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QUARTA EDIÇÃO

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PUC-SP Campus Perdizes

MOVIMENTO)]
Ernest Mandei é considerado, sobretudo
na Europa. um dos analistas mais conscientes
do marxismo, suaevolução histórica, suas
alternativas e possibilidades do mundo de
hoje. A esta altura, INTRODUÇÃO AO
MARXISMO é um livro clássico, indispensável
a todos aquelesque querem ter uma idéia
aprofundada sobre este assunto, tão
controverso e debatido.

Mais um livro de valor da


EDITORA MOVIMENTO
!

INTRODUÇÃOAO MARXISMO

Ernest Mandeié conhecido, hoje, coma


um dos historiadores europeus mais
importantes e com o instrumental
adequado para uma análise das
estruturas sociais que definem o quadro
social, Político. cultural e económico
da atualidade.
Este último trabalho, ora lançado
entre nós, visa mostrar os
condicionamentos da infra e
superestrutura a que o homem esteve INTRODUçÃOAOMARXISMO
sujeito, as lentas transformações
ocorridas na suatrajetória histórica
semjamais, no entanto, fazer abstrações
das condições sociais do trabalho.
O tipo de abordagem que Ernest
Mandei faz da desigualdade social e da
luta de classesno decorrer da história
é límpida, transparente, sem
complicações ou teorizações
desnecessárias. Fruto de uma longa
experiênciamagisterial,a leitura do
livro encantaporquetudo é dito com
bom humor. iluminando e
interpretando os complexos caminhos
da emancipação humana, quando
mostra,entre outras coisas.o Estado
como instrumento da dominação de
classesou, ainda, quando analisa os
modos de produção em suas várias e
diferentes etapasatravés dos tempos.
Em sua análise da economia capitalista.
aprofundando sobretudo a problemática
dos monopólios e oligopólios atuais, e
na abordagem das perspectivas que se
abrem no processo histórico, Ernest
Mandei pretende tornar intelig ível
aquilo que na aparência é tão complexo
e caótico. O autor consegue uma
interação da história e da economia.
clarificando, deste modo, uma série de
problemas tidos como naturais. eternos
e imutáveis, aparentemente fora do
alcance do homem. o verdadeiro
fabricante da história.
A leitura de/ntroduçáb ao /Idarxiimo
deixará o leitor mais consciente e com
novas perspectivas sobre os problemas
que o atingem diariamente. Mais que
um modelo de análise marxista. este é
um livro que discute. analisae ilumina
os problemas fundamentais da nossa
opaca;

EDITORAMOVIMENTO
ERNEST MANDEL

Coleção Diabética
volume 7

INTRODUÇÃO AO MARXISMO

Tradução de Marçano Soarem

QUARTAEDIÇAO

biblioteca\
NadarGouvéa Kfour
PUc-SP

BIBLIOTECA
NGK- PUC/SP

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100310139

EDITORA MOVIMENTO
Capa
Peter Pellens S\JMARIO

Revisão
(: Klimesch

l A DESIGUALDADE SOCIAL E AS LUTAS SOCIAIS ATRAVES


DAHISTORIA
1. A desigualdade social na sociedade capitalista conteporânea 9
}

2. A desigualdade social nas sociedades anteriores 10


3. Desigualdade social e desigualdade de classe 11

4. A igualdade social na pré-história humana 12

PRGC€0 iÜ;'l' 5. A revolta contra a desigua]dadesocial atravésda história 13


6. As lutas de classeatravés da história 14

11 AS ORIGENS ECONÓMICAS DA DESIGUALDADE SOCIAL

1. As comunidades primitivas baseadasna pobreza 16

2. A revolução neolítica 16
3. Produto necessário e sobre-produto social 17
4. Produção e acumulação 18
5. A causado fracassode todas as revoluções igualitárias do
19
passada

111 O ESTADO, INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO DE CLASSE


1. A divisão socialdo trabalho e nascimento do Estado 21
/ 2. O Estado a serviço das classesdominantes 22

3. Coação violenta e integração ideológica 23


25
4. Ideologia dominante e ideologias revolucionárias
5. Revoluçõessociais,revoluções políticas 25

1982
lv DA PEQUtNA PRODUÇÃOMERCANTIL AO MODO DE
Direitos desta tradução reservados à
Editora Movimento PRODUÇÃOCAPITALISTA
Repíiblica, 130 Fine 24 5178 1. Produção para satisfação das necessidadese produção para
Porto Alegre -- RS -- Brasil troca 27

2. A pequena produção mercantil 28


3. A lei do valor 28
29
4. O aparecimento do capital
5. Do capital ao capitalismo 30
6. O que é a mais-valia? 6. As diferentes formas de organização do movimento operário 62
31
7. As condições de aparecimento do capitalismo moderna 7. A Comuna de Pauis 62
33

V - A ECONOMIACAPITALISTA lx REFORMAS E REVOLUÇÃO


1. As particularidades da economia capitalista L Evolução e revoluções da história 63
34
2. O funcionamento da economia capitalista 2. Evolução e revoluções no capitalismo contemporâneo 64
35
3. A evolução dos salários 3. A evolução do movimento operário moderno 65
36
4. As leis de evoluçãodo capitalismo 4. O oportunismo reformista 66
38
5. A necessidadede um partido de vanguarda 67
5. As contradições inerentes ao modo de produção capitalista 41
6. Os revolucionários e a luta pelas reformas 68
6. As crises periódicas de sobre-produção 41

VI OCAPITALISMODOSMONOPÓLIOS
X DEMOCRACIA BURGUESA E DEMOCRACIA PROLETÁRIA
1. Da livre concorrência aos acordos capitalistas 43 70
1. Liberdade ecanâmica e liberdade política
2. As Concentrações bancárias e o capital Ihanceiro 44
2. O Estado burguês a serviço dos interesses de classedo ca-
3. Capitalismo dos monopólios e capitalismo de livre-concor. 71
renda pital
45 72
4. A exportação de capitais 3. Os limites das liberdades democráticas burguesas
45 73
5. Pises imperialistas e paísesdependentes 4. Repressão e ditaduras burguesas
47 75
6. A era do capitalismo tardio 5. A democracia proletária
47

Vll - O SISTEMA IMPERIALISTA M(.JNDIAL xl A PRIMEIRAGUERRAIMPERIALISTAE A REVOLUÇÃORUSSA


1. 0 movimento operário internacional e a guerra imperialista 77
L A industrialização capitalista e a lei do desenvolvimento de-
sigual e combinado 2. A guerra imperialista desembocana crise revolucionária 78
50
3. A revolução de fevereiro de 1917 na Rússia 79
exploração dos países coloniais e semicoloniais pelo 80
capital imperialista ' 4. A teoria da revolução permanente
51
81
3. O "bloco de classes" na poder nos países semicoloniais 5. A revolução de Outubro de 1917
53 81
4. O movimento de libertação naciona! 54 6. A destruição do capitalismo na Rússia
5. O neocolonialismo
55
Xll OESTALINISMO
83
Vlll 1. 0 fracasso do ascenso revolucionário de 19 18-23 na Europa
- AS ORIGENS DO MOVIMENTO OPERÁRIO MODERNO 2. O ascenso da burocracia soviética 84
1.A luta de classeelementar do proletariado 3. Natureza da burocracia, natureza social da URSS. 86
58
87
2. A consciência de classeelementar do proletariado 59 4. O que é o estalinismo?
3. O socialismo utópico ' 5. A crise do estalinismo 89
59
4. O nascimento da teoria marxista 6. As reformas económicas 89
60
5. A Primeira Internacional 7. O maoísmo 91
61
Xlll
DAS LUTAS CORRENTES DE MASSAS À REVOLUÇÃO
SOCIALISTAMUNDIAL

1. As condiçõesde vitória da revolução socialista 93 l A DESIGUALDADE SOCIAL E AS LUTAS SOCIAISATRAVES DA


2. A construção da IV Internacional 94 HISTORIA
3. Reivindicaçõesimediatas e reivindicações transitórias 96
4. Os três setores da revolução mundial de hqe 96
5. Democracia operária, auto-organização das massase revolu.
ção socialista 1. A desigualdadesocial na wciedade capitalista contemporânea
97

XIV - A CONQUISTA DAS MASSAS PELOS REVOLUCIONÁRIOS Existe na Bélgicauma pirâmide da fortuna e do poder social.Na base
desta pirâmide encontra-se um terço dos nossoscompatriotas, que não pos-
1. A diferenciação política no seio do proletariado 100 suem nada além daquilo que ganham e despendem,ano após anui não têm
2. A frente única operária contra o inimigo de classe 102 possibilidade de fazer economias nem de adquirir bens. No vértice desta pirâ-
3. A dinâmica ofensiva da Gente "classe contra classe' mide encontram-se guelra r Genro dos concidadãos que possuem metade
104
da fortuna privada da nação. Menos de um por cento. do/belgas possuem
4. Frente única operária e frente popular 105 maisde metade da fortuna mobiliária do país. Dentre eles,duzentas famdias
5. Independência política de classe e organização unitária de controlam as grandes sociedades/m/d!/«s+ que dominam o conjunto da vida
classe
106 económica nacional.
6. Independência de classee alianças entre as classes 107 Nos EstadosUnidos, um inquérito realizado em 1952 pelo Brookings
Institute deu os seguintesresultados: 130 000 pessoas,ou sda, 0,1 % da po-
- O ADVENTO DA SOCIEDADE SEM CLASSES pulação americana, possui 56 go do valor da Bolsa de todas as ações 3 Obriga-
ções emitidas por sociedades anónimas americanas. Dado que (à parte algu-
1. 0 fim socialista a atingir 109 mas exceções) toda a indústria e finança americanas se encontram organizadas
2. As condições económicase sociais para atingir essefim 110 na basede "sociedadesanónimas", podemosdizer que 99 % dos cidadãosa-
mericanos têm um poder económico inferior ao de 0,1 % da população
As condiçõespolíticas, ideológicase culturais para atingir
esse fim A desigualdade dos rendimentos e das fortunas não é um fato unica-
112
4. As etapas da sociedade sem classes mente económico. Implica uma desigualdade ante as possibilidadesde sobre-
113 vivência, uma desigualdade ante a morte. Assim, na Grã-Bretanha, antes da
XVI -OMATERIAI,ISMOOIALÉTICO guerra, a mortalidade infantil entre as famdias dc operários não qualificados
foi de mais do dobro do que entre as famüias burguesas.Uma estatística o6p
1. 0 movimento universal cial indica que na França, no ano de 1951, a mortalidade infantil elevou-scde
115
2. A diabética, lógica do movimento 19,1 óbitos por cada 1000 nascimentos entre as profissõesliberais,.a 23,9 ó-
116 bitos entre a burguesiapatronal, 28,2 óbitos entre os empregadosde comér-
3. Diabética e lógica formal 117 cio, 34,5 óbitos entre os comerciantes, 36,4 óbitos entre os artesãos,42,5 ó-
4. O movimento, função da contradição 118 bitos entre os operários qualificados,44,9 óbitos entre os camponeses
e.ope'
5. Alguns problemas suplementares da diabética do conheci. vários agdcolas, 51,9 óbitos entre os operários semiqualificados e 61,7 óbitos
mento entre os serventes!
120
6. O movimento, função da totalidade - o abstrato e concreto 122
7. Teoria e prática 123 ( +) /zo/dlngs = sociedades anónimas cqo património é constituído ebsencíalmente por ações
de várias empresase cujo fim é a administração dos títulos em carteira, assegurandoassimo
controle efetivo dasempresasem cujo capital o /zo/diplgparticipa.(N. T.).

9
Na nossa época, não basta apenaster em conta as desigualdades sociais A "Sátira das profissões", redigida no Egito dos Faraós,há 3500 anos,
que existem no interior de cada país. É importante considerar também a desi- deixou-nos uma imagem dos camponesesexplorados por essesescribas reais,
gualdade entre um pequeno punhado de paísesavançadosdo ponto de vista comparados a animais nocivos e a parasitas, pelos cultivadores atormentados.
industrial e a maior parte da humanidade que vive nos países ditos subdesen- Quanto à antiguidade Breca-romana, a sua organização social baseava-se
volvidos (paísescoloniais e semicoloniais). na escravidão.Se a cultura pede atingir um nível elevado,isso deveu-seem
Assim, no mundo capitalista, os Estados Unidos realizam mais da meta- parte ao fato de os cidadãos das cidades antigas terem.podido .consagrar uma
de da produção industrial e consomem mais da metade de um grande número larga parte do seu tempo a atividades políticas, culturais, artísticas e desporti-
de matérias-primasindustriais. 550 milhões de indianos dispõem de menosa- vas, sendo o trabalho manual abandonado exclusivamente aos escravos.
ço e menos energia elétrica do que 9 milhões de belgas. O rendimento real,
por habitante,naspaísesmaispobresdo mundo,é apenasde 8 % do rendi- 3. Desigualdade social e desigualdade de classe
mento. por habitante dos paísesmais ricos. A 67 % dos habitantes do globo
não cabe mais do que 1 5 % do rendimento mundial. Nem todas as desigualdades sociais são desigualdades de classe. A dife-
Reszz/fados: Um habitante da Ihdia ingere por dia apenas a metade das rença de remuneração entre um servente e um operário altamente qualificado
não transforma estes dois homens em membros de classessociais diferentes.
calorias que nós ingerimos nos paísesavançados. A idade média, que ultrapas-
sa no Ocident: os 65 anos, e chega aos 70 anos em certos países, a custo atin- A desigualdadede classesé uma desigualdade que tem as suasrales
ge 30 anos naíndia. na estrutura e na desenvolvimento normal da vida económica,e que é manti-
da e acentuadapelas primeiras instituições sociais ejurídicas da época.
2. A desigualdade sacia! nas sociedades antwbres Concretizemos esta definição com alguns exemplos:
Na Bélgica, para se chegar a grande industrial, é necessárioreunir capi-
Encontramos uma desigualdadesocial comparável à que existe no mun- tais avaliadosem meio milhão por cada operário contratado. Uma pequena
do capitalista em todas as sociedadesanteriores que se sucederamao longo da fábrica empregando 100 operários exige, portanto, uma concentração mínuna
história (ou seja, ao longo do pera)do de existência da humanidade sobre a de capital de 50 milhões. Ora, o saláriolíquido dum operárioquasenuncaul-
terra, do qual possuímostestemunhosescritos). assa100 000 fr. por ano Mesmoque durante 50 anosde trabalho nada
Eis uma descrição da miséria dos camponeses franceses cerca do fim do dispenda para comer e viver, não poderá reunir dinheiro bastante para.setor-
século XVll, descrição tirada dos (brucfêres de La Bruyêre: nar capitalista. O salariato, que é uma das característicasda estrutura da eco-
nomia capitalista, representa assim uma das rales da divisão da sociedadeca-
''Espalhados pelos campos vêem-se certos animais bravios, machos e fê-
pitalista em duas classesfundamentalmente diferentes: a classe.operária,que
meas, negros, lívidos e requeimadas pelo sol, agarrados à terra que escavame através dos seusrendimentos não pode nunca tornar-se proprietária dos meios
revolvem com uma obstinação invencível; têm como que uma voz articulada,
de produção,e a classedos proprietários dos meios de produção:os capitalistas
e quando se erguem sobre os pés, mostram uma face humana; e, com efeito,
É certo que ao lado doscapitalistaspropriamenteditos algunstécnicos
são homens. Retiram-se à noite para as tocas, onde vivem de pão negro, de altamente dotados podem aceder aos postos de chefia das empresas Mas a
agua e raizes..
formação técnica requerida é uma formação universitária. Ora, durante asal-
Comparar este retrato dos camponesesda época com o das brilhantes mas décadas, unicamente 5 a 7 % dos estudantes na Bélgica são filhos de ope-
festas dadas por Luas XIV na Corte de VersaiHes, com o luxo da nobreza e o rarios
esbanjamento do Rei! é traçar uma imagem flagrante da desigualdade social.
As instituições sociais impedem pois aos operários o acessoà proprieda-
Na sociedadeda alta idade média, em que predominava a servidão, o
nobre senhor.dispunhacom muita freqüência'demetade do trabalho ou de de capitalista, quer pelos rendimentos quer pelo modo de ensino superior: As-
sim mantêm, conservame perpetuam a divisão da sociedadeem c]assesta] co-
metade da colheita dos camponeses-servos.Eram numerosos os senhores que
tinham nas suas terras centenas ou milhares de servos e cada um deles recebia mo existe hoje.
Até nos Estados Unidos, onde se comprazem em citar exemplos de "6i-
portanto, em cada ano, tanto como centenasou milhares de camponeses-
Ihos de operários-merecedores,que se tornam milionários à custa do seu tra-
O mesmo .se.passava.nas diferentes sociedades do Oriente clássico (Egi-
to, Suméria, Babilõnia, Pérsia, Índia, China, etc.), sociedadesbaseadasna a- balho", um inquérito demonstrou que 90 % dos chefes de empresasimpor-
picultura, mas nas quais os propietários fundiários eram os senhores, os tem- tantes saíram da grande e média burguesia.
plos, ou os reis (representado; pÓr agentes do fisco real). Assim, ao longo da história, deparamos sempre com uma desigualdade

10 11
social cristalizada em desigualdade de classe.Em cada uma destas sociedades
podemos reencontrar uma classede produtores que sustenta com o seu tuba cultura entre quase todos os povos do mundo, e demonstra que, nessa época,
Iho o conjunto da sociedade, e uma classedominante que vive à custa do tra- a sociedade não estava ainda dividida em classesao nível da aldeia .
balho alheio:
camponesese sacerdotes,senhoresou funcionários, nos impérios do O-
riente:
escravos e senhores de escravos, nA Antiguidade grego-romana;
servos e senhores feudais, na alta idade média;
operários e capitalistas, na época burguesa.
rica da sociedade. Essa divisão não existiu sempre, nem existuã semp'e.
Não existiram semprericos e pobres, nem existirão para semp'e.
4. A igualdade social ntapré-história humana

Mas a história representaapenasum ramo menor da vida humana sobre 5. A revolta contra a desigualdade social através da história
o nosso planeta. Foi precedida pela pré-história, a época da existência da hu-
A divisão da sociedade em classes, a propriedade privada do solo e dos
manidade em que a escrita e a civilização eram ainda desconhecidas.Alguns
povos primitivos permaneceram nas condições pré-históricas até data recente meios de produção, não são pois de.bodo.nenhum um pr?duro da "natureza
ou mesmo até aos nossosdias. Ora, ao longo da maior parte da sua existência humana''. São o produto duma evolução da sociedade e das instituições ecc»
pré-histórica, a humanidade desconheceu a desigualdade de classe. nâmicas e sociais. Veremos como nasceram e coma virão a desaparecer'
Compreenderemos a diferença fundamental entre uma tal comunidade "v"-'De fato, desde que aparece a divisão da sociedade em classes,o homem
primitiva e uma sociedadede classe,examinando algumasdas instituições des- manifesta a sua nostalgia da antiga vida comunitária. Encontramos a exp'es'
sas comunidades. são desta nostalgia no sonho da ''idade de ouro" que teria existido nos pri'

BH) lã
Assim, vários antropólogos falam-nos dum hábito que se encontra entre
numerosos povos primitivos, hábito que consiste em organizar festas da a-
bundância, após as colheitas. A antropóloga Margaret Mead descreveu-nos es- BIÉB.=H=:=W:;=.=:
mum, o aue significa que não existia então a propriedade privada .
tas festas entre o povo papua dos Arapech (Nova-Guiné). Todos os que te-
nham feito uma colheita acima da média, convidam toda a sua família e todos Numerosos filósofos e sábios célebres consideraram que a divisão da so-
ciedadeem classesconstitui a fonte dos malessociais, e elaboraramprqetos
os seus vizinhos, e as festividades prosseguem até que a maior parte desse ex-
cedente tenha desaparecido. Margaret Mead acrescenta:
Estas festas representam uma medida adequada para impedir que um
indiütluo acumule riquezas...
O anüopólogo Asch estudou os costumes e o sistema duma tribo exis-
tente no sul dos Estados Unidos, a tribo dos Hospí. Nesta tribo,contrariamen-
te à nossasociedade,o princi'pioda competiçãoindividual é consideradoco-
As seitasjudaicas que pululam no inicie da nossa era, e os PTmeiros pa'
mo condenável do ponto de vista moral. Quando as crianças Hopi jogam ou
praticam desportos, não contam nunca os pontos e ignoram o ''vencedor
Quando as comunidades primitivas, que não se encontram ainda dividi-
das em classes,praticam a agricultura como atividade económica principal e
ocupam um determinado terreno, não organizam a exploração coletiva do so-
lo. Cada família recebe uma área em usufruto por um certo penedo. Mas es-
tes campos são redistribuídos freqüentemente, para evitar favorecer esteou a-
quele membro da comunidade em detrimento (ios outros. Os prados e os bos-
ques são explorados em comum. Este sistema de comzzpzi(Zazíe
mra/. baseado
carmaistardeoseupontodevista. . . . ..,.. - ..-..
na ausênciade propriedade privada do solo, foi encontrado na origem da agri-
Esta tradição continuou durante toda a IdadeMecha,nomeaaznxcn'ç
12
13
l
com São Francisco de Assis e com os precursores da Reforma: os Albigenses e e a guerra dos camponeses na Alemanha, no século XVI.
os Cátaros, wycliff, etc. Eis as palavras do pregador inglês John Bala, discípu- Os tempos modernos são assinalados por lutas de classeentre a nobreza
lo de wycliff, no séculoXIV: ''É preciso abolir a servidãoe tornar todos os
homens iguais. Os que se intitulam nossos senhores consomem o que produzi-
mos... Devem o seu luxo ao nosso trabalho'
Finalmente, na época moderna, vemos estes prqetos de sociedade igua- classes do proletariado contra a burguesia.
litária tornarem-se cada vez mais claro's, nomeadamente na Utopia de Thomas
More (inglês), em .4 Cidade do SoJ de Campanella (italiano), no Tes/amerzro
de /earz .4/es/íer e no aid&o da Axaízzrezade Morelly (francês).
A par desta revolta do espírito contra a desigualdade social, houve inú-
meras revoltas por ates, quer dizer, por insurreições das classesoprimidas
contra os seusopressores.A história de todas as sociedadesde classeé a histó-
ria das lutas de classe que as dilaceram.

