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DEDALUS - Acervo - FFLCHLE HEGRE ENN Conyiah by Liven Mating Fontes Bites ada * fet iri auto arr Leal Camporiae: stone Leds Siva ‘WkAhta MARTINS PONIES EDITORS LTDA ‘01328 — Sto Paulo — SP — Bra!’ ‘Capitulo 1 —Linguagem, Poder e Diseriminasio Introducto, 1. Una perspectiva.histries 2. Uma perspective linghistica 3. Gramsties normativa ¢ diseriminagao, Referénetas bibllogeificas. Capitulo 2 — Consideragies sobre o campo de festda da ever Introdusso. 1.A constituigto do campo de pesquisa da 11 As crengas sobre a eserita, LAs duvidas sobre a eserit, 1.2 Bscrtas alfabeticas © nao-lfabéticas U3. escrita eo estado da finguagem a 38 4 7 0 2. Algumas cantrbuigdes recentes. para 0 ‘campo de estude da escrta 0 : 2.1 Algumes posites teoricas, 2 22 Comiribuigdes de psicslogos eantropdiogos | 78 Referencias bibliograticas, 9s } arnesenricho Capitulo 3 — Da oralidade para a eserta:o pro- j senso de “redugio” da Linguages wo | No quadro deficitério e deformado da edu cacao brasileira, ¢ lugar-comum alarmar-se dia teda fragilidade do desempenho verbal — sobre tudo, escrito — do conjunto de seus protagonis. tas, ndo apenas discentes, Entretanto, raras ve 2es esse alarime evolu claramente para wma ava lingo eritica séria e abrangente dos problemas de diferentes ordens manifestados nessa area, Ge ralmente, ele tende a diluir-se nas formulas bem conhecidas do conformismo didatico de técnieas supostamente motivadoras e criativas. A evitar altitudes desse tipo, ¢ preciso atentar, pelo menos, pata uma exigéncia bisica: a adogao de um pon tode vista nao-convencional sobre a linguagem, sua natureza, seus modos de funcionamento, suas ‘ventuais finalidades, suas relagdes com a cultura ‘eas implicagdes complexas que ela mantém com a ideologia. F preciso partir de uma concepeao de Tinguagem que nao a confine a uma coletines | arbitraria de regras e excegaes, ¢, tampouco, & ‘um rigido bloco formalizad, imune as variagBes e diferencas existentes nas situagoes concretas ‘em que a linguagem se torna, de fato, um proces: so de signilicagao, Entretanto, especialmente nas discussoes que vém se travando a proposito de escritae al fabetizacio, bem como sobre suas decorrencias politicas, essa exigencia tem side negligenciada, Via de regra, as aparentes propostas tem-se for mulado sobre incontaveis chavoes que acultam uma espécie de preguiga mental ou, 0 que € mals, grave, uma especie de charlatanice intelectual que facilmente descamba para atitudes intensa mente demagogicas. Assim podem ser avaliadas generalidades do tipo “toda linguagem ¢ ideol6 gica’, “a linguagem esti a servigo do poder”, "al fabetizar conscientizando’’ ete, Os dois textos que compsem este volume apontam em profundida de para os fatores que permitem conjugar Lin ‘guagem, Escrita e Poder, ¢ dispaem os seus pro blemas bésicos de maneira inteiramente original numa perspectiva cuidadosa, eapas de alertar pa 2 05 riscos de atitudes tedrieas precipitadas e de téenicas de altima hora, Nesse sentido, se a linguagem tem relago com o poder, sera preci so um exame rigoroso das Formas mais sutis pe las quais a propria linguagem instrumenta esse ‘mesmo poder. Da mesma forma, se se considera a alfabetizacio como um processo comprometi- do com meeanismos sociais suspeitos sera pre iso colocar sob suspeita também a nossa propria forma de avaliagso desse processo, enquanto membros de uma civilizagio grafocéntrica Profundamente responsavel em suas eolaca- ‘goes mais radicais, Maurizzio Gnerre consegue discutir essas questaes, carreando para as suas reflexes de lingistica elementos de natureza po- Iiica, histories e antropologica extremamente thom fundados e vivamente contemporineos. A uilidade de seus trabalhos nao ests, obviamen te, em fornecer modelos e solugdes para os pro bjlemas levantados, mas sim em fornecer os sub: sidios impreseindiveis para a formulagao de qual {quer tipo de resposta consequente que se queira dar a tais problemas. Antonia