O Direito Penal Econômico costuma ser definido com expressões como “crime de colarinho
branco” e “crime dos engravatados”, as quais reproduzem os termos estadunidenses “crimes
of the powerful”, “white collar criminality” e “criminality of the upper world”, entre outros, que agrupam os crimes relacionados às atividades das empresas (corporations). Para Sutherland, o “white collar crime” seria uma “violation of the criminal Law by a person of the upper social-economic class in the course of his occupational activities”1 e “o que caracterizaria a criminalidade dos poderosos seria o fato de seus autores pertencerem a classe social elevada, atuando no exercício de sua atividade ocupacional e causando um dano extenso e considerável”2 . A terminologia “crime de colarinho branco” (white collar crime) foi utilizada pela primeira vez pelo sociólogo estadunidense Edwin H. Sutherland, em 1939 durante a 34ª conferência anual da Sociedade Americana de Sociologia (sociedade presidida por Sutherland naquela ocasião), reunida na Filadélfia durante o recesso universitário entre o natal e o ano novo. Naquele ano a conferência foi realizada em conjunto com a 52ª conferência anual da Associação Americana de Economia3 . O objetivo da palestra inaugural proferida por Sutherland era chamar atenção para o exame de uma categoria de ilícitos que até então era solenemente ignorada nos estudos conduzidos pelos sociólogos e criminólogos: os crimes praticados por diretores das grandes corporações. Inicialmente, Sutherland atacou as principais teses, até então dominantes no cenário da criminologia estadunidense, sobre os fatores que determinariam a atuação do criminoso, quais sejam: a) a pobreza; b) a criação dos criminosos em lares desfeitos; e, c) a existência de fixações freudianas por comportamentos ilegais na mente dos criminosos. O sociólogo estadunidense defendeu, perante seus pares, que diversas pessoas criadas em famílias economicamente bem estabelecidas, de acordo com o modelo tradicional de família e sem qualquer traço de perturbação psíquica, também poderiam delinquir. E mais, que determinados delinquentes com essas características ocupavam posições de poder no governo ou em grandes companhias. As palavras de Sutherland eram resultado de uma pesquisa que ele realizara nos anos anteriores documentando de forma detalhada o comportamento de grandes empresas. Determinadas práticas adotadas na gestão do negócio empresarial lembravam práticas semelhantes às de organizações criminosas. O foco do estudo de Sutherland eram comportamentos de empresários que causavam grandes prejuízos aos acionistas das empresas (fraudes financeiras)