6. As ttltas de classeatravésda história

Estaslutas entre a classeexploradorae a classeexplorada,ou entre di-


versas classesexploradoras, tomam as formas mais variadas segundo a socieda-
de que se considera e o preciso estado da sua evolução.
Assim, nas sociedadesditas "de modo de produção asiático'' (Impérios
do Oriente clássico), deram-se numerosas revoltas de camponeses contra a ex-
ploração de que eram objeto. Estas revoltas de camponeses combinavam-se a
miúde com movimentos de outras classessociais(incluindo grevesde artesãos
e de companheiros de artesãos). Possuímos, aliás, um papiro que descreve a
primeira revolução social deliberadamente desencadeadana história, que se
produziu há 4000 anos, sob a 18a. dinastia dos faraós, no Egito.
Na China, inúmeroslevantamentos
de camponeses
batizam a história
das sucessivasdinastias que reinaram no Império. O Japão conheceu igual-
mente um grande número de insurreições camponesas,sobretudo no século
XVlll
Na antiguidade gregae romana houve uma série ininterrupta de revoltas
de escravos -- das quais a mais conhecida foi a dirigida por Spartacus que
contribuíram largamente para a queda do Império romano. Entre os ''cada
duos" livres propriamente ditos, houve uma luta virulenta entre uma classede
camponeses endividados e os mercadores-usurários, entre não possuidores e
possuidores.
Na Idade Média, sob o regime feudal, lutas de classesopuseramsenho-
res feudais e comunas livres fundadas sobre a pequena produção mercantil, ar-
tesãose mercadores no seio destas comunas, alguns artesãos urbanos e campo-
neses dos arredores das cidades. Houve sobretudo ferozes lutas de classe en-
tre a nobrezafeudal e o campesinatoque procurousacudaojugo feudal,lu-
tas que tomaram formas francamente revolucionárias, como asJacqueries em
França, a guerra de Wat Tyler na Inglaterra, a guerra dos Hussitas na Boêmia,
15
14
A revolução neolítica permitiu ao próprio homem produzir os seus«-
veres e portanto controlar : mais ou menos -- a. sua própria subsistência.
AS ORIGENSECONÓMICASDA DESIGUALDADE SCEIAL Veio atenuar a dependência em relação às forças da natureza em que se en-
11
contrava o homem primitivo. Permitiu a constituição de reservasde víveres,.o
que por seu turno tornou possível que certos elementos da comunidade se.li-
bertassem da necessidade de produzir a sua alimentação. Assim se pôde de-
senvolveruma certa dfVi@) econõmfcado lrabal/m, uma especializaçãodos
ofícios, que aumentou a produtividade do .trabalho humano. Na sociedade
1. As comunidades primitivas baseadasm pobreza
primitiva, uma tal especializaçãoapenas pede esboçar-se,como disseum dos
primeiros exploradores espanhóis a respeito dos índios no séc XVl: 'Eles (os
Durante a maior parte da sua existência pré-histórica, o homem viveu
primitivos) querem utilizar .todo o seu tempo para r'unir tiveres, porque, de
em condições de extrema pobreza. outro modo, seriamfustigados pela fome
Os homens só podiam encontrar a alimentação necessáriaà sua subsis-
tência pela caça, a pesca e a colheita de frutos. 3.Produto necessárioe sobre-produto social
A humanidadeviveu como parasita da natureza, visto qu(l não aumenta
va os recursos naturais que se encontravam na base da sua subsistência. Não O aparecimento de um largo excedente permanente de víveres trans-
tinha qualquer controle sobre estesrecursos formou as condições da organização social. Enquanto este excedente foi re
As comunidades primitivas estão organizadas de forma a garantir,a se lativamente pequeno e disseminado pelas.aldeias,não modificou a estrutura
brevivência coletiva nestas condições de existência extremamente difíceis. igualitária da comunidade aldeã. Permite-lhe apenasalimentar algunsartesãos
Cada um participa obrigatoriamente no trabalho; o .seutrabalho é necessário e funcionários, como os que se mantiveram durante milénios nas aldeiashin-
para manter viva a comunidade. A produção de u'veres mal chega para ali- 1]
dus
mentar a coletividade. A existência de privilégios materiais condenaria à fome Mas quando estes excedentes são concentrados em grandes espaços pe'
uma parte da tribo, priva-la-ia da possibilidade de trabalhar racionalmente e los chefesmilitares ou religiosos,ou quando setornam maisabundantesna
sapata assim as condições de sobrevivência coletiva= Eis porque a organização aldeia graçasà melhoria dos métodos de cultura, podem então criar as condi-
social, nesta época do desenvolvimento das sociedades humanas, tende a man- ções para o aparecimento de uma desigualdade social. Podem ser utilizados
ter um máximo de igualdade no interior das suascomunidades. para alimentar prisioneiros de guerra ou.de expedições de pirataria (que ante-
Tendo examinado as instituições sociaisde 425 tribos primitivas, os an- riormente teriam sido mortos por falta de subsistência) Estes são obrigados a
tropólogos inglesesHobhouse, Wheeler.eGinsberg encontraram uma ausência trabalhar para os vencedores, em troca de alimento; assim aparecee escrava-
total de classessociais entre todas astribos que ignoram a agricultura. tura no mundo grego.
O mesmo excedente pode ser utilizado para alimentar. toda uma popu'
2. A rwolução neoli'fica lação de sacerdotes,solda(ios, funcionários, senhorese reis: é o aparecimento
das classesdominantes nos Impérios do Oriente antigo (Evito, Babilânia, Irã
Esta situação de pobreza fundamental só foi modificada de forma durá- Índia.China).
vel pela formação de técnicas de cultura do solo e de criação .de.animais. A Uma divisão social do trabalho completa a partir de então a divisão e-
téc;ica da cultura do solo, a maior revolução económica da existência huma- conómica do trabalho. A produção social deixa de servir, no.seu codunto,
na, é devida às mulheres, tal como uma série de outras descobertasimport.an- para ocorrer às necessidadesdos produtores. Divide-se daí em diante em duas
tes da pré-história (nomeadamentea técnica da olaria e da tecelagem).,F.ir- partes:
'a partir de, aproximadamente, 15 000 anos antesde Crista, em várias o produto necessário, ou seja, a subsistência dos produtores sem cujo
partes do 'mundo, muito provavelmente com.início na Afia Menor, na Meso- trabalho toda a sociedadese afundaria;
potâmia, no Irão e .no Turquestão, estendendo-se.progressivamenteao Evito, o sobre-produto social, ou sqa, o excedente produzido pebs produ-
à índia, à China, à África do Norte e à Europa mediterrânica. Ê chamada a re-
tores e açambarcado pelas classesopressoras
volução neolítica, por se ter produzido numa época da idade da pedra, em
Eis coma o historiador Heichelheim descreve o aparecimento das pri-
os principais instrumentos'de trabalho do homem eram fabricados em pe'
dra polida (a'época mais recente da idade da pedra). meiras cidades do mundo antigo :

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ponês indiano, chinês, egípcio, ou mesmo grego ou eslavo, não mudou de for-
A população dos novos centros.urbanos é,campo.sta-. na sua maior ;n, sensível.
duma camada superior vivendo das rendas (quer dizer, aprl)p:ando-se
r' '' br'.produto do trabalho agrícola -- E. M.) compost' por senhores, po' 5. A causa do fracasso de todas as rwotuções igualitárias do passado
nobres e por sacerdotes.Juntam-se-lhes os funcionários, empregados,e servi-
dores, indiretamente alimentados poe essacamada superior.'' . .
O aparecimento das classes 'sociais -- classes .produtoras e classes domi-
nantes -- dá assim origem ao Estado; que é a principal instituição destinada a
manter as condições sociais dadas, ou seja, a desigualdade social. A divisão da
sociedade em classesconsolida-se pela apropriação dos meios de produção pe'
las classes possessoras.
à extrema pobreza primitiva. E então o reaparecimento do progresso técnico
4. Produção e acumulação provocará rapidamente as mesmas desigualdades sociais que se pretendera su-

A formação das classessociais, a apropiação do sobre-produto social prtmxb) ou desapossara antiga classepois'ssora, em proveito de uma nova
uma parte da sociedade, é o resultado de uma luta social e só pode man- classepossessora.
ter-segraçasaumaluta socialconstante. . . ,. Foi o que se passou com a insurreição dos escravos.romanos sob : ar-
o' as ao mesmo tempo, representa uma etapa ' inevitável : do progres-
so económico, pelo fato de permitir a separação das duas funções económi-
cas fundamentais: a função de produção e a função. de acumulação:
Na sociedade primitiva, o conjunto dos. homens e das mulheres válidos naAmérica, etc. . . . . . .

:i H ii H ::iEa u
temática de outros instrumentos de trabalho, à aprendizagem. de técnicas
" Sem pretender que a revolução russa tenha levado.à mesma situação, o
reaparecimento duma desigualdade.social.acentuada na UK.b.b ae nqe, ex'

IEÜÊtn'il-k=:J:=:!.:u:':n;;:=;="
':
complicadasde trabalho(comopor 'xemplo o tr;balho metalúrgico),à ob- saiam.nto da revolução num país atrasado,efeito do revésda revolução na
servação sistemática de fenómenos da natureza, etc. .. . Europacentralduranteo período.de 1918-23.. .. : :. .. --L
É a produção dum sobre-produto social que vai permitir a uma parte da r' '''' 'dado igualitária baseadana abundânciae não na pobreza
humanidade dispor de suficiente tempo lide para que se possa consagrarao tal é o 6im do socialismo -- só se pode desenvolver.na base duma economia a-
conjunto destas atividades, que facilitam o aumento da produtividade do tra- vançada, na qual o sobre-produto social sqa tão elevado que permita que to-
a
balho dos os produtores se libertem dum trabalho embrutecedor e que conceda su
Estes tempos livres estão assim na base da civilização, .do .desenvolvi- íicientes tempos livres a toda a comunidade,. para que e.stapossadesempe
mento das primeiras técnicas científicas (astronomia, geometria, hidrograGia, nhar coletivaZ' nte as funções dirigentes na vida económica e social (função

aloEelpaeacãoe
da escrita. telectual e.do trabalho manual, produto des- de acll;iulaTmotivo por que foram necessários15 000 anosde sobre-produto
ses tempos livres, acompanha a separação da sociedade em classes. social, antes que a economia humana alcançasseo desenvolvam(nto necessá-
A divisão da sociedade em classesrepresenta, portanto, uma. condição rio para se entrever uma solução socialista da desigualdadesocialr ror tanto
de progressohistórico, por tanto tempo quanto a sociedadeseja demasiado tempo quanto as classespossidentesse apropiaramdo sobre-produto ocid
pobre para permitir que todos os seusmembrosseconsagremao trabaUioin- sob a forma de produtos (de valoresde uso),.o seupróprio consumo(consu-
telectual (à; funções de acumulação). Mas o preço pago por este progresso e mo improdutivo) representao limite de crescimentoda produção que dese-
jam realizar. .-
'' Os templos e reis do Oriente antigo; os senhores de.escravos da.Antigui
dado grego-romana; os senhores nobres e mercadores chineses, indianos, ja-
separamos princípios da civilização antiga do séc. XVI, a situação dum cam-
19

18

'b,

'+
poneses, bizantinos, árabes; os nobres.feudais da Idade Média, não tinham
qualquer interesseem aumentar a p'adução desde o momento em que tiver
U--'acumulado nos seuscastelos e palácios suficientes víveres, vestes de luxo,
objetos de arte. Existe um limite para o consumo e pna o luxo que é impos- 111 O ESTADO, INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO DE CLASSE
súel ultrapassar(um exemploc?mica: na .sociedadefeudal das ilhas Hawaí,
o sobre-
produto social toma a forma exclusivade alimentos,e, po' isso,o
prestí©osocialdepende-.dopeso,decadaum). .. . . .- ..
' E unicamente quando o sobre-produto social toma.a forma ae auineua
-- de mais valia -- e que pode servir já não só para a aquisição de bens de con- 1. A divisão socialdo trabalho e o nascimento do Estado
sumo, mas de bens de equipamento (de produção), que a.nova classe.domi-
nante --a burguesia- adquire interesse num crescimento ilimitado. da pro- Na sociedadeprimitiva sem classes,as funções administrativas eram e-
dução. Assim se criam as condições sociaisnecessáriasa umaaplicação, à pro- xecutadaspelo coiÜunto dos cidadãos. Cada um usava as suasarmas e part'-
dução de todas as descobertascientíficas, ou sqa, as condições necessáriasaa
( Fava nn assembleias .que tomavam decisões resp=tantes à üda coletiva e às
arecimento do capitalismo industrial moderno. relaçõesda comunidadecom o .mundo exterior. Os conflitos internos eram
igualmenteresolvidos pelos membros da coletividade. . .
Claro está que não existe qualquer razão para. idealizar a situação exie
tente no seio destascomunidades primitivas, que viviam sob o comunismo do
clã ou da tribo. A sociedade era extremamente pobre. O homem era.domina-
do pelas forças da natureza. Os hábitos, os costumes,as regras de arbitragem
dos conflitos internos e externos, se bem que aplicados coletivamente, carac-
terizavam-sepela ignorância, pelo medo, pelas crenças mágicas.Em compen'
sacão,o que é necessáriosublinhar, é que a sociedade.se.governavaa si pró-
pia, nos limites dos seusconhecimentos e.das suasposs!'cidades.
Não é pois verdade que as noções de "sociedade", de ''coletividade hu-
mana" e de restado'' sejam praticamente idênticas e sejustapunham mutua-
mente ao longo dos tempos. Bem pelo contrário: a humanidade viveudurante
milênios e milénios em coletividades que ignoravam a existência de um Esta-
Ü
O Estado nasce quando certas funções, primitivamente executadaspe-
lo conjunto dos membrosda coletividade,se tornam apanágiodum grupo
separado de homens:
-- um exército distinto da massados cidadãos armados;
-- jures distintos da massa dos. cidadãos, julgando os seus semelhantes;.
-- chefes hereditárias, reis, nobres, em vez de representantesou de diri-
gentes de tal atividade, designados temporariamente e sempre revogáveis;
-- "produtores de ideologia'' (padres,.clérigos professores, filósofos,es-
cribas, mandarins), separadosdo resto da coletividade.
O nascimento do Estado é pois o produto duma dupla transformação: o
aparecimento dum sobre-produto social permanente,.que permite libertar u-
ma parte da sociedadeda obrigação de efetuar .trabalho para assegwar a sua
subsistência -- parte essaque cria assim as co/leões Falara'üís da sua especta'
lização nas funções de acumulação e de administração.--, uma transformação
social e poética que permite excüiü' os restantes membros da coletividade do

20 21
r'
exercício dasfunções políticas que eram outrora comuns a todos.

2. O Estado ao serviçodas classesdominantes

O fato de as funções que eram primitivamente executadaspor todos os

lhes é imposta. .,. : ,


#
O exemplo do exército e do armamento constitui disso a prl?va.mais e-

da classedominante.

23
22
nea. Correntemente, cada indivíduo não inventa idéias nova. A maioria dos
indivíduos raciocina com base nas idéias aprendidas na escolaou na igreja, e,
r que a própria myustiça. Moralidade: não mudar a ordem estabelecida)

na nossaépoca,também com baseem idéiascolhidasna TV ou na rádio, na 4. Ideologia dominante e ideologias revolucionárias


publicidade ou nos jornais. A produção de idéias e de sistemasde idéias cha-
r logias, encontra-se assim fortemente .limitada. Aparece também Mas se a ideologia domfnza/zíe de cada época é a ideologia da classedo-
comoatributodumapequenaminoriadasociedade.. , .. , .. minante, isso de nenhum modo significa que asúnicas idéias existentes numa
Em cada sociedadede classe,a ideologia dominante é a ideologia da dada sociedade de classe soam as da classe dominante. Em geral -- e simplifi-
classe dominante. Isto, sobretudo porque os produtores de ideologia se en- cando -- cada sociedade de classe conhece pelo menos três grandes categorias
encontram na dependênciamaterial dos proprietários do sobre-produto social de idéias que nela circulam:
Na alta Idade Média, poetas,pintores, 6Uósofos,são literalmente mantüos . asidéias que refletem os interesses da classedominante da época, e que pre-
pelos senhorese pela lgrqa (grande propietária fundiária feudal, .ao lado da dominam;
nobreza). Quando a situação 'social e ecánâmica muda, o: mercadores e ban- . as idéias das antigasclassesdominantes, que foram já batidas e afastadasdo
queiros ricos surgemigualmente como financiadores de. obras literárias, 6Ho- poder, mas que .continuam a exercer influência sobre os homens. Este faca é
sóficas ou artísticas. A dependência material não é aqui menosp'anunciada. devido à força de lpzércü da co/zsclêncü, sempre em arrasa eoz re&zçãbâ rea/i-
SÓ com advento do capitalismo aparecem produtores de ideologias traba- dade nzaraüZ. A transmissão e difusão tias idéias é em parte autónoma do que
lhando não já diretamente sob a dependência da classe dominante, maspara se passana esfera da produção material, Podem pois permanecer influencia-
um "mercado anónimo das por forças sociais, que não sãojá as forças predominantes;
maneirasde pensar, - u idéiasduma nova classerevolucionária em ascensão,que é ainda domina-
Por outro lado, cada sociedadeparticularsegrega
formas predominantes de produção ideológica", que são o resultado e o re- da, mas que encetou já o combate pela sua emancipação,e que terá de se li-
flexo de sua maneira de organizar a produção material. . , bertar, pelo menos parcialmente, das idéias dos seusopressores,antes de po-
Assim, numa sociedade primitiva que vive sob a tirania extrema das for- der de fato lançar por terra a opressão.
ças da natureza, poucos indivíduos são levados a põr em.causa as relqiões O exemplo da França do século XIX é muito típico a este respeito. A
que divinizam essasforças, ou a magiaque as tenta conciliar. Na sociedade classe dominante é a burguesia. Tem os seus pensadores, os seus juristas, os
feudal, a dependência material extrema em que se encontravam os servosem seus ideólogos, os seus filósofos, os seusmoralistas, os seusescritores, bem
relação à nobreza, a estreiteza do domínio feudal, a atro6la do grande comér- seus, desde o início até ao íim do século. A nobreza semifeudal foi afasta-
cio e da economia monetária, refletem-se normalmente na enorme influência da enquanto classe dominante, pela Grande Revolução Francesa.A Restaura-
da religião sobre os espíritos. Os explorados vêem como única consolação a ção dos Bourbons, em 1815, não a trará de novo ao poder. Mas a sua ideolo-
esperança numa vida melhor no além. gia, e nomeadamente o clericalismo ultramoderna, continuará a exercer uma
Numa sociedade em que a produção mercantil atinge grande.expansão, profunda influência durante decênios, não somente sobre os restos da nobre-
em que cadaindivíduoaparececomo um propietário:livre vendedore com- za, mas também sobre partes da burguesia, sobre camadas da pequena burgue-
prador de mercadorias num mercado anónimo, o individualismo. e o raciona- sia (camponesa) e, mesmo, da classe operária.
lismo podem se expandir muito mais livremente: As estruturas imutáveis da No entanto, ao lado da ideologia burguesae da ideologia semifeudal,
religião são postas em causa.A luta pelo direito de cada indidduo interpretar desenvolve-se
já a ideologiaproletária, desdelogo a dos babouvistase dos
a Bíblia segundo a sua consciência, pode desenvolver-se. A Reforma, o atcíF blanquistas, depois a dos coletMstas que desembocam no manismo e na Co-
mo, o materialismo filosófico, anunciam-se. muna de Paria.

Seja como for, a função da ideologia dominante é incontestavelmente


uma função estabilizadora da sociedadetal como existe, ou sqa, da domina- 5. RwoUções wciais, revoUções políticas
ção de classe. O direito protege e justifica a forma.p.Tdominante da proprie-
dade. A /amz7ü desempenha o mesmo papel..Á re/ewo ensina os explorados Quanto mais estável é uma sociedade de classes, menos é contestada a
predoozfmnfes procuramjus- dominação da classedominante, e mais a luta de classeé diluída em conflitos
a aceitar a sua sorte. .4s üéüs poZúfcas e P7zorufs
tificar o reino da classedominante por meio de sofismasou de meiapverdades limitados que não põem em causaa estrutwa dessasociedade,aquilo a que os
(conforme a tese de Goethe, formulada diante e contra.a .revolução francesa, marxistas chamam as relações de produção ou o modo de produção. Ao con-
segundo a qual a desordem provocada pela luta contra a mlustiça seria pior do tr&io, quanto mais abalada estiver a estabilidade económica e social dum de-

24 25
27
26
r
dará do que outras, depressa seria abandonada. Produzir-se-ia então uma pe'
2. A pequena produção mercantil núria nessedomútio. Essapenúria faria subir os preços e, logo: a recomp:nsa

Na pequena produção mercantil, o pequeno agricultor e o pequeno ar-


ais encontrem quem as exerça. tesão vão ao mercado com os produtos do seu trabalho. Vendem-nos a fim de
comprar os produtos de que necessitam para o seu consumo corrente e que
3.,4 Zeído valor eles'' s não produzem. A sua atividade no mercado pode resumir-se na

É a própria maneira como a troca é governada que asseguraesseresuijíórmula: vender para comprar.
29
28
!i

sãose camponeses. Esta mais-valia é essencialmente o produto do embuste e


5. Do capital ao capitalismo da rapina. A pirataria e a pilhagem, o comércio de.escravos,desempenharam
um papel essencialna formação das fortunas iniciais de. mercadores.árabes,

g .=n:=:n::tnn:mi:lHIE4$wlil i
;&K i! ;:;;:::;Çj KhÜÓiiÜÜ 1lÜ: ::: 31
30
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se manif--tar um distanciamentoentreo valor produzidopelo operárioe o


33
32
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eXeva&as.
É portanto sob o chicote da concorrênciaqueo capitalistasevê o-
brigadoa procwar o máximo possõelde lucro para poder desenvolverao mâ.
xilno os investimentosprodutbos.
V AECONOMIACAPITALISTA
e) Assim, a produção capitalista revela se como uma produção visando
nãosó'o lucro masa aczzmzz&zçã)
do capfraZ.Com efeito, a lógicado capitalip
mo implica que uma parte I'ultosa da mais-valia sqa acumulada produtiva-
mente (transformada em capital suplemenCn sob forma de máquinas e de m?-
1. As particularidades da economia capitalista
terias-prímassuplementares, e de mão-de:obra suplementar) e não.consumida
improdutivameite (consumo privado da burguesia e dos seusservidores).
A economia capitalista funciona segundo uma série de características
' A produção tendo por fim a acumulação do capital conduz a resultados
que Ihe são próprias e dentre asquais mencionaremos: contraditórios. Por um lado, o desenvolvimento incessantedo maquinismo
lmpÀicauma expansãodasforças produtivas e da produtbidade do trabalho,
a) A produção consiste essencialmenteem produção de mercadorias,
que cria os fundamentos.materiais.de uma emancipação da humanidade quan-
produção destinada a se:l vendida .no .mercado\ Sem a venda efetlva das mer.

lá:3=':H::';= is : :i :;:.::m:=
to ao constrangimento de dever "ganhar o pão com o suor do seu rosto". Es-

valor'das mercadorias
:':.=='==
fabricadas. . . . . .
ta a função historicamente progressivado capitalismo. Mas, por outro lado, o
desenvolvimentodo maquinismo sob o imperativo da procura do lucro máxi-
mo e da acumulação incessante do capital, implica uma subordinação cada
b) A produção efetua-se em condições de. propriedade.privada dos vez mais brutal do trabalhador à máquina, das massaslaboriosas as "leis do
mercado", que Ihe fazem perder periodicamente qualificação e emprego- A
expansão das forças produtivas é,ao mesmo tempo, um desenvolvimento cada
ve; mais pronunciado da a/femçãb dos juba//dadores (e, indiretamente, de to-
dos os cidadãos da sociedade burguesa) dos seus instrumentos de trabaho,
M r''" -- -italbtas distintos (proprietários individuais,.famílias, socieda- dos produtos do seu trabalho, das suas condições de trabalho, numa palavra,
des anónimas ou grupos 6manceiros). As decisões de investimento, que condi- das ;uas condições de vida (incluindo as suascondições de consumo e de uti-
11! ! íll} cionam em larga medida a conjuntura económica, são por igual tomadas sepa' lização dos ''tempos livres") e, ainda, das suasrelações realmente humanas
radamente, na base do interesse privado e separado de cada unidade ou grupo com os seusconcidadãos.
caoitalista.,
- c) A produção efetua-se para um mercado anónimo, e rege-sepelos im-
2. O funcbnamento da economia capitalista
perativos da concorrência. Uma vez. que a produção não .está limitada pelo
costume (como nas comunidades primitivas) ou pela regulamentação ;(como
Para obter o lucro máximo e desenvolver o mais possúel a acumulação
nas corporações da Idade Média) 'cada,capital particular (cada;propr::it.áno,
cada í:mia ou cada grupo capitalista) esforça-se por atingir o mais elevado vo- de capital, os capitalistas são obrigados a reduzir no máximo a parte do valor
lume de negócios, por açambarcar a.maior parte do mercado, sem se preocu' novo,'produzido pela força de trabalho, que reveste para este sob a form? de
salários. Este valor novo, este ''rendimento criado", determina-se com efeito
par com decisõesanálogasde outras firmas operando no mesmo ramo.
' d) O fim da produção capitalista é.realizar o lucro. máximo As classes no próprio processode produção, independentemente de qualquer problema
possuidoraspré-capitalistas.viramdo sobreproduto soc.m que no seucon- de repartição. É mensurável pela soma total das horas de trab:Tho fornecidas
1-- to consumiam improdutivamente. Também a classecapa.alista deve consu- pelo conjunto dos produtores assalariados.Neste exato ''bolo", quanto maior
l-'' tivamente uma parte do scbreproduto social dos lucros que rea- for a parte dos salários reais pagos, tanto menor será, forçosamente, a parte
da mais-valia.Quanto mais os capitalistas procurarem fazer avultar a pane a'
lã%iiÜ;ÜIl :Íl::: jl::.:;=\'.=
IFW$ tribuída à mais-valia,mais são obrigados a reduzir a parte atribuída aos salá-
rios

ill;11t;R:lÜltu
custo)
;:='Ç:U'.S=:s::=';=$T=B8;
uuyav. n ' "'''-
consiste
'"''
em alargar
'"' '
a base de produção, em p :. :. .... .,- --";.
C)sdois meios essenciais pelos quais os capitalistas se esforçam por avo'
roduzir mais utilizando fumar a sua parte, que o mesmo é dizer a mais-valia, sãos
má''/ ''cada vez mais aperfeiçoadas. Mas isso requer capitais cada vez mais a) O prolongamento dajornada de trab,Iho (do século XVI a meados