Alcir B, Pécora Haguiva Osakabe LINCUAGEN, PODER F DISCRIMHINAGAO Introdusio A linguagem nio é usada somente para vei cular informagaes, isto 6, a uneao referencial notativa da linguagem nao é senso una entre ou: tras; entre estas ocupa uma posigao central afun- ‘glo de comunicar ao ouvinte a posigao que o fa Tante ocupa de fato ou acha que ocupa na socie dade em que vive. As pessoas falam para serem ‘ouvidas", ds veres para serem respeitadas ¢ tam. bem para exercer uma influéncia no ambiente em que realizam os atos lingbisticos, O poder da pa liven é 0 poder de mobilizar a autoridade acum Jada pele falante e concentra. la num ato lings tico (Bourdieu, 1977), Os casos mais evidentes em relagao a tal afirmagao sao tambem os mais ex tremos: diseurso politic, sermao na igreja, la, etc, As produgées linghfsticas deste tipo, e tan byém de outros tipos, adquitem valor se realiza das no contexto social e cultural apropriado, AS regras que governam a producio apropriada dos tos de linguagem levart em conta as relagdes ais entre o falante € 0 ouvinte, Todo ser hums: no tem que agir verbalmente de acordo com tais Fegras, isto é, em que "saber: ) quando pode falar € quando nao pode, b) que tipo de contet dos referenciais Ihe sao consentidos,c} que tipo de variedade lingdistica ¢ oportuno que Seja usa dda. Tudo isto em relagao ne contexte lingiistico eatralingdistico em que o ato verbal & produ. do. A presenca de tais regras ¢ relevante nao 36 para o alante, mas tambem para o ouvinte, que, ‘com base em tais regras, pode ter alguma expec tativa em relagdo 2 producao lingtistica do fa lante. Esta capacidade de previsio ¢ devida ao fa to de que nem todos os integrantes de uma So ciedade tém acesso a todas a8 variedades ¢ mui to menos a todos os contetides referenciais. So ‘mente uma parte dos integrantes das sociedades complexas, por exemplo, tem acesso a uma Va Fiedade “culla” ou padra0”, considerada geral mente “a lingua”, e associada tipicamente a con teaidos de prestigio. A lingua padre & um siste ma comunicativo 20 aleanee de uma parte rede: ida dos integrantes de uma comunidade; € um istema associadoa um patrimonio cultural apre sentado como um “corpus” definido de valores, Tixados na tradigao eserita Uma variedade linghistica “vale” o que “va lem” na sociedade os seus falantes, isto, vale ‘como reflexo do poder e da autoridade que eles tem nas relagdes econ6micas sociais, Esta afr magio ¢ valida, evidentemente, em termos “in eros", quando confrontamos variedades de uma mesma lingua, eem termos “externos” pelo pres. tigio das linguas no plano internacional. Houve Epoca em que o francés ocupava a posigao mais alta na escala de valores internacionais das It tas, depots foi a ver da ascensii do inglés. O pas so fundamental na afirmagao de uma variedade sobre as outras é sua associago i escritae, con seqiientemente, sua transformagao em uma va riedade usada na transmissao de informacoes de ‘ordem politica e “cultural” A diferenciagaio po Iitica € um elemento fundamental para favoreeer adiferenciagao lingiistiea. As linguas européias ‘comegaram a ser associadas & escrita dentro de restritos ambientes de poder: nas cortes de prin cipes, bispos, reis e imperadores. 0 uso juridico das variedades lineuisticas foi também determi ante para fixar uma forma escrita. Assim fol que falar de le-de-Franee passou a sera lingua fran ‘esa, a variedade usada pela nobrera da Saxdnia passou a ser a lingua alems, ete 0 caso da historia do galego.portugues € sig: nificativo neste sentido. Os caraeteres mais es pecificos do portugues foram acentuados talver Hino século XM. Esta tendéncia a reconhecer os caracteres mais especificos das linguas semelhan tes pode ser acentuada, como foi no caso do por tugués e do galego, quando a regiao de uso de uma das duas variedades lingisticas constitui lum centro poderoso, como foi a Galicia, desde 0 século XT. A lingua literaria chamada galego portugués que se difundia na Peninsula Ibériea 4 partir do século XII