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O Processo de Abstracao Estetica e A Crise Do Movimento Moderno Na Arquitetura PDF
O Processo de Abstracao Estetica e A Crise Do Movimento Moderno Na Arquitetura PDF
Moderno na Arquitetura
Abstract: The present paper explores the aesthetic elements that shaped the modern
movement in architecture. From the context of Enlightenment, the philosophical concepts of
Descartes and the scientific concepts that materialized in the early twentieth century,
architecture has expressed an aesthetic based on the principles of rationality, mechanization,
purity and geometric abstraction. These factors led to a moment of crisis in architecture, that I
call "aesthetic austerity", that is an emptying of meaning of the architectural work and the
person who had enjoyed it.
Keywords: Aesthetics, Architecture, Modernism.
Introdução
1
Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e graduando em Arquitetura e
Urbanismo pelo Centro Universitário Ritter dos Reis / e-mail: rodrigoscheeren@gmail.com
O termo “moderno” que utilizo neste texto é datado, emerge do formulado “projeto da
modernidade” no Iluminismo dos séculos XVII e XVIII, relacionado ao período do
florescimento do capitalismo de base industrial, principalmente dos mecanismos da
Revolução Industrial, e suas significativas mudanças sociais, científicas e estéticas. O que
caracteriza o período das Luzes é a valorização do homem, a profunda crença na Razão
Humana e suas faculdades para exercer a autorreflexão - o momento em que a
autoconsciência invadiu a experiência. Após a Idade Média, a humanidade passou por uma
inflexão metafísica, ou seja, tornamo-nos ávidos pela figura do homem, originado na sua
conceituação como animal racional (RÜDIGER, 2006, p. 42). A tentativa de determinar
racionalmente os meios instrumentalizados mais eficientes para se alcançar um fim, acabou
levando a consequências fundamentais na concepção cultural, artística e arquitetônica da
época.
O filósofo Jürgen Habermas é sucinto na apresentação das diretrizes do projeto da
modernidade, esclarecendo as causas de separação da razão substantiva em três esferas
autônomas: a ciência, a moralidade e a arte.
objetiva, uma moralidade e leis universais, além de uma arte autônoma, todos de acordo com
sua lógica interna e afastados de formas esotéricas.
O projeto ditado pela suprema e inquestionável autoridade da Razão concebia que a
mesma pudesse fornecer critérios de legitimação sobre formas de conhecimento, e o filósofo
era a figura que representava a capacidade de legislar para a razão humana, atuando como
supremo porta-voz. Descartes e Kant foram figuras proeminentes dessa crença, segundo o
último, a razão não pode permitir que o nosso conhecimento permaneça num estado
desconexo, a metafísica elevaria a razão de seu estado bruto que é naturalmente dada para o
nível de sistema ordenado. As metáforas kantianas apresentam uma afinidade entre as
ambições legisladoras da filosofia crítica e as intenções planificadoras do nascente Estado
moderno; “os governantes modernos e os filósofos modernos foram primeiro e antes de mais
nada legisladores; eles descobriram o caos e se puseram a domá-lo e substituí-lo pela ordem”
(BAUMAN, 1999, p. 32). O Estado moderno nasceu como uma força empenhada em
submeter as populações dominadas a um exame completo e a transformá-las em uma
sociedade afinada com os preceitos da razão, ou seja, a sociedade racionalmente planejada.
O pensamento científico de Descartes e sua influência sobre o período moderno
ilustram, em boa parte, algumas das características já elencadas. No Discurso do Método,
publicado em 1637, o filósofo defendia a primazia da razão sobre todos os domínios da vida
humana. A ciência moderna desconfiava sistematicamente das evidências da nossa
experiência imediata e, portanto, era necessário um método para abandonar as meras opiniões.