35
34
/ü rebüva l ,anão capitalista do trabalho, em dado momento). O elemento variável é i va-

u
Cada capitalista procura obter o lucro máximo. Mas, para o f:.:segue. i' das mercadorias incorporadas no "müimo vital normal« numa época e

: $mi:!
;
BÊI !í:====.=n
BPgq üüÜin n ;:
::ul $: 1f?üi#ãill«Ê#i:: s:h=u:::=::u!
cimo" como acabam por ver o seu lucro desaparec'r completamente. Resta ;passe,'o seu passado e o seu presente, torna-se um fato co-determinante da
lhes a falência ou a absorção pelas suasconcorrentes : . economia capitalista.
A concorrência entre os capitalistas conduz assim a uma perequaçãod: "'""8"salário é o preço de mercado da força de trabalho. Como todos os
taxa de lucro. A maior parte das numas acabam por dever contentar-se con preços do mercado, flutua à volta do valor da mercadoria em causa.A$ ílutu-
iUltt um lucro médio, determinado em última análise pela massa total do capital açwvs do salário são particularmente determinadas pelas flutuações do exérci-
' 1 1. 1 t}
socia[ investido e a massatota] da mais-valia proveniente.do conjunta dos sa ='ã: reserva industrial, ou sqa o desemprego, e isso em triplo sentido:
lírios produtivos Apenas as firmas de produtividade muito avançada,ou nq '' " ;' uando num país capitalista há desempregopermanente muito im-
ma ou noutra situaçãode monopólio, obtêm.wZ)re-/urros,quer dizer iuc.rl portante(quando é industrialmente subdesenvolvido),os salárioscorrem o
acima da média. Mas, em geral, a concorrência capitalista.pouco permite qui :isco de está, de modo constante, quer abaixo quer ao n&el do valor da for-
os sobre-lucros ou os monopólios sobrevivam por tempo) ilimitado. l ça de trabalho Este valor arrisca-se a estar próximo do múiimo vital Êuio-
São os afastamentos em relação a est.elucro médio que regem em grau lógico.

]:=::::='=1: i'i=!;.li;=':::=,'=s;=.'1; ;Çlll='*.Eim!\ ::=:;s= ='i=:i==;=:':!';==.Li:: : ::


res em que o lucro é superior à média (por exemplo, afluinamao ramo auto :igração em massa,os salários podem subir, em pen'odo de alta coquntura,
móvel nos anos sessenta,e abandonaram este ramo, par' afluir ao setor ena ;;;ll;' do valor da força de trabalho. A luta operaria pode provocar a longo
gético, nos anos setenta do nossoséculo) . ,. ...... .. .:.... .,;.. Hprazo a incorporação neste valor do equivalente de novas mercadorias.O mí-
bç"'.vPorém,' ao afluir aos setores em que a taxa de lucro se situa acima d limo vital sol'mente reconhecido pode aumentar 'em termos reais, ou seja,
média, essescapitais provocam aí um aumento.de concorrência, uma sobraincluir novasnecessidades. -' '
produção, uma baixa dos preços de venda, uma baixa dos lucros até que a tl'"' c) Os altos e baixos do exército de reservaindustrial não dependem co-
xa de lucro seestabelecemais ou menos ao mesmo nível em todos os ramos. m.nt.'dos movimentos demográficos (taxas de nascimento e de martahdade)

3. .4 a'obra) dos mZáHos .-.r.... . r.... J- .J dos movimentos de migração concorrencu, os capitanstas devem subs-

Uma das característicasdo capitalismo é que transforma a força de trfllt=;"a mão-de-obra por maquinas (''o trabalho morto"). Esta substituição

36 37
nroja constantemente mãa-de-obra para fora da produção.As crises ção do capital implica..que a quantidade de. pequenos patrões trabalhando
ponham a mesma função. Em contra-partida, nos de alta coiÜuntut. por sua p'ópria conta diminua.sem cessar.A fiação da população laboriosa o-
e dc "sobreaquecimento", quando a acumulação progride a um rit. brigada a vender a .sua força.de trabalho, para poder subsistir, cresceconte
mo febril, o exército de reservaé reabsorvido nuamente.Eis os números relativos a esta evolução nos Estados (Jnidos, que
Não existe, pois, nenhuma "lei de bronze" que governa a evolução doi confirmam de maneira impressionante aquela tendência:
salários.A luta de classe entre o Capital e o Trabalho, determina-a em pane.
O capital esforça-sepor fazer baixar os salários no sentido do mínimo vital fl Evolução da estrutura de classe nos Estados Unidos (em pode toda a poptü'
cão aue ex«ce um profissão)
biológico.O Trabalho esforça-se por dilatar o elementohistórico e morald.
salário, incorporando nele mais necessidades novas a satisfazer. O grau de ca
esão, de organização, de solidariedade, de combatividade e de consciênciade Empresárbs e
classe do proletariado, são pois fatores que co-determinam a evolução dos sa. .4ms Assalariados
[71dependelites
lábios.Mas a longo prazo, pode-se patentear uma tendência incontestável pa.
ra a pauperuaçaor;lativa da classeoperária. A parte do valor novo criado pe i88Q
lo proletariado, que cabe aos trabalhadores,tende a baixar (o que pode, de 189Q
resto, ir de passocom uma alta dos salários reais) t900
O afastamento entre, por um lado, as novas necessidades suscitadas pe. 30,8
lo desenvolvimento das forças produtivas e o impluso da própia produção ca- 26,3
1920 23,.5
pitalista e, por outro çado, a capacidadede satisfazer as necessidades par
1930 20,3
meio dos salários obtidos, tende a aumentar.
[939 /8,8
É um hdice claro desta pauperização relativa o afastamento crescente
entre o aumento da produtividade do trabalho a longo prazo e o aumento
.r7,.r
}960
dos saláriosreais. Do princípio do século XX até ao principio dos anos 70, i /970 8,9
produtividade do trabalho aumentou aproximadamente 5 a 6 vezes,na indús
üia e na agricultura dos Estados Unidos e da Europa ocidental e central. Oi
'tiR: salários reais dos operários não aumentaram mais que 2 a 3 vezes durante
o mesmo período. Ao contrário da legenda largamente propalada, esta massaproletária,
em.que fortemente estratificada, vê o seugrau de homogeneidadeaumen..
4. As leis de evolução do capitalismo far muito, e não decrescer.Entre um operário manual, um empregado bancá-
rio e um pegue.nofuncionário público, a distânciaé menor'hojedo quee-
Por efeito das próprias característicasdo seu funcionamento, o moda:\ hi.meio século ou um século,'tanto no que respeita ao núel de vida, como
de produção capitalista evolui segundo certas leis de evolução (leis de desel :: !fe se refere à tendência para se.sindicalizar e entrar.em grite, como ah-
volümenV ) que são por issoparte integrante da sua própria natureza.: ' da no que concerne ao acessopotencial à consciência anel-capitalista.' ''
"a) A concentração'e a centralização do capital ' ' Pela concorrência, o!.;. n..;,..l. .. açao proa'essiva da população em regime capitalista de-

P;j"pelac«:co«ê-i, sãoabs.vidasp.I's co;.=;;11Ll:;'==;:d'res (cenuall:'st'üs e com;-lii,i; 'n:loapf"s à t'tld'ãe d' cl's;.;Lp'


cação docapital). -' " ' ' ' limensamaioriadapequenaburguesia.
b) A proletarização progressivada população laboriosa. -- A centralizam c) O az4menfo(ãzcompos@ãóalga/zfcado capfra/ -- O capital de cada ca-

38 39
e de continentes. Uma crise num setor repercute em todos os outros =tares.
Pela primeira vez, desde a origem do gênero humano, cria-seassim uma in&a-
estrutura económica comum a todos os homens, base da sua solidariedade no
mundo mamista de amanha

S. As contradições inerentesao modo de produção capitalista

sas automatbadas).

,I';; n s:;!:*'=3:.:::
:;
41
40
periódicas de soba-produção segueuma marcha cíclica.da produção, que a-
travessa sucesdvamente as etapas de reanimação económica, de alta co4untu-
ra, de "sobre-aquecimento" (zoom), de crise e dc depress:o, todas inerentes vl 0 CAPITALISMOl)OS MONOPÓLIOS
a este modo de produção e só a ele. A amplitude destas flutuações pode pa-
riu de época para época, mas a sua realidade é inevitável em regime capitalip
ta.
Houve crises económicas(no sentido de intenupção da produção nor-
mal) em sociedadespré-capitalistas;existem também na sociedadep6s-capita-
lista. Masnem num casonem no outro se trata de crisesde abre-produção de O funcionamento .do modo .de produção cjipitalista não pemianece i-
dêntico desde as suas origens. Excluindo o capitalismo das manufaturu aue
macadorüs e de capa/afs,antes de crises de sub-produção de valor .de uso.
se estende do .século XVI ao século XVlll, pode-se distinguir duas fases na
O que caracterizaa crisede sobre-produçãocapitalista é que osrendimentos história do.capitalismo industrial, propriamente dito :
baixam, o desemprego cresce, a miséria (e amiúde a fome) instalam-se, não
porque a produção física baixe, mas, ao contrário, porque aumenta de manei- Idas.dai(' fase6do ca aoslimo de lide conconênc=, que vai da revoluçãoin-
ra excessivaem relação ao poder de compra disponível. É porque os produtos
- a fase do imperialismo, que se estende dos anos de 1880 até aos nos.
são lzzpe/dáveisque a atividade económica baixa e não porque fisicamente es- sos dias.
casseiem.
Na base das crises periódicas de sobre-produção estão, ao mesmo tem- 1. Da livre concorrência aos acordos capitalistas
po, a baixa da taxa média de lucro, a anarquia da produção capitalista e a ten-
dência a desenvolver a produção sem ter em conta os limites que o modo de
Durante toda a sua primeira fase de existência, o capitalismo industrial
distribuição burguês impõe ao consumo das massas laboriosas. Por efeito da
baixa da taxa de lucro, uma parte crescentedos capitaisjá não pode obter.um kra caracterizado pela existência de um grande número de empresa indepen-
lucro suficiente. Os investimentos reduzem-se.O desempregocresce.A falta dentes, em cada ramo industrial. Nenhuma delas podia dominar o mercado.
de venda de um número crescente de mercadoriascombina-se com este fator fada uma procurava vender ao mais baixo preço, na esperança
escoar a sua mercadoria. ' '
de assim poder
'
para precipitar a queda geral do emprego, dos rendimentos, do poder de com-
Esta situação modificou-se. desde que a concentração e a centralização
pra e da atividade económica no seu conjunto capitalistasapenaspermitiram subsistir numa série de ramos de indústrias um
A crise de sobre-produção é, simultaneamente, o produto destes fatores mero reduzido de empresas,produzindo em conjunto 60, 70 ou 80 % da
e o meio de que dispõe o regime capitalista para Ihe neutralizar parcialmente produção. Estas empresas podiam desde então entender-se para tentar domi-
os efeitos. A crise provoca a baixa de valor das mercadorias e a falência de nu-
nar o mercado,quer dizer, cessarde fazer baixar os preços de venda, repartin-
merosas numas. O'capital total sofre pois uma redução em valor. Isso pem:ite do entre si os mercados, segundo as relações de forças do momento. r
uma recuperação da taxa de lucro e ila atividade acumulativa. O desempr'go
Semelhantedeclúiio da livre concorrênciacapitalista íoi facilitado por
maciço permite aumentar a taxa de exploração da mão-de-obra,o que conduz uma importante revolução tecnológicaque se produziu na mesmadtua: a
ao mesmo resultado.
A crise económica acentua as contradições sociais e pode desembocar substituiçaolpelo motor elétnco e de explosão?do motor a vapor, como prin-
cipal i.. nte de energia na indústria e nos principais ramos de transportes De.
numa crise social e política explosiva. Assinala que o regime capitalista está jenvolveu-setoda uma série de indústrias novas - indústrias de eletricidade,
maduro para ser substituído por um regime mais eficaz e mais humano, que rlatistna de aparelhoselétricos, indústria petrolífera, indústria automóvel,
deixe de dissipar os recursos humanos e materiais. Mas a crise não provoca au-
quhica de síntese-- que exigiram investimentosiniciais muito mais impor-
tomaticamente a derrocada deste regime. Deve ser derrubado pela ação cons-
tantesdo que nos antigos ramos industriais, o quereduziu à partida o nome..
ciente da classe revolucionária que fez nascer: a classe operária. Ddeconcorrentespotenciais. ' ' '' '--r
As principais formas de acordos entre capitalistas são:
1- cartel e o sindicato, num mesmoramo.de indústria, em que cada
arma participante no acordo conserva a sua independência; "- 'l
o /ms/ e a fusão,de empresas, em que esta independência desaparece
loseiodumaúnicasaciedadegigante; ' ' '' -'"r

42 43
;=nnn=msam:u';*'1l
2. As concentraçõesbancáriase o capita! $mnceiro
Mitst bishi, Mitsui, ltoh e Sumitomn

3. Capitalismo dos wnopólios


Trata-se principalmente dos grupos

e capitatbmo de livre-concorrência

O surto dos monopólios não s3gninicao desaparecimentoda conconên-


E ainda menos signiâca que cadaramo industrial sejadomina-
O mesmo processo de
por uma só firma. Significa, antes de mais, que nos seto-
realiza no domúlío da
domúiio dos bancos. No monopolizados:

cos gigantes domina toda a a) A concorrência deixa de se exercer normalmente pela baixa de pre-
O papel
às empresas.
Por este fato, os grandes trustes obtêm sobre-lucros monopolísticos,
um nao monQ-
concessão
dores passivos, que se a concorrencia prossegue:
tadosenquanto
Com efeito, os a) No interior dos setores não monopolizados da economia, que conti-
idênticas ou anexas, têm um interesse nuam a ser numerosos.
a solvabilidade de todas essas empresas' Entre monopólios, de modo corrente, pelo uso de técnicas diferen-
desçama zero, em virtude duma te preços de venda (pela via da redução do preço de custo, pela
celerar -- e algumas também por uma "guerra de preços",
Desta forma, os de força entre os trustes se modificam e quando
des fmSfs. Podem igualmente utilizar setrata de ajustar a partilha dos mercados a essasnovas relações de forças.
nio do crédito, para obter, na c) Entre monopólios "nacionais'' no mercado mundial, essencialmente
grandes via normal da "guerra de preços". Contudo, a concentraçãodo capital
penetração avançar até ao ponto de, no mesmo mercado mundial, subsistirem ape-
dominante. a[gumasdumas num ramo industrial, o que pode conduzir à criação de
No topo da phâmide de "cartéis internacionais'' que entre si partilham essesmercados.
surgem os
instituições etc. Um4. ..4exporraçêb de capííafs
grandes Zmsfs da famílias'' nos Estados
punhado de tân nas suasmãos todas as ala- Os monopólios não podem controlar os mercados monopolizados sem
Unidos e as
uma dúzia dique nesteslimitem o crescimento da produção e, portanto, a acumulação do
bancas do poder económico Launoit; o gru-capital.Mas, por outro lado, essesmesmosmonopólios dispõea de capitais
grupos financeiros (o grupo graças sobretudo aos sobre-lucros monopolisticos que realizam.
po Solvay-BoEl; a época imperialista do capitalismo caracteriza-sepois pelo fenómeno do ex-
po Sofina; o grupo cedentede capitais, nas mãos dos monopólios dos paísesimperialistas, que
da economia, a par
nomeadamelbuscamnovos campos de investimento. A exportação dos capitais torna-se
Nos Estados assim traço essencial da era capitalista.
te os grupos Esses capitais são exportados para países onde rendem lucro superior à
Chicago e de
nio muito extenso ondmédia dos setores competitivos dos países imperialistas, e vão estimular pro-
guerrluçõescomplementaresda indústria metropolitana. São utilizados, antesde
os antigos zaibatsu trustes, aparentemente
45
44
../

lnan nada, no desenvolvimento.oa pro(!uçãoile matél:as-prun;s :egctais e mi.l S. Zaúes empa'ü/iscas e pazkesdq)erderzres
Enquanto o capitalismo operou no mercado mundial unicamente no Assim, a era imperialista não mostra apenaso estabelecimentodo con.

l$Uhsai:i i:;::gsimilii
ministração dhetamente dependenteda metrópole, co.mo.nos paísescolo- dional.
ê
#ãRIÊilÜ =ÜS:;:':U'x::=::1==ç===:E'' ' .,"'. '.,''.'''«. ""'.

cravatura imperialista. aios. etc


Esta internacionalização crescente da produção, por um lado, e esta in;

46 47
nrvenção crescente do Estado nacional na vida económica, por outro lado,
quanto ao essencial:as decisõesde última instância sobre as formas e orienta-
provocam uma série de nova contradições na era do capitalismo tédio, de
ções fundamentais de valorização do capital e de acumulação do capital, ou
que a crise do sistema monetário mundial, alimentada pela Inl/üçãó pe/vnza-
pzenre, é uma das principais expressões.
seja, tudo o que 'toca ao "santo dos santos": a prioridade do lucro dos mono-
pólios, à qual pode ser sacrificadaa distribuição de dividendos aos acionistas.
A era do capitalismo tardio caracteriza-setambém pela desintegraçãoge-
Aquelesque na referida tesejulgaram ver uma prova de que a propriedade
neralizada dos impérios coloniais, pela transformação dos paísescoloniais em
privada já não conta quase nada, esquecem a tendência, predominante desde
semicoloniais, pela reorientação das exportações de capitais, que passam agora
o início do capitalismo, a sacrificar a propriedade privada dos pequenos à de
primacialmente, de um a outro paísimperialista e não dos paísesmetropolita-
um punhado de grandes.
nos para os pares coloniais, e por um início de industrialização (sobretudo lo-
calizada na esfera dos bens de consumo), nos paísessemicoloniais. Esta indus-
trialização é não só uma tentativa da burguesiapara travar a revolta popular,
mas também um resultado do fato que as exportações de máquinas e bens de
equipamento constituem hoje a maior parte das exportaçõesdos próprios paÊ
sesimperialistas.
Nem as transformações ocorridas no funcionamento da economia capi-
talista, mesmo no interior dos paísesimperialistas, nem as que respeitam à e-
conomia dos paísessemicoloniais, bem como o funcionamento de conjunta
do sistema capitalista, permitem pois pâr em causa a conclusão a que Lenine
chegouhá mais de meio séculoquanto ao significadohistórico do conjunta
da época imperialista. Esta época é a de agudizaçãode todas as contradições
inerentes ao sistema: contradições entre o Capital e o Trabalho, entre os paí-
sesimperialistas e os paísescolonizados, bem como contradições enter-impe-
rialistas. É uma época sob o signo de conflitos violentos de guerras imperia-
listas, de guerras de libertação nacional, de guerrascivis. É a época das revolu-
ções e contra-revoluções cada vez mais explosivas, e não a época de um tran-
qüilo e pacífico progresso da civilização.
Com mais forte razão se deve recusar os mitos segundo os quais a atual
economia ocidental já não seria uma economia capitalista propriamente dita.
A recessão generalizada da economia capitalista internacional em 1974-75
deu um golpe mortal na tesesegundo a qual estarihmosvivendo numa preten-
sa ''economia mista", em que a regulação da vida económica pelos poderes
públicos permitiria assegurarde maneira ininterrupta o crescimento económi-
co, o pleno emprego e a extensão do bem-estar a todos. A realidade demons-
tra uma vez mais que os imperativos do lucro privado continuam a reger esta
economia, provocam periodicamente o desempregomaciço e a sobre-produ-
ção, continuando pois sempre a tratar-se de uma economia capitalista.

