Texto 8 - O controle de armas de fogo no arma de fogo.
Basta ver que, em 1995, o número de
Brasil homicídios por armas de fogo representavam 60% Em mais um ataque com armas de fogo nos do total; em 2005, 70%; e em 2015, 72%. Ou seja, Estados Unidos (EUA), o jovem Nikolas Cruz enquanto nos primeiros dez anos a proporção invadiu um colégio em Parkland, na Flórida, e subiu 10 pontos percentuais, nos últimos dez, matou 17 pessoas a tiros na última quarta-feira depois do Estatuto, o crescimento foi de apenas 2 (14). O episódio trouxe de volta o debate sobre o pontos percentuais. controle de armas nos EUA. A Segunda Emenda da O PROJETO PARA REVOGAR O Constituição norte-americana garante “o direito ESTATUTO das pessoas a manter e portar armas”. No entanto, O projeto de lei que atualmente corre na com os constantes massacres envolvendo armas de Câmara e no Senado propõe revogar o Estatuto do fogo, aumenta a pressão para que o seu acesso seja Desarmamento, substituindo-o por um novo, que, mais limitado. se aprovado sem alterações trará grandes No Brasil, onde há restrições para a compra de mudanças no controle das armas. Algumas das armas, a pressão vai no sentido contrário. Com o principais alterações previstas são: aumento da violência, cresce a demanda de parte – a licença para porte passará a ser definitiva, e da sociedade para flexibilizar essas restrições. para qualquer cidadão com idade mínima de 21 Entenda os principais pontos do debate: anos (hoje essa idade é de 25 anos); MORTES POR ARMA DE FOGO – qualquer cidadão poderá ter legalmente uma O Brasil está entre os países em que mais se arma, bastando atender a alguns requisitos mata com armas de fogo. Os números mais atuais básicos, como ter emprego, residência fixa e consolidados constam do Atlas da Violência 2017. certificado de capacidade técnica. Armas estão A cada 100 assassinatos registrados em 2015, 72 liberadas até para condenados na justiça por foram executados por tiro. Na Europa, essa crime, desde que o crime não seja doloso. proporção é de pouco mais de 20 pessoas a cada MAIS ARMAS, MAIS HOMICÍDIOS cem. E a tendência brasileira não é de recuo – entre Quem defende a flexibilização das normas 2005 e 2015 houve um crescimento de 25%. justifica-as a partir do crescimento da violência no ESTATUTO DO DESARMAMENTO país nos últimos anos e da incapacidade do estado O Estatuto do Desarmamento é uma lei de garantir a segurança do cidadão – a posse de federal que está em vigor desde 2003 e foi criada armas seria uma garantia do direito à autodefesa. com o objetivo de restringir o comércio e o porte Mas, para entidades e organizações que combatem de armas. Um dos artigos mais radicais do estatuto a violência, esse abrandamento nas restrições vetava a comercialização de armas e munição ao atende a interesses econômicos de grupos ligados cidadão comum. Mas o próprio texto do estatuto à indústria de armamento. previa, para 2005, a realização de um referendo Além disso, argumentam que a popular. Naquele ano, a população respondeu sim disseminação das armas nas mãos de um número ou não à questão da proibição da venda em todo o maior de pessoas só aumentaria o número de território nacional – 64% dos eleitores votaram homicídios. Em vez de inibir a ação do criminoso, pela não proibição. o porte de armas estimularia ainda mais o Com isso, as armas continuaram a ser confronto, potencializando a chance de vítimas. vendidas no país, mas com restrições. Podem ter Estudos mostram que o aumento no número de arma de fogo determinadas categorias homicídios é diretamente proporcional à profissionais (fundamentalmente policiais, proliferação de armas de fogo – a cada 1% de agentes penitenciários e agentes das Forças crescimento no número de armas, a violência sobe Armadas) e cidadãos comuns que comprovem 2%. necessidade de porte, mediante a apresentação de atestados que comprovem capacidade psicológica, bons antecedentes criminais e habilidade para lidar com o armamento. MODIFICAÇÕES NO ESTATUTO Ao longo dos 14 anos de vigência, o Estatuto sofreu diversas modificações, no geral, abrandando as exigências. Algumas dessas mudanças ocorreram recentemente, por decretos do presidente Michel Temer, que ampliaram a validade da licença para porte de armas para civis, de três para cinco anos, e de três para dez anos, a validade do documento que comprova capacidade técnica. Mesmo com as modificações, o Estatuto teve o poder de desacelerar o avanço da violência com