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O PROFETISMO NO ANTIGO TESTAMENTO

O fenômeno profético

Durante muito tempo, tem-nos sido apresentada uma visão dos


profetas a partir da sociedade européia com preocupações bem diferente da
nossa.

Queremos, porém, fazer uma leitura da experiência profética que nos ajude
a aprofundar nossa solidariedade com os excluídos.

Sempre que lemos um texto, nós o fazemos dentro de certos


condicionamentos que, muitas vezes atrapalham uma postura crítica face à
realidade.

Eis alguns condicionamentos que tem marcado nossa leitura da


realidade e do texto bíblico:

a) Intelectualismo:

Nossa cultura ocidental privilegiou a razão. Por isso, estamos


inclinados a considerar de menor valor a emoção, a paixão, a matéria, a
história, enfim, tudo o que tem a ver com o corpo. Os conceitos das coisas
interessam mais do que elas próprias. Valoriza-se mais a ortodoxia que a
ortopráxis. Por isso, muitas vezes lê-se a Bíblia como um catálogo de
doutrinas.

Contudo, o termo hebraico ‘dabar’ é empregado para designar


“palavra” e “acontecimento”. O ideal do homem bíblico não é a
contemplação das idéias, mas a ação, o trabalho para transformar o mundo,
a exemplo da Palavra de Deus que se faz (Gn 1; Jô 1,14). A pessoa
humana é chamada a agir no mundo que não é ainda um ‘cosmo’. A Bíblia é
o testemunho de uma experiência histórica coletiva de construção de um
povo que, sem estar condenado a uma visão entre contemplantes e
trabalhadores, todos são chamados a construir um povo solidário.

b) Individualismo:

o racionalismo desliga a pessoa dos laços materiais que unem os


seres humanos entre si e com o mundo, encerrando-a no individualismo. No
entanto, a pessoa é um ser relacionado e se constrói a partir da relação.

Uma leitura individualista da Bíblia procura nela orientações para a


vida intima do individuo e para sua conduta “moral”. Afirma, desse modo,
que a Palavra de Deus não interpela o grupo social como tal. Todavia,
sabemos que a Bíblia é um livro feito em mutirão por um povo.

Quando se diz que missão da Igreja é exclusivamente religiosa e,


portanto, não deve interferir na política, na economia, está se afirmando a
existência de um campo neutro que escapa ao julgamento de Deus
(idolatria). E isso os profetas combateram violentamente.

c) Espiritualismo:

Os gregos pensavam que o espírito é o homem liberto de seus


vínculos materiais. Contudo, são precisamente esses laços materiais que
ligam os homens entre si. Às vezes, ouve-se dizer que a Igreja está se
esquecendo das realidades “espirituais , quando ela se preocupa
com a situação sócio econômica do povo. Esta critica comumente provém
dos bem situados no sistema social. Os opositores querem uma Igreja
cuidando apenas dos indivíduos (Almas, realidades espirituais) sem se
ocupar com questões estruturais.

Ler a Bíblia de maneira “espiritualista” significa entender a


preocupação do AT com a vida humana, com a construção do povo de
Deus apenas como símbolo da “vida espiritual e religiosa” do NT. Faz-se
uma leitura “espiritualizada” de conceitos como salvação, pecado, inimigo,
pobreza, opressão etc. esse tipo de leitura intimista e alienante está bem ao
gosto da classe burguesa.

d) Idealismo:

Manifesta-se, sobretudo, na concepção de contemplação como fuga


da realidade para encontrar Deus para além da realidade passageira deste
mundo. Contudo, o Deus da Bíblia deve ser buscado dentro da Realidade,
como raiz e fonte de nossa existência. A única fuga permitida é para
adiante, na superação do “mundo velho” (o Deus do Futuro).

e) Capitalismo:

a tal ponto estamos impregnados pelo sistema e ideologia


capitalistas que poucos são os que tem coragem de afirmar que a
propriedade social dos maiôs de produção é o caminho mais próximo das
exigências bíblicas de construir uma sociedade comunitária.

f) Religião:
também a pertença a uma religião nos condiciona. Mas a Bíblia
ultrapassa o horizonte de qualquer religião particular. Iahweh não é judeu,
como Jesus não é monopólio dos cristãos e muito menos dos católicos.

Nossa leitura bíblica atual e também o estudo dos profetas, faremos


a partir de determinada opção: opção pelos pobres, e, portanto, seremos
tidos como “parciais”. Porém, para chegarmos a uma interpretação mais
legítima, é importante nos situarmos num lugar que corresponda, de melhor
modo, àquele em que se deu a experiência da qual se originou o texto, para
chegar a conhecê-lo por co-naturalidade. Por isso, ler um texto é
compromisso, implica uma pratica, é atitude militante.

Esses condicionamentos levaram a uma violenta redução do


conceito de profeta. Até algum tempo atrás, o profeta era entendido como
“anunciador do futuro” e, especialmente, da vinda do Messias, do Salvador,
e este último termo entendido basicamente de modo religioso e
espiritualista.

O profetismo extra - bíblico.

As origens do profetismo nos são totalmente desconhecidas. No


Antigo Israel não existiam apenas profetas isolados, mas algo parecido
como uma instituição profética (1Sm 10,5; 19,20-24; 22,10s).

Formas semelhantes ao profetismo bíblico existiam nos povos


vizinhos de Israel, e a Bíblia não esconde este fato. Junto aos
representantes da antiga aerte de adivinhação e magia, Jeremias cita os
profetas, empregando a mesma palavra “Nabi” usada para designar
também os profetas de Israel (Jr 14,14). No livro dos Reis, a palavra “nabi” é
utilizada para designar também os profetas de Baal (1Rs 18 – 19). São
grandes grupos do “êxtase” e do entusiasmo. Em Números, Balaão, um
estrangeiro, é descrito como profeta e vidente (Nm 23 – 24) e reconhecido
pelos israelitas.

Hoje, graças às descobertas, temos informações extra bíblicas sobre


predições e técnicas de oráculo egípcio e mesopatâmico. Num documento
literário egípcio, “Viagem de Wen – Amon” (1.100 a.C) onde se narra a
viagem do sacerdote Wen – Amon à Fenícia enviado para contratar o
fornecimento de madeira para a construção de um templo, é dito que, após
o fracasso das negociações, numa noite, um rapazinho é “arrebatado” pela
divindade e fica possuído de uma “Exaltação frenética. Nesse estado, sem
que o desejasse e sem ser interrogado, transmite ao rei uma mensagem de
Deus. E grita, referindo-se ao ídolo do deus que o sacerdote egípcio traz
consigo no navio: “Pega o ídolo! Pega o mensageiro que está com ele! Foi
Amon que o enviou, ele mesmo o trouxe!” Deste modo, as negociações são
retomadas.
Aparecem nesse relato diversos elementos comuns com o mais
antigo profetismo de Israel: a exaltação profética, o anúncio de uma
mensagem divina ao próprio rei; o garoto “Tomado” pela divindade não é
um profissional adivinho.

