixo custo ou reciclado.
• Baixo custo de implantação para
atividades que não demandam água de
qualidade.

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SANEAMENTO

Qualidade da água de poluição ou contaminação a que a


Ter água em quantidade e com quali- fonte estiver exposta, maior a perio-
dade é garantia de que a atividade agro- dicidade de análises durante o ano.
pecuária irá expressar seu potencial A qualidade da água de uma fonte é
produtivo máximo e, ao mesmo tempo, resultado da condição da bacia hidro-
produzir produtos seguros. gráfica, do manejo da área do entor-
A qualidade da água pode ser de- no e do uso que se faz dela. A Figura 1
finida por uma ou mais das seguintes classifica algumas fontes de água com
características: odor, sabor, aparência, relação ao risco a sua qualidade.
propriedades físicas e químicas, teor Observa-se que não existe fonte de
de macro e microminerais, presença risco nulo, pois a água está sempre in-
de substâncias tóxicas e de microrga- teragindo com diversos fatores e pode
nismos. Qualquer situação incomum ter sua qualidade alterada por qualquer
relacionada à água como alterações no atividade humana e agropecuária. A
odor, na cor e no gosto, mudanças nos qualidade também não é estática no
hábitos de alimentação e dessedenta- tempo, alterando-se de acordo com
ção dos animais, perda de desempe- eventos ambientais, como a chuva, e/
nho e da condição de saúde dos ani- ou humanos, como o uso de fertilizan-
mais devem ser motivos para imediata tes. Assim, mesmo no caso de fontes
análise da água. de água subterrâneas, como poços, a
Os animais sempre irão escolher qualidade da água pode ser alterada, o
uma fonte de água com qualidade ade- que reafirma a necessidade de que seja
quada. O Brasil tem duas resoluções do analisada periodicamente.
Conselho Nacional de Meio Ambiente Rios são as fontes de maior risco,
que determinam os padrões (valor-limi- pois interagem com diversas ativida-
te adotado como requisito normativo des humanas ao longo de seu curso.
de um parâmetro de qualidade de água Cidades, indústrias, agricultura, etc.
ou efluente) para água de consumo poderão promover impactos negati-
dos animais. Portanto, sugere-se a lei- vos na qualidade da água, podendo
tura e consulta rotineira da Resolução resultar em águas sem os padrões de
Conama nº 357/2005, que classifica as qualidade necessários. Se o rio é a úni-
águas doce, salobra e salina e estabele- ca fonte de água disponível, recomen-
ce como padrão mínimo águas Classe da-se frequência mensal de análise e
3 para dessedentação de animais, e da sugere-se que essa fonte seja substi-
Resolução Conama nº 396/2008, que tuída por outra mais segura. Se a subs-
classifica as águas subterrâneas. tituição não puder ser integral, que
Análises da qualidade da água de- seja parcial, utilizando-se de poços ou
vem ser realizadas periodicamente. captação de água de chuva.
A análise somente no momento que Lagos, tanques e canais apresen-
um problema for detectado significará tam risco médio, pois, geralmente, são
maiores gastos financeiros para corre- estruturas de fácil acesso a humanos
ção de algo que poderia ter sido evita- e animais. Para aumentar a segurança
do se houvesse a prática do monitora- dessas fontes, o consumo nunca deve
mento da qualidade. se dar de forma direta. As fontes devem
A frequência mínima de análise estar isoladas, e bebedouros devem ser
deve ser de uma para cada fonte de utilizados para oferta de água aos ani-
água por ano. Destacando que o tipo mais. Isso se justifica, pois quando um
de fonte irá determinar frequências animal tem acesso a esse tipo de fonte,
maiores, ou seja, quanto maior o risco seu caminhar irá suspender uma série

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de elementos, bem como ele poderá urinar e de- pendendo do grau de eutrofização, os animais
fecar na água. Todos esses são fatores que depre- irão reduzir o consumo, podendo ocorrer casos
ciarão a qualidade da água. de óbito pela toxidez decorrente da presença de
Lagos e tanques, por serem ambientes de certas algas. Para essas fontes, recomendam-se
água parada, estão mais suscetíveis ao processo análises com frequência semestral e, caso neces-
de eutrofização. O que caracteriza esse processo sário, com maior frequência na época do verão,
é a cor esverdeada da água, que também pode pois é nesse momento que pode ser verificado o
apresentar tons de vermelho e azul, bem como crescimento abrupto de algas que depreciarão a
a presença de manchas oleosas (Figura 2). De- qualidade da água.

Lagoas e Tanques
3
3 - Altos Riscos
2
Poços Nascentes 2 - Médio Risco
1
1 - Baixo Risco
0
0 - Risco Nulo

Canais Rios

Cisternas

Figura 1. Classifica algumas fontes de água com relação ao risco a sua qualidade

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(Foto: Julio C. P. Palhares)

Figura 2. Bebedouro em processo de eutrofização

Nascentes, poços e cisternas apre- vem ser checadas periodicamente, com


sentam baixo risco, pois são fontes lo- objetivo de reparar possíveis danos que
calizadas na área da propriedade e, por- poderão comprometer a qualidade da
tanto, a qualidade que terão depende água.
em grande parte do manejo que é feito Ao coletar uma amostra de água é
da fonte, ou seja, a conservação da qua- importante seguir o protocolo de amos-
lidade é de total responsabilidade do tragem do laboratório, a fim de assegu-
produtor. Nascentes protegidas e isola- rar que os resultados, sejam confiáveis
das do contato humano e animal, poços e precisos. Se a coleta e o manuseio fo-
construídos de acordo com as recomen- rem feitos de forma errada, a amostra irá
dações técnicas e bem conservados, deteriorar-se, comprometendo toda a
cisternas manejadas respeitando-se as análise. Isso significa perda de tempo e
normas técnicas, uso do solo, de fertili- de recursos financeiros. No Quadro 2 há
zantes e de agroquímicos de forma con- orientações de como proceder a coleta e
servacionista e correta proporcionarão o manuseio da amostra.
águas de boa qualidade. Nesses casos, Aconselha-se a contratação de um
análises anuais são suficientes para ava- laboratório que tenha experiência em
liar se a qualidade da água servida está amostras oriundas de propriedades ru-
de acordo com os padrões. rais. Comparar os resultados da amostra
Poços superficiais localizados em re- com os padrões legais é fácil, mas saber
giões agrícolas com intenso manejo do orientar o que deve ser feito para man-
solo, a frequência de análise deve ser ter ou melhorar a qualidade da água a
maior, pois esses são mais suscetíveis à fim de esta ter o padrão adequado não
contaminação por infiltração e escorri- é de domínio da maioria dos técnicos
mentos superficiais. Suas estruturas de- laboratoriais.

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Quadro 2. Orientações para coleta e manuseio de amostras de água


Local de coleta Dependendo da fonte de água, haverá um procedimento diferente de coleta.
Por exemplo, se a amostra é proveniente de um lago ou tanque, após lavagem
do frasco de coleta por três vezes com a água a ser amostrada, a amostra
deve ser coletada a 20 cm de profundidade. Se a amostra for coletada em
uma torneira, deve-se deixar a torneira aberta por um minuto para que saia
toda água armazenada nos canos, fazer a lavagem do frasco por três vezes
e fazer a coleta. Pontos após o sistema de tratamento da água também
são recomendados. Antes de coletar, sugere-se consultar um profissional
especializado para obter orientações sobre o procedimento correto de coleta.
Frascos de coleta Devem ser fornecidos pelo laboratório que realizará as análises. Só devem
ser abertos no momento da coleta. Não devem ser utilizados frascos da
propriedade, pois não há garantia de que foram limpos de acordo com as
recomendações técnicas.
Identificação do frasco Especificar o nome do produtor, local da coleta, tipo de fonte de água, data e
hora da coleta e objetivo do uso da água.
Volume da amostra De acordo com a recomendação do laboratório. Para isso, é necessário um
contato prévio com o laboratório especificando a fonte a ser amostrada, as
condições do entorno, o objetivo do uso da água e as análises que devem ser
feitas.
Tempo de armazenamento De acordo com a recomendação do laboratório, considerando as análises que
da amostra serão feitas.
Temperatura de Armazenar a 4°C.
armazenamento da
amostra
Preservação da amostra De acordo com a recomendação do laboratório, considerando as análises que
serão feitas. Para algumas análises é necessário adicionar conservantes no
momento da coleta da amostra.
Segurança do indivíduo Deve haver cuidado na coleta, no manuseio, no transporte e no
armazenamento das amostras. Equipamentos de proteção individual podem
ser necessários, bem como seguir orientações de comportamento em áreas
naturais. Amostras não devem ser armazenadas com alimentos.
Adaptado de Higginset al. (2008)

Aproveitamento da água da chuva gislação relacionada à qualidade da água para o


A cisterna é uma tecnologia que tem por fina- consumo humano e animal.
lidade armazenar água, sendo utilizada por várias Para o manejo correto da cisterna recomenda-
civilizações há centenas de anos. A água armaze- -se a leitura da Norma 15.257 da Associação Brasi-
nada pode ser de chuva; define-se água de chuva leira de Normas Técnicas, que trata do aproveita-
como a resultante de precipitações atmosféricas mento da água da chuva de coberturas em áreas
coletada em coberturas, telhados, onde não haja urbanas para fins não potáveis. Os conceitos pre-
circulação de pessoas, veículos ou animais. sentes na norma são válidos para áreas rurais.
Os componentes de um sistema de aproveita- A qualidade da água armazenada na cisterna
mento de água de chuva variam de acordo com o será determinada por:
uso que se pretende fazer, da qualidade da água
desejada, do espaço para as instalações e dos re- a) Condição atmosférica
cursos financeiros disponíveis. As fontes de emissão presentes na região irão
A utilização da água armazenada na cisterna influenciar na qualidade da água armazenada. Em
para a dessedentação de humanos e animais é áreas rurais as principais fontes de emissão que
uma prática possível desde que sejam observa- podem impactar negativamente a qualidade da
dos o manejo correto, a limpeza das instalações água de chuva são movimentação do solo, prin-
de captação, condução e armazenamento e a le- cipalmente nas épocas de preparo do solo para o

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plantio e colheita das culturas, erosão Recomenda-se a limpeza dessas ins-


por ventos, aplicação de agroquímicos talações cada seis meses. Esse perío-
e produção de animais. Essas fontes do pode ser reduzido em certos casos
emitem poeiras, partículas, elementos como após estiagens, queimadas e in-
tóxicos e gases que irão depreciar a qua- tensa movimentação dos solos ao redor
lidade da água. da propriedade, quando o acúmulo de
Para reduzir o impacto dessas fontes, poeiras nas instalações será elevado, e
sugere-se não captar a água das primei- quando houver grande acúmulo de fe-
ras chuvas, com o descarte 2 mm de chu- zes de animais no telhado.
va antes de conduzir a água para cister-
na —é recomendado que o dispositivo c) Manejo da cisterna
para o descarte seja automático—, uti- Como em qualquer atividade, o ma-
lizar cercas vivas no entorno das instala- nejo correto determinará a qualidade
ções de captação da água da chuva; rea- do produto. O manejo da cisterna é
lizar a limpeza periódica das instalações simples, devendo ser baseado em duas
de cobertura, condução, filtragem e ar- ações: limpeza e monitoramento.
mazenamento de água; ter um manejo Além da limpeza das instalações de
correto dos resíduos animais (dejetos e cobertura e calhas, a cisterna também
carcaças), a fim de reduzir a emissão de deve ser limpa. Recomenda-se a limpeza
gases e evitar a presença de aves e roe- anual; nesse momento, a cisterna deve
dores, planejar o próprio programa e ter ser seca e escovada com água e sabão.
conhecimento da escala de uso de agro- Caso paredes e fundo da cisterna apre-
químicos das propriedades vizinhas. sentem acúmulo de resíduos ou lodo,
estes devem ser retirados por completo.
b) Tipo de cobertura e sua manutenção Cuidados devem ser tomados visando o
Os diversos tipos de telha (zinco, enxágue correto e evitando o acúmulo
cerâmica, etc.) influenciarão de forma da água de lavagem na cisterna.
diferente a qualidade da água, pois ao Na Tabela 1 recomenda-se a frequên-
longo do tempo, os materiais que com- cia de limpeza de cada componente da
põem a telha poderão ser dissolvidos cisterna.
nela. Não há um tipo de telha ideal. In- Como humanos e animais necessitam
dependentemente do tipo de telha, a de água de qualidade, esta deverá passar
instalação correta, manutenção e res- por um filtro antes de ser armazenada.
peito à vida útil do material são essen- Há diversos tipos de filtro disponíveis; a
ciais para manter água com qualidade. escolha por qual modelo utilizar deve ser
Os materiais utilizados na fixação do feita com orientação técnica e conside-
telhado, como pregos, chapas, etc., tam- rando a realidade produtiva e econômi-
bém podem influenciar na qualidade da ca da propriedade. Independentemente
água por conta de desgaste e corrosão. do tipo de filtro escolhido, é obrigatória
Eles devem ser mantidos em bom esta- sua manutenção e limpeza; caso isso
do de conservação e substituídos quan- não ocorra, o sistema de filtragem pode
do necessário. Deve-se conhecer os transformar-se em fonte de contamina-
elementos presentes na tinta utilizada ção da água. O que caracteriza um bom
na pintura das telhas, optando por pro- sistema de filtragem não é o seu alto pre-
dutos que não contenham substâncias ço, mas, sim, o manejo correto.
prejudiciais à saúde. Quando houver a presença de pro-
A manutenção e a limpeza de cober- dutos potencialmente nocivos à qua-
turas e calhas são obrigatórias. Quanto lidade da água, como restos vegetais,
mais sujas, pior a qualidade da água. fezes, animais mortos, nas instalações

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Tabela 1. Frequência de limpeza dos componentes da cisterna

Componente Frequência de limpeza


Dispositivo de descarte de chuva inicial Mensal
Calhas, condutores verticais e horizontais Semestral
Sistema de filtragem Mensal
Bombas Mensal
Cisterna Anual
Adaptado de ABNT (2007)

de captação e condução, o sistema deve ser para- um sistema de irrigação ideal, capaz de atender
lisado, impedindo a entrada desses produtos na a todas as condições e interesses envolvidos. A
cisterna. Somente após a lavagem adequada a cis- seleção do sistema de irrigação mais adequado
terna poderá novamente receber água. requer análise detalhada das condições da cul-
tura, do solo e da topografia, em função das exi-
d) Sistema de retirada de água da cisterna gências de cada sistema.
A água a ser consumida por humanos e ani- A irrigação pode ser complementar ou total. É
mais deve ser retirada da superfície da cisterna, complementar nas regiões em que a planta pode
20 cm abaixo da superfície da água. A água do completar seu ciclo sem a irrigação, porém sua
fundo é sempre de pior qualidade devido ao utilização aumenta a produtividade e diminui os
acúmulo de partículas nessa região. Como o ní- riscos inerentes à má distribuição de chuvas. Nas
vel da água na cisterna altera-se constantemen- regiões em que a precipitação pluvial não é sufi-
te, por conta da entrada da água de chuva e da ciente para que a planta complete seu ciclo, a irri-
retirada para o uso, o produtor deve elaborar gação é total.
um sistema de retirada que permita o ajuste da O uso da irrigação apresenta como vantagens:
altura como, por exemplo, o uso de uma boia. incorporação de áreas improdutivas à produção
Em cisternas de grande volume, utilizam-se agrícola, garantia de produção por suprir a de-
bombas para retirada. Deve-se regular a bom- manda hídrica em períodos de estiagem ou vera-
ba para que, no momento da retirada, não haja nicos, colheita na entressafra e mais de uma safra
turbilhonamento da água, o que provoca a sus- por ano, possibilita a fertirrigação, melhor qualida-
pensão das partículas depositadas no fundo. de da produção e aumento da produtividade.
Se a retirada for feita por baldes ou similares,os As limitações da irrigação são: alto consumo de
objetos devem estar limpos, para que a quali- água, que pode se agravar sem o manejo adequa-
dade da água não seja depreciada, e ser guar- do da irrigação, alto custo de implantação, falta
dados em lugar que não haja produtos tóxicos de mão de obra especializada, salinização de so-
e acesso de animais e pessoas. los inadequadamente manejados, impactos am-
bientais, como resíduos, mosquitos e alteração de
Irrigação ecossistemas.
A irrigação é a aplicação artificial de água às O método de irrigação é a forma pela qual
plantas visando suprir a falta, insuficiência ou a água será aplicada às culturas. Basicamente,
má distribuição das chuvas. É uma tecnologia são quatro os métodos de irrigação: superfície,
que propicia o aumento da produtividade, da aspersão, localizada e subirrigação. A Tabela 2
eficiência de produção e da estabilidade da pro- mostra os fatores que devem ser considerados
dução em sistemas agrícolas. É imprescindível na escolha do método de irrigação.
em regiões com baixas precipitações pluviais e A Tabela 3 apresenta os valores de eficiência,
importante naquelas sujeitas a estiagens ou ve- uso de energia e gasto de mão de obra por sistema
ranicos. Sua adoção deve ser baseada na viabili- de irrigação. A vida útil de cada sistema e o custo
dade técnica e econômica do projeto. Não existe de manutenção são apresentados na Tabela 4.

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Tabela 2. Fatores considerados na seleção do método de irrigação

Sensibilidade
Aplicação da Taxa de
Método Declividade da Cultura ao Efeito do vento
Água Infiltração
Molhamento
Superfície Distribuição por Área deve ser Não Adaptável à Não é problema
gravidade plana ou nivelada recomendável cultura do milho,
artificialmente para solos especialmente o
a um limite de com taxa de sistema de sulcos
1%. Maiores infiltração
declividades acima de 60
podem ser mm/h ou com
empregadas, taxas muito
tomando-se baixas
cuidado no
dimensionamento
Aspersão Jatos de água Adaptável a Adaptável Pode propiciar o Pode afetar a
lançados ao diversas condições a diversas desenvolvimento de uniformidade de
ar caem sobre condições doenças foliares distribuição e a
a cultura na eficiência
forma de chuva.
Tipos: aspersor
convencional,
autopropelido,
pivô central,
deslocamento
linear
Localizada Água aplicada Adaptável a Todo tipo. Menos efeito de Sem efeito
em apenas uma diversas condições Pode ser doenças que a
fração do sistema utilizada aspersão. Permite
radicular. Tipos: em casos umedecimento de
gotejamento e extremos, apenas parte da área
subsuperficial como solos
muito
arenosos ou
muito pesados
Subirrigação Geralmente, Área deve ser O solo deve ter Adaptável à cultura Sem efeito
associado a plana ou nivelada uma camada do milho, desde
um sistema impermeável que o solo não fique
de drenagem abaixo da zona encharcado o tempo
subsuperficial de raízes, ou todo. Pode prejudicar
lençol freático a germinação
alto
Adaptado de Andrade e Brito (2014).

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AMPA
AMPA
- IMAmt
- IMAmt
2015/2016
2012

Tabela 3. Valores médios de eficiência de irrigação, uso de energia e gasto de mão de obra
Investimento
Eficiência de Uso de energiaa Mão de obrab
Sistema de irrigação inicialc
irrigação (%) (kWh mm-1 ha-1 (h ha-1)
(US$ ha-1)
Superficial Sulcos 40 - 70 0,3 - 3,0 1,0 - 3,0 600 – 1500
Faixas 50 - 75 0,3 - 3,0 0,5 - 2,5 800 – 1500
Inundação 50 - 70 0,3 - 3,0 0,3 - 1,2 800 – 1200
Aspersão Convencional portátil 60 - 75 3,0 - 6,0 1,5 - 3,5 800 – 1500
Convencional semiportátil 60 - 75 3,0 - 6,0 0,7 - 2,5 1500 - 3000
Convencional permanente 70 - 80 3,0 - 6,0 0,2 - 0,5 3000 – 5000
Autopropelido 60 - 70 6,0 - 9,0 0,5 - 1,0 1500 – 2200
Pivô central 75 - 90 2,0 - 6,0 0,1 - 0,7 1500 – 3000d
Deslocamento linear 75 - 90 2,0 - 6,0 0,3 - 1,0 2000 – 3500
Localizada Gotejamento 85 - 90 1,0 - 4,0 0,1 – 0,3 4000 – 8000
Microaspersão 80 - 90 1,5 - 4,0 0,1 - 0,4 4000 – 8000

a - estimado para uma altura de recalque entre 0 e 50 m, exceto para irrigação subsuperficial (0 - 10 m).
b - depende do nível de automação do sistema, eficiência geral de mão de obra, dentre outros fatores. (h ha-1 irrigado).
c - depende do nível de automação, tipo de cultura, qualidade de equipamento, tamanho da área, dentre outros.
d - para pivôs com áreas em torno de 3 ha, o custo varia entre US$5mil/ha-1 e US$6 mil/ha-1
Obs.: eficiência de irrigação para sistemas por aspersão com perdas por evaporação e deriva inferiores a 1%.
Fonte: Marouelli & Silva (1998); Christofidis (2002); Marouelli & Silva (1998) citados por Mendonça e Marques (2014).

Tabela 4. Vida útil e custo da manutenção dos sistemas de irrigação


Manutenção anual
Sistemas e componentes Vida útil (anos)
(%valor inicial)
Convencional portátil 10 - 15 1,0 - 1,4
Convencional semiportátil 10 - 18 1,5 - 3,0
Convencional permanente 15 - 25 0,5 - 2,0
Aspersão
Autopropelido 8 -12 5,0 - 7,0
Pivô central 12 - 18 4,0 - 6,0
Deslocamento linear 12 - 18 5,0 - 7,0
Gotejamento 10 - 15 2,0 - 4,0
Localizada
Microaspersão 10 - 15 1,0 - 3,0
Fonte: Marouelli & Silva (1998) citado por Mendonça e Marques (2014)

Para que a irrigação represente uso eficiente sima: o consumo de água. O ideal é que sejam
da água e ganhos econômicos para o produtor, instalados vários equipamentos na área, por setor
é obrigatório que a prática seja monitorada pela de irrigação. Além das vantagens citadas, o uso do
leitura de hidrômetros Figura 3. Hidrômetros são hidrômetro auxilia no atendimento à legislação re-
equipamentos de fácil leitura e instalação e baixo lacionada aos recursos hídricos e nos processos de
custo que nos dão uma informação importantís- outorga e cobrança pelo uso da água.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

(Foto: Julio C. P. Palhares)

Figura 3.
Hidrômetro
para medição
do consumo de
água

Fertirrigação é a aplicação de ferti- apresenta potencial risco de contamina-


lizantes necessários às culturas através ção ambiental por falta de esclarecimen-
da água de irrigação. Para isso, utiliza-se tos dos usuários, negligência quanto ao
a própria estrutura do sistema de irriga- uso de equipamento de segurança e
ção e produtos solúveis em água. Pode- manejo inadequado do sistema, neces-
-se utilizar qualquer método de irrigação sidade de fertilizantes solúveis, risco de
para aplicar fertilizantes. Todavia, os sis- retorno da solução para a fonte de água,
temas pressurizados de irrigação são os podendo causar severos danos ambien-
mais indicados, uma vez que a água é tais e intoxicações nas populações, alto
aplicada através de condutos fechados e custo inicial, risco de superfertilização
sob pressão, permitindo melhor contro- quando a irrigação não for baseada nas
le das aplicações. Destaca-se a irrigação necessidades reais de água da planta.
por gotejamento como a mais adequa- Por conta de reações químicas ocorridas
da para aplicar fertilizantes. dentro do sistema de irrigação, podem
As vantagens da fertirrigação são ocorrer corrosão, precipitações e entu-
economia de mão de obra, pois não é pimentos das saídas e sua operação re-
necessário distribuir o fertilizante por quer conhecimento técnico.
máquinas ou manualmente, evitando a A irrigação de precisão está baseada
compactação do solo, pois elimina-se o em uma gestão otimizada do sistema
uso de ferramentas mecânicas pesadas de irrigação e da água. Quando utilizada
e movimentação de máquinas, maior possibilita redução da necessidade de
parcelamento da fertilização evitando água, de energia e de fertilizantes, e, ao
perdas e atendendo às necessidades mesmo tempo, tem menor risco de po-
das plantas nas diferentes etapas de de- luição do ambiente. A prática objetiva
senvolvimento da cultura, o nutriente que cada planta receba a exata quanti-
dissolvido estará sempre prontamen- dade de água, no momento adequado.
te absorvível, elevando a eficiência da
fertilização, permite a automatização e Pegada hídrica
aplicação de micronutrientes. A pegada hídrica de um produto é
As desvantagens do método são: definida como o volume de água con-

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sumido, direta e indiretamente para produzir o fontes superficiais e subterrâneas e utilizada na ir-
produto. O cálculo e avaliação da pegada se pro- rigação das culturas, dessedentação dos animais,
põe uma ferramenta analítica, auxiliando no en- serviços etc.); água cinza (volume de água neces-
tendimento de como o produto se relaciona com sário para diluir os efluentes da atividade e/ou,
a demanda e a escassez hídrica. A proposição de no caso do uso dos resíduos, como fertilizante).
cálculo da pegada hídrica surgiu no início do sé- Portanto, a pegada hídrica é formada por compo-
culo (2001/2002) e foi feita pelo pesquisador Arjen nentes indiretos (ex.: água utilizada na produção
Hoekstra da Unesco, sendo aprimorada por pes- dos alimentos) e diretos (ex.: água consumida na
quisadores da Universidade de Twente, na Holan- dessedentação dos animais e serviços).
da. Atualmente, grande parte dos estudos é feita É possível que a pegada seja calculada sem
pela Water Footprint Network (www.waterfoo- considerar todos os consumos, podendo ter como
tprint.org). A essência do cálculo é a mesma que “fronteira” a fazenda, região, estado ou país. Na in-
já vinha sendo desenvolvida pelas pegadas ecoló- terpretação do valor deve estar claro o que foi con-
gica e de carbono, entender os sistemas de pro- siderado no cálculo e qual a “fronteira”. Portanto,
dução como elos de uma cadeia produtiva, que se pode-se ter uma pegada de 15 l/kg de carne pro-
inicia na geração de insumos e termina na oferta duzida, neste caso a “fronteira” utilizada foi reduzi-
de produtos ao consumidor. da, limitando-se aos galpões de uma propriedade
Recentemente, outras escolas científicas sur- rural, sendo considerado somente o consumo de
giram realizando cálculos de pegada hídrica, mas água azul (dessedentação e serviços), ou, o valor
de forma diferente da escola holandesa, principal- pode ser de 4.000 l/kg de carne, aqui o cálculo
mente por não considerar as águas verde e cinza. considera toda a cadeia de produção, da extração
Dessas escolas, a de maior destaque é a que utiliza e manufatura dos insumos à oferta dos produtos
a metodologia de análise de ciclo de vida. O concei- ao consumidor. Sem esses esclarecimentos, a in-
to de ciclo de vida relaciona determinado produto terpretação do valor conduz a erros.
a um fluxo de processos executados ao longo de Deve-se ressaltar que o mais importante não é o
uma cadeia produtiva e além dela. A análise abran- valor numérico da pegada, mas, sim, a relação deste
ge a extração e o processamento de matérias-pri- com a disponibilidade hídrica do local e da região
mas, manufatura, transporte, distribuição, uso, reú- e a proposição de ações mitigatórias. Na Figura 4,
so , manutenção, reciclagem e disposição final do apresentam-se as etapas de cálculo da pegada hí-
produto. Portanto, a análise de ciclo de vida é bem drica. Observa-se que a geração do valor numérico
mais ampla que o método de cálculo da pegada hí- é somente uma das etapas e não o objetivo-fim do
drica, pois considera todos os aspectos e impactos método. O objetivo-fim é utilizar o indicador para
ambientais relacionados a um produto. Em 2014, promover o uso eficiente da água e a gestão do re-
a Organização Internacional de Normalização (ISO) curso natural. O método também considera a análise
editou a ISO 14046, que estabelece os princípios e de sustentabilidade, na qual são avaliados aspectos
requerimentos para o cálculo da pegada hídrica, econômicos e sociais relacionados ao uso da água.
seguindo a metodologia de análise de ciclo de vida. Calcular a pegada sem propor ações e soluções
O método holandês entende consumo de água para melhorar o manejo hídrico não promoverá
como consumo de águas superficiais e subterrâ- grandes avanços e poderá gerar mais conflitos
neas, água evaporada e transpirada na produção do que consensos. Quando os primeiros valores
das culturas vegetais (processo de evapotranspira- da pegada começaram a ser divulgados no Brasil,
ção), água que retorna para outra unidade hidro- os setores agropecuários se mostraram contra o
gráfica que não a sua de origem ou para o mar e conceito e seus resultados. A razão dessa revolta
água incorporada ao produto. A pegada pode ser inclui erros da mídia na forma de comunicação
expressa em m3 de água/ano, m3 de água/hectare do conceito e a falta de conhecimento do cálculo
e m3 de água/kg de produto. pelos setores. Hoje, o conceito é mais aceito e já
O cálculo também diferencia o consumo de internalizado por algumas agroindústrias, pois o
água verde (água da chuva, não considerando a método foi esclarecido e melhorado e entendeu-
água que escorre ou se infiltra, pois não é utiliza- -se que o indicador tem conteúdo para subsidiar
da pela cultura agrícola); água azul (consumida de a gestão hídrica.

