Excerto
Nestes conflitos “pós-socialistas”, a
identidade de grupo suplanta o interesse
de classe como o meio principal da
mobilização política. A dominação cultural
suplanta a exploração como a injustiça
fundamental. E o reconhecimento cultural
toma o lugar da redistribuição
socioeconômica como remédio para a
injustiça e objetivo da luta política. P.231
E o que devemos fazer com a
emergência de um novo imaginário
político centrado nas noções de
“identidade”, “diferença”, “dominação
cultural” e “reconhecimento”? [...]
devíamos nos dar conta de que temos
pela frente uma nova tarefa intelectual e
prática: a de desenvolver uma teoria
crítica do reconhecimento, que identifique
e assuma a defesa somente daquelas
versões da política cultural da diferença
que possam ser combinadas
coerentemente com a política social da
igualdade. P.231
Ao formular esse projeto, assumo que a
justiça hoje exige tanto redistribuição
como reconhecimento. E proponho
examinar a relação entre eles. [...]
Significa também teorizar a respeito dos
meios pelos quais a privação econômica
e o desrespeito cultural se entrelaçam e
sustentam simultaneamente. Exige
também, portanto, esclarecer os dilemas
políticos que surgem quando tentamos
combater as duas injustiças ao mesmo
tempo. P.231
Comentário
Nancy Fraser aponta que o fim do
socialismo real trouxe uma mudança nas
lutas sociais como, por exemplo, a
sobreposição do interesses culturais em
detrimento ao interesse de classe. Essa
mudança nas características do agente
também causou um desdobramento na
própria reivindicação antes concentrada
na redistribuição de bens pautada pela
classe. O novo incremento nas
reivindicações é a luta por
reconhecimento social demandada por
identidades culturais.
Esse novo fenômeno de demandas
culturais põe outras noções no modo de
fazer política que é o caso da identidade,
diferença, dominação, cultura e
reconhecimento. No campo teórico é
preciso desenvolver formas que têm
condições de compreender e identificar
essas diferenças, tornando o
reconhecimento uma categoria analítica.
A própria noção de justiça se modifica se
antes se referia somente ao processo de
redistribuição econômica, hoje também
se refere ao reconhecimento de grupos
culturais, sendo algo indivisível no que
concerne a justiça.