Também entre as cartas encontradas em Mari, que datam de cerca


de 1.700 a.C, aparece fenômeno semelhante: um governador conta que um
homem se dirigiu a ele dizendo ter recebido uma mensagem do deus para o
rei, e pediu se o governador podia transmiti-la. Mesmo aqui, a proclamação
desse gênero de mensagens divinas era totalmente independente da
profissão, idade, sexo e condição social. Embora o conteúdo das
mensagens pareça banal (ex.: construir uma porta na cidade) em
comparação com a pregação dos profetas de Israel, aos pedidos concretos
se juntam ameaças ou promessas de bênçãos. A promessa de bênção
pode ser expressa na forma de um oráculo de desgraça dirigido aos
inimigos do rei. Assim, cerca de meio milênio antes de Moisés, houve
pessoas em Mari que se comportavam de maneira semelhante aos profetas
de Israel que, sem serem requisitados, dirigem-se ao rei e lhe apresentam
uma mensagem da divindade (cf. ANET 623 – 625). Testos do antigo
oriente próximo (Anciem Near East text)

O único Deus que falou aos profetas de Israel, já começou a falar de


longa data a outros povos. (1Sm 9,9). Em muitos textos do Antigo Oriente
podemos encontrar a mesma preocupação com a justiça e o direito dos
fracos. Antes de Moisés e dos profetas houve pessoas profundamente
interessadas por essa questão. Pouca coisa nova trazem os profetas quanto
ao conteúdo. O mais importante é seu compromisso pessoal, que converte
as bonitas palavras em denuncias capazes de custar-lhes a vida.

Que se possa realmente ouvir a Deus, que Ele envie mensagens


através de determinadas pessoas e dos acontecimentos continua sendo
sempre um ato de fé.

O profetismo em Israel (começa com Amós)

Os profetas escritores, embora estivessem conscientes de terem


sido chamados pelo Senhor isoladamente, seguiam todos a linha de uma
tradição profética. Exerceram sua atividade principalmente através da
pregação oral. Em geral, foram os discípulos que recolheram em livro os
discursos do mestre.

Traços do antigo profetismo oral em Israel são encontrados nos


livros de Samuel e dos Reis. Esse profetismo mais antigo apresenta um
quadro muito variado. Além da palavra “nabi”, que caracteriza, sobretudo a
tradição efraimita (os profetas do norte) e que significa “profeta”, usam-se
também, para designar este grupo de homens, outras palavras hebraicas
que podem ser traduzidas por “vidente” e “homem de Deus” (1Sm 9,9).
Mas o termo “nabi” é empregado para pessoas de características
bem diferentes:

a) os extáticos

No fim do período dos juizes e inicio da monarquia, havia em Israel


indivíduos que entravam habitualmente em êxtase e eram chamados
“profetas”. O povo dizia que o “espírito de Deus” se apossava deles (1 Sm
19, 18-24; 10, 10-12). O canto, a música e a dança levavam-nos ao êxtase
(transe).

Esses grupos extáticos viviam em contato com os santuários. Como


chefe de um desses grupos, temos o profeta Samuel que também é
chamado de “vidente” e “homem de Deus” (1 Sm 9,6.11). por isso, as
pessoas recorrem a ele se, por acaso, perderam alguma coisa. E, como
sabe dar informações, recebe presentes do povo. Ouve durante a noite a
voz do Senhor que lhe fala. Tem ligação com a política: critica a atitude do
rei (1 Sm 13; 15).

b) os profetas da corte

no tempo de Davi aparecem Nata e Gad. Nata é conselheiro


religioso de Davi. Esta estreita aproximação com o rei não o impede,
contudo, de agir contra o rei com o anúncio do juízo e da desgraça.
Proclama a Palavra do Senhor que recebe (2 Sm 7).

O profetismo em Israel é certamente muito mais antigo. O próprio


Moisés é descrito em traços proféticos, razão para se dizer que havia
formas primitivas anunciadoras do profetismo posterior de Israel.

Características do profetismo israelita

Para compreender bem a especificidade do profetismo bíblico, sua


função dentro do povo de Deus e sua diferença em relação ao profetismo
pré bíblico, devemos situá-lo em conexão com a Aliança.

Desde os primórdios, a fé e religião de Israel aparece marcada pela


Aliança. E os profetas são em Israel os guias espirituais, suscitados pelo
“Espírito” de Deus em favor do povo da Aliança. Portanto, a Aliança é o
pressuposto básico para se entender a missão dos profetas.

Israel afirmava que, quando Iahweh o tirou do Egito e antes de o


introduzir na terra, fez com ele um pacto no Sinai. O conteúdo essencial
desta Aliança foi mais tarde resumido na única frase: “Eu serei o vosso
Deus e vós sereis o meu povo”. Desse modo, como obrigação contratual,
Israel não poderia ter outros deuses. As demais leis do AT eram
explicitações ou imposições decorrentes deste mandamento. Nas
celebrações da Aliança, o povo jurava fidelidade a esse pacto de Deus e
eram invocadas bênçãos e maldiçoes sobre o povo.

Esse pacto entre Deus e Israel foi instituído sobre o modelo dos
contratos políticos de um grande soberano e um povo vassalo. Quando um
soberano do antigo Oriente recebia a notícia de que seu vassalo não estava
mais respeitando suas obrigações contratuais, mandava um mensageiro
real para lembrar-lhe o contrato. Se a missão falhasse, podia ocorrer outra
em que se chamava a atenção para as maldiçoes evocadas no contrato.
Alem disso, podia ser enviado um embaixador com um ultimato e,
finalmente, se também essa missão falhasse, vinha a declaração de guerra.

Os embaixadores levavam consigo suas mensagens escritas, que


deveriam ser proclamadas oralmente. E a proclamação começava com a
fórmula da mensagem: “Assim fala o grande rei...”

Os profetas agiam, pois, no plano religioso, do mesmo modo que os


mensageiros, no plano profano. Geralmente, dirigiam-se, em primeiro lugar,
ao rei e, se não ouvidos, aos sacerdotes e ao povo. E introduziam o anuncio
com a fórmula: “Assim fala Iaweh”. Eram, pois, mediadores, pessoas
escolhidas carismaticamente por Deus para introduzir as prescrições
concretas de Deus a seu povo nas situações concretas. Eles mesmos
afirmam que a Palavra de Deus lhes foi dirigida (Am 7,14ss) para reconduzir
o povo à fidelidade às cláusulas da Aliança que defendem a organização
igualitária da sociedade. Por isso, o profeta surge como:

a) homem da crise:

Os profetas de Israel se situam no centro da crise. São pessoas que


tem a coragem de não iludir nem se desviar pelo caminho da mentira, que é
o caminho dos ídolos. São vistos como perigosos, indesejáveis, “sinais de
contradição”, anunciadores da calamidade (1 Rs 22, 1-28; 18, 16-18).

Os grandes profetas israelitas surgiram em períodos de grande crise


da Nação: queda da Samaria, destruição de Jerusalém, exílio e dominação
estrangeira no pós exílio.

b) Comprometido politicamente:

O acento mais forte da missão profética é de caráter político: o


horizonte das lutas pela construção do Povo. É a questão do Poder que
está no centro mesmo desta construção. Este seu compromisso político
decorre de sua fé no Deus libertador e das exigências da aliança. É por isso
que a vida dos profetas está marcada pelo conflito com o poder
estabelecido dos reis e sacerdotes.

c) Defensor do direito dos pobres:


A interferência do profeta na política ocorre como defesa do direito
dos pobres, a exemplo de Iahweh (Dt 10, 16-19).

