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SANEAMENTO E
SEGURANÇA AMBIENTAL
EM MATO GROSSO
2015/16
MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
PARCERIAS
• Embrapa Instrumentação
• Embrapa Pecuária Sudeste
• UFMT
SAFRA 2015/2016 • Vértice
Manual de Saneamento
e Segurança Ambiental E autônomas (Tanise Martins e Josimare Silva).
em Mato Grosso
O Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) informa que todos os de-
EDITOR poimentos, informações e opiniões contidas neste manual são de inteira
IMAmt responsabilidade dos autores que contribuiram para sua elaboração.
www.imamt.com.br
Ampa
www.ampa.com.br
EDITOR TÉCNICO
Jean-Louis Belot
REVISÃO
Patrícia Andrade Vilela
PROJETO GRÁFICO
Editora Casa da Árvore
editoracasadaarvore.com.br
PUBLICAÇÃO
2ª edição - Revista e ampliada
2.000 exemplares
ISBN
978-85-66457-08-7
CONTATO
Rua Engenheiro Edgard
Prado Arze, 1777
Ed. Clóves Vettorato, 2º andar
Quadra 3 - Centro Político
Administrativo, Cuiabá-M.
CEP: 78.049-015
publicacoesimamt@imamt.
com.br
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APRESENTAÇÃO
A atividade agrícola no cerrado do Cen- químicos nas águas superficiais e nos len-
tro-Oeste é baseada no modelo de produ- çóis freáticos.
ção intensiva, altamente mecanizada e com A fim de ajudar o produtor rural, e em
uso importante de insumos agrícolas. Esse particular os associados da Associação Ma-
modelo, em áreas extensas, permite alta to-grossense dos Produtores de Algodão
produtividade nos cultivos de grãos e fibras. (AMPA), o Instituto Mato-grossense do Al-
Ao longo dos anos, os próprios produ- godão (IMAmt) editou em 2008 o primeiro
tores começaram a adotar nas fazendas “Manual de Saneamento e Segurança Am-
medidas para limitar o impacto da ativida- biental”, de autoria de Vecchiato e colabo-
de agrícola sobre o meio ambiente. Foram radores. Esse manual foi um instrumento
implementadas corriqueiramente, nas uni- muito valioso para as fazendas adequarem
dades produtivas, a reciclagem de emba- suas infraestruturas e seus processos pro-
lagens vazias, a proteção das nascentes e dutivos à legislação ambiental.
matas ciliares, entre outras medidas. Porém, a legislação evoluiu bastante
Os governos federal e estadual elabora- nos últimos anos. Isso motivou o IMAmt
ram regras nas quais as fazendas precisam a atualizar esse Manual de Saneamento,
se enquadrar. Essas regras evoluíram mui- com a ajuda dos mais conceituados espe-
to nos últimos anos, em virtude principal- cialistas da área.
mente da adoção do Novo Código Florestal Neste Manual de Saneamento, em parti-
Brasileiro (Lei nº 12.651, de 25 de maio de cular, são apresentados os principais passos
2012), que dispõe sobre a proteção da ve- para o produtor se cadastrar no CAR, além
getação nativa, tendo revogado o Código de dados básicos sobre reciclagem de resí-
Florestal Brasileiro de 1965. duos líquidos e sólidos, saneamento básico
Ademais, muitas recomendações e e boas práticas de uso de agroquímicos.
normas emitidas por diversas instituições Esperamos que este manual seja um ins-
regem a organização das fazendas e das trumento valioso a ser seguido pelos pro-
instalações rurais a fim de reciclar as águas dutores de algodão, visando produzir cada
provenientes da atividade agrícola, ou para vez mais e com impacto ambiental cada
mitigar a dispersão de resíduos ou insumos vez menor.
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SANEAMENTO
PRÁTICAS
QUEM SOMOS
O Instituto Mato-grossense do Algodão tem o
propósito de oferecer total suporte a pesquisas
necessárias para o desenvolvimento e fortalecimento
da cotonicultura. Além de profissionais altamente
capacitados, possui uma ampla infra-estrutura no
campo experimental em Primavera do Leste, com
laboratórios de fitopatologia, sementes e entomolo-
gia, estrutura para beneficiamento, armazenamento
de sementes, deslintamento, câmaras frias.
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SUMÁRIO
6 INSTALAÇÕES RURAIS
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PRÁTICAS
Instalações rurais
Introdução preservação permanente (APP).
Neste capítulo será apresentada toda a
infraestrutura necessária para adequação 1. Áreas de vivência
Tanise Carla de uma propriedade rural, tudo dentro As áreas de vivência são destinadas
Zambiasi das normas ambientais, com emissão das a assegurar as condições dignas do am-
Martins licenças e aprovação da Sema (Secreta- biente de trabalho ou lazer.
Campo Verde-MT
ria Estadual do Meio Ambiente de Mato Segundo a Norma NR 31, as áreas de
tanise_zambiasi@
yahoo.com.br Grosso) e outros órgãos competentes, se vivência devem atender os seguintes re-
necessário. quisitos:
Licença Prévia (LP) - é concedida na • Instalações sanitárias;
fase preliminar do planejamento da ati- • Locais para refeições;
vidade e corresponde à fase de estudos • Alojamento quando houver perma-
para a localização do empreendimento, nência de trabalhadores no estabele-
observados os planos municipais, es- cimento;
taduais e federais de uso dos recursos • Local adequado para preparo de ali-
naturais, sendo que o prazo de validade mentos;
Josimare Vieira da licença será determinado pelo órgão • Lavanderias.
da Silva ambiental. O empregador deve assegurar as
Campo Verde-MT Licença de Instalação (LI) - é concedi- condições dignas no meio ambiente do
da para autorizar o início da implantação trabalho, não só durante a realização
do empreendimento, de acordo com dos afazeres, mas também nos momen-
as especificações constantes do projeto tos de descanso, refeições e higieniza-
executivo aprovado, sendo que o prazo ção pessoal.
de validade da licença será determinado Porém, o empregado deve zelar pe-
pelo órgão ambiental. las áreas de vivência, contribuindo para
Licença de Operação (LO) - é conce- a limpeza, higiene, sempre seguindo as
dida após cumpridas todas as exigên- normas do local de trabalho.
cias feitas por ocasião da expedição
da LI, autorizando o início da atividade 1.1. Instalações sanitárias
licenciada e o funcionamento de seus Devem atender aos seguintes requi-
equipamentos de controle ambiental, sitos:
de acordo com o previsto nas licenças • Lavatório e vaso sanitário na propor-
Prévia (LP) e de Instalação (LI), sendo ção de uma unidade para cada 20 tra-
que o prazo de validade da Licença de balhadores ou fração;
Operação será determinado pelo órgão • Mictório e chuveiro na proporção de
ambiental. uma unidade para cada dez trabalha-
Cadastramento Ambiental Rural dores;
(CAR) – cadastro declaratório obrigató- • Devem ter portas de acesso que im-
rio para todas as propriedades e posses peçam a vista para dentro;
rurais, com a finalidade de integrar as in- • Devem ser separados por sexo;
formações ambientais. • Situados em local de fácil acesso;
Programa de Regularização Ambien- • Dispor de água limpa e papel higiê-
tal (PRA) – programa que compreenderá nico;
o conjunto de ações a serem desenvol- • Estar ligadas à sistema de esgoto, fos-
vidas por proprietário e posseiros rurais, sa séptica ou sistema equivalente;
com o objetivo de adequar os passivos • Possuir recipientes para a coleta de
ambientais de reservas legais e áreas de lixo;
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• A água para banho deve ser disponibilizada • Água limpa para higiene;
em conformidade com os usos e costumes da • Depósitos de lixo com tampas;
região ou na forma estabelecida em convenção • Local para conservação de refeições preparadas,
ou acordo coletivo; em condições higiênicas, independentemente
• Nas frentes de trabalho, devem ser disponibiliza- do número de trabalhadores;
das instalações sanitárias fixas ou móveis, com- • Não podem ter contato direto com os alojamentos;
postas de vasos sanitários e lavatórios, na pro- • Nas frentes de trabalho, devem ser disponibi-
porção de um conjunto para cada grupo de 40 lizados abrigos, fixos ou móveis, que protejam
trabalhadores ou fração. os trabalhadores contra intempéries, durante as
refeições;
1.2. Refeitórios • Os locais para preparo de refeições devem ser
Devem atender aos seguintes requisitos: dotados de lavatórios, sistema de coleta de lixo,
• Boas condições de higiene e conforto; instalações sanitárias exclusivas para o pessoal
• Capacidade para atender a todos os trabalhadores; que manipula os alimentos.
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Planta 1.
Modelo de
refeitório com
capacidade
para 40 pessoas
(Corte BB)
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MANUAL DE SANEAMENTO
Planta 1.
Modelo de
refeitório com
capacidade
para 40 pessoas
(Planta Baixa)
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Planta 2. Modelo
de alojamento
com sala de TV,
com capacidade
para 32 pessoas
(Planta Baixa)
1.3 Alojamentos
metro, sendo permitido o uso de beliches, limitados a
1.3.1 Alojamentos individuais duas camas na mesma vertical, com espaço livre mínimo
Devem atender aos seguintes requisitos: de 110 centímetros acima do colchão;
• Ser separado por sexo; • Ter armários individuais para guardar objetos pessoais;
• Ter portas e janelas capazes de oferecer boas condições • Ter recipientes para coleta de lixo;
de vedação e segurança; • Proibição da utilização de fogões, fogareiros ou similares
• Ter camas com colchão, separadas por no mínimo um no interior dos alojamentos.
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2.1.1. Requisitos para construção do depósito de com a legislação estadual e as normas técni-
defensivos agrícolas na propriedade rural cas aplicáveis);
Devem atender aos seguintes requisitos: • Quando construído parede-parede com outras
• Ser exclusivo para produtos agroquímicos e afins; instalações, a separação não pode possuir ele-
• Ter altura que possibilite ventilação e iluminação; mentos vazados, permitindo o acesso restrito
• Possuir ventilação comunicando-se exclusiva- ao depósito pelo interior de outras instalações;
mente com o exterior e dotada de proteção • Deverão dispor de saídas, em número suficiente
que não permita o acesso de animais; e dispostas de modo que aqueles que se encon-
• Ser construído em alvenaria e/ou material que trem nesses locais possam abandoná-los com
não propicie a propagação de chamas (todos rapidez e segurança, em caso de emergência;
os empregadores devem adotar medidas de • Ter piso que facilite a limpeza e não permita in-
prevenção de incêndios, em conformidade filtração;
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Planta 4.
Modelo de
depósito de
defensivos
agrícolas
(Planta Baixa)
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MANUAL DE SANEAMENTO
Planta 5.
Modelo de
descontaminador
de aeronaves
agrícolas
(Corte AA)
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Planta 6. Modelo de lavanderia de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) com capacidade de até 10 pessoas (Planta Baixa)
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Planta 7. Modelo
de depósito de
embalagens vazias
de defensivos
agrícolas
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Planta 7. Modelo de depósito de embalagens vazias de defensivos agrícolas ( Corte AA, sem escala)
2.5.2. A localização do depósito deve atender aos 2.5.3. Exigências mínimas para instalações para o
seguintes critérios: depósito de embalagens vazias
• O depósito deve ser construído em terreno pre- • A área de depósito deve ser adequada à quanti-
ferencialmente plano, não sujeito a inundação. dade de embalagens vazias geradas.
• A área escolhida deve estar a uma distância Fundações:
de, no mínimo, de 300 (trezentos) metros, • Pé direito a partir de 3 (três) metros de altura.
respeitada a área de preservação perma- • Piso cimentado com canaletas direcionando
nente, de corpos hídricos, tais como lagos, para a caixa de contenção de efluentes.
rios, nascentes, pontos de captação de água, • Canaletas para água pluviais.
áreas inundáveis etc., de forma a diminuir os • Cobertura do depósito com beiral de 1 (um)
riscos de contaminação em caso de even- metro, no mínimo.
tuais acidentes. • Estrutura do depósito: muretas com 1 (um) me-
• Manter uma distância 50 (cinquenta) metros tro de altura e tela de proteção associada à cor-
das habitações, escolas, estabelecimentos de tina de lona em todo o perímetro, para proteção
serviços de saúde, abrigos de animais, em lo- contra chuvas, acima da mureta até o telhado;
cais onde são consumidos alimentos, de forma ou paredes com espaço na parte superior, para
que os mesmos não sejam contaminados em garantir ventilação.
casos de eventuais acidentes. • Calçadas de 1 (um) metro de largura em todo o
• Eventuais efluentes líquidos gerados no depó- perímetro do depósito.
sito de armazenamento de embalagens vazias • Segurança: o depósito deve ser devidamente
de agroquímicos devem ser direcionados para trancado, identificado com placas de sinaliza-
uma caixa de contenção para posterior destina- ção, alertando sobre o risco e o acesso restrito a
ção final adequada. pessoas autorizadas.
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Planta 8.
Modelo de
lavador de
veículos
(Planta Baixa)
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Planta 10.
Caixa de
retenção de
areia
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Planta 10.
Caixa de
Inspeção
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neira em sua base, utilizada para separar a água que Sumidouro (fossa séptica)
por acaso possa vir misturada a esse óleo. A água É uma caixa em alvenaria, ou em manilha pré-
deve ser novamente enviada à caixa separadora, e o -moldada, que deve permitir a infiltração do
óleo, para o destino final (planta na página 28). efluente tratado no solo. Para a definição da pro-
fundidade do sumidouro, deve ser observado o ní-
Caixa de inspeção vel do lençol freático, sendo normalmente utilizada
Serve para avaliar o funcionamento e a eficiên- a profundidade de 1 metro. O sumidouro deve ser
cia do sistema de tratamento. Deve ser construída construído em cota inferior à do poço de captação
em alvenaria. A ligação entre a caixa de inspeção e de água. Recomenda-se acrescentar brita (casca-
o sumidouro deve ter uma declividade que permi- lho) no fundo do sumidouro, para ajudar a infiltra-
ta o fluxo hídrico entre estes (planta na página 28). ção do efluente no solo (planta na página 29).
Referências bibliográficas
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de elementos, bem como ele poderá urinar e de- pendendo do grau de eutrofização, os animais
fecar na água. Todos esses são fatores que depre- irão reduzir o consumo, podendo ocorrer casos
ciarão a qualidade da água. de óbito pela toxidez decorrente da presença de
Lagos e tanques, por serem ambientes de certas algas. Para essas fontes, recomendam-se
água parada, estão mais suscetíveis ao processo análises com frequência semestral e, caso neces-
de eutrofização. O que caracteriza esse processo sário, com maior frequência na época do verão,
é a cor esverdeada da água, que também pode pois é nesse momento que pode ser verificado o
apresentar tons de vermelho e azul, bem como crescimento abrupto de algas que depreciarão a
a presença de manchas oleosas (Figura 2). De- qualidade da água.
Lagoas e Tanques
3
3 - Altos Riscos
2
Poços Nascentes 2 - Médio Risco
1
1 - Baixo Risco
0
0 - Risco Nulo
Canais Rios
Cisternas
Figura 1. Classifica algumas fontes de água com relação ao risco a sua qualidade
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de captação e condução, o sistema deve ser para- um sistema de irrigação ideal, capaz de atender
lisado, impedindo a entrada desses produtos na a todas as condições e interesses envolvidos. A
cisterna. Somente após a lavagem adequada a cis- seleção do sistema de irrigação mais adequado
terna poderá novamente receber água. requer análise detalhada das condições da cul-
tura, do solo e da topografia, em função das exi-
d) Sistema de retirada de água da cisterna gências de cada sistema.
A água a ser consumida por humanos e ani- A irrigação pode ser complementar ou total. É
mais deve ser retirada da superfície da cisterna, complementar nas regiões em que a planta pode
20 cm abaixo da superfície da água. A água do completar seu ciclo sem a irrigação, porém sua
fundo é sempre de pior qualidade devido ao utilização aumenta a produtividade e diminui os
acúmulo de partículas nessa região. Como o ní- riscos inerentes à má distribuição de chuvas. Nas
vel da água na cisterna altera-se constantemen- regiões em que a precipitação pluvial não é sufi-
te, por conta da entrada da água de chuva e da ciente para que a planta complete seu ciclo, a irri-
retirada para o uso, o produtor deve elaborar gação é total.
um sistema de retirada que permita o ajuste da O uso da irrigação apresenta como vantagens:
altura como, por exemplo, o uso de uma boia. incorporação de áreas improdutivas à produção
Em cisternas de grande volume, utilizam-se agrícola, garantia de produção por suprir a de-
bombas para retirada. Deve-se regular a bom- manda hídrica em períodos de estiagem ou vera-
ba para que, no momento da retirada, não haja nicos, colheita na entressafra e mais de uma safra
turbilhonamento da água, o que provoca a sus- por ano, possibilita a fertirrigação, melhor qualida-
pensão das partículas depositadas no fundo. de da produção e aumento da produtividade.