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MANUAL DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

ESTABELECER OS OBJETIVOS E O ESCOPO DE CÁLCULO

Figura 4.
Etapas de CÁLCULO DA PEGADA HÍDRICA
cálculo da (águas verde, azul e cinza)
pegada hídrica
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA COM O VALOR DA PEGADA

PROPOSIÇÃO DE AÇÕES MITIGATÓRIAS


(envolvendo culturas e manejos produtivos e as tecnologias disponíveis)

Boas práticas hídricas desempenho ambiental;


Boas práticas de produção são um • Cumprimento da legislação ambien-
instrumento voluntário ou legal uti- tal e a obtenção de licenças ambien-
lizado por vários países do mundo. A tais;
cultura de boas práticas produtivas no • Redução dos conflitos entre a ativi-
Brasil é recente, principalmente no setor dade produtiva e a sociedade, e
agropecuário. Sua utilização é mais per- • Esclarecimento ao consumidor so-
ceptível em cadeias produtivas que têm bre como o produto é gerado.
intensa relação com o mercado externo As boas práticas proporcionam aos
e, portanto, devem seguir princípios e produtores o entendimento do ele-
normas produtivas dos mercados de mento água em suas três dimensões:
destino. alimento (consumido pelos animais),
Em 25 de janeiro de 2011, foi promul- insumo produtivo e recurso natural.
gada a Portaria Interministerial nº 36 Exercitar a utilização e o manejo da
(Ministérios da Agricultura, Pecuária e água nas três dimensões é inerente a
Abastecimento, Meio Ambiente e Traba- uma boa prática e proporcionará ex-
lho e Emprego), que institui o Programa celente disponibilidade hídrica na pro-
Nacional de Fomento às Boas Práticas priedade rural. Essa condição é garantia
Agropecuárias - PRÓ-BPA. O programa de segurança hídrica.
tem como objetivo principal promover Para a implantação das boas práticas
a inclusão e desenvolver as boas práti- faz-se necessário que o técnico, o exten-
cas agropecuárias nas propriedades ru- sionista ou o produtor rural tenham os
rais das diversas cadeias agropecuárias conhecimentos necessários para o uso
do país. da prática ou sejam capacitados para
Quando as boas práticas visam o esse fim.
meio ambiente, almeja-se a melhoria As boas práticas aqui propostas fo-
da relação da atividade produtiva com ram baseadas em experiências inter-
este, e sua utilização contribui para: nacionais e nacionais, considerando as
• Preservação e conservação dos re- realidades produtivas, sociais, culturais,
cursos naturais; legais e econômicas brasileiras.
• Redução do potencial poluidor e do
custo ambiental; 1. Boas práticas hídricas relacionadas à
• Redução dos impactos ambientais quantidade e à qualidade da água
negativos; • Avaliar a qualidade da água com
• Melhoria da eficiência produtiva; frequência mínima anual. Os prin-
• Estabelecimento de indicadores de cipais problemas de qualidade são

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relacionados à salinidade, mas também de- profundidade efetiva do sistema radicular (ca-
vem ser consideradas a alcalinidade e a pre- mada de solo que contém 90% das raízes da
sença de nitratos e compostos tóxicos; cultura);
• Monitorar as características dos esgotos, quan- • Fazer a amostragem de solo nas paredes da
do esse for descartado em corpos d’água ou trincheira, retirando amostras deformadas (em
usado na fertirrigação, e as concentrações de sacos plásticos) e indeformadas (em anéis me-
nutrientes dos resíduos que forem utilizados tálicos) para cada camada de solo (Ex.: 0-20 cm;
como fertilizante; 20-40 cm; 40-60 cm...), desde a superfície até a
• Não permitir que os animais consumam água profundidade efetiva do sistema radicular. As
de rios, córregos, lagos e lagoas de forma dire- amostras deformadas são utilizadas para de-
ta, devendo haver uma derivação destes e ofer- terminar a composição granulométrica do solo
ta por bebedouros; (percentagem de areia, silte e argila). As amos-
• Construir e manter fontes e poços de acordo tras indeformadas serão utilizadas para deter-
com as recomendações técnicas; minar a densidade global e a capacidade de
• Poços devem estar fechados e deve-se evitar a água disponível (CAD), que é o máximo arma-
contaminação por chuvas e enxurradas. Devem zenamento útil de água do solo;
ser construídos no ponto mais alto da proprie- • Utilizar dados climáticos para fazer o balanço
dade, fora das áreas de enchentes e com distân- hídrico e estimar a demanda máxima de irriga-
cia adequada de fontes de poluição, tais como ção das culturas irrigadas. A demanda máxima
pocilgas, estábulos e fossas; é necessária para fazer o projeto de irrigação de
• Bebedouros que fazem a reservação de água forma a evitar a falta ou o desperdício de água;
devem ser dimensionados, visando a troca total • Iniciar o projeto de um novo sistema de irriga-
de seu volume de água, sendo o ideal cada uma ção, ou o projeto da reforma de sistemas an-
hora; isso possibilita a conservação da qualida- tigos, calculando o intervalo máximo entre as
de da água; irrigações (turno de rega). Para tal, considera-se
• Toda fazenda deve manter uma rotina rígida de a demanda máxima de irrigação e a capacidade
limpeza dos bebedouros para que a qualidade de água disponível (CAD);
da água seja preservada. O ideal é a limpeza • No caso de energia elétrica, verificar o padrão
diária, sendo que o intervalo entre lavagens de energia disponível (monofásica ou trifásica),
nunca deve ser superior a 3-4 dias. a fim de definir a máxima potência do(s) mo-
tor(es). A limitação é mais severa em redes de
2. Boas práticas hídricas relacionadas à irrigação energia monofásica;
• Antes de iniciar a elaboração de um projeto de • Instalar um manômetro com glicerina na saída
irrigação, fazer o levantamento de todos os re- da tubulação, próximo à bomba do sistema de
cursos necessários, tais como: disponibilidade de irrigação, para verificar se a pressão de saída está
planta planialtimétrica, capacidade de armaze- adequada, de acordo com as necessidades pre-
namento de água do solo, máxima demanda de vistas no projeto;
irrigação da(s) cultura(s), fonte e tipo de energia a • Instalar um hidrômetro na tubulação de recal-
ser utilizada (óleo diesel, energia elétrica mono- que, a fim de ter controle sobre o volume de
fásica ou trifásica) e máxima vazão de água dis- água aplicado à área irrigada;
ponível para outorga de uso de recursos hídricos; • Testar anualmente a uniformidade de aplicação
• Fazer o levantamento planialtimétrico da área a de água do sistema de irrigação, de acordo com
ser irrigada, medir e incluir na planta a distância o padrão de testes (consultar literatura técnica
e o desnível da área irrigada à fonte de água. sobre o assunto);
No caso de utilização de água de poço, medir • Checar anualmente todos os componentes da
e anotar o desnível da boca ao nível dinâmico estação de bombeamento (válvula de pé com
do poço (profundidade da boca até o nível da crivo, conexões e tubulação de sucção, bomba,
água com a bomba do poço em operação); conexões e tubulação de recalque). Procurar
• Abrir trincheiras na área a ser irrigada para fazer por vazamentos, principalmente na tubulação
a amostragem das camadas do solo e medir a de sucção, e eliminá-los;

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

• Em sistemas automatizados, checar tos em reservatórios de água;


frequentemente se os dispositivos • Utilizar mangueiras de borracha que
de acionamento e liberação de água contenham “esguicho” em sua extre-
estão funcionando corretamente, a midade, possibilitando o controle
fim de evitar problemas de distribui- da vazão e o fechamento do fluxo.
ção de água; O ideal é o uso de equipamentos de
• Utilizar ao menos um método de água sob pressão;
manejo da irrigação, que geralmen- • Ofertar bebedouros aos animais e
te é feito com o auxílio de medições dimensioná-los de acordo com as
da umidade do solo ou de dados recomendações técnicas e do fa-
climáticos, e também de tabelas de bricante. Avaliar frequentemente a
controle, em papel ou eletrônicas condição dos bebedouros, realizan-
(computacionais). Há vários métodos do reparos quando necessário;
disponíveis, mais ou menos adequa- • A água é um grande atrativo aos
dos, de acordo com cada situação; animais, por isso a distribuição cor-
• Buscar orientação técnica para pla- reta das fontes no espaço propiciará
nejar, instalar, manter em ordem e o melhor uso destas, bem como re-
operar o sistema de irrigação, de duzirá os potenciais impactos nega-
modo a obter os melhores resulta- tivos que a criação pode causar;
dos possíveis. • Cercar todas as fontes de água e sis-
temas de tratamento de resíduos
3. Boas práticas hídricas relacionadas à (esterqueiras, lagoas, biodigestores,
estrutura composteiras, etc.), a fim de impedir
• Desenhar o Mapa Hídrico da pro- o acesso de humanos e animais;
priedade (fluxograma que explici- • Realizar a drenagem dos terrenos ao
ta todas as rotas hídricas da área: redor das fontes de água e bebedou-
localização de lagos, lagoas, tan- ros e no entorno das instalações para
ques de reservação, bebedouros, que não ocorra a mistura das águas
registros, fontes de energia e bom- naturais (chuva, escorrimento super-
bas; sistema de irrigação, pontos ficial, etc.) com os esgotos e resíduos
ou áreas onde há o descarte de da produção.
efluentes; estruturas ou áreas onde
há o armazenamento de resíduos 4. Boas práticas hídricas relacionadas
da produção); ao meio ambiente
• Realizar a manutenção do sistema de • Conhecer toda legislação ambiental
condução de água, principalmente relacionada a sua atividade produti-
visando à manutenção da limpeza e va e ao manejo de recursos hídricos;
à eliminação de vazamentos; • Há duas resoluções do Conselho
• Os reservatórios de água tratada Nacional de Meio Ambiente que
devem estar situados com o neces- determinam a qualidade da água a
sário afastamento das instalações. ser consumida pelos animais. A Re-
Recomenda-se que os reservatórios solução Conama n° 357 classifica as
sejam lavados de seis em seis meses águas doce a salobras e estabelece
após sua instalação e quando ocor- padrões Classe 3 para dessedentação
rer acidentes que possam contami- de animais. A Resolução Conama n°
nar a água, como, por exemplo, en- 396 classifica as águas subterrâneas
xurradas, entrada de insetos e fezes e estipula padrões de qualidade para
de pássaros; dessedentação de animais;
• Verificar sempre se há ocorrência de • Possuir a licença ambiental e a outor-
rachaduras, infiltrações e vazamen- ga de uso da água da propriedade;

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• Ter conhecimento de todas as fontes de água e 5. Boas práticas hídricas relacionadas à gestão da
corpos hídricos da propriedade; propriedade
• Não permitir o acesso de animais a nascentes, • Documentar todas as intervenções, ações, ma-
fontes e poços. Quando exigido por lei, isolar nejos e obras relacionadas ao manejo hídrico e
essas captações de acordo com os padrões re- manter esses documentos para consultas;
comendados; • Ter como atividade rotineira a atualização e
• Avaliar a necessidade de implantação de siste- a capacitação técnica ambiental de todos os
mas de tratamento de esgotos animais; envolvidos na propriedade e promover treina-
• Utilizar esgotos animais, biofertilizantes, com- mentos para elevar os níveis de informação e
postos, lodos e qualquer resíduo orgânico conhecimento quanto à importância da água e
como fertilizante seguindo o princípio do ba- educação sanitária;
lanço de nutrientes, compatibilizando o que • Manter um bom relacionamento com os vizi-
está disponível no solo com a recomendação nhos que estejam acima e abaixo da proprieda-
agronômica da cultura e a concentração de de (em relação ao curso d’água), mantendo-os
nutrientes do resíduo. Em áreas de fragilidade informados de seu manejo produtivo e como
ambiental, como áreas com longo histórico esse se relaciona com o cotidiano deles. Sempre
de uso de fertilizantes, próximas a corpos de informá-los, e também os órgãos competentes,
água e a várzeas, de elevada declividade, en- de qualquer alteração na quantidade e na quali-
tre outras, reduzir a aplicação de fertilizantes, dade da água que estejam relacionadas ou não
tendo como elemento de referência o fósforo, ao manejo da propriedade;
bem como intensificar o uso de práticas agrí- • Participar de fóruns que tenham a água como
colas conservacionistas. foco, como os comitês de bacias hidrográficas.

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CONAMA. Resolução nº 396, de 03 de abril de 2008. Disponível em: http://www.


mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562. Acesso em: 28 jul. 2009.

DEPARTMENT FORENVIRONMENT, FOOD AND RURAL AFFAIRS. Protecting


our Water, Soil and Air: A Code of Good Agricultural Practice for farmers,
growers and land managers. Disponível em: http://www.defra.gov.uk/publications/
files/pb13558-cogap-090202.pdf.Acesso em: 10 dez. 2012

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

HIGGINS, S.F.; AGOURIDIS, C.T.; GUMBERT, A.A. Drinking Water


Quality Guidelines for Cattle. 05 jan. 2012.

MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L.C. Seleção de sistemas de irrigação


para hortaliças. Brasília: EMBRAPA, 1998. 16p. (Circular Técnica da
Embrapa Hortaliças, 11).

MENDONÇA, F.C.; MARQUES, P.A.A. Manejo hídrico na agricul-


tura. In. PALHARES, J.C.P; GEBLER, L. Ed(s). Gestão ambiental na
Agropecuária v.2. Brasília: Embrapa, 2014. p. 49-99.

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Termos Técnicos - Água

Afluente ou Tributário - qualquer curso de água que deságua num rio principal,
lago ou lagoa. “Curso d’água cujo volume ou descarga contribui para aumentar ou-
tro, no qual desemboca.”

Aquífero - (reservatório de água subterrânea) formação geológica, composta por cas-


calho ou rocha porosa, capaz de armazenar e fornecer quantidades significativas de
água. Pode ser confinado ou não confinado.

Bacia hidrográfica ou bacia fluvial - a noção de bacia hidrográfica inclui naturalmente


a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d’água, cursos d’água principais,
afluentes, subafluentes, etc. Área geográfica que drena suas águas para um mesmo
local, geralmente um rio. Também pode ser conceituada como sendo uma área defini-
da e fechada topograficamente num ponto do curso d’água, de forma que toda vazão
afluente possa ser medida ou descarregada por esse ponto.

Brejo - terreno molhado ou saturado de água, algumas vezes alagável de tempos


em tempos, coberto com vegetação natural própria, na qual predominam arbustos
integrados com gramíneas rasteiras e algumas espécies arbóreas. “Terreno plano,
encharcado, que aparece nas regiões de cabeceira, ou em zonas de transbordamen-
to de rios e lagos.”

Corpos d’água - qualquer rio, córrego, riacho, lago, lagoa, brejo ou aquífero.

Fonte - ponto no solo ou numa rocha de onde a água flui naturalmente para a su-
perfície do terreno ou para uma massa de água.

Lago - superfície de água, geralmente doce, cercada de terras por todos os lados.
Pode ser natural ou artificial. Não são elementos permanentes da paisagem, poden-
do desaparecer pelo acúmulo de matéria orgânica no fundo ou aporte de sedimen-
tos por afluentes.

Lagoa - lago pouco extenso e de pouca profundidade.

Poço artesiano - poço profundo onde a pressão é suficiente para fazer jorrar a
água sem o auxílio de bombas.
Poço manual ou escavado - construídos manualmente, utilizando-se somente
equipamentos simples, sem o uso de máquinas, normalmente captam água do len-
çol freático.

Recurso hídrico - a quantidade de águas superficiais ou subterrâneas, disponíveis


para qualquer uso, numa determinada região ou bacia hidrográfica.

Represa - obra de engenharia destinada à acumulação de água para diversos fins,


o que é obtido pelo represamento dos rios, originando-se daí lagos artificiais.

Reservatório - lugar onde a água é acumulada para servir às múltiplas necessi-


dades humanas. Em geral, formado pela construção de barragens nos rios ou pela
condução da água para depressões no terreno ou construído como parte de siste-
mas de abastecimento de água, antes ou depois de estações de tratamento.

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MANUALDE
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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Rio - ambientes aquáticos com movimento.

Tipos de Água

Água bruta - água de uma fonte de abastecimento, antes de receber


qualquer tratamento.

Água doce - é a água dos rios, lagos, fontes, nascentes, geleiras.

Água dura - é a água com elevado teor de cálcio e magnésio, estes


geralmente combinados a carbonatos e/ou bicarbonatos.

Água de fonte ou água mineral - contém substâncias minerais e ga-


sosas, dissolvidas. Conforme o principal mineral dissolvido, a água
de fonte pode ser alcalina, sulfurosa, etc. Existem diversos tipos de
águas minerais. As principais são:

• Salobra - é levemente salgada, mas com salinidade inferior à


água do mar, e não forma espuma com o sabão.

• Acídula - contém gás carbônico. É chamada também água gaso-


sa. Tem um sabor ácido e é usada para facilitar a digestão.

• Magnesiana - predominam os sais de magnésio. É usada para


ajudar o funcionamento do estômago e do intestino.

• Alcalina - tem bicarbonato de sódio e combate a acidez do estô-


mago.

• Sulfurosa - contém substâncias à base de enxofre e é usada no


tratamento da pele e das vias respiratórias.

• Ferruginosa - possui ferro e ajuda no combate à anemia.

• Termal ou termomineral - água mineral que apresenta temperatura


superior à temperatura do ambiente. Possui ação medicinal devido
às substancias minerais e gasosas nela dissolvidas. Esse tipo de
água é usado para curar certas doenças da pele.

Água poluída - é a água suja ou contaminada, isto é, contém impu-


rezas, microrganismos, etc.

Água potável - água para consumo humano cujos parâmetros mi-


crobiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de
potabilidade e que não ofereça riscos à saúde.

Água pura - se for considerada como pura a água composta, exclusiva-


mente, por hidrogênio e oxigênio, conclui-se que não existe água pura
na natureza, pois, por onde a água passa, ela vai dissolvendo e incor-
porando substâncias, as quais irão alterar suas características originais.

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Águas residuárias - resíduos líquidos gerados pelas atividades comerciais, do-


mésticas, agropecuárias ou industriais.

Água salgada - é a água que contém muitos sais dissolvidos, como a água do mar.

Água salobra - água com teor de sais que, dependendo da concentração, impede
seu consumo por homem e animais.

Água servida - é aquela que foi utilizada pelo homem, tendo suas características
naturais alteradas.

Água subterrânea - suprimento de água doce abaixo da superfície da terra, em


um aquífero ou no solo, que forma um reservatório natural.

Água superficial - é toda a água doce encontrada, num dado momento, na super-
fície da terra, tais como em rios, lagos, reservatórios, etc.

Água tratada - água que tenha sido submetida a um processo de tratamento, com
o objetivo de torná-la adequada a um determinado uso.

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PRÁTICAS

Saneamento básico rural:


por que e como fazer
Introdução momento em que seu sistema imunoló-
Wilson Tadeu Às vezes, a gente pensa que na nos- gico estiver debilitado por outra doen-
Lopes sa propriedade está tudo bem: boa pro- ça, a ingestão de água contaminada só
da Silva dutividade, custos controlados, preços irá complicar as coisas. Portanto, a qua-
Embrapa
Instrumentação
adequados, água (nem de mais, nem lidade da água utilizada em nossos lares
wilson.lopes-silva@ de menos), e por aí vai... Mas, pensemos é de interesse de todos.
embrapa.br um pouco: será que o que está bom hoje Assim, a frase popular, deve ser com-
também estará amanhã? Qualquer bom pletada para:
agricultor e/ou empresário sabe bem que “Água limpa é fonte de vida”
as coisas não são assim: preços e custos Da mesma forma, o lixo que geramos
variam, o clima não ajuda, falta mão de não pode ser descartado em qualquer lu-
obra, etc. Mas, se pensarmos no longo gar. O acúmulo de lixo atrai ratos, baratas,
prazo, será que estamos fazendo a coi- aves, entre outros, que irão transportar a
sa certa? Por exemplo, o insumo mais imundície e doenças do lixo para qual-
importante usado na agropecuária é a quer lugar, sem contar o mau cheiro...
água. E quando falamos em água, deve- Para resolver o problema da água
mos pensar não somente na quantidade, contaminada, duas coisas devem ser
mas também na sua qualidade. E, neste feitas. A primeira é evitar que bebamos
ponto, estamos fazendo a coisa certa? água com microrganismos e vermes
Existe uma frase popular que diz que que transmitem doenças. Neste caso,
a “água é fonte de vida”. Na forma como é preciso clorar a água a ser ingerida e
a frase é apresentada, podemos pensar utilizada na residência. A segunda coi-
que qualquer água é boa. Mas isso não sa a ser feita é evitar a contaminação
é verdade; a água contaminada pode ser da água, pelo tratamento dos nossos
fonte de doenças e morte. Existe uma resíduos, principalmente o esgoto. O
série de doenças relacionadas à água lixo também não pode ser descartado
contaminada, como verminoses, diar- em qualquer lugar. Água e lixo são, por-
reias, hepatite A, leptospirose, teníase tanto, temas diretamente relacionados
(solitária), gastroenterites, etc., conheci- com a saúde das pessoas e do meio am-
das como doenças de veiculação hídrica. biente, sendo tratados dentro de um
Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) tema maior, chamado de “Saneamento
mostram que em regiões sem tratamen- Básico”. Neste capítulo, abordaremos as
to de água e esgoto, até 70% das inter- questões relacionadas ao saneamento
nações são causadas pela ingestão ou básico para a área rural relativas à água.
contato com água contaminada. O lixo será tratado no capítulo referente
Essas doenças afligem principalmen- aos resíduos sólidos.
te crianças e pessoas idosas, que pos-
suem um sistema imunológico em for- Como contaminamos a água com o
mação ou já debilitado. Assim, se você nosso esgoto?
já está na terceira idade ou convive com Uma forma muito comum de con-
crianças ou pessoas idosas na sua casa, taminarmos a água, e bastante visível
deveria preocupar-se urgentemente também, é o descarte de esgoto bruto
com esse tema... Mas mesmo que você diretamente nos rios. Esgoto não trata-
não resida com estas faixas etárias, pen- do contamina rio e isso, creio, ninguém
se que as doenças são traiçoeiras e, num duvida...

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Mas, no Brasil, a coisa mais comum que encon- ta, tem muito escorpião!
tramos na área rural é a chamada “fossa negra”, A fossa negra nos dá a falsa impressão de que o
também conhecida como “fossa rudimentar” ou esgoto está confinado no buraco, mas, infelizmen-
simplesmente “fossa”... te, não é verdade. O esgoto, pouco a pouco, vai
A fossa negra nada mais é que um buraco cir- penetrando no solo e descendo para as camadas
cular cavado no chão (parecido com um poço), mais profundas até chegar sabe onde? Ao lençol
geralmente com uma tampa de concreto ou ma- freático. É o lençol freático que abastece os poços
deira na parte superior. Todo o esgoto gerado na rasos (também conhecidos como poços caipiras) e
residência é jogado nesse buraco durante anos, alimenta as nascentes dos rios. Isso mesmo, quem
até um momento em que a fossa “enche” e então tem fossa negra na sua casa está literalmente colo-
é necessário fazer outro buraco para o ciclo reco- cando esgoto na água que bebe.
meçar. É comum as famílias colocarem galinhas E não se iluda: não existe distância segura en-
próximas às fossas negras, para que elas comam tre fossa negra e poço. A fossa negra, portanto,
baratas e escorpiões que são muito comuns nes- deve ser eliminada das nossas casas. Um colega
ses sistemas. O escorpião só está lá porque é um meu costuma dizer que a fossa negra é um “poço
predador natural da barata. Onde tem muita bara- de doenças”.

Figura 1. Como a fossa negra pode contaminar o lençol freático e, consequentemente, o poço e os rios

Vamos clorar a água que utilizamos na nossa rente. Mas é uma água sem cor, sem cheiro e sem
casa? sabor? É certo de que não esteja contaminada?
Você sabe diferenciar visualmente a água con- Infelizmente, a resposta é não. No caso de con-
taminada por germes transmissores de doenças taminação microbiana, estamos falando de seres
daquela totalmente limpa? microscópicos, pelo menos 50 vezes menores
Em alguns casos, claro, é fácil observar: a cor, que o diâmetro de um fio de cabelo. A bactéria
o cheiro e o sabor da água dizem muita coisa. de origem fecal mais comum é a Escherichia coli,
Ninguém vai querer beber água com uma cor es- também conhecida pela sua abreviatura E. coli.
tranha ou que tenha algum cheiro ou sabor dife- Ela é muito comum no trato intestinal de animais

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de sangue quente e possui filamentos Como já dito anteriormente, bacté-


que lhe permitem movimentar-se na rias de origem fecal podem transmitir
água. Onde tem E. coli, tem contamina- uma série de doenças de veiculação hí-
ção por fezes. Para aqueles que gostam drica. Para evitarmos isso, devemos ma-
de assistir a vídeos na internet, no site tar essas bactérias adicionando cloro à
do YouTube (www.youtube.com) você água. As substâncias com cloro usadas
encontrará diversos vídeos mostrando para desinfetar a água agem liberan-
bactérias em movimento. Basta procu- do o que chamamos de “cloro ativo” na
rar como “swimming e coli” (E. coli na- água, que reage com a parede externa
dando). Na Figura 2, é mostrada uma das bactérias e outros microrganismos,
imagem de uma E. coli. Imagine-se be- levando-os à morte. Assim, não é qual-
bendo um copo d’água com milhares quer produto com cloro que resolve o
(ou até milhões) dessas. É o que pode problema, mas somente aqueles que
acontecer se você não clorar a água. liberam cloro ativo.
(Fonte: www.asembio.cl)

Figura 2.
Imagem de uma
Escherichia coli
(E.coli), muito
comum nas fezes
de animais de
sangue quente,
incluindo os seres
humanos

Mas como fazer para clorar a água? matar todas as bactérias. Muito cloro dá
Existem diversos produtos com cloro um forte sabor à água e pode ser tóxico.
ativo no mercado utilizados para desin- Assim, existe uma quantidade correta
fetar a água, que vão desde os saniti- de cloro ativo que deve ser adicionada,
zantes com hipoclorito de sódio (água e esta é bem pequena.
sanitária) até os aromatizados, como A Portaria 2.914/2011, do Ministério
“Pinho Sol”, por exemplo (este usado so- da Saúde, estabelece os parâmetros de
mente para desinfecção de vaso sanitá- qualidade para a água a ser utilizada no
rio). A eficiência do produto dependerá abastecimento residencial, sendo váli-
não somente da quantidade utilizada, da em todo o Brasil. Para tal, ela deve
mas também do teor de cloro ativo na ser límpida, transparente, sem material
sua composição. A água sanitária, por em suspensão, sem cor ou odor e não
exemplo, tem aproximadamente 2% pode estar contaminada por produtos
de cloro ativo, já o hipoclorito de cálcio químicos ou por microrganismos. No
pode chegar a 65%. Pouco cloro ativo caso dos microrganismos, é recomen-
na água pode não ser suficiente para dado o uso de 0,5 a 2 mg de cloro ativo

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por litro de água a ser consumido.

(Foto: Monica Laurito)


Para clorar a água existem no mercado di- A
versos sistemas, incluindo bombas dosadoras,
geralmente utilizadas para piscinas, bem como
sistemas bastante simplificados. A Embrapa
desenvolveu um sistema simples para clorar a
água da residência rural, conhecido como “clo-
rador Embrapa”, que deve ser instalado em local
de fácil acesso. Esse clorador é montado com
tubos, conexões e registros, que são de fácil
aquisição em lojas de material de construção.
Caso deseje, o morador poderá comprar tam-
bém um cap de PVC soldável de 50 mm, para
ser usado como tampa do funil (este cap deve
ser somente encaixado, sem o uso de cola). A Fi-
gura 3 mostra uma representação esquematiza-
da de um clorador Embrapa, com seus compo-
nentes, e a Figura 4 mostra como um clorador
deve estar montado na residência.
(Arte: Valentim Monzane)

Figura 3. A) imagem de um sistema instalado e B) Esquema representativo do clorador Embrapa, com


descrição dos seus componentes

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Um produto que a Embrapa reco- início da manhã.


menda para uso é o hipoclorito de cálcio
com 65% de cloro ativo, produto encon- Com esse simples ato, muitas doenças
trado em lojas especializadas em pisci- poderão ser evitadas para você e sua
nas. Para atender à Portaria 2.914/2011, família!
são necessários algo em torno de 1 a 1,5 O cloro sempre deixa um gostinho
grama do produto (uma colherzinha de na água. Para retirar esse sabor, que
café) para cada mil litros de água a se- desagrada muita gente da roça, re-
rem tratados. comendamos o uso de um filtro com
vela que possua carvão ativado, que
Como usar o clorador Embrapa? retira boa parte do cloro residual, re-
É simples. No início da manhã, siga movendo assim o sabor da água a ser
os seguintes passos, observando a Figu- consumida. A vela com carvão ativado
ra 3b: deverá ser substituída cada seis meses,
1. Feche o registro “A” (captação); aproximadamente.
2. Abra a torneira “B” e espere esgotar a É sempre bom reforçar que a água
água da tubulação; a ser clorada deve ser límpida, sem cor,
3. Feche a torneira “B”, abra o registro sem material em suspensão, conforme
“C” e retire a tampa do funil; preconiza a Portaria 2.914/2011, do Mi-
4. Adicione uma colher de café de hi- nistério da Saúde. Se a água não tiver
poclorito de cálcio a 65% no funil, essa qualidade, deverá ser filtrada e/ou
para cada mil litros de água (capaci- clarificada anteriormente ao processo
dade da caixa d´água); de cloração. Cada caso é um caso, e,
5. Enxague o funil com um copo de assim, se a etapa de limpeza prévia da
água, água for necessária, recomenda-se a
6. Feche o registro “C” e retorne a tam- consulta com um técnico especializado
pa do funil, e; em saneamento, para definir o melhor
7. Abra o registro “A” e mantenha o clo- procedimento.
rador nessa configuração até próxi-
ma cloração. O que fazer com o esgoto da minha
Quando o registro “A” for aberto, a casa?
pressão da água empurrará o cloro Conforme já falamos anteriormente,
para a caixa d’água. Após 30 minutos, não existe distância segura entre fossa
a água estará limpa de germes trans- negra e poço de captação de água. As-
missores de doenças. A cloração deve- sim, se você não quer contaminar a si
rá ocorrer todo dia, usando-se ou não mesmo, sua família e o meio ambiente,
toda a água que foi clorada, sempre no tenha em mente:
(Arte: Valentim Monzane)

Figura 4.
Esquema
representativo de
como deve estar
instalado um
clorador Embrapa

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Fossa Negra, nunca mais! Jogar esgoto no rio, exceto óleos e gorduras, que ficam retidos em uma
nem pensar... caixa de gordura anterior ao sistema. Existe um an-
teparo (chicana) para que a água que entre perca
Mas o que fazer então? a velocidade e, assim, seja facilitada a decantação
Não se pode construir qualquer coisa imaginan- dos sólidos. A saída do líquido do sistema também
do que está fazendo o certo. Existem diferentes ocorre pela parte de cima, no nível da água. Assim,
sistemas de tratamento de esgoto que possuem quando entra esgoto fresco por um lado do tan-
características próprias. Na área rural, geralmente que, no lado oposto é descartado o líquido “trata-
são utilizadas as “fossas sépticas”. Qualquer mode- do”. Para saber o tamanho aproximado do tanque
lo de fossa séptica divulgado e disseminado deve séptico (em litros), a conta básica a ser feita é mul-
necessariamente ter sido testado e validado an- tiplicar o número de moradores por 300 (trezen-
teriormente por especialistas. Assim, quando for tos) litros e colocar uma margem de segurança de
construir um sistema em sua residência, não faça mais 500 l, prevendo que o número de moradores
adaptações sem que isso seja recomendado por possa aumentar. Por exemplo, para uma residência
um engenheiro especializado. Siga rigorosamente com cinco moradores, o tanque séptico terá 2 mil
as instruções de dimensionamento e instalação! l (5 x 300 + 500). O efluente que sai do tanque tem
uma redução substancial de sólidos em suspensão,
O que é uma fossa séptica? comparado com o esgoto bruto, mas ainda possui
É um sistema que recebe o esgoto bruto, que uma elevada carga microbiológica, fato que im-
será, de uma maneira ou outra, depurado antes possibilita o reúso do líquido sem algum tratamen-
de ser retornado à natureza, geralmente na forma to posterior. O líquido segue então para descarte
de um líquido despejado em um sumidouro. Con- na natureza, em sumidouros ou valas de infiltração.
forme dito anteriormente, há diversos modelos Um sumidouro é basicamente um tanque
de fossas sépticas, também chamadas de tanques circular cavado no chão, com parede de alve-
sépticos. Algumas são tanques nos quais os mate- naria ou cilindros de concreto. As paredes são
riais sólidos do esgoto são decantados e ficam de- perfuradas para permitir que o líquido penetre
positados. Existem fossas sépticas que degradam no solo. O fundo do sistema não é impermea-
parte da matéria orgânica pelo processo de biodi- bilizado, sendo revestido de uma camada de
gestão, que acumulam sólidos no interior, e existe aproximadamente 50 centímetros de pedra bri-
a fossa séptica biodigestora, que não acumula só- tada. O tamanho do sumidouro será calculado
lidos. Os sistemas que acumulam sólidos necessa- levando-se em conta a quantidade de líquido
riamente devem ser limpos periodicamente, com a ser depositado por dia, bem como o tipo de
o uso de um caminhão “limpa-fossa”. solo (podem ser menores em solos mais areno-
sos, que absorvem melhor a água, comparados
Tanque séptico com sumidouro a solos mais argilosos).
Com relação à construção de uma fossa sépti- Os materiais sólidos presentes no esgoto e
ca convencional, existe a norma NBR 13969:1997 que não fermentam vão se depositando no tan-
(Tanques sépticos - Unidades de tratamento que, reduzindo o volume útil dele. Por conta dis-
complementar e disposição final dos efluentes so, todo tanque séptico convencional deverá ter
líquidos - Projeto, construção e operação), da As- uma pequena tampa para ser limpo periodica-
sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). mente, pela retirada dos sólidos com uso de um
Esta norma descreve tecnicamente todas as ações caminhão “limpa-fossa”. Se isso não for feito, che-
referentes a uma fossa séptica convencional. Os gará o momento em que o tanque ficará cheio
tanques sépticos podem possuir uma ou mais câ- de sólidos e começará a enviar o excesso para o
maras, para o armazenamento de sólidos e biodi- sumidouro, entupindo o sistema. Se isso ocorrer,
gestão, seguidos do descarte do efluente em su- a correção do problema é cara, sendo necessá-
midouros ou valas de infiltração. ria a construção de outro sumidouro. A Figura 5
Em uma fossa séptica convencional, os tanques mostra uma representação esquemática de um
são cilíndricos e a entrada de todo o esgoto da resi- tanque séptico, bem como de um sumidouro pa-
dência ocorre pela parte superior do nível da água, drão, conforme descrito na NBR 13969:1997.

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Figura 5.
Representação
de um tanque
séptico
cilindrico

Brita 0,30m
Figura 6.
Representação
de um Solo de proteção
sumidouro -
Anel de concreto / PVC / MCV etc.
planta e corte
(Foto: www.finep.gov.br/prosab)

Figura 7.
“Limpa-fossa”
removendo
sólidos de
uma fossa
séptica

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Fossa séptica biodigestora volvida para uma residência com até cinco mora-
Esse sistema foi desenvolvido na Embrapa Ins- dores. O sistema padrão é composto por três tan-
trumentação (São Carlos/SP) e alia o conceito de ques (módulos) de mil litros, conectados entre si
biodigestão anaeróbia (na ausência de ar), em que por tubos e conexões de PVC. Os dois primeiros
ocorre a degradação da matéria orgânica presente tanques são chamados de “módulos de fermen-
no esgoto e há redução significativa na contami- tação”, que é onde efetivamente ocorrerá o trata-
nação microbiana; bem como não acumula sóli- mento, e o último tanque recebe o nome de“caixa
dos em seu interior, evitando assim o uso de cami- coletora”, para armazenar e, posteriormente, reci-
nhões “limpa-fossa”. A fossa séptica biodigestora clar o líquido tratado, conforme apresentado na
permite também a reciclagem da água tratada Figura 8. O volume do sistema é calculado levan-
como fertilizante agrícola a ser utilizada exclusiva- do-se em conta que o líquido fique em tratamento
mente no solo. pelo menos 20 dias, em média, nos módulos de
A biodigestão anaeróbia é basicamente um fermentação. Para melhor isolamento térmico, as
processo natural, no qual, pequenos seres vivos caixas devem ser semienterradas, ficando somen-
(microrganismos) transformam os nossos resíduos te a tampa e uma pequena parte superior da caixa
(fezes e urina) em gases, que são descartados, bem (cerca de 10 cm) descobertas.
como em matéria orgânica estabilizada. Estes mi- O material para instalação da fossa séptica
crorganismos são muito sensíveis à presença de biodigestora, em sua maioria, é encontrado em
oxigênio e também de sabões e detergentes. Por lojas de material de construção. Os tanques po-
isso, a fossa séptica biodigestora deve estar bem dem ser feitos de caixas d’água resistentes, como
vedada e tratar somente o esgoto gerado no vaso fibrocimento e fibra de vidro, bem como em al-
sanitário. O excesso de sabões e detergentes pre- venaria ou outro sistema, desde que seja bem
sentes no restante do esgoto da casa(conhecido impermeabilizado. Não é recomendado o uso de
tecnicamente como “água cinza”) causa proble- caixa d’água de plástico (polietileno), pois defor-
mas na biodigestão. O tratamento da água cinza é mam-se com grande facilidade no solo. A Tabela 1
mais simples e será discutido mais à frente. apresenta todo o material necessário para a mon-
A fossa séptica biodigestora padrão foi desen- tagem de uma fossa séptica biodigestora.