O profeta tem uma consciência profunda da indissolúvel aliança da


causa de Deus com a causa dos necessitados. O Deus experimentado
pelos profetas é o Deus da história, que, através dos acontecimentos se
revela Redentor (Is 41, 14), isto é, libertador e vingador dos oprimidos e
necessitados. Para os profetas é uma coisa só pensar em Iahweh e pensar
na causa dos pobres. É por eles que Iahweh se define (Dt 5,6). A libertação
do povo é sinal do reconhecimento de Iahweh (Is 49,23; Os 6,6).

d) Guardião do projeto igualitário:

O tema do “deserto” está intimamente ligado ao ideal nômade


mantido sempre vivo em Israel pelos profetas, levitas, nazireus, recabitas
etc. Sob o ideal nômade levantava-se uma contestação ao modelo de
civilização agrário comercial dos fenícios e cananeus. Esta sociedade,
organizada em cidades e baseada na propriedade privada da terra, era
fortemente marcada pelas desigualdades e opressão. Totalmente outro era
o ideal da Aliança: sociedade de homens libertos, sem hierarquias nem
privilégios.

GENEROS LITERÁRIOS NOS ESCRITOS PROFÉTICOS

Gêneros literários são diferentes formas de expressar a realidade


literariamente. Conforme a situação e o objetivo que temos em mente,
expressamos a realidade num gênero diverso.

Na pregação profética há três grandes grupos de gêneros literários:


os oráculos proféticos, os relatos proféticos e modos de falar copiados de
outros campos.

O oráculo é a forma mais primitiva da palavra profética.


Originalmente era recebido num santuário por meio de um profeta cultual,
como resposta a uma pergunta feita à divindade. Este tipo de oráculo pode
ser encontrado em vários salmos. Sl 20,7ss; 60,8ss; 85,9ss.

A passagem do oráculo primitivo para o oráculo profético se dá


quando ele é comunicado sem que tenha havido uma consulta. Assim
podemos ver exemplo em 2Rs 20,1-4.

O oráculo profético: tem por objetivo a comunicação da vontade de


Deus percebida no presente em função do futuro que deve surgir como
decorrência de um posicionamento existencial do homem. Por isso, o
essencial do oráculo profético não é predizer acontecimentos de um futuro
próximo (ainda que este componente freqüentemente apareça). O
importante é que as coisas anunciadas estão para acontecer e que o
profeta tenha tempo de chamar a atenção de seus ouvintes para fatos
ocorridos a fim de tirarem uma conclusão para o presente. Se o profeta fala
do futuro é para determinar e criar o presente.

O oráculo profético geralmente inicia com a expressão “assim disse


Iahweh”. Anuncia sempre um futuro próximo em termos de salvação ou
desgraça, a partir da situação presente, oferecendo a possibilidade ao
interessado de assegurar para si a salvação e evitar a desgraça, desde
agora, pela mudança de comportamento. O profeta pode também exercer a
função de intercessor junto a Iahweh.

a) Oráculo de julgamento: apresenta-se na forma de uma ameaça que


anuncia uma desgraça por causa do pecado dos homens. É a forma
predominante na pregação dos grandes profetas individuais e Jeremias o
considera como um dos critérios de veracidade da mensagem profética (Jr
28,8s). aparece sob três formas: como simples ameaça; como ameaça
acompanhada de justificativa; como ameaça e censura (Am 7,16s; Is 3,25-
4,1 – Am 1,3ss; Is 8,5-7; - Am 3,9-11; Is 5,8-11).

Quanto aos destinatários, os oráculos de julgamento apresentam-se


também sob três tipos: contra indivíduos (Am 7,16ss; Jr 28,15s), contra o
próprio povo e contra as outras nações.

A ameaça contra o individuo supõe uma situação para o povo, do qual


ele é excluído por causa de seus pecados.

A ameaça contra o próprio povo que tem inicio com Amós, contempla o
povo numa situação de desgraça e apresenta freqüentemente a justificativa,
o anuncio da desgraça e a descrição das conseqüências.

A ameaça contra as nações tem a mesma estrutura daquela dirigida


contra Israel/Judá.

b) O oráculo de salvação: constitui uma promessa de salvação anunciada


numa situação concreta de calamidade.

Também os oráculos de salvação são dirigidos a indivíduos (Is 7,1-9),


ao próprio povo e a outros povos. Os dois primeiros já constituíam parte da
profecia de salvação. O oráculo de salvação às nações aparecerá, pela
primeira vez, na profecia escatológica, cujo início ocorre pelos fins do exílio
com o Dêutero – Isaias.

As profecias (oráculos) de salvação são raras nos grandes profetas


individuais. Esse tipo de oráculo encontra-se desenvolvido no Dêutero –
Isaias, cujas formas contem a promessa da intervenção divina, as
conseqüências desta intervenção e sua finalidade
c) A invectiva (censura violenta) constitui outro gênero da pregação
profética. Nela o profeta censura o individuo ou o povo por causa de seu
pecado. (Is 1,4-9; 5,8ss; 10,5-15; Am 6,1-7).

d) As exortações e advertências fazem parte dos modos proféticos de


anunciar e podem ter-se originado do oráculo. Tinham como objetivo induzir
aquele que consultava o profeta a assumir um comportamento que tivesse
conseqüências favoráveis para o futuro. As exortações constituem um
convite a se afastar do pecado para uma nova existência de entrega a Deus
(Jr 25,3-7).

2) Relatos proféticos: No conjunto dos relatos proféticos aparecem formas


literárias antigas que posteriormente desapareceram:

a) A palavra do vidente representa uma dessas antigas formas. Nela o profeta


relata suas visões e audições, e o sentido das mesmas. Temos exemplo
disso no relato de visão de Miquéias bem-Jemla em 1Rs22,17. a mesma
forma de relato aparece em Nm 24,3s.

b) A visão: Ao relatar a visão, o profeta descreve aquilo que sentiu (Am 8,1-3,
1,11.13). ao interpretar a visão, o profeta reveste esta interpretação com a
forma de uma palavra de Iahweh. E nisso se percebe a maneira diferente de
cada profeta representar, pensar e falar. Os relatos de vocação dos três
grandes profetas ajudam a perceber a diferença de representação da
experiência: Is 6; Jr 1,4-10; Ez 1,1-3,15.

c) A audição: O profeta afirma que ouviu Iahweh que lhe dizia (Is 5,9). Os
relatos de audição e visão vem muito freqüentemente ligados entre si.

d) Ações simbólicas: Alem de se exprimir verbalmente, ao transmitirem suas


visões e audições, muitas vezes, os profetas empregavam ações simbólicas
que tem origem numa forma mais antiga de relato de ações mágicas (ex. Ez
13,1-11).

3. Modos de falar derivados de outros campos

os profetas aperfeiçoaram muitos gêneros literários já existentes,


como os cânticos de zombaria (Nm 21, 27-30 – Is 44,12-20) e cânticos
fúnebres (2 Sm 1,17-27 – Am 5,1-5).

Do contexto da vida comum, foram assimilados o cantico de amor


(Ct – Is 5,1-7), controvérsias (Jô 4 – 41 – Mq 2, 6-11) e canções de guerra
(Jz 5- Is 63, 1-6).

Do contexto da vida cultual, foram empregados o estilo hínico (Sl


103, Hab e as lamentações (Sl 69; Is 52,13-53, 12).
Do âmbito da doutrina sapiencial, diversas formas: a parábola (2 Sm
12; Is 28,4b; Jr 18,1-11), a alegoria (Ez 17, 1-10; 19, 1-8).