Se a retirada for feita por baldes ou similares,os As limitações da irrigação são: alto consumo de
objetos devem estar limpos, para que a quali- água, que pode se agravar sem o manejo adequa-
dade da água não seja depreciada, e ser guar- do da irrigação, alto custo de implantação, falta
dados em lugar que não haja produtos tóxicos de mão de obra especializada, salinização de so-
e acesso de animais e pessoas. los inadequadamente manejados, impactos am-
bientais, como resíduos, mosquitos e alteração de
Irrigação ecossistemas.
A irrigação é a aplicação artificial de água às O método de irrigação é a forma pela qual
plantas visando suprir a falta, insuficiência ou a água será aplicada às culturas. Basicamente,
má distribuição das chuvas. É uma tecnologia são quatro os métodos de irrigação: superfície,
que propicia o aumento da produtividade, da aspersão, localizada e subirrigação. A Tabela 2
eficiência de produção e da estabilidade da pro- mostra os fatores que devem ser considerados
dução em sistemas agrícolas. É imprescindível na escolha do método de irrigação.
em regiões com baixas precipitações pluviais e A Tabela 3 apresenta os valores de eficiência,
importante naquelas sujeitas a estiagens ou ve- uso de energia e gasto de mão de obra por sistema
ranicos. Sua adoção deve ser baseada na viabili- de irrigação. A vida útil de cada sistema e o custo
dade técnica e econômica do projeto. Não existe de manutenção são apresentados na Tabela 4.
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Sensibilidade
Aplicação da Taxa de
Método Declividade da Cultura ao Efeito do vento
Água Infiltração
Molhamento
Superfície Distribuição por Área deve ser Não Adaptável à Não é problema
gravidade plana ou nivelada recomendável cultura do milho,
artificialmente para solos especialmente o
a um limite de com taxa de sistema de sulcos
1%. Maiores infiltração
declividades acima de 60
podem ser mm/h ou com
empregadas, taxas muito
tomando-se baixas
cuidado no
dimensionamento
Aspersão Jatos de água Adaptável a Adaptável Pode propiciar o Pode afetar a
lançados ao diversas condições a diversas desenvolvimento de uniformidade de
ar caem sobre condições doenças foliares distribuição e a
a cultura na eficiência
forma de chuva.
Tipos: aspersor
convencional,
autopropelido,
pivô central,
deslocamento
linear
Localizada Água aplicada Adaptável a Todo tipo. Menos efeito de Sem efeito
em apenas uma diversas condições Pode ser doenças que a
fração do sistema utilizada aspersão. Permite
radicular. Tipos: em casos umedecimento de
gotejamento e extremos, apenas parte da área
subsuperficial como solos
muito
arenosos ou
muito pesados
Subirrigação Geralmente, Área deve ser O solo deve ter Adaptável à cultura Sem efeito
associado a plana ou nivelada uma camada do milho, desde
um sistema impermeável que o solo não fique
de drenagem abaixo da zona encharcado o tempo
subsuperficial de raízes, ou todo. Pode prejudicar
lençol freático a germinação
alto
Adaptado de Andrade e Brito (2014).
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Tabela 3. Valores médios de eficiência de irrigação, uso de energia e gasto de mão de obra
Investimento
Eficiência de Uso de energiaa Mão de obrab
Sistema de irrigação inicialc
irrigação (%) (kWh mm-1 ha-1 (h ha-1)
(US$ ha-1)
Superficial Sulcos 40 - 70 0,3 - 3,0 1,0 - 3,0 600 – 1500
Faixas 50 - 75 0,3 - 3,0 0,5 - 2,5 800 – 1500
Inundação 50 - 70 0,3 - 3,0 0,3 - 1,2 800 – 1200
Aspersão Convencional portátil 60 - 75 3,0 - 6,0 1,5 - 3,5 800 – 1500
Convencional semiportátil 60 - 75 3,0 - 6,0 0,7 - 2,5 1500 - 3000
Convencional permanente 70 - 80 3,0 - 6,0 0,2 - 0,5 3000 – 5000
Autopropelido 60 - 70 6,0 - 9,0 0,5 - 1,0 1500 – 2200
Pivô central 75 - 90 2,0 - 6,0 0,1 - 0,7 1500 – 3000d
Deslocamento linear 75 - 90 2,0 - 6,0 0,3 - 1,0 2000 – 3500
Localizada Gotejamento 85 - 90 1,0 - 4,0 0,1 – 0,3 4000 – 8000
Microaspersão 80 - 90 1,5 - 4,0 0,1 - 0,4 4000 – 8000
a - estimado para uma altura de recalque entre 0 e 50 m, exceto para irrigação subsuperficial (0 - 10 m).
b - depende do nível de automação do sistema, eficiência geral de mão de obra, dentre outros fatores. (h ha-1 irrigado).
c - depende do nível de automação, tipo de cultura, qualidade de equipamento, tamanho da área, dentre outros.
d - para pivôs com áreas em torno de 3 ha, o custo varia entre US$5mil/ha-1 e US$6 mil/ha-1
Obs.: eficiência de irrigação para sistemas por aspersão com perdas por evaporação e deriva inferiores a 1%.
Fonte: Marouelli & Silva (1998); Christofidis (2002); Marouelli & Silva (1998) citados por Mendonça e Marques (2014).
Para que a irrigação represente uso eficiente sima: o consumo de água. O ideal é que sejam
da água e ganhos econômicos para o produtor, instalados vários equipamentos na área, por setor
é obrigatório que a prática seja monitorada pela de irrigação. Além das vantagens citadas, o uso do
leitura de hidrômetros Figura 3. Hidrômetros são hidrômetro auxilia no atendimento à legislação re-
equipamentos de fácil leitura e instalação e baixo lacionada aos recursos hídricos e nos processos de
custo que nos dão uma informação importantís- outorga e cobrança pelo uso da água.
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Figura 3.
Hidrômetro
para medição
do consumo de
água
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sumido, direta e indiretamente para produzir o fontes superficiais e subterrâneas e utilizada na ir-
produto. O cálculo e avaliação da pegada se pro- rigação das culturas, dessedentação dos animais,
põe uma ferramenta analítica, auxiliando no en- serviços etc.); água cinza (volume de água neces-
tendimento de como o produto se relaciona com sário para diluir os efluentes da atividade e/ou,
a demanda e a escassez hídrica. A proposição de no caso do uso dos resíduos, como fertilizante).
cálculo da pegada hídrica surgiu no início do sé- Portanto, a pegada hídrica é formada por compo-
culo (2001/2002) e foi feita pelo pesquisador Arjen nentes indiretos (ex.: água utilizada na produção
Hoekstra da Unesco, sendo aprimorada por pes- dos alimentos) e diretos (ex.: água consumida na
quisadores da Universidade de Twente, na Holan- dessedentação dos animais e serviços).
da. Atualmente, grande parte dos estudos é feita É possível que a pegada seja calculada sem
pela Water Footprint Network (www.waterfoo- considerar todos os consumos, podendo ter como
tprint.org). A essência do cálculo é a mesma que “fronteira” a fazenda, região, estado ou país. Na in-
já vinha sendo desenvolvida pelas pegadas ecoló- terpretação do valor deve estar claro o que foi con-
gica e de carbono, entender os sistemas de pro- siderado no cálculo e qual a “fronteira”. Portanto,
dução como elos de uma cadeia produtiva, que se pode-se ter uma pegada de 15 l/kg de carne pro-
inicia na geração de insumos e termina na oferta duzida, neste caso a “fronteira” utilizada foi reduzi-
de produtos ao consumidor. da, limitando-se aos galpões de uma propriedade
Recentemente, outras escolas científicas sur- rural, sendo considerado somente o consumo de
giram realizando cálculos de pegada hídrica, mas água azul (dessedentação e serviços), ou, o valor
de forma diferente da escola holandesa, principal- pode ser de 4.000 l/kg de carne, aqui o cálculo
mente por não considerar as águas verde e cinza. considera toda a cadeia de produção, da extração
Dessas escolas, a de maior destaque é a que utiliza e manufatura dos insumos à oferta dos produtos
a metodologia de análise de ciclo de vida. O concei- ao consumidor. Sem esses esclarecimentos, a in-
to de ciclo de vida relaciona determinado produto terpretação do valor conduz a erros.
a um fluxo de processos executados ao longo de Deve-se ressaltar que o mais importante não é o
uma cadeia produtiva e além dela. A análise abran- valor numérico da pegada, mas, sim, a relação deste
ge a extração e o processamento de matérias-pri- com a disponibilidade hídrica do local e da região
mas, manufatura, transporte, distribuição, uso, reú- e a proposição de ações mitigatórias. Na Figura 4,
so , manutenção, reciclagem e disposição final do apresentam-se as etapas de cálculo da pegada hí-
produto. Portanto, a análise de ciclo de vida é bem drica. Observa-se que a geração do valor numérico
mais ampla que o método de cálculo da pegada hí- é somente uma das etapas e não o objetivo-fim do
drica, pois considera todos os aspectos e impactos método. O objetivo-fim é utilizar o indicador para
ambientais relacionados a um produto. Em 2014, promover o uso eficiente da água e a gestão do re-
a Organização Internacional de Normalização (ISO) curso natural. O método também considera a análise
editou a ISO 14046, que estabelece os princípios e de sustentabilidade, na qual são avaliados aspectos
requerimentos para o cálculo da pegada hídrica, econômicos e sociais relacionados ao uso da água.
seguindo a metodologia de análise de ciclo de vida. Calcular a pegada sem propor ações e soluções
O método holandês entende consumo de água para melhorar o manejo hídrico não promoverá
como consumo de águas superficiais e subterrâ- grandes avanços e poderá gerar mais conflitos
neas, água evaporada e transpirada na produção do que consensos. Quando os primeiros valores
das culturas vegetais (processo de evapotranspira- da pegada começaram a ser divulgados no Brasil,
ção), água que retorna para outra unidade hidro- os setores agropecuários se mostraram contra o
gráfica que não a sua de origem ou para o mar e conceito e seus resultados. A razão dessa revolta
água incorporada ao produto. A pegada pode ser inclui erros da mídia na forma de comunicação
expressa em m3 de água/ano, m3 de água/hectare do conceito e a falta de conhecimento do cálculo
e m3 de água/kg de produto. pelos setores. Hoje, o conceito é mais aceito e já
O cálculo também diferencia o consumo de internalizado por algumas agroindústrias, pois o
água verde (água da chuva, não considerando a método foi esclarecido e melhorado e entendeu-
água que escorre ou se infiltra, pois não é utiliza- -se que o indicador tem conteúdo para subsidiar
da pela cultura agrícola); água azul (consumida de a gestão hídrica.
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MANUALDE
MANUAL DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
Figura 4.
Etapas de CÁLCULO DA PEGADA HÍDRICA
cálculo da (águas verde, azul e cinza)
pegada hídrica
AVALIAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA COM O VALOR DA PEGADA
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relacionados à salinidade, mas também de- profundidade efetiva do sistema radicular (ca-
vem ser consideradas a alcalinidade e a pre- mada de solo que contém 90% das raízes da
sença de nitratos e compostos tóxicos; cultura);
• Monitorar as características dos esgotos, quan- • Fazer a amostragem de solo nas paredes da
do esse for descartado em corpos d’água ou trincheira, retirando amostras deformadas (em
usado na fertirrigação, e as concentrações de sacos plásticos) e indeformadas (em anéis me-
nutrientes dos resíduos que forem utilizados tálicos) para cada camada de solo (Ex.: 0-20 cm;
como fertilizante; 20-40 cm; 40-60 cm...), desde a superfície até a
• Não permitir que os animais consumam água profundidade efetiva do sistema radicular. As
de rios, córregos, lagos e lagoas de forma dire- amostras deformadas são utilizadas para de-
ta, devendo haver uma derivação destes e ofer- terminar a composição granulométrica do solo
ta por bebedouros; (percentagem de areia, silte e argila). As amos-
• Construir e manter fontes e poços de acordo tras indeformadas serão utilizadas para deter-
com as recomendações técnicas; minar a densidade global e a capacidade de
• Poços devem estar fechados e deve-se evitar a água disponível (CAD), que é o máximo arma-
contaminação por chuvas e enxurradas. Devem zenamento útil de água do solo;
ser construídos no ponto mais alto da proprie- • Utilizar dados climáticos para fazer o balanço
dade, fora das áreas de enchentes e com distân- hídrico e estimar a demanda máxima de irriga-
cia adequada de fontes de poluição, tais como ção das culturas irrigadas. A demanda máxima
pocilgas, estábulos e fossas; é necessária para fazer o projeto de irrigação de
• Bebedouros que fazem a reservação de água forma a evitar a falta ou o desperdício de água;
devem ser dimensionados, visando a troca total • Iniciar o projeto de um novo sistema de irriga-
de seu volume de água, sendo o ideal cada uma ção, ou o projeto da reforma de sistemas an-
hora; isso possibilita a conservação da qualida- tigos, calculando o intervalo máximo entre as
de da água; irrigações (turno de rega). Para tal, considera-se
• Toda fazenda deve manter uma rotina rígida de a demanda máxima de irrigação e a capacidade
limpeza dos bebedouros para que a qualidade de água disponível (CAD);
da água seja preservada. O ideal é a limpeza • No caso de energia elétrica, verificar o padrão
diária, sendo que o intervalo entre lavagens de energia disponível (monofásica ou trifásica),
nunca deve ser superior a 3-4 dias. a fim de definir a máxima potência do(s) mo-
tor(es). A limitação é mais severa em redes de
2. Boas práticas hídricas relacionadas à irrigação energia monofásica;
• Antes de iniciar a elaboração de um projeto de • Instalar um manômetro com glicerina na saída
irrigação, fazer o levantamento de todos os re- da tubulação, próximo à bomba do sistema de
cursos necessários, tais como: disponibilidade de irrigação, para verificar se a pressão de saída está
planta planialtimétrica, capacidade de armaze- adequada, de acordo com as necessidades pre-
namento de água do solo, máxima demanda de vistas no projeto;
irrigação da(s) cultura(s), fonte e tipo de energia a • Instalar um hidrômetro na tubulação de recal-
ser utilizada (óleo diesel, energia elétrica mono- que, a fim de ter controle sobre o volume de
fásica ou trifásica) e máxima vazão de água dis- água aplicado à área irrigada;
ponível para outorga de uso de recursos hídricos; • Testar anualmente a uniformidade de aplicação
• Fazer o levantamento planialtimétrico da área a de água do sistema de irrigação, de acordo com
ser irrigada, medir e incluir na planta a distância o padrão de testes (consultar literatura técnica
e o desnível da área irrigada à fonte de água. sobre o assunto);
No caso de utilização de água de poço, medir • Checar anualmente todos os componentes da
e anotar o desnível da boca ao nível dinâmico estação de bombeamento (válvula de pé com
do poço (profundidade da boca até o nível da crivo, conexões e tubulação de sucção, bomba,
água com a bomba do poço em operação); conexões e tubulação de recalque). Procurar
• Abrir trincheiras na área a ser irrigada para fazer por vazamentos, principalmente na tubulação
a amostragem das camadas do solo e medir a de sucção, e eliminá-los;
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SANEAMENTO
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• Ter conhecimento de todas as fontes de água e 5. Boas práticas hídricas relacionadas à gestão da
corpos hídricos da propriedade; propriedade
• Não permitir o acesso de animais a nascentes, • Documentar todas as intervenções, ações, ma-
fontes e poços. Quando exigido por lei, isolar nejos e obras relacionadas ao manejo hídrico e
essas captações de acordo com os padrões re- manter esses documentos para consultas;
comendados; • Ter como atividade rotineira a atualização e
• Avaliar a necessidade de implantação de siste- a capacitação técnica ambiental de todos os
mas de tratamento de esgotos animais; envolvidos na propriedade e promover treina-
• Utilizar esgotos animais, biofertilizantes, com- mentos para elevar os níveis de informação e
postos, lodos e qualquer resíduo orgânico conhecimento quanto à importância da água e
como fertilizante seguindo o princípio do ba- educação sanitária;
lanço de nutrientes, compatibilizando o que • Manter um bom relacionamento com os vizi-
está disponível no solo com a recomendação nhos que estejam acima e abaixo da proprieda-
agronômica da cultura e a concentração de de (em relação ao curso d’água), mantendo-os
nutrientes do resíduo. Em áreas de fragilidade informados de seu manejo produtivo e como
ambiental, como áreas com longo histórico esse se relaciona com o cotidiano deles. Sempre
de uso de fertilizantes, próximas a corpos de informá-los, e também os órgãos competentes,
água e a várzeas, de elevada declividade, en- de qualquer alteração na quantidade e na quali-
tre outras, reduzir a aplicação de fertilizantes, dade da água que estejam relacionadas ou não
tendo como elemento de referência o fósforo, ao manejo da propriedade;
bem como intensificar o uso de práticas agrí- • Participar de fóruns que tenham a água como
colas conservacionistas. foco, como os comitês de bacias hidrográficas.