Figura 8. Representação esquemática da instalação de uma fossa séptica biodigestora e função dos diferentes módulos para
uma residência com até cinco moradores

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PRÁTICAS

Tabela 1. Material e ferramenta para instalação de uma fossa séptica biodigestora padrão
(até cinco moradores)

Material
Item Quantidade Unidade
Caixa d’água de fibrocimento ou fibra de vidro de 1000 l(1) 03 peça
Tubulação de PVC DN 100 (100 mm) para esgoto 06 m
Válvula de retenção de PVC DN 100 (100 mm) para esgoto 01 peça
Luva de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Curva 90° raio longo de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Tê de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
CAP de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Anel de borracha para vedação 100 mm (O’ring) 10 peça
Tubulação de PVC soldável DN 25 (25 mm) 01 m
CAP de PVC soldável DN 25 (25 mm) 02 peça
Flange de PVC soldável DN 25 (25 mm) 02 peça
Tubulação de PVC soldável DN 50 (50 mm) 01 m
Flange de PVC soldável DN 50 (50 mm) 01 peça
Registro de esfera compacto soldável de PVC DN 50 (50 mm) 01 peça
Cola de silicone de 300 g 02 tubo
Pasta lubrificante para juntas elásticas em PVC rígido de 400 g 01 tubo
Adesivo para PVC 100 g 01 tubo
Adesivo de contato 100 ml 01 lata
Guarnição esponjosa de borracha - espessura 10 x 20 mm ou
12 m
10 x 10 mm
Estacas ou mourões com 1,8 m(2) 10 peça
Tela tipo galinheiro 1,2 m de largura (2)
25 m
Grampos ou pregos para fixar a tela (2)
60 peça
Ferramentas
Item Quantidade Unidade
Serra copo100 mm 01 peça
Adaptador (suporte) para serra copo em furadeira 01 peça
Serra copo 76 mm 01 peça
Serra copo 38 mm 01 peça
Aplicador de silicone 01 peça
Arco de serra com lâmina de 24 dentes 01 peça
Furadeira elétrica portátil 01 peça
Lixa comum n° 100 02 folha
Pincel de ½ polegada (para aplicar adesivo de contato) 01 peça
Estilete ou faca 01 peça
Cavadeira 01 peça
Martelo 01 peça

(1)
Não é recomendada a utilização de caixas d’água de plástico (polietileno), pois estas podem deformar-se com
facilidade com a pressão do solo e elevadas temperaturas, prejudicando a vedação
(2)
Para a construção de uma cerca em volta da fossa séptica biodigestora

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Caso haja a necessidade de módulos de fermen- 5 litros de água em um balde, homogeneizar, e co-
tação adicionais, serão necessários, além do ma- locar na fossa por meio de uma válvula de retenção
terial apresentado na tabela acima, os seguintes que é instalada em uma posição anterior à primeira
itens (por módulo de fermentação adicional). Nes- caixa. Esta ação deve ocorrer uma vez ao mês. Um
te caso, incorporam-se mil litros a mais em módulo desenho técnico da montagem de uma fossa sépti-
de fermentação para até 2,5 moradores, em média ca biodigestora é apresentado na Figura 9.
(Tabela 1b). A vedação das tampas ocorre somente nos mó-
dulos de fermentação. Para isso, é necessário o uso
Disseram-me que para a fossa séptica biodiges- de uma borracha macia, cujo nome técnico é “guar-
tora funcionar bem é preciso colocar esterco fres- nição esponjosa”. Essa borracha é colada na boca da
co de bovino? É isso mesmo? caixa, com o uso de adesivo (ou cola) de contato.
É verdade. O uso de esterco bovino fresco (re- É recomendado o uso de guarnição esponjosa de
cém-defecado) é importante, porque ele possui corte 10x20 mm ou 10x10 mm. O produto é encon-
alguns microrganismos “do bem”, que se alimen- trado em lojas especializadas em materiais de bor-
tam dos nossos restos, melhorando o processo de racha. A Figura 10 mostra a instalação de uma guar-
tratamento. O uso do esterco bovino também faz nição esponjosa em um tanque de fermentação.
com que o sistema não tenha mau cheiro. Sem mau Como são gerados gases no processo, é necessária
cheiro, tampouco haverá baratas, ratos, moscas, etc. a colocação de pequenas chaminés nos módulos
Para tal, basta misturar 5 litros de esterco fresco com de fermentação, conforme apresentado na Figura 9.

Tabela 1b. Material para incorporação de 1000l a mais no módulo de fermentação


Material
Item Quantidade Unidade
Caixa d’água de fibrocimento ou fibra de vidro de 1000 l (1) 01 peça
Tubulação de PVC DN 100 (100 mm) para esgoto 1,5 m
Luva de PVC DN 100 (100 mm) 01 peça
Curva 90° raio longo de PVC DN 100 (100 mm) 01 peça
Tê de PVC DN 100 (100 mm) 01 peça
CAP de PVC DN 100 (100 mm) 01 peça
Anel de borracha para vedação 100 mm (O’ring) 2 peça
Tubulação de PVC soldável DN 25 (25 mm) 0,5 m
CAP de PVC soldável DN 25 (25 mm) 01 peça
Flange de PVC soldável DN 25 (25 mm) 01 peça
Cola de silicone de 300 g 01 tubo
Adesivo para PVC 100 g 0,5 tubo
Guarnição esponjosa de borracha - espessura 10 x 20 mm ou 10 x 10 mm 6 m
Adesivo de contato 100 ml 1 lata
Estacas ou mourões com 1,8 m(2) 2 peça
Tela tipo galinheiro 1,2 m largura(2) 5 m
Grampos ou pregos para fixar a tela(2) 12 peça
(1)(2)
Idem descrição tabela anterior

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Figura 9.
Desenho geral
da instalação
de uma
fossa séptica
biodigestor

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(Foto: Valentim Monzane)


A Figura 11 mostra como fica uma unidade ins-
talada. Recomendamos que o sistema seja pro-
tegido com uma cerca, para evitar que pessoas
e animais o danifiquem. Em locais com invernos
mais frios, recomendamos que as tampas das cai-
xas sejam pintadas de preto, para que o sistema
absorva mais calor do sol no inverno. Esta não é
uma necessidade para as regiões mais quentes,
como o Estado de Mato Grosso.
Com o sistema instalado, quando ocorre a des-
carga sanitária, o esgoto é direcionado para a fossa
séptica biodigestora. Conforme vai entrando es-
goto novo, o mais antigo é enviado por gravidade Figura 10. Vedação da boca de um módulo de fermentação,
para a caixa seguinte, até chegar à caixa coletora, com o uso de guarnição esponjosa
quando o líquido estará tratado e pronto para re-
ciclagem agrícola. Para uso do fertilizante gerado,
caso a topografia permita, recomendamos a insta- ção sempre estarão cheios de líquido.
lação de um cano de 50 mm na saída última caixa, Assim, a manutenção da fossa séptica biodiges-
que será aberto para uso nas partes mais baixas do tora consiste em colocar o esterco bovino fresco
terreno Figura 9. Caso isso não seja possível, reco- uma vez ao mês e recolher o efluente tratado para
mendamos a instalação de uma pequena bomba uso como fertilizante. Uma residência com cinco
d’água elétrica para facilitar o serviço (uma bomba moradores gerará aproximadamente mil litros de
de ½ cv, por exemplo, é suficiente para levar o lí- fertilizante por mês e mais nada... Uma fossa sép-
quido tratado, com boa vazão, até um nível de 30 tica biodigestora instalada e em operação tem a
metros acima). Para terrenos planos ou levemente capacidade de eliminar 99% dos microrganismos
inclinados, uma bomba de ¼ cv é suficiente. Nun- (coliformes) que transmitem doenças, pratica-
ca esvazie a caixa coletora por completo, para evi- mente 100% dos sólidos em suspensão, 100% da
tar que flutue em um dia com muita chuva. Deixe turbidez e pelo menos 60% da demanda bioquí-
sempre, pelo menos, 15-20 centímetros de altura mica de oxigênio (DBO) presentes na água. En-
de água neste tanque. Já os módulos de fermenta- tretanto, o líquido ainda possui uma quantidade
(Foto: Wilson Tadeu Lopes da Silva)

Figura 11. Imagem de fossa séptica biodigestora instalada

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MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

relativamente grande de nitrogênio trientes, por serem solúveis, são facil-


e fósforo, por exemplo, o que limita o mente assimiláveis pela planta, o que
descarte em um rio, por exemplo. Ni- torna o líquido um excelente fertilizan-
trogênio, fósforo e potássio são nutrien- te. Entretanto, não adianta colocar em
tes importantes para qualquer cultura, excesso. Como é um líquido, o excesso
então, porque não usar o líquido como de nutrientes será transportado com a
fertilizante? É isso que os técnicos da água para o subsolo, ou escorrerá super-
Embrapa propõem. Com esse ato, reci- ficialmente, não sendo aproveitado pe-
clamos não somente os nutrientes, mas las plantas. A quantidade a ser aplicada
também a água. dependerá então do tipo de solo, quan-
Para o uso do biofertilizante (líquido tidade de nutrientes nele armazenada
tratado e armazenado na caixa coletora), e da cultura agrícola. Um engenheiro
deve-se fazer o uso dosado, como para agrônomo poderá auxiliar na dosagem
qualquer fertilizante. Trata-se de um lí- a ser aplicada. Poderá ser feita a incorpo-
quido de cor amarelo amarronzada, de- ração de fertilizante mineral para balan-
vido à presença de matéria orgânica dis- cear o fertilizante à exigência da cultura.
solvida. O líquido tratado praticamente Recomendamos o uso em pomares
não possui material em suspensão e (sem o uso de aspersão) e em capineiras.
apresenta um leve odor característico. Uma residência com cinco moradores,
De maneira geral, o biofertilizante apre- gerará algo em torno de 3 mil l de bio-
senta as seguintes características de fer- fertilizante por mês, sendo necessária,
tilidade: portanto, a retirada do líquido cada dez
dias aproximadamente da caixa coleto-
pH 8,0 ra (caso seja de mil l), sendo suficiente
Nitrogênio total (mg l-1) 500 para fertilizar um pequeno pomar do-
Fósforo total(mg l ) -1
50
méstico, por exemplo. O biofertilizante
possui uma quantidade de sais um pou-
Potássio (mg l ) -1
100
co maior do que aquela da água de um
Carbono (mg l ) -1
240
rio, sendo considerado ligeiramente sa-
lobro. Em função disso, o biofertilizante
O valor de pH, ligeiramente alcalino não deve ser a única fonte de água para
(8,0), indica que o biofertilizante corrige a planta, para evitar efeito de salinização
parcialmente a acidez do solo, e os nu- no longo prazo. Apesar de assustar um
(Foto: Wilson T. L. da Silva)

Figura 12. Comparação do aspecto visual de uma planta fertilizada com o EET
da fossa séptica biodigestora (à esquerda) com uma não fertilizada (à direita). As
plantas têm a mesma idade; a planta fertilizada recebeu doses de 50 l de efluente
tratado a cada mês, e a não fertilizada o mesmo volume em água

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pouco, esta recomendação é feita para o uso de biodigestora, em um curso d’água.


qualquer fertilizante, pois o excesso de aplicação • O efluente pode ser descartado em um sumi-
pode levar à salinização. A Figura 12 mostra bana- douro, da mesma maneira que apresentada
neiras fertilizadas ou não com o biofertilizante da para uma fossa séptica convencional. Também
fossa séptica biodigestora. Não existe problema pode passar por uma depuração em um “jar-
em ingerir o fruto. Aliás, pomares tratados com o dim filtrante” e, posteriormente, descartado na
biofertilizante da fossa séptica biodigestora geral- natureza.
mente produzem frutos muito saborosos.
Apenas para recapitular, algumas recomenda- Jardim filtrante
ções a respeito do uso do biofertilizante: Conforme dissemos anteriormente, a fossa sép-
1. Por conta de suas características de salinidade, tica biodigestora trata somente o esgoto oriundo
EET pela fossa séptica biodigestora não deve do vaso sanitário, conhecido tecnicamente como
ser utilizado como água de irrigação, mas, sim, “água negra”. O restante do esgoto da casa (pias,
como fertilizante; chuveiros, lavanderia, etc.), conhecido como “água
2. O uso deve ocorrer de maneira dosada, respei- cinza”, não pode ser jogado na fossa biodigestora
tando a necessidade da cultura, geralmente porque possui muito sabão e detergente, produ-
pela quantidade de nitrogênio, elemento nu- tos que matam as chamadas “bactérias do bem”,
tritivo presente em maior quantidade; que fazem a biodigestão. Assim, sabões e deter-
3. O EET não deve ser a única fonte de água para gentes inibem o processo de tratamento anaeró-
a cultura; bio. Daí surge a necessidade do uso de um sistema
4. O uso do efluente tratado como fertilizante de tratamento separado para este esgoto, cujos
deve ocorrer somente no solo; principais contaminantes são, além dos sabões e
5. Não usar o efluente tratado em fertilização foliar; detergentes, óleos, gorduras e restos de alimentos.
6. Não usar sistema de aspersão na irrigação, O jardim filtrante vem ao encontro dessa neces-
para evitar a dissipação de aerossóis; sidade e nada mais é que um pequeno lago imper-
7. Não utilizar o efluente tratado em hortaliças meabilizado, preenchido com pedra britada, areia
ou outras culturas que sejam ingeridas cruas; grossa e plantas aquáticas, conhecidas tecnica-
8. Não usar o efluente em áreas de preservação mente como “macrófitas aquáticas”. A água cinza
permanente, e; é conduzida ao sistema e nele purificada. Basica-
9. O manuseio do efluente deve ocorrer com o mente, estamos simulando o que acontece na vár-
uso de luvas, calças e calçados fechados. zea de um rio. Nesses locais, a contaminação que
vem da bacia fica parada na várzea, e as plantas e
Mas se eu não quiser utilizar o biofertilizante, microrganismos degradam a sujeira, impedindo a
posso jogá-lo em um rio ou lago? contaminação do rio.
Primeiro, é bom que se diga que não usar o bio-
fertilizante é quase como “rasgar dinheiro”. Todos Na prática, quando construímos um jardim fil-
sabemos que fertilizantes são caros e quando apa- trante, podemos dizer que estamos imitando a
rece um praticamente gratuito na nossa proprie- natureza...
dade, temos de aproveitar. Assim, antes de pen- O jardim filtrante desenvolvido na Embrapa é
sar em descartá-lo, faça testes no seu pomar ou um pequeno lago, muito bonito aliás, impermeabi-
cultura para conhecer o efeito do biofertilizante. lizado com uma borracha sintética (geomembrana)
Mesmo assim, caso não deseje aproveitá-lo, siga de EPDM ou PVC (protegido por uma membrana
as seguintes recomendações: geotêxtil, do tipo “Bidin”), para evitar que o líquido
• Como o biofertilizante tem muito nutriente, em tratamento entre em contato direto com solo.
caso seja jogado em um lago ou rio, pode pro- As dimensões mínimas do jardim filtrante propos-
porcionar o crescimento acelerado de algas, to para uma residência com até cinco moradores é
tornando a água esverdeada. É o que chama- dada por uma cova com 5 metros de comprimen-
mos tecnicamente de “eutrofização”, e que deve to, 2 metros de largura e 0,5 metro de profundi-
ser evitada. Portanto, não devemos descartar o dade. As laterais da cova devem possuir um corte
efluente, mesmo que tratado pela fossa séptica com ângulo de 45o (Figura 13). Nos lados opostos

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DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

do jardim filtrante são instalados os ca- (Figura 14b), bastante utilizado em tan-
nos de entrada e saída. O jardim tam- ques escavados para produção de pei-
bém pode ser construído em alvenaria, xes. Assim, sempre que entrar esgoto
com laterais em ângulo de 90o, mas, fresco de um lado do jardim, o aumento
neste caso, um engenheiro civil deverá do volume empurrará naturalmente o
ser consultado. Caso o sistema precise excesso de água, composta pelo líquido
ser alterado para atender um número tratado, pelo outro lado, sem que o agri-
maior de pessoas, deve-se aumentar cultor precise se preocupar.
a área superficial em pelo menos 2 m2 A cova, devidamente impermeabi-
(metros quadrados) por habitante, sem lizada com a geomembrana, é então
alterar a profundidade. Nessas condi- completada com uma camada de 25 cm
ções, o líquido fica, em média, dois dias de altura com pedra britada nº 2 ou 3.
sendo tratado no sistema. Caso pre- Sobre a pedra britada é colocada uma
tenda-se depurar também o efluente tela de mosquiteiro ou sombrite 70% e,
tratado da fossa séptica biodigestora, sobre esta, uma camada de areia grossa
deve-se montar o jardim com 3 m2 por de aproximadamente 20 cm. O nível da
habitante. água no interior do jardim filtrante deve
As conexões de entrada e saída ocor- ficar 2 a 3 cm abaixo do nível da areia,
rem nas extremidades opostas do jar- sendo controlado pela altura do “mon-
dim filtrante, utilizando-se tubos de es- ge” na saída do sistema (Figura 14a).
goto de 100 mm com flanges adaptadas Finalizada a instalação do meio fil-
para uso em geomembranas. A entrada trante e acertado o nível da água no
ocorre na parte superior do jardim, e a interior do jardim filtrante, serão então
saída, na parte inferior. Para controlar incorporadas as plantas. São colocadas
o nível da água no interior do jardim, plantas macrófitas aquáticas utilizadas
recomenda-se o uso de um arranjo de em paisagismo, para que o ambiente
tubos em formato de cachimbo, co- fique visualmente agradável. As plan-
nhecido popularmente como “monge” tas podem ser nativas ou não da re-

Figura 13.
Dimensões
propostas para
um jardim
filtrante para
residência
com até cinco
moradores

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A B
NÍVEL DA ÁGUA NÍVEL DA AREIA

NÍVEL DA BRITA

MONGE

Figura 14. (A) Detalhes da instalação do controlador de nível do jardim filtrante (monge) e (B) foto de um sistema instalado

gião, mas desde que estejam bem adaptadas ao sólidos podem ser compostados ou descartados
clima local. São recomendadas plantas como pa- em coleta de lixo urbano. A Figura 15 apresenta
piro (Cyperus papyrus), lírio-do-brejo (Hedychium um esquema, e a Figura 16, uma foto de um jardim
coronarium), taboa (Typha domingensis), entre filtrante montado.
outras que apresentam grande crescimento ve- As plantas do jardim filtrante devem ser mane-
getativo, com outras plantas que vão compor jadas para evitar proliferação desordenada. Isso é
o ambiente, como copo-de-leite (Zantedeschia importante, pois o excesso de raízes pode entupir
aethiopica), inhame (Alocasia), helicônias (Helico- os poros do jardim, diminuindo sua eficiência. Com
niaceae), entre outras. Com o passar do tempo, o passar dos anos, ocorre o acúmulo de sólidos,
pólen de outras plantas naturalmente será inse- dificultando a passagem do líquido pelo sistema.
rido no sistema (vento, pássaros, insetos, etc.), e Quando isso ocorrer, todo o material deve ser retira-
estas deverão ser manejadas ao gosto do usuário. do, a brita, lavada e a areia, substituída, com poste-
É interessante que haja biodiversidade, para que rior recolocação dos componentes no sistema. Não
contaminantes e nutrientes sejam mais bem ab- será necessária remoção ou substituição da geo-
sorvidos pelas diferentes plantas. Deve-se notar membrana, a não ser que seja observado algum
também que o processo de tratamento não ocor- vazamento. Recomenda-se somente a substituição
re somente pelas plantas, mas também pelos mi- do Bidin colocado logo acima da geomembrana.
crorganismos, que se multiplicam e serão mais O jardim filtrante remove do esgoto toda a
numerosos em quantidade e variedade quanto gordura e os sólidos em suspensão, praticamente
maior for a biodiversidade de plantas. todos os sabões e detergentes e corrige a acidez
Antes de o esgoto ser inserido no jardim fil- da água. Assim, o líquido tratado que sai do jar-
trante em si, é necessário que seja feito um trata- dim filtrante pode ser descartado diretamente em
mento prévio para retirada de sólidos decantáveis um curso d’água ou em um sumidouro. Também
e gordura. Para isso, são instalados, previamente pode ser usado em irrigação, desde que não en-
ao jardim, uma caixa de retenção (decantação) de tre em contato direto com alimentos que sejam
sólidos, que nada mais é que uma caixa d’água de ingeridos crus, mas o líquido não possui efeito
100 l, e uma caixa de gordura. Estes dois processos fertilizante. Essa água pode também ser usada na
simples melhoram muito a eficiência do jardim fil- limpeza de áreas comuns e na limpeza mais gros-
trante, já que retiram boa parte dos sólidos decan- seira de máquinas agrícolas. Caso deseje reutilizar
táveis e suspensos, além de aumentar considera- a água, será preciso instalar uma caixa d’água ou
velmente o tempo de vida útil do jardim filtrante. um tanque para armazenar a água tratada. Uma
Tanto a caixa de retenção de sólidos quanto a cai- residência com cinco moradores produzirá apro-
xa de gordura devem ser limpas cada três meses ximadamente 500 litros de líquido tratado pelo
para retirada do material retido. Esses materiais jardim filtrante por dia.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

(Arte: Valentim Monzane)

Figura 15. Representação esquemática de um jardim filtrante


(Foto: Pedro Hernandes)

Figura 16.
Jardim filtrante
instalado no
Sítio São João,
em São Carlos/
SP

Caso queira mais informações sobre as tecnologias da Embrapa, você encontrará


vídeos explicativos no site do YouTube, a saber:

Fossa Saneamento básico na área rural


https://goo.gl/bHiBqx

Neste vídeo são apresentados os conceitos básicos e imagens da instalação da


fossa séptica biodigestora e do clorador Embrapa.

Jardim filtrante - saneamento básico na área rural


https://goo.gl/ia1nBw
Este vídeo mostra o jardim filtrante.

Caso tenha dúvidas a respeito das tecnologias apresentadas, entre em contato


com a Embrapa por meio do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), no seguinte
endereço na internet: www.embrapa.br/fale-conosco.

“Saneamento básico é sinônimo de saúde! Pense nisso e certamente não irá se


arrepender.”

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AMPA
AMPA
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2012

Referências bibliográficas

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Norma NBR 13969:1997 -


Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final dos
efluentes líquidos - Projeto, construção e operação. 1997. Disponível em: http://www.
abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=003633

BRASIL - Ministério da Saúde. Portaria nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011. Dis-


põe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 17 de


março de 2005. Diário Oficial da União. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para seu enquadramento, bem como estabelece as con-
dições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução no 375, de 29 de


agosto de 2006. Diário Oficial da União. Define critérios e procedimentos, para o uso
agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário
e seus produtos derivados, e dá outras providências.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 430, de 13 de


maio de 2011. Diário Oficial da União. Dispõe sobre as condições e padrões de lan-
çamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de
2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.

CREA-PR. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná.


Uso e reuso de água. 2010. (Série de Cadernos Técnicos da Agenda Parlamentar).

FLORENCIO, L.; BASTOS, R.K.X.; AISSE, M.M. Reúso das águas de esgoto sani-
tário inclusive desenvolvimento de tecnologias de tratamento para esse fim. Rio
de Janeiro: ABES, 2006. 427 p.

NOVAES, A.P.; SIMÕES, M.L.; MARTIN NETO, L.; CRUVINEL, P.E.; SANTANA, A.;
NOVOTNY, E.H.; SANTIAGO, G.; NOGUEIRA, A.R.A. Utilização de uma fossa sép-
tica biodigestora para a melhoria do saneamento rural e desenvolvimento da
agricultura orgânica. Comunicado Técnico 46, EMBRAPA, 2002. 5 p.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Resíduos sólidos:
o que fazer com eles
Introdução que a água e o esgoto têm regras e nor-
Wilson Tadeu Continuando a ideia do “faça a coisa mas para tratamento e disposição final
Lopes certa”, agora traremos algumas infor- no meio ambiente, isso também ocor-
da Silva mações a respeito dos chamados re- re com o lixo. Do ponto de vista legal,
Embrapa
Instrumentação
síduos sólidos. Como o próprio nome existe a Lei nº 12.305/2010, que institui
wilson.lopes-silva@ diz, são aqueles resíduos que não são a Política Nacional de Resíduos Sólidos
embrapa.br líquidos ou gasosos. Podemos colocar (PNRS). Nesta lei, é instituído que a res-
nesta categoria o lixo residencial, em- ponsabilidade pela correta disposição
balagens de agroquímicos, entulho de dos resíduos (por exemplo, o lixo) é
construção civil, fezes misturadas com de responsabilidade de todos. A partir
urina de animais em confinamento, etc. desta lei, iniciaram-se os trabalhos para
Cada tipo de resíduo sólido tem seu po- a elaboração do Plano Nacional de Resí-
tencial de contaminação ambiental e duos Sólidos, publicado em sua versão
de transmissão de doenças, dependen- preliminar no ano de 2011 e que, até
do de suas características microbiológi- a publicação deste manual, não havia
cas e químicas, bem como da quantida- sido promulgado.
de gerada. A PNRS deixa claro que o descarte de
Por exemplo, o lixo residencial é bas- qualquer resíduo sólido só poderá ocor-
tante complicado para transmissão de rer se for feito seguindo todos os crité-
doenças e contaminação ambiental, rios para que o meio ambiente não seja
mas a quantidade gerada por uma fa- poluído. Desta forma, é terminantemen-
mília é relativamente pequena e, assim, te proibido o descarte do lixo em qual-
ações simples podem ser tomadas para quer lugar e, portanto, não podemos ter
evitar a poluição causada por esse resí- valas ou pequenos “lixões” para descarte
duo. Já as embalagens de agroquími- de lixo ou outros resíduos sólidos (mes-
cos usadas podem ser extremamente mo que pequenos) em nossas proprie-
nocivas ao meio ambiente e à saúde dades. Da mesma forma que ocorre com
das pessoas, requerendo ações mais o esgoto, caso o lixo seja descartado de
criteriosas. maneira incorreta, a degradação dele irá
Neste capítulo, descreveremos algu- gerar um líquido, de cor escura e mal-
mas ações relativas à destinação corre- cheiroso, conhecido como chorume,que
ta de alguns resíduos sólidos. é muito tóxico e contaminante, porque
arrasta toda a podridão e poluição do
Lixo residencial lixo para o solo. Com o passar do tem-
Apesar de representar um volume po, o chorume vai contaminar as águas
relativamente pequeno na proprieda- subterrâneas com produtos químicos e
de rural, começamos pelo lixo, porque microrganismos transmissores de doen-
afeta a todos. Além disso, muitas das ças. Lembrando que lixo colocado em
normas empregadas para o lixo resi- qualquer lugar também atrai ratos, ba-
dencial são também válidas para outros ratas, moscas, aves, que levam doenças
resíduos. para todo lado. Isso sem contar o mau
O lixo é parte integrante do sanea- cheiro...
mento básico, entretanto está colocado O lixo também não pode ser quei-
em outra categoria, conhecida como mado. Sua combustão gera uma série
“Resíduos Sólidos”. Da mesma forma de substâncias tóxicas que podem, in-

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clusive, causar câncer e doenças respiratórias gra- do em pequenas composteiras e, assim, gerar
ves, entre outras tantas. Desta forma, pense que um adubo orgânico excelente para germinação
cuidando adequadamente do lixo, você estará de sementes, por exemplo. Para a produção de
protegendo não só você e sua família, mas todo o uma pequena composteira, recomendamos que
ambiente ao seu redor. seja separada uma pequena área (10 m² são su-
ficientes), em um local que não fique ao lado da
Então, o que fazer com o lixo? casa, tampouco distante a ponto de desanimar
O correto é separar em grupos e reciclar tudo quem for transportar os resíduos. Se você não ti-
o que for possível. Todo lixo residencial — não es- ver condição de fazer uma compostagem, esse
tão incluídos nessa categoria resíduos de constru- lixo deverá ser ensacado e enviado para coleta
ção civil, móveis e eletroeletrônicos, por exemplo urbana.
— pode ser separado em quatro grandes grupos Para a compostagem desse material, caso sua
de resíduos conhecidos como: família seja grande (seis pessoas ou mais), reco-
1. Lixo seco inerte, composto por papéis, pape- mendamos a montagem de uma pequena leira
lões, plásticos, vidros, metais e embalagens (monte). Para montagem diária da composteira,
tetrapak (longa-vida); faça da seguinte maneira: pense em um monte
2. Lixo úmido ou orgânico, composto por restos com um diâmetro na base de aproximadamente 1
de alimentos; metro. Vá colocando, de maneira alternada, os res-
3. Lixo seco não inerte, composto de pilhas, ba- tos de alimentos e cubra-os com igual volume de
terias e lâmpadas fluorescentes, e; um material fibroso, como palha e poda de jardi-
4. Outros, composto por produtos como papel nagem, por exemplo. Vá incorporando diariamen-
higiênico, absorvente higiênico, fraldas des- te material fresco ao monte até atingir algo entre
cartáveis, medicamentos vencidos, ataduras, 80 cm e 1 metro de altura e inicie outro monte.
embalagens de isopor, etc. Quando acontecer isso, faça a aeração do monte
A primeira coisa que devemos fazer é separar antigo, removendo todo o conteúdo pelo menos
os diferentes grupos e armazená-los em locais uma vez por semana, até o interior não ficar mais
adequados. quente (isso deverá demorar algo em torno de 60
O lixo seco inerte deve ser armazenado em dias). A partir daí, o composto está pronto para ser
sacos plásticos e em local seco. É um material re- usado. Às vezes, é necessário passar o composto
ciclável e pode ser vendido em ferros-velhos ou produzido por uma malha grossa (como uma tela
doados a catadores individuais e/ou cooperati- de galinheiro, por exemplo) para retirar algum
vas. Mais de 50% do volume do lixo que geramos material mais grosseiro.
é composto por esta categoria. Antes do arma- Já para famílias menores, a Embrapa Amapá
zenamento, recomendamos que sejam sempre desenvolveu um sistema simplificado, que se vale
minimamente limpos (preferencialmente enxa- de baldes para compostagem de lixo orgânico. A
guados), principalmente se tiverem restos de ali- forma de montagem é bastante simples e pode
mentos, para evitar mau cheiro e que atraia ani- ser encontrada no sítio eletrônico http://www.
mais e insetos. Fazendo isso, é possível armazenar cpafap.embrapa.br/interagindo/index.php/pt-br/
esses resíduos por vários meses, até que seja pos- construa-sua-propria-composteira-caseira. Uma
sível seu encaminhamento para reciclagem. representação esquemática da composteira é
O lixo orgânico pode ser separado e coloca- mostrada na Figura 1.

