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antropologia”
“Kant, Heidegger, a ideia e o lugar de uma antropologia”.
Agradeço sinceramente o convite pare este evento porque para mim significa um grande
aporte à pesquisa que estou realizando. O trabalho que vou a apresentar é um resultado
provisório, em processo, e por isso espero todas suas objeções.
Eu não sou fenomenólogo, muito menos um especialista em Heidegger, não faço
estudos comparativos, também não sou um historiador da filosofia nem um exegeta de
conceitos filosóficos, eu trabalho filosofia desde problemas. Entretanto, minha matriz
teórico-filosófica é decididamente kantiana, assim como um físico deve adotar um tipo
de teoria seja ela newtoniana, relativista, quântica, etc para formular e resolver
problemas eu parto do pressuposto de que na filosofia é semelhante, também é preciso
adotar uma matriz teórica. Meu problema é acerca da condição de possibilidade daquilo
que se considera a realidade e daquele que atua nela e se pergunta e por ela.
Nesse sentido, desde esse tema atualmente abordo algo assim como um evento
filosófico determinado, a saber, a invenção da natureza humana na virada do século
XVIII para o século XIX, na passagem da história natural para as ciências sociais,
humanas e biomédicas. Especificamente, localizo a questão nos textos kantianos, na sua
maneira de formular e resolver problemas e na sua interrogação acerca do homem.
Nesse sentido, minhas pesquisas me permitiram constatar que a questão antropológica
perpassa toda a filosofia transcendental e a constitui. Assim, posso dizer que Heidegger
foi um dos primeiros entre muito poucos que contra as interpretações mais destacadas
do kantismo chamou a atenção para dois elementos que são fundamentais para minha
linha de interpretação, a saber, a tarefa da critica como a indagação acerca das
condições de possibilidade dos juízos sintéticos e a questão da antropologia. Esses dois
elementos decidem o rumo da minha interpretação e do meu modo de entender a
maneira de formular e resolver problemas, por isso a leitura de Heidegger se torna
necessária neste momento do meu trabalho de investigação. Também por isso, vou
procurar ensaiar a possibilidade de pôr esses dois elementos em relação com o problema
e sua resolução em outra perspectiva chegando a um resultado diferente daquele
proposto por Heidegger. Não se trata de uma simples vontade de discordar, considero
possível obter um melhor desfecho considerando os elementos iniciais da questão.
Existem problemas na filosofia, como na física, que não podem ser formulados em duas
matrizes teóricas diferentes, considero que não é o caso e aqui, o próprio Heidegger me
autoriza a entender que ele pensava do mesmo modo, pela sua declaração explícita e
pela maneira de levar adiante a leitura de Kant.
Introdução
A leitura de Heidegger sobre Kant em Kant e o problema da metafísica já foi criticada
em quantidade e modos suficiente nos últimos 80 anos. O livro expressa o conteúdo de
um curso acadêmico ministrado por Heidegger no inverno de 1925-26 e reiterado mais
tarde na mesma década, mas modificado depois segundo declara o próprio Heidegger e
como tal consta nos documentos. Com relação às críticas, uma série de pesquisadores se
sucede ao grande evento de Davos em 1929, onde Heidegger e Cassirer iniciam um
debate sobre a interpretação de Kant. Posterior ao debate e à virada da década de 1930 a
interpretação ficou relativamente ultrapassada. Aliás, foi o próprio Heidegger que se
encarregou de declarar a sua distância com relação àquela interpretação. Essa posição
de Heidegger consta no prólogo escrito para a segunda edição da obra em junho de
1950. Portanto, não se trata aqui de fazer uma nova lista de erros, equívocos ou
falsidades. O objetivo do trabalho é destacar os elementos da interpretação
heideggeriana sobre Kant que nos permitirão posicionar nossa interpretação com o
intuito de propor outro encaminhamento da questão da metafísica desde a ideia e o lugar
da antropologia e do problema do juízo em Kant.
Para alcançarmos tal fim, primeiro, apresentaremos a proposição do trabalho de
Heidegger; em segundo lugar, a aparição do homem com relação ao desenvolvimento
do fundamento da metafísica e, em terceiro lugar, a interpretação de uma antropologia
como fundamento da metafísica. Assim, pretendemos estender o que Heidegger chamou
de “diálogo” entre pensadores. Heidegger (1986, 10), no prólogo à segunda edição
escreveu:
“Há intermináveis objeções contra a arbitrariedade das minhas interpretações. A
presente obra pode muito bem servir de base para tais objeções. Com efeito, os
historiadores da filosofia tem razão quando focam sua crítica contra aqueles que tratam
de expor um diálogo de pensamentos entre pensadores. Pois um diálogo desta classe, à
diferença dos métodos próprios da filosofia da história, encontra-se sob leis muito
distintas. São leis mais vulneráveis”.
A mesma posição de leitura é declarada por Heidegger em outros lugares, por exemplo,
no texto sobre Nietzsche. Entendendo que não se trata aqui de fazer história da filosofia,
mas sem deixar de pressupor alguns elementos que possibilitam o diálogo (a saber, que
há uma questão comum: a metafísica; e que é possível tratar com aquilo que se interroga
o que opera com relação àquela; isto é, o homem), vamos diretamente à tarefa deste
artigo.
Com isto Heidegger se distancia da leitura atribuída aos neokantianos onde a Crítica da
razão pura seria uma teoria do conhecimento ou uma teoria da experiência (Heidegger,
1986, 24 e 25). e avança numa indagação da fundamentação da metafísica numa
antropologia (Heidegger, 1986, 173 e ss.).
Pode se observar que minha proposta não trata de mostrar um erro de leitura, mas de
apresentar a possibilidade de pensar o problema colocado por Heidegger desde Kant,
nesse sentido sou fiel à proposta heideggeriana de fazer um diálogo entre pensadores.
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