Referências bibliográficas
ANDRADE, C. L.T.; BRITO, R.A.L. Água para a cultura. A Lavoura, n. 704, p.10-18. 2014.
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Afluente ou Tributário - qualquer curso de água que deságua num rio principal,
lago ou lagoa. “Curso d’água cujo volume ou descarga contribui para aumentar ou-
tro, no qual desemboca.”
Corpos d’água - qualquer rio, córrego, riacho, lago, lagoa, brejo ou aquífero.
Fonte - ponto no solo ou numa rocha de onde a água flui naturalmente para a su-
perfície do terreno ou para uma massa de água.
Lago - superfície de água, geralmente doce, cercada de terras por todos os lados.
Pode ser natural ou artificial. Não são elementos permanentes da paisagem, poden-
do desaparecer pelo acúmulo de matéria orgânica no fundo ou aporte de sedimen-
tos por afluentes.
Poço artesiano - poço profundo onde a pressão é suficiente para fazer jorrar a
água sem o auxílio de bombas.
Poço manual ou escavado - construídos manualmente, utilizando-se somente
equipamentos simples, sem o uso de máquinas, normalmente captam água do len-
çol freático.
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Tipos de Água
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Água salgada - é a água que contém muitos sais dissolvidos, como a água do mar.
Água salobra - água com teor de sais que, dependendo da concentração, impede
seu consumo por homem e animais.
Água servida - é aquela que foi utilizada pelo homem, tendo suas características
naturais alteradas.
Água superficial - é toda a água doce encontrada, num dado momento, na super-
fície da terra, tais como em rios, lagos, reservatórios, etc.
Água tratada - água que tenha sido submetida a um processo de tratamento, com
o objetivo de torná-la adequada a um determinado uso.
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Mas, no Brasil, a coisa mais comum que encon- ta, tem muito escorpião!
tramos na área rural é a chamada “fossa negra”, A fossa negra nos dá a falsa impressão de que o
também conhecida como “fossa rudimentar” ou esgoto está confinado no buraco, mas, infelizmen-
simplesmente “fossa”... te, não é verdade. O esgoto, pouco a pouco, vai
A fossa negra nada mais é que um buraco cir- penetrando no solo e descendo para as camadas
cular cavado no chão (parecido com um poço), mais profundas até chegar sabe onde? Ao lençol
geralmente com uma tampa de concreto ou ma- freático. É o lençol freático que abastece os poços
deira na parte superior. Todo o esgoto gerado na rasos (também conhecidos como poços caipiras) e
residência é jogado nesse buraco durante anos, alimenta as nascentes dos rios. Isso mesmo, quem
até um momento em que a fossa “enche” e então tem fossa negra na sua casa está literalmente colo-
é necessário fazer outro buraco para o ciclo reco- cando esgoto na água que bebe.
meçar. É comum as famílias colocarem galinhas E não se iluda: não existe distância segura en-
próximas às fossas negras, para que elas comam tre fossa negra e poço. A fossa negra, portanto,
baratas e escorpiões que são muito comuns nes- deve ser eliminada das nossas casas. Um colega
ses sistemas. O escorpião só está lá porque é um meu costuma dizer que a fossa negra é um “poço
predador natural da barata. Onde tem muita bara- de doenças”.
Figura 1. Como a fossa negra pode contaminar o lençol freático e, consequentemente, o poço e os rios
Vamos clorar a água que utilizamos na nossa rente. Mas é uma água sem cor, sem cheiro e sem
casa? sabor? É certo de que não esteja contaminada?
Você sabe diferenciar visualmente a água con- Infelizmente, a resposta é não. No caso de con-
taminada por germes transmissores de doenças taminação microbiana, estamos falando de seres
daquela totalmente limpa? microscópicos, pelo menos 50 vezes menores
Em alguns casos, claro, é fácil observar: a cor, que o diâmetro de um fio de cabelo. A bactéria
o cheiro e o sabor da água dizem muita coisa. de origem fecal mais comum é a Escherichia coli,
Ninguém vai querer beber água com uma cor es- também conhecida pela sua abreviatura E. coli.
tranha ou que tenha algum cheiro ou sabor dife- Ela é muito comum no trato intestinal de animais
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Figura 2.
Imagem de uma
Escherichia coli
(E.coli), muito
comum nas fezes
de animais de
sangue quente,
incluindo os seres
humanos
Mas como fazer para clorar a água? matar todas as bactérias. Muito cloro dá
Existem diversos produtos com cloro um forte sabor à água e pode ser tóxico.
ativo no mercado utilizados para desin- Assim, existe uma quantidade correta
fetar a água, que vão desde os saniti- de cloro ativo que deve ser adicionada,
zantes com hipoclorito de sódio (água e esta é bem pequena.
sanitária) até os aromatizados, como A Portaria 2.914/2011, do Ministério
“Pinho Sol”, por exemplo (este usado so- da Saúde, estabelece os parâmetros de
mente para desinfecção de vaso sanitá- qualidade para a água a ser utilizada no
rio). A eficiência do produto dependerá abastecimento residencial, sendo váli-
não somente da quantidade utilizada, da em todo o Brasil. Para tal, ela deve
mas também do teor de cloro ativo na ser límpida, transparente, sem material
sua composição. A água sanitária, por em suspensão, sem cor ou odor e não
exemplo, tem aproximadamente 2% pode estar contaminada por produtos
de cloro ativo, já o hipoclorito de cálcio químicos ou por microrganismos. No
pode chegar a 65%. Pouco cloro ativo caso dos microrganismos, é recomen-
na água pode não ser suficiente para dado o uso de 0,5 a 2 mg de cloro ativo
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Figura 4.
Esquema
representativo de
como deve estar
instalado um
clorador Embrapa
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Fossa Negra, nunca mais! Jogar esgoto no rio, exceto óleos e gorduras, que ficam retidos em uma
nem pensar... caixa de gordura anterior ao sistema. Existe um an-
teparo (chicana) para que a água que entre perca
Mas o que fazer então? a velocidade e, assim, seja facilitada a decantação
Não se pode construir qualquer coisa imaginan- dos sólidos. A saída do líquido do sistema também
do que está fazendo o certo. Existem diferentes ocorre pela parte de cima, no nível da água. Assim,
sistemas de tratamento de esgoto que possuem quando entra esgoto fresco por um lado do tan-
características próprias. Na área rural, geralmente que, no lado oposto é descartado o líquido “trata-
são utilizadas as “fossas sépticas”. Qualquer mode- do”. Para saber o tamanho aproximado do tanque
lo de fossa séptica divulgado e disseminado deve séptico (em litros), a conta básica a ser feita é mul-
necessariamente ter sido testado e validado an- tiplicar o número de moradores por 300 (trezen-
teriormente por especialistas. Assim, quando for tos) litros e colocar uma margem de segurança de
construir um sistema em sua residência, não faça mais 500 l, prevendo que o número de moradores
adaptações sem que isso seja recomendado por possa aumentar. Por exemplo, para uma residência
um engenheiro especializado. Siga rigorosamente com cinco moradores, o tanque séptico terá 2 mil
as instruções de dimensionamento e instalação! l (5 x 300 + 500). O efluente que sai do tanque tem
uma redução substancial de sólidos em suspensão,
O que é uma fossa séptica? comparado com o esgoto bruto, mas ainda possui
É um sistema que recebe o esgoto bruto, que uma elevada carga microbiológica, fato que im-
será, de uma maneira ou outra, depurado antes possibilita o reúso do líquido sem algum tratamen-
de ser retornado à natureza, geralmente na forma to posterior. O líquido segue então para descarte
de um líquido despejado em um sumidouro. Con- na natureza, em sumidouros ou valas de infiltração.
forme dito anteriormente, há diversos modelos Um sumidouro é basicamente um tanque
de fossas sépticas, também chamadas de tanques circular cavado no chão, com parede de alve-
sépticos. Algumas são tanques nos quais os mate- naria ou cilindros de concreto. As paredes são
riais sólidos do esgoto são decantados e ficam de- perfuradas para permitir que o líquido penetre
positados. Existem fossas sépticas que degradam no solo. O fundo do sistema não é impermea-
parte da matéria orgânica pelo processo de biodi- bilizado, sendo revestido de uma camada de
gestão, que acumulam sólidos no interior, e existe aproximadamente 50 centímetros de pedra bri-
a fossa séptica biodigestora, que não acumula só- tada. O tamanho do sumidouro será calculado
lidos. Os sistemas que acumulam sólidos necessa- levando-se em conta a quantidade de líquido
riamente devem ser limpos periodicamente, com a ser depositado por dia, bem como o tipo de
o uso de um caminhão “limpa-fossa”. solo (podem ser menores em solos mais areno-
sos, que absorvem melhor a água, comparados
Tanque séptico com sumidouro a solos mais argilosos).
Com relação à construção de uma fossa sépti- Os materiais sólidos presentes no esgoto e
ca convencional, existe a norma NBR 13969:1997 que não fermentam vão se depositando no tan-
(Tanques sépticos - Unidades de tratamento que, reduzindo o volume útil dele. Por conta dis-
complementar e disposição final dos efluentes so, todo tanque séptico convencional deverá ter
líquidos - Projeto, construção e operação), da As- uma pequena tampa para ser limpo periodica-
sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). mente, pela retirada dos sólidos com uso de um
Esta norma descreve tecnicamente todas as ações caminhão “limpa-fossa”. Se isso não for feito, che-
referentes a uma fossa séptica convencional. Os gará o momento em que o tanque ficará cheio
tanques sépticos podem possuir uma ou mais câ- de sólidos e começará a enviar o excesso para o
maras, para o armazenamento de sólidos e biodi- sumidouro, entupindo o sistema. Se isso ocorrer,
gestão, seguidos do descarte do efluente em su- a correção do problema é cara, sendo necessá-
midouros ou valas de infiltração. ria a construção de outro sumidouro. A Figura 5
Em uma fossa séptica convencional, os tanques mostra uma representação esquemática de um
são cilíndricos e a entrada de todo o esgoto da resi- tanque séptico, bem como de um sumidouro pa-
dência ocorre pela parte superior do nível da água, drão, conforme descrito na NBR 13969:1997.
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PRÁTICAS
Figura 5.
Representação
de um tanque
séptico
cilindrico
Brita 0,30m
Figura 6.
Representação
de um Solo de proteção
sumidouro -
Anel de concreto / PVC / MCV etc.
planta e corte
(Foto: www.finep.gov.br/prosab)
Figura 7.
“Limpa-fossa”
removendo
sólidos de
uma fossa
séptica
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Fossa séptica biodigestora volvida para uma residência com até cinco mora-
Esse sistema foi desenvolvido na Embrapa Ins- dores. O sistema padrão é composto por três tan-
trumentação (São Carlos/SP) e alia o conceito de ques (módulos) de mil litros, conectados entre si
biodigestão anaeróbia (na ausência de ar), em que por tubos e conexões de PVC. Os dois primeiros
ocorre a degradação da matéria orgânica presente tanques são chamados de “módulos de fermen-
no esgoto e há redução significativa na contami- tação”, que é onde efetivamente ocorrerá o trata-
nação microbiana; bem como não acumula sóli- mento, e o último tanque recebe o nome de“caixa
dos em seu interior, evitando assim o uso de cami- coletora”, para armazenar e, posteriormente, reci-
nhões “limpa-fossa”. A fossa séptica biodigestora clar o líquido tratado, conforme apresentado na
permite também a reciclagem da água tratada Figura 8. O volume do sistema é calculado levan-
como fertilizante agrícola a ser utilizada exclusiva- do-se em conta que o líquido fique em tratamento
mente no solo. pelo menos 20 dias, em média, nos módulos de
A biodigestão anaeróbia é basicamente um fermentação. Para melhor isolamento térmico, as
processo natural, no qual, pequenos seres vivos caixas devem ser semienterradas, ficando somen-
(microrganismos) transformam os nossos resíduos te a tampa e uma pequena parte superior da caixa
(fezes e urina) em gases, que são descartados, bem (cerca de 10 cm) descobertas.
como em matéria orgânica estabilizada. Estes mi- O material para instalação da fossa séptica
crorganismos são muito sensíveis à presença de biodigestora, em sua maioria, é encontrado em
oxigênio e também de sabões e detergentes. Por lojas de material de construção. Os tanques po-
isso, a fossa séptica biodigestora deve estar bem dem ser feitos de caixas d’água resistentes, como
vedada e tratar somente o esgoto gerado no vaso fibrocimento e fibra de vidro, bem como em al-
sanitário. O excesso de sabões e detergentes pre- venaria ou outro sistema, desde que seja bem
sentes no restante do esgoto da casa(conhecido impermeabilizado. Não é recomendado o uso de
tecnicamente como “água cinza”) causa proble- caixa d’água de plástico (polietileno), pois defor-
mas na biodigestão. O tratamento da água cinza é mam-se com grande facilidade no solo. A Tabela 1
mais simples e será discutido mais à frente. apresenta todo o material necessário para a mon-
A fossa séptica biodigestora padrão foi desen- tagem de uma fossa séptica biodigestora.
Figura 8. Representação esquemática da instalação de uma fossa séptica biodigestora e função dos diferentes módulos para
uma residência com até cinco moradores
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Tabela 1. Material e ferramenta para instalação de uma fossa séptica biodigestora padrão
(até cinco moradores)
Material
Item Quantidade Unidade
Caixa d’água de fibrocimento ou fibra de vidro de 1000 l(1) 03 peça
Tubulação de PVC DN 100 (100 mm) para esgoto 06 m
Válvula de retenção de PVC DN 100 (100 mm) para esgoto 01 peça
Luva de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Curva 90° raio longo de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Tê de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
CAP de PVC DN 100 (100 mm) 02 peça
Anel de borracha para vedação 100 mm (O’ring) 10 peça
Tubulação de PVC soldável DN 25 (25 mm) 01 m
CAP de PVC soldável DN 25 (25 mm) 02 peça
Flange de PVC soldável DN 25 (25 mm) 02 peça
Tubulação de PVC soldável DN 50 (50 mm) 01 m
Flange de PVC soldável DN 50 (50 mm) 01 peça
Registro de esfera compacto soldável de PVC DN 50 (50 mm) 01 peça
Cola de silicone de 300 g 02 tubo
Pasta lubrificante para juntas elásticas em PVC rígido de 400 g 01 tubo
Adesivo para PVC 100 g 01 tubo
Adesivo de contato 100 ml 01 lata
Guarnição esponjosa de borracha - espessura 10 x 20 mm ou
12 m
10 x 10 mm
Estacas ou mourões com 1,8 m(2) 10 peça
Tela tipo galinheiro 1,2 m de largura (2)
25 m
Grampos ou pregos para fixar a tela (2)
60 peça
Ferramentas
Item Quantidade Unidade
Serra copo100 mm 01 peça
Adaptador (suporte) para serra copo em furadeira 01 peça
Serra copo 76 mm 01 peça
Serra copo 38 mm 01 peça
Aplicador de silicone 01 peça
Arco de serra com lâmina de 24 dentes 01 peça
Furadeira elétrica portátil 01 peça
Lixa comum n° 100 02 folha
Pincel de ½ polegada (para aplicar adesivo de contato) 01 peça
Estilete ou faca 01 peça
Cavadeira 01 peça
Martelo 01 peça
(1)
Não é recomendada a utilização de caixas d’água de plástico (polietileno), pois estas podem deformar-se com
facilidade com a pressão do solo e elevadas temperaturas, prejudicando a vedação
(2)
Para a construção de uma cerca em volta da fossa séptica biodigestora
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Caso haja a necessidade de módulos de fermen- 5 litros de água em um balde, homogeneizar, e co-
tação adicionais, serão necessários, além do ma- locar na fossa por meio de uma válvula de retenção
terial apresentado na tabela acima, os seguintes que é instalada em uma posição anterior à primeira
itens (por módulo de fermentação adicional). Nes- caixa. Esta ação deve ocorrer uma vez ao mês. Um
te caso, incorporam-se mil litros a mais em módulo desenho técnico da montagem de uma fossa sépti-
de fermentação para até 2,5 moradores, em média ca biodigestora é apresentado na Figura 9.