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

(Arte: Fábio S. Martins)

Figura 1.
Esquema de
montagem da
composteira
doméstica
divulgada pela
Embrapa Amapá
(adaptado do
material de
divulgação
produzido
pela Embrapa
Amapá e pela
Interagindo
Projetos
Agroecológicos)

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O lixo seco não inerte é composto de materiais duos sólidos de maneira geral.
que possuem substâncias químicas tóxicas, princi- A partir da Lei nº 9.974/2000, criou-se o pro-
palmente mercúrio e chumbo, conhecidos como grama “Sistema Campo Limpo”, que trata espe-
metais pesados. Esse lixo não pode ser descartado cificamente deste trabalho. A responsabilidade
em qualquer lugar e não pode fazer parte do lixo pela destinação correta do resíduo sólido gerado
comum. Ele deverá ser armazenado em sacos plás- é compartilhada por todos os membros da cadeia,
ticos, em locais abrigados e descartado em locais incluindo o produtor.
adequados. Como o volume é pequeno, é possível Na internet, no site do inpEV (Instituto Nacio-
armazenar com facilidade em nossa casa. A PNRS nal de Processamento de Embalagens Vazias),
estipula que todo local que comercialize esses existe toda uma descrição do que seria o concei-
produtos deverá ter uma área para recebimento e to da responsabilidade compartilhada, conforme
armazenamento adequado e posterior envio para apresentado na Figura 2.
tratamento. Caso não haja isso na sua cidade, pode Você e sua equipe são responsáveis pelo uso
exigi-lo, porque é lei. correto dos agroquímicos e pelo armazenamento
Quanto aos outros resíduos, não há muito o correto das embalagens utilizadas até seu envio
que fazer. Eles não são recicláveis por isso devem para as unidades de recebimento de embalagens.
ser armazenados em sacos separados e colocados Para isso, observe as seguintes recomendações:
para coleta de lixo urbano. Caso tenha medica- • Ao usar o agroquímico, faça a tríplice lavagem.
mentos vencidos em sua casa, algumas farmácias Para isso, preencha a embalagem com aproxima-
possuem também locais para recebimento, similar damente 10% do volume com água (ou aquilo
ao caso das pilhas e baterias. que o fabricante recomendar), tampe-a, agite
Se você fizer a separação e destinação dos dife- bem e coloque o líquido no sistema de pulveriza-
rentes grupos de resíduos e a compostagem dos ção. Repita este procedimento três vezes;
resíduos orgânicos, conforme explicado acima, • Após a tríplice lavagem, fure a embalagem,
somente algo em torno de 10% do que geramos para que ela não seja mais reutilizada;
irá para a “lata do lixo”. Lembre-se: nunca descar- • Armazene a embalagem em construção especí-
te esse lixo em locais que não sejam adequados, fica com cadeado, protegida da chuva, do sol e
para evitar sua contaminação, dos seus entes de animais (grandes ou pequenos). O local deve
queridos e de toda a natureza. ser bem aerado para evitar o acúmulo de gases
tóxicos e também deve ter piso de concreto,
Embalagens de agroquímicos para evitar que algum líquido penetre no solo.
Embalagens de agroquímicos (também conhe- Caso algum líquido escorra pelo piso, este deve
cidos como pesticidas) já são recicladas há um ser conduzido para uma caixa coletora e ser de-
bom período, e, certamente, qualquer agricultor vidamente tratado a posteriori. Um modelo de
que os utiliza já sabe disso. A Lei no 9.974, de 6 de construção de um armazém de embalagens de
junho de 2000, trata especificamente do registro, agroquímicos é mostrado no capítulo de insta-
produção, comercialização, uso e disposição cor- lações rurais deste manual.
reta das embalagens dos agroquímicos utilizados • Envie as embalagens utilizadas para o posto de
no Brasil. Esta lei possibilitou que fosse formada recebimento indicado na nota fiscal de compra
toda uma estrutura, conhecida como logística dos agroquímicos.
reversa, visando o recebimento das embalagens Ao entregar as embalagens vazias, não se es-
utilizadas de agroquímicos, para reciclagem ou queça de pegar o comprovante de entrega. Isso é
incineração do resíduo. Esta lei foi suplantada, em importantíssimo para fins de fiscalização.
alguns aspectos relativos à logística reversa das • Guarde os comprovantes por um ano. Fazendo
embalagens, pela Política Nacional de Resíduos isso, você estará em acordo com a lei e com o
Sólidos (a Lei nº 12.305/2010), que trata dos resí- meio ambiente.

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MANUALDE
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SANEAMENTO
PRÁTICAS
(Fonte: inpEV. www.inpev.org.br/sistema-campo-limpo/elos-do-sistema)

Figura 2. Responsabilidade compartilhada das embalagens de agroquímicos, conforme o “Sistema Campo Limpo”

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E o que fazer com os restos de agroquímicos que GUES et al., 2008; DARTORA et al., 1998). De qual-
ficam no equipamento ou na limpeza dos equi- quer maneira, basta fazer as contas: quanto maior a
pamentos de proteção individual? produção, maior a quantidade de resíduos...
Todo o sistema de pulverização de agroquími- Na produção extensiva, como a taxa de ocupa-
cos, bem como vestimentas utilizadas, deve ser ção é baixa (poucas cabeças por hectare), os re-
limpo após o uso, em local exclusivo para isso. O lí- síduos das excretas são dispersos e degradam-se
quido da limpeza deve ser tratado em local especí- no próprio pasto e, no final, fertilizam o solo, não
fico para descarte ou armazenado para tratamento representando problema ambiental.
posterior, não podendo ser descartado sem trata- Já na produção intensiva, a conversa é outra.
mento. Cada agroquímico tem uma característica Muitos animais confinados em pequenas áreas
química e de toxidade. Recomendamos entrar em acumulam quantidades muito grandes de resí-
contato com o fabricante e/ou representante para duos. Estes, se descartados de maneira inadequa-
saber a melhor forma de tratamento a ser adotada. da, irão contaminar o solo, a água e o ar. O solo
e a água são contaminados pelo excesso de nu-
Resíduos de combustíveis, óleos lubrificantes e trientes, sais e matéria orgânica, podendo levar
graxas a efeitos de salinização do solo em médio/longo
Geralmente, a manutenção de máquinas e prazos, comprometendo a fertilidade. Além da
equipamentos gera resíduos contaminados com contaminação química, também existe a conta-
derivados de petróleo, incluindo combustíveis, minação microbiana, que pode levar a uma série
óleos lubrificantes, graxas, filtros, embalagens, pa- de doenças, que vão desde verminoses a outras
nos, papéis contaminados, etc. mais sérias, como a hepatite, por exemplo. O ar é
Esses materiais também não podem ser des- contaminado pelos gases gerados pela degrada-
cartados no ambiente, tampouco queimados sem ção dos resíduos, sendo alguns malcheirosos, que
critério, sendo necessário recolhimento para trata- geralmente contêm enxofre na sua composição, e
mento posterior, semelhante ao que ocorre com outros, que não possuem cheiro, mas que são ex-
as embalagens de agroquímicos. Os fabricantes tremamente poluidores, como é o caso do meta-
dos produtos devem possuir um sistema de logís- no, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa
tica reversa para recolher os materiais e enviá-los e consequentes mudanças climáticas.
para o devido tratamento. Assim, é preciso pensar no que fazer, e o que
Caso exista um posto de abastecimento de fazer dependerá das características do local do
combustível na propriedade, este deverá estar confinamento (impermeabilização do solo, uso de
licenciado no órgão ambiental (Sema, no caso água no manejo para dessedentação e limpeza,
de Mato Grosso), conforme preconiza a resolu- drenagem pluvial, etc.) e da quantidade de resí-
ção Conama no 273 (CONAMA, 2000), atualizada duos gerada por dia.
posteriormente pelas resoluções nº 276 e nº 319 Por exemplo, um confinamento de gado a céu
(CONAMA, 2002), do mesmo órgão. Estas normas aberto e sem nenhum revestimento no solo deverá
também preveem os cuidados com os resíduos ter a limpeza da área por raspagem dos resíduos,
gerados nessa atividade. diariamente, de preferência. Esta limpeza é impor-
tante por questões de higiene e também para o
Resíduos da produção animal controle da mosca-dos-chifres e bernes, entre ou-
A produção animal gera muito resíduo sólido, tros parasitas. O resíduo, neste caso, deve ser enca-
principalmente composto por fezes e urina. Ape- minhado a um pátio de compostagem. Já a cama
nas para exemplificar, um bovino defeca, em mé- de aviário poderá ser vendida como fertilizante,
dia, 28 quilos de fezes frescas, mais 20 litros de urina logo após a retirada da área de produção das aves
por dia. No mesmo período, um suíno elimina, em ou poderá ser compostada.
média, 2,35 quilos de fezes e 3,45 litros de urina. Es-
ses valores variam, dependendo das características Como organizar um pátio de compostagem
do animal, como sexo, tamanho, raça, bem como A compostagem é feita pelo homem há milê-
fatores ambientais, como temperatura e umidade, nios, podendo ser definida como um processo de
além da digestibilidade da alimentação (RODRI- transformação e humificação de resíduos orgâni-

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

cos por meio da ação de microrganis- umidade com maior facilidade, levan-
mos aeróbios (na presença do ar), em do à necessidade de maior consumo
condições minimamente controladas. de água para umedecer o material. Lei-
Os microrganismos (bactérias, fungos e ras com dimensões iniciais entre 1 m x
leveduras) trabalham em simbiose (um 4 m (aproximadamente 3,5m³) a 1,8 m
ajudando e/ou controlando o outro) x 10 m (aproximadamente 30 m³) de-
e só funcionam de forma eficiente se verão funcionar bem, entretanto isso
tudo estiver em ordem (disponibilidade deve ser avaliado por meio do volume
de nutrientes, temperatura, umidade e gerado diariamente, da capacidade de
aeração). O processo é relativamente manejo do processo e da observação
simples, entretanto requer alguns cui- de outros parâmetros que serão descri-
dados, que serão descritos a seguir. tos abaixo. Recomenda-se que, sempre
Preferencialmente, o resíduo a ser que possível, não se demore mais que
compostado não deve estar encharca- 3-4 dias para completar uma leira.
do com água, tampouco muito seco. Se Ao montar a leira, deverá ser levado
o material estiver muito úmido, reco- em consideração o espaço para o revol-
menda-se deixá-lo em um pátio imper- vimento que, dependendo do tamanho,
meabilizado por 1 a 2 dias, para escorrer poderá ser feito manualmente, com o
o líquido, que deverá ser recolhido em uso de uma pá carregadeira, ou até de
um tanque (chorumeira). Este material máquinas especialmente desenvolvidas
deverá ser utilizado como um bioferti- para isso. Um exemplo de utilização de
lizante no pasto,pois é um líquido rico um pátio é aquele onde as leiras são co-
em nitrogênio e potássio. locadas lado a lado, sendo o último es-
Para a compostagem em si, deve-se paço do pátio reservado para o revolvi-
montar pilhas de compostagem(leiras) mento (Figura 3). As leiras são revolvidas
em um pátio, de preferência sobre uma no sentido de ocupar os espaços vazios
superfície onde não ocorra contato criados pelo revolvimento da leira ante-
com o solo, caso se deseje um material rior e assim sucessivamente. Se possível,
de melhor qualidade. Se o pátio for im- é interessante pensar em um arranjo
permeabilizado, mas não coberto, é re- de espaço que possibilite a entrada do
comendado também que o líquido que composto fresco por um lado do pátio,
escorre do material em dias de chuva e, conforme o material for sendo revira-
seja recolhido em uma caixa, para uso do, ocorra o transporte para outro pon-
como fertilizante. to, na saída do pátio.
O formato mais recomendado da A compostagem é um processo mi-
leira é onde um prisma deitado (ses- crobiano aeróbio (feito pelos microrga-
são triangular), com altura mínima de 1 nismos que necessitam de ar). As leiras,
metro e máxima de 1,8 metro. A largura caso não sejam revolvidas periodica-
dependerá da altura da leira, mas, para mente, podem apresentar bolsões in-
esterco bovino, a largura da base deve- ternos em que falte oxigênio, tornando
rá ser aproximadamente o dobro da al- o processo de compostagem mais lento
tura, ou um pouco mais. Alturas maio- e produzindo mau cheiro. Para evitar
res de 1,8 m poderão ser empregadas, esse problema, as leiras devem ser pe-
desde que o tempo entre um revolvi- riodicamente revolvidas. Um prazo re-
mento e outro seja diminuído ou sejam comendado de revolvimento é:
empregados sistemas de aeração força- • cada três dias na primeira quinzena;
da. Leiras de compostagem muito bai- • cada sete dias nos próximos 28 dias, e;
xas ou com volumes muito pequenos • cada catorze dias no restante do pro-
não aquecerão bem, comprometendo cesso.
a compostagem, bem como perderão Para o revolvimento, necessariamen-

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Espaço reservado para


revirar as leiras
Sentido para revirar as leiras
primeiro “tombo”

Figura 3. Exemplo de utilização de pátio (vista superior)

te a leira deverá mudar de posição. Esse procedi- ser evitadas, pois podem matar os próprios micror-
mento garante que todo o material foi aerado. Em ganismos que processam o material. Com o passar
geral, compostagens conduzidas corretamente le- dos dias, a temperatura cai lentamente, e, ao final da
vam em torno de 90 dias para completar sua fase compostagem, a leira esfria, passando para a tem-
termofílica (quando a temperatura no interior é peratura ambiente, entrando no seu estado de ma-
alta e ocorrem as maiores transformações do ma- turação. Neste ponto, o material já está compostado
terial). O processo de revirar faz com que o mate- e pode ser depositado no solo. Uma forma simples
rial torne-se também mais homogêneo. de avaliar a temperatura é perfurar a leira com uma
barra de ferro, até que esta penetre 60 cm ou mais,
Como saber se o processo de compostagem está e deixá-la ali por cinco minutos. Ao retirar-se a bar-
indo bem ra, no toque, deverá ser observado que a barra está
A temperatura é o parâmetro mais importante quente, mas não ao ponto de queimar a mão. Se es-
para ser acompanhado. Leiras bem aeradas apre- tiver muito quente, é hora de revolver a leira.
sentam em seu interior (50 cm de profundidade ou A umidade é outro parâmetro importante. O
mais) temperaturas variando entre 50 e 60 graus, material não pode estar encharcado com água,
podendo alcançar até maiores, caso exista uma mas também não pode estar muito seco. Umida-
grande quantidade de nutrientes para os microrga- de em torno de 60% é a ideal. Uma forma de se
nismos. Essa temperatura, após vários dias, é capaz determinar a umidade é por meio da secagem de
de eliminar microrganismos transmissores de doen- algumas amostras do material (500 gramas cada)
ças e também inviabilizar a maioria das sementes em estufa, espalhada em bandeja, a 110°C por 24
de plantas que, porventura, possam estar incorpo- h, e determinar a massa perdida (água), compa-
radas ao material (inclusive as chamadas “plantas rando-a com a massa inicial colocada na estufa. O
daninhas”). Temperaturas acima de 65°C devem cálculo é feito da seguinte forma:

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PRÁTICAS

% Umidade = [(massa inicial da amostra) - (massa da amostra seca)] x 100

(massa inicial da amostra)

Excesso ou falta de água irão afetar dade de resíduos e o acompanhamento


a atividade microbiana, que será cla- do processo darão a real dimensão das
ramente refletida pela diminuição da leiras e do pátio como um todo. Com es-
temperatura. Excesso de água poderá tes cuidados, o composto deverá estar
proporcionar mau cheiro, porque pode estabilizado em um período aproximado
produzir bolsões de anaerobiose (sem de três meses, podendo ser um pouco
oxigênio) no interior da leira, fazendo maior ou menor, dependendo de como
com que o resíduo fermente em vez o processo foi conduzido.
de sofrer compostagem. Caso o mate-
rial esteja muito seco, convém aguá-lo. E os biodigestores?
O funcionário responsável pela ope- Existem alternativas para o trata-
ração, em pouco tempo, conseguirá mento de resíduos da produção animal,
reconhecer se o material precisará ou como o uso de biodigestores anaeró-
não de água. Quanto maior o volume bios. Esses sistemas só funcionam em
da leira, menor a perda de umidade áreas de confinamento com piso im-
para o ambiente. permeabilizado, e que passem por um
O volume da leira também é outro processo diário de limpeza com água.
parâmetro fácil a ser observado. O pro- Por este motivo, geralmente são utili-
cesso de compostagem faz o material zados para tratamento de resíduos da
perder massa, principalmente como suinocultura, que tradicionalmente se
gás carbônico. Ao final do processo, as utiliza deste processo de limpeza. Para
leiras diminuem de 1/3 a 2/3 de seu vo- o resíduo fermentar em um biodigestor,
lume original. ele deve ser fresco. Desta forma, não
O material, durante a compostagem, adianta armazenar por vários dias o es-
rapidamente perde o cheiro de esterco e terco ao ar (na área de confinamento ou
tende a ter o “cheiro de terra”, não poden- outro local) para depois fermentá-lo em
do apresentar odores fortes. Mau cheiro um biodigestor.
em uma compostagem indica que esta O material sofre uma fermentação
não está sendo corretamente aerada e, anaeróbia e, após alguns dias fer-
portanto, necessita ser revirada. mentando, temos como produtos o
Em termos nutricionais para as plan- líquido tratado, que é um excelente
tas, o composto gerado tende a ser tam- biofertilizante, e o biogás, que é uma
bém pobre em nutrientes (apesar de mistura de vários gases, mas, princi-
possuir uma quantidade significativa palmente, o metano e o gás carbôni-
de nitrogênio e fósforo), sendo utilizado co. O biofertilizante deve ser utilizado
corriqueiramente como condicionador de maneira dosada (como qualquer
de solo (que visa melhorar as caracterís- fertilizante, aliás), em fertirrigação.
ticas físico-químicas do solo, como tex- Para dosar, geralmente se leva em
tura, estrutura, capacidade de reter água consideração a quantidade de nitro-
e nutrientes, etc). Análises de fertilidade gênio total, que está na faixa de 400
do composto são importantes para afe- a 700 gramas/mil litros de efluente. O
rir a qualidade e indicação de uso do efluente tratado não pode ser descar-
produto. tado em rios ou lagos, pois ainda não
A infraestrutura disponível (máquinas possui qualidade para lançamento
e homens), o espaço disponível, a quanti- em corpos d’água, como preconiza as

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(Foto: Wilson T. Lopes da Silva)

Figura 4. Imagem de um biodigestor anaeróbio do tipo “lagoa coberta”

resoluções Conama 357 e 430 (CONAMA,2005 mos ter em mente a filosofia dos “3 Rs”: Reduzir,
e 2011). O biogás é um combustível que deve Reutilizar e Reciclar. Alguns procedimentos de
necessariamente ser queimado e pode ser uti- tratamento trazem retorno econômico, mas, ge-
lizado para o aquecimento de granjas, uso do- ralmente, armazenamento e/ou tratamento de
méstico como gás de cozinha, ou alimentando resíduos implica em custos. Portanto, pense nisto:
motogeradores e gerando eletricidade. É melhor tratar e/ou reciclar de maneira segura
A Embrapa Suínos e Aves (www.embrapa.br/ um resíduo do que contaminar o meio ambiente,
suinos-e-aves) possui uma série de publicações mas é muito melhor, sempre que possível, não ge-
a respeito do uso de biodigestores anaeróbios, rar resíduo algum!
que vão desde como dimensionar um biodiges- Avalie sua propriedade e veja o que pode ser
tor até o uso do biogás e do biofertilizante. Se feito para diminuir a quantidade de resíduo ge-
você tem interesse no tema, vale a pena olhar. rada. Converse com os colaboradores. Gestão
de resíduos, entre outras facetas da gestão am-
Considerações finais biental, é uma obrigação de todos, desde o mais
Quando falamos de resíduos, sempre deve- simples dos empregados até o proprietário.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Referências bibliográficas

BRASIL.Lei no 9.974, de 6 de junho de 2000. Altera a Lei nº 7.802, de


11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação,
a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agroquímicos,
seus componentes e afins, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9974.htm

BRASIL.Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010.Institui a Política Na-


cional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n°9.605, de 12 de fevereiro
de 1998,e dá outras providências.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos


Sólidos. Versão preliminar. Agosto de 2012. Disponível em: http://
www.sinir.gov.br/web/guest/plano-nacional-de-residuos-solidos

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº


273, de 29 de novembro de 2000. Diário Oficial da União. Estabelece
diretrizes para o licenciamento ambiental de postos de combustíveis e
serviços e dispõe sobre a prevenção e controle da poluição.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 319,


de 4 de dezembro de 2002. Diário Oficial da União. Dá nova redação
a dispositivos da Resolução CONAMA no 273/00, de 29 de novembro
de 2000, que dispõe sobre a prevenção e controle da poluição em
postos de combustíveis e serviços.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº


357, de 17 de março de 2005. Diário Oficial da União. Dispõe sobre
a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 430, de


13 de maio de 2011. Diário Oficial da União. Dispõe sobre as condições e pa-
drões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº 357,
de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.

DARTORA, V.;PERDOMO, C.C.; TUMELERO, I.L. Manejo de dejetos


de suínos. Boletim Informativo Bipers, ano 7, número 11. Embrapa/
Emater/RS, 1998. 33p. Disponível em: http://docsagencia.cnptia.em-
brapa.br/suino/bipers/bipers11.pdf.

RODRIGUES, A.M.;CECATO, U.; FUKUMOTO, N.M.; GALBEIRO, S.;


DOS SANTOS, G.T.; BARBERO, L.M. Concentrações e quantidades
de macronutrientes na excreção de animais em pastagem de ca-
pim-mombaça fertilizada com fontes de fósforo. Revista Brasileira
de Zootecnia, v.37, p.990-997, 2008.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Armazenamento, embalagens e resíduos,


segurança do trabalhador e EPI
1. Nomenclatura e principais usos tram que os inseticidas são os principais
Maria A classificação dos agroquímicos, por causadores das intoxicações humanas
Aparecida finalidade de uso, é definida pelo poder ocorridas no campo, validando os tipos
Peresde de ação do ingrediente ativo sobre or- de agroquímicos como fatores de risco.
Oliveira
ganismos-alvo, como inseticidas, fungi- Os agroquímicos são conhecidos por di-
UFMT
mapeoli@gmail.com cidas, herbicidas, acaricidas, reguladores, versos nomes, dentre eles, praguicidas,
inibidores de crescimento. pesticidas, defensivos agrícolas, vene-
Dentre todas as classes, as mais utili- nos, biocidas, mas o termo correto no
zadas são os herbicidas, os inseticidas e Brasil, de acordo com a Lei Federal nº
os fungicidas. Vários estudos demons- 7.802/89, é agrotóxico.

Tonny José
Araújo da Silva
UFMT

Edna Maria
Bonfim da Silva
UFMT

Jackelinne
Valéria
Rodrigues de
Sousa
UFMT

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Essa lei define os agroquímicos e afins como dado pelo fabricante, que tem grafia própria e
produtos e componentes de processos físicos, é propriedade particular do registrante. O nome
químicos ou biológicos destinados ao uso nos comercial é registrado no Ministério da Agricul-
setores de produção, armazenamento e benefi- tura, para comercialização no país. Normalmen-
ciamento de produtos agrícolas, nas pastagens, te é identificado pelo símbolo® à direita e acima
na proteção de florestas nativas ou implanta- do nome.
das e de outros ecossistemas, bem como em
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja 2. Armazenamento
finalidade seja alterar a composição da flora e O armazenamento de agroquímicos, seus
da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa componentes e afins obedecerá à legislação vi-
de seres vivos considerados nocivos. Só pode- gente e às instruções fornecidas pelo fabrican-
rão ser produzidos, exportados, importados, te, inclusive especificações e procedimentos
comercializados e utilizados, se previamente a serem adotados no caso de acidentes, derra-
registrados em órgão federal, de acordo com mamento ou vazamento de produto e, ainda, às
as diretrizes e exigências dos órgãos federais normas municipais aplicáveis, inclusive quanto à
responsáveis pelos setores da saúde, do meio edificação e à localização.
ambiente e da agricultura. As regras para o armazenamento adequado
Para serem vendidos ou expostos à venda em desses agroquímicos são regidas de acordo com
todo o território nacional, os agroquímicos e afins normas, dentre elas local de armazenamento,
são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, re- critérios de construções, proteção contra incên-
digidos em português, que contenham, entre ou- dios e ficha de informação de segurança de pro-
tros, os seguintes dados: dutos, saúde e meio ambiente. Ou seja, normas
I - indicações para a identificação do produto que se aplicam a propriedades rurais, empresas
II - instruções para utilização e prestadoras de serviço, quando localizadas em
III - informações relativas aos perigos poten- área rural.
ciais, compreendidos: saúde do homem, animais No mesmo local de armazenamento de agroquí-
e meio ambiente micos e afins nas propriedades rurais será admitida
IV - recomendação para que o usuário leia o ró- a guarda de pulverizador costal e seus acessórios.
tulo antes de utilizar o produto. Devem ser consideradas também as legislações
Há leis quanto as responsabilidades admi- locais, inclusive de municípios, muitas vezes esta-
nistrativa, civil e penal pelos danos causados à belecem detalhes, especialmente quanto à locali-
saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando zação dos armazéns de produtos perigosos.
da produção, comercialização, utilização, trans-
porte e destinação de embalagens vazias de Localização
agroquímicos, seus componentes e afins. E o não O depósito (nome designado ao espaço físico
cumprimento das legislações vão de multas até para guardar, estocar, conter e manter agroquími-
reclusão. cos e afins em condições que garantam a saúde e
As normas usuais para a nomenclatura são: segurança do trabalhador, ambiental e dos produ-
• NOME QUÍMICO: expressão da fórmula estru- tos na propriedade rural) deve estar em local livre
tural. de inundações, separado de locais de estoque e/
• NOME COMUM: uso internacional, são neolo- ou manuseio de alimentos, medicamentos e insta-
gismos formados artificialmente, válidos quan- lações para animais e mantendo distância de mo-
do aprovados por entidades oficialmente cre- radias e cursos naturais de água.
denciadas.
CRITÉRIOS PARA CRIAÇÃO DO NOME COMUM: Requisitos para construção do depósito de agro-
fácil pronúncia em qualquer língua. Não se asse- químicos na propriedade rural
melhar a palavras em qualquer língua. Não confli- • Ser exclusivo para produtos agroquímicos e
tar com marcas em qualquer país. Desejável algu- afins;
ma relação com o nome químico. • Ter altura que possibilite ventilação e ilumina-
NOME COMERCIAL OU DE FANTASIA: nome ção;

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

• Possuir ventilação comunicando-se 0,10 m das paredes, armazenados


exclusivamente com o exterior e do- isolados do piso.
tada de proteção que não permita o
acesso de animais; Requisitos de segurança
• Ser construído em alvenaria e/ou • Utilizar equipamento de proteção in-
material que não propicie a propa- dividual (EPI) apropriado;
gação de chamas (todos os empre- • Seguir as informações de manuseio
gadores devem adotar medidas de com base no rótulo e bula do produto;
prevenção de incêndios, em confor- • Possuir, afixada no depósito, placa de
midade com a legislação estadual e sinalização com os dizeres “cuidado
as normas técnicas aplicáveis); veneno”;
• Quando construído parede-parede • Ter acesso restrito aos trabalhadores
com outras instalações, a separação devidamente orientados a manusear
não pode possuir elementos vaza- e manipular os agroquímicos e afins;
dos, permitindo o acesso restrito ao • Manter embalagens acondicionadas
depósito pelo interior de outras ins- em recipiente lacrado e identificado,
talações; em caso de embalagens danificadas
• Deverão dispor de saídas, em núme- ou com vazamentos de produto, estas
ro suficiente e dispostas de modo devem ser recondicionadas em reci-
que aqueles que se encontrem nes- piente lacrado e identificado, guarda-
ses locais possam abandoná-los com das no próprio depósito, e deve-se co-
rapidez e segurança, em caso de municar ao fabricante;
emergência; • Recolher os resíduos com material
• Ter piso que facilite a limpeza e não absorvente, como serragem, areia ou
permita infiltração; similares, e comunicar ao fabricante
• Ter sistema de contenção de resí- em caso de vazamento ou derrama-
duos no próprio depósito, por meio mento de agroquímicos e afins;
da construção de lombadas, mure- • Segregar e identificar produtos ven-
tas, desnível de piso ou recipiente de cidos ou embalagens com sobras de
contenção e coleta; produtos e guardá-los no mesmo
• Possuir instalações elétricas, quando depósito até serem recolhidos pelo
existentes, em bom estado de con- fabricante;
servação para evitar acidentes; • Fechar e lacrar as embalagens com as
• No caso de armazenamento de agro- tampas voltadas para cima, seguindo
químicos e afins em quantidade até as demais orientações de acondicio-
100 litros ou 100 kg, admite-se o uso namento e manuseio do fabricante,
de armário exclusivo e trancado para de acordo com ABNT NBR-7500;
material que não propague chamas, • Armazenar as embalagens com as
abrigado fora de residências, aloja- identificações ou rótulos à vista;
mentos para pessoas ou animais, es- • Armazenar as embalagens vazias de
critórios, ambientes que contenham agroquímicos e afins, laváveis e não
alimentos e rações; laváveis, no mesmo depósito, desde
• Admite-se o uso de estantes ou que segregadas das demais emba-
prateleiras para acondicionamen- lagens e em acordo com as orienta-
to de agroquímicos e afins às ções do fabricante;
quais poderão estar fixadas nas • Utilizar equipamento de refrigera-
paredes, desde que não interrom- ção exclusivo para o armazenamen-
pam as saídas de emergência e to dos produtos biológicos dentro
rotas de fuga. Os produtos devem do depósito.
manter uma distância mínima de • Definição de área segregada: local fí-

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sico, reservado, sinalizado e identificado para a de empilhamento indicada nos volumes, de


finalidade específica, de acordo com o sistema acordo com cada fabricante),
de controle utilizado. • Tambores = < 60 l = 2/pilha e 200 l = não empilhar

Empilhamento das embalagens no armazém Observação: Produtos de formulação sólida


Deve ser feito de modo a melhorar a ventilação devem ficar acima de produtos de formulação
do armazém. Via de regra, o empilhamento fica a líquida; não permitir que produtos para uso
0,5 m do piso e das paredes e 1,0 m do teto, no agrícola de diferentes classes fiquem juntos,
mínimo, de acordo com a orientação de suporte evitando-se, dessa forma, contaminação cru-
de cada embalagem. zada; acatar a altura máxima de empilhamento
Exemplo: indicada nos volumes e; os rótulos das embala-
• Sacos = 45 sacos/estrado (1,2 x 1,2 m), cuidado gens devem estar sempre voltados para o lado
com deslizamento dos sacos, externo da pilha, propiciando a rápida identifi-
• Baldes = 4/pilha, cação do produto, o número do lote e o período
• Caixas coletivas (fab.) = (acatar a altura máxima de validade.