Nas Meditações Metafísicas, o método da dúvida hiperbólica é apresentado com o intuito de
estabelecer fundamentos firmes e constantes nas ciências. Diferentemente da aritmética e da
geometria, citadas pelo autor como exemplos de considerações claras e distintas, em tudo o
que a razão encontrar o menor motivo de dúvida, bastará para ser rejeitado, pois os sentidos
nos enganam e deste modo é necessário que a atitude seja a de suspender o juízo.
O movimento cartesiano parte das ideias às coisas, “estabelece a prioridade da
metafísica enquanto fundamento último da ciência” (SANTOS, 1988, p. 50). O positivismo
científico impulsionado pela época concebe a natureza como algo composto de mecanismos
cujos elementos podem ser desmontados e posteriormente relacionados sob a forma de leis.
Desse modo, constituiu-se uma visão mecanicista da natureza que a considera um elemento
passivo, podendo ser dominada e controlada. Para obter-se tal resultado, as relações
matemáticas forneciam um profundo e rigoroso instrumento de análise, conjuntamente com a
própria lógica investigativa e modelo de representação da estrutura da matéria. Conhecer
significava quantificar, realizar medições com rigor, dividir2 e classificar para a determinação
de relações sistemáticas específicas. O que não se enquadrava nesses moldes, tornava-se
cientificamente irrelevante.
As leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como
funciona das coisas em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas. [...]
Um conhecimento baseado na formulação de leis tem como pressuposto metateórico
a ideia de ordem e de estabilidade do mundo, a ideia de que o passado se repete no
futuro. [...] Esta ideia do mundo-máquina é de tal modo poderosa que se vai
transformar na grande hipótese universal da época moderna, o mecanicismo. Pode
parecer surpreendente e até paradoxal que uma forma de conhecimento, assente
numa tal visão do mundo, tenha vindo a constituir um dos pilares da ideia de
progresso que ganha corpo no pensamento europeu a partir do século XVIII... [...] O
determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de conhecimento que se
pretende utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade de compreender
profundamente o real do que pela capacidade de o dominar e transformar (SANTOS,
1988, p. 51).
2
Vide o método cartesiano e seus pontos: “O segundo, dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em
tantas parcelas possíveis e que fossem necessárias para melhor resolvê-las” (DESCARTES, 2007, p. 55).
3
A explanação de Kant exemplifica tal esforço no §6 da Analítica do Belo, intitulado O belo é o que é
representado sem conceitos como objeto de uma complacência universal, no qual defende que um objeto de
complacência independe de todo interesse individual e que qualquer pessoa é capaz de complacência livre de
condições privadas. O belo não é uma qualidade do objeto, é aferido de um juízo estético e contém uma
referência da representação do objeto ao sujeito (1995, p. 56).
4
Movimento arquitetônico vigente desde meados do século XIX, caracterizado pela mistura de estilos
arquitetônicos do passado para a criação de uma nova linguagem arquitetônica.
estabelece “o contato absoluto entre os espaços interior e exterior.” (ZEVI, 1996, p. 121). As
divisões internas podem mover-se livremente, passando do plano estático para o livre e
elástico do edifício moderno. O espaço reassume “o desejo gótico da continuidade espacial e
do estudo minucioso da arquitetônica, não como sonho final dentro do qual se pode inserir o
elemento dinâmico, mas como consequência de uma reflexão social...” (ZEVI, 1996, p. 123).
As considerações funcionais superaram os ideais estéticos autossuficientes, concedendo
preferência à simplicidade dos elementos figurativos. As duas grandes correntes que surgiram
da arquitetura moderna foram o funcionalismo, que fez surgir a tendência do Estilo
Internacional, e o movimento orgânico. Ambas de caráter internacional, a primeira surgiu na
América, pela Escola de Chicago, desenvolvendo-se na Europa através de Le Corbusier; a
segunda com o estadunidense Frank Lloyd Wright, posteriormente se difundindo pela Europa.
“A arquitetura funcional respondeu, na América e na Europa, às exigências mecânicas da
civilização industrial; por isso proclamou os tabus do utilitarismo, isto é, da adesão ao
objetivo prático do edifício e à técnica” (ZEVI, 1996, p. 125). Já a arquitetura orgânica 5
responde às exigências funcionais mais complexas e às relações da psicologia do homem.