(Tabela 1b). A vedação das tampas ocorre somente nos mó-
dulos de fermentação. Para isso, é necessário o uso
Disseram-me que para a fossa séptica biodiges- de uma borracha macia, cujo nome técnico é “guar-
tora funcionar bem é preciso colocar esterco fres- nição esponjosa”. Essa borracha é colada na boca da
co de bovino? É isso mesmo? caixa, com o uso de adesivo (ou cola) de contato.
É verdade. O uso de esterco bovino fresco (re- É recomendado o uso de guarnição esponjosa de
cém-defecado) é importante, porque ele possui corte 10x20 mm ou 10x10 mm. O produto é encon-
alguns microrganismos “do bem”, que se alimen- trado em lojas especializadas em materiais de bor-
tam dos nossos restos, melhorando o processo de racha. A Figura 10 mostra a instalação de uma guar-
tratamento. O uso do esterco bovino também faz nição esponjosa em um tanque de fermentação.
com que o sistema não tenha mau cheiro. Sem mau Como são gerados gases no processo, é necessária
cheiro, tampouco haverá baratas, ratos, moscas, etc. a colocação de pequenas chaminés nos módulos
Para tal, basta misturar 5 litros de esterco fresco com de fermentação, conforme apresentado na Figura 9.
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Figura 9.
Desenho geral
da instalação
de uma
fossa séptica
biodigestor
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Figura 12. Comparação do aspecto visual de uma planta fertilizada com o EET
da fossa séptica biodigestora (à esquerda) com uma não fertilizada (à direita). As
plantas têm a mesma idade; a planta fertilizada recebeu doses de 50 l de efluente
tratado a cada mês, e a não fertilizada o mesmo volume em água
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SANEAMENTO
do jardim filtrante são instalados os ca- (Figura 14b), bastante utilizado em tan-
nos de entrada e saída. O jardim tam- ques escavados para produção de pei-
bém pode ser construído em alvenaria, xes. Assim, sempre que entrar esgoto
com laterais em ângulo de 90o, mas, fresco de um lado do jardim, o aumento
neste caso, um engenheiro civil deverá do volume empurrará naturalmente o
ser consultado. Caso o sistema precise excesso de água, composta pelo líquido
ser alterado para atender um número tratado, pelo outro lado, sem que o agri-
maior de pessoas, deve-se aumentar cultor precise se preocupar.
a área superficial em pelo menos 2 m2 A cova, devidamente impermeabi-
(metros quadrados) por habitante, sem lizada com a geomembrana, é então
alterar a profundidade. Nessas condi- completada com uma camada de 25 cm
ções, o líquido fica, em média, dois dias de altura com pedra britada nº 2 ou 3.
sendo tratado no sistema. Caso pre- Sobre a pedra britada é colocada uma
tenda-se depurar também o efluente tela de mosquiteiro ou sombrite 70% e,
tratado da fossa séptica biodigestora, sobre esta, uma camada de areia grossa
deve-se montar o jardim com 3 m2 por de aproximadamente 20 cm. O nível da
habitante. água no interior do jardim filtrante deve
As conexões de entrada e saída ocor- ficar 2 a 3 cm abaixo do nível da areia,
rem nas extremidades opostas do jar- sendo controlado pela altura do “mon-
dim filtrante, utilizando-se tubos de es- ge” na saída do sistema (Figura 14a).
goto de 100 mm com flanges adaptadas Finalizada a instalação do meio fil-
para uso em geomembranas. A entrada trante e acertado o nível da água no
ocorre na parte superior do jardim, e a interior do jardim filtrante, serão então
saída, na parte inferior. Para controlar incorporadas as plantas. São colocadas
o nível da água no interior do jardim, plantas macrófitas aquáticas utilizadas
recomenda-se o uso de um arranjo de em paisagismo, para que o ambiente
tubos em formato de cachimbo, co- fique visualmente agradável. As plan-
nhecido popularmente como “monge” tas podem ser nativas ou não da re-
Figura 13.
Dimensões
propostas para
um jardim
filtrante para
residência
com até cinco
moradores
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A B
NÍVEL DA ÁGUA NÍVEL DA AREIA
NÍVEL DA BRITA
MONGE
Figura 14. (A) Detalhes da instalação do controlador de nível do jardim filtrante (monge) e (B) foto de um sistema instalado
gião, mas desde que estejam bem adaptadas ao sólidos podem ser compostados ou descartados
clima local. São recomendadas plantas como pa- em coleta de lixo urbano. A Figura 15 apresenta
piro (Cyperus papyrus), lírio-do-brejo (Hedychium um esquema, e a Figura 16, uma foto de um jardim
coronarium), taboa (Typha domingensis), entre filtrante montado.
outras que apresentam grande crescimento ve- As plantas do jardim filtrante devem ser mane-
getativo, com outras plantas que vão compor jadas para evitar proliferação desordenada. Isso é
o ambiente, como copo-de-leite (Zantedeschia importante, pois o excesso de raízes pode entupir
aethiopica), inhame (Alocasia), helicônias (Helico- os poros do jardim, diminuindo sua eficiência. Com
niaceae), entre outras. Com o passar do tempo, o passar dos anos, ocorre o acúmulo de sólidos,
pólen de outras plantas naturalmente será inse- dificultando a passagem do líquido pelo sistema.
rido no sistema (vento, pássaros, insetos, etc.), e Quando isso ocorrer, todo o material deve ser retira-
estas deverão ser manejadas ao gosto do usuário. do, a brita, lavada e a areia, substituída, com poste-
É interessante que haja biodiversidade, para que rior recolocação dos componentes no sistema. Não
contaminantes e nutrientes sejam mais bem ab- será necessária remoção ou substituição da geo-
sorvidos pelas diferentes plantas. Deve-se notar membrana, a não ser que seja observado algum
também que o processo de tratamento não ocor- vazamento. Recomenda-se somente a substituição
re somente pelas plantas, mas também pelos mi- do Bidin colocado logo acima da geomembrana.
crorganismos, que se multiplicam e serão mais O jardim filtrante remove do esgoto toda a
numerosos em quantidade e variedade quanto gordura e os sólidos em suspensão, praticamente
maior for a biodiversidade de plantas. todos os sabões e detergentes e corrige a acidez
Antes de o esgoto ser inserido no jardim fil- da água. Assim, o líquido tratado que sai do jar-
trante em si, é necessário que seja feito um trata- dim filtrante pode ser descartado diretamente em
mento prévio para retirada de sólidos decantáveis um curso d’água ou em um sumidouro. Também
e gordura. Para isso, são instalados, previamente pode ser usado em irrigação, desde que não en-
ao jardim, uma caixa de retenção (decantação) de tre em contato direto com alimentos que sejam
sólidos, que nada mais é que uma caixa d’água de ingeridos crus, mas o líquido não possui efeito
100 l, e uma caixa de gordura. Estes dois processos fertilizante. Essa água pode também ser usada na
simples melhoram muito a eficiência do jardim fil- limpeza de áreas comuns e na limpeza mais gros-
trante, já que retiram boa parte dos sólidos decan- seira de máquinas agrícolas. Caso deseje reutilizar
táveis e suspensos, além de aumentar considera- a água, será preciso instalar uma caixa d’água ou
velmente o tempo de vida útil do jardim filtrante. um tanque para armazenar a água tratada. Uma
Tanto a caixa de retenção de sólidos quanto a cai- residência com cinco moradores produzirá apro-
xa de gordura devem ser limpas cada três meses ximadamente 500 litros de líquido tratado pelo
para retirada do material retido. Esses materiais jardim filtrante por dia.
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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO
Figura 16.
Jardim filtrante
instalado no
Sítio São João,
em São Carlos/
SP
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2012
Referências bibliográficas
FLORENCIO, L.; BASTOS, R.K.X.; AISSE, M.M. Reúso das águas de esgoto sani-
tário inclusive desenvolvimento de tecnologias de tratamento para esse fim. Rio
de Janeiro: ABES, 2006. 427 p.
NOVAES, A.P.; SIMÕES, M.L.; MARTIN NETO, L.; CRUVINEL, P.E.; SANTANA, A.;
NOVOTNY, E.H.; SANTIAGO, G.; NOGUEIRA, A.R.A. Utilização de uma fossa sép-
tica biodigestora para a melhoria do saneamento rural e desenvolvimento da
agricultura orgânica. Comunicado Técnico 46, EMBRAPA, 2002. 5 p.
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MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
Resíduos sólidos:
o que fazer com eles
Introdução que a água e o esgoto têm regras e nor-
Wilson Tadeu Continuando a ideia do “faça a coisa mas para tratamento e disposição final
Lopes certa”, agora traremos algumas infor- no meio ambiente, isso também ocor-
da Silva mações a respeito dos chamados re- re com o lixo. Do ponto de vista legal,
Embrapa
Instrumentação
síduos sólidos. Como o próprio nome existe a Lei nº 12.305/2010, que institui
wilson.lopes-silva@ diz, são aqueles resíduos que não são a Política Nacional de Resíduos Sólidos
embrapa.br líquidos ou gasosos. Podemos colocar (PNRS). Nesta lei, é instituído que a res-
nesta categoria o lixo residencial, em- ponsabilidade pela correta disposição
balagens de agroquímicos, entulho de dos resíduos (por exemplo, o lixo) é
construção civil, fezes misturadas com de responsabilidade de todos. A partir
urina de animais em confinamento, etc. desta lei, iniciaram-se os trabalhos para
Cada tipo de resíduo sólido tem seu po- a elaboração do Plano Nacional de Resí-
tencial de contaminação ambiental e duos Sólidos, publicado em sua versão
de transmissão de doenças, dependen- preliminar no ano de 2011 e que, até
do de suas características microbiológi- a publicação deste manual, não havia
cas e químicas, bem como da quantida- sido promulgado.
de gerada. A PNRS deixa claro que o descarte de
Por exemplo, o lixo residencial é bas- qualquer resíduo sólido só poderá ocor-
tante complicado para transmissão de rer se for feito seguindo todos os crité-
doenças e contaminação ambiental, rios para que o meio ambiente não seja
mas a quantidade gerada por uma fa- poluído. Desta forma, é terminantemen-
mília é relativamente pequena e, assim, te proibido o descarte do lixo em qual-
ações simples podem ser tomadas para quer lugar e, portanto, não podemos ter
evitar a poluição causada por esse resí- valas ou pequenos “lixões” para descarte
duo. Já as embalagens de agroquími- de lixo ou outros resíduos sólidos (mes-
cos usadas podem ser extremamente mo que pequenos) em nossas proprie-
nocivas ao meio ambiente e à saúde dades. Da mesma forma que ocorre com
das pessoas, requerendo ações mais o esgoto, caso o lixo seja descartado de
criteriosas. maneira incorreta, a degradação dele irá
Neste capítulo, descreveremos algu- gerar um líquido, de cor escura e mal-
mas ações relativas à destinação corre- cheiroso, conhecido como chorume,que
ta de alguns resíduos sólidos. é muito tóxico e contaminante, porque
arrasta toda a podridão e poluição do
Lixo residencial lixo para o solo. Com o passar do tem-
Apesar de representar um volume po, o chorume vai contaminar as águas
relativamente pequeno na proprieda- subterrâneas com produtos químicos e
de rural, começamos pelo lixo, porque microrganismos transmissores de doen-
afeta a todos. Além disso, muitas das ças. Lembrando que lixo colocado em
normas empregadas para o lixo resi- qualquer lugar também atrai ratos, ba-
dencial são também válidas para outros ratas, moscas, aves, que levam doenças
resíduos. para todo lado. Isso sem contar o mau
O lixo é parte integrante do sanea- cheiro...
mento básico, entretanto está colocado O lixo também não pode ser quei-
em outra categoria, conhecida como mado. Sua combustão gera uma série
“Resíduos Sólidos”. Da mesma forma de substâncias tóxicas que podem, in-
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clusive, causar câncer e doenças respiratórias gra- do em pequenas composteiras e, assim, gerar
ves, entre outras tantas. Desta forma, pense que um adubo orgânico excelente para germinação
cuidando adequadamente do lixo, você estará de sementes, por exemplo. Para a produção de
protegendo não só você e sua família, mas todo o uma pequena composteira, recomendamos que
ambiente ao seu redor. seja separada uma pequena área (10 m² são su-
ficientes), em um local que não fique ao lado da
Então, o que fazer com o lixo? casa, tampouco distante a ponto de desanimar
O correto é separar em grupos e reciclar tudo quem for transportar os resíduos. Se você não ti-
o que for possível. Todo lixo residencial — não es- ver condição de fazer uma compostagem, esse
tão incluídos nessa categoria resíduos de constru- lixo deverá ser ensacado e enviado para coleta
ção civil, móveis e eletroeletrônicos, por exemplo urbana.
— pode ser separado em quatro grandes grupos Para a compostagem desse material, caso sua
de resíduos conhecidos como: família seja grande (seis pessoas ou mais), reco-
1. Lixo seco inerte, composto por papéis, pape- mendamos a montagem de uma pequena leira
lões, plásticos, vidros, metais e embalagens (monte). Para montagem diária da composteira,
tetrapak (longa-vida); faça da seguinte maneira: pense em um monte
2. Lixo úmido ou orgânico, composto por restos com um diâmetro na base de aproximadamente 1
de alimentos; metro. Vá colocando, de maneira alternada, os res-
3. Lixo seco não inerte, composto de pilhas, ba- tos de alimentos e cubra-os com igual volume de
terias e lâmpadas fluorescentes, e; um material fibroso, como palha e poda de jardi-
4. Outros, composto por produtos como papel nagem, por exemplo. Vá incorporando diariamen-
higiênico, absorvente higiênico, fraldas des- te material fresco ao monte até atingir algo entre
cartáveis, medicamentos vencidos, ataduras, 80 cm e 1 metro de altura e inicie outro monte.
embalagens de isopor, etc. Quando acontecer isso, faça a aeração do monte
A primeira coisa que devemos fazer é separar antigo, removendo todo o conteúdo pelo menos
os diferentes grupos e armazená-los em locais uma vez por semana, até o interior não ficar mais
adequados. quente (isso deverá demorar algo em torno de 60
O lixo seco inerte deve ser armazenado em dias). A partir daí, o composto está pronto para ser
sacos plásticos e em local seco. É um material re- usado. Às vezes, é necessário passar o composto
ciclável e pode ser vendido em ferros-velhos ou produzido por uma malha grossa (como uma tela
doados a catadores individuais e/ou cooperati- de galinheiro, por exemplo) para retirar algum
vas. Mais de 50% do volume do lixo que geramos material mais grosseiro.
é composto por esta categoria. Antes do arma- Já para famílias menores, a Embrapa Amapá
zenamento, recomendamos que sejam sempre desenvolveu um sistema simplificado, que se vale
minimamente limpos (preferencialmente enxa- de baldes para compostagem de lixo orgânico. A
guados), principalmente se tiverem restos de ali- forma de montagem é bastante simples e pode
mentos, para evitar mau cheiro e que atraia ani- ser encontrada no sítio eletrônico http://www.
mais e insetos. Fazendo isso, é possível armazenar cpafap.embrapa.br/interagindo/index.php/pt-br/
esses resíduos por vários meses, até que seja pos- construa-sua-propria-composteira-caseira. Uma
sível seu encaminhamento para reciclagem. representação esquemática da composteira é
O lixo orgânico pode ser separado e coloca- mostrada na Figura 1.
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DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
Figura 1.