Coração da aliança de Iahweh. A volta ao deserto, o ideal nômade é o


julgamento dos pobres sobre a civilização (Am 5,25; Os 2,16; 12,10).

e) o que desmascara a alienação religiosa:

para o profeta, conhecer a Iahweh é experimentá-lo na solidariedade


com o outro (Os 6,6; Is 11,1-9; Jr 22,13-16). Por isso, desmascara todas as
religiões idealistas e ritualistas. A profecia surge, deste modo, como
combate constante contra a idolatria, que reduz o homem à condição de
escravo das obras de suas próprias mãos (Is 40,18-20; 44,7-10; 46,1-13). A
profecia é, pois, o oposto de uma religião em função do sistema
estabelecido como legitimação ideológica das classes dominantes (Is 1,10-
20; Mq 6,6-8; Jr 7,1-34; Am 5,4-5).

3. O lugar social dos Profetas

a) Desenvolvimento do sistema tributário

A confederação das Doze Tribos aparece como um movimento de


reação contra os estados tributários do Egito e Canaã. Um grupo de
marginalizados, que fugira do Egito, de quem Iahweh se tornou o Deus
protetor, conseguira reunir outros grupos com objetivos de sobrevivência e,
através de sua liderança político – militar, teria feito passar sua religião para
o conjunto, impondo assim uma coesão interna, em proporção da unidade
de religião e de divindade.

A Aliança tinha a função principal de reforçar os agrupamentos inter


tribais, através de regras de fidelidade mútua.

Do ponto de vista econômico, as várias tribos tinham a propriedade


inalienável da terra. Mas a posse cabia às diferentes famílias da tribo que
não tinham o direito de alienar suas terras fora da tribo. Havia também
terras comunais para uso de todas as famílias. Não havia exploração do
trabalho e expropriação do excedente por uma camada superior.

No campo social, os grupos se estabeleciam em aldeias ou


povoados. A formação das várias tribos se efetuou por fusão, cisão ou
aliança

No aspecto político, a autoridade dos pais ou “anciãos” já se acha


meio enfraquecida porque há nesta fase federativa, o Conselho dos
príncipes escolhidos para tratar dos assuntos concernentes a um grupo de
tribos, e resolvidos em reuniões presididas, ao que parece, pelo Juiz.
Contudo, não havia ainda um órgão de poder político estável, permanente
(Jz 17,6; 19,1).

No campo militar, as guerras de libertação para sacudir a opressão


dos povos vizinhos tem um papel importante na formação de Israel. O povo
não dispunha da técnica do ferro nem de carros de combate nem possuía
um exercito profissional. Esta inferioridade era compensada pelas táticas de
astúcia, guerrilha e coesão interna. O que garantiu a sobrevivência foi o
caráter de confederação tribal estabelecida pela “berith” = Aliança religiosa.

Do ponto de vista religioso, as experiências histórico religiosas das


tribos mais influentes (os grupos que vieram do Egito), a proximidade no
solo, a referencia a um antepassado comum, tudo isso favoreceu um
processo geral de assimilação religiosa na confederação dos “filhos de
Israel”.

A importância política das tribos do Êxodo fez que as tradições das


diferentes tribos se organizassem ao redor do eixo da fé javista. Depois,
Iahweh assumiu também os traços dos deuses sedentários da agricultura,
tendo seu santuário local, seus sacerdotes e seu culto nacional e político.

Na fase monárquica, houve uma aceleração muito grande no


desenvolvimento de Israel.

Do ponto de vista econômico, há o florescimento do artesanato, da


construção; o desenvolvimento do comercio com as moedas substituindo o
sistema de trocas, e o aprimoramento da industria metálica para as
necessidades de ordem militar. Tudo isso fez surgir uma classe dominante:
os ricos da cidade, que aos poucos vai expropriando as terras familiares e
constituindo latifúndios. Os próprios reis tornam-se grandes proprietários. A
pequena propriedade continua a existir, mas sem força.

No lado social, acentua-se a fusão étnica com os estrangeiros


residentes.

A concentração do poder leva à desagregação das tribos e clãs e à


formação de duas classes: “os notáveis”, habitando nas cidades; e a “gente
da terra”: camponeses, assalariados, trabalhadores forçados, escravos,
meeiros.

Dividindo o país em 12 distritos que não coincidiam com os limites


das tribos, para efeito de tributação, Salomão tenta quebrar a antiga
organização social.

No campo político, o poder aparece concentrado nas mãos do rei e


justificado ideologicamente pela unção (sagração). O rei concentra em si
todos os poderes: é, ao mesmo tempo, chefe do exercito profissional, juiz
supremo e sumo sacerdote. Estes poderes são delegados a homens vindos
da oligarquia proprietária de terras (arauto, escriba, prefeito dos trabalhos
forçados, prefeito dos distritos, grão – vizir). Israel torna-se assim uma
sociedade de classes). A classe citadina passa a viver do trabalho
arrecadado no campo. É o tributo expropriado dos camponeses que está na
origem da diferenciação das classes (camponeses, sacerdotes, soldados).

A ocasião imediata que levou Israel a optar pela monarquia foi a


pressão agressiva dos filisteus, mas as possibilidades materiais (aumento
demográfico, comercio florescente, novas técnicas de metalurgia, a classe
emergente dos ricos da cidade) provocaram o esfacelamento dos quadros
sociais da confederação tribal.

No campo militar foi Davi que criou em Israel o primeiro exercito


profissional e uma guarda real formada por estrangeiros. A guerra perde em
parte seu caráter sagrado e torna-se uma questão de política do Estado; os
campos ficaram inteiramente desmilitarizados.

Sob o aspecto religioso, houve uma gradativa centralização do culto.


Um grande templo central foi construído na capital do Reino, Jerusalém.
Havia nele um conjunto de funcionários religiosos: o clero e profetas sob as
ordens do rei. O templo se tornou símbolo da unidade nacional após ter sido
introduzida nele a Arca da Aliança.

A formação do Estado tributário se fez pela atividade de Davi e


Salomão. Foi, porem, sobretudo Salomão que o consolidou pela
organização da arrecadação do tributo e desenvolvimento da economia
(1Rs 4 – 5). Por isso, Salomão foi duramente criticado pelos camponeses
explorados e dominados; crítica expressa e defendida pelos meios levíticos
da roça e pelos profetas (Jr 8-9; 1 Sm 8,9-18); Gn 2-3).

Após o cisma político religioso, o Reino do Norte conservou, por


algum tempo, as tradições tribais e igualitárias. A casa de Omri (885-874
a.C), porem, com a construção de Samaria e a aliança com Tiro,
desenvolveu o sistema tributário no Norte. Nesse período de
desenvolvimento agrícola e de riqueza, estoura o conflito entre a economia
da cidade e a antiga tradição da herança. O episódio da “Vinha de Nabot” é
um caso típico desse período.

A centralização econômico política nas mãos dos reis gera


movimentos de resistência camponesa e popular que desembocam na
grande revolução de Jeú. É, contudo, no século VIII a.C. que se dá o auge
do sistema tributário tanto na Samaria como em Judá. Tornam-se então
mais agudas as contradições e a luta de classes que provocam o
surgimento do profetismo em sua idade de ouro.
As contradições geradas pelo sistema tributário são: expansão do
latifúndio: terras nas mãos de uma classe citadina parasitária (Is 5,8; Am 6);
aumento da opressão e do número dos explorados (Mq 3); desintegração
da base da sociedade, ou seja, da família patriarcal, destruída pelo tributo
(Mq 2,1-2).