Empilhamento das embalagens no armazém

FISPQ - Ficha de Informação de Segurança de conhecimentos básicos sobre os produtos quími-


Produto Químico cos, recomendações sobre medidas de proteção e
A FISPQ é um meio de o fornecedor transferir in- ações em situação de emergência a trabalhadores,
formações essenciais sobre os perigos de um produ- empregadores, profissionais da saúde e segurança,
to químico (incluindo informações sobre transporte, pessoal de emergência, agências governamentais,
manuseio, armazenagem e ações de emergência) assim como membros da comunidade, instituições,
ao usuário deste, possibilitando-lhe tomar as medi- serviços e outras partes envolvidas com o produto
das necessárias relativas a segurança, saúde e meio químico.
ambiente. Também fornecerá, nesses aspectos, Modelo:

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Ficha de informações de
segurança de produto químico

Nome do Produto
1. Identificação do produto da empresa
2. Composição e informações sobre os ingredientes
3. Identificação de perigos
4. Medidas de primeiro socorros
5. Medidas de prevenção e combate a incêndio
6. Medidas de controle para derramamento ou vazamento
7. Manuseio e armazenamento
8. Controle de exposição e proteção individual
9. Propriedades físico-químicas
10. Estabilidade e reatividade
11. Informações toxicológicas
12. Informações ecológicas
13. Considerações sobre tratamento e disposição
14. Informações sobre transporte
15. Regulamentações
16. Outras informações

3. Boas práticas de manejo reduzir o impacto indesejável resultante


Antes de qualquer coisa, é preciso da utilização de agroquímicos ao meio
analisar o risco benefício do uso de qual- ambiente e à saúde humana. Objetivos:
quer produto químico. Nesse contexto, produção de alimentos saudáveis, me-
as boas práticas de manejo (BPMs) refe- lhoria da saúde do trabalhador e preser-
rem-se às práticas que ajudam a reduzir vação e saúde do meio ambiente
o risco potencial de o agroquímico ser
transportado pela água e atingir o len- 4. Embalagens e resíduos
çol freático ou as águas subterrâneas Todos os usuários de agroquímicos,
que abastecem os municípios e a conta- seus componentes e afins deverão efe-
minação de pessoas e animais. As BPMs tuar a devolução das embalagens va-
relacionadas a seguir, quando incorpo- zias dos produtos aos estabelecimentos
radas às operações regulares na condu- comerciais em que foram adquiridos,
ção da lavoura, podem contribuir para de acordo com as instruções previstas

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nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, ta-se de ato privativo do Indea/MT, que permite
contado da data de compra, ou prazo superior, comercializar, transportar, armazenar, e utilizar um
se autorizado pelo órgão registrante, podendo a agroquímico e afins no Estado de Mato Grosso.
devolução ser intermediada por postos ou centros Curiosidade: o Brasil é recordista mundial no re-
de recolhimento, desde que autorizados e fiscali- colhimento de embalagens de agroquímicos. Nos
zados pelo órgão competente. Quando o produto últimos dez anos, o porcentual de embalagens
não for fabricado no país, assumirá a responsabi- plásticas colocadas no mercado que foram reco-
lidade a pessoa física ou jurídica responsável pela lhidas pela indústria após o uso do produto nas
importação. lavouras atingiu 95%. Em segundo lugar vem a
No Estado de Mato Grosso, compete às secre- França, com 77%, seguida pelo Canadá, com 73%.
tarias de Estado de Desenvolvimento Rural e Agri- A lei nº 9.974, de 2000 traz que, as embalagens
cultura Familiar de Meio Ambiente e de Saúde, no rígidas que contiverem formulações miscíveis ou
âmbito de suas respectivas áreas de competência, dispersíveis em água deverão ser submetidas pelo
a fiscalização do cumprimento da legislação esta- usuário à operação de tríplice lavagem, ou tec-
dual referente a agroquímicos, resíduos, seus com- nologia equivalente, conforme normas técnicas
ponentes e afins e do que é outorgado pela legis- oriundas dos órgãos competentes e orientação
lação federal vigente, de acordo com a lei estadual constante de seus rótulos e bulas. As empresas
nº 8858/06. produtoras de equipamentos para pulverização
A coordenação e a execução das atividades re- deverão, no prazo de 180 dias da publicação desta
lativas ao uso, à produção, ao consumo, ao comér- Lei, inserir nos novos equipamentos adaptações
cio, ao armazenamento, ao transporte, à aplicação, destinadas a facilitar as operações de tríplice lava-
à fiscalização e ao destino final das embalagens de gem ou tecnologia equivalente.
agroquímicos, afins e resíduos, no território do Es-
tado de Mato Grosso, previstas nesta lei, terão o 4.1. Descarte de embalagens
apoio da Secretaria de Estado de Fazenda, das po- As empresas produtoras e comercializadoras
lícias Militar, Rodoviária e Civil do Estado de Mato de agroquímicos, seus componentes e afins são
Grosso e das polícias Federal e Rodoviária Federal, responsáveis pela destinação das embalagens va-
através de convênio e/ou termo de cooperação zias dos produtos por elas fabricados e comerciali-
técnica. O cadastro de agroquímicos e afins tra- zados, após a devolução pelos usuários, e também

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

dos produtos apreendidos pela ação abrange todas as regiões do país e tem
fiscalizatória e dos impróprios para uti- como base o conceito de responsabili-
lização ou em desuso, com vistas a sua dade compartilhada entre agricultores,
reutilização, reciclagem ou inutilização, indústria, canais de distribuição e poder
obedecidas as normas e instruções dos público.
órgãos registrantes e sanitário-ambien- Os postos de entrega em Mato Gros-
tais competentes. so também são de responsabilidade do
Sendo assim, o agricultor deve pre- inpEV, que organizou uma rede com-
parar as embalagens vazias para devol- posta por mais de 400 unidades de rece-
vê-las nas unidades de recebimento, bimento de embalagens, em 25 estados
considerando que cada tipo de embala- brasileiros e no Distrito Federal, geren-
gem deve receber tratamento diferente. ciadas por cerca de 260 associações de
Existem dois tipos de embalagens: lavá- revendedores.
veis e não laváveis. Logo após seu uso, A indústria fabricante recolhe as
elas devem ser preparadas para a devo- embalagens nos postos. Se estiverem
lução de acordo com o seu tipo. limpas, depois da lavagem, elas são
O descarte de resíduos e de embala- encaminhadas para reciclagem. Se não
gens vazias de agroquímicos deve ser estiverem limpas, são enviadas para
realizado seguindo o disposto na legis- incineradores credenciados. As emba-
lação. Se feito de forma indevida, pode lagens não laváveis —cerca de 5% do
resultar em sérios danos ao homem, total —também são incineradas.
aos animais e ao ambiente. Os resíduos Nota: Informações do inpEV mostram
incluem restos de agroquímicos, emba- que, desde 2000, o Brasil recolheu 260
lagens vazias e produtos contaminados mil toneladas de embalagens. Nos seis
com os agroquímicos. As embalagens primeiros meses de 2013, o sistema to-
vazias devem ser encaminhadas à cen- talizou o recolhimento de mais de 21,3
tral de recebimento da região. A tríplice mil toneladas de embalagens vazias.
lavagem dos equipamentos e embala- A maioria das embalagens é recicla-
gens é um procedimento que deve ser da e torna-se novos produtos, como tu-
seguido antes do envio da embalagem bos para construção civil, bateria de car-
ao seu destino. O mesmo procedimen- ros ou voltar a ser outra embalagem de
to deve ser efetuado para a limpeza dos agroquímico. O principal motivo para
equipamentos usados na aplicação de dar destinação final correta às embala-
agroquímicos. gens vazias agroquímicos é diminuir o
As embalagens vazias devem ser risco à saúde das pessoas e de conta-
devolvidas com suas tampas e rótulos. minação do meio ambiente. Apesar de
Quando o agricultor reunir uma quan- existirem embalagens laváveis e não
tidade que justifique o transporte, ele laváveis, a maioria é lavável, prática de
tem o prazo de um ano depois da com- suma importância para devolução e
pra para devolver as embalagens vazias. destinação final correta.
Se sobrar produto na embalagem, po-
derá devolvê-la até 6 meses após o ven- 4.2. Embalagens não laváveis
cimento. São todas as embalagens flexíveis
O sucesso do Brasil ganhou destaque que não utilizam água como veículo de
mundial após a criação do sistema cam- pulverização e as embalagens rígidas.
po limpo. O programa é gerenciado pelo Incluem-se nesta definição as embala-
Instituto Nacional de Processamento de gens secundárias não contaminadas rí-
Embalagens Vazias (inpEV), que reali- gidas ou flexíveis:
za a logística reversa das embalagens • Sacos plásticos, de papel, metalizados,
de agroquímicos no Brasil. O sistema mistos ou de outro material flexível;

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• Embalagens de produtos para tratamento de


sementes, ultra baixo volume (UBV);
• Caixas de papelão, cartuchos de cartolina, fi-
brolatas e embalagens termo moldáveis.
Para isso, existem tipos de lavagens conforme a
embalagem:

a) Tríplice lavagem
Para a tríplice lavagem das embalagens de
agroquímicos, deve-se adotar o seguinte procedi-
mento:
• esvaziar a embalagem completamente, deixan-
Embalagens flexíveis do o líquido escorrer no tanque do pulverizador;
• adicionar água limpa até 25% da capacidade da
embalagem;
• fechar e agitar a embalagem por 30 segundos;
• verter a água da embalagem no tanque do pul-
verizador;
• repetir o procedimento pelo menos mais duas
vezes; e
• perfurar a embalagem para garantir que ela
não será reutilizada para outros fins.

b) Lavagem com pressão


Logo após o esvaziamento, deve-se encaixar a
Embalagens rígidas embalagem em local apropriado instalado no pul-
verizador, acionar o mecanismo para liberar o jato
de água limpa e direcioná-lo para todas as paredes
internas da embalagem por 30 segundos. A água
da lavagem deve ser transferida para o interior do
tanque do pulverizador. Após isso, deve-se inutili-
zar a embalagem plástica ou metálica, perfurando
o fundo, e armazenar em local apropriado até o
momento da devolução.

4.4. Descarte de produtos


A aplicação de um produto fitossanitário deve
Embalagens secundárias
ser planejada de modo a evitar desperdícios e so-
bras. Para isso, peça sempre a ajuda de um enge-
nheiro agrônomo para calcular a dosagem a ser
aplicada em função da área a ser tratada.
4.3. Embalagens laváveis Caso ocorra sobra da calda no tanque do pul-
São as embalagens rígidas (plásticas, metálicas verizador, esse volume deverá ser calculado para
e de vidro) que acondicionam formulações líqui- evitar que ocorra novamente. A sobra deve ser
das de agroquímicos para serem diluídas em água. diluída em água e aplicada nas bordaduras da

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

área tratada ou nos carreadores. Se o dois metros em relação ao comprimento


produto for um herbicida, repassá-lo da aeronave, sendo que, no caso de uso
em áreas tratadas poderá causar fitoto- de aeronaves de diferentes envergadu-
xicidade, por isso deve ser evitado. As ras, o pátio deverá estar dimensionado
sobras ou restos de produtos não de- para a de maior tamanho; e
vem ser jogados em rios, lagos ou de- b) a pavimentação em concreto, de
mais coleções de água. piso, banquetas, valetas e tampas deve-
Quando sobrar um produto concen- rá seguir as seguintes especificações:
trado, ele deverá ser mantido em sua em- 1. deverão ser construídos de tal for-
balagem original,que deve estar fecha- ma que suportem o peso de uma aero-
da adequadamente. O armazenamento nave, recomenda-se o uso de concreto
deve ser em local seguro e segregado. usinado preparado na proporção de
Caso o produto esteja vencido, impróprio duas partes de brita média, duas partes
para uso ou em desuso, a empresa regis- de areia fina e uma parte de cimento; o
trante deverá ser consultada por meio do concreto utilizado deverá ter resistência
número de telefone indicado no rótulo à força de compressão (Fck) igual ou su-
para sua devolução e destinação final. perior a 25 MPa, ou 25 Kgf/cm², na pro-
No caso de aviação agrícola, os porção de 450 kg de cimento por metro
eventuais restos de agroquímicos re- cúbico de concreto, com o objetivo de
manescentes no avião e as sobras da diminuir a porosidade do piso;
lavagem e limpeza da aeronave ou dos 2. para o piso, utilizar armação de
equipamentos de apoio no solo somen- ferro com bitola de seis milímetros, for-
te poderão ser descartados em local mando uma trama de dez por dez centí-
apropriado, o pátio de descontamina- metros, evitando fissuras causadas pela
ção, observados os modelos próprios, dilatação;
aprovados pelo Mapa, ou sobre a mes- 3. a espessura do piso recomenda-
ma lavoura tratada, desde que diluídos da é de pelo menos dez centímetros,
na maior quantidade de água possível. cuja finalidade principal é impedir a
A empresa de aviação agrícola, pessoa infiltração, sendo também suficiente
física ou jurídica, deverá possuir pátio para suportar carga e evitar rachadu-
de descontaminação de acordo com o ras no pátio;
modelo existente, obedecendo às se- 4. a superfície deverá ser polida para
guintes regras: reduzir a porosidade superficial, evitan-
I - o pátio de descontaminação das do a infiltração de calda remanescente;
aeronaves agrícolas deverá ser construí- 5. a declividade do piso do pátio
do sob orientação de técnico habilitado, deve ser de 3%; e
em local seguro, quanto à operação ae- 6. as juntas de dilatação devem ser
ronáutica e à contaminação ambiental; preenchidas com cimento asfáltico de
II - deverá ser feita sondagem no lo- petróleo (CAP), viscosidade e penetra-
cal da construção, para determinação ção 50-60.
do nível do lençol freático, que não deve IV - o sistema coletor do pátio de des-
estar a menos de um metro e meio da contaminação da água de lavagem das
superfície; aeronaves agrícolas deverá:
III -o piso do pátio de descontamina- a) ser situado no meio do pátio, pre-
ção das aeronaves agrícolas deverá obe- ferencialmente na projeção do hopper,
decer às seguintes especificações: reservatório da aeronave agrícola, no
a) o tamanho do pátio de descontami- qual são colocados os produtos a serem
nação será de acordo com as dimensões utilizados na operação aérea;
da aeronave, devendo ser acrescidos b) conduzir o produto proveniente
dois metros em relação à envergadura e da limpeza através de canaleta ou de

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caixa coletora por tubulação para o reservatório evaporação da água de lavagem das aeronaves
de decantação, passando pela caixa de inspeção; e agrícolas deverá ser:
c) a tubulação para o reservatório de decanta- a) devidamente impermeabilizado com gel-
ção deve dispor de sistema de derivação da água membrana, polietileno de alta densidade (Pead)
das chuvas. de um milímetro de espessura, cercado, sinali-
V - o reservatório de decantação para recep- zado e situado preferencialmente em local com
ção da água de lavagem proveniente da canaleta distância mínima de 250 metros de mananciais
ou da caixa coletora deverá ser construído com hídricos, e distantes de árvores para facilitar a so-
dois tubos de concreto armado, com diâmetro larização, gerando um aumento da degradação
de um metro e profundidade de dois metros, via fotólise do material que tenha ficado retido
sendo que a base do poço será fechada com ca- no fundo do tanque;
mada de concreto armado com espessura de 10 b) aberto ou com cobertura, e deverá possuir as
centímetros e o cimento utilizado deverá ser pa- dimensões, em função do número de aeronaves.
drão Fck 25 Mpa ou superior, na proporção de X - na escolha de tipo coberto, cuja função é
450 kg de cimento por metro cúbico de concre- evitar o acúmulo de água das chuvas, a estrutura
to, perfeitamente alisado e recoberto com man- do telhado será com pé-direito de um metro e a
ta impermeabilizante e deve ser fechado com cobertura terá sua parte externa pintada da cor
tampa de concreto; preta, com objetivo de aumentar as temperaturas
VI - o sistema de oxidação de agroquímicos da internas do tanque e do efluente ali retido, poten-
água de lavagem das aeronaves agrícolas deverá cializando sua evaporação;
conter: XI - fica vedada a utilização de telhas de amianto;
a) sistema de bombeamento para a retirada da XII - ao redor do reservatório de retenção, deve-
água de lavagem das aeronaves do reservatório rá ser construída uma proteção para evitar entrada
de decantação e envio desta ao reservatório de de água por escorrimento superficial; e
oxidação; XIII - o sistema de segurança do reservatório de
b) ozonizador com capacidade mínima de pro- retenção e evaporação deverá conter obrigatoria-
duzir um grama de ozônio por hora; mente placas indicativas, em locais visíveis, com
c) reservatório para oxidação que deverá ter ca- o símbolo internacional que represente produtos
pacidade mínima de 500 litros, ser em policloreto tóxicos e perigo.
de vinila (PVC), para que não ocorra reação com o Qualquer alteração na construção do pátio de
ozônio, ser redonda, para facilitar a circulação da descontaminação e no seu sistema de desconta-
água de lavagem, com tampa para evitar contato minação das aeronaves deverá ser previamente
com a água de lavagem; e aprovada pelo Mapa.
d) as canalizações, que deverão ser em tubo Parágrafo único. A alteração prevista no caput
PVC, para que não ocorra reação com o ozônio, e só será aprovada mediante a apresentação de
com diâmetro de 50 milímetros. projeto específico com as devidas anotações de
VII - o ozonizador previsto na alínea b, do in- responsabilidades técnicas (Lei nº 9974/2000).
ciso anterior, deverá funcionar por um período
mínimo de seis horas, para cada carga de 450 5. Risco e classificação toxicológica
litros de restos e sobras de agroquímicos rema- Risco: é a probabilidade de um evento nocivo
nescentes da lavagem e limpeza das aeronaves e ocorrer por conta da exposição a um agente quími-
equipamentos; co. Dependendo das condições de exposição, ou da
VIII - dentro do reservatório de oxidação, deverá dose, toda substância tem potencial de ser tóxica.
ser instalada a saída do ozonizador, na sua parte Durante o uso de produtos fitossanitários, a
inferior, para favorecer a circulação total e perma- exposição deve ser evitada, pois o risco potencial
nente da água de lavagem e com dreno de saída à saúde não depende apenas da toxicidade, mas
na parte superior do reservatório de oxidação; também da exposição. Quanto menor a exposi-
IX - o reservatório de retenção, solarização e de ção, menor o risco.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

RISCO = TOXICIDADE = EXPOSIÇÃO


Alto Alta Alta
Alto Baixa Alta
Baixa Alta Baixa
Baixa BAixa Baixa

Enquanto a embalagem de um pro- preparar as pessoas para a prática de


duto fitossanitário está fechada e lacra- prevenção de acidentes. Não basta for-
da, ele não apresenta risco significativo necer, é preciso fiscalizar o uso dos equi-
de contaminação, pois não há exposi- pamentos de proteção individual (EPIs),
ção. Mas quando a embalagem é aberta, que são todo dispositivo ou produto, de
os riscos podem ser grandes se algumas uso individual pelo trabalhador, destina-
regras básicas de segurança não forem do à proteção contra riscos e ameaças a
seguidas para evitar a exposição: sua segurança e a sua saúde.
• Leia cuidadosamente as instruções A principal medida é minimizar a
do rótulo e/ou bula do produto antes exposição do trabalhador, que pode
da aplicação; ocorrer de diversas formas. O Ministé-
• Vista os equipamentos de proteção in- rio do Trabalho estabelece os preceitos
dividual recomendados; a serem observados na organização e
• Verifique a calibragem do equipa- no ambiente de trabalho, em qualquer
mento aplicador usando apenas atividade da agricultura, incluindo as
água; atividades industriais desenvolvidas no
• Verifique se o equipamento aplica- ambiente agrário. Sendo assim, deixa
dor possui vazamentos e elimine-os claro os procedimentos e as exigências
antes de preparar a calda; a serem atendidos com relação ao uso
• Misture a quantidade certa de pro- de agroquímicos na agricultura, tanto
duto para preparar a calda que será por parte do empregador como dos
usada no tratamento; empregados.
• Faça a tríplice lavagem ou lavagem O empregador rural ou equiparado
sobre pressão das embalagens vazias deve fornecer instruções suficientes aos
enquanto estiver preparando a calda; que manipulam agroquímicos, adjuvan-
• Escolha as horas mais frescas do dia tes e afins, e aos que desenvolvam qual-
para realizar a pulverização; e quer atividade em áreas onde possa haver
• Não aplique o produto na presença exposição direta ou indireta a esses pro-
de ventos fortes, evite a deriva. dutos, garantindo os requisitos de segu-
rança previstos em norma.
6. Saúde e segurança e do trabalhador A exposição a produtos químicos
com produtos fitossanitários pode ocorrer através da pele, da boca,
A segurança do trabalho é um conjun- dos olhos ou pela inalação de partículas
to de medidas técnicas, administrativas, ou vapores durante manuseio e aplica-
educacionais, médicas e psicológicas ção. Ao abrir as embalagens, aplicar os
para prevenir acidentes nas atividades produtos ou limpar os equipamentos
laborais. Medidas que têm por finalida- de aplicação, o aplicador deve sempre
de evitar a criação de condições insegu- utilizar luvas, respiradores e outros EPIs,
ras e corrigi-las, quando existentes nos com o objetivo de evitar a exposição do
locais ou meios de trabalho, bem como organismo ao produto tóxico.

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6.1. Vias de intoxicação


As principais vias de exposição aos agentes químicos no homem são: dérmica (pele e mucosas), inala-
tória (trato respiratório), ocular (olhos) ou oral (trato gastrointestinal).

6.2. Uso de EPI de acidentes do trabalho ou de doenças pro-


Em todos os segmentos de trabalho em que fissionais e do trabalho;
as atividades oferecem algum risco ao operador, • Enquanto as medidas de proteção coletiva esti-
existe a obrigação de uso de EPI. No manuseio dos verem sendo implantadas; e
produtos fitossanitários não é diferente, inclusive • Para atender a situações de emergência.
é lei e vale tanto para o empregado como para o
empregador. Principais equipamentos de proteção:
O uso do EPI na agricultura está inserido na Nor- Os EPIs não foram desenvolvidos para subs-
ma Regulamentadora – NR-31, a qual também regu- tituir os demais cuidados na aplicação e, sim,
lamenta a segurança e a saúde do trabalho para pe- para complementá-los, evitando-se a exposi-
cuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. ção. Para reduzir os riscos de contaminação, as
A obrigatoriedade do uso de EPI está amplamente operações de manuseio e aplicação devem ser
contemplada em várias legislações que tratam do realizadas com cuidado, para evitar ao máximo
uso correto e seguro dos produtos fitossanitários: a exposição. A Tabela 1 relaciona os principais
• CLT - Prevê dispensa do trabalhador por justa equipamentos em relação à situação de uso de
causa pelo não uso do EPI; produtos fitossanitários.
• Lei nº 7.802 - Ações cíveis contra o empregador,
multas e indenizações pelo não fornecimento Atenção
de EPI; A Tabela 1 não deve ser considerada como úni-
• Lei nº 6.514 - regulamentada pela Portaria 86, co critério para utilização dos EPIs. As condições
de 3/3/2005, NR-31 – Define a relação Empre- do ambiente de trabalho poderão exigir o uso de
gado - Empregador no meio rural, tornando mais itens ou dispensar outros para aumentar a
claras as obrigações e responsabilidades de segurança e o conforto do aplicador. Siga as reco-
cada uma das partes. Diante da NR-31, somen- mendações do técnico responsável. Leia as reco-
te estão aptos a manusearem agroquímicos mendações do rótulo e da bula.
aqueles que receberem treinamento específi-
co de 20 horas e que estejam com idade entre O equipamento de proteção individual, de fabri-
18 e 60 anos. Não é permitido o manuseio de cação nacional ou importado, só poderá ser posto à
agroquímicos por gestantes. venda ou utilizado com a indicação do Certificado de
A empresa é obrigada a fornecer aos empre- Aprovação (CA), expedido pelo órgão nacional com-
gados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em petente em matéria de segurança e saúde no traba-
perfeito estado de conservação e funcionamento, lho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
nas seguintes circunstâncias: No caso de transporte, durante o treinamento,
• Sempre que as medidas de ordem geral não o transportador deve atender às orientações dos
ofereçam completa proteção contra os riscos fabricantes do produto e do equipamento de pro-

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Tabela 1 Relação dos principais equipamentos com relação à situação de uso dos agroquímicos
Aplicação Aplicação
Operações Manuseio/Dosagem Aplicação Manual
Tratorizada Áerea

Carga e descarga em armazéns

Abastecimento de aeronaves
Pó Molhável/Grânulos WG
Embalagem hidro-solúvel
Variação dos armazéns

Termo-nebulização
Sementes tratadas

Costal motorizado
Granulado de solo

Isca granulada

Granuladeira
Mangueira

Granulado

Sementes
Pó Seco
Líquido

Líquido
Costal

Turbo
Capacete
Boné Árabe
Protetor de ouvido
Viseira facial
Respirador
Calça Hidro-repelente
Jaleco Hidro-repelente
Avental impermeável
Botas impermeáveis
Luvas impermeáveis

teção individual. O traje mínimo não é responsabilizar-se pela descontami-


considerado EPI, porém deve ser usado nação deste ao final de cada jornada
pelo motorista e pelo pessoal envolvi- de trabalho;
do (se houver) quando forem efetuar a • Substituir imediatamente o EPI,
avaliação da emergência e ações iniciais. quando danificado ou extraviado, e;
Recomenda-se que, durante o trajeto, o • Comunicar ao MTE qualquer irregu-
motorista e o pessoal envolvido utilizem laridade observada.
o traje mínimo (calça comprida, cami- O empregado também terá de ob-
sa ou camiseta, com mangas curtas ou servar as seguintes obrigações:
compridas e calçados fechados). • Utilizar o EPI apenas para a finalidade
É obrigação do empregador: a que se destina;
• Adquirir e fornecer EPIs adequados • Responsabilizar-se pela guarda e
aos riscos da atividade; pela conservação;
• Orientar e treinar o trabalhador so- • Comunicar ao empregador qualquer
bre o uso adequado, guarda e con- alteração que o torne impróprio ao
servação; uso, e;
• Exigir seu uso; • Cumprir as determinações do em-
• Vedar o uso de roupas pessoais quan- pregador sobre o uso pessoal.
do da aplicação de agroquímicos; Os equipamentos de proteção indi-
• Fornecer ao trabalhador somente o vidual, além de essenciais à proteção
equipamento aprovado pelo órgão do trabalhador, visando à manutenção
nacional competente em matéria de de sua saúde física e proteção contra os
segurança e saúde do trabalho; riscos de acidentes do trabalho e/ou de
• Fornecer EPI higienizado, bem como doenças profissionais e do trabalho, po-

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dem também proporcionar a redução de custos teriais que podem ser utilizados com qualquer
ao empregador. tipo de formulação.
Para a Justiça do Trabalho, o fato de comprovar
que o empregado recebeu o equipamento (por Respiradores: geral-
meio de ficha de entrega de EPI), por exemplo, mente chamados de
não exime o empregador do pagamento de uma máscaras, os respira-
eventual indenização, pois a norma estabelece dores têm o objetivo
que o empregador deva garantir o seu uso, o que de evitar a inalação
se faz por fiscalização e medidas obrigatórias, se de vapores orgânicos,
for o caso. névoas ou finas par-
Os tipos de EPI utilizados podem variar depen- tículas tóxicas pelas
dendo do tipo de atividade ou de riscos que poderão vias respiratórias. Exis-
ameaçar a segurança e a saúde do trabalhador e da tem basicamente dois
parte do corpo que se pretende proteger, tais como: tipos de respirado-
• Proteção auditiva: abafadores de ruídos ou pro- res: sem manutenção
tetores auriculares; (chamados de descar-
• Proteção respiratória: máscaras com filtro para táveis), que possuem
vapores orgânicos e gases ácidos, combinado vida útil relativamen-
com filtro mecânico; te curta e recebem a
• Proteção visual e facial: óculos e viseiras; sigla PFF (peça facial
• Proteção da cabeça: capacetes; filtrante), e os de baixa
• Proteção de mãos e braços: luvas e mangotes; manutenção, que pos-
• Proteção de pernas e pés: sapatos, botas e bo- suem filtros especiais
tinas, e; para reposição, normalmente mais duráveis. Os
• Proteção contra quedas: cintos de segurança e respiradores mais utilizados nas aplicações de
cinturões. produtos fitossanitários são os que possuem fil-
tros P1 ou P2; para mais informações, consulte
No caso do uso de agroquímicos, os seguintes o fabricante. Quando se manuseiam produtos
EPIs devem ser utilizados: que emitem vapores orgânicos ou cheiro forte,
recomenda-se o uso de respiradores com filtro
Luvas: é um equipa- de carvão ativado.
mento de proteção Os respiradores são equipamentos importan-
muito importante, tes, mas que podem ser dispensados em algumas
pois protege uma das situações, quando não há presença de névoas, va-
partes do corpo com pores ou partículas no ar, por exemplo:
maior risco de exposi- a) aplicação tratorizada de produtos granula-
ção: as mãos. Existem dos incorporados ao solo;
vários tipos de luvas b) pulverização com tratores equipados com
no mercado, e a esco- cabines, etc.
lha deve levar em conta o tipo de formulação do Os respiradores devem estar sempre limpos, hi-
produto a ser manuseado. Produtos que contêm gienizados e seus filtros jamais devem estar satu-
solventes orgânicos como, por exemplo, os con- rados (difícil respiração ou passando cheiro). Antes
centrados emulsionáveis, devem ser manipula- do uso de qualquer tipo de respirador, é necessá-
dos com luvas de borracha nitrílica ou neoprene, rio realizar o teste de ajuste de vedação para evitar
pois estes materiais são mais resistentes aos sol- a falha na selagem. Quando estiverem saturados,
ventes orgânicos. Luvas de látex ou de PVC po- os filtros devem ser substituídos. É importante
dem ser usadas para produtos sólidos ou formu- notar que, se utilizados de forma inadequada, os
lações que não contenham solventes orgânicos. respiradores tornam-se desconfortáveis e podem
De modo geral, recomenda-se a aquisição das transformar-se numa verdadeira fonte de conta-
luvas de borracha NITRÍLICA ou NEOPRENE, ma- minação.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Viseira facial: reduzir a absorção de calor, além de ser


protege os de fácil lavagem, para permitir sua reuti-
olhos e o ros- lização. Há calças com reforço adicional
to contra res- nas pernas, que podem ser usadas nas
pingos duran- aplicações em que houver alta exposição
te manuseio do aplicador à calda do produto ou des-
e aplicação. A gaste mecânico (pulverização com equi-
viseira deve pamento manual, por exemplo).
ter a maior
transparência possível e não distorcer Boné árabe:
as imagens. A tira de espuma no alto confecciona-
da viseira, além de absorver o suor da do em tecido
testa, também tem a função de evitar de algodão
embaçamento. A viseira deve propor- tratado para
cionar conforto ao usuário e permitir o tornar-se hi-
uso simultâneo do respirador, quando dro-repelen-
for necessário. Quando não houver a te. Protege o
presença ou emissão de vapores no ar, couro cabelu-
o uso da viseira com o boné árabe pode do e o pescoço contra a névoa da pul-
dispensar o uso do respirador, aumen- verização. Usado em combinação com a
tando o conforto do trabalhador. Exis- viseira, oferece excelente proteção dér-
tem algumas recomendações de uso de mica, inalatória e ocular.
óculos de segurança para proteção dos
olhos. A substituição dos óculos pela vi- Avental:
seira protege não somente os olhos do produzido
aplicador mas também o rosto. com mate-
rial resistente
Jaleco e a solventes
calça hidro- orgânicos
-repelentes: (PVC, Bagum
são confeccio- ou emborra-
nados em teci- chados), au-
do de algodão menta a proteção do aplicador contra
tratado para respingos de produtos concentrados
tornarem-se durante a preparação da calda e pode
h i d ro - re p e - ser utilizado como capa em eventuais
lentes; são apropriados para proteger o vazamentos de equipamentos de apli-
corpo das névoas do produto formulado cação costal. Existem vários modelos de
e não para conter exposições extrema- avental; curtos, longos, de colheita, etc.
mente acentuadas ou jatos dirigidos. Os Cada um atendendo a necessidades es-
tecidos de algodão com tratamento hi- pecíficas.
dro-repelente ajudam a evitar o molha-
mento e a passagem do produto tóxico Botas: devem
para o interior da roupa, sem impedir a ser preferen-
troca térmica, tornando o equipamen- cialmente de
to seguro e confortável. Eles resistem a cano alto, im-
aproximadamente 30 lavagens, se ma- p e r m e á ve i s
nuseados de forma correta (observe re- e resistentes
comendações do fabricante). Os tecidos aos solven-
devem ser preferencialmente claros, para tes orgânicos

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como, por exemplo, de PVC. Sua função é a pro-


teção dos pés. Estão disponíveis em várias cores e
modelos. Recomenda-se as brancas por absorve-
rem menos calor.

6.3. Recomendações para vestir os EPIs


Calça e jaleco: os EPIs devem ser usados sobre
uma bermuda e camiseta de algodão, para au-
mentar o conforto. O aplicador deve vestir primei-
ro acalça e, depois, o jaleco, ajustando-os perfei-
tamente. O velcro deve ser fechado. Caso o jaleco Viseira facial: deve ser ajustada firmemente na
de seu EPI possua capuz, assegure-se de que este testa, mas sem apertar a cabeça do trabalhador. A
estará devidamente vestido, pois, caso contrário, viseira deve ficar um pouco afastada do nariz para
ele facilitará o acúmulo e retenção de produto. não embaçar.

Botas: devem ser calçadas sobre meias de algo- Boné árabe: deve ser colocado na cabeça sobre a
dão, de cano longo, para evitar atrito com pés, tor- viseira. O velcro do boné árabe deve ser ajustado
nozelos e canela. As bocas da calça do EPI devem sobre a viseira facial, assegurando que toda a face
sempre estar para fora do cano das botas, a fim de esteja protegida, assim como o pescoço e a cabeça.
impedir o escorrimento do produto tóxico para o
interior do calçado. Luvas: último equipamento a ser vestido, deve
ser usado de forma a evitar o contato do produto
Avental: deve ser utilizado na parte da frente do com as mãos. As luvas devem ser colocadas nor-
jaleco durante o preparo da calda e na parte de malmente para dentro das mangas do jaleco. Mas
traz do jaleco durante as aplicações com equipa- existe uma exceção, quando o trabalhador pulve-
mento costal. Para aplicações com equipamento riza dirigindo o jato para alvos que estão acima da
costal, é fundamental que o pulverizador esteja linha de seu ombro (para o alto), as luvas devem
funcionando bem, sem apresentar vazamentos. ser usadas para fora das mangas do jaleco. O obje-
tivo é evitar que o produto aplicado escorra para
Respirador: deve ser colocado de modo que os dois dentro das luvas e atinja as mãos.
elásticos fiquem fixados corretamente e sem do-
bras; um fixado na parte superior da cabeça, e outro,
na parte inferior, na altura do pescoço. O respirador
deve encaixar-se perfeitamente na face do trabalha-
dor, não permitindo abertura alguma para a entrada
de partículas ou vapores. Para usar o respirador, o
trabalhador deve estar sempre bem barbeado.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

6.4. Sequência para vestir os EPIs


1. Calça 2. Jaleco
3. Botas 4. Avental
5. Respirador 6. Viseira facial
(Imagem: Manual de Uso Correto de EPI – Andef ) 7. Boné árabe 8. Luvas

Esquema com sequência numérica da ordem correta de vestir o EPI

6.5. Recomendações para retirar contato com o corpo do usuário. Antes


os EPIs de começar a retirá-los, recomenda-se
Após a aplicação, normalmente a que o aplicador lave as luvas vestidas.
superfície externa dos EPIs está conta- Isto facilitará a descontaminação das
minada. Portanto, na retirada dos equi- luvas e ajudará a reduzir riscos de expo-
pamentos, é muito importante evitar o sição acidental.