Do mesmo modo, a tese segundo a qual já nãa seriam os grupos capita-


listas mais poderosos, mas os gestores, os burocratas, ou mesmo os tecnocra-
tas e os sábios quem dirigiria a sociedade ocidental, não tem fundamento sem
qualquer prova científica séria. Muitos destes''senhores" da sociedadeviram-
se atirados para a rua no decurso das duas recentes recessões.A delega-
ção de poderes que o grande capital aceita e aperfeiçoa no seio das sociedades
gigantesque controla, é extensivaà maioria das suasprerrogativas,excito

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49
dencal ( e mais tarde também a indústriajaponesa) que aproveitará doravante
da rugia progressivado artesanato, da indústria domicihar, da manufatura nos
Vll - O SISTEMA IMPERIALISTA MUNDIAL pares da Ewopa oriental, da América Latina, da Âsia e da Ãfrica.
b) O excedente de capitais, que aparece de maneira mais ou menos per-
manente nos países capitalistas industrializados sob a influência progressiva
dos monopólios, desencadeiaum vasto movimento de exportação de capitais
para os pares subdesenvolvidos e neles desenvolve ramos de produção COm-
pZeme/zfa'ese nãb colzcone/zcüfs em relação à indústria ocidental. Deste mo-
1. A industrialização capitalista e a lei do desenvolvimento desigual e
combittado do, os capitais estrangeiros que dominam a economia dessespaíses,especia-
lizam-nos na produção de matérias-primas minerais e vegetais,bem como na
produção de tiveres. Por outro lado, decaindo progressivamentepara o estatu-
O capitalismo industrial moderno nasceu na Grã-Bretanha.No decurso to de país semicolonial, ou colonial, o Estado, nessespaíses,defende antes de
do século XIX estendeu-seprogressivamenteà maior parte dos paísesda Euro- tudo os interesses do capital estrangeiro. Não toma sequer medidas, mesmo
pa ocidental e central, bem como aos Estados Unidos, e mais tarde ao Japão. modestas,de proteção da indústria nascentecontra a conconência dos produ-
A existência de alguns paísesinicialmente industrializados não parecia impe- tos importados.
dir a penetração e a extensão do capitalismo industrial numa série sucessiva c) O domínio da economia dos países dependentes pelos capitais estran-
de países em vias de industrialização.
geiros cria uma situação económica e social na qual o Estado preserva e con-
Pelo contrário, a grande indústria britânica, belga, francesa destruía im- solida os interesses das antigas classesdominantes, ligando-as aos interesses do
placavelmente naquelesúltimos as formas de produção pré-industriais (artesa- capital imperialista, em vez de elimina-las mais ou menosradicalmente, como
nato e indústria domiciliar). Mas os capitais britânicos, belgas e franceses ti-
foi o caso durante o decurso das grandes revoluções democrático-burguesas,
nham ainda amplos campos de investimento que lhes estavam abertos nos na Europa ocidental e nos Estados Unidos.
seuspróprios países.Assim, é geralmenteuma indústria moderna nacional que O conjunto desta nova evolução da economia capitalista internacional
substitui progressivamenteo artesanato,arruinado pela concorrência das mer- na era imperialista, pode resumir-se na lei do desenvolvimento desigual e com-
cadorias estrangeiras baratas. Esse foi particularmente o caso ocorrido com a binado. Nos pares atrasados -- ou pelo menos numa série deles -- a estrutura
produção de têxteis na Alemanha, na Itália, em Espanha,na Austria, na Boê- social e económica, nos seus traços íbndamentais, não é nem a de uma socie-
mia, na RÚssia tsarista (incluindo a Polânia), nos PaísesBaixos, etc. dade tipicamente feudal, nem a de uma sociedadetipicamente capitalista. Sob
Com o advento da era imperialista, do capitalismo dos monopólios, es- o impacto do domhio do capital imperialista, comblnza,
de maneiraexcepcio-
ta situação modifica-se totalmente. A partir de então, o íbncionamento do nal, traços feudais, semifeudais, semicapitalistas e capitalistas. A força social
mercado mundial capitalista deixa de facilitar e, pelo contrária, entrava o de- dominante é a do capital, mas é em geral do capital estrangeiroque se trata.
senvolvimento capitalista "normal'' e designadamentea industrialização em
A burguesia indÜena não exerce pois o poder político. A maioria da popula-
profundidade dos paísessubdesenvolvidos.
A fórmula de Marx, segundo a ção não se compõe de assalariados, e em geral também não de servos, mas de
qual cada paé avançado mostra a um país menos desenvolvido a imagem do camponeses submetidos, em graus diversos, às arbitrariedades dos proprietá-
seu próprio futuro, perde a validade que tinha conservadoao longo de toda a rios fundiários e dos cobradores de impostos. Mas estagrandemassa,embora
era do capitalismo de livre concorrência.
vivendo em parte afastada da produção mercantil e mesmo da produção mo-
Três fatores essenciais (e numerosos fatares suplementares que não netária, nem por isso sofreu menos os efeitos desastrososdas flutuações de
mencionaremos) determinam esta alteração fundamental do funcionamen- preços das matérias-primas no mercado mundial imperialista, através dos efei-
to da economia capitalista internacional: tos globais que tais flutuações exercem sobre a economia nacional.
a) A amplitude da produção cm série de numerosas mercadorias pelos
paísesimperialistas, que inunda o mercado mundial, que adquire um avanço 2. A upbração dos paísescoloniais e semicoloniais pelo capital imperialista
tal em produtividade e em preço de custo, em relação a toda a produção in-
dustrial inicial nos paísessubdesenvolvidos,
que estaúltima já não pode ar- O afluxo dos capitais estrangeiros aos países dependentes, coloniais e
rancar em grande escala,já não pode seriamentesustentar a concorrência semicoloniais, provocou ao longo de decênios sucessivos uma pilhagem, uma
contra a produção estrangeira.É pois cada vez mais a indústria oci- exploração e uma opressãosobre mais de um bilhão de sereshumanos pelo

50 51
cap:tal.imperialista, que representaum dos principais crimes de que o sistema rância e na miséria.
cap:talisb toi responsávelno decorrer da sua história. Se, como diz Mare, o Sem dúvida que a penetração do capital estrangeiro permite um certo
capitalismo apareceu sobre a .terra transpirando sanguee suor por todos os
desenvolvimento das forças produtivas, faz nascer algumas grandes cidades in
po'os, :m nenhum caso esta definição se'justifica de maneira tão lateral co- dustriais, desenvolveum embrião mais ou menosimportante do proletariado
mo no dos pares dependentes.
nos portos, nas minas, nas plantações, nos caminhos-de-ferro e na administra-
A era imperialista desenvolve-seantesde tudo sob o signo da co/qulsía ção pública. Mas, sem exagere, pode-sc dizer que ao longo dos três.quartos de
cobZzÜZ O colonialismo é, decerto, mais velho que o imperialismo. Os con- século que separamo início da marcha para a colonização integral dos países
quistadores espanhóis e portugueses tinham já posto a ferro e fogo as Cmá subdesenvolüdos.da vitória da revolução chinesa, o nível de vida da popula-
rias acabo Verde e a costa a&icana, bem como os pares da América Central e
ção média, da Ásia, da Africa e da América (com exceçãode algunsposes
l;#=:=H:'ã$= K'.=:.:1'=i.!Ü:=:=':=i=
de maneira mais humana em relação aos índios da América do Norte A con-
privilegiados), estagnou ou recuou. Nalguns importantes pares ,recuou mes-
mo de maneira catastrófica. As fomes periódicas, só por si, ceifaram literal-
mente dezenasde milhões de indianos e de chineses.
quista do Império da Índia pela Grã:Bretanha foi acompanhadade um corte-
jo de atrocidades,tal como a da Argélia pela França.
3. O "bloco de classes"no poda nos paikessemicoloniais
Com o advento da era imperialista, essasatrocidades estendem-se a uma
grande parte da A6'ic% da Asmae da Oceania.Massacres,deportações, expul-
são dos camponeses das suas terras, introdução da trabalho forçado Quando Para compreender de maneira mais aprofundada a forma como o doma
nãodaservidãodefato, sucederam-se emgrande escala. ' ' '' nio imperialista "gelou'' os paísescoloniais e .semicoloniais quanto ao seude-
senvolvimento e neles impediu uma industrialização progressiva "normal" da
O racismo justifica estas práticas desumanasa6umando a superioridade tipo capitalista ocidental, é preciso discorrer um.pouco mais sobre a natureza
e o "destino histórico civilizador" da raça branca. Por forma ainda mais sutil, do "bloco de classessociais'i no poder nessespaísesdurante a era imperialista
o mesmo racismo expropria os povo? colonizados do seu próprio passado, da "clássica" e sabre as consequências desse "bloco'' na evolução económica e
sua própria cultura, da sua própria altivez étnica, quando não mesmo da sua social
0
língua, ao mesmo tempo que lhes subtrai asriquezas naturais e uma boa parte Quando o capital estrangeiro penetra em massanos paísescoloniais e
dosfrutosdoseutrabalho. ' '' "'----r semico[oniais, a c]assedominante ]oca] é em geral composta de proprietári-
Se os escravoscoloniais ousamrebelar-secontra o domínio colonialista, os (semifeudais e semicapitalistas, em proporções diversas segundo o país con-
são reprimidos com crueza inominável. Mulheres e crianças úidias massacradas siderado) em aliança com o capital mercantil e bancário ou usuário. Nos paí'
nas guerras de índios nos Estados Unidos; amotinados hindus ?oitos à frente ses mais atrasados, como os da África negra, se está antes em presença de so-
de canhõesque disparam; tribos.do Médio Oriente bombardcadasimplacável. ciedadestribais em decomposiçãosob o efeito prolongadodo trágicode
mente pela RAF; dezenasde milhar de argelinos civis massacradoscomo re- negros.
p'e:!ia da insurreição..n.acional de maio de 1945: tudo isso fu pressagnr, O capital estrangeiro vai geralmente aliar-se a essasclassesdominantes,
quando não antecipa fielmente, as crueldades mais ignóbeis do nazismo, in- trata-las como intermediárias para a exploração dos camponeses e dos traba-
cluindo o genocídio puro e ?imples: Se os burguesesda Europa e da América lhadores indígenas e consolidar as suas relações exploradoras com os seuspró-
se indignaram tanto contra Hitler, foi porque ele cometeu essecrime de lesa: prios povos. Algumas vezes, chega mesmo a estender amplamente o grau des-
raça branca que consistiu em aplicar a pqv?s da Europa, por c?nta do ünpe- sa exploração de forma pré-capitalista, combinando-a ao mesmo tempo con'
rialismo. alemão,.aquilo que os povos da Ária, da Ámerica e da África tinham
a introdução de novas formas de exploração capitalista. No Bengala,o capita-
sofrido às mãos do imperialismo mundial.
lismo britânico vai transformar os zamindars,que eram simples cobradores
Toda a economia dos pares dependentes está submetida aos interesses
de impostos ao serviço dos imperadores mongóis, pura e simplesmente em
e ao 'diktat'' do capital estrangeiro.'Na maioria destes países,as linhas fer- proprietários das temas nas quais cobravam impostos.
roviárias ligam aos portos.os centros de produção que trabalham para a ex-
' Aparecem assim três classes sociais híbridas na sociedade dos passe.s
portação, mas não os principais centros urbanos entre si. A iníra-estrutura bá-
subdesenvolvidos, que marcam com o seu selo a blocagem do seu desenvolvi-
sica é a que serve às atividades de importação e de exportação; as redes esco- mento económico e social:
lar, hospitalar e cultural, pelo contrário, sofremde um subdesenv(lvünento
-- A classe da burguesia "compradora'; burguesia autóctone, a principio
horroroso. A maior parte'da população estagnano analfabetismo na igno-
simples associados por mandato das casas estrangeiras de importação-expor'
52
53
ração, que se enriquecem e se transformam progressivamente em empresários fortemente apoiado pelos grandes grupos industriais indianos.
independentes. As suas empresas circunscrevem-se essencialmente à esfera do -- Sob o impulso da revolução russa, pode ser pera;lhado llelo movimento
comércio (e dos "serviços"). Os seuslucros são geralmente investidos no co- operário nascente,que dele fuá sobretudo um instrumento de mobilização
mércio, na usura, na compra de terras, na especulaçãoimobiliária, etc. das massas urbanas ; aldeãs, contra o poder estabelecido. O exemplo mais tí-
-- A classe do semiproletariado rural (mais tarde alagado aos"muginais pico é o do Partido Comunista Chinês dos anos 20 e o do Partido Comunista
urbanos"). Os camponesesempobrecidose expulsos4as suasterras não en- Indochinês nos decênios seguintes.
contram trabalho na indústria dado o subdesenvolvimento
desta.Sãoobriga- -- Podepromover explosões de revolta da pequenaburguesia urbana e do
dos a permanecer no campo e a alugar os seusbraços aos grandes camponeses campesinato, tomando a forma política do populismo nacionalista. E sobre-
ou a alugar pedaços de terra para daí tirar uma subsistênciamiserável em tro- tudo a revolta mexicana de 1910 que servede protótipo a estaforma de mo-
ca de uma renda fundiária (ou, no sistemade "a meias", de uma pane da co- vimento anta,imperialista.
lheita), cada vez mais exorbitantes. Quanto mais funda é a sua miséria easua
Em geral, a entrada em crise do sistema imperialista, assinalado por
falta de emprego, mais alta é a renda que se dispõem a pagar para arrendar convulsõesinternas sucessivas-- derrota da RÚssiatsarista na guerra contra o
um terreno. Quanto mais elevada é a renda fundiária, menos os detentores de
Japão em 1904-5; revolução russa de 1905; primeira guerra mundiallrevolu-
capitais têm interesse em investi-los na indústria, empregando-os antes na
ção russa de 1917; entrada em cena do movimento de massana índia e na
compra da terra. Quanto maior é a miséria da massa camponesa, mais restrito China; crise económica de 1929-32; segundaguerra mundial; derrotas sofri-
é o mercado interior de bens de consumo, e mais se mantém o subdesenvol-
das pelo imperialismo ocidental às maõs do imperialismo japonês em 1941-
vimento da indústria, mais intenso permaneceo sub-emprego-
42; derrota do imperialismo japonês em 1945 -- estimulou fortemente o mo-
O subdesenvolvimento não é pois o resultado da falta absoluta de capa
vimento de libertaçãonacionalnos pares dependentes.Estemovimento rece-
tais ou de recursos. Bem pelo contrário, o sobre-produto social representa, beu o seu maior impulso da vitória da revolução chinesa de 1949.
muitas vezes, uma oração mais elevada do rendimento nacional nos pares a-
Os problemas táticos e estratégicos que, para o movimento operário in-
trasadosdo que nos paísesindustrializados. O subdesenvolvimentoé o resul-
ternacion;l (e indígena, nos países dependentes) decorrem da aparição da
tado de uma estrutura social e económicaderivadado domúiio capitalista,
movimento de libertação nacional nos paísessemicoloniaise coloniais, são
que faz com que a acumulaçãode capitais-dinheironão se oriente principal- tratados mais detalhadamenteno capítulo XI, ponto 4 e no capítulo Xlll,
mente para a indústria nem mesmo para o investimento produtivo, o que pro-
ponto 4. Sublinhe-seaqui apenaso particular deverdo movimento operário
voca um imenso sub-emprego (quantitativo e qualitativo) em relação aos paí- dos paísesimperialistasde apoiar incondicionalmente todo o movimento e
ses imperialistas.
toda a ação efetiva das massasdos paísescoloniais e semicoloniais, contra a
exploração e a opressãoque sofrem por parte das potências imperialistas. Es-
4. O tntovimento de tibertclção ntaciona!
se 'dever implica o de distinguir estritamente as guerras enter-imperialistas --
guerras reacionárias -- das guerras de libertação nacional, que, independente-
Com o tempo, era inevitável que centenasde milhões de sereshumanos mente da força política que dirige o povo oprimido nesta ou naquelaetapa da
não iriam suportar passivamenteum sistemade exploração e de opressãoim- luta, são guerras justas, em relação às quais o proletariado mundial deve a-
postos por um punhado de grandes capitalistas dos paísesimperialistas, bem
gir pela vitória dos povos oprimidos.
como pelos aparelhos administrativos e represivos ao seu serviço. Um mo-
vimento de libertação nacional vai progressivamenteganhando rales entre a S. O neocotoniaiismo
jovem intelligentsia dos países da América Latina, da Ãsia e da Àfrica, que a-
dota as idéias democrático-burguesas e mesmo gemi-socialistas e socialistas do O impulsodo movimentode libertaçãonacionala seguirà 2a guerra
Ocidente, para contestar o domínio estrangeiro sobre o seu país O naciona- mundial levou o imperialismo a modificar assuasformas de domúiio nos pa'
lismo dos paísesdependentes,de orientação anta-imperialista,articula-se com asesatrasados.Essedomínio, de direto, tornou-seprdgressÍvamenteindireto.
base nos interesses de três forças sociais: A quantidade de cblânias, propriamente falando, administradas diretamente
-- É adotado, acima de tudo, pe]ajovem burguesia naciona] industrial, an- pela potência colonial, derreteu-secomo cera ao sol. No espaço de dois decê-
de esta possui já uma base material própria, que faz com que os seusinteres- nlos, passou de cerca de setenta a algumasapenas Os impérios coloniais bri-
se entrem em conconência com os da potência imperialista predominante. O tânicos, franceses,italianos, holandesese, finalmente, portuguesese espa-
casomais típico é o do Partido Indiano do Congresso,dirigido por Gândi e nhóis, desmoronaram-setotalmente.

54 55
+ técnicos, quadros, etc.+ campesinato rico. A miséria du massascontinuei a
n emrme. As contradições sociais aumentam em vez de diminuírem; daí
permanecer intacto o potencial de explosões revolucionárias nessespaigc?'
Uma nova camadasocial, nestas condições, ganhaimportância: a buro-
cracia de Estado, que ''gere" em geral um setor nacionalizado importante, que
seerige em reprenntante das preocupações nacionais fac! ao estrangeiro, mas
que aproveita'de fato do seu monopólio de gestão para efetuar a sua acumula-
ção privada em grande escala.

57

56
2. A consciênciade classeelementar do proletariado

Ora, a organizaçãode uma greve implica sempreum certo grau de cons-


VIII. AS ORIGENS DO MOVIMEN'lD OPERÁRIO MODERNO ciência de classe e um certo grau elementar de organização de classe. Im-
plica, em especial, a noção de que o êxito de cada assalariado depende de uma
ação coletiva; é uma solução de solidariedade de classe, oposta à solução indi-
vidual ( que procura aumentar o ganho individual sem atender aos rendimen-
tos dos outros assalariados).
Esta noção constitui a forma elementar da consciência de classeproletá-
ria. Do mesmo modo, pela organização de uma greve, os assalariadosapren-
dem instintivamente a criar caixas de socorro. Estas caixas de socorro e de
do ca-:«n=:) m s assalariadosexistem, ou naa, bastante antes da fomiação
entreajuda visam também minorar de algum modo a insegurançada existência
e operários terno, Houve manuestações de luta de classeentre patrões operária, permitir aos operários defenderem-sedurante os períodos de desem-
Esta luta não resulta de atividades subversivas, mas, pelo contrário, a prego, etc. Estas são as fobias elementares de organização de classe.
doido'incada lula de cesse é p/odufo da prárlkz (ü luta de cesse que a precede Mas estas formas elementares de consciência e de organização operária
não implicam nem a consciênciados fins históricos do movimento operário
1. A luta de classeelementar do proletariado nem a compreensão da necessidade de uma açãó /z?ica i?dele/zde/zre da
classe operária.
As manifestações elementares da luta de classedos assn],ri,dos piraram Assim, as primeiras formas de ação política operária situam-seà exrre'-
sempre à volta de três reivindicações: "'" ' o-----" ma esquerda do radica/esmo peqzze/mbzz/Tzzês.
Durante a revolução francesa, à
extrema esquerda dos jacobinos aparece a Conspiração dos Iguais, de Grac-
1) 0 aumento dos salários, meio imediato de modificar a repartição do cAzzs
Babezz/ que representao primeiro movimento político moderno visan-
produto social entre patrões e operários, em favor destes. do a coletivização dos meios de produção.
2) A redução das horas de trabalho sem redução de salário foi outro Na mesma época, na Inglaterra, alguns operários constituem aZ,ordoPZ
meio direto de modiâcar esta repartição em favor dos trabalhadores. Cbn'espondlngSocfeO', que procura organizar um movimento de solidarieda-
3) A liberdade de organização Enquanto que o patrão, proprietário do de com a revolução francesa. Esta organização foi esmagadapela repressão
capital e dos meios de produção, dispõe por seu lado de todo o poderio eco- policial. Mas, logo após o fim das guerras napoleónicas, na extr©ma esquerda
nómico, os operários estão.desarmadosao longo do tempo em que travam en- ão partido radical (pequeno-burguês) cria-se, na região industrial de Manches-
ter-Liverpool, uma Z,z8zzeZ)u Ste#llage C/nfperse/, essencialmente constitui'da
por operários. Após os sangrentosincidentes em Peterloo, em 1817, a separa'
ção de um movimento operário independentedo movimento pequeno-bur-
sistência. ' ' ' guês acelerou-se, e assim pode surgir um pouco mais tarde o partido carüsra,
o primeiro partido essencialmenteoperário que reclama o sufrágio universal.
É pela supressãodessa concorrência que os divide, pela formação de um

g?l;Hall';=';;1::
==.ilÜÜÍiãUl%U 3. O socülismo utópico

Todos estes movimentos elementares da classeoperária foram largamen-


'-uelusa que os opõem ao patronato. A experiência ensina-lhesrabi
pressãocapitalista. organuaçao, nâo dispõem de umas para se oporem à te dirigidos pelos próprios operários, quer dizer, por autodidatas, formulando
amiúde ideias ingênuas sobre assuntos históricos, económicos e sociais, que e-
xigem estudos cientíGlcos sólidos para serem tratados a fundo. De certo modo,
estes movimentos desenvolveram-se à margem do progresso científico dos sé-
culos XVll e XVIII. Contrariamente, é no quadro desseprogresso científico
do no primeiro século da nossa era. ' ' ''' ' ""r'''' ''"-n-"" que se situam os esforços dos primeiros grandes autoresutópicos. como Tho'

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17zmllore(chancela d: Inglatcna no séculoXVI), (bmpanelü (autor italia- O Jüan#bsro (bmtznlSÍU representa, assim, uma forma superior da cona--
no do sécdo XVn), Roóàf Owa, ChmlesFoto;in e ihür3fllBi'(auto es ciência de classe proletária. Vem ensinar à classeoperária que a sociedade so-
dos séculos XVlll ! XIX). Estes autores esforçaram-se por reunh todos os co- cialista resultará da sua luta de classe contra a burguesia. Ensina-lhe a neces-
nhecimentos cient#icos da sua época,para fomiular: sidade de não lutar simplesmente por aumentos de ;alários, mas também pela
a). uma crfdca.virulenta da desigualdade social, designadamente a que abolição do salariato. Ensina-lhe, sobretudo, a necessidadede constituir para.
caracteriza a sociedade buWiesa(Owen, Fourier e Saint-Simon); ' dos opa'á'ós fpdepmdenfes, de completar a ação de reivindicações econõmi
b) um .plano de organização de uma sociedade'igualitária, baseadana caspor uma ação poética no plano nacional e internacional
sociedade coletiva;
Portanto, o movimento operário moderno nasceuda fusão entre a luta
Por estes dois aspectos da sua obra, os grandes socialistas utópicos são de classe elementar da classe operária e a consciência de classe proletária ele-
os verdadeiros precursores do socialismo moderno. Mas a fraqueza do seu sip vada à sua mais alta expressão, corporizada na teoria marxista.
ema reside
a) no fato que a sociedade ideal que imaginam (daí o termo: socialismo S. A PrimeiraInterntacbniat
utópico) se apresentacomo um ideal a construí, a atingir de uma só vez por
um.esforço de compreensãoe de boa vontade dos homens, semrelação com a Esta fusão é a resultante de toda a evolução do movimento operário in-
evolução histórica, mais ou menos determinada, da própria sociedadecapita- ternacional entre os anos 50 e os anos 80 do século passado.
isca;
No decurso das revoluções de 1848, que sacudiram a maior parte dos
b.) no fato que as explicações das condições do aparecimento da desi- pares da Europa, em nenhum lugar a classeoperária apareceucomo um parti-
gualdade social e daquelas em que pode desaparecer, são cientificamente in. do político no sentido moderno da palawa, com exceçãoda Alemanha (atra-
su6lcientespor se bas;alem em fatos secundários (violência, moral, dinheiro,
vésda pequena.4ssocüçãbdos GomunfsíasJdirigida por Mare. Por toda a par-
psicologia, ignorância etc.), não partindo dos problemas de es/mrulra econó-
te, segue na esteira do radicalismo pequeno-burguês. Na França, contudo, se-
mica e social, da interação entre as relaçõesde produção e o n&el de desen- para-se deste último durante as sangrentasjornadas de Junho de 1848, sem
volvimento das forças produtivas
poder ainda constituir um partido politico independente (os grupos revolucio-
4. O nlascimentoda teoria mauista nários formados por .4ugzzs/eBh/zqtzí são, de certo modo, o seu núcleo ).
Após as reações dos anos seguintes à derrota da revolução de ]848, são as or-
ganizaçõessindicais e mutualistas da classeoperária que acima de tudo se de-
E precisamente nestesdois domúiios que a formação da teoria marxista senvolvemna maioria dos países,com exceção da Alemanha, onde a agitação
na laca/ogü .4/el?zã (1845) e, sobretudo, no'.44aniHesroGolzzt//zfs/a (1847) de pelo sufrágiouniverso'permite a lassa//e constituir um partido político ope-
K@/ .44arxe FredeHc .Foge/s,representaum progressodecisivo. Com a teoria rário: a Associação Geral dos Trabalhadores Alemães.
marxista, a consciência de classe operária encarna-se numa teoria científica de
nível mais elevado. É pela fundação da Primeira Internacional, em 1864, que Marx e o pe-
queno grupo dos seusadeptos efetuam a verdadeira fusão com o movimento
Marx e Engels não descobriram as noções de classe social e de luta de operário elementar da época e que preparam a constituição dos partidos so-
classe. Tais noções eram já conhecidas dos socialistas utópicos e de autores cialistasna .naioria dos paísesda Europa. Por muito paradoxal quepossapa-
burguesesfrancesesl como Thierry e Guizot. Porém, explicaram dc comia recer, não são os partidos operáriosnacionaisque sereúnem para fundar a
científica a ordem das classes, as causas do desenvolvimento das classes, o fa- Primeira Internacional, mas é a constituição desta que permite a reunião na-
to que toda a história humana pode ser explicada pela luta de classese, sobre- cional dos grupos locais e sindicalistas, que aderem à Primeira Internacional.
tudo, as CO/zd@ões pnzarerüiSe morais sob'as quais a divisão da sociedadeem Quando a Internacional se desagrega, após a derrota da Comuna de Pa-
classespode dar lugar a uma sociedadesocialista semclasses. ria, os operários de vanguarda conservama consciênciada necessidadede um
Por outro lado, explicaram como o próprio desenvolvimento do capita- tal agrupamento no plano nacional. Durante os anos 70 e 80 e após valias ten-
lismo preparava inexoravelmente o advento duma sociedade socialista, prepa- tativas goradas,formam-se em definitivo partidos socialistascom baseno mo-
rava as forças materiais e morais que deviam asseguraro triunfo da sociedade vimento operário elementar da época, com as únicas exceçõesimportantes da
nova. Esta, a partir de então, dekou de aparecer como simples produto dos Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Nestes países, os partidos socialistas que
sonhos,e dos desqos dos homens, e antes como o produto lógico da evolução seconstituíam na mesma época ficaram à margem de um movimento sindical
da história humana.
já poderoso. Na Grã-Bretanha, é só no século XX que é criado o Partido Tra-
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banhista, com base nos sindicatos. Nos Estados Unidos, a criação de semelhan-
te partido continua hoje ainda a ser a tarefa ardorosa do movimento operário
lx REFORMAS E REVOLUÇÃO
6. As diferentes Jornas de organização do tnovimento opnário