Com a dominação assíria, o tributo passa a ser duplo: interno e


externo (734 a.C.). em Judá, essa dominação se fez sentir sobretudo
durante o longo reinado de Manasses (687-642 a.C.). esse regime suscitou
uma resistência popular incentivada por profetas e sábios, e a esperança na
vinda de um rei para libertar o país e organizá-lo a partir do povo oprimido
(Pr 29,4.14; Sf 3,12-14).

Este movimento de libertação concretizou-se na reforma


deuteronomista de Josias, expressão de um movimento camponês, num
período em que a Assíria decadente perdia o controle sobre seu império.
Essa reforma representou uma tentativa de equilibrar as relações entre a
cidade e o campo. Uma tentativa de estabelecer uma síntese entre o
igualitarismo tribal e o centralismo do poder nas mãos de um descendente
de Davi: um Estado que se organize a partir da defesa do direito dos pobres
(Dt 14-15). O rei é visto como irmão do Povo e executor das leis de Iahweh
(Dt 16-18).

Depois da destruição de Jerusalém (586 a.C.)., Judá ficou com mais


pobres, o “povo da terra” (2Rs 24,14), que tinham seu centro político na
região de Masfa. Procuraram defender suas terras ameaçadas pelos povos
vizinhos e mantiveram a esperança de uma restauração nacional.

Após o exílio, sob a dominação persa, o sistema tributário passou


por uma mudança substancial, pois, embora os reis persas concedessem a
seus súditos autonomia cultural e religiosa, estabeleceram um rígido
controle na economia e na política, através do funcionalismo e espionagem.
O templo já não era mais o local da arrecadação do tributo (feita agora por
funcionários da coroa). E o sumo sacerdote não tinha poder político (Esd 2;
Ne 7).

Judá aparece estruturado na época persa como uma “comunidade


de aldeias em volta do Templo”. A unidade sociológica básica era a casa
patriarcal, coletividade sustentada pela posse / herança e pelo parentesco
(genealogia).

b) A tradição profética efraimita (Norte) e a tradição profética judaíta (Sul).


Os profetas surgiram em tempos de crise e representam grupos de
resistência e de reforma tanto do Reino do Norte (profetas efraimitas) como
do Reino do Sul (profetas de Judá).

A tradição profética efraimita, na qual predomina o titulo “nabi”


(profeta), tem sua origem na função sócio religiosa dos levitas (Dt 33,8-11),
ligados originalmente ao santuário central de Silo.

Com o advento da monarquia, os levitas perdem sua função central


para os sadocitas. Abiatar é marginalizado e exilado por Salomão.

O meio levítico parece ser o ambiente natural onde floresceu o


profetismo efraimita. São profetas enraizados na tradição tribal. Vêem a
centralização monárquica com certa resistência.

Na tradição de Judá, os profetas, chamados “Videntes” (Am 7,12; Is


29,10; 30,10), eram intermediários sociais a serviço do rei. A partir do exílio,
passam a assumir as características da tradição efraimita.

c) Profetas do “centro” e da “periferia”:

o profeta representa as lutas e interesses de um grupo social. A


inspiração e o discernimento nascem das crise social e da luta dos grupos.
De modo geral, os profetas vêm do campo: são camponeses explorados.
Procuram denunciar a exploração econômica e política. Constroem a “paz”
a partir da defesa do direito dos fracos. Os falsos profetas tomam partido ao
lado dos dominantes. Os grandes profetas representam os interesses da
periferia durante a monarquia.

4. O alvo da critica profética: a estrutura de dominação.

A luta dos profetas se dirige contra o Estado idolátrico, que nega a


realeza de Iahweh e o lugar da justiça e do direito na formação social (Am
5,24). Atinge, portanto, toda a estrutura social nos níveis econômico, social,
político e ideológico.

c) Critica à “propriedade”

os profetas representam os interesses dos camponeses contra a


exploração do excedente e a expropriação das terras por parte dos reis e
das classes citadinas. (1Rs 21; Is 5,8; Mq 2). Defendem a “herança”, posse
coletiva da terra para a produção e reprodução da vida pelos camponeses.
Diante da ameaça à sobrevivência dos camponeses, surgem os
movimentos de resistência (filhos de profetas, recabitas, levitas etc.) É
dentro deste movimento que aparecem Elias, Eliseu, Amós, Miquéias. Mq 2-
3 é uma defesa da estrutura da liberdade econômica para a vida do povo. E
mostra que o Estado fundado na concentração da propriedade e do poder
na cidade deve ser destruído (Mq 3,10-12).

d) Critica ao “poder político”

faz parte dessa crítica ao poder político o julgamento dos profetas


sobre a Assíria, Egito, Judá e Samaria.

Oséias mostra a realeza da Samaria como o mal que provoca a


desgraça do Povo. Alicerçado na tradição igualitária do tribalismo, aponta
para a decadência existente na corte de Samaria que faz aliança idolátrica
com os estrangeiros (Os 7) e causa a ruína do Povo (Os 8). Mostra ainda
que o verdadeiro conhecimento de Iahweh está na solidariedade (Os 6,6).

Amós mostra que o sistema tributário, centralizado no poder real


cooptou as instituições, especialmente o sacerdócio do santuário régio, para
exercer sua dominação sobre os pobres (Am 7,1). E declara que a dinastia
real do Norte e sua capital serão destruídas.

Isaias julga a política a partir do direito dos pobres (Is 1,17).

e) A critica da “ideologia”

a ideologia é o fermento da exploração econômica e da dominação


política. É a idolatria que nega a soberania de Iahweh e absolutiza o poder
do Estado.

Oséias mostra que o povo de Samaria está por um “espírito de


prostituição”, que é causador da desintegração do Povo. A idolatria é a
estrutura do Estado da Samaria que se tornou absoluto renega a soberania
de Iahweh. Seu culto se tornou instrumento de dominação dos camponeses.

A religião popular, celebra nas aldeias (eira) também contribui para a


idolatria estatal, pois Baal (ideologia da fertilidade e fecundidade), atração
dos camponeses, fortalece a estrutura de uma sociedade baseada no poder
centralizador e no trabalho para produzir mais tributo.

Jeremias critica todas as instituições: Templo, Lei, sacerdócio,


profetas e sábios, fonte e sustento da ideologia (Jr 18,18). O caminho para
a destruição da ideologia é a conversão (Jr 2-4).

O profeta Elias

As narrativas a respeito do profeta Elias estão enquadradas nos dois


livros dos Reis (1Rs 17-19; 21; Rs 1-2) que originalmente formavam apenas
um livro. Vêm logo após um julgamento severo, julgamento que se faz sobre
a dinastia de Omri (1Rs 16,25-30). Esta avaliação negativa da monarquia
perpassa toda a história deuteronomista, na qual os reis são vistos como os
principais responsáveis pela catástrofe do Povo: o exílio. A tradição de Elias
é apresentada, sobretudo, em seis narrativas originais e autônomas, e que,
com exceção da teofania no monte Horeb, todas possuem um núcleo
histórico. São elas:

1. a seca e a dádiva da chuva. (1Rs 17-19)


2. juízo de Deus sobre o Carmelo (1Rs 18, 19-40)
3. a teofania no Horeb (1Rs 19,3b. 8b. 9-12.13)
4. a vocação de Eliseu (rs 19,19-21)
5. assassínio de Nabot (1Rs 21, 1-9. 11-20)
6. a consulta de Ocosias ao oráculo (2Rs 1, 2-8. 17ª).