Esquema de
montagem da
composteira
doméstica
divulgada pela
Embrapa Amapá
(adaptado do
material de
divulgação
produzido
pela Embrapa
Amapá e pela
Interagindo
Projetos
Agroecológicos)
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O lixo seco não inerte é composto de materiais duos sólidos de maneira geral.
que possuem substâncias químicas tóxicas, princi- A partir da Lei nº 9.974/2000, criou-se o pro-
palmente mercúrio e chumbo, conhecidos como grama “Sistema Campo Limpo”, que trata espe-
metais pesados. Esse lixo não pode ser descartado cificamente deste trabalho. A responsabilidade
em qualquer lugar e não pode fazer parte do lixo pela destinação correta do resíduo sólido gerado
comum. Ele deverá ser armazenado em sacos plás- é compartilhada por todos os membros da cadeia,
ticos, em locais abrigados e descartado em locais incluindo o produtor.
adequados. Como o volume é pequeno, é possível Na internet, no site do inpEV (Instituto Nacio-
armazenar com facilidade em nossa casa. A PNRS nal de Processamento de Embalagens Vazias),
estipula que todo local que comercialize esses existe toda uma descrição do que seria o concei-
produtos deverá ter uma área para recebimento e to da responsabilidade compartilhada, conforme
armazenamento adequado e posterior envio para apresentado na Figura 2.
tratamento. Caso não haja isso na sua cidade, pode Você e sua equipe são responsáveis pelo uso
exigi-lo, porque é lei. correto dos agroquímicos e pelo armazenamento
Quanto aos outros resíduos, não há muito o correto das embalagens utilizadas até seu envio
que fazer. Eles não são recicláveis por isso devem para as unidades de recebimento de embalagens.
ser armazenados em sacos separados e colocados Para isso, observe as seguintes recomendações:
para coleta de lixo urbano. Caso tenha medica- • Ao usar o agroquímico, faça a tríplice lavagem.
mentos vencidos em sua casa, algumas farmácias Para isso, preencha a embalagem com aproxima-
possuem também locais para recebimento, similar damente 10% do volume com água (ou aquilo
ao caso das pilhas e baterias. que o fabricante recomendar), tampe-a, agite
Se você fizer a separação e destinação dos dife- bem e coloque o líquido no sistema de pulveriza-
rentes grupos de resíduos e a compostagem dos ção. Repita este procedimento três vezes;
resíduos orgânicos, conforme explicado acima, • Após a tríplice lavagem, fure a embalagem,
somente algo em torno de 10% do que geramos para que ela não seja mais reutilizada;
irá para a “lata do lixo”. Lembre-se: nunca descar- • Armazene a embalagem em construção especí-
te esse lixo em locais que não sejam adequados, fica com cadeado, protegida da chuva, do sol e
para evitar sua contaminação, dos seus entes de animais (grandes ou pequenos). O local deve
queridos e de toda a natureza. ser bem aerado para evitar o acúmulo de gases
tóxicos e também deve ter piso de concreto,
Embalagens de agroquímicos para evitar que algum líquido penetre no solo.
Embalagens de agroquímicos (também conhe- Caso algum líquido escorra pelo piso, este deve
cidos como pesticidas) já são recicladas há um ser conduzido para uma caixa coletora e ser de-
bom período, e, certamente, qualquer agricultor vidamente tratado a posteriori. Um modelo de
que os utiliza já sabe disso. A Lei no 9.974, de 6 de construção de um armazém de embalagens de
junho de 2000, trata especificamente do registro, agroquímicos é mostrado no capítulo de insta-
produção, comercialização, uso e disposição cor- lações rurais deste manual.
reta das embalagens dos agroquímicos utilizados • Envie as embalagens utilizadas para o posto de
no Brasil. Esta lei possibilitou que fosse formada recebimento indicado na nota fiscal de compra
toda uma estrutura, conhecida como logística dos agroquímicos.
reversa, visando o recebimento das embalagens Ao entregar as embalagens vazias, não se es-
utilizadas de agroquímicos, para reciclagem ou queça de pegar o comprovante de entrega. Isso é
incineração do resíduo. Esta lei foi suplantada, em importantíssimo para fins de fiscalização.
alguns aspectos relativos à logística reversa das • Guarde os comprovantes por um ano. Fazendo
embalagens, pela Política Nacional de Resíduos isso, você estará em acordo com a lei e com o
Sólidos (a Lei nº 12.305/2010), que trata dos resí- meio ambiente.
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PRÁTICAS
(Fonte: inpEV. www.inpev.org.br/sistema-campo-limpo/elos-do-sistema)
Figura 2. Responsabilidade compartilhada das embalagens de agroquímicos, conforme o “Sistema Campo Limpo”
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E o que fazer com os restos de agroquímicos que GUES et al., 2008; DARTORA et al., 1998). De qual-
ficam no equipamento ou na limpeza dos equi- quer maneira, basta fazer as contas: quanto maior a
pamentos de proteção individual? produção, maior a quantidade de resíduos...
Todo o sistema de pulverização de agroquími- Na produção extensiva, como a taxa de ocupa-
cos, bem como vestimentas utilizadas, deve ser ção é baixa (poucas cabeças por hectare), os re-
limpo após o uso, em local exclusivo para isso. O lí- síduos das excretas são dispersos e degradam-se
quido da limpeza deve ser tratado em local especí- no próprio pasto e, no final, fertilizam o solo, não
fico para descarte ou armazenado para tratamento representando problema ambiental.
posterior, não podendo ser descartado sem trata- Já na produção intensiva, a conversa é outra.
mento. Cada agroquímico tem uma característica Muitos animais confinados em pequenas áreas
química e de toxidade. Recomendamos entrar em acumulam quantidades muito grandes de resí-
contato com o fabricante e/ou representante para duos. Estes, se descartados de maneira inadequa-
saber a melhor forma de tratamento a ser adotada. da, irão contaminar o solo, a água e o ar. O solo
e a água são contaminados pelo excesso de nu-
Resíduos de combustíveis, óleos lubrificantes e trientes, sais e matéria orgânica, podendo levar
graxas a efeitos de salinização do solo em médio/longo
Geralmente, a manutenção de máquinas e prazos, comprometendo a fertilidade. Além da
equipamentos gera resíduos contaminados com contaminação química, também existe a conta-
derivados de petróleo, incluindo combustíveis, minação microbiana, que pode levar a uma série
óleos lubrificantes, graxas, filtros, embalagens, pa- de doenças, que vão desde verminoses a outras
nos, papéis contaminados, etc. mais sérias, como a hepatite, por exemplo. O ar é
Esses materiais também não podem ser des- contaminado pelos gases gerados pela degrada-
cartados no ambiente, tampouco queimados sem ção dos resíduos, sendo alguns malcheirosos, que
critério, sendo necessário recolhimento para trata- geralmente contêm enxofre na sua composição, e
mento posterior, semelhante ao que ocorre com outros, que não possuem cheiro, mas que são ex-
as embalagens de agroquímicos. Os fabricantes tremamente poluidores, como é o caso do meta-
dos produtos devem possuir um sistema de logís- no, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa
tica reversa para recolher os materiais e enviá-los e consequentes mudanças climáticas.
para o devido tratamento. Assim, é preciso pensar no que fazer, e o que
Caso exista um posto de abastecimento de fazer dependerá das características do local do
combustível na propriedade, este deverá estar confinamento (impermeabilização do solo, uso de
licenciado no órgão ambiental (Sema, no caso água no manejo para dessedentação e limpeza,
de Mato Grosso), conforme preconiza a resolu- drenagem pluvial, etc.) e da quantidade de resí-
ção Conama no 273 (CONAMA, 2000), atualizada duos gerada por dia.
posteriormente pelas resoluções nº 276 e nº 319 Por exemplo, um confinamento de gado a céu
(CONAMA, 2002), do mesmo órgão. Estas normas aberto e sem nenhum revestimento no solo deverá
também preveem os cuidados com os resíduos ter a limpeza da área por raspagem dos resíduos,
gerados nessa atividade. diariamente, de preferência. Esta limpeza é impor-
tante por questões de higiene e também para o
Resíduos da produção animal controle da mosca-dos-chifres e bernes, entre ou-
A produção animal gera muito resíduo sólido, tros parasitas. O resíduo, neste caso, deve ser enca-
principalmente composto por fezes e urina. Ape- minhado a um pátio de compostagem. Já a cama
nas para exemplificar, um bovino defeca, em mé- de aviário poderá ser vendida como fertilizante,
dia, 28 quilos de fezes frescas, mais 20 litros de urina logo após a retirada da área de produção das aves
por dia. No mesmo período, um suíno elimina, em ou poderá ser compostada.
média, 2,35 quilos de fezes e 3,45 litros de urina. Es-
ses valores variam, dependendo das características Como organizar um pátio de compostagem
do animal, como sexo, tamanho, raça, bem como A compostagem é feita pelo homem há milê-
fatores ambientais, como temperatura e umidade, nios, podendo ser definida como um processo de
além da digestibilidade da alimentação (RODRI- transformação e humificação de resíduos orgâni-
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PRÁTICAS
cos por meio da ação de microrganis- umidade com maior facilidade, levan-
mos aeróbios (na presença do ar), em do à necessidade de maior consumo
condições minimamente controladas. de água para umedecer o material. Lei-
Os microrganismos (bactérias, fungos e ras com dimensões iniciais entre 1 m x
leveduras) trabalham em simbiose (um 4 m (aproximadamente 3,5m³) a 1,8 m
ajudando e/ou controlando o outro) x 10 m (aproximadamente 30 m³) de-
e só funcionam de forma eficiente se verão funcionar bem, entretanto isso
tudo estiver em ordem (disponibilidade deve ser avaliado por meio do volume
de nutrientes, temperatura, umidade e gerado diariamente, da capacidade de
aeração). O processo é relativamente manejo do processo e da observação
simples, entretanto requer alguns cui- de outros parâmetros que serão descri-
dados, que serão descritos a seguir. tos abaixo. Recomenda-se que, sempre
Preferencialmente, o resíduo a ser que possível, não se demore mais que
compostado não deve estar encharca- 3-4 dias para completar uma leira.
do com água, tampouco muito seco. Se Ao montar a leira, deverá ser levado
o material estiver muito úmido, reco- em consideração o espaço para o revol-
menda-se deixá-lo em um pátio imper- vimento que, dependendo do tamanho,
meabilizado por 1 a 2 dias, para escorrer poderá ser feito manualmente, com o
o líquido, que deverá ser recolhido em uso de uma pá carregadeira, ou até de
um tanque (chorumeira). Este material máquinas especialmente desenvolvidas
deverá ser utilizado como um bioferti- para isso. Um exemplo de utilização de
lizante no pasto,pois é um líquido rico um pátio é aquele onde as leiras são co-
em nitrogênio e potássio. locadas lado a lado, sendo o último es-
Para a compostagem em si, deve-se paço do pátio reservado para o revolvi-
montar pilhas de compostagem(leiras) mento (Figura 3). As leiras são revolvidas
em um pátio, de preferência sobre uma no sentido de ocupar os espaços vazios
superfície onde não ocorra contato criados pelo revolvimento da leira ante-
com o solo, caso se deseje um material rior e assim sucessivamente. Se possível,
de melhor qualidade. Se o pátio for im- é interessante pensar em um arranjo
permeabilizado, mas não coberto, é re- de espaço que possibilite a entrada do
comendado também que o líquido que composto fresco por um lado do pátio,
escorre do material em dias de chuva e, conforme o material for sendo revira-
seja recolhido em uma caixa, para uso do, ocorra o transporte para outro pon-
como fertilizante. to, na saída do pátio.
O formato mais recomendado da A compostagem é um processo mi-
leira é onde um prisma deitado (ses- crobiano aeróbio (feito pelos microrga-
são triangular), com altura mínima de 1 nismos que necessitam de ar). As leiras,
metro e máxima de 1,8 metro. A largura caso não sejam revolvidas periodica-
dependerá da altura da leira, mas, para mente, podem apresentar bolsões in-
esterco bovino, a largura da base deve- ternos em que falte oxigênio, tornando
rá ser aproximadamente o dobro da al- o processo de compostagem mais lento
tura, ou um pouco mais. Alturas maio- e produzindo mau cheiro. Para evitar
res de 1,8 m poderão ser empregadas, esse problema, as leiras devem ser pe-
desde que o tempo entre um revolvi- riodicamente revolvidas. Um prazo re-
mento e outro seja diminuído ou sejam comendado de revolvimento é:
empregados sistemas de aeração força- • cada três dias na primeira quinzena;
da. Leiras de compostagem muito bai- • cada sete dias nos próximos 28 dias, e;
xas ou com volumes muito pequenos • cada catorze dias no restante do pro-
não aquecerão bem, comprometendo cesso.
a compostagem, bem como perderão Para o revolvimento, necessariamen-
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te a leira deverá mudar de posição. Esse procedi- ser evitadas, pois podem matar os próprios micror-
mento garante que todo o material foi aerado. Em ganismos que processam o material. Com o passar
geral, compostagens conduzidas corretamente le- dos dias, a temperatura cai lentamente, e, ao final da
vam em torno de 90 dias para completar sua fase compostagem, a leira esfria, passando para a tem-
termofílica (quando a temperatura no interior é peratura ambiente, entrando no seu estado de ma-
alta e ocorrem as maiores transformações do ma- turação. Neste ponto, o material já está compostado
terial). O processo de revirar faz com que o mate- e pode ser depositado no solo. Uma forma simples
rial torne-se também mais homogêneo. de avaliar a temperatura é perfurar a leira com uma
barra de ferro, até que esta penetre 60 cm ou mais,
Como saber se o processo de compostagem está e deixá-la ali por cinco minutos. Ao retirar-se a bar-
indo bem ra, no toque, deverá ser observado que a barra está
A temperatura é o parâmetro mais importante quente, mas não ao ponto de queimar a mão. Se es-
para ser acompanhado. Leiras bem aeradas apre- tiver muito quente, é hora de revolver a leira.
sentam em seu interior (50 cm de profundidade ou A umidade é outro parâmetro importante. O
mais) temperaturas variando entre 50 e 60 graus, material não pode estar encharcado com água,
podendo alcançar até maiores, caso exista uma mas também não pode estar muito seco. Umida-
grande quantidade de nutrientes para os microrga- de em torno de 60% é a ideal. Uma forma de se
nismos. Essa temperatura, após vários dias, é capaz determinar a umidade é por meio da secagem de
de eliminar microrganismos transmissores de doen- algumas amostras do material (500 gramas cada)
ças e também inviabilizar a maioria das sementes em estufa, espalhada em bandeja, a 110°C por 24
de plantas que, porventura, possam estar incorpo- h, e determinar a massa perdida (água), compa-
radas ao material (inclusive as chamadas “plantas rando-a com a massa inicial colocada na estufa. O
daninhas”). Temperaturas acima de 65°C devem cálculo é feito da seguinte forma:
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resoluções Conama 357 e 430 (CONAMA,2005 mos ter em mente a filosofia dos “3 Rs”: Reduzir,
e 2011). O biogás é um combustível que deve Reutilizar e Reciclar. Alguns procedimentos de
necessariamente ser queimado e pode ser uti- tratamento trazem retorno econômico, mas, ge-
lizado para o aquecimento de granjas, uso do- ralmente, armazenamento e/ou tratamento de
méstico como gás de cozinha, ou alimentando resíduos implica em custos. Portanto, pense nisto:
motogeradores e gerando eletricidade. É melhor tratar e/ou reciclar de maneira segura
A Embrapa Suínos e Aves (www.embrapa.br/ um resíduo do que contaminar o meio ambiente,
suinos-e-aves) possui uma série de publicações mas é muito melhor, sempre que possível, não ge-
a respeito do uso de biodigestores anaeróbios, rar resíduo algum!
que vão desde como dimensionar um biodiges- Avalie sua propriedade e veja o que pode ser
tor até o uso do biogás e do biofertilizante. Se feito para diminuir a quantidade de resíduo ge-
você tem interesse no tema, vale a pena olhar. rada. Converse com os colaboradores. Gestão
de resíduos, entre outras facetas da gestão am-
Considerações finais biental, é uma obrigação de todos, desde o mais
Quando falamos de resíduos, sempre deve- simples dos empregados até o proprietário.
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Tonny José
Araújo da Silva
UFMT
Edna Maria
Bonfim da Silva
UFMT
Jackelinne
Valéria
Rodrigues de
Sousa
UFMT
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Essa lei define os agroquímicos e afins como dado pelo fabricante, que tem grafia própria e
produtos e componentes de processos físicos, é propriedade particular do registrante. O nome
químicos ou biológicos destinados ao uso nos comercial é registrado no Ministério da Agricul-
setores de produção, armazenamento e benefi- tura, para comercialização no país. Normalmen-
ciamento de produtos agrícolas, nas pastagens, te é identificado pelo símbolo® à direita e acima
na proteção de florestas nativas ou implanta- do nome.
das e de outros ecossistemas, bem como em
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja 2. Armazenamento
finalidade seja alterar a composição da flora e O armazenamento de agroquímicos, seus
da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa componentes e afins obedecerá à legislação vi-
de seres vivos considerados nocivos. Só pode- gente e às instruções fornecidas pelo fabrican-
rão ser produzidos, exportados, importados, te, inclusive especificações e procedimentos
comercializados e utilizados, se previamente a serem adotados no caso de acidentes, derra-
registrados em órgão federal, de acordo com mamento ou vazamento de produto e, ainda, às
as diretrizes e exigências dos órgãos federais normas municipais aplicáveis, inclusive quanto à
responsáveis pelos setores da saúde, do meio edificação e à localização.
ambiente e da agricultura. As regras para o armazenamento adequado
Para serem vendidos ou expostos à venda em desses agroquímicos são regidas de acordo com
todo o território nacional, os agroquímicos e afins normas, dentre elas local de armazenamento,
são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, re- critérios de construções, proteção contra incên-
digidos em português, que contenham, entre ou- dios e ficha de informação de segurança de pro-
tros, os seguintes dados: dutos, saúde e meio ambiente. Ou seja, normas
I - indicações para a identificação do produto que se aplicam a propriedades rurais, empresas
II - instruções para utilização e prestadoras de serviço, quando localizadas em
III - informações relativas aos perigos poten- área rural.
ciais, compreendidos: saúde do homem, animais No mesmo local de armazenamento de agroquí-
e meio ambiente micos e afins nas propriedades rurais será admitida
IV - recomendação para que o usuário leia o ró- a guarda de pulverizador costal e seus acessórios.
tulo antes de utilizar o produto. Devem ser consideradas também as legislações
Há leis quanto as responsabilidades admi- locais, inclusive de municípios, muitas vezes esta-
nistrativa, civil e penal pelos danos causados à belecem detalhes, especialmente quanto à locali-
saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando zação dos armazéns de produtos perigosos.
da produção, comercialização, utilização, trans-
porte e destinação de embalagens vazias de Localização
agroquímicos, seus componentes e afins. E o não O depósito (nome designado ao espaço físico
cumprimento das legislações vão de multas até para guardar, estocar, conter e manter agroquími-
reclusão. cos e afins em condições que garantam a saúde e
As normas usuais para a nomenclatura são: segurança do trabalhador, ambiental e dos produ-
• NOME QUÍMICO: expressão da fórmula estru- tos na propriedade rural) deve estar em local livre
tural. de inundações, separado de locais de estoque e/
• NOME COMUM: uso internacional, são neolo- ou manuseio de alimentos, medicamentos e insta-
gismos formados artificialmente, válidos quan- lações para animais e mantendo distância de mo-
do aprovados por entidades oficialmente cre- radias e cursos naturais de água.
denciadas.