Tudo isto nos permite precisar que os sindicatos, .as mutualidades e os


partidos socialistas surgem, de certo modo, como produtos espontâneos e ine-
vitáveis da luta no seio da sociedadecapitalista, e que, em definitivo, depende
de fatores de tradição e de conjuntura nacionaisque determinada forma se de- O nascimento e o desenvolvimento do movimento operário moderno
senvolta antes de outra. dentro da sociedadecapitalista oferecem-nos um exemplo da ação recíproca
Quanto às cooperativas,não surgemcomo produto espontâneoda luta que exercem, um sobre o outro, o meio social na qual os homens seencon-
de classemas como resultado da iniciativa de Roberf Owe/z e seuscamaradas. tram, independentemente da sua vontade, e a opção mais ou menos conscien-
que em 1844 fundaram a primeira cooperativa, em Rochdale, Inglaterra. te que desenvolvem para o transformar.
A importância do movimento cooperativoé real, não só porque pede
constituir para a classeoperária uma escola de gestão operária da economia, 1. Evolução e rwotuções através da história
mas sobretudo porque é suscetível de preparar, mesmo no interior da socie-
dade capitalista, a solução de um dos maislrduos problemas da sociedadeso- As modificações do regime social que se têm produzido atravésdas ida-
cialista, que é o da distribuição. Mas, ao mesmo tempo, contém um perigoso des foram sempre o resultado de uma alteração brusca e violenta, por efeito
potencial de concorrência económica no seio do regime capitalista, com em- de guerras,de revoluções ou de uma combinação entre as duas. Não háum ú-
presascapitalistas, concorrência que não pode deixar de arrastar a resultados nico Estado hoje estabelecidoque não sqa produto de semelhantessubver-
nefastos para a classeoperária e, sobretudo, de minar a consciência de classe sõesrevolucionárias. O Estado americano nasceu da revolução de 1776 e da
de proletariado. guerra civil de 1861-1865; o Estado britânico, da revolução de 1649 e da de
1689; o Estado francês, das revoluções de 1789, de 1830, de 1848 e de 1870;
o Estado belga, da revolução de 1830; o Estado holandês, da revolução dos
7.A Cotttunade Paria Países-Baixos'do século XVl; o Estado alemão, das guerras de 1870-71, de
1914-18, de 1939-45, e das revoluções de 1848 e de 1918, etc., etc.
A Comuna de Paria resume todas as tendênciasque estão na origem e Seria porém errado supor que basta utilizar a violência para conseguir
na primeira expansãodo movimento operário moderno. Nasceude um movi- modificar a estrutura social segundo a vontade dos combatentes. Paraque u-
mento espontâneo de massase não de um plano ou de um programa previa- ma revolução transfomla realmente a sociedadee as condições de existência
mente elaborado por um partido operário. Revelou a tendência da classeope- das classeslaboriosas, é preciso que tenha sido precedida de uma evolução
rária para ultrapassar o estágio puramente económico da sua luta a origem que crie, no seio da antiga sociedade, as bases.materiais (económicas, técní
imediata da Comuna é eminentemente política: a desconfiançados operários ;as, etc.) e humanas (as classessociais dotadas de certas caracterhticas especí'
de Paria em relação à burguesia, acusada de querer entregar a cidade aos exér- ficas) da sociedadenova. Quando estasbasesfaltam, as revoluções, mesmo as
citos prussianos que a cercavam combinando simultânea e constantemente mais violentas, acabam por reproduzir mais ou menos ascondições que havi-
reivindicações económicas e reivindicações políticas. Conduziu a classe operá- am pretendido abolir.
ria, pela primeira vez, à conquista do poder político, ainda que apenasna área Um exemplo clássico a este respeito é o das sublevações camponesas vi-
de uma única cidade. Refletiu a tendência da classeoperária para destruir o toriosas que se'escalonaramao longo da história chinesa.Cada uma destas
aparelho de Estado burguês, para substituir a democracia burguesa por u- sublevaçõesrepresenta uma reação do povo contra as exaçõese o peso dos
ma democracia proletária, como forma superior da democracia. Demonstrou impostos insuportáveis de que os camponeseseram «umas nos períodos de
também que, sem uma direção revolucionária consciente, o enorme heroísmo declínio das sucessivasdniastiasque reinaram no Império celeste.Consegui-
de que o proletariado é capaz no decurso de um combate revolucionário, se ram a queda da dinastia visada e a subida ao poder de uma nova dinastia, que,
revela insuficiente para assegurar a vitória. amiúde, saiu dentre os próprios dirigentes da insurreição camponesa,como
no caso da dinastia dos HAN.

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A nova dinastia começa por estabelecer condições mais favoráveis para mitem a reorganizaçãofundamental de toda a vida económica e social
o campesinato. Mas, a par e passo que o seu poder se consolida e que a sua Quanto mais as contradições inerentes ao capitalismo se agravam,mais
administração se reforça, as despesasdo Estado aumentam, o que provoca a a luta de classese exacerba e mais a evolução do capitalismo prepara a revolu-
obrigação de aumentar os impostos Os funcionários-mandarins, de inhio pa- ção, mais esta se orienta no sentido de explosões de natureza diversa (econó-
gos pelos comes do Estado, começam a abusar do seu poder e chamam a si a micas, sociais, políticas, financeiras, militares, etc.) no decurso das quais Q
propriedade de fato dos domhios camponesespela extorsão de uma renda proletariado tem espaçopara lutar pela conquista do poder poli.tico e pela re-
fundiária, além do imposto Deste modo, reproduz-seo crescimento da miss alização de uma revolução social.
ria camponesa, após alguns decênios de vida melhor. A carência de um "salto
em Gente'' das forças produtivas, de um desenvolvimento da indústria mo- 3. A evolução do mov mento operário moderno
derna assenteno maquinismo, explica o caráter cíclico das revoluções sociais
na China clássica, e a impossibilidade dos camponeses assegurarem uma e- No entanto, a história do capitalismo bem como a do movimento ope-
mancipação duradoura. rários não seguiram uma traJetória tão clara e tão retilútea como os manistas
poderiamesperarpor volta de 1880.
2. Evolução e revoluções tio capitalismo contemporâneo
As contradições internas da economia e da sociedadedos países impe-
rialistas não são imediatamente agravadas. Pelo contrário, entre a derrota da
Também o capitalismo contemporâneo nasceude revoluções sociais e Comuna de Paria e o deflagar da la guerra mundial, a Europa ocidental e os
po[íticas: as grandesrevo]uções burguesasque se sucederamentre o XV] eo Estados Unidos conheceram um longo período de progressodas forças produ-
XIX séculos,e que deram lugar à formação dos Estados nacionais.Estasre- tivas, umas vezes mais lento, outras vezes mais febril, que disfarçavam e ocul-
voluções tornaram-se possa'eisdevido a uma evolução precedenteque consip tavam o "trabalho de capa'' das contradições internas do sistema.
tiu no crescimento das forças produtivas no seio da sociedadefeudal, forças Estas contradições iriam estalar, com violência, em 1914. Foram seus
essasincompatíveis com a manutenção da serüdão, das corporações, das res- signos precursores, nomeadamente, a revolução russa de 1905 e a greve ge-
trições impostas à livre circulação das mercadorias. ral dos trabalhadores austríacos no mesmo ano. Mas a experiência imediata
Esta evolução fez também nascer uma nova classe, a burguesia moder- dos trabalhadores
e do movimentooperárionestespaísesnão refletia um a-
na, que fez a aprendizagem da luta política no quadro das comunas medievais profundamento das contradições do sistema. Pelo contrário, refletia a crença
e das escaramuças sob a monarquia absoluta, antes de se lançar à conquista numa evolução gradual, largamente pacífica e irreversúel, dos progressospara
do poder político. o socialismo (já não acontecia o mesmo na Europa oriental; daí terem um pe-
A partir de um certo nível do seu desenvolvimento,também a própria so mais reduzido tais ilusões nos países desta zona).
sociedadeburguesa se caracteriza por uma evolução que prepara inexoravel- É incontestável que os sobre-lucros coloniais acumuladospelos imperi-
mente uma nova revolução social.
alistas lhes permitiriam conceder certas reformas aos trabalhadores dos paí-
No plano material, as forças produtivas desenvolvem-seao ponto de se sesocidentais. Mas outros fatores devem também entrar em linha de conta
tornarem cada vez mais incompat&eis com a propriedade privada dos meios
para compreender esta evolução.
de produção e com asrelaçõesde produção capa;alistas.
O desenvolvimento A emigração maciça para os paísesde além-mar, o crescendo das expor-
da grandeindústria, a concentração do capital, a criação dos trustes, a crescen-
taçõeseuropeiaspara o resto do mundo, fizeram baixar, a longo prazo, o e-
te intervenção do Estado burguês para "regularizar" a marcha da economia xército de reservaindustrial. As relaçõesde força entre o Capital e o Traba-
capitalista, preparam cada vez mais o terreno para a socialização(a apropria-
lho, no "mercado de trabalho'', melhoraram deste modo para .'s trabalhado-
ção coletiva)dos meios de produção,e paraa suagestãoplanificadapelos
res, o que criou as basesda expansão de um sindicalismo de massa,não limi-
próprios produtores associados.
tado apenasaos operários qualificados.Assustadapelo Comunade Paria,pe-
No plano humano (social), constitui-se e reforça-seuma classeque reú- las grevesviolentas na Bélgica (1886, 1893) pelo ascensoaparentemente ine-
ne cada vez mais as qualidades para realizar esta revolução social: "o capita- sist&el da social-democraciaalemã, a burguesia procurou deliberadamentea-
lismo produz, com o proletariado,o seu próprio coveiro". Concentrado em calmar as massasrevoltadas através de reformas sociais.
ndes empresas,perdida a esperançade uma promoção social.individual, O resultado prático desçaevolução foi a formação de um movimento o-
este proletariado adquire, através da sua luta quotidiana, as qualidades essen-
perário ocidental que, na prática, se contentava com lutar por reformas ime-
ciais de solidariedade coletiva, de cooperaçãoe de disciplina na ação que per- diatamente realizáveis: aumentos de sa]ários, reforço da ]egis]ação social, ex-

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tensão das liberdades democráticas, etc. O combate pela revolução social era 5. A necessidade
de um partido de vanguarda
relegado aa domhio da propaganda !iterária e da educação dos quadros. As-
sim, este movimento deixava de se preparar deliberadamente para a revolução A experiência confirma, assim, os elementos fundamentais da teoria le-
socialista, na crença de que bastaria reforçar as organizaçõesde massade pro- ninista do partido de vanguarda. Embora a classe operária possa, por si mes-
letariado para que, "chegado o momento", essacolossal força desempenhasse ma, assumir lutas de classemuito vastasà volta de objetivos imediatos, embo-
automaticamente um papel revolucionário. ra ela seja perfeitamente capazde ter acessoa um núel elementar de consciên-
cia de classepor'rica, indispensáveispara poder pra'er as viragensda situa-
4. O oportunismo reformista ção objetivo, para poder elaborar as tarefas do movimento operário disso de-
correntes, e indispensáveistambém para suplantar todas as manobrasda bur-
Simultaneamente, os partidos e sindicatos de massada Europa aciden- guesia, todas as influências (amiúde sutis) que a ideologia burguesa e pequeno
tal não se contentavam com refletir uma evolução momentânea de lutas de burguesa podem exercer sobre as massaslaboriosas.
classelimitadas, no essencial,ao domüiio dasreformas Tornavam-se,por sua Por outro lado, o movimento de massapassainevitavelmente por altos e
vez, uma força política que acentuava a adapraçêódo moyímen/o opera'b baixos. As largas massasnão se mantêm num permanente núel elevado de ati:
de massaao capitalismo "próspero'' dos paísesimperialistas. O oportunismo cidade política. Uma organização de massaque procure adaptar-$eao nível
social-democrata descuidava a preparação dos trabalhadores para as bruscas médio de atividade e de consciência dessasmassas,desempenhará,aGmal,um
mudançasde c]ima social, político e económico que se anunciavam, tornando- papelde freio no que respeitaà expansãoda atividaderevolucionária,que a-
se um fator importante no sentido de facilitar a sobrevivênciado capitalismo penas é possível em determinados momentos.
nos tormentosos anos de 1914-1923. Por todas estas razões, é indispensável estruturar uma organização de
No p&z/mfeóHco,o oportunismomanifestou-se
por uma revisãodo vanguarda da classeoperária, um partido revolucionário. Em tempos normais,
marxismo, oâcialmente proclamada por Edouard Bernstein ( o movimento é tal partido manter-se:á minoritário. Mas asseguraráa continuidade da ativida-
tudo, o 6im não é nada), que pedia o abandono de toda e qualquer atividade de dos seusmilitantes e o seu núel de consciência. Permitirá preservar os ensi:
além da busca de reformas do sistema.O "centro marxista'; à volta de Kauts- namentos adquiridos na experiência de luta e propaga-losà classe.Terá por
ky, embora combatendo o revisionismo, fez-lhe numerosas concessões,em tendência as futuras lutas revolucionárias e terá por missão essenciala prepa-
especial ao justificar uma prática dos partidos e dos sindicatos que se aproxi- ração dessaslutas. Deste modo, facilitará grandemente as viragens na menta-
mava cada vez mais do revisionismo.
li(jade e no comportamento dos trabalhadores organizados e das massaslabo-
No Pblm PMrfcO, o oportunismo manifestou-sepela aceitação da coli- riosas mais largas, viragens exigidas pelas bruscas alterações da situação obje-
gação eleitoral com partidos burgueses "liberais"; pela aceitação progressiva uva
V

da participação ministerial em governos de coligação com a burguesia; pela au- Decerto, tais partidos de vanguarda não podem substituir-se às massas
sência de uma luta consequente contra o colonialismo e outras manifestações para procurar realizar a revolução social, en! seu lugar: ,"A emancipaçãodos
do imperialismo. Embora momentaneamente afetado em conseqüência da re- trabalhadores tem que ser obra dos próprios trabalhadores". Obter a adesão
volução russa de 1905, este oportunismo manifestou-se,sobretudo na Alema- da maioria dos trabalhadores ao programa, à estratégia e à tática do partido
nha, pela recusa de aceitar a proposta de Rosa Luxemburgo para desencadear revolucionário, eis a pré-condição indispensável para que um partido de van-
grevesde massacom fins políticos. Refletia, em profundidade, os interesses guarda possa realizar plenamente a sua missão.
particulares de um aparelho b=ocrático reformista(mandatários social-demo- Tal adesão não será normalmente possa'el senão em momentos "quen-
cratas, funcionários do partido e dos sindicatos, que tinham conquistado subs- tes'' de crise pré-revolucionária ou revolucionária, eles próprios ''assinalados'
tanciais vantagens no seio da sociedade burguesa). pela deflagração de poderosos movimentos espontâneos de massa.Não há pois
Este exemplo demonstra que a invasão do movimento operário pelo o- em absoluto nenhuma oposição entre a espontaneidadedas massase a neces-
portunismo reformista não era inevitável. Teria sido possúel promover ações sidadede estruturar uma organizaçãorevolucionária de vanguarda.Esta apóia-
extra-parlamentares e greves cada vez mais amplas, durante os anos que pre- se sobre aquela, prolonga-a, completa-a, e permite-lhe triunfar concentrando
cederam a la. guerra mundial. Essasaçõesteriam podido preparar as massas toda a sua energia no ponto newálgico: a derrubada do poder político e eco-
operáriaspara as tarefas exigidaspelo ascen$orevolucionário que coincidiu nómico do Capital.
com o 6un daquela guerra.

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5. Os revolucionários e a tuta pelas refonnas
contra os interessesdo Capital. A luta de classe quotidiana não se extingue,
mesmo no período de declúio do capitalismo. Sem sindicatos poderosos a-
esquerdistaslilás camadas reformista, desenvolveram-seatitudes ultra- grupando uma oração elevada da classeoperária, o patronato tem todas as hi-
rarLao runoritárias do movimento operário e da classeope- póteses de sair vencedor das escaramuças quotidianas. O ceticismo e a descon-
fiança nas suaspróprias forças, que resultaria de semelhantesmalogros, seria
altamente prqudicial ao desenvolvimento de uma consciência de classeeleva-
da no interior das largas massas operárias.
Além disso, na época do capitalismo contemporâneo, a ação sindical já
não se confina fatalmente na luta pelos salários e pela redução do tempo de
trabalho. Os trabalhadores vêem-se cada vez mais confrontados cam proble-
mas económicos de conjunto, que influenciam o seu nüel de vida: inflação,
encerramento de empresas,desemprego, aceleração dos ritmos de trabalho,
tentativas do Estado para limitar o exercício do direito à greve e à livre nego-
ciação dos salários, ctc. O sindicato vê-se obrigado a tomar posição, cedo ou
tarde, sobre todas estas questões. Torna-se pois uma escola de educação da
classeoperária, inclusive sobre problemas de coÜunto do capitalismo e do so-
cialismo. Torna-se uma arenaonde se defrontam tendências favoráveisà cola-
boração permanente de classe, até mesmo à integração dos sindicatos no Es--
cada burguês, e tendências de luta de classe, que recusam subordinar os inte-
ressesdos trabalhadoresa um pretenso "interesse geral" que não é mais do
que o interesse da capital mal camuflado. Como defendem, nestascondições,
os interesses imediatos da grande massa contra as tentativas de desviar os sin-
dicatos da sua função fundamental, os revolucionários integrados nesta ten-
dência de luta de classetêm portanto a oportunidade de encontrar um eco
crescenteno seio dos sindicatos, sob condição de agir com paciência e pense
verança, não abandonando este campo de trabalho de massaaos burocratas,
reformistas e direitistas de todo o gênero.
Os revolucionários procuram ser os melhores sindicalistas, quer dizer,
procuram agir para que sejam adotados pelos sindicatos e pelos sindicalizados
as propostas acercados objetivos de luta e das formas de organizaçãodas lu-
tas, que melhor correspondam aos interesses imediatos de classedos trabalha-
dores. Não descuidam nunca a defesa dessesinteressesimediatos, desenvol-
vendo ao mesmo tempo sem cessar a sua propaganda geral em favorda revo-
lução socialista, sem a qual, em definitivo, nenhuma conquista operada pode
ser consolidada, nenhum problema vital para os operários pode ser definitiva-
mente resolvido.
Inversamente, a burocracia sindical, cada vez mais integrada no Estado
burguês, privilegiando e substituindo cada vez mais uma politica de concilia-
ção de classee de I'paz social", à sua missão original de defesairreconciliável
dos interessesdos ;indicalizados, enfraquece objetivamente o sindicato, espe-

ãl : illi
zinhando cada vez mais as preocupações e as convicções.dos filiados. A luta

=,ã==€1ãElnãUB
68
pela democracia sindical e a luta por um sindicalismo de luta de classecom-
pletam-seassimlogicamente, num combate constante, de todos os dias.

69

l
preselzraüon (não aos impostos sem representação parlamentar): Disso se
concuía logicamente que recusava o direito de voto às classespopulues, que
e não pagavam impostos: os representantes "demagogos" destas não seriam le-
ri X - DEMOCRACIA BURGUESA E DEMOCRACIA PROLETÁRIA vados a votar constantemente novasdespesas, visto que outros teriam de as
pagar?
d Mais uma vez, o que se encontra na base da ideologia burguesa,não é,
b de nenhum modo, o princípio da igualdadede direitos de todos os cidadãos
M (o direito de voto censitário espezinha cinicamente este principio) nem o
In princípio da liberdade política a todos garantida, mas tão-só a defesa e prote-

1. Liberdade económica e liberdade política ção dos cofres-fortes, das somas awltadas!

Sll 2. O Estado burguêsao serviço dos interessesde classedo Capital


se]

PU Deste modo, no século XIX não era difícil explicar aos trabalhadores
que o Estado burguês nada tinha de "neutro" na luta de classe,não era em
e( nadaum " árbitro'' entreo Capital e o Trabalho,como encargode
defender
pn o "interesse geral", mas antes um instrumento de defesa dos interesses do Ca-
PO pital contra os do Trabalho.
peí S6 a burguesiatinha o direito de voto. SÓa burguesiapodia livremente
ser recusar a admissão de trabalhadores. Desde que os operários entrassemem
inti greve e se recusassemcoletivamente a vender a sua força de trabalho nas con-
suP dições ditadas pelo Capital, a policia ou o exército agiriam pela violência A
pas ju;taça era, coÚ evidência, uma justiça de classe. Parlamentares,.jures, altas
funcionários, altos oficiais, colonizadores,ministros, bispos,todos safamda
que mesma classe facial, todos estavam lgados entre si pelos mesmos elos de di-
nheiro, de interesse,até de família. A classeoperáriaestavatotalmente ex-
prós cluída deste brilhante mundo.
pena Esta situação modificou-se a partir do momento em que o movimento
resta operário moderno arranca, adquire poder organizacional temível, co.nquistao
sufrágio universal atravésde impotentes açõesdiretas (grevespolíticas na
Bélgica,Ãustria, Suécia, Holanda, Itália, etc.). A classeoperáriavê-seluga-
tos. mente repre sentada no Parlamento (e, ao mesmo tempo, obrigada a pagar u-
no s ma grande parte dos impostos o que é uma outra história). Partidos operá-
batel rios reformistas parti.cipam em governos de coligação com a burguesia.Algu-
open mas vezes, começam mesmo a constituir governos formados exclusivamente
menu por representantesde partidos social-democratas (Grã-Bretanha, Escandiná-
«ia)
tuba Desde então, a ilusão de um Estado "democrático'' acima das classes,
quecl árbitro'' real e "conciliador" das oposiçõesde classe,pode maisfacilmente
"prin Também isso ressalta,com a maior nitidez, da história do direito de
ser aceite no seio da classe operária. Uma das funções essenciais do revisionis-
voto. mo reformista é a de difundir largamente tais ilusões. Antes, issofoi apanágio
ou 01
sao u

68
l u q $gWll:Hl:llE%Bâ
0
fiava. 'roca.a
l: exclusivo da social-democracia. Hoje, os Partidos Comunistas, empenhados
numa via neo-reformista, semeiam o mesmo tipo de ilusões.