A essas narrativas foram acrescentada ainda legendas em diferentes


estágios, para exaltar a figura carismática do “homem de Deus”. Ei-las:

1. Elias é alimentado junto à torrente de Carit (1Rs 17,2-6)


2. Elias e sua atividade em Sarepta (1Rs 17,7-16)
3. A ressurreição de um morto (1Rs 17,17-24; 18,1a)
4. Encontro com Abdias, servo de Acab (1Rs 18,2b-15)
5. Elias é reconfortado pelo anjo (1Rs 19,4a. 5-8)
6. Tentativas de prisão de Elias (2Rs 1,9-16)

O processo de formação da tradição de Elias começou no século IX, logo


após os acontecimentos. A tradição escrita se fundiu em dois grupos: no
primeiro grupo (1Rs 17-19), fundiram-se narrativas e anedotas a respeito da
idolatria de Acab e da perseguição dos profetas de Iahweh. Apresenta
nominalmente Elias, chamando-o vez por outra, profeta e identificando-o
como novo Moisés, realizando sinais miraculosos. No segundo grupo, o
profeta se chama Elias, o tesbita, e seu opositor é o rei de Samaria ( 1Rs
21; 2Rs 1,2-8.17a). Aqui, Elias aparece como mensageiro da Palavra de
Iahweh.

A Situação Nacional e Internacional no tempo de Elias

Após a morte de Baasa (877 a.C.), deveria suceder-lhe seu filho Ela,
mas foi assassinado por um de seus oficiais, Zambri, chefe da metade dos
carros de combate. Como não contava com o apoio profético nem popular e
as tropas que ainda estavam sitiando Gebeton, durante a luta entre filisteus
e israelitas, aclamaram rei a Omri e cercaram Tersa, Zambri, vendo-se
perdido, suicidou-se, tendo reinado apenas sete dias. Em seguida,
começaram os desentendimentos e lutas entre facções rivais, de tal modo
que só em 876 a.C. é que Omri pode se estabelecer no trono.
A situação política de Israel

A situação política instável deixaria Israel incapaz de se defender


contra seus vizinhos hostis. O reino de Damasco se tornara a potencia
dominante na Síria – Palestina, e seu rei Benadad I (880 – 842 a.C.)
devastara o norte da Galiléia e provavelmente tinha se apoderado da
Transjordânia, ao norte do Jarmuk.

Alem disso, nessa época, o império neo – assírio, em fase de


expansão, durante o breve reinado de Omri, tendo à frente Assurnasirpal II,
faz uma incursão através da Síria até o Líbano, extorquindo tributos das
cidades fenícias, inclusive Tiro. Era o prenúncio de sua expansão para o
oeste.

A política externa dos Omridas

Omri procurou eliminar as tensões internas mediante a integração


dos Cananeus e israelitas em seu reino. Visto que a civilização Cananéia
fora anteriormente reprimida, essa política significava o avanço das idéias e
praticas religiosas cananéias.

Omri selou uma aliança com Etbaal, rei de Tiro, pelo casamento de
Acab com Jezabel, filha de Etbaal (1Rs 16,31). Essa aliança favoreceu a
exportação de produtos agrícolas de Israel e a intensificação do comercio.

Israel fez-se também uma aliança com Judá, talvez antes do reinado
de Acab, através do casamento de Atalia, irmã ou filha de Acab, com Jorão,
filho de Josafá, rei de Judá. Esta aliança era tanto militar quanto comercial.
Juntos vão combater contra seus vizinhos. Da transjordânia, somente
Amom não foi reconquistado. Moab tornou-se estado tributário de Israel, e
Edom tornou-se província de Judá. Assim Josafá controlava as rotas
comerciais para o norte da Arábia. Para o oeste, suas fronteiras se estendia
dentro do território filisteu (2Rs 8,22).

Durante os reinados de Omri e Acab houve vários confrontos entre


israelitas e os arameus de Damasco. Parece que Israel saiu vitorioso.
Porém, ante a ameaça assíria, Acab e Bernadad tornaram-se aliados.
Vários reis de pequenos estados do oeste formaram rapidamente uma
colizão para enfrentar Salmanasar III (859 – 852 a.C.) Os lideres desta
coalizão foram Adadezer (Benadad), de Damasco, Irhuleni de Hamat, e
Acab de Israel, que contribuiu com duzentos carros de combate e dez mil
homens de infantaria. O confronto se deu em Carcar, sobre o Orontes e
parece que a coalizão conseguiu deter o avanço de Salmanasar III, em 853
a.C.
Situação interna de Israel

a) Situação sócio- econômica

a maior realização de Omri foi a construção da Samaria como nova


capital para Israel. Soube escolher um lugar adequado, com muitas
vantagens: a) geograficamente, ficava perto do mar (40Km), na principal
rota comercial do país; b) politicamente, livres das tradições e estruturas
tribais, oferecia mais autonomia ao rei; c) economicamente, o contato com
as rotas comerciais trouxe negócios e permitiu que o rei arrecadasse
direitos alfandegários das caravanas de comerciantes; além disso, o rei
acumulou grande quantidade de propriedades privadas que lhe trouxeram
riquezas pessoais e presenteou seus aliados leais com terras; d)
militarmente, a cidade era defensável, com fortificações sem paralelo.

A localização geográfica de Samaria expunha Israel a uma maior


influencia cultural estrangeira, à criação de uma aristocracia real que se
assemelhava aos antigos modelos cananeus de cidades-estados, ao
intercambio de mercadorias que trouxeram influencia estrangeira para a
cidade.

A casa de Omri empenhou-se em construções por toda parte.


mantinha uma segunda residência em Jezrael. (1Rs 21). Fortificou as
defesas de certas cidades-chaves como Meguido e hazor. Constituiu túneis
para as fontes a fim de assegurar água por ocasião do cerco, estábulos
para os cavalos.

Apesar de toda essa riqueza e força do estado de Israel, a sorte dos


camponeses não era das melhores: os pobres, em tempos de penúria eram
forçados a tomar emprestado dinheiro aos ricos à taxa de usura e a
hipotecar suas terras, seus filhos e até a si mesmos.

A grande seca durante o reinado de Acab fez com que muitos


pequenos agricultores perdessem suas terras. Sem duvida muitos
latifundiários aumentaram suas propriedades. O caso de Acab e Nabot (1Rs
21) não deve ser caso isolado. Israel estava cheio de gente que não tinha
idéia de lei da aliança ou que tinha pouco interesse por ela.

b) situação política:

Quando Omri construiu a cidade de Samaria como nova capital e


cidade do rei, libertou-se do controle exercido pelos anciãos das tribos. Ao
mesmo tempo, presenteando seus leais aliados com extensões de terra,
formou um corpo de partidários que deram sustentação a sua dinastia.