CRITÉRIOS PARA CRIAÇÃO DO NOME COMUM: Requisitos para construção do depósito de agro-
fácil pronúncia em qualquer língua. Não se asse- químicos na propriedade rural
melhar a palavras em qualquer língua. Não confli- • Ser exclusivo para produtos agroquímicos e
tar com marcas em qualquer país. Desejável algu- afins;
ma relação com o nome químico. • Ter altura que possibilite ventilação e ilumina-
NOME COMERCIAL OU DE FANTASIA: nome ção;
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Ficha de informações de
segurança de produto químico
Nome do Produto
1. Identificação do produto da empresa
2. Composição e informações sobre os ingredientes
3. Identificação de perigos
4. Medidas de primeiro socorros
5. Medidas de prevenção e combate a incêndio
6. Medidas de controle para derramamento ou vazamento
7. Manuseio e armazenamento
8. Controle de exposição e proteção individual
9. Propriedades físico-químicas
10. Estabilidade e reatividade
11. Informações toxicológicas
12. Informações ecológicas
13. Considerações sobre tratamento e disposição
14. Informações sobre transporte
15. Regulamentações
16. Outras informações
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nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, ta-se de ato privativo do Indea/MT, que permite
contado da data de compra, ou prazo superior, comercializar, transportar, armazenar, e utilizar um
se autorizado pelo órgão registrante, podendo a agroquímico e afins no Estado de Mato Grosso.
devolução ser intermediada por postos ou centros Curiosidade: o Brasil é recordista mundial no re-
de recolhimento, desde que autorizados e fiscali- colhimento de embalagens de agroquímicos. Nos
zados pelo órgão competente. Quando o produto últimos dez anos, o porcentual de embalagens
não for fabricado no país, assumirá a responsabi- plásticas colocadas no mercado que foram reco-
lidade a pessoa física ou jurídica responsável pela lhidas pela indústria após o uso do produto nas
importação. lavouras atingiu 95%. Em segundo lugar vem a
No Estado de Mato Grosso, compete às secre- França, com 77%, seguida pelo Canadá, com 73%.
tarias de Estado de Desenvolvimento Rural e Agri- A lei nº 9.974, de 2000 traz que, as embalagens
cultura Familiar de Meio Ambiente e de Saúde, no rígidas que contiverem formulações miscíveis ou
âmbito de suas respectivas áreas de competência, dispersíveis em água deverão ser submetidas pelo
a fiscalização do cumprimento da legislação esta- usuário à operação de tríplice lavagem, ou tec-
dual referente a agroquímicos, resíduos, seus com- nologia equivalente, conforme normas técnicas
ponentes e afins e do que é outorgado pela legis- oriundas dos órgãos competentes e orientação
lação federal vigente, de acordo com a lei estadual constante de seus rótulos e bulas. As empresas
nº 8858/06. produtoras de equipamentos para pulverização
A coordenação e a execução das atividades re- deverão, no prazo de 180 dias da publicação desta
lativas ao uso, à produção, ao consumo, ao comér- Lei, inserir nos novos equipamentos adaptações
cio, ao armazenamento, ao transporte, à aplicação, destinadas a facilitar as operações de tríplice lava-
à fiscalização e ao destino final das embalagens de gem ou tecnologia equivalente.
agroquímicos, afins e resíduos, no território do Es-
tado de Mato Grosso, previstas nesta lei, terão o 4.1. Descarte de embalagens
apoio da Secretaria de Estado de Fazenda, das po- As empresas produtoras e comercializadoras
lícias Militar, Rodoviária e Civil do Estado de Mato de agroquímicos, seus componentes e afins são
Grosso e das polícias Federal e Rodoviária Federal, responsáveis pela destinação das embalagens va-
através de convênio e/ou termo de cooperação zias dos produtos por elas fabricados e comerciali-
técnica. O cadastro de agroquímicos e afins tra- zados, após a devolução pelos usuários, e também
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dos produtos apreendidos pela ação abrange todas as regiões do país e tem
fiscalizatória e dos impróprios para uti- como base o conceito de responsabili-
lização ou em desuso, com vistas a sua dade compartilhada entre agricultores,
reutilização, reciclagem ou inutilização, indústria, canais de distribuição e poder
obedecidas as normas e instruções dos público.
órgãos registrantes e sanitário-ambien- Os postos de entrega em Mato Gros-
tais competentes. so também são de responsabilidade do
Sendo assim, o agricultor deve pre- inpEV, que organizou uma rede com-
parar as embalagens vazias para devol- posta por mais de 400 unidades de rece-
vê-las nas unidades de recebimento, bimento de embalagens, em 25 estados
considerando que cada tipo de embala- brasileiros e no Distrito Federal, geren-
gem deve receber tratamento diferente. ciadas por cerca de 260 associações de
Existem dois tipos de embalagens: lavá- revendedores.
veis e não laváveis. Logo após seu uso, A indústria fabricante recolhe as
elas devem ser preparadas para a devo- embalagens nos postos. Se estiverem
lução de acordo com o seu tipo. limpas, depois da lavagem, elas são
O descarte de resíduos e de embala- encaminhadas para reciclagem. Se não
gens vazias de agroquímicos deve ser estiverem limpas, são enviadas para
realizado seguindo o disposto na legis- incineradores credenciados. As emba-
lação. Se feito de forma indevida, pode lagens não laváveis —cerca de 5% do
resultar em sérios danos ao homem, total —também são incineradas.
aos animais e ao ambiente. Os resíduos Nota: Informações do inpEV mostram
incluem restos de agroquímicos, emba- que, desde 2000, o Brasil recolheu 260
lagens vazias e produtos contaminados mil toneladas de embalagens. Nos seis
com os agroquímicos. As embalagens primeiros meses de 2013, o sistema to-
vazias devem ser encaminhadas à cen- talizou o recolhimento de mais de 21,3
tral de recebimento da região. A tríplice mil toneladas de embalagens vazias.
lavagem dos equipamentos e embala- A maioria das embalagens é recicla-
gens é um procedimento que deve ser da e torna-se novos produtos, como tu-
seguido antes do envio da embalagem bos para construção civil, bateria de car-
ao seu destino. O mesmo procedimen- ros ou voltar a ser outra embalagem de
to deve ser efetuado para a limpeza dos agroquímico. O principal motivo para
equipamentos usados na aplicação de dar destinação final correta às embala-
agroquímicos. gens vazias agroquímicos é diminuir o
As embalagens vazias devem ser risco à saúde das pessoas e de conta-
devolvidas com suas tampas e rótulos. minação do meio ambiente. Apesar de
Quando o agricultor reunir uma quan- existirem embalagens laváveis e não
tidade que justifique o transporte, ele laváveis, a maioria é lavável, prática de
tem o prazo de um ano depois da com- suma importância para devolução e
pra para devolver as embalagens vazias. destinação final correta.
Se sobrar produto na embalagem, po-
derá devolvê-la até 6 meses após o ven- 4.2. Embalagens não laváveis
cimento. São todas as embalagens flexíveis
O sucesso do Brasil ganhou destaque que não utilizam água como veículo de
mundial após a criação do sistema cam- pulverização e as embalagens rígidas.
po limpo. O programa é gerenciado pelo Incluem-se nesta definição as embala-
Instituto Nacional de Processamento de gens secundárias não contaminadas rí-
Embalagens Vazias (inpEV), que reali- gidas ou flexíveis:
za a logística reversa das embalagens • Sacos plásticos, de papel, metalizados,
de agroquímicos no Brasil. O sistema mistos ou de outro material flexível;
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a) Tríplice lavagem
Para a tríplice lavagem das embalagens de
agroquímicos, deve-se adotar o seguinte procedi-
mento:
• esvaziar a embalagem completamente, deixan-
Embalagens flexíveis do o líquido escorrer no tanque do pulverizador;
• adicionar água limpa até 25% da capacidade da
embalagem;
• fechar e agitar a embalagem por 30 segundos;
• verter a água da embalagem no tanque do pul-
verizador;
• repetir o procedimento pelo menos mais duas
vezes; e
• perfurar a embalagem para garantir que ela
não será reutilizada para outros fins.
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caixa coletora por tubulação para o reservatório evaporação da água de lavagem das aeronaves
de decantação, passando pela caixa de inspeção; e agrícolas deverá ser:
c) a tubulação para o reservatório de decanta- a) devidamente impermeabilizado com gel-
ção deve dispor de sistema de derivação da água membrana, polietileno de alta densidade (Pead)
das chuvas. de um milímetro de espessura, cercado, sinali-
V - o reservatório de decantação para recep- zado e situado preferencialmente em local com
ção da água de lavagem proveniente da canaleta distância mínima de 250 metros de mananciais
ou da caixa coletora deverá ser construído com hídricos, e distantes de árvores para facilitar a so-
dois tubos de concreto armado, com diâmetro larização, gerando um aumento da degradação
de um metro e profundidade de dois metros, via fotólise do material que tenha ficado retido
sendo que a base do poço será fechada com ca- no fundo do tanque;
mada de concreto armado com espessura de 10 b) aberto ou com cobertura, e deverá possuir as
centímetros e o cimento utilizado deverá ser pa- dimensões, em função do número de aeronaves.
drão Fck 25 Mpa ou superior, na proporção de X - na escolha de tipo coberto, cuja função é
450 kg de cimento por metro cúbico de concre- evitar o acúmulo de água das chuvas, a estrutura
to, perfeitamente alisado e recoberto com man- do telhado será com pé-direito de um metro e a
ta impermeabilizante e deve ser fechado com cobertura terá sua parte externa pintada da cor
tampa de concreto; preta, com objetivo de aumentar as temperaturas
VI - o sistema de oxidação de agroquímicos da internas do tanque e do efluente ali retido, poten-
água de lavagem das aeronaves agrícolas deverá cializando sua evaporação;
conter: XI - fica vedada a utilização de telhas de amianto;
a) sistema de bombeamento para a retirada da XII - ao redor do reservatório de retenção, deve-
água de lavagem das aeronaves do reservatório rá ser construída uma proteção para evitar entrada
de decantação e envio desta ao reservatório de de água por escorrimento superficial; e
oxidação; XIII - o sistema de segurança do reservatório de
b) ozonizador com capacidade mínima de pro- retenção e evaporação deverá conter obrigatoria-
duzir um grama de ozônio por hora; mente placas indicativas, em locais visíveis, com
c) reservatório para oxidação que deverá ter ca- o símbolo internacional que represente produtos
pacidade mínima de 500 litros, ser em policloreto tóxicos e perigo.
de vinila (PVC), para que não ocorra reação com o Qualquer alteração na construção do pátio de
ozônio, ser redonda, para facilitar a circulação da descontaminação e no seu sistema de desconta-
água de lavagem, com tampa para evitar contato minação das aeronaves deverá ser previamente
com a água de lavagem; e aprovada pelo Mapa.
d) as canalizações, que deverão ser em tubo Parágrafo único. A alteração prevista no caput
PVC, para que não ocorra reação com o ozônio, e só será aprovada mediante a apresentação de
com diâmetro de 50 milímetros. projeto específico com as devidas anotações de
VII - o ozonizador previsto na alínea b, do in- responsabilidades técnicas (Lei nº 9974/2000).
ciso anterior, deverá funcionar por um período
mínimo de seis horas, para cada carga de 450 5. Risco e classificação toxicológica
litros de restos e sobras de agroquímicos rema- Risco: é a probabilidade de um evento nocivo
nescentes da lavagem e limpeza das aeronaves e ocorrer por conta da exposição a um agente quími-
equipamentos; co. Dependendo das condições de exposição, ou da
VIII - dentro do reservatório de oxidação, deverá dose, toda substância tem potencial de ser tóxica.
ser instalada a saída do ozonizador, na sua parte Durante o uso de produtos fitossanitários, a
inferior, para favorecer a circulação total e perma- exposição deve ser evitada, pois o risco potencial
nente da água de lavagem e com dreno de saída à saúde não depende apenas da toxicidade, mas
na parte superior do reservatório de oxidação; também da exposição. Quanto menor a exposi-
IX - o reservatório de retenção, solarização e de ção, menor o risco.
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Tabela 1 Relação dos principais equipamentos com relação à situação de uso dos agroquímicos
Aplicação Aplicação
Operações Manuseio/Dosagem Aplicação Manual
Tratorizada Áerea
Abastecimento de aeronaves
Pó Molhável/Grânulos WG
Embalagem hidro-solúvel
Variação dos armazéns
Termo-nebulização
Sementes tratadas
Costal motorizado
Granulado de solo
Isca granulada
Granuladeira
Mangueira
Granulado
Sementes
Pó Seco
Líquido
Líquido
Costal
Turbo
Capacete
Boné Árabe
Protetor de ouvido
Viseira facial
Respirador
Calça Hidro-repelente
Jaleco Hidro-repelente
Avental impermeável
Botas impermeáveis
Luvas impermeáveis
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dem também proporcionar a redução de custos teriais que podem ser utilizados com qualquer
ao empregador. tipo de formulação.
Para a Justiça do Trabalho, o fato de comprovar
que o empregado recebeu o equipamento (por Respiradores: geral-
meio de ficha de entrega de EPI), por exemplo, mente chamados de
não exime o empregador do pagamento de uma máscaras, os respira-
eventual indenização, pois a norma estabelece dores têm o objetivo
que o empregador deva garantir o seu uso, o que de evitar a inalação
se faz por fiscalização e medidas obrigatórias, se de vapores orgânicos,
for o caso. névoas ou finas par-
Os tipos de EPI utilizados podem variar depen- tículas tóxicas pelas
dendo do tipo de atividade ou de riscos que poderão vias respiratórias. Exis-
ameaçar a segurança e a saúde do trabalhador e da tem basicamente dois
parte do corpo que se pretende proteger, tais como: tipos de respirado-
• Proteção auditiva: abafadores de ruídos ou pro- res: sem manutenção
tetores auriculares; (chamados de descar-
• Proteção respiratória: máscaras com filtro para táveis), que possuem
vapores orgânicos e gases ácidos, combinado vida útil relativamen-
com filtro mecânico; te curta e recebem a
• Proteção visual e facial: óculos e viseiras; sigla PFF (peça facial
• Proteção da cabeça: capacetes; filtrante), e os de baixa
• Proteção de mãos e braços: luvas e mangotes; manutenção, que pos-
• Proteção de pernas e pés: sapatos, botas e bo- suem filtros especiais
tinas, e; para reposição, normalmente mais duráveis. Os
• Proteção contra quedas: cintos de segurança e respiradores mais utilizados nas aplicações de
cinturões. produtos fitossanitários são os que possuem fil-
tros P1 ou P2; para mais informações, consulte
No caso do uso de agroquímicos, os seguintes o fabricante. Quando se manuseiam produtos
EPIs devem ser utilizados: que emitem vapores orgânicos ou cheiro forte,
recomenda-se o uso de respiradores com filtro
Luvas: é um equipa- de carvão ativado.
mento de proteção Os respiradores são equipamentos importan-
muito importante, tes, mas que podem ser dispensados em algumas
pois protege uma das situações, quando não há presença de névoas, va-
partes do corpo com pores ou partículas no ar, por exemplo:
maior risco de exposi- a) aplicação tratorizada de produtos granula-
ção: as mãos. Existem dos incorporados ao solo;
vários tipos de luvas b) pulverização com tratores equipados com
no mercado, e a esco- cabines, etc.
lha deve levar em conta o tipo de formulação do Os respiradores devem estar sempre limpos, hi-
produto a ser manuseado. Produtos que contêm gienizados e seus filtros jamais devem estar satu-
solventes orgânicos como, por exemplo, os con- rados (difícil respiração ou passando cheiro). Antes
centrados emulsionáveis, devem ser manipula- do uso de qualquer tipo de respirador, é necessá-
dos com luvas de borracha nitrílica ou neoprene, rio realizar o teste de ajuste de vedação para evitar
pois estes materiais são mais resistentes aos sol- a falha na selagem. Quando estiverem saturados,
ventes orgânicos. Luvas de látex ou de PVC po- os filtros devem ser substituídos. É importante
dem ser usadas para produtos sólidos ou formu- notar que, se utilizados de forma inadequada, os
lações que não contenham solventes orgânicos. respiradores tornam-se desconfortáveis e podem
De modo geral, recomenda-se a aquisição das transformar-se numa verdadeira fonte de conta-
luvas de borracha NITRÍLICA ou NEOPRENE, ma- minação.