71
70
Além disso, as liberdades democráticas conquistadas em regime capita-
lista constituem a melhor escolada democraciasubstancialque os trabaha-
dores usufruirão amanhã, após ter suprimido o reinado do capital. É com ra-
l
zão que Trotsky se refere às "células de democracia proletária no seio da de-
mocracia burguesa", que representam as organizaçõesde massada classeope-
C
rária, possibilidade dos trabi.Ihadores efetuarem congressose desfiles, de or-
L
ganizar greves e manifestações de massa, de possuir a sua imprensa, as suas es-
h colas, os seus teatros, os seuscineclubes, etc.
Ü
Mas é precisamente porque as liberdades democráticas se revestem de
t:
uma importância capital aos olhos dos trabalhadores, que mais importante se
torna apreender os limites da democracia parlamentar burguesa, mesmo a
SI'
maisavançada,do ponto de vista dessasliberdades.
se
Desde logo, a democracia parlamentar burguesa é uma democracia indi-
Pt reta, no interior da qual apenasalguns milharesou dezenasde milharesde
mandatários (deputados, senadores, governadores civis, presidentes de câma-
e(
ras, conselheiros municipais, etc.) participam da administração do Estado. A
pr-
esmagadora maioria dos cidadãos é exclui'da dessa participação. O seu único
PO
poder é o de depor um boletim de voto nas urnas, de tantos em tantos anos.
pei
ser Depois, a igualdade política numa democracia parlamentar burguesa é
uma igualdade meramente formal e não uma igualdadereal Formalmente, o
int{
rico e o pobre têm o mesmo"direito" de fundar umjornal, cujo funciona-
suP mento custa muitos milhões de escudos. Formalmente, o rico e o pobre têm
pas
igual "direito'' de comprar um tempo de emissão na TV e a mesma "possibi-
lidade'' de influenciar o eleitor. Mas, como o exercício prático dessesdireitos
que
forç pressupõe a movimentação de poderosos meios materiais, só o rico disso ple-
namente aproveita. O capitalista conseguirá assim influenciar um grande nú-
prõi
mero de eleitores que dele dependem materialmente, comprar jornais, esta-
pena
resui
ção de rádio ou períodos de tempo na TV, graçasaos seussubsídios.
Finalmente, mesmo fazendo abstração de todos limites estes, próprios
refol
da democraciaparlamentar burguesa,e supondo erradamenteque esta seja
tos. perfeita, permanece o fato de se tratar apenasde uma democracia política.
no s(
Maspara que serveuma igualdadepolítica entre o rico e o pobre -- que está
longe de ser real! -- se ao mesma tempo coincide, não desde alguns anos mas
bater
desde meio século até um século ou mais, com uma desigualdade social e eco-
opera nâmicasenorme, que vai sempre aumentando? Mesmo que os «ices e os po-
ment;
3. Os limites das liberdades democráticas burguesas bres tivessem exatamente os mesmos direitos políticos, os primeiros não dei-
xariam de conservarum enorme poder económico e social que falta aos se-
trabal
gundos, e que subordina inevitavelmente os segundasaos primeiros na vida
quecu de todos os dias.

ou orí 4. Repressão e ditaduras burguews


são in.
A natureza de classe do Estado fundado sobre a democracia parlamen
68
73
72
l

opa(írü, para se tornar tanto quanto possível eficaz, não pode apoiar-se ape'
nas no aparelho de repressãotradicional (exército, forças para'militares, juí-
(
zes), mas, também, em bandos armados privados, arregimentados por sua vez
t no meio de um movimento de massa:o da pequenaburguesiaempobrecidae
desesperadapela crise e a inflação, e que o movimento operário não conseguiu
d )
atrair ao seucampo por meio de uma ofensiva anticapitalista.
b A classe operária e a sua vanguarda revolucionária não.podem manter-se
N neutras perante o ascenso do fascismo. Devem defender com unhas e dentes
11 as suasliberdades democráticas.Para isso, devem opor uma frente única de ta-
tã pas as organizações operárias, incluindo os mais reformistas e os anaismodera-
dos, à progressãodo fascismo, a fim de esmagarno ovo a fera malfazeja. De-
Sll vem criar as suas próprias unidades de autodefesa contra os bandos armados
se do capital, não confiando na proteção do Estado burguês.Milícias operárias
Pt piadas pela massa dos trabalhadores, unificando todas as organizações ope-
rárias e impedindo toda a tentativa fascista de aterrorizar um qualquer setor
e( das massas,de desfazer uma só greve,de dispensar uma só reunião de qualquer
pr{ organizaçãooperária eis a via para obstruir o caminho à barbárie fascista,
PO que, de contrário, conduz aos campos de concentração, aos massacrese tortu-
pel ras, a Buchenwald e a Auschwitz. De resto, todo o sucessonesta via permite
ser às massaslaboriosas passar resolutamente à contra-ofensiva e abater conjunta-
intl mente a ameaça fascista e o regime capitalista que a fez surgir e que a alimen-
suP
ta
pas
5. A democracia proletária
que
foro O Estado operário, a ditadura do proletariado e a democracia proletária,
prol que os marxistas desejam substituir ao Estado burguês, que no fundo e em de-
pena finitivo é a ditadura da burguesia, mesmo quando sob a sua forma mais demo-
resu- crática, caracterizam-se;Dr u17merre/zsãó e /zãópor u17mresíriçãb das /iba'
refol dados democróffcas (:feflpas, para a massados cidadãos que trabalham. Sobre-
tudo após a experiência desastrosado estalinismo, que minou a credibilidade
tos. das garantias democráticas dos Partidos Comunistas oficiais, é indispensável
no si
reafirmar vigorosamenteeste princípio de base.
batel O Estado operário será mais democrático que o Estado fundado sobre a
opera democracia parlamentar, na medida em que a&ngzíeao rzzáxir7m
a área da de"
menu mocracúz dü'e/a Será um Estado que começará a extinguir-se desde o seu nas-
cimento, pela entrega de domínios inteiros da atividade social à autogestãoe à
trabal do lande capital . . . ..... ...: auto-administração dos cidadãos envolvidos (correios, telecomunicações,saú-
quect de, ensino, cultura' etc.) Associará a massados trabalhadores, organizados em
canse//zosoperários, ao exercício direto do poder, abolindo as fronteiras fictí-
cias entre o poder executivo e o poder legislativo. Eliminará o "carreirismo''

::: n
ou ori
sao in da vida pública, pela limitação dos ordenados dos funcionários, incluindo os

68
HHgÊãÜÉ'a::R m: situados mais alto, ao salário de um operário de qualificação média. Entrava-

75
74
C

rá a formação de uma nova casta de administradores vitalícios, pela introdu-


ção do princípio da ro&açãbobnkaróría em relação a qualquer delegaçãode
e XI A PRIMEIRAGUERRAIMPERIALISTAE A REVOLUÇÃORUSSA
t'i poderO Estado operário será mais democrático que o Estado fundado sobre a
democracia parlamentar na medida em que , cr@ as Zlasesmafermzspira o
d ater( zbb das /lbelxíadesdep7zocráficqs
l»r rodas. As imprensas,as estaçõesde
b rádio e de TV, as salasde reunião tornar-se-ão propriedade coletiva e serão
M


ÜBÊÊ ã :: : :snk H m::i :? :
de criar diversasorganizaçõespolíticas, incluindo.as de oposição; criar uma
A deflagração da la. guerra mundia] é o mais c]aro sinal da entrada do
capitalismo na sua fase de declínio. Tudo o que de progressohavia.trazido à
humanidade,estava doravente ameaçado.Imensos recursos materiais passam
unprensa de oposição ; expressão das .minorias políticas na impõe nsa, rádio e a ser periodicamente destruídos: la..guerra mundial; crise económica de 1929
Slll TV O armamento geral das massaslaboriosas, a sup'essão do exército perma' --32; 2a. guerra mundial; guerras coloniais de reconquista; numerosas"seces-
se nestes e dos aparelhos de televisão, a eleição dosjuüe$a total publicidade de sões''. A sobrevivência do capitalismo salda-sepor verdadeiras hecatombes de
Pt todos os processos, constituirão a mais sólida.garantia de que nenhuma minc- vidas humanas. Ditaduras sangrentas, militares ou fascistas, Tarem asaquisi-
ria poderá arrogam-se
o direito de excluir qualquer grupo de cidadãoslaborio- ções das grandes revoluções democrático--burguesas. A humanidade ve-se co-
e{ sos do exercício das liberdades democráticas- locada ante o dilema: socialismo ou barbárie.
pr'
PO 1. 0 movimento operário internlacioniale a guerra imperialista
pe
set Durante o decênio que precedeu 1914, a ]ntelnaciona] Socialista e to-
int do o movimento operário internacional haviam-seesforçado por educar e mo-
sul bilizar as massaslaboriosas contra a progressão das ameaças de guerra. A cor-
pai rida aos armamentos, a multiplicação dos conflitos "locais", o agravamento
das contradições enter-imperialistas, tudo anunciava claramente a üninência
qu( da conflagração.A Intern;cional lembrara aos trabalhadoresde todos ospaí'
os seus interesses eram comuns e que .não tinham que sancionar as
sórdidas querelas entre possessores:querelas pela partilha dos lucros arranca-
dos aos proletários e aos povos colonizados do mundo.
rcst Mas, quando a guerra estalou em 1914, a maior. parte das direções so-
cial-democratas capitularam ante a vaga "chauvine" desencadeada.pela bw-
guesia. Cada uma delas identificou-se com o "seu" ,campo imperialista, con-
tos. tra a barbárie do "absolutismo tsarista". Para os dirigentes social-democra-
no ! tas belgas, franceses, britânicos, a luta contra o "mUitarismo prussiano" pas'
bate fava à frente de tudo.

open Nos dois campos, o alinhamento "chauvine" sabre a defesa nacional da


men "pátria" imperialista, implicava a supressãoda propaganda antimilitarista,
socialista revolucionária, e mesmo a interrupção de toda a defesa dos interes-
trab: sesde classedos trabalhadores, incluindo os imediatos. Proclamava-sea "u-
quem nião sagrada" dos proletários e dos .capitalistas ante "o inimigo estrangeiro''
Mas, como esta "união sagrada", tal como a guerra, não modificava em nada
ou o
a naturezacapitalista,quer dizer, explaradola, de economiae da sociedade,
sao i o social patriotismo implicou a aceitação de fato de um agravamento das con-
dições de vida e de trabalho dos operários e de um enriquecimento escanda-

68 77
76
r
Capa loso dos trastes e outros traficantes de guerra capitalistas. grande envergadura convulsiona a Itália, sobretudo nas regiões.industriais do
Peter Norte. A separaçãoentre social-patriotas e internacionalistas alarga-sea uma
2. A guena imperialista desemboca nla crise revolucionária separação entre social-democratas, recusando rompe' com o Estado burguês
Revisão e o capitalismo, e comunistas:.orientados para a vitória da revolução proletá'
ria, para Repúblicas de conselhos operários. Os primeiros adoram uma post'
ção francamente contra-revolucionária logo que as massasameaçarama or-
dem braguesa.

3. A revolução de fwereiro de 1917 nla Rússia

Em fevereiro de 1917 (março segundo o calendário ocidental) a auto-


cracia tsarista afundou-se sob o efeito combinado de sublevaçõesoperárias,
da fome e da decomposiçãodo exército, quer dizer, da crescente oposição
à guena no seio do campesinato. O insucessoda revolução russade 1905 tb
nha sido devido à falta de conjugação entre o movimento operária e o movi:
mento camponês. A sua conjunção em 1917 tornou-se fatal para o tsarismo.
A classe operária desempenhará o papel principal nos acontecimentos
revolucionários de Fevereiro de 1917. Mas, por falta de uma direção revolu-
cionária, tinha visto a sua vitória frustada. O poder executivo arrancado ao
descobrir a sua alma pacifista e suplicaram aos operários que não recorressem
tsarismo passavaàs mãos de um Governo Provisório, aliado os partidos bur-
à violência, que evitassemfazer correr sangue.No início ia guerra, quando as
gueses,como os cadetes,(democratas-constitucionais)
aos grupos tnodera-
massaseram manipuladas pela propaganda burguesa e pela traição dosjeus ãos do movimento operário(mencheviques e socialistas-revolucionários).
propnos dirigentes, um punhado apenasde socialistas revolucionários se man- No entanto, o movimento de massaera de tal modo poderoso que põ"
.eve fiel ao internacionalismo proleltário, recusando faze: causa comum com a de criar a sua própria estrutura organizacional: a dos conselhos (sovietes)de
sua própria burguesia:Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, na Alemanha; delegados de operários, de soldados e de camponeses, apoiados nos guudu
Monatte e Rosmer, em França; o SDP na Holanda; MacLean, na Grã-Breta- vermelhos armados. Assim, a Rússia conheceu, a partir de fevereiro de 1917,
nha; Debs, nos Estados Unidos; na ltália, Sérvia e Bulgária, a maioria do parti- um regime de dualidade de poder de fato. O Governo Provisório, recobrado
do social-democrata manteve posições internacionalistas.
um aparelho de Estado burguês em lenta desagregação,via-se confrontado
A Internacional Socialistatinha ruído. Num primeiro momento, osin- uma rede de sovietes que progressivamente construíam um poder de Esta-
ternacionalistas agruparam'se através das conferências de Zimmerwald (1915) do operário.
e Kienthal (1916). No entanto, diferenciavam-seem duas conentesj uma cor- Os acontecimentos deram assim incontestável consumação à previsão
rente centrista, que na realidade desqava recontruir uma Internacional reu. formulada por Léon Trotsky desde o âun da revolução russade 1905, segun-
nificada com os social-patriotas, e uma corrente revolucionária, orientada do a qual a Rússia iria cobrir-se de sovietes quando da sua futura revolução.Os
no sentido da constituiçãode uma Terceira Internacional marxistas russos e internacionalistas eram obrigados a rever a sua análise de
1982 Lenine, que foi a alma da esquerda zimmerwaldiana, assentava as suas natureza social da revolução russa em curso.
análises na certeza de que a guerra ia agravar todas as contradições.do sistema Estes marxistas tinham tradicionalmente considerado que a revolução
Direitos des
Editora Mo\ imperialistae desembocarnuma crise revolucionária de envergadura.Nesta russa iria ser uma revolução bwguesa. Sendo a Rússía um país atrasado, as ta-
perspectiva, os internacionalistas podiam encarar uma inversão espetacular refas fundamentais a resolver por estarevolução afiguravam-se-lhes
semelhan-
Repíib[ica, ]
da relação dc força entre a extrema-esquerda e a direita do movimento o- tes às das grande; revoluçõ;s democrático-burguesas
dos séculos XVlll
Porto Alegre e XIX: demibar o absolutismo; conquistar as liberdades democráticas bem
perário.
Estas previsões iriam confirmar-se a putir de 1917. A revolução mesa como uma constituição; libertar os camponesesdassobrevivêncianmifeu-
estalou em Março de 1917. Em Novembro de 1918, a revolução estala na A- dais; libertar as nacionalidades oprimida; criar um mercado nacional uni6ca-
lemanha e na Austria-Hungria. Em 1919-29, um ascenso revolucionário de do para assegura a rápida expansãodo capitalismo industrial, indispensãvd

79
78
subdesenvolvidos
Capa para preparar a ulterior vitória de uma revolução socialista. Disto resultava
Peter uma estratégu de aliançaentre a burguesialiberal e.o movimento opelr:ano' S. A rwolução de Outubro de 1917
devendo este último contentar-se em lutar por objetivos de classe imediatos
Revisão
c Kb (jornada de 8 horas liberdade de organizaçãoe.dc greve, etc.), ao mesmo
u" abandonava a espada nas maios.da burguesia para esta comple-
Regressando da emigração à Rússia, Lenine apercebeu-seimediata-
mente da existência de imensas possibilidades revolucionárias. Com as suas
mais radicalmenteaobrada"sua"revolução. . . . . "Teses de Abril" reorienta o partido bolchevique no sentido da teoria da re-
' Lenine rejeitou esta estratégia em 1905, relembrando a análise volução permanente. E preciso lutar pela conquista do poder pelos sovietes,
que Man havia feito da a$tude burguesade:de a revolfçao de 1848: desde para o estabelecimento da ditadura do proletariado. Esta posição, aprincípio
'xue o proletariado surge na cena política,. a burguesia desliza para o .Slmpo contestada pelos antigos dirigentes bolcheviques (Estaline, Kamenev, Molc-
da contra-revolução, por medo duma !evolução operária. Lenine não alterou tov, entre outros) que se agarram às fórmulas de 1905, desejam a unificação
a análise das tarefas históricas da revolução ruas?,tal como .os marxistas rus- com os mencheviquese pretendemdar um apoio crítico aa governoprovisó-
sos a hajam formulado tradicionalmente. Mas, do caráter claramente.c.o.ntra- rio, é rapidamente aceito pelo coqunto do partido, em especial sob a pressão
revolucionário do comportamento da burguesia, concluiu da impossibilidade dos operários bolcheviques de vanguarda, que a haviam instintivamente ado-
de realizar essastarefas por meio de uma aliança entre a burguesia e o.prole- rado mesmo antes de formulada conscientemente por Lenine. Os partidários
tariado A essaidéia substituiu a de uma aliançaentre o proletariadoe o de Trostky aderiram aos bolcheviques, que se lançam à conquista da maioria
campesinato. dos trabalhadores.
Após várias peripécias (sublevações prematuras em julho, "putsch"
4. Á teoria da re»oltição pemuneltte contra-revolucionário falhado do general Kornilov, em agosto) os bolchevi-
ques adquirem a maioria nos sovietes das maiores cidades, desde setembro
Lenine concebeu esta "ditadura democrática dos operários e campone' de 1917. A partir daí, a luta pela conquista do poder passaà ordem do dia.
ses" sobre a bue de uma economia ainda capitalista e no quadro de um Esta- Torna-se realidade em outubro (novembro segundo o calendário ocidental)
do ainda burguês. Trotsky p6s o dedo soba:ca fraqueza desta concepção: a sob a direção do Comité Militar Revolucionário de Petrogrado, presidido por
incapacidadecrónica do campesinato (admitida por,Lenine depois.de 1917) Trotsky, sob mandato da soviete desta cidade.
em w constituir em força política autónoma. Através de toda.a história mo-
Este soviete conseguiu assegurar-seda antecipada lealdade de quaseto-
derna, o campesinato sempre seguiu, em última análise,uma direção burgue

à
dos os regimentos estacionados na antiga capital tsarista; estesregimentos re-
u ou uma direção proletária. Se é fatal que a burguesia deslize para o campo cusaram obedecer ao estado-maior do exército burguês. Deste modo a insur-
da contra:revolução, a sorte da revolução depende da capacidadedo proleta-
reição, que coincide com o 2o Congresso pan-russo dos sovietes, triunfa qua-
riado em conquistar a hegemonia política no seio do movimento camponês.e
em estabelecer a aliança entre operários e camponeses, sob a sua pr6Rria di- se sem efusão de sangue. O antigo aparelho de Estado e o govêrno provisório,
afundam-se. 0 2o Congresso dos sovietes vota por grande maioria a passagem
/
reção.'Por outras palawas: a revolução russa não poderia triunfa! e realizares do poder aos sovietes de operários e camponeses. Pela primeira vez na hist&
suastarefas revolucionárias sem a conquista de poder político pelo proletaria-
ria e sobre todo o território de um grande país, é criado um Estadosegundo o
do e a criação de um Estado operário apoiado na aliança com o campesi- modelo da Comuna de Paras,um Estado operário.
nato trabalhador.
Assim, a teoria da revolução permanente proclama que, na época.impe- 6. A destmição do capitalismo ntaRússia
1982 rialista, c por força dos inúmeros laços que ligam a burguesia dita '.'nacional
Direitos dest ou "liberal" dos pares subdesenvolvidosao imperialismo estrangeiropo' uln Na sua teoria da revolução permanente, Trotsky tinha predito que, a-
Editora Mov
Repíiblica, l
Porto Alegre
12::FHÊinsl m Íh'=i;ü::=©
liberdades democráticas, uniâcação do país para o progresso da indústria) a-
pós a conquista do poder, o proletariado não poderia contentar-se em realizar
as tarefas históricas da revolução democrático-burguesa e seria obrigado a a-
poderar-se das fábricas, a eliminar a exploração capitalista e a iniciar a cons-
penas podem ser realizadas aUavés da ditadura .do proletariado, apoiado no trução de uma sociedadesocialista. Foi exatamente isso o que aconteceu na
campesmato.'Esta previsão de Trotsky? em 190f,.foi inteiramente consuma- Rússia após outubro de 1917.
da pelo curso da revolução russa de'19.17: E foi também consumada p;llo O programa do governo que subiu ao poder quando do 2o Congresso
curso de todas as revoluções que, a partir de então, se veriâcaram em países

81
80
Capa
Pett
xll O ESTALINISMO
Revisão

todo o território dn RÚ:la', a burguesia de?idiu sabotar a aplicação da po-

1. 0ftacasso do ascensorevolucionário de 1918-23 ntaEuropa

A revolução internacional, esperada pelo proletariado russo e pela)sdiri-

' Aorganização
deumaeconomia
fundada
ces, passamàs mãos do povo. soba . :
: a propriedade ....J;
coletíva

ocuparam todas as fábricas em abril de 1920. Outros países..foramatraves-


sadospor poderosascorrentes revolucionárias, como a Finlãndia, a I'olónia, a
Tchecoslováquia e a Bulgária. A Holanda viu-se sob.a.ameaça iminente de
de uma greve geral. Na Grã-Bretanha, os operários estabeleceram a "tríplice a-
liança'' dos três maiores sindicatos do país, que abalou o governo.
Mas esta vaga revolucionária acabou por fracassar. As razões principais

:iilÜ1;3ÜK ã Tii:r=';;:=;=
destefracassosão as seguintes; . . ..
- a Rússia dos Sovietes via-se dilacerada por uma guerra civil.Os antigos
terra-tenentes e oficiais tsaristas, apoiados pelos capitalistas russos e estrangei-
ros,esforçaram-se por derrubar pelas armas a primeira república de operários.e

3
.::i4 se muito pertorussa apostou a fundo no s?u.papelde detonador e de mo- camponeses. Por isso, o poder dos sovietes apenaspodia conceder uma ajuda
material e militar reduzida às revoluções européias, que, por outro lado, eram
atacadaspor todos os exércitos imperialistas;
-- a social-democracia internacional colocou-se, sem hesitar, no campo
da contra-revolução, esforçando-se,através de todas as promessas e embustes i-
/ \ magináveis (na Alemanha, prometendo desde fevereiro de .1919 a socialização
imediata da grande indústria, o que evidentemente de modo nenhum foi reali-
zado)de afastar os trabalhadoreida luta pelo poder. Não teve a mínima hesita-
ção em organizar a violência contra-revolucionária, designadamenteatravés
cracia internacional na circunstância desempenhou. dos "corpos francos", utilizados para socorrer Noske contra a revolução ale-
1982 mã. Estes corpos francos foram o núcleo dos futuros bandos nazis;
Direitos de Neste sentido, Lenine, Trotsky e os seus camaradas.ao conduzirem o
-- os jovens partidos comunistas, que tinham fundado a lll Internado -
Editora Mo nal, careciam de experiência e de maturidade, o que os levou a cometer múlti-
Repílblica, plos erros "esquerdistas'' ou direitistas;
Porto Alega -- a burguesia, apavorada pelo espectro revolucionário, fez subitamente,
sos países,'importantes concessões econâmicai aos trabalhadores,
designadamente, a jornada de 8 horas e Q sufrágio universal, o que travou o as-
censo revolucionário em vários desses mesmos países
fecho dessaluta num sentido favorável ao proletariado.