era a expressso, no plano linguistico, do prestigio de Santiago de Compos tela, A associacio entre uma determinada varie dade linghistica ea escrita ¢ 0 resultado histor «0 indireto de oposicoes entre grupos sociais que feram e 30 “ustiios” (no necessariamente fa Tantes nativos) das diferentes variedades. Com a emergéncia politica ¢ econémica de grupos de Juma determinada regio, 2°variedade por eles uusada chega mais ou menos rapidamente a ser aassociada de modo estavel com a escrita, Asso ‘iar a uma variedade lingtifstica a comunicagao escrita implica iniciar um processo de reflexao sobre tal variedade e um processo de “elabora ‘$a0” da mesma. Escrever nunca foi ¢ nunca vai ser a mesina coisa que falar: é uma operaci que influi necessariamente nas formas escolhidas & nos contetidos refereneiais, Nas nagbes da Euro pa Ocidental a fixacio de uma variedade na es- crita precedeu de alguns séeulos a associagao de tal variedade com a tradigao gramatical greco- Iatina. Tal asso. asso fancamental legitimacao” de uma norma. imac” é fundamental para se entender a instituicao das normas lingiisticas A legitimacao é “a processo de dar ‘idoneidade?™ ‘ow ‘dignidade’ a uma ordem de natureea politi ca, para que seja reconhecida e aceita” (Haber mas, 1976), A partir de uma determinada tradi ‘io cultural, foi extraida e delinida uma varie dade linguistica usada, com ja dissemos,em grt 8 de pode, etal variedade fol reproposta co fio algo de central naidentidade nacional em Guanto povtadors de uma radigho © do uma ‘Assim como o Estado eo poder so apresen também o codigo aceito “oficlamente” plo po der ¢ apontado como neuro e superior, e todos os eidadgostém que produ eentendeo nas felayoes com 0 poder, M. Bekhtin eV. Voloshi hove si rade 1929 =ponivam gua pei eondervadora da inguagem dentro da tender 1. Allingua é um sistema estavel,imutivel, de formas linguisticas submetidas a uma norma for recida tal qual 8 consciéneia individual e peremp. toria para esta, 2.As eis da lingua so essncilmente lee lingiisticas especificas, que estabelecem ligagoes entre 0s signos lingdisticas no interior de um sis- tema fechado. Estas leis sto objetivas relativ: mente a toda conscieneia subjetiva 3.As lass Iingisteas eopeificns nada tém a ver com valores ideol6gicos (artisticos, coe nitivos ou outros), Nao se encontra, na base dos fatos lingtisticos, nenhum motor ideolbgico. Fn trea palavra e seu sentido nao existe vineulo na tural compreensivel para a conseiéncia, nem vinculo artistico, 4. 0s atos individuais de fala constituem, do Ponto de vista da lingua, simples refracoes ou va Fiagdes fortuitas ou mesmo deformagoes das for mas normativas. Mas so justamente estes atos individuals de fala que explicam a mudanca hise ‘rica das formas da lingua; engvanto tal, a mu danca é, do ponte de vista do sistema, irracional ‘emesmo desprovida de sentido, Entre o sistema © sua histéria ndo existe nem vineulo nem afinidade de motivos, Eles sao estranhos en tre si. (1979: 68). Os cidadaos, apesar de declaradas iguais pe- rantea le, sio, na realidade, diseriminadlos ja na bbase do mesmo cédigo em que a lei € redigida, A maioria dos eidadaos nao tem acesso ao cox 0, ou, as vezes, tem uma possibilidade redurida de acesso, constituida pela escola e pela "norma pedagdgica’ ali ensinada. Apesar de lazer parte da experiencia de cada um, o fato de as pessous serem discriminadas pela maneira como fala, Fenomeno que se pode verificar no mundo todo, no caso do Brasil nie édilfeil encontrar afirma es ke que aqui ni existem dilerencas dialetais, Relacionado coin este fato esta o da distingdo que se verilica no interior das relagoes de poxler e ‘re a norma reconhecida e a capacidade efetiva de produgae lingiistica eonsiderada pelo falar tea mais préxima da norma. Parece que alguns niveis sociais, especialmente dentro da chamada pequena burguesia, t@m tendéncia a hipercorre ‘20 no esforgo de aleangar a norma reconecida, Talver nd seja por acaso que, em geral, 0 fator dda