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Botas: devem ser calçadas sobre meias de algo- Boné árabe: deve ser colocado na cabeça sobre a
dão, de cano longo, para evitar atrito com pés, tor- viseira. O velcro do boné árabe deve ser ajustado
nozelos e canela. As bocas da calça do EPI devem sobre a viseira facial, assegurando que toda a face
sempre estar para fora do cano das botas, a fim de esteja protegida, assim como o pescoço e a cabeça.
impedir o escorrimento do produto tóxico para o
interior do calçado. Luvas: último equipamento a ser vestido, deve
ser usado de forma a evitar o contato do produto
Avental: deve ser utilizado na parte da frente do com as mãos. As luvas devem ser colocadas nor-
jaleco durante o preparo da calda e na parte de malmente para dentro das mangas do jaleco. Mas
traz do jaleco durante as aplicações com equipa- existe uma exceção, quando o trabalhador pulve-
mento costal. Para aplicações com equipamento riza dirigindo o jato para alvos que estão acima da
costal, é fundamental que o pulverizador esteja linha de seu ombro (para o alto), as luvas devem
funcionando bem, sem apresentar vazamentos. ser usadas para fora das mangas do jaleco. O obje-
tivo é evitar que o produto aplicado escorra para
Respirador: deve ser colocado de modo que os dois dentro das luvas e atinja as mãos.
elásticos fiquem fixados corretamente e sem do-
bras; um fixado na parte superior da cabeça, e outro,
na parte inferior, na altura do pescoço. O respirador
deve encaixar-se perfeitamente na face do trabalha-
dor, não permitindo abertura alguma para a entrada
de partículas ou vapores. Para usar o respirador, o
trabalhador deve estar sempre bem barbeado.
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patients in north Jordan. j. Toxicol Clin. Toxicol. San Francisco. 34:45-51. 1996.
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• No ano de 2008, foi criado o Programa Mato- gularização Ambiental (PRA), por meio de nor-
-grossense de Regularização Ambiental Rural mas de caráter específico iminentes ao Estado.
-MT, através da Lei Complementar nº 343, de • Em 6 de maio de 2016 - Término do prazo para
24 de dezembro de 2008. O licenciamento am- realizar o CAR dos imóveis rurais no território
biental rural no Estado de Mato Grosso passou brasileiro, sem prorrogações previstas.
a ser disciplinado pelo Cadastro Ambiental Importante: segundo o Novo Código Florestal,
Rural (CAR) como instrumento prévio e obri- a partir de 2017, o produtor que não fizer o CAR de
gatório por meio eletrônico para fins controle sua propriedade ficará impedido de ter acesso a
e monitoramento e pela LAU, no qual o pro- crédito rural pelas instituições financeiras do país.
prietário ou possuidor deveria providenciar a
localização e regularização da reserva legal e 3.1. O que mudou
o licenciamento de atividades realizadas em O CAR passou a ser o registro de todas as fei-
imóveis rurais; ções atuais de um imóvel rural, contendo informa-
• Em 2012 ocorre um marco na história do Bra- ções que antes não eram analisadas pelo Estado
sil, com a publicação do Novo Código Florestal nesta fase —como a delimitação de área de uso
Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), que traz pela restrito, áreas consolidadas, e principalmente a
primeira vez o Cadastro Ambiental Rural (CAR) análise de reserva legal —realizada anteriormen-
como instrumento federal obrigatório para to- te na fase LAU, além de ser necessário informar as
dos os imóveis rurais do país com a finalidade áreas remanescentes de vegetação nativa e pou-
de integrar informações ambientais das pro- sio. Já a LAU não tem mais o objetivo de realizar
priedades e posses rurais, compondo base de a regularização ambiental da propriedade e, sim,
dados de controle, monitoramento, planeja- apenas licenciar as atividades agrossilvipastoris
mento ambiental e econômico e combate ao exercidas no imóvel.
desmatamento; A Portaria nº 441, de 23 de setembro de 2014,
• Em 2014, através da Normativa nº 2/MMA, de 6 que dispõe sobre a inscrição no CAR no Estado
de Maio de 2014, são regulamentados os proce- de Mato Grosso e a implantação do Sicar, tam-
dimentos para integração, execução e compa- bém direciona as novas ações quanto à Licen-
tibilização do Sistema de Cadastro Ambiental ça Ambiental Única (processos em andamento
Rural (Sicar) e os procedimentos gerais do Ca- e novas solicitações) para fins de licenciamento
dastro Ambiental Rural (CAR) em nível federal; de atividades agrossilvipastoris, que deverão ser
• Devido à publicação do Novo Código Flores- formalizadas na Superintendência de Infraes-
tal, o Estado precisou adequar-se à legislação trutura, Mineração, Indústria e Serviços (Suimis/
federal, aderindo ao Sicar. Neste novo contex- Sema).
to, em 2014, foi regulamentada a implantação Ao aderir ao Sicar Federal, os proprietários ou
do Sicar e a Inscrição no Cadastro Ambiental possuidores rurais garantem o direito à adesão
Rural no Estado de Mato Grosso, através da ao Programa de Regularização Ambiental (PRA).
Portaria nº 441, de 23 de setembro de 2014. O PRA é um dos instrumentos criados pelo Novo
Com a integralização de informações am- Código Florestal que tem por objetivo promover a
bientais do imóvel rural no novo CAR, a LAU regularização ambiental das propriedades e pos-
deixou de ter fins de regularização ambiental ses rurais que apresentam passivos decorrentes
(delimitação de reserva legal, por exemplo), de qualquer irregularidade relativa à manutenção
tendo como objetivo o licenciamento das obrigatória das áreas de preservação permanente
atividades agropecuárias desenvolvidas no e reservas legais.
imóvel rural—a ser regulamentada diante dos O Estado de Mato Grosso está em processo de
novos parâmetros; adesão aos novos instrumentos legais trazidos
• Em 6 de maio de 2015 - prorrogação prevista pela atualização do Código Florestal, desta forma,
em lei por mais um ano para realização do CAR tanto o PRA quanto o Licenciamento das Ativida-
federal; des Agropecuárias encontram-se atualmente em
• Em 2015 e 2016, o Estado de Mato Grosso está processo de elaboração e terão normas regula-
incumbido de estabelecer o Programa de Re- mentadas em breve.
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DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
CAR
Figura 1. Os
três passos para
a adequação
ambiental do
imóvel rural
Licenciamento Único de PRA - Programa de
Atividades Agrossilvipastoris Regularização Ambiental
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dastro depende das características e da situação Pendente: cadastros que contiverem declara-
ambiental, bem como titularidade e área do imó- ção incorreta, sobreposições do imóvel rural ou
vel. Apesar de exigir dados para comprovação da quando houver notificação de irregularidades
propriedade ou posse rural, a inscrição no CAR relativas às áreas declaradas, enquanto não fo-
não tem valor fundiário, não podendo ser cobrado rem cumpridas as notificações nos prazos deter-
por cartório para registrar escrituras de imóveis. minados.
Porém, a partir de 2017, as instituições financeiras Cancelado: quando constatado que as informa-
cobrarão o CAR como pré-requisito para conceder ções declaradas são total ou parcialmente falsas,
crédito aos produtores rurais. enganosas ou omissas; após o não cumprimento
O procedimento é gratuito (isento de taxas) dos prazos estabelecidos nas notificações; ou por
para o cadastro de todos os imóveis rurais. decisão judicial ou decisão administrativa do ór-
Conforme art. 8º do Decreto Federal nº gão competente, devidamente justificada. Caso
7.830/2012, podem requerer ajuda do Poder Pú- o cadastro por decisão administrativa ou judicial
blico para realização do cadastro: fique na situação “cancelado”, o interessado não
• Proprietários ou possuidores rurais com até poderá emitir o recibo (Sicar).
quatro módulos fiscais que desenvolvam ativi-
dades agrossilvipastoris; 5. Revendo Conceitos
• Povos e comunidades indígenas e tradicionais
que façam uso coletivo do seu território. 5.1. Área de Preservação Permanente (APP)
As áreas de preservação permanente (APPs) são
4.3. Prazo para Inscrição no CAR espaços protegidos por lei que visam à manuten-
O prazo para inscrição foi estabelecido em um ção dos recursos naturais, sendo consideradas ele-
ano contado a partir da publicação da IN nº 2/14, mento importante no escopo de ações que buscam
do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que ocor- o desenvolvimento sustentável com o objetivo de
reu no dia 5 de maio de 2014, sendo prorrogado proteger o solo, a biodiversidade e os recursos hí-
por igual período por ato do chefe do Poder Exe- dricos dos biomas Figura 2.
cutivo Federal. O recibo, documento emitido ao De acordo com o Código Florestal, entende-se
final do cadastro, poderá ser retificado antes ou por APP:
depois da análise, devendo ser atualizado caso o “Área protegida, coberta ou não por vegetação
imóvel seja desmembrado, ampliado ou vendido nativa, com a função ambiental de preservar os re-
ou quando houver alterações de uma ou mais in- cursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geoló-
formações declaradas, mantendo-o sempre atuali- gica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
zado. O cadastro não apresenta prazo de validade, fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-
porém está disponível em três status: -estar das populações humanas.”
Ativo: cadastro sem pendências - aqueles que,
após concluída a inscrição no CAR, estiverem cum- 5.1.1. Localização e tamanho das APPs
prindo as obrigações de atualização das informa- I - As faixas marginais de qualquer curso d’água
ções cadastradas e aqueles que estiverem em re- natural perene e intermitente, excluídos os efême-
gularidade das informações após análise do órgão ros, desde a borda da calha do leito regular, em lar-
competente. gura mínima, conforme a Tabela 1:
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DEBOAS PRÁTICAS
SANEAMENTO
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quer que seja a vegetação; posição de reserva legal variando de acordo com
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção a localização geográfica do imóvel rural e o bioma
horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) nele existente.
metros, a partir do espaço permanentemente bre- Imóvel localizado na Amazônia Legal:
joso e encharcado. • 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em
áreas de floresta;
Importante! • 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situa-
O novo Código Florestal Brasileiro traz o bene- do em área de cerrado;
fício da não obrigatoriedade de recuperação total • 20% (vinte por cento), no imóvel situado em
das APPs em áreas que já estavam desmatadas e área de campos gerais;
ou ocupadas por atividades agropecuárias, flores- Imóvel localizado nas demais regiões do país:
tais, de ecoturismo e de turismo rural até 22 de ju- • 20% (vinte por cento).
lho de 2008 —as chamadas áreas consolidadas—, Atualmente, a Amazônia Legal ocupa uma área
considerando a faixa mínima para recuperação de cerca de 60% do território brasileiro, corres-
das APPs que será diferente de acordo com o ta- pondente à totalidade dos estados do Acre, Pará,
manho em módulos fiscais da propriedade rural. Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins
e Mato Grosso, além de parte do Estado do Mara-
5.2. Reserva legal nhão (a oeste do meridiano de 44º de longitude
O Código Florestal Brasileiro define a reserva le- oeste), conforme a Figura 3.
gal como uma “área localizada no interior de uma Vale lembrar que é admitido o cômputo das
propriedade ou posse rural, com a função de asse- áreas de preservação permanente no cálculo do
gurar o uso econômico de modo sustentável dos re- percentual da reserva legal do imóvel, indepen-
cursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conserva- dentemente de seu tamanho, desde que o pro-
ção e a reabilitação desses mesmos recursos, auxiliar prietário ou possuidor tenha requerido a inclusão
a conservação e a reabilitação dos processos ecoló- no CAR e que o benefício não implique na conver-
gicos e promover a conservação da biodiversidade, são de novas áreas para uso alternativo do solo.
bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e Caso o imóvel tenha vegetação nativa que
da flora nativa”, ou seja, é uma parte do imóvel rural ultrapasse o mínimo exigido por lei para a com-
que deve ser preservada por abrigar uma parcela re- posição da reserva legal, a área excedente po-
presentativa do bioma da região onde está inserida, derá ser utilizada para constituição de servidão
importante para a conservação do meio ambiente e ambiental, cota de reserva ambiental, para com-
manutenção da biodiversidade. pensação de reserva legal de outros imóveis de
Todo imóvel deve manter um percentual míni- mesma titularidade ou de terceiros mediante ar-
mo com cobertura de vegetação nativa para com- rendamento.
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¹ Código único do imóvel rural no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). O SNCR é um instrumento fundamental
para a gestão da estrutura fundiária do país, dispondo de informações dos imóveis rurais do Brasil, assim como de seus
proprietários ou detentores e de todos aqueles que exploram a terra na forma de comodatário, parceiro ou arrendatário.
O SNCR é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e quando o imóvel rural é cadastrado no
sistema é gerado um número de 13 dígitos e emitido um certificado o “Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR)”. O
sistema pode ser acessado pelo link: http://ccirweb.serpro.gov.br/ccirweb/emissao/formEmissaoCCIRWeb.asp
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Observação: em
amarelo destacam-
se as APPs em área
consolidada, isentas
de recuperação,
conforme art.61 do
Código Florestal
(APPs em áreas
consolidadas), e, em
laranja, encontram-
se as faixas
mínimas de APPs
suprimidas além do
permitido, devendo
ser realizada a
regularização
ambiental
Figura 12. Módulo de cadastro - GEO: exemplo 1 de delimitação de feições de um imóvel rural
Figura 13. Módulo de cadastro - GEO: exemplo 2 de delimitação de feições de um imóvel rural realizada em tela expandida
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Figura 15. Módulo de cadastro - Gravar arquivo na extensão .CAR para envio pela plataforma on-line
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Figura 17 . Módulo de cadastro - Retificar um CAR existente que possui recibo emitido
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Observação: fonte das imagens utilizadas neste capítulo: print screen do módulo de cadastro e
plataforma on-line Sicar.
Referências bibliográficas
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 16ª ed. São Paulo: Sa-
raiva, 1997. 228 p.
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PRÁTICAS
1
Funcionamento hídrico - conjunto de processos de movimentação da água no solo (infiltração da água no
solo e escoamento superficial e subsuperficial da água)
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(Migliorini; Duarte; Barros Neta, 2007)
A erosão causada pela água de chuva (erosão 2. A erosão em áreas de ocupação agrícola
pluvial) inicia-se pelo impacto das gotas de água so- Grande parte da produção agrícola de Mato
bre o solo, quando este se encontra desprovido da Grosso provém de monoculturas em áreas produ-
cobertura vegetal (Figuras 2 e 3). Essa ação da chuva tivas situadas em extensas superfícies aplainadas
promove a desestruturação dos agregados, liberan- de relevos tabulares e de colinas amplas, em cha-
do partículas finas, que são removidas pelo escoa- padas pertencentes ao Planalto dos Guimarães,
mento das águas, em consequência das enxurradas. Planalto dos Parecis e outros. As condições de re-
Figura 2. Erosão laminar provocada pela ausência de Figura 3. Erosão laminar e em sulco provocadas pela
cobertura vegetal ausência de cobertura vegetal
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PRÁTICAS
2
Cabeceira de drenagem - refere-se a uma área, geralmente côncava, de captação de águas, a montante da
nascente de uma drenagem (curso d’água).
3
Ravina - A erosão em sulco e em ravina ocorre exclusivamente por conta do escoamento superficial
concentrado das águas sobre o terreno, formando incisões facilmente visíveis em campo, diferenciando-se
simplesmente pela dimensão em profundidade dessas incisões: erosão em sulcos, quando em pequenas
incisões (máximo de 50 cm); erosão em ravinas, quando superiores a 50 cm de profundidade.