Sua política expansionista e o reforço do exercito aumentaram seu


poder que se refletiu também na política interna. Os sucessores de Omri
procuraram exercer um regime monárquico inspirado no modelo absolutista
encontrado no antigo Oriente Médio. Desrespeitaram a lei da Aliança, ao
estabelecerem alianças com estrangeiros, e violaram as leis tribais: compra
(Omri) e expropriação de terra (Acab).

c) Situação religiosa:

a politica religiosa da casa de Omri provocou uma profunda crise. A


aliança com tiro foi selada com o casamento de Acab com Jezabel.
Seguidora das divindades téreas Baal Melcart e Asera, Jezabel tinha a
permissão para, juntamente com seus súditos e os mercadores que a
acompanhavam com interesses comerciais, continuar a praticar de sua
religião em território israelita. Para isso, foi construído um templo a Baal
Melcart em Samaria (1Rs 16,32ss). E Jezabel procurava tornar o culto de
Baal a religião oficial da corte.

Desde o estabelecimento em Canaã, rondava a tentação de adotar a


adoração dos deuses da fertilidade juntamente com a adoração de Iahweh e
de trazer para o culto de Iahweh práticas próprias dos deuses da fertilidade.
Este perigo aumentara com a absorção em massa de cananeus no templo
de Davi e Salomão. A maioria desses cananeus encontrava-se no reino do
Norte; por isso, uma política estatal que favorecesse o culto a Baal seria
aceita sem choque e até com alegria por muitos. É possível até que Acab
tenha tolerado essa política religiosa porque percebeu que não podia contar
apenas com o javismo como base de sustentação de seu governo.

Embora Acab permanecesse nominalmente javista, a corte e a


classe dominante estavam completamente paganizadas; os profetas de
Baal e Asera gozavam de status oficial.

Quanto aos israelitas, alguns resistiam (1Rs 19,18), outros se


tornavam pagãos, mas a maioria oscilava entre as duas correntes (cf.
18,21).

Como Jezabel encontrasse resistência à sua política, perseguiu os


javistas leais, visando sobretudo os profetas de Iahweh. Muitos profetas
foram mortos, mas alguns cederam à pressão e contentaram-se em dizer
apenas o que o rei gostava de ouvir (cf. 22,1-28).

Elias e o movimento de resistência dos camponeses

Origianario de Tesbi, região do Gallad a leste do Jordão, que não


era uma terra de antiga civilização cananéia, mas que fora colonizada por
israelitas e conservara a sua fé em Iahweh mais pura, Elias se escandaliza
e se indigna com o sincretismo religioso existente em Israel e sobretudo
frente à pratica religiosa de Acab e Jezabel e as injustiças sociais que daí
decorriam.
Elias representa, pois, a insatisfação, o descontentamento dos
camponeses frente à centralização política e econômica da Samaria que
ameaça o regime da “herança”, sistema de produção das famílias
camponesas. E esta política centralizadora tem como cimento ideológico o
culto a Baal.

Iahweh era cultuado ainda que de maneira sincrética no campo, mas


na corte e nas camadas superiores da população urbana venerava-se Baal.
Elias vai chamar a atenção do povo, no Carmelo, para a incompatibilidade
entre o culto de Baal e as antigas tradições javistas de Israel. (1Rs 18,17-
40). Não existe aqui uma luta apenas para saber qual é o Deus do Monte
Carmelo. A luta atinge todos os níveis da sociedade. Elias se apóia na
tradição mosaica da Aliança. E o modelo de sociedade baseado na Aliança
está em oposição ao modelo centralizador e explorador alicerçado pela
ideologia cananéia do baalismo. Nesta luta por Iahweh e contra a
exploração da cidade sobre os camponeses, Elias é ajudado pelos “filhos
dos profetas”, pelos recabitas, pelos levitas do interior que serviam nos
santuários fiéis a Iahweh.

Aos poucos, foi crescendo a opinião contra os partidários de Omri e


Acab, provavelmente quando se ampliou a distancia entre ricos e pobres, de
modo que outros elementos iam se integrando à resistência popular.
Quando finalmente, o exercito aderiu ao movimento de resistência, no
tempo de Eliseu, a dinastia omrida desmoronou do trono em 842 a.C.,
condenando à morte a família de Omri e os adoradores de Baal.

É também desses meios de resistência que surge uma produção


ideológica e literária de suma importância para a tradição religiosa posterior
tanto de Israel como de Judá. Nesta época se deu a redação do Código da
Aliança (Ex 20-23) que visava à proteção do estilo camponês contra a
política e o culto da cidade. Mostra que a adoração a Iahweh é a garantia
fundamental do modelo “Israel”.

Os levitas e profetas deste período elaboraram também a síntese


histórico – teológica encontrada no documento eloista (E), que conserva a
tradição tribal, promove os profetas e defende a identidade do Povo
libertado por Iahweh da escravidão.

Este movimento de resistência e luta ideológica contra o baalismo é


uma das raízes do movimento deuteronomista que terá como grandes
representantes Oséias e Jeremias.

O profeta Amós
1. Sua pessoa

Amós, cujo nome significa “Iahweh sustenta”, nasceu em Técua,


uma cidade pequena a cerca de 17 Km a sudeste de jerusalém, capital do
reino de Judá. Portanto, embora tenha pregado no Norte, era judaíta.
Desconhecemos quando nasceu e quando morreu. Camponês: pastor de
gado miúdo (Am 1,1), vaqueiro e cultivador de sicômoros (7,14), tampouco
se pode saber se era proprietário dos rebanhos ou se estes estavam
simplesmente confiados a seus cuidados. O certo é que Amós conhecia de
perto o drama vivido por pessoas pobres e exploradas. Muitas delas
procuravam trabalho em outros lugares, empurrados pela fome e atraídos
pela propaganda oficial (Am 2,4). Como ele mesmo afirma, não tinha
nenhuma relação com a profecia ou com os grupos proféticos, mas Iahweh
o envia a profetizar em Israel (3,8).

2. Seu ambiente

em Judá, seu país de origem, estavam acontecendo coisas ruins,


pois as leis que defendiam uma sociedade fraterna baseada na fidelidade a
Iahweh não eram mais respeitadas. (Am 2,4). Em pior situação de
opressão, porém, encontrava-se a sociedade do reino de Israel. Havia
divisões, roubos, corrupção, exploração, religião falsa, dominação. Um
intenso comércio nacional e internacional alimentava o forte aumento do
consumo e grandes construções. Mas tudo isso se dava em favor de uma
minoria e às custas da maioria do povo. As grandes vítimas de toda essa
situação eram os pobres, sobretudo os camponeses, os pequenos
proprietários e os lavradores sem terra.