83
82
Capa mente qualificados, no . seio da classe operária. A "intelligentsia"pequeno-
deter burguesa e burguesa pôde por isso .conservar de, fato o seu monopólio de co-
nhecimentos. Um período de grandes penúrias é sempre propício à aquisição
Revisão e defesa de privilégios materiais. . . ..
Tamlêm não se deve pensar que este processo passou despercebido
aos marxistas revolucionários russos. Desde 1920 que a Oposição Operária,
no seio do PC soviético, faz soar o alarme, mas propondo soluções largamen-
te inadequadas.Desde 1921, Lenine manifesta.viva inquietação pelo perigo
burocrático, denomina o Estado russo um Estado operário burocraticamente
deformado e, semi-impotente, nota o predomhio da burocracia nascenteso-
bre o próprio aparelho dS)Partido. Desde 1923, constitui-se a Oposição de
Esquerda trotskista, que fuá da luta contra a burocracia um dos pontos es-
senciais do seu programa. . .
Seria igualmente errado crer que a .progressão
.da burocracia soviéti-
cionária do após-guerra. ca representa um fenómeno inevitável: Embora .mergulhe rales profundas na
realidadesoda! e económicada Rússiado início dos anos 20, nem por isso
2. O ascensoda burocracia sovietica era menos possüel contraria-la, com reais possibilidades de sucesso.O Pro-
grama trotskista da Oposição de Esquerda visava criar as condições propícias
para coligir a situação:
a) acelerando a industrialização da Rússia e aumentando assim o pe-
ec#ico do proletariado na sociedade;
b) aumentando os salários, e combatendo o desemprego, com vista
ao aumento de confiança das massasoperárias em si próprias;
c) alargando imediatamente a democracia soviética e a democracia
no seio do Partido, tendo em vista aumentar a atividade política e a consciên-
cia de classedo proletariado;

Ü d) acentuando a diferenciação no seio do campesinato,ajudando os


camponeses pobres, com créditos e máquinas agrícolas, a constituir cospe'
rativas de produção, sobrecarregando os camponeses ricos com impostos
progressivos;
e) mantendo a orientação no sentido da revoluçãomundial e reti-
ficando os erros táticos e estratégicos do Comintern.

Se o conjunto dos dirigentes e dos quadros bolcheviques tivessem


1982 compreendido a necessidadee a possibilidade de realizar semelhanteprogra-
tetia sido possível a revitalização dos sovietes e do exercício do poderpe-
Direitos des
lo proletariado, desde meados dos anos 20. Mas a maior parte dos quadros do
Editora Mo\ Partido eram elespróprios abastadospelo processode burocratização.SÓ
Repíib[ica, ] demasiadotarde é 'que a maior parte dos dhigentescompreendeu o perco
Porto Alegre mortal que representavaa expansão da burocracia. A tibieza do "fator subje-
tivo'' (do partido revolucionário) juntou-se às condições objetivas propícias,
para explicar a vitória da burocracia estalinista na URSS.

85
84
Capa 3. Natureza da burocracia. nlaturezasocial da URSS. se como o regime dos.produtores associados, que regulam eles próprios a.sua
Pel üda produtiva e social, estabelecendo a hierarquia das necessidadesa satisfa-
A burocracia não é uma nova classedominante. Não representa qual- zer em função dos recursos disponheis e do tempo de.trabalho que.se dis-
Revisã põem a.consagrar.ao esforço produtivo. Na União Soviética, se está longe
quer papel indispensávelno processode produção. E.uma camadalndegiada ãe ta] situação. Uma economia socialista define-se pelo desaparecimentode
C que usurpou o exercício das.funções de gestão no Estado e na economia so-
toda a produção mercantil. Contrariamente à doutrina oficial em curso na
úética, e que, sobre a base desse monopolio do poder, se arroga substanciais URSS,Marx e Engels esclarecembem que essedepercimento de nenhum
vantagens no domínio do consumo (remunerações elevadas:vantagens em es- modo é inerente à "segunda fase'' da sociedade sem classes, correntemente
pécie, armazéns especiais,etc.) Não é proprietária dos meios de produlao. chamada "fase comunista", mas que ela caracteriza já a primeira fase, comu-
r nenhuma garantia ie conservar essas.vantagensnem de as transmi: Hente chamada "socialista''
tir aos seus filho s; tudo está ligado ao exercício. de. funções e:pecíGicas.
Ao desenvolver a teoria antimarxista sobre a possibilidade de concluir
Trata.se de uma camadasocial privilegiada do proletariado, que assenta
a consrtução do socialismo num só país, Estaline exprimiu de maneira prag-
o seu poder sobre as conquistas da revolução socialista de outubro: nacionali- mática o conservantismo pequeno-burguês da burocracia soviética: mistura
zação dos meios de produção; planificação económica; monopólio de Estado de funcionários antigos de Estados burgueses, de recém-chegados ao aparelho
do comércio exterior. É conservadorano mesmo sentido em que o é qualquer
de Estado soviético, de comunistas desmoralizadase cínicos, de jovens técni-
burocracia operária; põe a conservaçãodo adquirido acima de qualquer inicia-
tiva de extensão das conquistas revolucionárias. cos desejososde ''fazer carreira" sem respeito pelos interessesde classeda
A burocracia teme a revolução internacional, que ameaçareanimar a a- proletariado.
Ao opor a esta teoria a reatualização de noções de base do marxismo
tividade política do proletariado soviético e; por isso, minar o seu poder. De-
("a sociedade sem classes apenas pode ser realizada à escala internacional, in-
sça pois conservar o sfarziquo internacional. Mas, enquanto .que camada so-
cial, mantém-se adversária de um restabelecimento do. capitalismo na URSS, cluindo pelo menos alguns dos principais paísesindustrializados do mundo''
-- "a revolução começa por triunfar num paú, entende-seinternacionalmente
que destruiria os próprios fundamentos dos seusprivilégios ( o que não im- e enceta afinal um combate decisivo à escala mundial") Trotsky e a Oposição
pede que a burocracia seja o caldo de cultura de subgrupos e de subtendên-
de Esquerdade modo nenhum defenderamuma posição "atentista" ou "der-
cias que podem tentar transfomtar:se em novos capitalistas)- : ,,
A URSS não é uma sociedade socialista, quer dizer, uma sociedade sem rotista" em relação à revolução russa. Procuraram desde logo impulsionar,
mais cedo do que Estaline, e de maneira mais racional, a industrialiazção do

á classes. tinua sendo, como no dia seguinteà revolução de outubro de 1917,


uma sociedadede transição entre o capitalismo e o socialismo. O .capttalinno
país. Foram e continuam sendo partidários da defesa da URSS contra o im-
perialismo, da defesa do que subsistedas conquistas de Outubro contra toda
a tentativa de restaurar o capitalismo na URSS. Mas compreenderam que a
'© pode ser ali restaurado, mas.à custa de uma contra-revolução soou. u pISe'
direto dos trabalhadores pode ali ser restaurador mas à custa de uma revolu-
sorte da URSS seria decidida em definitivo pelo desfecho da luta de classeà
escalainternacional. Hoje como ontem, esta conclusãoimpõe-secomo vá-
/
ção política que destrua o monopólio do exercíciodo poder detido pelabu- lida.
rocra
Não é pelo fato de ser um sistemade."domúiio do produtor pelosbu-
rocratas", nem por ter dado prioridade por longo tempo ao .desenvolvimento 4. O que ê o estalinismo?
das máquinas à custa do consumo das massas:que a economia soviética mere-
1982 ce ser classificada como "capitalista", O capitalismo.é um sistemaespecdi:o Ao pronunciar o seu famoso requisitório contra os crimes de Estaline,
de domúlio de classe,'caracterizadopela propriedad: privada dos meios de no XX Congressodo PCUS, N.S. Kroutchev explicou essescrimespelo "cul-
Direitos c
Editora N
Repíiblici
Porto Ale
H ÉjgÉ :iÜ:'!=â:mn:.l=UHã:= to da personalidade" que teria reinado durante a ditadura de Estaline. Esta
explicação subjetiva, digamos psicológica, de um regime político que subver-
de sobre-produção generalizada. Nenhum destes traços fundamentais pode teu a vida de dezenasde milhões de sereshumanos,é incompatível com o
ser encontrado na economia soviética. marxismo. O fenómeno do estalinismo não pode ser reduzido às particulari-
dades psicológicas ou poli'tecas de um homem. Trata-se de um fenómeno so-
Mas se a economia soviética não é capitalista, também não é socialista,
cial, cqas rales sociaisdevem ser postas a nu.
não o é pelo menos no sentido tradicional do termo, tal.como ressdt.n..s Na URSS, o estalinismo é a expressãoda degenerescênciaburocrática
textos de Mare, Engels e do próprio Lenine. Uma economia socialista deíine-

87
86
do primeiro Estado operário, no qual uma camadasocial privilegiada usurpou S. A crise do estalinismo
Capa
Peter o exército do poder político e económico. As formas brutais (terror.policial,
purgas maçiças dos anos 30 e 40, assassinatode quase todos, os .antigos qua- O declúiio da revolução internacional após 1923 e o estado atrasa-
Revisão dros do PCUS, processo de Moscou, etc.) e as formas mais "sutis" dessepo' do da economia soviética são, esses,os dois pilares principais do poder da bu-
C KL der burocrático, podem variar. Mas, depois de Estaline como sob Estaline, os l rocracia na URSS. Desde o fim dos anos 40, estes pilares vão sendo progres-
fundamentos da degenerescênciaburocrática subsistem: sivamente minados.
O poder não é exercido por sovietesliwemente eleitos por todos os tra- A vinte anos de derrotas da revolução sucedeu um novo ascenso da
balhadores. As empresas não são geridas por trabalhadores. Nem a classe ope- revolução mundial, primeiro circunscrito a países igualmente subdesenvolvi-
rária, nem os membros do partido comunista dispõem das liberdades demo- dos (lugoslávia, China, Vietname, Cuba) masque a partir de maio de 68 se
cráticas necessárias para poder livremente determinar as grandes opções de espraiou pelo Ocidente. Após anos de esforços de,"acumulação Socialista' ,a
política económica e cultural, interna e internacional. URSS deixou de ser um país subdesenvolvido. E hoje a segunda potência in-
No mundo capitalista, o estalinismo significa a subordinação, pelos par- dustrial do mundo e o seu níve] técnico e cu]tura] pode equiparar-seao de vá-
tidos que seguema política do Kremlin, dos interessesda revolução socialista rios paísescapitalistasavançados.O proletariado soviético, ta] como o dos
no seu próprio país aos interessesda diplomacia do Kremlin. Este utiliza os Estados Unidos, é numericamente o mais poderoso que existe.
partidos comunistas estalinizados,bem como o movimento de massa qual Nestas condições, as bases da passividade das massas nos países do-
controlam, como moeda de troca nos seusesforços para estabelecer e manter minados pela burocracia soviética, começa a desaparecer. Ao despertar de a-
o statu que internacional com o imperialismo. tividades oposicionistas corresponde o ranger e estalar da própria burocracia,
No plano ideológico, o estalinismo representa uma deformação apoio- l que sofre, desde a rotura Estaline-Tiro, em 1948, um crescente processo de
gótica e pragmática da teoria marxista. Em lugar de servir de instrumento de diferenciação. A interação destes dois fatores favorece irrupções bascas de
análise da evolução das contradições da capitalismo, das relações de força en- ação política das massas,que se lançam na via da revolução política, como em
tre classes,da realidade objetiva da sociedadede transição do.capitalismo pa' Outubro-Novembrode 1956 na Hungria, ou durante a ''primaverade Praga
ra o socialismo, a fim de apoiar a luta de emancipaçãodo proletariado, a teo- de 1968, na República Socialista Tchecoslovaca.
ria marxista é rebaixada ao nível de instrumento de justificação das sucessivas Até agora, estes movimentos de massapuderam ser reprimidos pela
'viragens táticas" do Kremlin e dos partidos estalinistas. intervenção militar da burocracia soviética. Mas, a par e passoque os mesmos
O estalinismo procurajustiíicar estas manobras em nome das necessida; processosamadurecem na URSS, nenhuma força exterior poderá conter as
des de defesada URSS "bastião principal da revolução mundial" antes da 2a vagasde revo]ução po]ítica na Europa oriental e na URSS. A democracia so-
guerra rnundia], "centro do campo mundial do socialismo" dep:)is lla 2a guer- viética será restabelecida.Todo a perigo de restauração capitalista será de-
ra mundial. Os trabalhadores devem efetivamente defender a URSS contra as finitivamente anulado. O poder político será exercido pelos trabalhadores,o-
tentativas do imperialismo para ali restabelecero domínio do capital perários e camponeses.E a luta pela revolução socialista no resto do mundo
Mas as manobras táticas estalinistas que contribuíram para a derrota de ver-se-á grandemente facilitada.
tantas revoluçõesno mundo; que facilitaram o acessoao poder de Hitler na
Alemanha em 1933; que condenaram a revolução espanholade 1936 à derro- 6. As reformas económicas
ta; que obrigaram as massascomunistas francesase italianas a reconstruir o
Estado burguês e a economia capitalista nestes países em .1944-46: que con- Após a morte de Est.alinee sobretudono início dos anos 60 e 70,
duziram ao esmagamentosangrentoos movimentos revolucionários do fra- esboçou-sena URSS e em várias ''democracias populares" um vasto movi-
1982
que, da Indonésia, do Brasil, do Chile e de tantos outros.países desde então mento de reforma dos métodos de planificação e de gestão.As reformas mais
Direitos dest - não correspondem de modo algum aos interessesda União Soviética, como prementesincidiram no domínio da agricultura, na qual a produção de víve-
Editora Mov Estado. Apenas conespondem aos interessesestreitos da defesa dos privilé- respor cabeçade habitante, ao tempo da morte de Estaline,era algumasve-
Repílbhca, l gios da burocracia soüética, contrários em todos os casosaos verdadeiros in- zesinferior a de 1928 a até da épocatsarista quanto aos produtos animais.
Porto Alegre teresses da URSS. Medidas sucessivas visaram despertar o interesse dos camponeses, a raciona-
lização do emprego das máquinas agrícolas (que foram vendidas aos Kolk-
hozes), o estabelecimento de gigantescas herdades do Estado nas ''terras
virgens'' do Kazaquistão,o aumento maciço dos investimentos na agricul-

89
88
tura tro lado, a resistência dos trabalhadores às tendências ao desmantelamento
As reformas na indústria foram mais lentas e mais hesitantes.A ne- dessasconquistas e da economia planificada.
Ca cessidadeobjetivo dessasreformas decorreu de uma crise de crescimento da
economia soviética, de uma baixa da taxa de crescimento anual da produção 7.0 ltwolsw
industrial. Corresponderam ao esgotamento da elasticidade que tinha perdi'
Re
tido o funcionamento, melhor ou pior, da industrialização extensiva, quer di-
A vitória da 3a revolução chinesa em 1949 foi a mais importante
zer, sem esforço de economizarao,máximo asdespesasde mão-de-ob.ra,de conseguida pela revolução mundial depois da vitória da revolução socialista
matérias-primas e de terras. O esgotamento das reservas afastou.à obrigação de Outubro. Quebrou o cerco capitalista da URSSLestimulou poderosamente
de um cálculo mais preciso, de uma escolhamais racional entre diversosPTa'' o orocesso de revolução permanente na Ãsia,na Ãfrica e na.América Latina e
modificou sensivelmente as relações de forças à escala mundial, em detrimen-
F jetos de investimento.A própria expansã: da economia,a multiplicação das
to do imperialismo. Pôde ser obtida porque, na prática, a direção maoístado
empresas e dos seusrecursos, ameaçaram fazer subir o desperdício aoinfinito,
caso métodos de gestão e de planificação mais racionais não fossem introdu- PC chinêstinha rompido com a linha estalinista de "bloco dasquatro classes"
lidas e de revolução por etapas, tinha dirigido um vasto. levan.tamento agrário e se
tinha orientado 'no sentido da destruição do exército e do Estado burgueses,
A pressão das massas laboriosas, cansadas de decênios de sacrifícios
e de tensões, e desejosasde melhorar e diversificar o seu consumo, ao mesmo apesar das suas proclamações favoráveis a uma coalização com Chang Kai-
e
Chek
tempo que a necessidadede aproximar as decisões -- ao nível da indústria h.
No entanto, esta revoluçãovitoriosa foi logo à partida burocrática
Beira -- destes desejos dos consumidores,. agiram no mesmo sentido. Ainda
um outro elemento encorajou a procura de reformas: o crescenteatraso tec- mentedeformada. A ação autónoma do proletariado foi estritamente limita-
nológico em relação à 3a revolução tecnológica da e.conomiacapitalistaatraso da, quando não contrariada, pela direção maoísta. O Estado.operário.estabe-
derivado de um sistemade estimulantes materiais à burocracia, que desenco- lecido não se fundou sobre sovietes operários e camponeses democraticamen-
te eleitos. Propagaram-selargamente formas de gestão e de privilégios buro-
rajou a experimentação e a inovação técnológicas. A forma dessesestimulan- cráticos, imitados daquelesem vigor na Rússia estalinista. Isso provocou um
tes foi desde então modificada.
descontentamento crescente das massassobretudo operárias e jovens, .que
Pela ligação dos prêmios dos diretores ao "lucro", (diferença.entre Q
Mao procurou canalizar desencadeando a "grande revolução cultural proletá-
preço de custo'e o de venda)que se.convencionou"sintetizar'',o ótimo glo-
ria" em 1964/65. Esta combinou formas autênticas de mobilização e de to-
bal da empresa, em vez da produção bruta expressa 'm .termos.físicos, acredi-
madade consciência antiburocrática de massanas cidades, com uma tentati-
tou-se poder desencorajar o desperdício das matérias-primas e da.força de tra-
balho e encorajar um emprego racional do equipamento. Os resultados foram va da parte de Mao para depurar o aparelho do PC e se desfazerdos seusad-
versáriosno seio da burocracia. Desde que as mobilizações de massase a evo-
modestos, embora positivos na indústria ligeira. Mas não modificaram em na-
C da a natureza híbrida do sistema, visto que os preços de venda ,continuaram lução ideológica, cada vez mais crítica par parte dos "guardas vermelhos'', a-
r a ser fixados pelas autoridades do Plano Central. meaçou escapar ao controle da oração maoísta, esta suspendeu a "revolução
a cultural«, e restabeleceu em grande medida a unidade da burocracia recon-
N O alcançe de todas estas reformas é limitado, na medida em que não duzindo a postos de direção a maioria dos burocratas afastados quando a re-
ai resolvem o problema fundamental. Nenhum "mecanismo económico", fora volução havia atingido o auge.
e
do controle'democrático e público pela massados produtores e consumido-
n O conflito sino-soviético, provocado pela tentativa da burocracia sovié-
cl. res, pode chegara um máximo de rendimentos,po' um mínimo,de esforços
Cada reforma tende a substituir, por uma nova forma de abusosburocráticos tica de impor um controle monolítico sobre a direção do PC chinês e de su-
pr
ei e de desperdícios, a forma anterior. Não há racionalização global poss&el da primir a ajuda económica e militar à RP da China? como represália pela recu-
alc l sa de Mao a inclinar-se perante esseszzkases,transformou-se progressivamente
fal planificação sob o domínio da burocracia .e do seu incentivo material, comi. de um conflito interburocrático num conflito ao nível de Estado e numa ba-
E gerado como motor principal para a realizaçãodo plano. As reformas não
AI E talha organizacional e ideológica no seio do movimento estalinista internacio-
dei restauraramo capitalismo nem reintroduziram o lucro das empresascomo nal. O nacionalismo estreito da burocracia, tanto soviética como chinesa,des-
no\ B
guia das decisõesde investimento. Mas aumentaram ascontradições internas
qu( P do sistema. Por um lado, acentuaram o impulso de uma oraçãoda burocracia feriu um dwo golpe nos interessesdo movimento operário e anta-imperialis-
um ta mundial, permitindo ao imperialismo manobrar para explorar o conflito
um no sentido de uma autonomia dos diretor;s de fábricas, suprimindo as con-
sino-soviético.
osF quistasda classeoperária,como a garantiado direito ao trabalho, e, por ou'
6PO
91
90
Capa No plano ideológico, o
P ção estalinista do
compreensão de xlll DAS LUTAS CORRENTESDE MASSASA REVOLUÇÃO
Revi de SOCIALISTAMUNDIAL
C rios visto que
cracia. Ao identificar, de maneira
e "burguesia de
das as viragens da
A partir da primeira guerra mundial existem as condições materiais ne-
designar a URSS e os PC como o cessáriasao advento de uma sociedadesocialista. A grande empresatornou-se
uma aliança com potências
a baseda produção A divisão mundial do trabalho atingiu nível elevadorA
Soviética e os PC. Além disso, estas
interdependência entre todos os homens -- a "socialização objetiva do traba-
ria dos países capitalistas não se lho" -- foi largamente
realizada.A partir daqui,a substituição.do
regimeda
revolução social, mas apenas
)
ante a
contra as superpotências
ÜEBB;lg :fIXEi;::l=;i%H.!
O car;ter arbitrário de todas estas teorias, que não são mais, no fundo,

!='=i=:!':=':=..r ::i: : =:ii='ri,.iEui:':'E===:l objetivamente possível.