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Sequência para retirar os EPIs


Lave as luvas e as botas antes de retirar os EPIs:
1. Boné árabe 2. Viseira facial
3. Avental 4. Jaleco
5. Botas 6. Calça
7. Luvas 8. Respirador
(Imagem: Manual de Uso Correto de EPI – Andef )

Esquema com sequência numérica da ordem correta de retirar o EPI

6.6. Recomendação de manutenção dos EPIs


• Segundo a NR-31, deve-se garantir que ne- sados com ferro quente, a fim de revitalizar o
nhum dispositivo de proteção ou vestimenta tratamento do tecido;
contaminada seja levado para fora do ambiente • Mantenha-os em bom estado de conservação;
de trabalho; • Faça revisão periódica; se observar rasgo ou
• Os EPIs devem ser lavados separadamente das perceber que a hidro-repelência não está efi-
roupas da família, utilizando-se sabão neutro ciente, descarte a vestimenta;
e água fria; • Guarde-os em local separado, e;
• Após secarem à sombra, os EPIs devem ser pas- • Substitua-os sempre que necessário.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

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Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT 14725-1. Termi-


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Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT 9843/2004. Arma-


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Agrotóxico e afins (Parte 3: Armazenamento em propriedades rurais).

Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 13.968.Em-


balagem rígida vazia de agrotóxico - Procedimentos de lavagem.

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xicos.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Licenciamento ambiental rural


1. Introdução abordando conceitos instituídos pela
O licenciamento é um instrumen- Lei nº 12.651/12 (Novo Código Flores-
to fundamental da Política Nacional tal Brasileiro), que atribuiu reformas e
Michele Strada do Meio Ambiente - (PNMA, Lei nº incorporações de novos parâmetros
Vértice 6.938/1981), cujo objetivo é agir de no que dispõe sobre a proteção da ve-
Agrimensura e
forma preventiva sobre a proteção am- getação nativa.
Planejamento
michele@verticemt. biental, compatibilizando-a com o de-
com.br senvolvimento socioeconômico no uso 2. Licenciamento ambiental
de recursos naturais e desenvolvimento O licenciamento ambiental é uma exi-
de atividades potencialmente polui- gência legal e uma ferramenta do poder
doras, considerando o meio ambiente público, instituído pela PNMA, que visa
como um patrimônio público a ser ne- mitigar a degradação ambiental decor-
cessariamente assegurado e protegido. rente das atividades e empreendimentos
A Constituição Federal de 1988 trou- potencialmente poluidores, agindo pre-
xe mecanismos para preservação e de- ventivamente sobre a proteção do meio
fesa ao meio ambiente, dedicando, de ambiente.
forma inovadora, todo um capítulo ao O conceito de licenciamento am-
tema. De acordo com seu artigo 225: biental é estabelecido pela Resolução
“Todos têm direito ao meio ambien- Conama 237/97 como o “procedimento
te ecologicamente equilibrado, bem de administrativo pelo qual o órgão am-
uso comum do povo e essencial à sa- biental competente licencia a localiza-
dia qualidade de vida, impondo-se ao ção, instalação, ampliação e a operação
Poder Público e à coletividade o dever de empreendimentos e atividades uti-
de defendê-lo e preservá-lo para as pre- lizadoras de recursos ambientais, con-
sentes e futuras gerações.” sideradas efetiva ou potencialmente
Em seu art. 23, incisos III, VI, e VII, a poluidoras; ou aquelas que, sob qual-
Constituição Federal atribui como com- quer forma, possam causar degradação
petência comum da União, dos estados, ambiental, considerando as disposições
do Distrito Federal e dos municípios, legais e regulamentares e as normas
proteger o meio ambiente, combater a técnicas aplicáveis ao caso”.
poluição em qualquer de suas formas e Neste contexto, pode-se afirmar que
preservar as florestas, a fauna e a flora. a licença ambiental é uma autorização
Neste contexto, o Estado de Mato oficial, uma espécie de outorga, emi-
Grosso vem se destacando, desde o tida pelo órgão público competente,
ano de 2000, na adequação ambien- ao empreendedor para a realização de
tal de imóveis e atividades, sendo um qualquer empreendimento ou ativida-
dos pioneiros na implantação de um de potencialmente poluidora ou degra-
sistema de controle e monitoramento dadora do meio ambiente, desde que
ambiental com uso de sensoriamento sejam obedecidas determinadas condi-
remoto e a integralização das ativida- ções, restrições e medidas de controle
des de monitoramento, licenciamento ambiental, a fim de resguardar o direito
e fiscalização dos desmatamentos em coletivo ao meio ambiente ecologica-
imóveis rurais. mente equilibrado.
Neste capítulo, serão apresentados Vale a pena enfatizar que a licença
os primeiros passos para a regulariza- ambiental tem pressuposto da defini-
ção ambiental de imóveis e ativida- tividade, estando sujeita a prazos de
des rurais no Estado de Mato Grosso, validade, porém poderá sofrer alte-

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ração, cassação ou invalidação da licença, se as adversa ocasionado. Os empreendimentos e ativi-


condições impostas pelo órgão ambiental não dades descritos na resolução são exemplificativos
forem cumpridas. e funcionam como norteador, e, mesmo que os
empreendimentos ou atividades não estejam lis-
2.1. Mas, afinal, quais empreendimentos e ativi- tados, deve-se consultar o órgão para determinar
dades precisam de licenciamento ambiental? se necessita ou não de licenciamento.
Todos os empreendimentos e atividades que
utilizam recursos ambientais necessitam de licen- 2.2. A competência para o licenciamento ambiental
ça ambiental, incluindo aqueles relacionados às De acordo com a Lei nº 6.938/81, a competên-
atividades agrícolas, pecuárias e florestais. cia para exercer o licenciamento ambiental de em-
O Conama (Conselho Nacional do Meio Am- preendimentos e atividades é do órgão ambiental
biente), através da Resolução Conama nº 237, de estadual, exceto nos casos de impactos ambien-
19 de dezembro de 1997, estabelece os procedi- tais considerados significativos, de âmbito regio-
mentos e critérios utilizados no licenciamento am- nal ou nacional (envolvendo estados federados ou
biental e no exercício da competência e traz em países vizinhos) e autorização a exploração de flo-
seu Anexo I as atividades e empreendimentos que restas e formações sucessoras, casos estes em que
devem ser necessariamente licenciados. No que se a atribuição compete ao órgão federal (Ibama),
refere às atividades agrossilvipastoris, necessitam conforme art.1º da Resolução Conama 378, de 19
de licença ambiental as seguintes atividades: de outubro de 2006.
• Indústria de madeira Portanto, o órgão estadual de meio ambiente,
- Serraria e desdobramento de madeira; integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente
- Preservação de madeira; (Sisnama) é o principal agente competente para li-
- Fabricação de chapas, placas de madeira aglo- cenciar atividades potencialmente causadoras de
merada, prensada e compensada; dano ambiental, reservando-se ao Ibama, órgão
- Fabricação de estruturas de madeira e de mó- federal, competência de caráter supletivo.
veis. Por meio da celebração do Pacto Federativo de
• Indústria de papel e celulose Gestão Ambiental Descentralizada e Compartilha-
- Fabricação de celulose e pasta mecânica; da (Pacto Federativo nº099, de 30 de dezembro de
- Fabricação de papel e papelão; 1999), torna-se responsabilidade da Secretaria de
- Fabricação de artefatos de papel, papelão, car- Estado do Meio Ambiente (SEMA) o exercício de
tolina, cartão e fibra prensada. suas competências constitucionais no que tange ao
• Indústria de borracha licenciamento ambiental de empreendimentos e
- Beneficiamento de borracha natural; atividades potencialmente degradadoras do meio
- Fabricação de câmara de ar e fabricação e re- ambiente, desenvolvidas no Estado de Mato Grosso.
condicionamento de pneumáticos;
- Fabricação de laminados e fios de borracha; 2.3. Tipos de licenças ambientais
- Fabricação de espuma de borracha e de arte- Para cada etapa do processo de licenciamento
fatos de espuma de borracha, inclusive látex. ambiental de um empreendimento ou atividade,
• Atividades agropecuárias há um tipo específico de licença adequada que
- Projeto agrícola; segue uma sequência lógica de encadeamento,
- Criação de animais; partindo desde planejamento, construção, insta-
- Projetos de assentamentos e de colonização; lação até a operação ou funcionamento da ativi-
- Uso de recursos naturais; dade, tradicionalmente envolvendo três etapas:
- Silvicultura, e; Licença prévia - concedida na fase preliminar do
- Exploração econômica da madeira ou lenha e planejamento do empreendimento ou atividade,
subprodutos florestais. aprovando sua localização e concepção, atestando
É importante salientar que atividades que cau- a viabilidade ambiental, devendo ser observados
sam degradação ao meio ambiente são difíceis de os planos municipais, estaduais e federais de uso
serem estabelecidas, considerando que não há dos recursos naturais e estabelecendo requisitos
como fixar de forma definitiva o grau de alteração básicos e condicionantes a serem atendidos nas

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

próximas fases de sua implantação. plantação e a operação de atividades


Licença de instalação - concedida para produtivas de uso do solo, com o pro-
autorizar a instalação do empreendimen- pósito de tornar ágil o licenciamento
to ou atividade de acordo com as espe- das atividades e evitar a repetição de
cificações constantes dos planos, progra- vistorias em campo para a emissão da
mas e projetos aprovados, incluindo as licença ambiental.
medidas de controle ambiental e demais Mas, antes de iniciar o licenciamento
condicionantes. ambiental das atividades exercidas no
Licença de operação - autoriza a ope- imóvel rural, faz-se necessária a adequa-
ração da atividade ou empreendimen- ção ambiental do imóvel rural através do
to, após o cumprimento de todas as exi- Cadastro Ambiental Rural (CAR), inicial-
gências feitas por ocasião da expedição mente criado pelo programa estadual MT
das licenças anteriores, autorizando o Legal (Decreto nº 2.238/2009) e poste-
início do empreendimento ou atividade riormente instituído pelo Governo Fede-
licenciada e o funcionamento de seus ral por meio do Programa Mais Alimentos
equipamentos de controle ambiental, (Decreto Federal nº 7.029/2009) e conso-
de acordo com o previsto nas licenças lidado pela Lei nº 12.651/2012, tido como
prévia (LP) e de instalação (LI) (fonte: instrumento central do novo Código Flo-
www.sema.mt.gov.br). restal Brasileiro.
Em alguns casos, o empreendedor
terá de obter outras autorizações de 3. Processo de adequação ambiental
acordo com a atividade pretendida, por rural no Estado de Mato Grosso – breve
exemplo, se ele faz uso do recurso na- histórico
tural “água”, além do licenciamento da • A Licença Ambiental Única (LAU) foi
atividade, deverá solicitar ao órgão am- instituída em Mato Grosso em 1995
biental competente a outorga de direito (Lei Complementar nº 38/95), substi-
de uso deste recurso. tuindo a LP, a LI e a LO, sendo exclu-
Há um rol de leis que tratam da ade- siva para o licenciamento de ativida-
quação ambiental de atividades de- des agropecuárias e florestais;
senvolvidas no imóvel rural, as quais • Em 2000, amparado legalmente
regulam desde o uso e descarte de pela Lei Complementar Estadual
agroquímicos até a proteção da vege- nº 38/1995, que estabelece o Códi-
tação nativa, passando por aquelas que go Ambiental do Estado de Mato
exigem o licenciamento de atividades Grosso, entra em vigor o Sistema de
que podem causar poluição do solo ou Licenciamento Ambiental em Pro-
da água (confinamento bovino, criação priedades Rurais (SLAPR) que, aliado
de suínos, instalação de granjas, por ao desenvolvimento de um sistema
exemplo). A Lei Federal nº 12.651/2012 próprio, tornaram o Estado de Mato
(Novo Código Florestal) é a principal Grosso o pioneiro no país no que se
delas, pois se aplica a todos os imóveis refere ao licenciamento ambiental
rurais, independentemente do uso que em propriedades rurais e em ações
os proprietários façam deles. de fiscalização e monitoramento
A partir de 1995, por meio de uma mediante o uso de tecnologias de
série de regulamentações estaduais, sistema de informação geográfica.
foi criado um instrumento de controle Atribuiu-se à LAU, além do licencia-
prévio e único para o licenciamento de mento de atividades agropecuárias e
atividades agrosilvipastoris nos imóveis florestais, o georreferenciamento do
rurais do Estado de Mato Grosso, que perímetro do imóvel e a delimitação
substitui a LP, a LI e a LO, autorizando de áreas de preservação permanente
de uma única vez a localização, a im- e reserva legal;

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2012

• No ano de 2008, foi criado o Programa Mato- gularização Ambiental (PRA), por meio de nor-
-grossense de Regularização Ambiental Rural mas de caráter específico iminentes ao Estado.
-MT, através da Lei Complementar nº 343, de • Em 6 de maio de 2016 - Término do prazo para
24 de dezembro de 2008. O licenciamento am- realizar o CAR dos imóveis rurais no território
biental rural no Estado de Mato Grosso passou brasileiro, sem prorrogações previstas.
a ser disciplinado pelo Cadastro Ambiental Importante: segundo o Novo Código Florestal,
Rural (CAR) como instrumento prévio e obri- a partir de 2017, o produtor que não fizer o CAR de
gatório por meio eletrônico para fins controle sua propriedade ficará impedido de ter acesso a
e monitoramento e pela LAU, no qual o pro- crédito rural pelas instituições financeiras do país.
prietário ou possuidor deveria providenciar a
localização e regularização da reserva legal e 3.1. O que mudou
o licenciamento de atividades realizadas em O CAR passou a ser o registro de todas as fei-
imóveis rurais; ções atuais de um imóvel rural, contendo informa-
• Em 2012 ocorre um marco na história do Bra- ções que antes não eram analisadas pelo Estado
sil, com a publicação do Novo Código Florestal nesta fase —como a delimitação de área de uso
Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), que traz pela restrito, áreas consolidadas, e principalmente a
primeira vez o Cadastro Ambiental Rural (CAR) análise de reserva legal —realizada anteriormen-
como instrumento federal obrigatório para to- te na fase LAU, além de ser necessário informar as
dos os imóveis rurais do país com a finalidade áreas remanescentes de vegetação nativa e pou-
de integrar informações ambientais das pro- sio. Já a LAU não tem mais o objetivo de realizar
priedades e posses rurais, compondo base de a regularização ambiental da propriedade e, sim,
dados de controle, monitoramento, planeja- apenas licenciar as atividades agrossilvipastoris
mento ambiental e econômico e combate ao exercidas no imóvel.
desmatamento; A Portaria nº 441, de 23 de setembro de 2014,
• Em 2014, através da Normativa nº 2/MMA, de 6 que dispõe sobre a inscrição no CAR no Estado
de Maio de 2014, são regulamentados os proce- de Mato Grosso e a implantação do Sicar, tam-
dimentos para integração, execução e compa- bém direciona as novas ações quanto à Licen-
tibilização do Sistema de Cadastro Ambiental ça Ambiental Única (processos em andamento
Rural (Sicar) e os procedimentos gerais do Ca- e novas solicitações) para fins de licenciamento
dastro Ambiental Rural (CAR) em nível federal; de atividades agrossilvipastoris, que deverão ser
• Devido à publicação do Novo Código Flores- formalizadas na Superintendência de Infraes-
tal, o Estado precisou adequar-se à legislação trutura, Mineração, Indústria e Serviços (Suimis/
federal, aderindo ao Sicar. Neste novo contex- Sema).
to, em 2014, foi regulamentada a implantação Ao aderir ao Sicar Federal, os proprietários ou
do Sicar e a Inscrição no Cadastro Ambiental possuidores rurais garantem o direito à adesão
Rural no Estado de Mato Grosso, através da ao Programa de Regularização Ambiental (PRA).
Portaria nº 441, de 23 de setembro de 2014. O PRA é um dos instrumentos criados pelo Novo
Com a integralização de informações am- Código Florestal que tem por objetivo promover a
bientais do imóvel rural no novo CAR, a LAU regularização ambiental das propriedades e pos-
deixou de ter fins de regularização ambiental ses rurais que apresentam passivos decorrentes
(delimitação de reserva legal, por exemplo), de qualquer irregularidade relativa à manutenção
tendo como objetivo o licenciamento das obrigatória das áreas de preservação permanente
atividades agropecuárias desenvolvidas no e reservas legais.
imóvel rural—a ser regulamentada diante dos O Estado de Mato Grosso está em processo de
novos parâmetros; adesão aos novos instrumentos legais trazidos
• Em 6 de maio de 2015 - prorrogação prevista pela atualização do Código Florestal, desta forma,
em lei por mais um ano para realização do CAR tanto o PRA quanto o Licenciamento das Ativida-
federal; des Agropecuárias encontram-se atualmente em
• Em 2015 e 2016, o Estado de Mato Grosso está processo de elaboração e terão normas regula-
incumbido de estabelecer o Programa de Re- mentadas em breve.

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

CAR

(Fonte: Elaborado pela autora)


Cadastro Ambiental Rural

Figura 1. Os
três passos para
a adequação
ambiental do
imóvel rural
Licenciamento Único de PRA - Programa de
Atividades Agrossilvipastoris Regularização Ambiental

4. Cadastro Ambiental Rural (CAR) to público ou privado, em regime indivi-


O Cadastro Ambiental Rural (CAR) dual ou comum, que se destine ao uso
é um registro eletrônico, obrigatório econômico, à preservação, e à conserva-
para todos os imóveis rurais, que tem ção dos recursos naturais renováveis”.
por finalidade integrar as informações As propriedades ou posses de áreas
ambientais para ajudar no processo de contínuas, de mesmo proprietário ou
regularização das propriedades e pos- possuidores, independentemente da
ses rurais, consistindo no georreferen- área e da característica do domínio, de-
ciamento do perímetro do imóvel, dos verão efetuar uma única inscrição.
remanescentes de vegetação nativa, das
áreas de preservação permanente (APP), 4.1. Quais informações serão cadastra-
áreas de uso restrito, as áreas consolida- das?
das e a reserva legal. • Identificação do(s) proprietário(s) ou
O CAR foi instituído pela Lei nº 12.651, possuidor(es) do imóvel;
de 25 de maio de 2012, no âmbito do • Declaração dos documentos com-
Sistema Nacional de Informação sobre probatórios da propriedade ou posse
Meio Ambiente (Sinima), e regulamen- rural;
tado pelo Decreto Federal nº 7.830/12, • Identificação do imóvel rural;
com o objetivo de auxiliar a Administra- • Georreferenciamento das áreas:
ção Pública na gestão e no processo de - do imóvel;
regularização ambiental de propriedades - de uso e ocupação atual do solo,
e posses rurais. O cadastro se constitui sendo áreas consolidadas, de pousio ou
em uma base de dados estratégica para remanescente de vegetação;
o controle, monitoramento e combate - das áreas de preservação perma-
ao desmatamento das florestas e demais nente (RL) e de uso restrito;
formas de vegetação nativa do Brasil, - e das áreas de reserva legal (propos-
bem como para planejamento ambiental ta, averbada, aprovada e não averbada).
e econômico dos imóveis rurais do país,
sendo o primeiro passo para obtenção 4.2. Inscrição no CAR
de qualquer licença ou exploração dos A inscrição no CAR possui natureza
recursos naturais dentro do imóvel rural. declaratória, sendo obrigatória para to-
dos os imóveis rurais, propriedades ou
O que se entende por imóvel rural posses, sejam eles públicos ou privados
Trata-se de “uma ou mais proprieda- e áreas de povos indígenas e comunida-
des ou posses, contínuas, pertencente à des tradicionais.
mesma pessoa física ou jurídica, de direi- O contexto para a elaboração do ca-

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2012

dastro depende das características e da situação Pendente: cadastros que contiverem declara-
ambiental, bem como titularidade e área do imó- ção incorreta, sobreposições do imóvel rural ou
vel. Apesar de exigir dados para comprovação da quando houver notificação de irregularidades
propriedade ou posse rural, a inscrição no CAR relativas às áreas declaradas, enquanto não fo-
não tem valor fundiário, não podendo ser cobrado rem cumpridas as notificações nos prazos deter-
por cartório para registrar escrituras de imóveis. minados.
Porém, a partir de 2017, as instituições financeiras Cancelado: quando constatado que as informa-
cobrarão o CAR como pré-requisito para conceder ções declaradas são total ou parcialmente falsas,
crédito aos produtores rurais. enganosas ou omissas; após o não cumprimento
O procedimento é gratuito (isento de taxas) dos prazos estabelecidos nas notificações; ou por
para o cadastro de todos os imóveis rurais. decisão judicial ou decisão administrativa do ór-
Conforme art. 8º do Decreto Federal nº gão competente, devidamente justificada. Caso
7.830/2012, podem requerer ajuda do Poder Pú- o cadastro por decisão administrativa ou judicial
blico para realização do cadastro: fique na situação “cancelado”, o interessado não
• Proprietários ou possuidores rurais com até poderá emitir o recibo (Sicar).
quatro módulos fiscais que desenvolvam ativi-
dades agrossilvipastoris; 5. Revendo Conceitos
• Povos e comunidades indígenas e tradicionais
que façam uso coletivo do seu território. 5.1. Área de Preservação Permanente (APP)
As áreas de preservação permanente (APPs) são
4.3. Prazo para Inscrição no CAR espaços protegidos por lei que visam à manuten-
O prazo para inscrição foi estabelecido em um ção dos recursos naturais, sendo consideradas ele-
ano contado a partir da publicação da IN nº 2/14, mento importante no escopo de ações que buscam
do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que ocor- o desenvolvimento sustentável com o objetivo de
reu no dia 5 de maio de 2014, sendo prorrogado proteger o solo, a biodiversidade e os recursos hí-
por igual período por ato do chefe do Poder Exe- dricos dos biomas Figura 2.
cutivo Federal. O recibo, documento emitido ao De acordo com o Código Florestal, entende-se
final do cadastro, poderá ser retificado antes ou por APP:
depois da análise, devendo ser atualizado caso o “Área protegida, coberta ou não por vegetação
imóvel seja desmembrado, ampliado ou vendido nativa, com a função ambiental de preservar os re-
ou quando houver alterações de uma ou mais in- cursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geoló-
formações declaradas, mantendo-o sempre atuali- gica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
zado. O cadastro não apresenta prazo de validade, fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-
porém está disponível em três status: -estar das populações humanas.”
Ativo: cadastro sem pendências - aqueles que,
após concluída a inscrição no CAR, estiverem cum- 5.1.1. Localização e tamanho das APPs
prindo as obrigações de atualização das informa- I - As faixas marginais de qualquer curso d’água
ções cadastradas e aqueles que estiverem em re- natural perene e intermitente, excluídos os efême-
gularidade das informações após análise do órgão ros, desde a borda da calha do leito regular, em lar-
competente. gura mínima, conforme a Tabela 1:

Tabela 1. Regra Geral para largura de APPs de cursos d´água


Largura da APP Largura do Curso Dágua
30 metros Menor que 100 metros
50 metros Entre 10 e 50 metros
100 metros Entre 50 e 200 metros
200 metros Entre 200 e 600 metros
500 metros Maior que 600 metros

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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

Figura 2. Função ambiental das APPs

II - as áreas no entorno dos lagos e VI - as restingas, como fixadoras de


lagoas naturais, em faixa com largura dunas ou estabilizadoras de mangues;
mínima de: VII - os manguezais, em toda a sua
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, extensão;
exceto para o corpo d’água com até 20 VIII - as bordas dos tabuleiros ou cha-
(vinte) hectares de superfície, cuja faixa padas, até a linha de ruptura do relevo,
marginal será de 50 (cinquenta) metros; em faixa nunca inferior a 100 (cem) me-
b) 30 (trinta) metros, em zonas ur- tros em projeções horizontais;
banas; IX - no topo de morros, montes,
III - as áreas no entorno dos reserva- montanhas e serras, com altura mínima
tórios d’água artificiais, decorrentes de de 100 (cem) metros e inclinação média
barramento ou represamento de cursos maior que 25°, as áreas delimitadas a
d’água naturais, na faixa definida na li- partir da curva de nível corresponden-
cença ambiental do empreendimento; te a 2/3 (dois terços) da altura mínima
IV - as áreas no entorno das nascen- da elevação sempre em relação à base,
tes e dos olhos d’água perenes, qualquer sendo esta definida pelo plano hori-
que seja sua situação topográfica, no raio zontal determinado por planície ou es-
mínimo de 50 (cinquenta) metros; pelho d’água adjacente ou, nos relevos
V - as encostas ou partes destas com ondulados, pela cota do ponto de sela
declividade superior a 45°, equivalen- mais próximo da elevação;
te a 100% (cem por cento) na linha de X - as áreas em altitude superior a
maior declive; 1.800 (mil e oitocentos) metros, qual-

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quer que seja a vegetação; posição de reserva legal variando de acordo com
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção a localização geográfica do imóvel rural e o bioma
horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) nele existente.
metros, a partir do espaço permanentemente bre- Imóvel localizado na Amazônia Legal:
joso e encharcado. • 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em
áreas de floresta;
Importante! • 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situa-
O novo Código Florestal Brasileiro traz o bene- do em área de cerrado;
fício da não obrigatoriedade de recuperação total • 20% (vinte por cento), no imóvel situado em
das APPs em áreas que já estavam desmatadas e área de campos gerais;
ou ocupadas por atividades agropecuárias, flores- Imóvel localizado nas demais regiões do país:
tais, de ecoturismo e de turismo rural até 22 de ju- • 20% (vinte por cento).
lho de 2008 —as chamadas áreas consolidadas—, Atualmente, a Amazônia Legal ocupa uma área
considerando a faixa mínima para recuperação de cerca de 60% do território brasileiro, corres-
das APPs que será diferente de acordo com o ta- pondente à totalidade dos estados do Acre, Pará,
manho em módulos fiscais da propriedade rural. Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins
e Mato Grosso, além de parte do Estado do Mara-
5.2. Reserva legal nhão (a oeste do meridiano de 44º de longitude
O Código Florestal Brasileiro define a reserva le- oeste), conforme a Figura 3.
gal como uma “área localizada no interior de uma Vale lembrar que é admitido o cômputo das
propriedade ou posse rural, com a função de asse- áreas de preservação permanente no cálculo do
gurar o uso econômico de modo sustentável dos re- percentual da reserva legal do imóvel, indepen-
cursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conserva- dentemente de seu tamanho, desde que o pro-
ção e a reabilitação desses mesmos recursos, auxiliar prietário ou possuidor tenha requerido a inclusão
a conservação e a reabilitação dos processos ecoló- no CAR e que o benefício não implique na conver-
gicos e promover a conservação da biodiversidade, são de novas áreas para uso alternativo do solo.
bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e Caso o imóvel tenha vegetação nativa que
da flora nativa”, ou seja, é uma parte do imóvel rural ultrapasse o mínimo exigido por lei para a com-
que deve ser preservada por abrigar uma parcela re- posição da reserva legal, a área excedente po-
presentativa do bioma da região onde está inserida, derá ser utilizada para constituição de servidão
importante para a conservação do meio ambiente e ambiental, cota de reserva ambiental, para com-
manutenção da biodiversidade. pensação de reserva legal de outros imóveis de
Todo imóvel deve manter um percentual míni- mesma titularidade ou de terceiros mediante ar-
mo com cobertura de vegetação nativa para com- rendamento.

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MANUAL
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DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

(Fonte: Elaborado pela autora)

Figura 3. Mapa indicando os estados da Amazônia Legal

Atualmente, o proprietário ou pos- até 4 (quatro) módulos fiscais em 22 de


suidor rural fica desobrigado a fazer a julho de 2008 e que possuam remanes-
averbação da reserva legal em cartório, centes de vegetação nativa inferiores
ela ficará automaticamente registrada ao previsto na lei. O pequeno proprie-
no CAR após a aprovação do órgão am- tário ou possuidor não será obrigado a
biental referente à localização, não po- ter a reserva legal nos percentuais esta-
dendo mais ser alterada. belecidos em lei, mas precisa informar
sobre toda a vegetação existente no
Importante! imóvel, que será computada como re-
A atualização do Código Florestal, serva legal, vedadas novas conversões
em seu art. 67, abriu uma exceção para de vegetação nativa para uso alternati-
os pequenos imóveis rurais com área de vo do solo.

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6. Programa de regularização ambiental mo e de turismo rural desenvolvidas em áreas


Após a inscrição do imóvel rural no CAR e a aná- consolidadas até 22 de julho de 2008, localiza-
lise do cadastro pelo órgão ambiental, os imóveis das em APPs, serão autorizadas desde que haja
que tiverem passivos ambientais relativos a APP, a recomposição das respectivas faixas marginais
área de uso restrito e reserva legal poderão ser mínimas, conforme previsto na seção II da Lei nº
regularizados através do Programa de Regulariza- 12.651/2012, referente a cada categoria de APP
ção Ambiental (PRA). A adesão ao programa não é de acordo com o tamanho do imóvel rural. As fai-
obrigatória e deve ser requerida no prazo de um xas mínimas para recuperação estão dispostas na
ano a partir da implantação do PRA nos estados Tabela 2.
e Distrito Federal, prorrogável uma única vez, por A recomposição das APP em pequenas proprie-
igual período, previsto em lei. No Estado de Mato dades é obrigatória em:
Grosso, o PRA encontra-se em fase de implanta- • 10% da área total de imóveis com até dois mó-
ção, a ter norma regulamentada em breve. dulos fiscais;
Identificando os passivos ambientais por meio • 20% da área total de imóveis que tenham de
da delimitação de áreas na fase CAR, o proprietá- dois a quatro módulos fiscais.
rio ou possuidor deverá apresentar propostas de
recuperação dessas áreas para aprovação dos ór- 6.2. Regularização ambiental de reserva legal
gãos responsáveis e assinatura do termo de com- O proprietário que detém imóveis com o per-
promisso perante o órgão ambiental competente. centual de vegetação nativa inferior ao estabe-
O Código Florestal Brasileiro trás o novo concei- lecido por lei para a composição da reserva legal
to de área consolidada, caracterizada como sendo poderá optar por formas isoladas ou conjuntas de
a área de imóvel rural com ocupação antrópica regenerar, recompor ou compensar as áreas de re-
(resultante da ação humana), preexistente a 22 de serva legal. As alterações do novo Código Florestal
julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou ati- permitem a regularização da reserva legal mesmo
vidades agrossilvipastoris (admitida, neste último sem adesão ao PRA.
caso, a adoção de regime de pousio). Para a regu-
larização de APPs, reserva legal e áreas de uso res- 6.2.1. Regeneração e recomposição
trito, devem considerar-se os benefícios previstos Para a recomposição da RL, o proprietário
em lei, que garantem a continuidade de empreen- poderá conduzir a regeneração natural para os
dimentos e atividades desenvolvidas em áreas ex- casos em que as condições forem tecnicamente
ploradas preexistentes a 22 de julho de 2008. favoráveis, realizar o plantio de espécies nativas
de forma integral ou plantio de espécies nativas
6.1. Regularização ambiental de APPs conjugado com a regeneração natural, e pode-
As atividades agrossilvipastoris, de ecoturis- rá ser realizada gradativamente em até 20 anos,

Tabela 2. Recomposição de APPs em áreas consolidadas


REGRA GERAL APPs em Áreas Consolidadas até 22 de julho de 2008
Tamanho do imóvel em módulos fiscais
Tipo de APP Largura do Curso Dagua APP Total
Até 1 de 1 a 2 de 2 a 4 Superior a 4
Cursos d´água Até 10m 30m
naturais, Conforme
De 10 a 50m 50m determinação do
perenes ou
intermitentes, De 50 a 200m 100m 5m 8m 15m PRA, sendo largura
excluindo os De 200 a 600 200m min. de 20 e máx. de
efêmeros. 100m.
Acima de 600 500m
Nascentes de Olhos D´água Perenes 50m Mínimo 15m
Lagos ou Lagoa Naturais em zona rural de 50 a 100m 5m 8m 15m 30m
Veredas 50m 30m 30m 30m 50m

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DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO

quando o proprietário se compromete 7. CAR - Passo a passo simplificado para


a promover, cada dois anos, a revege- inscrição e retificação
tação em 10% da área total necessária.
A recomposição poderá ser condu- 1) Módulo de cadastro
zida intercalando o plantio de espécies A inscrição é realizada de forma ele-
nativas com exóticas ou frutíferas, em trônica, através da internet. Porém o
sistema agroflorestal, considerando que cadastro/retificação pode ser realizado
o plantio de exóticas deverá ser com- off-line, por meio da plataforma de cada
binado com espécies de ocorrência re- estado, disponível para download em:
gional e que a área recomposta com es- www.car.gov.br.
pécies exóticas não poderá ultrapassar A Figura 4 apresenta a página do CAR
50% da área total a ser recuperada. para download do Módulo Estadual, e,
O proprietário ou possuidor que se em alguns estados, é informado o link
utilizar de espécies exóticas para recom- para a página do órgão público respon-
por a reserva legal intercalando com es- sável naquele estado, contendo as dire-
pécies nativas terá o direito à exploração trizes específicas para a inscrição no CAR.
econômica, mediante plano de manejo Poderá ser realizada a instalação
florestal (simplificado para imóveis com de apenas um módulo por computa-
até quatro módulos fiscais). dor. Alguns estados possuem módu-
los próprios para inscrição no CAR. Em
6.2.2. Compensação Mato Grosso, em especial, o módulo
A área usada para compensação utilizado é o federal, contendo algu-
deverá ser equivalente em extensão e mas customizações de acordo com as
estar localizada no mesmo bioma da regulamentações estaduais.
reserva legal a ser compensada, ainda
que em outro estado, com vegetação 2) Imagens de satélite
nativa estabelecida, em regeneração ou Para iniciar o cadastro, é necessário
recomposição. instalar, através do módulo de análise
A compensação só poderá ser rea- (Figura 5), as imagens da região de inte-
lizada em precedência à inscrição do resse que serão utilizadas na delimita-
imóvel rural no CAR e poderá ser feita ção de áreas na fase GEO.
mediante: Quando o imóvel encontra-se inseri-
• Aquisição de cota de reserva am- do em mais de um município, o cadas-
biental (CRA); tro deverá ser realizado no município
• Arrendamento de área sob regime de onde o imóvel tem maior área.
servidão ambiental ou reserva legal; Poderão ser utilizadas imagens ar-
• Doação ao Poder Público de área lo- mazenadas em disco ou obtê-las na in-
calizada no interior de unidade de ternet, basta selecionar a região preten-
conservação de domínio público dida (estado e município).
pendente de regularização fundiária; O módulo põe à disposição imagens
• Cadastramento de outra área equi- de satélite Rapid Eye ortorretificadas
valente e excedente à reserva legal, com até 5 m de resolução espacial, ca-
em imóvel de mesma titularidade ou pazes de gerar mapeamento em diver-
adquirida em imóvel de terceiro, com sos níveis de escala. É necessário reali-
vegetação nativa estabelecida, em zar o download de imagens da região
regeneração ou recomposição, des- pretendida apenas uma vez, já que elas
de que localizada no mesmo bioma. ficam disponíveis para acesso posterior.