3. Contexto histórico

Amós exerceu o seu ministério, durante a segunda metade do reino


de Jeroboão II (782-746 a.C.: Am 1,1;7,9ss), período de grande
prosperidade, de modo que podemos situar sua atividade profética entre
760 e 750 a.C.

a) Contexto histórico internacional

Na segunda metade do século nono, Israel sofrera a pressão e


dominação de Damasco que tinha como rei Hazael (842-806). Esta situação
é mostrada nos relatos sobre o profeta Eliseu (2 Rs 8,7-15). Livre da
ameaça assíria durante quase uma geração (de 837 a 802 a.C), o rei de
Damasco combatera livremente contra Iarael que logo perdeu todo o
território da Transjordânia (2 Rs 10,32ss; Am 1,3) e foi reduzido a condição
de Estado tributário. Os exércitos de Damasco também ocuparam a planície
costeira até a região dos filisteus, cercaram e tomaram Gat e só não
invadiram Judá porque este lhe pagou pesado tributo ( 2 Rs 12,17ss).
A situação mudara repentinamente, quando Adad-nirari III (811-784),
tornou-se rei da Assíria e fez várias campanhas contra os estados arameus.
Aproximadamente em 802 a.C, ele conquista Damasco, aniquila seu poder
e submete seu rei Benadad II a pesados tributos. O golpe que feriu
Damasco não atingiu Israel com tanta violência. Adad-nirari não foi capaz
de dar continuidade a seus triunfos, pois teve que manter a ordem em
outras partes de seu império.

b) Situação interna de Israel e Judá

livres da dominação de Damasco e, temporariamente, das investidas


da Assíria, os dois estados irmãos, Israel e Judá conheceram um período
de progresso sob os longos reinados de Jeroboão II (786-746) e Ozias (783-
742) respectivamente. Jeroboão foi uma das figuras militares mais
importantes da historia do reino do Norte. Israel desfrutava ba época de
prosperidade política, econômica e cultural e podia se orgulhar de
importantes sucessos (Am 6,1-13). Jeroboão II conseguiu colocar as
fronteiras de Israel no período salomônico, na entrada de Hamat. Parece
também que conseguiu expulsar moabitas e amonitas do território israelita e
controlá-los severamente.

Na mesma época, reinava em Judá, Ozias (2 Rs 14,22) e reaberto


para o comercio com o sul. O Negueb e o deserto do sul estavam sob seu
controle. Conquistou ainda Gat, Jabneel e Asdod, construindo cidades em
território filisteu.

Na metade do século oitavo, as dimensões de Israel e Judá juntos


eram quase as mesmas do Império de Salomão. As vias de comercio
despejavam rios de riquezas em ambos os países. Os esplendidos edifícios
e as caras incrustações de marfim de origem fenícia e damascena,
provenientes de Samaria mostram que Amós não exagerava ao falar do
luxo de que vivia cercada a alite de Israel. Em ambos os países a população
alcança o máximo crescimento no século oitavo, com muitas cidades
passando além de suas muralhas.

Ozias procurou desenvolver os recursos econômicos e agrícolas do


país e o deserto do Negueb foi mais intensamente colonizado neste período
que qualquer época anterior.

c) A situação social de Israel

o livro de Amós nos ajuda a enxergar a sociedade israelita deste


período de maneira mais profunda e deixa bem claro que, apesar de sua
aparência de riqueza, encontrava-se num avançado estágio de decadência
social, moral e religiosa.

Desintegração social de Israel


Quase nada sabemos da administração do Estado por Jeroboão II,
porém é o certo é que a condição do cidadão humilde era
desnecessariamente pesada e o Estado nada fazia para aliviar.

A sociedade estava marcada por flagrantes injustiças e chocante


contraste entre os extremos de riqueza e pobreza. O pequeno lavrador
achava-se muitas vezes nas garras dos usurários e, caso ocorresse uma
seca ou perdesse uma colheita (Am 4,6-9), perdia suas terras e, quando já
não tinha terra, era submetido à escravidão.

O sistema tornava-se mais cruel em virtude da ganância dos ricos


que se aproveitavam do estado de miséria dos pobres para ampliar suas
posses, falsificando peso e as medidas e torcendo o direito (Am 2,6ss; 5,11;
8,4-6). As praticas ilícitas eram encontradas em toda parte pois os Juizes
deixavam-se subornar (Am 5,10-12). Os pobres não tinham a quem
recorrer. A estrutura social de Israel tinha passado por uma mudança
radical. Antes, uma estrutura social unificada; agora a monarquia, com a
toda organização exigida pela coroa, criou uma classe privilegiada,
enfraqueceu os laços tribais e a solidariedade. A incorporação de muitos
cananeus que anteriormente não estavam integrados no sistema tribal dera
a Israel uma massa de cidadãos que pouco compreendiam a aliança e a lei
da Aliança.

Por volta do século VIII, embora o javismo continuasse a religião nacional


com seu culto superficial à aliança com Iahweh, a lei da aliança na prática
chegara a significar muito pouco.

Decadência religiosa no norte

A desintegração social acompanhou de perto a decadência religiosa.


Embora os grandes templos estivessem cheios de adoradores e fossem
generosamente mantidos por eles (Am 4,4ss; 5,21-24), o javismo em sua
forma mais pura já não era mais praticado. Muitos santuários locais eram
abertamente pagãos, com o culto da fertilidade e seus ritos degradantes,
sendo praticados em toda parte (Os 1-3; 4,11-14). Parece que até a religião
oficial do Estado tinha absorvido ritos de origem pagã (Am 2,7ss; 5,26) e
dado ao culto função de aplacar a divindade com rituais e sacrifícios para
assegurar a paz do status quo.

Os sacerdotes do culto do Estado eram oficiais e grandes homens


do Estado que não podiam censurar a situação (Am 7,10-13). Também
parerce ao ter havido nessa época reprovação enérgica das ordens
proféticas que nunca hesitaram no passado em resistir ao Estado em nome
de Iahweh. Parece até que, como um grupo, os profetas tinham mergulhado
numa corrupção geral e se tinham tornado profissionais interessados em
suas retribuições. (Am 7,12; Mq 3,5.11)
Reinava em Israel um estado de otimismo, em parte pela força da
nação e pelo horizonte internacional desanuviado naquele momento. A
religião tinha sido pervertida pois o povo acreditava numa proteção
incondicional de Iahweh a favor da nação (Am 3,1aa; 9,7) independente das
obrigações impostas pelo favor de Iahweh. (Am 2,9-12). A obrigação da
aliança era concebida como uma questão puramente de culto que estava
sendo satisfeita com um ritual sofisticado e com a generosa manutenção
dos santuários nacionais.

Quanto ao futuro, confiavam na vinda do dia de Iahweh. Amós vai


desmascarar esta falsa confiança. (Am 5,18-20).

3. Estrutura do livro de Amós

sem contar levar em conta o título de conjunto da obra (Amós 1,1-2),


o livro se divide em três partes:

a) 1,3-2,16: conjunto de oráculos de julgamento dirigidos a Israel, Judá e as


nações vizinhas. Em relação aos outros povos as acusações visam a seu
comportamento na condução da guerra e negócios internacionais. Em
relação a Israel se referem ao comportamento dos israelitas entre si.

b) 3-6: oráculos dirigidos a Israel, visando a injustiça, ao luxo, a exploração, a


corrupção dos tribunais e ao culto.

c) 7-9,10: seção organizada em torno de cinco visões construídas mais ou


menos do mesmo modo. Depois das três primeiras, aparece uma narração
autobiográfica, relatando a disputa de Amós com o sacerdote Amasias, no
santuário de Betel. A quarta visão, 8,1-3, é seguida de uma série de
oráculos destinados a justificar e explicitar o castigo anunciado na visão. A
quinta visão (9,1-4) é seguida de uma doxologia e de uma palavra
identificando o Êxodo com as migrações de outros povos. (9,7) e dois
pequenos oráculos sobre o fim de Israel e o anuncio do exílio (9,8; 9,9-10).

9,11-15: conclusão do livro é considerada pela maioria dos autores como


posterior. Trata da restauração da dinastia davídica e a conquista de Edom.
Mesmo as doxologias (4,13; 5,8; 9,5-6) são consideradas por muitos como
acréscimos posteriores.

http://teologiaon-line.blogspot.com.br/2012/02/o-profetismo-no-antigo-
testamento.html

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