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Vistos.
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de reclusão e quarenta dias-multa. Seguindo adiante, e aqui está a
motivação deste habeas corpus, condenou ainda o paciente como
incurso no art. 157, § 3º, parte final (roubo com resultado morte –
latrocínio), a vinte e três anos de reclusão e cem dias-multa.
Agindo assim, o ilustre magistrado violou de forma
irremediável o salutar PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ENTRE
ACUSAÇÃO E SENTENÇA, pois condenou o paciente por um crime
não narrado na denúncia, e que por isso mesmo sequer foi objeto de
capitulação na peça inaugural da ação penal. Apesar de fazer referência
ao fato na denúncia, a Promotora de Justiça definitivamente não
imputou tal acusação (de latrocínio) aos réus, até mesmo porque na
promoção pugnou pela continuidade das investigações para apurar a
origem do projétil que ceifou a vida da menor Gabriela.
Mas não é só isso.
Em sede recurso de apelação exclusivo da defesa,
que visava entre outros pleitos combater a ilegalidade perpetrada pelo
douto magistrado, que julgou ultra petita, o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro proferiu acórdão (doc. 4) que mais uma vez
deixou pasma a defesa. A Corte Estadual entendeu que assistia razão à
defesa, mas não para adequar a pena imposta em consonância com o
Princípio da Correlação entre Acusação e Sentença, mas para
anular a decisão de primeiro grau e determinar que os autos
baixassem à Vara de origem para que fosse observado o disposto
no art. 384 e seu parágrafo único do CPP (mutatio libelli).”
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acusação. A sentença transitou em julgado para o Ministério
Público!
O verbete nº 160 dessa Corte Suprema também aponta
na linha de corroborar as alegações aqui ventiladas.”(fls. 10/14)
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A r. sentença apelada não analisou somente os fatos
descritos na denúncia, mas ampliou a incidência dos mesmos, e,
conseqüentemente acabou por condenar os ora apelantes por um crime
do qual não tiveram oportunidade de defesa, de modo que faz-se
necessária a anulação do decisum, para que, na vara de origem,
cumpra-se o que determina o artigo 384, parágrafo único, do Código de
Processo Penal.
Pelo exposto, acolhe-se a preliminar suscitada pelas
defesas e, em conseqüência, anula-se a r. sentença atacada,
determinando a baixa dos autos à vara de origem para que se cumpra o
disposto no parágrafo único do artigo 384, do Código de Processo
Penal” (fls. 48/49).
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“Art. 384. Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova
definição jurídica do fato, em conseqüência de prova existente nos autos
de circunstância elementar, não contida, explícita ou implicitamente, na
denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a defesa, no
prazo de 8 (oito) dias, fale e, se quiser, produza prova, podendo ser
ouvidas até três testemunhas.
Parágrafo único. Se houver possibilidade de nova
definição jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz
baixará o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a
denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado o
processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o prazo de
3 (três) dias à defesa, que poderá oferecer prova, arrolando até três
testemunhas”
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Na hipótese vertente, o evento em debate foi explicitamente descrito na
denúncia nos seguintes termos: “Um dos disparos provenientes da troca de tiros retro
referida, veio a atingir a menor GABRIELA PRADO MAIA RIBEIRO, que descia as
escadas juntamente com a vítima LUIZ CARLOS, tendo sido o ferimento por ela sofrido
a razão de sua morte, conforme positivado pelo AEC acostado às fls. 77” (fl. 18).
Em princípio, todavia, essa circunstância não descarta a aplicação do
instituto. Isso porque, apesar de previamente conhecida a morte da menor que se
encontrava no local, houve, aparentemente, uma deliberada opção do Ministério
Público em não imputá-la ao réu, ao menos em um primeiro momento. Observe-se
que, conforme trecho já reproduzido acima, a denúncia oferecida inicialmente apenas
mencionou que a menor teria falecido na “troca de tiros”, sem apreciar quem a teria
atingido.
Confira-se, a propósito, a seguinte passagem do acórdão prolatado no
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:
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Dessa forma, se o juiz, com base na instrução probatória, reconheceu a
existência de roubo qualificado pelo resultado morte que não foi objeto da acusação,
afigura-se presente, ao menos em um juízo de cognição sumária, o pressuposto
autorizador da mutattio libeli.
Além disso, como bem observado pelo Superior Tribunal de Justiça, a
anulação da sentença proferida sem a observância das formalidades previstas no
artigo 386, caput e parágrafo único do Código de Processo Penal, para que outra
fosse proferida, não configuraria reformatio in pejus. Muito pelo contrário, a
providência parece apenas beneficiar o réu, já que vem resguardar o seu direito à
ampla defesa.
De outra parte, não é razoável sustentar, neste momento, a concessão
da liminar pleiteada na alegada ofensa à Sumula nº 160/STF, com a seguinte redação:
“É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso
da acusação, ressalvados os casos de recursos de oficio”. Em primeiro lugar porque,
como já destacado, o reconhecimento da nulidade da sentença não parece ter vindo
em prejuízo do réu. Em segundo lugar a invalidez da sentença foi expressamente
requerida pela defesa no recurso de apelação interposto, embora com fundamentação
diversa.
A concessão de liminar em habeas corpus, como se sabe, constitui
medida de caráter excepcional, justificada apenas quando a decisão impugnada estiver
eivada de ilegalidade flagrante, demonstrada de plano. Isso, porém, não sucede na
hipótese vertente.
Ante o exposto, indefiro a liminar.
Dê-se vista ao Ministério Público.
Renumerem-se as folhas dos autos, já que a primeira folha iniciou com o
número “09”.
Brasília, 14 de setembro de 2007.
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Relator
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