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Figura 4. Página do CAR Federal para download dos módulos estaduais

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Figura 5. Módulo de cadastro - aba Baixar Imagens

3. Cadastro do Imóvel lizados em zonas rurais ou urbanas


No módulo de cadastro, na aba CA- com destinação rural;
DASTRAR (Figura 6), é possível iniciar a • Imóvel rural de povos e comunida-
inscrição de um novo imóvel rural que des tradicionais: grupos que façam
não tenha recibo emitido ou dar conti- uso coletivo do território - opção dis-
nuidade a um cadastro não finalizado. ponível apenas para entidades repre-
O módulo põe à disposição o cadas- sentativas;
tro de imóveis nos seguintes casos (Fi- • Imóvel rural de assentamento de re-
gura 7): forma agrária: opção disponível ape-
• Imóvel rural: cadastrar imóveis loca- nas para órgãos fundiários.

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Figura 6. Módulo de cadastro - aba Cadastrar

Figura 7. Módulo de cadastro - aba Cadastrar Novo Imóvel Rural

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

3.1. Cadastrante I. Nome;


A inscrição de um novo imóvel rural II. CPF;
inicia-se pelo campo Cadastrante (Figu- III. Data de nascimento, e;
ra 8). Nesta etapa, deverão ser forneci- IV. Nome da mãe.
dos os dados pessoais da pessoa que Mesmo havendo a figura do cadas-
está realizando o cadastro, sendo o pro- trante, a responsabilidade pela de-
prietário do imóvel, um facilitador ou claração é do proprietário/possuidor,
um responsável técnico. conforme o §1º, art. 6º do Decreto nº
Dados pessoais do cadastrante: 7.830/2012.

Figura 8. Módulo de cadastro - Cadastrante

3.2. Imóvel vel (informar também quando não hou-


Na etapa Imóvel (Figura 9), deverão ver atividades desenvolvidas) e selecio-
ser informados os dados do imóvel ru- nar as atividades que o produtor tem
ral a ser cadastrado, tais como nome do intenção de implantar futuramente no
imóvel, município e roteiro de acesso. O imóvel em questão. Deve ser informado
usuário deverá selecionar as atividades também um endereço válido para o en-
que atualmente são realizadas no imó- vio de eventuais correspondências.

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Figura 9. Módulo de cadastro - Imóvel

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

3.3. Domínio conforme arts. 3º e 4º do Código Civil.


Na etapa Domínio (Figura 10), o ca- Dados do(s) proprietário(s):
dastrante deve informar todos os pro- I. Pessoa física: nome, CPF, data de
prietários ou posseiros, identificando se nascimento, nome da mãe do proprietá-
é pessoa física ou jurídica. Quando o pro- rio e dos representantes legais, se hou-
prietário/possuidor for pessoa jurídica, ver, e o e-mail de todos os proprietários;
pessoa física menor de idade, considera- II. Pessoa jurídica: CNPJ, nome da
do incapaz (interditado) ou em caso de empresa, nome fantasia; dados do re-
espólio se faz necessária a identificação presentante legal: nome, CPF, data de
do(s) representante(s) legal(is) destes, nascimento, nome da mãe.

Figura 10. Módulo de cadastro - Domínio

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3.4. Documentação da área do imóvel e das características físicas deste


Em documentação (Figura 11), especificar por meio de georreferenciamento, ou seja, as fei-
quando se trata de propriedade e/ou posse. De- ções do imóvel poderão ser desenhadas ou inse-
pendendo da escolha, serão solicitados dados ridas em formatos de arquivos georreferenciados
referentes à opção, sendo necessário especificar em uma imagem ou mapa com localização geo-
o tipo de documento que poderá ser selecionado gráfica conhecida (Figuras 12 e 13).
na lista correspondente. Informações específicas Os arquivos georreferenciados aceitos no mó-
são solicitadas, porém apenas os campos marca- dulo de cadastro devem estar nos formatos Sha-
dos com asterisco (*) são de preenchimento obri- pefile, Kml ou GPX.
gatório. Não há limites de documentos, podendo A aba GEO irá iniciar com a imagem do municí-
ser adicionada a quantidade de informações que pio baixada anteriormente ao cadastro. Esta etapa
for necessária, considerando os dados que forem é composta por cinco passos a serem executados
solicitados. Além do SNCR¹ e a certificação do por meio da delimitação das características físicas
Imóvel no Incra (quando for o caso), deverão ser específicas do imóvel, sendo:
informadas as áreas de reserva legal averbadas a. Área do imóvel: área total do imóvel rural, sen-
nos documentos. Quando compensadas em ou- do o conjunto de propriedades ou posses distribuí-
tro imóvel, informar o número do CAR do imóvel das de forma contínua. A área declarada constante
onde está a reserva. nos documentos podem não corresponder com o
desenho elaborado, já que o registro no CAR não é
3.5. GEO impedido quando o levantamento da área não for
Nesta etapa, o cadastrante indica a delimitação obtido com instrumentos de precisão.

Continua na próxima página


Figura 11. Módulo de cadastro - Documentação

¹ Código único do imóvel rural no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). O SNCR é um instrumento fundamental
para a gestão da estrutura fundiária do país, dispondo de informações dos imóveis rurais do Brasil, assim como de seus
proprietários ou detentores e de todos aqueles que exploram a terra na forma de comodatário, parceiro ou arrendatário.
O SNCR é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e quando o imóvel rural é cadastrado no
sistema é gerado um número de 13 dígitos e emitido um certificado o “Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR)”. O
sistema pode ser acessado pelo link: http://ccirweb.serpro.gov.br/ccirweb/emissao/formEmissaoCCIRWeb.asp

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Figura 11. Módulo de cadastro - Documentação

b. Cobertura do solo: áreas no interior todas as categorias que existirem no


do imóvel rural que são constituídas por imóvel rural, de acordo com o Código
áreas de pousio, áreas consolidadas e re- Florestal. O sistema indicará as APPs re-
manescentes de vegetação. gulares e irregulares automaticamente.
c. Servidão administrativa: áreas ocu- e. Reserva legal - inscrição de três
padas por estradas, linhões de transmis- maneiras distintas:
são de energia ou outras obras públicas • Reserva legal proposta;
que recortam o interior do imóvel rural. • Reserva legal averbada;
d. APP/Uso restrito: inscrição de • Reserva legal aprovada e não averbada.

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Observação: em
amarelo destacam-
se as APPs em área
consolidada, isentas
de recuperação,
conforme art.61 do
Código Florestal
(APPs em áreas
consolidadas), e, em
laranja, encontram-
se as faixas
mínimas de APPs
suprimidas além do
permitido, devendo
ser realizada a
regularização
ambiental

Figura 12. Módulo de cadastro - GEO: exemplo 1 de delimitação de feições de um imóvel rural

Figura 13. Módulo de cadastro - GEO: exemplo 2 de delimitação de feições de um imóvel rural realizada em tela expandida

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Figura 14. Módulo de cadastro - Informações Continua na próxima página

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Figura 14. Módulo de cadastro - Informações

3.6. Informações 4. Finalização e Envio


A última etapa de preenchimento do CAR Ao clicar em “finalizar”, o usuário será direciona-
consiste em um questionário (Figura 14), que do para a página com o resumo do cadastro preen-
deve ser respondido de acordo com as informa- chido, sendo possível o download de um protoco-
ções específicas da situação do imóvel. O usuário lo com as informações de cadastro do imóvel em
deve assinalar em sim ou não, e, quando positivo, formato pdf. Este protocolo servirá como recibo
vão se abrir novos campos para preenchimento do cadastro para o usuário.
referentes à informação assinalada. O cadastro finalizado será listado na aba “Ca-
Ao término do preenchimento do questionário, dastrar” como um imóvel cadastrado, podendo ser
o cadastro poderá ser finalizado. Lembrando que, alterado antes de sua gravação para envio.
ao iniciar o preenchimento do CAR, as informa- A opção GRAVAR PARA ENVIO (Figura 15), na
ções serão salvas mesmo sem finalizar, podendo tela inicial do módulo de cadastro, permite ao
acessá-las posteriormente, dando continuidade usuário gravar um arquivo referente ao cadastro
ao cadastro quantas vezes forem necessárias, até já finalizado de um imóvel. Acessando a funcio-
a conclusão deste. nalidade de gravação, será gerado um arquivo na
extensão CAR, referente ao cadastro preenchido,
que deve ser enviado ao sistema on-line.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Figura 15. Módulo de cadastro - Gravar arquivo na extensão .CAR para envio pela plataforma on-line

A opção ENVIAR fornece informações gov.br/car), enviando o arquivo .CAR de


importantes e específicas de como o acordo com as instruções do botão “en-
usuário deve enviar os cadastros de imó- viar” contido na página.
veis finalizados para a plataforma federal. Conforme o art. 7º da Instrução Nor-
No caso específico do Estado de mativa nº 02/MMA, de 6 de Maio de 2014,
Mato Grosso, o usuário deverá acessar o registro do imóvel é nacional, único e
o site da Sema, (http://www.sema.mt. permanente.

Figura 16. Arquivo na extensão .CAR enviado ao sistema on-line

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5. Retificação posse - informar o número de registro no CAR (re-


Após o envio do cadastro, o sistema não per- cibo gerado pela plataforma) e importar o arquivo
mite seu cancelamento. O usuário terá a possibi- .CAR em seu computador.
lidade de retificar o cadastro, caso seja necessária - Quando o usuário não possui o arquivo .CAR
a correção de alguma informação que, por ventu- – basta informar o número de registro no CAR e
ra, tenha sido declarada de forma equivocada no iniciar a retificação.
momento do cadastro. Após optar pela funcionalidade Retificar, es-
O proprietário/possuidor também deverá alte- tarão disponíveis para preenchimento todos os
rar todas as informações e documentos cadastra- passos descritos anteriormente (itens 3.1 a 3.7).
dos sempre que houver a venda ou transferência Quando o arquivo .CAR for inserido, as informa-
de titularidade do imóvel, ou seja, precisará reti- ções declaradas no arquivo serão disponibiliza-
ficar o cadastro atualizando o domínio do imó- das para edição, caso contrário, todas as abas es-
vel no cadastro, visto que esta é uma informação tarão em branco para preenchimento.
obrigatória. Lembrando que poderão ser feitas quantas reti-
A opção RETIFICAR (Figura 17) apresenta duas ficações forem necessárias, porém elas ficarão dis-
maneiras distintas de retificação: poníveis em um histórico à disposição do órgão
- Quando o usuário tem o arquivo .CAR em sua no momento da análise.

Figura 17 . Módulo de cadastro - Retificar um CAR existente que possui recibo emitido

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8. Benefícios ao se cadastrar sobre a Propriedade Territorial Rural


• Possibilidade de regularização de (ITR), gerando créditos tributários;
APPs e/ou reserva legal. Vegetação • Linhas de financiamento para aten-
natural suprimida ou alterada até der iniciativas de preservação vo-
22/7/2008 no imóvel rural, sem au- luntária de vegetação nativa, pro-
tuação por infração administrativa teção de espécies da flora nativa
ou crime ambiental; ameaçadas de extinção, manejo
• Suspensão de sanções em função de florestal e agroflorestal sustentável
infrações administrativas por supres- realizados na propriedade ou posse
são irregular de vegetação em áreas rural, ou recuperação de áreas de-
de APP, reserva legal e de uso restrito, gradadas;
cometidas até 22/7/2008. • Isenção de impostos para os princi-
• Obtenção de crédito agrícola, em to- pais insumos e equipamentos, tais
das as suas modalidades, com taxas como: fio de arame, postes de ma-
de juros menores, bem como limites deira tratada, bombas d’água, trado
e prazos maiores que os praticados de perfuração do solo, dentre outros
no mercado; utilizados para os processos de recu-
• Contratação do seguro agrícola em peração e manutenção das áreas de
condições melhores que as pratica- preservação permanente, de reserva
das no mercado; legal e de uso restrito.
• Dedução das áreas de preservação Fonte: Sistema Nacional de Cadastro
permanente, de reserva legal e de uso Rural – Sicar, disponível em http://www.
restrito. Base de cálculo do Imposto car.gov.br/#/sobre

Observação: fonte das imagens utilizadas neste capítulo: print screen do módulo de cadastro e
plataforma on-line Sicar.

Referências bibliográficas

BRASIL. Código Florestal. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.


Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e dá outras providências.

BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 237,


de 19 de dezembro de1997.

BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 378,


de 19 de outubro de 2006.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa nº2/


MMA, de 6 de maio de 2014. Dispõe sobre os procedimentos para inte-
gralização, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro Ambien-
tal Rural – SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro Ambien-
tal Rural – CAR.

BRASIL. Política Nacional de Meio Ambiente. Lei Federal nº 6.938,


de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências.

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2012

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 16ª ed. São Paulo: Sa-
raiva, 1997. 228 p.

CAR – Cadastro Ambiental Rural de Mato Grosso, vinculado ao sistema federal.


Disponível em: http://www.sema.mt.gov.br/car. Acesso em junho 2015.

Cartilha de licenciamento ambiental / Tribunal de Contas da União; com colabo-


ração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis. 2ª ed. Brasília: TCU, 4ª Secretaria de Controle Externo, 2007. 83 p.

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Cadastro Ambiental


Rural CAR: como se cadastrar / Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura. Brasília: Contag, 2014. 22 p.

MATO GROSSO. Legislação Estadual. Decreto nº2.238, de 13 de Novembro de


2009. Regulamenta o Programa Mato-Grossense de Regularização Ambiental Ru-
ral – MT Legal disciplina as etapas do Processo de Licenciamento Ambiental de
Imóveis Rurais e dá outras Providências.

MATO GROSSO. Legislação Estadual. Pacto Federativo nº99/2000 de 30 de de-


zembro de 1999. Dispõe sobre o exercício das competências constitucionais de
proteção ao meio ambiente e dos recursos naturais renováveis.

MATO GROSSO. Legislação Estadual. Portaria nº441, de 23 de setembro de


2014. Dispõe sobre a Inscrição no Cadastro Ambiental Rural no Estado de Mato
Grosso; implantação do Sistema de Cadastro Ambiental Rural – SICAR, e dá outras
providências.

MATO GROSSO. Lei Complementar nº 38, de 21 de novembro de 1995. Dispõe


sobre o Código Estadual de Meio Ambiente.
MMA – Ministério do Meio Ambiente. Licenciamento Ambiental. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br>. Acesso em junho 2015.

MMA – Ministério do Meio Ambiente. Manual do Usuário - Cadastro Ambiental


Rural. Módulo de Cadastro, versão 1.0. Disponível em < http://www.sema.mt.gov.
br/car/public/Manual.pdf
SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente. LP, LI e LO. Disponível em < http://
www.sema.mt.gov.br>. Acesso em: jun. 2015.

SICAR – Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. Disponível em: http://


www.car.gov.br>. Acesso em junho de 2015.

Sistema de licenciamento ambiental em propriedades rurais no estado de Mato


Grosso: análise de sua implementação/ Instituto Socioambiental ISA, Instituto
Centro de Vida ICV. Brasília: MMA, 2006. 177 p.

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DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Orientações para o manejo


de áreas de cultivo de algodão
no estado de Mato Grosso visando
Eliana Freire a proteção ambiental
Gaspar de
Carvalho Dores
UFMT
elidores@uol.com.br 1. Introdução alterá-lo de maneira significativa com
Este texto tem por objetivo apresen- prejuízo à vida.
tar orientações aos cotonicultores com A Figura 1 ilustra, de maneira esque-
relação ao manejo da cultura do algo- mática, os caminhos percorridos pelas
dão, visando a proteção ambiental e, em águas, antes de atingirem o oceano e
última instância, a sustentabilidade da iniciarem um novo ciclo.
cultura. Destaca-se que a maior parte das Deduz-se, assim, que a cobertura ve-
observações aqui apresentadas não se getal é o elemento natural controlador
restringe à cultura do algodão e pode ser dos possíveis desequilíbrios do funciona-
aplicada a qualquer atividade agrícola. mento hídrico, favorecendo a infiltração
Antonio Brandt
Para que as orientações apresenta- e, ao mesmo tempo, a retenção de água
Vecchiato
UFMT
das neste capitulo sejam facilmente no solo, que será por ela própria utilizada.
compreendidas, inicialmente estão A infiltração das águas de chuva no solo é
apresentados os processos físicos e facilitada pela vegetação em consequên-
químicos que ocorrem numa cultura e cia da matéria orgânica acumulada e in-
que influenciam na dinâmica dos agro- corporada na fração mineral do solo.
químicos no ambiente com especial A matéria orgânica em processo de
ênfase aos processos erosivos, pois es- decomposição, bem como a humifi-
tes, além de contribuírem na distribui- cada (fração mais estável), tem a ca-
ção dessas substâncias no solo, podem pacidade de absorver e reter grande
alterar a qualidade do solo e da água. quantidade de água, além de organi-
Oscarlina Lúcia
zar e agregar os constituintes mine-
dos Santos
1.1. Como se comportam as águas nos rais do solo, desenvolvendo sua po-
Weber
UFMT terrenos rosidade, isto é, vazios, em pequenos
A movimentação da água nos terre- volumes (macroscópicos e microscó-
nos, além de ser responsável pela ma- picos), que existem no interior das ca-
nutenção dos ecossistemas, é um im- madas do solo. A porosidade do solo
portante fator que pode desencadear também se forma pela ação das raízes
processos erosivos e contribuir para a das plantas e pelos organismos vivos
distribuição de poluentes no ambien- que habitam o solo.
te. Assim, é fundamental compreender Assim, desprovido da cobertura ve-
como ela se processa para propor medi- getal e manuseado por implementos
das de controle de impactos ambientais. agrícolas, o solo tende a desestrutu-
A água de chuva, ao cair na superfície ração/desagregação e compactação,
dos terrenos, tem papel preponderante perdendo matéria orgânica e porosi-
na possibilidade de contaminação do dade, tendo, consequentemente, seu
ambiente por agroquímicos, podendo funcionamento hídrico alterado1.

1
Funcionamento hídrico - conjunto de processos de movimentação da água no solo (infiltração da água no
solo e escoamento superficial e subsuperficial da água)

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(Migliorini; Duarte; Barros Neta, 2007)

Figura 1. Ciclo hidrológico

A erosão causada pela água de chuva (erosão 2. A erosão em áreas de ocupação agrícola
pluvial) inicia-se pelo impacto das gotas de água so- Grande parte da produção agrícola de Mato
bre o solo, quando este se encontra desprovido da Grosso provém de monoculturas em áreas produ-
cobertura vegetal (Figuras 2 e 3). Essa ação da chuva tivas situadas em extensas superfícies aplainadas
promove a desestruturação dos agregados, liberan- de relevos tabulares e de colinas amplas, em cha-
do partículas finas, que são removidas pelo escoa- padas pertencentes ao Planalto dos Guimarães,
mento das águas, em consequência das enxurradas. Planalto dos Parecis e outros. As condições de re-

Figura 2. Erosão laminar provocada pela ausência de Figura 3. Erosão laminar e em sulco provocadas pela
cobertura vegetal ausência de cobertura vegetal

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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

levo suave favorecem a mecanização e mais elevadas das vertentes. Aqui se


o controle da erosão com técnicas sim- incluem ecossistemas muito sensíveis
ples de conservação, exigindo, porém, de campos úmidos e/ou veredas, onde
após os primeiros anos de cultivo, corre- além das condições hidráulicas men-
ção da acidez do solo e fertilização. Três cionadas, ocorrem solos hidromórfi-
situações de alta criticidade à erosão, cos, muito sensíveis ao desenvolvimen-
em que sérios problemas já são obser- to de “piping”5 (Figura 6). São áreas de
vados, merecem destaque. preservação permanente, conforme a
Lei nº 12.651 de 25/5/2012, alterada
2.1. Erosão em cabeceiras de pela Lei nº 12.727 de 17/10/2012, o
drenagens e nos fundos de vale Código Ambiental (Lei Complementar
As cabeceiras de drenagens2 e fun- nº 38, de 21 de novembro de 1995)6 e
dos de vale são locais muito suscetí- a Política Florestal do Estado de Mato
veis às erosões, onde ravinas3 (Figura Grosso (Lei Complementar nº 233 de
4) e boçorocas4 (Figura 5) se instalam 21/12/2005)7, mas que necessitam de
logo após o desmatamento. Isso se critério técnico para a sua delimitação.
deve à existência, nesses locais, de in- A prevenção dos processos erosivos
tensa atividade da água condiciona- exige a manutenção, nesses locais, da
da a aumento brusco de declividade vegetação nativa, sendo recomendá-
e de concentração de fluxos de água vel sua extensão numa faixa superior
subterrâneos, provenientes das áreas de contorno.

Figura 4. Erosão em ravina Figura 5. Erosão em boçoroca (observa-se a


presença de água corrente no fundo da erosão)

2
Cabeceira de drenagem - refere-se a uma área, geralmente côncava, de captação de águas, a montante da
nascente de uma drenagem (curso d’água).
3
Ravina - A erosão em sulco e em ravina ocorre exclusivamente por conta do escoamento superficial
concentrado das águas sobre o terreno, formando incisões facilmente visíveis em campo, diferenciando-se
simplesmente pela dimensão em profundidade dessas incisões: erosão em sulcos, quando em pequenas
incisões (máximo de 50 cm); erosão em ravinas, quando superiores a 50 cm de profundidade.
4
Boçorocas - A erosão em boçoroca corresponde a um estágio mais avançado e complexo de erosão, cujo poder
destrutivo local é superior ao das outras formas, e, portanto, de mais difícil contenção. Na boçoroca atua, além
da erosão causada pelo escoamento superficial das águas, a erosão interna do solo causada pelo escoamento
subsuperficial das águas que infiltram no terreno e/ou pelo escoamento do lençol freático.
5
“piping” - tubo subterrâneo provocado pelo transporte de partículas pela água. Está sempre associado à
erosão em boçoroca.
6
Essa lei sofreu diversas alterações pelas leis complementares nos 259/06, 282/07, 328/08, 382/10, 384/10,
402/10, 409/10, 412/10, 481/12, 521/13, 523/13.
7
Essa lei sofreu diversas alterações pelas leis complementares nos 245/06, 251/06, 252/06, 308/08, 309/08,
311/08, 312/08, 333/08, 355/09, 412/10, 523/13, 567/15.

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2.2. Erosão em borda de platôs e em escarpas


As bordas de platôs e escarpas são locais de mu-
danças bruscas de declividade, com presença de
rupturas nítidas de declive, situadas nos limites das
chapadas. Nesses locais, os solos são normalmente
entre pouco espessos e rasos, com presença co-
mum de camadas superficiais e/ou subsuperficiais
de concreções ferruginosas ou pedra canga (plin-
tita, em pedologia), ou de afloramentos rochosos.
Essas características do meio físico tornam esses
locais mal drenados, favorecendo a ocorrência de
surgências d’água e de cabeceiras de drenagem.
Assim, são locais de concentração de fluxos d’água
superficiais e subsuperficiais, altamente suscetí-
veis aos diferentes processos erosivos.
Após o desmatamento, sulcos e ravinas ins-
talam-se com relativa facilidade e, dependendo
do gradiente hidráulico das águas subterrâneas,
podem desenvolver-se boçorocas. São áreas que
devem ser preservadas, protegidas pelo Código
Ambiental do Estado, mas que necessitam ser deli-
mitadas por critérios técnicos. Figura 6. Erosão em “piping”

2.3. Erosão em neossolos quartzarênicos (areias será discutido neste item refere-se a agroquímicos.
quartzosas) Entretanto, outros componentes da formulação
Neossolos quartzarênicos (ou areias quartzo- dos agroquímicos, bem como os componentes
sas, segundo a antiga Classificação Brasileira de dos fertilizantes, tais como metais pesados, podem
Solos) são solos muito erodíveis, cujos processos sofrer os mesmos processos.
erosivos se desenvolvem a partir de pequenas con- Uma vez usados na agricultura, os agroquími-
centrações das águas de escoamento superficial. cos passam por diversos processos que podem
Esse solo é essencialmente arenoso, praticamente levar a sua completa degradação ou a sua distri-
sem coesão entre as partículas e com baixíssima buição nos vários compartimentos ambientais. O
estabilidade de agregados, impondo altas taxas conjunto destes processos denomina-se dinâmica
de erosão mesmo em pequenos escoamentos das ambiental.
águas de chuva. Áreas de ocorrência desses solos
devem permanecer protegidas por cobertura ve- 3.1. Origem da contaminação do ambiente aquá-
getal durante o período de chuvas, não sendo ap- tico
tas a culturas anuais, mas a pastagens, desde que Agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes) podem
as vertentes não sejam muito declivosas. Essas entrar no ambiente aquático por diversos caminhos,
áreas ocorrem em grandes extensões das chapa- sendo que as fontes principais são provavelmente o
das, associadas a latossolos de textura média, exi- uso na agropecuária, esgoto industrial e municipal
gindo controle rigoroso de campo. e o controle de ervas aquáticas e insetos. Enquan-
to esgoto e controle de ervas aquáticas envolvem
3. Dinâmica ambiental de agroquímicos aplicação direta no meio aquático, os agroquímicos
Entende-se por agroquímico toda substância usados na agropecuária geralmente seguem rotas
química utilizada na agricultura, seja para controle indiretas.
fitossanitário, seja para adubação. O termo agrotó- A Figura 7 ilustra as rotas dos agroquímicos no
xico é utilizado considerando a definição apresen- meio ambiente por aplicação direta ou por mobili-
tada na Lei nº 7.802, de 1979. Grande parte do que zação a partir de seu uso na agropecuária.

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SANEAMENTO
PRÁTICAS

Uma vez no solo, o agroquímicos râneas de vários países, o que mostra a


pode ter diferentes destinos: ser adsor- necessidade de controlar os fatores que
vido8 a partículas do solo, permanecer influenciam o movimento de contami-
dissolvido na água presente no solo, nantes até os lençóis subterrâneos.
volatilizar-se9, ser absorvido pelas raízes Dependendo da forma de aplicação,
das plantas ou por organismos vivos, ser o agroquímico usado na agricultura
lixiviado10 ou carreado11 pela água das pode ter diferentes destinos. As formas
chuvas ou sofrer decomposição12 quí- mais usadas são a aplicação direta no
mica ou biológica. Assim, a mobilização solo, a pulverização através de trator,
do agroquímico a partir do solo poderá pulverizadores manuais ou por avião.
ocorrer através do carreamento pelas A deriva — movimento das gotículas
águas das chuvas, por erosão, lixiviação do jato de pesticida para fora do alvo du-
ou volatilização. Estes processos geral- rante a pulverização — é um dos gran-
mente ocorrem simultaneamente. des problemas da aplicação por pulveri-
O carreamento superficial pode ocor- zação. Em alguns casos, mais de 99,9%
rer com o agroquímico dissolvido na do ingrediente ativo é desperdiçado,
água, associado ao material em suspen- ou seja, não é utilizado para o controle
são na água ou ambos. O movimento efetivo do problema fitossanitário a que
superficial da água começa quando a foi destinado. No caso da incorporação
intensidade da chuva excede a taxa de direta ao solo, o problema da deriva é
infiltração. Apesar de a porcentagem do reduzido, pois a aplicação ocorre essen-
agroquímico aplicado no campo que é cialmente abaixo da superfície do solo.
perdida por carreamento ser, geralmen- Entretanto, grande parte do pesticida
te, pequena, esta representa, provavel- pode não ter contato com a praga-alvo,
mente, a rota principal pela qual os agro- sendo carreado ou percolado para ou-
químico atingem rios ou lagos. tros locais.
Um agroquímico que se encontra A movimentação do agroquímico do
no solo pode também atingir as águas solo para a atmosfera, que pode ocorrer
subterrâneas. O agroquímico lixiviado, por volatilização direta, covaporização
conforme a chuva, migra através da com a água ou em associação ao ma-
zona não saturada13 da coluna do solo, terial particulado carregado pelo vento,
é transportado por gravidade e capilari- é também importante para a distribui-
dade para a água subterrânea. ção desses produtos no ambiente e sua
Embora a camada de solo funcione entrada nos ambientes aquáticos, uma
como um filtro, purificando a água que vez que os agroquímicos na atmosfera
nele penetra, diversos poluentes or- podem reentrar no ambiente aquático
gânicos, em especial os agroquímicos, por deposição da poeira ou precipita-
têm sido detectados em águas subter- ção com a água de chuva, o que, em

8
Adsorção - processo de acúmulo de uma substância em uma superfície sólida, neste caso, do agroquímico
nas partículas do solo.
9
Volatilização - mudança da fase sólida ou líquida para a fase gasosa.
10
Lixiviação - processo de movimentação vertical do agroquímico ao longo do perfil do solo, pela ação da
infiltração da água.
11
Carreamento superficial - movimentação superficial do agroquímico adsorvido às partículas do solo ou
dissolvido em água, nas águas de enxurradas.
12
Decomposição - degradação da substância pela ação de agentes biológicos ou de processos químicos,
resultando em outras substâncias com propriedades físicas e químicas diferentes.
13
Zona não saturada ou zona de aeração - nesta zona, os vazios (poros) do solo estão preenchidos com água e
ar, enquanto na zona saturada estes vazios estão completamente preenchidos com água.

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Figura 7. Vias de entrada dos agroquímicos no ambiente terrestre, atmosférico e aquático e mobilização a partir do solo

geral, ocorre em um local distante do ponto de 3.2. Destino e movimentação de agroquímicos


emissão. O transporte de agroquímico na atmos- em sistemas aquáticos
fera é considerável, em particular em regiões tro-
picais e pode ser uma das principais formas pela 3.2.1. Fatores que influenciam o destino dos
qual esses produtos podem atingir oceanos, rios agroquímicos no ambiente
ou lagos. Os fatores que influenciam o destino dos agro-
Os agroquímicos emitidos para a atmosfera químicos no ambiente a partir de seu local de uso
a partir do solo e da água são distribuídos na fase são divididos em três grupos: (1) informações so-
gasosa, matéria particulada e nuvens ou aerossóis. bre o uso do produto; (2) características ambien-
Esta distribuição depende da pressão de vapor14 do tais do local estudado e (3) propriedades físico-
composto particular e de sua afinidade por superfí- -químicas do princípio ativo.
cies sólidas ou líquidas. Compostos químicos tóxicos
que tenham uma persistência na atmosfera suficien- 3.2.2. Informações sobre o uso do produto
temente longa (da ordem de alguns dias ou mais) Além da forma de aplicação do agroquímico,
podem ser distribuídos pela atmosfera global, mes- outros parâmetros, como frequência, concentra-
mo aqueles que tenham baixa volatilidade. ção e dosagem aplicada, são também importan-
Além das rotas apresentadas na Figura 7, os tes para sua distribuição no ambiente, pois repre-
agroquímicos podem também contaminar o am- sentam a quantidade do produto que está sendo
biente aquático por ocorrência de acidentes em lançada e que, em última instância, terá relação
depósitos ou durante seu transporte, ou ainda por com a quantidade de agroquímico que se dissipa
descarte inadequado de embalagens usadas. no ambiente.

14
Pressão de vapor - É a pressão em que o vapor de uma substância está em equilíbrio com sua fase líquida, numa dada temperatura,
em um sistema fechado. Mede a volatilidade de uma substância. Quanto maior a pressão de vapor, maior a volatilidade, ou seja, maior a
tendência de passar para a fase gasosa.