4
Boçorocas - A erosão em boçoroca corresponde a um estágio mais avançado e complexo de erosão, cujo poder
destrutivo local é superior ao das outras formas, e, portanto, de mais difícil contenção. Na boçoroca atua, além
da erosão causada pelo escoamento superficial das águas, a erosão interna do solo causada pelo escoamento
subsuperficial das águas que infiltram no terreno e/ou pelo escoamento do lençol freático.
5
“piping” - tubo subterrâneo provocado pelo transporte de partículas pela água. Está sempre associado à
erosão em boçoroca.
6
Essa lei sofreu diversas alterações pelas leis complementares nos 259/06, 282/07, 328/08, 382/10, 384/10,
402/10, 409/10, 412/10, 481/12, 521/13, 523/13.
7
Essa lei sofreu diversas alterações pelas leis complementares nos 245/06, 251/06, 252/06, 308/08, 309/08,
311/08, 312/08, 333/08, 355/09, 412/10, 523/13, 567/15.
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2.3. Erosão em neossolos quartzarênicos (areias será discutido neste item refere-se a agroquímicos.
quartzosas) Entretanto, outros componentes da formulação
Neossolos quartzarênicos (ou areias quartzo- dos agroquímicos, bem como os componentes
sas, segundo a antiga Classificação Brasileira de dos fertilizantes, tais como metais pesados, podem
Solos) são solos muito erodíveis, cujos processos sofrer os mesmos processos.
erosivos se desenvolvem a partir de pequenas con- Uma vez usados na agricultura, os agroquími-
centrações das águas de escoamento superficial. cos passam por diversos processos que podem
Esse solo é essencialmente arenoso, praticamente levar a sua completa degradação ou a sua distri-
sem coesão entre as partículas e com baixíssima buição nos vários compartimentos ambientais. O
estabilidade de agregados, impondo altas taxas conjunto destes processos denomina-se dinâmica
de erosão mesmo em pequenos escoamentos das ambiental.
águas de chuva. Áreas de ocorrência desses solos
devem permanecer protegidas por cobertura ve- 3.1. Origem da contaminação do ambiente aquá-
getal durante o período de chuvas, não sendo ap- tico
tas a culturas anuais, mas a pastagens, desde que Agroquímicos (agrotóxicos, fertilizantes) podem
as vertentes não sejam muito declivosas. Essas entrar no ambiente aquático por diversos caminhos,
áreas ocorrem em grandes extensões das chapa- sendo que as fontes principais são provavelmente o
das, associadas a latossolos de textura média, exi- uso na agropecuária, esgoto industrial e municipal
gindo controle rigoroso de campo. e o controle de ervas aquáticas e insetos. Enquan-
to esgoto e controle de ervas aquáticas envolvem
3. Dinâmica ambiental de agroquímicos aplicação direta no meio aquático, os agroquímicos
Entende-se por agroquímico toda substância usados na agropecuária geralmente seguem rotas
química utilizada na agricultura, seja para controle indiretas.
fitossanitário, seja para adubação. O termo agrotó- A Figura 7 ilustra as rotas dos agroquímicos no
xico é utilizado considerando a definição apresen- meio ambiente por aplicação direta ou por mobili-
tada na Lei nº 7.802, de 1979. Grande parte do que zação a partir de seu uso na agropecuária.
131
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PRÁTICAS
8
Adsorção - processo de acúmulo de uma substância em uma superfície sólida, neste caso, do agroquímico
nas partículas do solo.
9
Volatilização - mudança da fase sólida ou líquida para a fase gasosa.
10
Lixiviação - processo de movimentação vertical do agroquímico ao longo do perfil do solo, pela ação da
infiltração da água.
11
Carreamento superficial - movimentação superficial do agroquímico adsorvido às partículas do solo ou
dissolvido em água, nas águas de enxurradas.
12
Decomposição - degradação da substância pela ação de agentes biológicos ou de processos químicos,
resultando em outras substâncias com propriedades físicas e químicas diferentes.
13
Zona não saturada ou zona de aeração - nesta zona, os vazios (poros) do solo estão preenchidos com água e
ar, enquanto na zona saturada estes vazios estão completamente preenchidos com água.
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Figura 7. Vias de entrada dos agroquímicos no ambiente terrestre, atmosférico e aquático e mobilização a partir do solo
14
Pressão de vapor - É a pressão em que o vapor de uma substância está em equilíbrio com sua fase líquida, numa dada temperatura,
em um sistema fechado. Mede a volatilidade de uma substância. Quanto maior a pressão de vapor, maior a volatilidade, ou seja, maior a
tendência de passar para a fase gasosa.
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Fotólise - quebra da molécula de uma substância pela ação da luz solar.
16
Dessorção - processo inverso da adsorção, em que a substância adsorvida se separa da partícula sólida,
ficando dissolvida na água presente no solo.
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Hidrossolubilidade - solubilidade em água.
18
Lipossolubilidade - solubilidade em solventes orgânicos.
19
Hidrólise - quebra da molécula pela ação da água.
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Meia-vida - tempo necessário para que a concentração inicial de um agroquímico no solo seja reduzida à
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metade.
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volatilização ar
absorção ou ingestão
degradação degradação
hidrólise biológica hidrólise biológica
biota absorção ou precipitação
ingestão
morte ou
excreção
difusão
adsorção sedimento
agroquímico dissolvido agroquímico associado
dessorção
• lixiviação das moléculas ao longo do perfil do superficial, é necessária a adoção de práticas ade-
solo até atingir o lençol freático ou águas sub- quadas de conservação de solo voltadas à preven-
superficiais; ção de processos erosivos, tais como:
• precipitação de moléculas volatilizadas pela • implantar sistemas de terraceamento, a semea-
água de chuva e precipitação seca de material dura em nível e manutenção de faixa de cultura
particulado carreado pelo vento; e de contenção e de mata ciliar;
• deriva durante a pulverização dos agroquímicos. • não cultivar em áreas de ocorrência de solos
A magnitude desses processos depende dos muito erodíveis e/ou mal drenados, especial-
seguintes fatores: mente quando estes ocorrerem nas porções
• características do ambiente (meio físico e cli- mais inferiores das vertentes. Dentre os solos
ma) onde o produto é aplicado; muito erodíveis que ocorrem com frequência
• sistema de cultivo empregado; e nas áreas de cultivo de algodão em Mato Gros-
• frequência, dosagem, escolha de moléculas, tec- so, tem-se o neossolo quartzarênico.
nologia da aplicação dos agroquímicos e condi- Com relação aos solos mal drenados, tem-se
ções meteorológicas no momento da aplicação. os plintossolos, que ocorrem com frequência em
Dessa forma, as recomendações para reduzir o Mato Grosso nas porções inferiores das vertentes,
potencial de contaminação estão organizadas se- apresentando em subsuperfície camada pouco
paradamente, de maneira a minimizar a ocorrên- permeável que impede a infiltração das águas de
cia das vias de contaminação dos corpos hídricos chuva favorecendo o escoamento concentrado e,
interferindo nos fatores acima. consequentemente, aumenta a capacidade erosi-
Com relação à contaminação de cursos d’água, va desse tipo de solo, além de promover, durante
lagos e represas, o carreamento superficial (água e o período chuvoso a formação de lençol freático
sedimento carreado pela enxurrada) é o principal suspenso que se dirige aos fundos de vales, onde
mecanismo através do qual o agroquímico pode ocorrem nascentes e cursos d’água.
atingir esse ambiente. Para conter o carreamento Os solos mal drenados ocorrem também em
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ção tem se mostrado expressiva. Dados de simu- aplicada, principalmente se esta for formada por
lação e experimentais evidenciaram essa expressi- gotas finas;
vidade, exemplo do estudo com carbofuram, para • considerar, na escolha da ponta de pulveriza-
o qual se observou perda por lixiviação de 6% do ção, a necessidade de cobertura e penetração
total aplicado abaixo de 50 cm de solo. Conside- do produto na cultura, observando-se a ação do
rando uma profundidade de 0-10 cm de solo, foi produto aplicado e o posicionamento do alvo.
previsto por modelagem matemática que essa É importante entender que o produto que efe-
perda por lixiviação aumenta para 90% do total do tivamente controla a praga é aquele que atinge
ingrediente ativo aplicado (carbosulfam)21 . Esses o alvo. Portanto, quanto maior a quantidade de
resultados, além dos aspectos ambientais, têm im- produto que chegar ao alvo, mais eficaz e eco-
plicações nos custos de produção e, consequen- nômico será o tratamento fitossanitário e me-
temente, na viabilidade econômica da cultura de nor o risco de impacto ambiental causado pela
algodão. quantidade do produto que efetivamente não
Uma das alternativas para reduzir as perdas de atingiu seu objetivo.
agroquímicos por lixiviação tem sido o aumento • Obviamente, quanto mais frequentes forem
do teor de matéria orgânica no solo através do ma- as aplicações dos agroquímicos, e em maiores
nejo adequado. Porém, particularmente no caso dosagens, maior será o risco de contaminação
do carbofuram, as simulações mostraram que, por ambiental. Desse modo, visando a redução
conta da baixa adsorção desse agroquímico, essa desse risco, sugere-se:
medida não teria efeitos relevantes na restrição a - adotar o manejo integrado de pragas e doenças;
sua lixiviação, o que não ocorreria no caso de agro- - plantar cultivares de algodão mais tolerantes
químicos mais adsorvidos. Em vista disso, é acon- à viroses e doenças. A substituição gradual de
selhável a substituição do carbosulfam por outro cultivares tradicionalmente usadas pelas mais
ingrediente ativo. novas, desde que sejam mantidos os níveis de
A ocorrência de resíduos de agroquímicos em produtividade e de qualidade de fibra, deveria
água de chuva deve-se a dois processos: deriva do ser estimulada, no sentido da garantir a quali-
produto durante a aplicação, que pode precipitar dade ambiental e a sustentabilidade das ativi-
com a água da chuva, e volatilização dos produ- dades agrícolas algodoeiras.
tos a partir da camada superficial do solo ou da Com relação à escolha das moléculas a serem
superfície das plantas. As tecnologias de aplica- usadas nos controles de pragas, doenças e plan-
ção de agroquímicos têm evoluído rapidamente, tas daninhas, já existem no mercado agroquímicos
tornando-se mais eficientes e seguras. Na cultura menos danosos ao ambiente e à saúde humana.
do algodão, são realizadas aplicações de agroquí- No monitoramento realizado em áreas de cul-
micos em diferentes estádios de desenvolvimento tura de algodão, identificaram-se os agroquími-
da planta. Durante a aplicação, alguns cuidados cos com maior potencial de contaminação do
podem reduzir a deriva: ambiente aquático e detectados com maior fre-
• observar a boa calibração dos equipamentos quência e/ou maiores níveis em um ou mais com-
de pulverização, seguindo-se as especificações partimentos ambientais, aqui relacionados, em
adequadas a cada ponta de pulverização utili- ordem alfabética: aldicarb, carbofuram, clorpirifós,
zada durante o trabalho; diurom, endossulfam, metolacloro, monocrotofós,
• observar as condições climáticas no momento parationa metílica e teflubenzurom. O endossul-
da aplicação, não a realizando em temperaturas fam foi o produto detectado com maior frequên-
acima de 30°C, umidade relativa abaixo de 55% cia e maior concentração em águas superficiais.
e ventos (> 10 a 15 km/h), condições estas que Considerando-se sua elevada toxicidade para o
aumentam a possibilidade de deriva da calda ambiente aquático e a recente proibição do uso
21
O carbosulfam é rapidamente degradado a carbofuram no solo (meia-vida de dois dias), assim o ingrediente ativo
detectado nas análises foi o carbofuram.
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deste ingrediente ativo pela Anvisa (Re- acidentes e contaminação por vaza-
solução-RDC n. 28, de 9 de agosto de mentos de restos de produtos, além de
2010), recomenda-se: retirar da propriedade embalagens não
• substituir o endossulfam por outras degradáveis. Os produtores de qualquer
moléculas menos tóxicas e menos porte não devem reutilizar embalagens
persistentes, o que já deve estar sendo de agroquímicos em outras atividades,
feito por conta das restrições legais; devendo procurar locais que façam o
• evitar o uso dos ingredientes ativos recolhimento desses recipientes para o
acima relacionados, principalmente descarte seguro.
nas situações de solo e de manejo
que sejam potencialmente mais vul- 6. Considerações finais
neráveis à contaminação de águas Em resumo, os critérios de identifica-
superficiais e subterrâneas. ção de áreas mais sensíveis à contami-
É importante salientar que o monito- nação e erosão, bem como algumas me-
ramento acima mencionado foi desen- didas emergenciais para a redução de
volvido nos anos de 2002 e 2003 e que, riscos, estão apresentados na Tabela 1.
até o presente, diversas moléculas já Isto posto, fica evidente que há ne-
foram substituídas em função de neces- cessidade de detalhar o zoneamento
sidades de manejo. Assim, o produtor agroecológico com relação às áreas mais
deve utilizar também como referência a sensíveis, visando a proteção dos recur-
classificação de periculosidade ambien- sos hídricos e o ordenamento equilibra-
tal na escolha dos ingredientes ativos do da ocupação territorial, garantindo
a serem utilizados, considerando que, assim a sustentabilidade econômica e
caso haja alternativa, a preferência deve ecológica da atividade agrícola.
ser dada ao de menor periculosidade. Para finalizar, destaca-se que, além
Não se deve deixar de destacar a im- da preocupação com a produtividade
portância do programa de recolhimen- da cultura, o produtor deve, sempre
to de embalagens usadas vazias para a que haja informações suficientes para
redução da contaminação ambiental orientar suas escolhas, optar por um
por agroquímicos. Mato Grosso tem se sistema de manejo que lhe permita
destacado como um dos estados onde reduzir a aplicação dos agroquímicos,
tem sido recolhida maior porcentagem com especial destaque para aqueles
das embalagens usadas. A adesão a que apresentam maior toxicidade e pe-
esse programa é essencial para evitar riculosidade ambiental.
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Tabela 1. Critérios de identificação de áreas sensíveis à contaminação e erosão e algumas medidas emergenciais de redução de risco
Tipo de terreno Critérios de identificação Medidas emergenciais
Cabeceiras de Rupturas de declives Manutenção da vegetação nativa;
drenagens e fundos nítidas em seu contorno de Recuperação da mata de galeria;
de vales montante; Não plantar algodão em áreas de plintossolo e solos
Mudança de solos, presença hidromórficos;
de solos hidromórficos; Adoção de faixas de contenção a partir da ocorrência de
Lençol freático a pouca plintossolos;
profundidade ou aflorante; Não aplicar agroquímicos próximo de fundo dos vales e campos
Presença de campos úmidos.
úmidos, veredas e nascentes
de cursos d’água.
Áreas de neossolos Mudança textural para Manutenção da vegetação nativa em locais de declividade > 5%;
quartzarênicos frações mais arenosas; Manter e/ou recuperar as matas de galeria;
Considerar a declividade do Adotar faixas de contenção nos fundos de vale;
terreno; Adotar terraceamento e plantar em curvas de nível;
Identificação a partir de Manter a cobertura vegetal no período das chuvas;
rigoroso controle de campo. Não utilizar com culturas anuais;
Pastagens nativas quando ocorrer classe de declividade < 5%.
Isto posto, fica evidente que há necessidade de pação com a produtividade da cultura, o produtor
detalhar o zoneamento agroecológico com rela- deve, sempre que haja informações suficientes
ção às áreas mais sensíveis, visando a proteção dos para orientar suas escolhas, optar por um sistema
recursos hídricos e o ordenamento equilibrado da de manejo que lhe permita reduzir a aplicação dos
ocupação territorial, garantindo assim a sustentabi- agroquímicos, com especial destaque para aque-
lidade econômica e ecológica da atividade agrícola. les que apresentam maior toxicidade e periculosi-
Para finalizar, destaca-se que, além da preocu- dade ambiental.
Referências bibliográficas
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MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
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AMPA
AMPA
- IMAmt
- IMAmt
2015/2016
2012
143
MANUAL
MANUALDE
DEBOAS
SANEAMENTO
PRÁTICAS
Michele Strada
Possui graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT) (2012). Têm experiência como técnica de extensão junto à Empresa
Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), atuando em projetos
socioambientais e apoio técnico rural. Atualmente cursa MBA em Gestão Ambiental e
Sustentabilidade e atua na empresa Vértice Agrimensura e Planejamento como Projetista e
Consultora Ambiental, com ênfase em análise espacial de dados geográficos, variabilidade
espaço temporal do uso da terra, cadastramento e licenciamento ambiental de imóveis
rurais, atividades e serviços.
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