promincia é considerado sempre como uma ‘marca de proveniéncia regional, eas veres socal sendo esta a drea da produgso lingiistica mais, \ifieilmente “apagada” pela instrucao, separa rao” eas outras é 140 profunda devide a varios motivos: a variedade culta é associada a eserita, ‘como ja dissemos, ¢ & associada a tradicio gra matical € inventariada nos dicionarios ee a por tadora legitima de uma tradigao cultural ¢ de ‘uma identidade nacional. E este 0 resultado his {rico de um processo complexo, a convergéncia de uma elaboragao historiea que vem de longe do entre variedade “eulta” ou “pa 1. Uma perspectiva histérfea Associa a uma determinada variedade lin listica 0 poder da escrita foi nos iltimos secur los da Idade Média uma operaciio que respondeu. a exigéncias politicas ¢ eulturais, Eram grandes as diferengas entre as variedades linguisticas cor rentes e 0 latim, modelo de lingua e de poder, na Europa da Idade Média. As variedades lings cas associadas com a eserita passaram por um claro processo de “adequacio" lexical e sintat. ‘ca, no qual o modelo era sempre o latim. Nas ‘obras de Rei Alfonso X, que “traduzia’” no séeu Jo XIIT do latim para castelhano, encontramos constantemente termos emprestados do latim e introduzidos na variedade usada com uma expli ‘ago anexa: tirano, que quiere decir rey cruel. Cor locar uma variedade oral nos moldes da lingua cserita (tendo em vista a complexidade do latim) Foi operagao complexa, principalmente na sinta xe, Na drea das conjungoes ¢ da subordinasio, por exemplo, até oestabelecimento de expresses do tipo “apesar de", “a fim de’, etc.,o proceso foi demorado, Nos textos mais antigos as ambi. Ebidades que muitas vezes encontramos sao de. Vidas exatamente ao fate de que umas constr ‘ors usaidas na lingua escrita estavam ainda em fase de elaboracao e definigao. As linguas roma niicas levaram tempo para chegar a ser varieda des escritas de complexidade comparivel 4 do modelo a que visavam, o latim. A segunda etapa na processe de fixagso de tums norma foi constituida pela associagao da va riedade ja estabelecida como lingua eserita com ‘tradigdo gramatical greeo latina. A tradigao gra matical até 0 comeco da idade moderna era as sociada somente com as duas linguas elassicas, 0 pensamento ingtistico grego apontont ova ‘minho da elaboracao ideologica de legitimacao de uma variedade lingtistica de prestigio. Des de 0 “legislador” platonico que impoe e escolhe ‘08 nomes apropriades dos abjetos, até chegar & lradigao gramatical divalyada, estruturada tal ver na ¢poca alexandrina, a elaboracio da ideo: logia e da reflexao relativas 8 linguagem fol cons tante, Na nossa perspectiva tual, nos primérdios desta tradigao da especilagao lingtiistica se eo loca Plato e a visio quase que mitica de um ori Bindvio escothedor de nomes que alribuia os no Ines apropriados aos objetos. Tal visio estava ai dda Jonge do processo de elaboracio nos moldes ‘onceituais dentro dos quais foi colocada a lin gua grega na idade alesandeina, e mais tarde a Fbngua latina, Era inspirada porém pela atitude de total confianga no valor dia lingua atiea, que ‘nerecia mitos de origem e especulagdo légico Tilosétiea, ‘Somente com o.comeco da expansio colonial ibérica, na segunda metade do steulo XV, e com 2 estraturagao definitiva dos poxleres eentrais dos estados europeus, os moldes da gramatica preco latina (segundo a tradigao de sistematizagiy de Dionisio de Tricia) foram utilizados para valort zar as variedades lingisticas escritas, jd associa «das com os poderes centrais elou com as regioes economicamente mais fortes. A alirmacsi de una variedade lingiistica era, no caso da Espanta ¢ dle Portugal do fim do século XVL, uma dupla afi ‘magi de poder: em termos internos, em relagio 4s outras variedades lingiisticas usadas na aque eram quase que automaticamente reduct dasa “dialetos” e, em termos externos, em rela ‘sto as inzuas dos poyos que ficavam na rea de influéneia colonial. Na introdugio da primeira ‘gramiética de