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A formulação afeta a distribuição fera e causar o carreamento superficial


inicial do produto químico, enquanto o quando os solos estão saturados ou há
efeito em longo prazo será função das lixiviação pela infiltração da água da
propriedades da molécula do ingre- chuva. Intensidade, duração e quanti-
diente ativo. dade de chuva, bem como o momento
A formulação é um dos fatores que da precipitação em relação à aplicação
têm efeito significativo sobre o carrea- do produto, influenciam o carreamento
mento e lixiviação dos agroquímicos. Os superficial e a infiltração no solo. Picos
pós-molháveis, por permanecerem na de concentração em águas superficiais
superfície do solo, são particularmente ocorrem logo após eventos de chuva de
suscetíveis ao transporte. Formulações alta intensidade.
líquidas podem ser mais rapidamente A composição do solo em termos de
transportadas do que as granulares. porcentagem de matéria orgânica, argi-
O modo de aplicação afeta o local la e areia afeta a quantidade de agroquí-
inicial de deposição do agroquímico. mico adsorvido ou dissolvido. Apesar
A aplicação à folhagem, por exemplo, da sorção de agroquímico ao solo de-
deixa depósitos da substância que são pender não somente das propriedades
vulneráveis à volatilização e à fotólise15, do solo, mas também das propriedades
ficando menos disponíveis para carrea- físico-químicas do princípio ativo, de
mento e lixiviação. uma forma geral, pode-se dizer que so-
los com altos teores de matéria orgânica
3.3.3. Características ambientais e de argilas possuem alta capacidade de
Dentre as características ambientais adsorção.
que mais influenciam a dinâmica dos A vulnerabilidade natural do solo é
agroquímicos no ambiente, podem- um parâmetro fundamental nos estu-
-se citar: clima (temperatura ambiente, dos de avaliação de riscos ambientais,
pluviosidade, intensidade de luz solar e sobretudo em áreas de grande fragilida-
ventos), propriedades físicas e químicas de, como as áreas de recarga dos aquífe-
do solo (teor de matéria orgânica e ar- ros sedimentares.
gila, pH, umidade, capacidade de troca A umidade do solo é outro fator im-
catiônica e aniônica, atividade biológica, portante na adsorção de um agroquí-
compactação e cobertura vegetal) e do mico a suas partículas, uma vez que,
meio aquático, topografia da região em quando seus poros se preenchem com
estudo e características da biota local água, esta pode facilitar a migração da
(atividade biológica em geral). molécula de agroquímico para a solu-
As condições climáticas têm uma ção do solo, podendo, então, ser mais
contribuição óbvia, porém não facil- facilmente carreada.
mente quantificável, para a distribuição No solo, o agroquímico pode tam-
dos agroquímicos em um dado ecossis- bém ser totalmente degradado ou re-
tema. Altas temperaturas favorecem a sultar na formação de novos compos-
volatilização e a dessorção16 (liberação) tos persistentes. Embora parte desse
dos compostos das partículas do solo. processo seja ocasionada por reações
As chuvas podem provocar a deposi- químicas, o metabolismo microbiano
ção dos produtos presentes na atmos- é geralmente a principal via de trans-

15
Fotólise - quebra da molécula de uma substância pela ação da luz solar.
16
Dessorção - processo inverso da adsorção, em que a substância adsorvida se separa da partícula sólida,
ficando dissolvida na água presente no solo.

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formação. Os microrganismos do solo utilizam o aquáticos determinam a probabilidade de degra-


agroquímico como fonte de carbono e outros nu- dação de um dado composto e/ou seu destino nes-
trientes, degradando-o. se ecossistema. O pH da água, por exemplo, pode
Alguns agroquímicos podem persistir por lon- influenciar a decomposição dos agroquímicos.
go tempo no solo, se a microflora local não for ca- Organismos vivos também têm um papel sig-
paz de metabolizá-los. Além disso, a atividade mi- nificativo na distribuição dos agroquímicos, sendo
crobiana depende não somente da população de particularmente importantes para aqueles com-
microrganismos presentes, mas também da tem- postos que podem acumular-se em seres vivos
peratura do solo, umidade, presença de oxigênio e (bioacumulação). Um exemplo disso é a absorção
composição do solo (pH, teor de matéria orgânica ou ingestão de agroquímicos pouco solúveis em
e nutrientes). água por um ser vivo na água. Uma vez que este
A topografia do terreno, associada à forma de agroquímico seja armazenado no organismo, seus
manejo do solo (por exemplo, terraceamento, cur- níveis aumentam com o tempo. Se este organis-
vas de nível, aração), tem grande influência sobre mo for consumido por outro que também pode
o carreamento superficial dos agroquímicos, seja armazenar o agroquímico, os níveis podem atingir
em solução ou adsorvido ao particulado. valores cada vez mais elevados em organismos
O uso de uma faixa de vegetação disposta de níveis tróficos superiores, processo conhecido
transversalmente ao sentido do escoamento su- como biomagnificação.
perficial tem se mostrado uma alternativa efetiva Os agroquímicos podem penetrar nos tecidos
para filtrar o escoamento em áreas agrícolas e, das plantas após a aplicação direta ou por absor-
consequentemente, reduzir a contaminação de ção pela raiz. Uma vez na planta, o composto pode
águas superficiais por produtos químicos carrea- ser metabolizado ou acumular-se nas células ve-
dos. O processo de retenção dominante na faixa getais (bioacumulação).
de vegetação se dá principalmente pela barreira Em animais, que em geral estão expostos a
física que esta proporciona, promovendo uma agroquímicos especialmente por meio da dieta,
redução brusca da velocidade de escoamento e, estas substâncias podem ser metabolizadas, dis-
consequentemente, favorecendo o processo de tribuídas no organismo na sua forma original ou
deposição ou sedimentação das partículas de solo como um metabólito, acumular-se em órgãos ou
e substâncias químicas (substâncias nitrogenadas tecidos específicos ou ser excretadas. Animais
e fosforadas, agroquímicos, metais, entre outras) mortos em decomposição podem liberar nova-
associadas ao solo. No entanto, outros processos mente o composto para o ambiente.
podem ser favorecidos pela presença da faixa ve-
getativa, tais como, a adsorção de agroquímicos 3.3.4. Propriedades físico-químicas dos
ao solo e à matéria orgânica durante o processo agroquímicos
de escoamento, contribuindo, desta forma, para As seguintes propriedades físico-químicas do
a redução da concentração das substâncias que princípio ativo têm grande influência sobre seu des-
são carreadas pelo escoamento superficial após tino em um sistema aquático: hidrossolubilidade17 e
a passagem pela faixa vegetativa. Além disso, lipossolubilidade18, volatilidade, estabilidade à de-
alguns compostos podem ser absorvidos pelas gradação por fatores abióticos (hidrólise19, fotólise)
plantas da faixa. e bióticos (degradação microbiana), capacidade de
Um cenário de alto potencial de contaminação ionização e presença de grupos complexantes.
de águas subterrâneas constitui-se de: solos com Peso molecular, solubilidade, coeficiente de
baixo teor de carbono orgânico, baixa umidade sorção ao solo e volatilidade são as propriedades
média do solo, zona de atividade biológica inten- mais importantes para determinar a dinâmica des-
sa pouco profunda, alta taxa de drenagem. ses produtos no ambiente.
As características físico-químicas dos ambientes A pressão de vapor é uma propriedade espe-

17
Hidrossolubilidade - solubilidade em água.
18
Lipossolubilidade - solubilidade em solventes orgânicos.
19
Hidrólise - quebra da molécula pela ação da água.

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cífica da substância, que governa a dis- dação pela ação de microrganismos do


tribuição entre as fases sólida, líquida e que aqueles dissolvidos em água, por
gasosa. A volatilidade dos agroquímicos conta de concentrações menores de mi-
a partir da água parece ser maior com o crorganismos na coluna d’água do que
aumento da evaporação da água e com no sedimento.
a redução da solubilidade em água. Por outro lado, o sedimento pode
Um dos fatores críticos para a avalia- ser um compartimento de acúmulo de
ção da mobilidade potencial da maioria agroquímicos no ambiente aquático
dos agroquímicos no solo é a distribui- nos locais mais favoráveis à sedimenta-
ção entre as fases líquida e sólida. O es- ção, sendo, portanto, um bom indicador
tudo desta partição é difícil, pois os tipos da entrada dessas substâncias nesse
de solo no ambiente variam enorme- ambiente.
mente.
Alguns agroquímicos são rapidamen- 4. Recomendações aos produtores
te decompostos no solo, enquanto ou- Em estudo de monitoramento de
tros não são degradados tão facilmente. resíduos de agroquímicos em áreas de
A degradabilidade dos agroquímicos, cultura de algodão, foram detectados
geralmente expressa pela meia-vida20 diversos agroquímicos na água de es-
de um composto no solo, é muito variá- coamento superficial, no sedimento
vel, incluindo valores da ordem de dias, carreado e no leito dos córregos, nas
meses ou anos. Entretanto, não exis- águas do lençol freático e da chuva (DO-
te um valor único para a meia-vida de RES et al., 2006).
agroquímicos e sua determinação é for- Durante o período de monitoramen-
temente influenciada pelas condições to, foram evidenciadas maiores concen-
ambientais (solo, local, clima, atividade trações dessas substâncias nas épocas
biológica, entre outras). de chuva, que coincidem também com
A solubilidade em água indica a o período de aplicação mais intensa dos
tendência de um agroquímico de ser agroquímicos. Os picos de concentração
carreado superficialmente no solo por dos agroquímicos ocorreram após chu-
águas de chuva ou de irrigação e atingir vas intensas, diminuindo ou desapare-
águas superficiais ou subterrâneas. cendo depois do período das chuvas,
principalmente nas águas superficiais.
3.4. Dinâmica dos agroquímicos no Detectou-se também que a ocorrência
ambiente aquático de resíduos de agroquímicos em águas
A Figura 8 ilustra os processos aos e em sedimento no escoamento super-
quais um agroquímico pode ser subme- ficial tem alta correlação com a conta-
tido quando se encontra em um am- minação de água superficial e sedimen-
biente aquático. to de fundo.
Os agroquímicos dissolvidos na água Como visto anteriormente, a con-
podem ter diferentes destinos: ser ad- taminação do ambiente aquático por
sorvidos pelos sedimentos, degradados agroquímicos usados na agricultura de-
por microrganismos, absorvidos por or- pende dos seguintes processos:
ganismos ou diluídos nos oceanos. No • carreamento das moléculas pelo es-
ambiente aquático, os agroquímicos coamento superficial, tanto adsorvi-
presentes no sedimento de fundo têm dos aos sedimentos quanto solubili-
maior probabilidade de sofrer degra- zados na água do escoamento;

Meia-vida - tempo necessário para que a concentração inicial de um agroquímico no solo seja reduzida à
20

metade.

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volatilização ar

solo fotólise água


direta fotólise sensibilizada
adsorção
agroquímico dissolvido agroquímico associado ao particulado
dessorção

absorção ou ingestão
degradação degradação
hidrólise biológica hidrólise biológica
biota absorção ou precipitação
ingestão
morte ou
excreção
difusão
adsorção sedimento
agroquímico dissolvido agroquímico associado
dessorção

hidrólise degradação hidrólise degradação


biológica biológica
anaeróbica anaeróbica
Figura 8. Dinâmica dos agroquímicos no ambiente aquático

• lixiviação das moléculas ao longo do perfil do superficial, é necessária a adoção de práticas ade-
solo até atingir o lençol freático ou águas sub- quadas de conservação de solo voltadas à preven-
superficiais; ção de processos erosivos, tais como:
• precipitação de moléculas volatilizadas pela • implantar sistemas de terraceamento, a semea-
água de chuva e precipitação seca de material dura em nível e manutenção de faixa de cultura
particulado carreado pelo vento; e de contenção e de mata ciliar;
• deriva durante a pulverização dos agroquímicos. • não cultivar em áreas de ocorrência de solos
A magnitude desses processos depende dos muito erodíveis e/ou mal drenados, especial-
seguintes fatores: mente quando estes ocorrerem nas porções
• características do ambiente (meio físico e cli- mais inferiores das vertentes. Dentre os solos
ma) onde o produto é aplicado; muito erodíveis que ocorrem com frequência
• sistema de cultivo empregado; e nas áreas de cultivo de algodão em Mato Gros-
• frequência, dosagem, escolha de moléculas, tec- so, tem-se o neossolo quartzarênico.
nologia da aplicação dos agroquímicos e condi- Com relação aos solos mal drenados, tem-se
ções meteorológicas no momento da aplicação. os plintossolos, que ocorrem com frequência em
Dessa forma, as recomendações para reduzir o Mato Grosso nas porções inferiores das vertentes,
potencial de contaminação estão organizadas se- apresentando em subsuperfície camada pouco
paradamente, de maneira a minimizar a ocorrên- permeável que impede a infiltração das águas de
cia das vias de contaminação dos corpos hídricos chuva favorecendo o escoamento concentrado e,
interferindo nos fatores acima. consequentemente, aumenta a capacidade erosi-
Com relação à contaminação de cursos d’água, va desse tipo de solo, além de promover, durante
lagos e represas, o carreamento superficial (água e o período chuvoso a formação de lençol freático
sedimento carreado pela enxurrada) é o principal suspenso que se dirige aos fundos de vales, onde
mecanismo através do qual o agroquímico pode ocorrem nascentes e cursos d’água.
atingir esse ambiente. Para conter o carreamento Os solos mal drenados ocorrem também em

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PRÁTICAS

áreas de campos úmidos, onde se tem A via de contaminação de águas sub-


observado a prática de drenagem do terrâneas é a lixiviação, ou seja, a mo-
solo para o cultivo do algodão. Nessas vimentação vertical dos agroquímicos
áreas, mesmo drenadas, o lençol freáti- no perfil do solo com a água percolada.
co ocorre a pequena profundidade e o Sendo assim, regiões de ocorrência de
próprio sistema de drenagem favorece solos permeáveis e com baixa capaci-
o transporte das moléculas aplicadas dade de retenção de água apresentam
ao solo para os cursos d’água e áreas de potencial elevado de contaminação de
nascente. águas subterrâneas. Por outro lado, o
Com o desencadeamento de pro- horizonte superficial do solo, que apre-
cessos erosivos e ausência de cobertu- senta maior teor de matéria orgânica,
ra vegetal na faixa marginal dos cursos é responsável pela retenção das molé-
d’água, fatalmente os sedimentos acu- culas dos contaminantes, onde estas
mular-se-ão nos fundos de vale e na podem ser degradadas por processos
calha dos cursos d’água, promovendo o químicos, fotoquímicos e biológicos.
assoreamento. Nos horizontes mais profundos do solo,
• obedecer às leis ambientais vigentes estes processos são menos intensos, e a
com relação à preservação da vege- persistência dessas substâncias é mais
tação em áreas de cabeceira de dre- elevada. Em vista disto, as seguintes re-
nagem, uma vez que se trata de local comendações podem reduzir o risco de
com concentração de fluxos d’água contaminação de águas subterrâneas:
tanto superficial como subterrânea • adotar um sistema de manejo que
e lençol freático aflorante a sub-aflo- permita rotacionar as culturas, como
rante. São, portanto, locais extrema- já mencionado anteriormente, uma
mente suscetíveis à erosão e conta- vez que o aumento do estoque de
minação; matéria orgânica no solo retém, com
• adotar um sistema de manejo que maior eficiência, as moléculas dos
permita rotacionar as culturas, pois, agroquímicos , reduzindo a lixiviação;
com esta medida, aumenta-se o es- • usar nos sistemas de rotação e su-
toque de matéria orgânica no solo cessão de culturas espécies vegetais
de modo a reter mais, e com maior de relação C/N diferentes que pro-
eficiência, as moléculas dos agroquí- movam o acúmulo de matéria or-
micos; gânica no solo, como, por exemplo,
• adotar práticas que reduzam a com- capim-sudão, pé-de-galinha, sorgo,
pactação do solo, pois esta reduz a sistemas de manejo plantio direto e
infiltração da água, aumentando o sistemas integrados (Santa Fé (algo-
escoamento superficial; e dão/braquiária e milho/soja/milheto
• dar preferência a sistemas de cultivo ou outro tipo de cobertura/algodão),
que revolvam menos o solo (semea- iLPF (integração lavoura pecuária e
dura direta, cultivo mínimo, etc.), em floresta) dentre outros;
que o carreamento superficial seja • dar preferência ao uso de plantio di-
reduzido e favoreça o acúmulo de reto, que aumenta o aporte de maté-
matéria orgânica no solo. ria orgânica no solo; e
Dados experimentais e de simulação • não cultivar em áreas de neossolo
em áreas de ocorrência de latossolo têm quartzarênico, que tem alta permea-
evidenciado o efeito da adoção do sis- bilidade e baixa capacidade de re-
tema de semeadura direta (não se trata tenção de água e de adsorção per-
do cultivo mínimo), prática que é capaz mitindo uma rápida lixiviação das
de reduzir em 50% a perda de agroquí- substâncias usadas no solo.
micos adsorvidos ao solo. A perda de agroquímicos por lixivia-

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ção tem se mostrado expressiva. Dados de simu- aplicada, principalmente se esta for formada por
lação e experimentais evidenciaram essa expressi- gotas finas;
vidade, exemplo do estudo com carbofuram, para • considerar, na escolha da ponta de pulveriza-
o qual se observou perda por lixiviação de 6% do ção, a necessidade de cobertura e penetração
total aplicado abaixo de 50 cm de solo. Conside- do produto na cultura, observando-se a ação do
rando uma profundidade de 0-10 cm de solo, foi produto aplicado e o posicionamento do alvo.
previsto por modelagem matemática que essa É importante entender que o produto que efe-
perda por lixiviação aumenta para 90% do total do tivamente controla a praga é aquele que atinge
ingrediente ativo aplicado (carbosulfam)21 . Esses o alvo. Portanto, quanto maior a quantidade de
resultados, além dos aspectos ambientais, têm im- produto que chegar ao alvo, mais eficaz e eco-
plicações nos custos de produção e, consequen- nômico será o tratamento fitossanitário e me-
temente, na viabilidade econômica da cultura de nor o risco de impacto ambiental causado pela
algodão. quantidade do produto que efetivamente não
Uma das alternativas para reduzir as perdas de atingiu seu objetivo.
agroquímicos por lixiviação tem sido o aumento • Obviamente, quanto mais frequentes forem
do teor de matéria orgânica no solo através do ma- as aplicações dos agroquímicos, e em maiores
nejo adequado. Porém, particularmente no caso dosagens, maior será o risco de contaminação
do carbofuram, as simulações mostraram que, por ambiental. Desse modo, visando a redução
conta da baixa adsorção desse agroquímico, essa desse risco, sugere-se:
medida não teria efeitos relevantes na restrição a - adotar o manejo integrado de pragas e doenças;
sua lixiviação, o que não ocorreria no caso de agro- - plantar cultivares de algodão mais tolerantes
químicos mais adsorvidos. Em vista disso, é acon- à viroses e doenças. A substituição gradual de
selhável a substituição do carbosulfam por outro cultivares tradicionalmente usadas pelas mais
ingrediente ativo. novas, desde que sejam mantidos os níveis de
A ocorrência de resíduos de agroquímicos em produtividade e de qualidade de fibra, deveria
água de chuva deve-se a dois processos: deriva do ser estimulada, no sentido da garantir a quali-
produto durante a aplicação, que pode precipitar dade ambiental e a sustentabilidade das ativi-
com a água da chuva, e volatilização dos produ- dades agrícolas algodoeiras.
tos a partir da camada superficial do solo ou da Com relação à escolha das moléculas a serem
superfície das plantas. As tecnologias de aplica- usadas nos controles de pragas, doenças e plan-
ção de agroquímicos têm evoluído rapidamente, tas daninhas, já existem no mercado agroquímicos
tornando-se mais eficientes e seguras. Na cultura menos danosos ao ambiente e à saúde humana.
do algodão, são realizadas aplicações de agroquí- No monitoramento realizado em áreas de cul-
micos em diferentes estádios de desenvolvimento tura de algodão, identificaram-se os agroquími-
da planta. Durante a aplicação, alguns cuidados cos com maior potencial de contaminação do
podem reduzir a deriva: ambiente aquático e detectados com maior fre-
• observar a boa calibração dos equipamentos quência e/ou maiores níveis em um ou mais com-
de pulverização, seguindo-se as especificações partimentos ambientais, aqui relacionados, em
adequadas a cada ponta de pulverização utili- ordem alfabética: aldicarb, carbofuram, clorpirifós,
zada durante o trabalho; diurom, endossulfam, metolacloro, monocrotofós,
• observar as condições climáticas no momento parationa metílica e teflubenzurom. O endossul-
da aplicação, não a realizando em temperaturas fam foi o produto detectado com maior frequên-
acima de 30°C, umidade relativa abaixo de 55% cia e maior concentração em águas superficiais.
e ventos (> 10 a 15 km/h), condições estas que Considerando-se sua elevada toxicidade para o
aumentam a possibilidade de deriva da calda ambiente aquático e a recente proibição do uso

21
O carbosulfam é rapidamente degradado a carbofuram no solo (meia-vida de dois dias), assim o ingrediente ativo
detectado nas análises foi o carbofuram.

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deste ingrediente ativo pela Anvisa (Re- acidentes e contaminação por vaza-
solução-RDC n. 28, de 9 de agosto de mentos de restos de produtos, além de
2010), recomenda-se: retirar da propriedade embalagens não
• substituir o endossulfam por outras degradáveis. Os produtores de qualquer
moléculas menos tóxicas e menos porte não devem reutilizar embalagens
persistentes, o que já deve estar sendo de agroquímicos em outras atividades,
feito por conta das restrições legais; devendo procurar locais que façam o
• evitar o uso dos ingredientes ativos recolhimento desses recipientes para o
acima relacionados, principalmente descarte seguro.
nas situações de solo e de manejo
que sejam potencialmente mais vul- 6. Considerações finais
neráveis à contaminação de águas Em resumo, os critérios de identifica-
superficiais e subterrâneas. ção de áreas mais sensíveis à contami-
É importante salientar que o monito- nação e erosão, bem como algumas me-
ramento acima mencionado foi desen- didas emergenciais para a redução de
volvido nos anos de 2002 e 2003 e que, riscos, estão apresentados na Tabela 1.
até o presente, diversas moléculas já Isto posto, fica evidente que há ne-
foram substituídas em função de neces- cessidade de detalhar o zoneamento
sidades de manejo. Assim, o produtor agroecológico com relação às áreas mais
deve utilizar também como referência a sensíveis, visando a proteção dos recur-
classificação de periculosidade ambien- sos hídricos e o ordenamento equilibra-
tal na escolha dos ingredientes ativos do da ocupação territorial, garantindo
a serem utilizados, considerando que, assim a sustentabilidade econômica e
caso haja alternativa, a preferência deve ecológica da atividade agrícola.
ser dada ao de menor periculosidade. Para finalizar, destaca-se que, além
Não se deve deixar de destacar a im- da preocupação com a produtividade
portância do programa de recolhimen- da cultura, o produtor deve, sempre
to de embalagens usadas vazias para a que haja informações suficientes para
redução da contaminação ambiental orientar suas escolhas, optar por um
por agroquímicos. Mato Grosso tem se sistema de manejo que lhe permita
destacado como um dos estados onde reduzir a aplicação dos agroquímicos,
tem sido recolhida maior porcentagem com especial destaque para aqueles
das embalagens usadas. A adesão a que apresentam maior toxicidade e pe-
esse programa é essencial para evitar riculosidade ambiental.

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Tabela 1. Critérios de identificação de áreas sensíveis à contaminação e erosão e algumas medidas emergenciais de redução de risco
Tipo de terreno Critérios de identificação Medidas emergenciais
Cabeceiras de Rupturas de declives Manutenção da vegetação nativa;
drenagens e fundos nítidas em seu contorno de Recuperação da mata de galeria;
de vales montante; Não plantar algodão em áreas de plintossolo e solos
Mudança de solos, presença hidromórficos;
de solos hidromórficos; Adoção de faixas de contenção a partir da ocorrência de
Lençol freático a pouca plintossolos;
profundidade ou aflorante; Não aplicar agroquímicos próximo de fundo dos vales e campos
Presença de campos úmidos.
úmidos, veredas e nascentes
de cursos d’água.
Áreas de neossolos Mudança textural para Manutenção da vegetação nativa em locais de declividade > 5%;
quartzarênicos frações mais arenosas; Manter e/ou recuperar as matas de galeria;
Considerar a declividade do Adotar faixas de contenção nos fundos de vale;
terreno; Adotar terraceamento e plantar em curvas de nível;
Identificação a partir de Manter a cobertura vegetal no período das chuvas;
rigoroso controle de campo. Não utilizar com culturas anuais;
Pastagens nativas quando ocorrer classe de declividade < 5%.

Isto posto, fica evidente que há necessidade de pação com a produtividade da cultura, o produtor
detalhar o zoneamento agroecológico com rela- deve, sempre que haja informações suficientes
ção às áreas mais sensíveis, visando a proteção dos para orientar suas escolhas, optar por um sistema
recursos hídricos e o ordenamento equilibrado da de manejo que lhe permita reduzir a aplicação dos
ocupação territorial, garantindo assim a sustentabi- agroquímicos, com especial destaque para aque-
lidade econômica e ecológica da atividade agrícola. les que apresentam maior toxicidade e periculosi-
Para finalizar, destaca-se que, além da preocu- dade ambiental.

Referências bibliográficas

BRASIL – ANVISA – Resolução RDC nº 28, de 09 de agosto de 2010 – Regula-


mento Técnico para o Ingrediente Ativo Endossulfam em decorrência da Reavaliação
Toxicológica.

BRASIL – Decreto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002 – Regulamenta a Lei nº 7.802,


de 12/07/1989.

BRASIL – Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 - Dispõe sobre a proteção da vegeta-


ção nativa; altera as leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezem-
bro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as leis nos 4.771, de 15 de
setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67,
de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

BRASIL – Lei nº 12.727, de 17 de outubro de 2012 - Altera a Lei nº 12.651, de 25 de


maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa.

BRASIL - Lei nº 7.802, de 12 de julho de 1989 - Dispõe sobre a pesquisa, a experimen-


tação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comer-
cialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino
final dos resíduos e embalagem, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.

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PRÁTICAS

BRASIL - Lei nº 9.974, de 6 de junho de 2000 - Altera a Lei nº 7.802/89,


que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a emba-
lagem, a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a utilização, a
importação, a exportação, a classificação, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras
providências.

BRASIL - Portaria Normativa IBAMA nº 84, de 15 de outubro de


1996 - classifica os agrotóxicos quanto ao potencial de periculosidade
ambiental, baseando-se nos parâmetros bioacumulação, persistência,
transporte, toxicidade a diversos organismos, potencial mutagênico,
teratogênico, carcinogênico.

DORES, E. F. G. C.; MONNERAT, R. G.; PRAÇA, L. B.; SUJII, E. R.;


VECCHIATO, A. B.. Algodão e proteção ambiental. In: MORESCO,
E. (org.). Algodão: pesquisas e resultados para o campo. 1 ed. Cuiabá:
Facual, 2006. v. 2, pp. 360-390.

MATO GROSSO – Lei Complementar nº 233, de 21/12/2005 - Dis-


põe sobre a Política Florestal do Estado de Mato Grosso e dá outras
providências.

MATO GROSSO - Lei Complementar nº 38, de 21 de novembro de


1995 - Código Ambiental do Estado de Mato Grosso.

MIGLIORINI, R. B.; BARROS NETA, M. A. P.; DUARTE, U. Aquífero


Guarani: educação ambiental para a sua preservação na região
do Planalto dos Guimarães. Cuiabá: Entrelinhas/ABAS, 2007. 80 p.

142
AMPA
AMPA
- IMAmt
- IMAmt
2015/2016
2012

Informações sobre os Autores do “Manual de


Saneamento e Segurança Ambiental”
Instalações rurais

Tanise Carla Zambiasi Martins


Engenheira Ambiental pela Universidade do Contestado (UNC).

Josimare Vieira da Silva


Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), técnica de Segurança do Trabalho
pela SECITEC, graduanda em Engenharia Agronômica pela IFMT, é gerente de projetos na Empresa Ambiental
Projetos e Licenciamento Ambiental desde 2004.

Captação e uso da água

Julio Cesar Pascale Palhares


Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), mestrado
em Agronomia (Energia na Agricultura) também pela Unesp e doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental
pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, atuanos seguintes temas:
impactos das produções animais nos recursos hídricos, demanda hídrica de atividades pecuárias, indicadores
de desempenho ambiental. É professor do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, em Pirassununga, e diretor de Pecuária da Sociedade
Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).

Saneamento básico rural: por que e como fazer


Resíduos sólidos: o que fazer com eles

Wilson Tadeu Lopes da Silva


Bacharel em Química com mestrado e doutorado em Química Analítica pelo Instituto de Química de São Carlos
(IQSC), da Universidade de São Paulo (USP), com foco em Química Ambiental. É pesquisador da Embrapa
Instrumentação (São Carlos/SP), ocupando a chefia adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento. Sua pesquisa
possui foco em química ambiental, abrangendo saneamento básico rural, bem como caracterização, tratamento
e reciclagem de outros resíduos na agricultura.

Armazenamento, embalagens e resíduos, segurança do trabalhador e EPI

Maria Aparecida Peres de Oliveira


Possui graduação em Ciências Biológicas pela UFMT (2004), mestrado em Agronomia/Energia na Agricultura
(2007) e doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura (2009) pela Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA)
da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Atualmente,é professora do Departamento
de Biologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Rondonópolis, e atua nasáreas de ecologia,
tecnologia de aplicação e comportamento ambiental de agrotóxicos.

Tonny José Araújo da Silva


Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1997), mestrado em
Agronomia (Ciências do Solo) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2000) e doutorado em Irrigação
e Drenagem pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente é professor associado da Universidade Federal
de Mato Grosso e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, no campus de
Rondonópolis. Tem experiência nasáreas de engenharia agrícola e agronomia, com ênfase em agrometeorologia,
manejo de irrigação e física do solo.

Edna Maria Bonfim da Silva


Possui pós-doutorado em Ciência do Solo pela ESALQ/USP (2006), doutorado em Agronomia (Solos e
Nutrição de Plantas) pela Universidade de São Paulo (2005), mestrado em Agronomia (Ciências do Solo) pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco (2002) e graduação em Zootecnia (2000) pela Universidade Federal

143
MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS

Rural de Pernambuco. Tem experiência na área de adubação, nutrição mineral de plantas


e recuperação de áreas degradadas. Atualmente é professora adjunta da área de Solos
do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental e do Mestrado em Engenharia Agrícola da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Rondonópolis. Tem experiência na
área de agronomia, com ênfase em ciência do solo.

Jackelinne Valéria Rodrigues de Sousa


Possui graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela Universidade Federal de Mato
Grosso, campus de Rondonópolis (2008). Atuou na área de manejo da água e do solo, com
ênfase e física do solo. Atualmente, é mestranda em Engenharia Agrícola (Engenharia
de Sistemas Agrícolas) também pela Universidade Federal de Mato Grosso, campus de
Rondonópolis.

Licenciamento ambiental rural

Michele Strada
Possui graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) (2012). Têm experiência como técnica de extensão junto à Empresa
Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), atuando em projetos
socioambientais e apoio técnico rural. Atualmente cursa MBA em Gestão Ambiental e
Sustentabilidade e atua na empresa Vértice Agrimensura e Planejamento como Projetista e
Consultora Ambiental, com ênfase em análise espacial de dados geográficos, variabilidade
espaço temporal do uso da terra, cadastramento e licenciamento ambiental de imóveis
rurais, atividades e serviços.

Orientações para o manejo de áreas de cultivos de algodão no estado de


Mato Grosso visando a proteção ambiental

Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores


Engenheira química, obteve mestrado em Química Analítica em 1992 pela Salford University
no Reino Unido e doutorado em Química em 2004 pela Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Araraquara. Atualmente é professora e pesquisadora
do Departamento de Química da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), líder do
grupo de pesquisas denominado Grupo de Estudos em Poluentes Ambientais e professora
dos Programas de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e em Química.

Antonio Brandt Vecchiato


Geólogo, obteve mestrado em Solos e Nutrição de Plantas em 1987 pela Escola Superior
de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e doutorado
em Engenharia Civil em 1993 pela USP, campus de São Carlos.Atualmente é professor e
pesquisador do Departamento de Geologia Geral da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT)evice-líder do grupo de pesquisas denominado Grupo de Estudos em Poluentes
Ambientais e professor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos.

Oscarlina Lúcia dos Santos Weber


Possui graduação em Agronomia e em Licenciatura em Química pela Universidade Federal
de Mato Grosso (1979), mestrado (1984) e doutorado (2000) em Solos e Nutrição de Plantas
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da USP.Atualmente é professora
adjunta do Departamento de Solos e Engenharia Rural da FAMEV/UFMT. Com experiência
na área de agronomia, com ênfase em fertilidade do solo e adubação, em química do solo e
em poluição do solo.

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