O acontecimento moderno foi representado, segundo Le Corbusier, pelas
consequências inquietantes das novas técnicas, através das quais deveríamos “despir” as
construções que eram, até então, nutridas pelo espírito escolástico decorativo. Segundo ele, a
estética do engenheiro deveria ser solidária à arquitetura, porém, enquanto a primeira
florescia, a última sofria regressão (LE CORBUSIER, 2006, p. XXIX). O engenheiro faz
arquitetura porque emprega um cálculo saído das leis da natureza, resultando em uma
harmonia que representa certa estética por conjugar precisão e cálculo, qualificando certos
termos da equação. Segundo ele, são três os elementos que devem ser lembrados: o volume, a
superfície e a planta.
A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz.
Nossos olhos são feitos para ver formas sob a luz; as sombras e os claros revelam as
formas; os cubos, os cones, as esferas, os cilindros ou as pirâmides são as grandes
formas primárias que a luz revela bem; suas imagens não são nítidas e tangíveis, sem
ambiguidades. É por isso que são belas formas, as mais belas formas (LE
CORBUSIER, 2006, p. 13).
5
Também denominada organicismo, tende a considerar as pessoais e os conjuntos de pessoas como organismos
vivos, através de suas necessidades e da convicção de que a construção os influencia psicologicamente, sendo
Wright e Alvar Aalto seus mais reconhecidos representantes.
6
Como o utópico plano Voisin, previsto enquanto enorme intervenção no centro de Paris, a fim de planificar e
sistematizar uma grande área de modo homogêneo contendo grandes arranha-céus.
7
Le Corbusier visitou o Brasil em 1929, ao retornar de visita à Argentina, havendo proferido palestras na Escola
Nacional de Belas-Artes, convencendo indiretamente ao mestre Lúcio Costa a respeito da adoção da linguagem
moderna na arquitetura. Em 1936, veio atendendo à solicitação oficial, de prestar consultoria no projeto do MES
no Rio de Janeiro, entre outras importantes atividades na área urbanística e arquitetônica.
natureza, de que é, na verdade, a face oculta” (COSTA, 2005, p. 143). Quando a produção era
manual e, portanto, limitada, apenas poucos privilegiados podiam usufruí-la; com os avanços
tecnológicos, a produção industrializada acontecia em massa e com precisão, alcançando
maior número de pessoas.
8
Marco da arquitetura moderna no Brasil, o edifício do Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Gustavo
Capanema), no Rio de Janeiro, é o resultado do trabalho de um grupo arquitetos liderados por Lucio Costa
(1902-1998), do qual participam Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Carlos Leão (1906-1983), Jorge Moreira
(1904-1992), Ernani Vasconcellos (1909-1988) e Oscar Niemeyer (1907), todos afinados com as linhas mestras
do racionalismo arquitetônico e conhecedores da obra de Le Corbusier.
9
Arquiteto finlandês da vertente orgânica da arquitetura moderna do século XX.
conceitos, métodos e consequências? Teria sido somente com sua realização e o esgotamento
de suas crenças que nos tornamos capazes de perceber os efeitos colaterais do progresso, da
máquina e dos processos de planificação?