uma lingua diferente dis das lin suas classicas, a da lingua eastelhana, de Anto nio de Nebrija (1492), encontramos as justifies, tivas da existencia da mesma gramatica,Tais jus tificativas sao colocadas em termos de utilidacde da sistematizagao geramatical para a difusdo da lingua entre os povos “barbaros”. No contexto da corrida para as conquistas coloniais e da concor éncia entre Espanha e Portugal ¢ facilmente ex plicivel o fato de que comegasse a ser elaborada para a lingua portuguesa uma consirucdo ideo logica para elevivla e para ordené-la nos moldes sramaticais. Ferngo de Oliveira, na intreduedo da sua gramatica de 1536, mencionava a expaneao da lingua portuguesa entre os povos das tetras descobertas e conquistadas, Foi Joio de Barros, porém, que realmente considerou o papel da lin rua portuguesa na expansiio colonial. O que € re levante aqui é evidenciar que nem Nebrifa, nem Ferno de Oliveits, nem Joao de Barros percebe rama operacao da qual eles estavam participa do em terms de uso interno da variedade “gra: rmaticalizada”. A Tinga era um instrumento et jo poder nas relacées externas era reconhecido; mento de poder interno, apesar de termos alguns indicios tambem nesta direeao. Assim, Nebri- ja cserevia na introducgao da sua gramatica ‘a lingua sempre acompanhou a dominagio 1 seguiu, de tal modo que juntas comecaram, juntas cresceram, juntas floresceram e, alinal sua queda foi comum”, Joao de Barros, quase cin ‘qienta anos depois, apresentava uma visio mais, atticulada a lingua € para ele (no Didlogo em Lowe vor da nossa Linguagem) um instrumento paras dlfusdo da “doutrina” © dos "costumes", mas io € somente instrumento de difusio, pois ‘as armas e padroes portugueses [..] materials sia e pode.os o tempo gastar, pero ado gastaré ‘a doutrina, costumes ea linguagem que os Por tugueses nestas terras deixaram". Quer dizer, a lingua ser o instruimento para perpetuar a pre senga portuguesa, amb quando dominagdo A legitimagao é um processo que tem como componente essencial a eriacao de mitos de ori tzem, Assim, quande a gramatica das linguas ro Idinicas foi instituida como um dos instrumen tos de legitimagio do poder de uma variedade lin tistica sobre as outras, desenvolvewse toda wma perspectiva ideoldgica visando a justficéla, Des dea meiade do século XVI, comecou unia corri ddados letrados e dos humanistas para conseguir demonstrat genealogias miticas para as linguas as.easas reinantes as quais serviam, Fohan Van Gorp Becan, de Antuérpia, propunhisem 1569 que todas as linguas fossem derivadas das linguas ger anicas ¢ Guillelm Posters e Stefano afirmavam que a lingua dos antigos zauleses era a origins a, para demonsirar a propriedade do francés 0 valor do instrumento da linguagem era clara mente apreciado no século XVI e a construgio de aparato mitice-ideologico em torno d de “cultura” foi um empenho sério dos letrades fe humanistas, Leite de Vasconcelos (1931, p. 865), referindo- se a historia da tradigao gramatical ¢filologiea portuguesa entre o século XVI ea idade pomba- Tina, esereveu que “este periodo da nossa filole gia pode caracterizar-se pelo seguinte: preocups: ‘640, nos gramsticos, da semelhanca da gram: «a latina com a portuguesa... sentimento patrd tico da superioridade da lingua portuguesa em face das outras, principalmente da castelhana, stia concorrente temivel A lingua dos gramaticos é um produto ela borado que tem a fungao de ser uma norma in posta sobre a diversidade. Duarte Nunes de Leo, nha Origem da Lingua Portuanesa (1606) eserevia por 4 muita semelhanca que a nossa lingua tem com ella (a latina) e que he an or que ne haa lingua fem com outra, & tal que em muitas palavras & periodos podeios falar, que sejao juntamente latinos & portugueses" Fatande de tal semelhanca, Nunes de Ledo se relere: ma res lidade, 0 produto lingtistico do trabalho liters rio e gramatical, lingua “construida” durante séeulos de elaboracdo continua para series

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