Portoghesi ressalta a situação dramática em que se encontra hoje a cultura
arquitetônica, dividida entre a necessidade de romper com seu passado próximo e a tentação
de extrair daí as matérias-primas com as quais possa construir seu próprio futuro. A produção
arquitetônica que identificamos unilateralmente com o mundo industrializado apresenta um
alto grau de compacidade e monotonia, obedecendo a regras consolidadas que levaram a cabo
“um processo de ‘homologação’ em escala mundial que impôs o mesmo padrão às culturas
mais diversas e fez de tudo para anular suas identidades” (PORTOGHESI, 2002, p. 22). A
decorrência desse funcionamento assegura-se devido à sólida aliança com a lógica produtiva
do sistema industrial. Seu nascimento ocorreu através der um processo analítico depurado de
todas as contaminações históricas e simbólicas intencionais que considerou o Racionalismo
como ponto terminal e síntese de esforços anteriores, “como a chegada definitiva da
sociedade industrial à sua expressão arquitetônica concreta” (PORTOGHESI, 2002, p. 23). Na
tentativa de firmar-se como tradição permanente, a arquitetura moderna atribuiu a si própria
um estatuto funcionalista que, segundo o autor, representa sobretudo um conjunto de
proibições, reduções e renúncias, não sendo apenas uma formulação ingênua da dependência
entre forma e função. Os arquitetos modernistas não repudiavam a história, mas os
revivalismos, pois se tratava de arredar tudo o que pudesse entravar essa arrancada para
frente. Para purificar a prática compositiva, o estatuto funcionalista prescrevia uma regressão
da matéria à ideia, uma revolução formal que só em parte correspondeu a uma revolução
metodológica.
Não cabe defender aqui que o universo da máquina perdeu a sua importância, mas que
não é suficiente para caracterizar a nossa sociedade e suas tendências de inovação como um
todo, pois as maiores conquistas científicas nos últimos tempos não dizem respeito ao
universo mecânico, e sim ao da informação e da comunicação. Ao nascer para combater o
desperdício dos ornamentos, a arquitetura moderna acabou transformando-se paradoxalmente
na arquitetura do desperdício: “um gigantesco mecanismo de consumo dos limitados recursos
da terra” (PORTOGHESI, 2002, p. 41). Em sua tendência à simplificação, a arquitetura
moderna despojou a forma de seu valor simbólico, transferindo-o para a matéria. A arquitetura
considerada em seu conjunto e a conformação do espaço urbano suscita exemplos como os de
Brasília e Estocolmo:
A cidade moderna, com seus princípios de planificação, afasta-nos “cada vez mais da
consciência de que a vida humana é parte indissociável de um ecossistema composto por
muitas e diversas formas de vida” (PORTOGHESI, 2002, p. 45). O autor apropria-se das
colocações de Jencks, que faz referência aos motivos que provocaram a obsolescência da
arquitetura moderna como o seu caráter intelectual e abstrato, e o fato de apoiar-se em
axiomas jamais verificados com as exigências reais dos homens, ao ser produzida para um
mítico homem moderno que só existiu na cabeça dos arquitetos (PORTOGHESI, 2002, p. 60).
Outro problema exposto é a univalência do projeto moderno, sua referência a um número
limitado de temas: a racionalidade da máquina, a produção industrial e a pureza elevada a
valor supremo.
É da atenção, atualmente renovada pela arquitetura como produto coletivo que nasceu
uma compreensão mais profunda do fenômeno “cidade”. Pode-se considerar que praticamente
desde o seu início a arquitetura moderna superestimou a sua capacidade de remodelar o
ambiente urbano, “um erro de cálculo formosamente expresso no arrogante utopismo inicial
de Le Corbusier. [...] Em suma, a unidade de forma e função que guiara o projeto modernista
tinha se dissolvido” (ANDERSON, 1999, p. 49). No lugar da abstração, insere-se a fantasia e
busca-se a vivacidade com o retorno da cor e da expressividade das formas. A arquitetura é
considerada não só como arte expressiva, mas também como disciplina da qual dependem a
qualidade do meio ambiente e da vida urbana, privilegiando-a como linguagem e meio de
transmissão de ideias. Ao enfrentar a ortodoxia do Movimento Moderno, a oposição de
Venturi se dirige aos arquitetos tecnológicos e homogeneizadores que inundam o horizonte,
escrevendo contra o puritanismo moral dos mesmos, que defendiam a separação de elementos
experiência estética moderna do qual não se pode escapar. A perda de tensão da arte
construtiva, vem da própria ideia de construção, que é contraditória, pois, ao aspirar
transformar-se em realidade sui generis, no entanto, deve a pureza de seus princípios às
formas funcionais e técnicas externas. Assim, a arte que se quer autônoma refletia no seu
conjunto as condições de desenvolvimento total da sociedade (ARANTES, 2001, p. 60). Só
podemos concluir, drasticamente, que não é possível dissociar o desenvolvimento da arte
moderna e da arquitetura moderna da sua forma de inserção no mundo de produção
capitalista. A utopia reformadora na origem desse momento na arquitetura é inseparável da
modernização desencadeada pelo desenvolvimento das forças produtivas: a mesma lógica de
modernização sistêmica que governa o elementarismo programático das formas simples, do
produto em série, das fachadas homogêneas, dos módulos e dos modelos. A utopia da
arquitetura moderna transformava-se no seu contrário à medida que procurava realizar a sua
essência mais verdadeira. Cabe perguntar se ainda devemos confiar ao conjunto desta
arquitetura tamanha responsabilidade de representação histórico-filosófica através da tarefa de
encarnar os desígnios supremos da razão ocidental.
A arquitetura moderna foi um caso exemplar da tentativa de reorganizar os grandes
antagonismos da sociedade capitalista através da racionalização do espaço, levando ao limite
a consagração do novo e acabando por dissolver as ambiguidades que preservavam a força
antagônica provinda da arte moderna. “De fato, o que ocorreu com essa florescência
modernista avançada foi ter estado sempre centrada nos conteúdos utópicos de uma sociedade
do trabalho, cujo ponto de referência na realidade se perdeu” (ARANTES, 2001, p. 27). A
estética do modernismo fordista que se apresentava pretensamente estável acabou cedendo
lugar à instabilidade de uma estética pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o
espetáculo e a moda. O pós-modernismo arquitetônico voltou-se para a recuperação de grande
parte do que o modernismo havia deixado para trás. Um dos traços mais evidentes do quadro
atual é, sobretudo, a fragmentação, que caracteriza “o que muitos filósofos contemporâneos
chamam de domínio da diferença” (ARANTES, 2001, p. 44), não das oposições binárias
clássicas, mas de uma realidade que implica diversidade indiscernível, que segue regras não
generalizáveis.
Considerações Finais
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Ludwig Mies van der Rohe, arquiteto alemão radicado nos Estados Unidos, um dos principais nomes da
arquitetura do século XX.
Além disso, o ser que a usufruía foi considerado por muitos arquitetos como um ente
genérico, caracterizado pela figura do homem abstrato na figura do “modulor” de Le
Corbusier. As contradições internas do Movimento Moderno, na intenção de um establishment
baseado no mito do funcionalismo e em fundamentos metafísicos, levaram a um momento de
crise acerca da continuidade de determinadas crenças em tal sistema.
Há muita insistência, ainda hoje, na manutenção de tais “fundamentos sólidos” para a
concepção de modelos na arquitetura. O modernismo arquitetônico, pensado como um
sistema que supera estilos, planifica, tem alcance universal e é signo do progresso, acaba por
posicionar-se de modo dogmático sobre a heterogeneidade de expressões culturais. É fato que
a tecnologia persiste como ideologia universal em relação às possibilidades de solucionar
diversos problemas e, assim, é destino inevitável da confiança em melhorias e
desenvolvimento. Entretanto, o que deve ser repensado é o modo como ela é aplicada em
relação à vida. Se, na questão da arquitetura, ela é satisfatória quando tão somente é utilizada
para reduzir o homem a um ente genérico e propor construções seriadas ou padronizadas para
seres tão distintos. O espaço e o modo com que nos relacionamos com as construções
alteraram-se devido ao modo de vida contemporâneo. Criaram-se novas necessidades,
tipologias e programas que exigem um pensamento amplo, transdisciplinar e heterogêneo para
satisfazer qualitativamente através de uma estética que compreenda a diversidade de situações
ideológicas e materiais que enriqueçam o contexto no qual a arquitetura é inserida.
Referências
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