Sob o pretexto de combater o "e.conomicismo":. que seria ''a mais.perigosa 1. As condições de vitória da revolução socialista
;:;leão" do marxismo, os "maoístas-ortodoxos'' deixam de considerar as
classes sociais como realidades objetivas, determinadas pelas relações de pro- Mas, ao contrário de todas as revoluções sociais do passado, a revolução
dução que se estabelecemna produção da sua vida natural, As classessociais socialistaexige um esforço consciente e deliberado da parte da classerevolu-
são identificadas como opções ideológicas. O proletariado deixa de ser o con- cionária: o proletariado. Enquanto que as revoluções do passado substituo
junto dos assai'lados; são-no .só .aqueles que "seguem a linh: Mao-tsetung'\ ram um regime de exploração económica dos produtores por um outro e, por
J'esta maneira, correntes de ideologia burguesa ou pequeno.-burguesano seio isso, se deram por satisfeitas ao eliminar os obstáculos encontrados no cami-
da dasseopernia são identificadascom "a burguesia'.ou 'seusrepresentan nho para o funcionamento deste ou daquele mecanismo económico, a revo-
.# lução socialista visa a reorganizar a economia e a sociedade segundo um pro'
jeto preconcebido: a organização consciente da economia com vista a satis-
fazer todas as necessidadesracionais dos homens e a asseguraro pleno desen-
volvimento da sua personalidade.
i l ini;ü. Semelhante projeto não pode realizar-se automaticamente. Reclama da
parte da classerevolucionária uma consciência clara dos seus fins e dos meios
para o atingir. E isto é tanto mais verdadeiro quanto é certo que, na sua luta
pela revolução socialista, a classedos trabalhadores deve enfrentar um inimi-
go de classesuperiormente organizado, dispondo cada vez mais de uma rede
1982 mundial de forças militares, financeiras, políticas, comerciais e ideológicas,
Direitos para perpetuar o seu domínio.
Editora í A vitória da revolução socialista mundial reclama dois tipos de condi-
Repíxblic ções para t©r o suces?o assegurado:
Porto AI dura do proletariado como fundada no exercício do poder por conselhoso-
perários c camponeses, livre e democratcamente eleitos. -- condições ditas objetivas, quer dizer independentes do nível de cons-
ciência dos proletários e dos revolucionários. Entre estas, é preciso classificar
a maturidade de condições materiais e sociais (base económica e força numé-
rica do proletariado) adquiridas à escalamundial de modo permanente desde

93
92
Capa A IV Internacional não se contenta com aguardar passivamente a
P "grande dia", adornando entretanto o.seu rpograma. Não se limita à propa-
Revi ganda abstrata desseprograma. Também não desperdiçaas suasforças num
atavismoe numa agitação estéreis,confinados no apoio àslutas imediatas das
C massas exploradas.
A construção de novos partidos revolucionários e deuma nova Interna-
.tonal revolucionária comporta, ao mesmo tempo, a defesa intransigente do

1::1
1Glãl:;=;:!çm:eÇH:=::
nu:.:;n programa marxista-revolucionário, que reúne as lições de todas as experiên-
$-« cias passadasda luta de classe;a propaganda e a agitação em favor de um pro-
r evolucionária e do seu partido revolucionário- grama de ação, parte do programa geral marxista-revolucionário, que Trotsky
chamou programa de reivindicações transitórias inspirando-se nos termos u-
tilizados pelos dirigentes da Internacional Comunista durante os seusprimei-
ros anos de existência; e uma intervenção constante naslutas de massano
sentido de as conduzir à adoção, na prática, deste programa de ação e de do-

$ tar essaslutas de formas de organização que visem a criação de conselhoso-


perãnos.
A necessidadede uma Internacional revolucionária, que é mais que u-
ma simples adição de partidos revolucionários nacionais, assenta em bases
materiais sólidas. A época imperialista é a época da economia, da política e
das guerras mundiais. O imperialismo é um sistema internacional articula-
do. As forças produtivas de há longo tempo que se hternacionalizaram. O
capital está cada vez mais organizado internacionalmente nos seus grandes
nariz do proletariado. trastesmultinacionais. O Estado nacional tornou-se desdehá muito tempo,um
entrave aos ulteriores progressos da produção e da civilização. Os grandes
problemasda humanidade(impedir a guerra nuclear mundial; eliminar a fo-
2. A construçãoda IVlnternacionial me do hemisfério meridional; planificar o crescimento económico; repartir
equitativamente recursos e rendimentos entre todos os povos; proteger o am-
Mlii. É a partir desta análise,fundada na falência histórica do reformismo e biente; pâr a ciência ao serviço do homem) só podem ser resolvidos à esca-
do estalinismoem conduziro proletariadoà vitória, que Trotsky e um nú- la mundial.
M cleo de comunistas oposicionistas, a partir de 1933, tomaram.em mãos a ta-
H Nestas condições, querer avançar para o socialismo em ordem dispersa,
refa de construir uma nova direção revolucionária para o proletariado mun- querer bater um adversário mundialmente organizado, desdenhando toda a
dial. Com este fim, criaram, em 1938, a IV Internacional. coordenação internacional do prqeto revolucionário, querer mesmo pâr em
Por certo, esta não é ainda, em si mesma, a Internacional revolucioná- cheque os trustes multinacionais através de lutas operárias limitadas a um só
ria de massas,capaz de funcionar como um verdadeiro.estado-maior geral da pack,é recair manifestamentena utopia.
1982 revolução mundial. Mas transmite, desenvolve e aperfeiçoa o programa de u. Por outro lado, as lutas revolucionárias têm uma tendência objetiva e
ma tal Internacional revolucionária de massas,atravésdas suasconstantes ati- espontânea a alargar-se internacionalmente, não só em resposta a interven-
Direitos d vidades no interior da luta de classeem 50 países.Na base deste programa, ções contra-revolucionárias do inimigo de classe, mas também e sobretudo
Editora Mi
forma os quadros através destas múltiplas atividades. Estimula assim, de ma- pelo efeito estimulante que exercem sobre os trabalhadoresde numerosos pa-
República, neira deliberada, a unialcaçãodasexperiências e da consciência dos revolucia res. Retardar continuamente a criação de uma verdadeira organizaçãointer-
Porto Alem nários à escala mundial, ensinando-os a agir no seio de uma mesma organiza nacional dos revolucionários, é permanecer em atraso não só em relação às
zação, em vez de aguardar --de resto em vão que semelhante uni6icaçãa re necessidadesobjetivas da nossa época, mas até em relação às tendências es-
suite dos efeitos espontâneosdo progresso das forças revolucionál$as,em di- pontâneas dos setores mais avançados das massas.
versos países e partes do mundo, desenvolvendo-se separadamente uns dos
outros

95
94
Cap nulos trustes estrangeiros, quer vise a revolução camponesa o! a eliminação
3. Rebindicações imediatas e reivindicações üansitórias ãe ditaduras indqenas sangrentas.Ao conseguir conquistar a direção política
l
destesmovimentosde massa,pela sua rewlução e a sua fnergiq ao ?erâilhar
Rev
C
.::=T=;.:=::'::==::!=
;:;===n='sH ar reivindicações progressistas de todas às classes e camadas exploradas da.na-
ção, o proletariado luta.pela conquista do poder e, ao mesmo tempo, demi-
:$ãi;lÊillq==.'.H:='.1==mH
ricas fundamentais; queda de governos particularmente opressivos, etc.
ba a propriedade e o poder da burguesia industrial.
Nos Estados operários burocratizados, as massaslevantam-sepela con-
A burguesia pode fazer concessões as massasem luta: para evitar que Q quista das suasliberdades democráticas, contra .o monopólio de exerchio do
seu combate se desenvolva até ao ponto de ameaçara exploração capitalista ;;ã.. .u mã.; ü b-'-«IÍi', 'f'=:? '.!'=::i=:lf'y?.:!::;'ã. nacional,
contra a incompetência, o desperdício, os privilégios materiais, que são pró"
em conjunto. E permite-sefazê-lastanto mais quanto é certo que dispõe de
inúmeros instrumentos para neutralizar essasconcessões,para reaver com u-
ma mão aquilo que concedeu com a .outra. Se aceita aumentos de salários,a

lil11B:l ã m:; :: lm: ::ul:::l


forçam à concessão de medidas de segurança social, os impostos que incidem
trabalhadores e democraticamente centralizada.
Nos paísesimperialistas, os movimentos de massacontra a exploração
capitalista, 'contra a .supressão das liberdades democráticas, transformam-se,

:n
sobre os seusrendimentos poderão ser aumentados,de maneira .que acabei
graçasao programa de transição e à construção de uma nova direção revolu-
;$1:1i5.Üü#Ê=?::==='; Ê:=;«.] cionária, em lutas pela derrubada do Estado burguês e pela expropriação do
Capital, em revolução socialista vitoriosa.
nas suaslutas correntes e reivindicações transitórias, por objetivos cuja real.l
As diferentes tarefas com que o proletariado e os revolucionários são
cação se torne incompatível com o funcionamento normal da economia capa: confrontados em diferentes partes do mundo tarefas da revolução berma'
talista e do Estado burguês. Essasreivindicações devem ser formuladas de ma-
nente nos países subdesenvolvidos, tarefas de revolução política anta-bwocrá-
neira tal que soam compreensíveis pelas massas -- do contrário não passarão
tica nos Estados operários burocratizados, tarefas de revolução proletária nos
paísesimperialistas -- refletem o desenvolvimento desigual e combinado da
revolução mundial. Esta não se produz simultâneamente em todos os países.
Os paísesnão se encontram todos em condições sociais,económicas e poli'
ricas idênticas.
A tarefa suprema dos marxistas-revolucionáriosconsiste na unificação
progressivadestestrês movimentos revolucionários num mesmo e único pro-
]
nária, levando os trabahadores a contestar o regime capitalista tanto nos fa- cessode revolução socialista mundial. Esta unificação é objetivamente posso'
tos como na sua consciencia. vel devido ao fato que uma só classe social, o proletariado, pode por si s6 o-
rientar bem as distintas tarefas históricas da revolução em cada um dos três
4. Os três setoresda revolução mundial de hoje setoresacima mencionados. Esta unificação tornar-se-áreal por meio da edu-
caçãoe da política internacionalistasda vanguardarevolucionária,que! nas
1982 Em consequênciado atraso da revolução socialista nos paísesindustri- lut,s correntes, fará sobressair cada vez mais experiências de solidariedade in-
almente avançados o proletariado mundial vê-seconfrontado com tarefas di- ternacional dos trabalhadores e dos oprimidos de todos os países,que comba-
Direitos
terá de maneira sistemática a xenofobia, o racismo, os preconceitos naciona-
Editoras
ferentesosap:ases
colo:ais e seml.coloniais os. trabalhadores e os camp:!ie listas de toda a espécie, a fim de fazer penetrar esta consciência internacio-
Repíiblic obras não ordem aguardar que os operários dos paísesindustrializados nalista no interior das largas massas.
Porto Alt venham em seu auxílio. Visto o enorme fardo de opressãoe de miséria que a
imperialismo impôs às massasoperárias e camponesasdessesp:1:3s' e,jneuta- 5. Democracia operária, auto-organização das masws e rwolução socialista

89ê$ÜlnRn l ;:gB Um dos aspectos principais da ação direta das massas,dos seus amplos

97
96
Cap movimentos de manifestação ou de greve, é a elevaçãodo seu nível de cons- der assuasproposiçõesparticulares com vista a fazer triunfar a luta.
l ciência pelo aumento de confiança em si próprias. Se esta democracia é respeitada, as minorias respeitarão por sua vez u
Na vida quotidiana, os trabalhadores, os camponeses,os pequenosartí- decisõesmaioritárias, visto que conservarão a possibilidade de poder modi6i.
Rev
fices, as mulheres, os jovens, as minorias nacionais e raciais, estão habituados cá-las,à luz da experiência Por esta afirmação da democracia operária, as for-
C mas democráticas de organização das lutas dos trabalhadores anunciam tam-
a ser esmagados, explorados e oprimidos por uma multidão de possessorese
bém uma característica do Estado operário de amanhã:a extensão e não a
de poderosos. Adquhiram a sensaç.ãode .que a revolta é. impossível e inefi-
caz, que a força dos seusadversáriosé demasiadogrande,que tudo acaba restrição das liberdades democráticas.

E
sempre por "regressar à ordem". Mas, no calor das grandes mobilizações. e
dos grandes combates de massa,este medo: este desânimo: este sentimento
de inferioridade e de impotência, começam bruscamente a derreter-se. Agora
as massasadquirem consciênciado seu imenso poder potencial, desdeque a-
traemunidas,'de forma coletiva e solidária, desde que se organizem e organb
zem de maneira eficaz o seu combate.
É por isso que os marxistas-revolucionários lqlam uma importância ex-
trema a tudo o que aumentaeste sentimento tle confiança das massas,a.tudo
o que as liberta de comportamentos çbidientes.e servis,quelhes foram incul-
cados por milênios de domhio das classes possidentes. "Nós.não somos nada,
sejamostudo": estaspalawasda primeira estrofe do nossohino "A Interna-
cional«, resume admiravelmente a revolução psicológica indispensável para a
condução de uma revolução socialista vitoriosa.
No caminho da auto-organização das massas,a eleição de comitês de
greve por assembleiasdemocráticas de grevistas: e todo o, mecanismo análogo
no seio de outras formas de açõesde massa,desempenhamum papel vital.
Em semelhantes assembleias, as massas fazem o aprendizado do auto-gover-
no. Aprendendo a dirigir as suas próprias lutas, aprendem a dirgir amanhã o
J Estado e a economia. As formas de organização a que as massasassim s? ha-
bituam, são formas embrionárias dos futuros conselhos operários, dos futu-
411;i ros sovietes,formas de organizaçãode base do Estado operário a construir.
A unidade de ação indispensável para congregar as forças dispersas dos
trabalhadores, o poderoso sopro unitário que nas grandesmobilizações e a-
çõesde massareúne milhõesde indiMduosque.não tinham o hábito de .agir
em coÜunto, é irrealizável sem a mais larga prática da democracia operária.
Um comitê de grevedemocraticamenteeleito deve ser,por definição: a,ema-
nação de todos os grevistas da empresa, do ramo de indústria, da cidade, da
1982
região óu do país em greve. Excluir dele os repr:sentantes de tal ou.tal setor
Direitos { dos trabalhadores considerados, sob o pretexto de que as suas opiniões polí-
Editora b ticas ou filosóficas não convêm aos dirigentes ocasionais da greve, é destruir
Repíiblici a unidade da greve e destruir a própria greve.
Porto Ale O mesmo princípio se aplica a toda a forma de ação das ligas massase
às formas de organizaçãorepresentativas que essaação cria: A unidade indis-
pensávelà +itóriã, pfessupoe a democracia operária, ou seja, o principio da
não exclusão de toda e qualquer corrente de combatentes. Todos devemter
o direita de palawa e de representação.Todos devem ter o direito de defen-

98 99
r
riência de luta e a diversidade das capacidades individuais dos trabalhadores.
Capa
Petl Dado grupo ope'ário fez e possui a experiênciade uma dezenade greves,na
xlv A CONQUISTA DAS MASSAS PELOS REVOLUCIONÁRIOS sua maioria vitoriosas, e de numerosas.manifestaçõesoperárias,Esta expctb
Revisãi ência determinará em parte a consciência desse grupo de maneira diferente da
c ] de um outro.grupo de proletários que apenasterá conhecidouma única gre-
ve, de resto falhada, no decurso de um decênio, e que nunca participou em
bloco numa luta política. Certo operário ou empregadoé atraído naturalmen-
te pela leitura, lê brochuras e lidos, além do seujornal. Um outro, não lê
1. A dita'enciação política no seio do proletariado
quase nunca. Um é, por temperamento, combativo e mesmo "condutor de
homens"; outro, é mais passivo e prefere calar durante as reuniões.Um, liga-
Já vimos (capítulo IX, ponto 5) como a necessidadede um partido re- se facilmente aos camaradas; o outro, é mais caseiro e voltado para o seu lar.
volucionário de vanguarda nasceda descontinuidade de ação dieta das largas Tudo isto influenciará em parte o comportamento e a opção politica dos tra-
massas,assim como do caráter cientl6ico da estratégia necessáriapara derru- balhadoresindividuais, a nível de consciênciade classeque podem atingir.
bar o poder da bwguesia. Cabe aqui juntar um elemento suplementar a es-
Finalmente, há que ter em conta a história específicae as tradições na-
sa análise: a diferenciação poli'teca no seio do proletariado.
cionaisdo movimento operário de cada pah. A classeoperáriabritânica, a
Em todos os paísesdo mundo, o movimento op:rário aparececomo u-
ma soma de correntes ideológicas diferentes. Existem lado a lado : a corrente primeira a ascender à organização política de classe independente, com o cal
social-democrata. reformista 'clássica; a corrente dos P.C. oficiais pró-Mag- físmo,jamais conheceuum partido de massafundado sobreum programaou
uma educação marxistas, mesmo que elementares. O seu partido de massa
oou, de origem estalinista e de orientação cadavez mais neo-reformista; a cor- funda-see nascecom base no sindicalismo de massa:o partido trabalhista. A
rente anarquista ou sindicalista revolucionária; a corrente maoísta; a corrente
classeoperária francesa, fortemente marcada por tradições particulares no sé-
marxista-revolucionária (IV Internacional). Em numerosospaísesexistem ain-
culo XIX (blanquismo,proudhonismo) foi travada no seu acessoao mania
da outras correntes intermédias (centristas) entre estas correntes ideológicas
mo pela fraqueza relativa da muito grande indústria e a sua relativa dispersão
principais por cidades da provúicia relativamente pequenas. Foi preciso esperar a expan-
Esta diferenciação ideológica do movimento operário mergulha nume-
são das grandes cidades nos subúrbios parisiense, leonês e marselhês dos anos
rosas sabes objetivas na realidade e história do proletariado. 20 e 30, acentuada no decurso dos anos 50 e 60, para que a greve de massa
A classe operária não é inteiramente homogênea .do.ponto de vista das
conduzida pelos trabalhadores das grandes fábricas pudesse determinar o cur-
suas condições sociais de existência. Conforme os trabalhadores trabalham so da luta de classe(junho de 36, maio de 68), e para que o PCF se tornasseo
.yl na grande ou pequenaempresa;foram urbanizados.aolongo de .váriasgera- partido hegemónico da classeoperária, dando-lhe um verniz e uma tradição
ções ou somente a partir de uma data recente; são altamente qualificados.ou
diretamente relacionados com o marxismo. A classeoperária e o movimento
só dispõem de uma qualificação média; sentir-se-ãonormalmente inclinados
operário espanhóisforam largamente marcados pela tradição do sindicalismo
a compreender, mais ou menos rapidamente, a validade de certas idéias de
base do socialismo científico. Os agregados de ocupação altamente qualifica- revolucionário, fortemente influenciado pelo pronunciado subdesenvolü-
mento da grande indústria na península ibérica, etc., etc.
da poderão compreender mais rapidamente l\ necessidadede uma organiza-
A diversidade de correntes ideológicas do movimento operário resulta
ção' sindical do que os operários sem trabalho durante metade da sua vida.
de uma lógica própria, quer dizer, de debatese de oposiçõesproduzidos pelo
Mas a sua organização sin(Íical arrisca-se também a sucumbir mais rapidamente
1982 às tentações'de um corporativismo estreito, subordinando os interessesgerais próprio curso da luta de classe.Houve, sucessivamente,ruptura entre mania
Direitos d da classeoperária aos interessesparticulares de uma aristocracia operária, que tas e anarquistas no seio da l Internacional, sobre a questão da necessidade
Editora M particularmente defende as vantagensadquiridas, tentando interditar o aces- de conquista do poder político; ruptura entre revolucionáriose reformistas
so à profissão. Para os operários das grandes cidades e da grande indústria, é no seio da ll Internacional acercadas questões de participação em governos
Repíibhca mais fáci! tomar consciênciada força potencialmenteenormeda grandemas- burgueses,do apoio à defesa nacional nos países imperialistas e do apoio ou
Porto Alem sufocação da luta revolucionária das massas, ameaçadora da sobrevivência da
sa proletária e de crer na possibilidade da luta votiriosa do proletariado para
arrancar o poder e as fábricas à burguesia, do que para os operários que tra- economiacapitalista e do Estado bwguês -- fundado nà democraciaparla-
balham em pequenas empresas e vivem em pequenas cidades. mentar ; ruptura entre estalinistas e trotskistas (marxistas-revolucionários) no
À não homogeneidadeda classeoperáriaacrescea diversidadeda expe seio da lll Internacional e do movimento comunista internacional, entre par-

100 101
tidários e adversáriosda teoria da revolução permanentee da teoria da "revo- ficais; ataques às liberdades democráticas das. massase do movimento ope-
lução por etapas", entre partidários e adversáriosda utopia da construção rário; tentativas de instalar regimes autoritários ou abertamente fascistas,
acabadado socialismonum paíssó, e, a partir da( partidáriosou adversários suprimindo a liberdade de organização e de ação do .movimento operário no
da subordinação dos interessesda revolução internacional às pretensas neces- seu coÜunto. Em todos estes casos, uma réplica maciça.e unitária pode fazer
sidades desse "acabamento falhar a ofensiva bwguesa. E a efetiva unidade de ação da classeoperária pas-
Mas esta diversidade de correntes ideológicas tem, ao mesmo tempo, sa pela frente única efetiva de toda. as organizaçõesoperárias, tanto quanto
rales objetivas e materiais mais profundas do que aquelas que acabamos'de pemianeça real a influência destas sobre setores importantes Jlo proletariado.
põr a claro. ' Uma das maiores tragédias do século XX foi a denota do proletariado
alemão mediante a conquista do poder por Hitler, ep 30 de Janf.T de 1933,
como resultado da recusa e da incapacidade das direções do KPD (PC ale'
2. A $'ente Única operária contra o inimigo de classe
mão) e do SPD(partido social-democrata) d? concluir a tempo.um acordo de
frente única contra o assalto nazi. Esta tragédia fai de tão pesadasconsequên-
A diversidade das correntes ideológicas no seio da movimento operário cias que todos os trabalhadores devem impregnar-sep'ofundamente da prin'
conduziu a um fracionamento das organizações políticas da classe operária.
çipa] lição desta experiência: contra o ascensãdo fascismo, é indigensávd a
Ao. passo que a unidade sindical existe em numerosos países(Grã-Bretanha, frente única de todas as organizações operárias, para conter .a subida ao poder
pares escandinavos, Alemanha Federal, Áustria) a divisão em organizações dos assassinose dos carrascos por meio de uma ação unitária e t'esoluta du
políticas diferentes é universal. Como materialistas,devemoscompreender massaslaboriosas.
que isso tem causas objetivas profundas e não pode ser atribuído ao acaso ou
aos "crimes" dos ''cisionistas As objeçõese obstáculos na via de realizaçãoda frente única são essen-
cialmente de 'natureza ideológica e política. Por instinto, os trabalhadores
Em si mesma, esta divisão política não é um mal. A classeoperária pe-
de alcançar algumasdas suasmais brilhantes vitórias em condições'de coexis- são, na grande maioria, favoráveis a toda a iniciativa unitária. Dente estes
tência de numerosos partidos e de numerosastendências reivindicando-se si- obstáculos de natureza política e ideológica há que assinalar:
multâneamente dó movimento operário. 0 2o CongressoPanrussodos Sovie- -- As práticas repressivas dos dirigentes social-demoaatu que exercem
tes, que decidiu transferir todo o poder aossovietes,caracterizava-se
por uma responsabilidadesno seio do Estado burguês, bem como dos dirigentes esta-
fragmentação da classeoperária em partidos e pendênciaspolíticas diferentes, linistas quando se encontrem em idênticas condições..As camadasraiiicaliza-
mais pronunciada do que tudo o que conhecemosatualmenteno Ocidente. das da classeoperária indignam-sejustamente com tais práticas, quc vão do
A. divisão da classeoperária alemã em três grandes partidos ( enumerosos gru- simples" fato de "furar" as grevesaté a organizaçãosistemátim da espiona'
púsculos e correntes menores) não impediu a vitória da greve geral de 1920, no seio das organizações operárias, e mesmo à organização do assanínia
que suprimiu em embrião o ''putsch" reacionário de von Kapp. A diversidade de dirigentes revolucionários ou ainda de simples operários (Noske!) .. .
das organizações políticas e sindicais do proletariado espanhol em julho de = As práticas burocráticas e manipuladores de dirigentes sindicais re-
1936 não a impediu de dominar o levantamento militar-fascista praticamente formistas e estalinistas, de dirigentes do PC guindados a posições duigentes
em todas as áreas industriais do país.
do movimento operário, etc. Tais práticas, prolongando as práticas repõe?so-
Mas, para que a diversidadepolitica do movimento operário não con- vas da burocracia onde quer que e;erçam o po+erLprovocam igualmcntejus-
duza ao enfraquecimento da força agressivada classeoperária no seu conjun- tificada repugnância em certas camadas de trabalhadores.
to, é pré-condição que não impeça a unidade de ação dos trabalhadores contra
-- O papel sistematicamente contra-revolucionário das.direções.tradicio-
o inimigo de classe: o patronato, a grande burguesia, o governo burguês, o Es- nais do moümento operário, que amortec©m o impulso.da consciência de
tado burguês. A outra pré-condição é que não impeça a luta política e ideoló- classe,mudam objetivamente(e amiúde delib?radamente) à realizaçãode pro-
gica para a hegemonia do marxismo-revolucionário no seio da classeoperária, jetos contra-revolucionáriose anta-operáriosdo Grande Capital, semeiama b
para a construção do partido revolucionário de massa,ou seja,que a democra- deologia burguesa e pequeno-burguesa no seio da classeope'ária, etc., etc-
cia operária se estabeleça no seio do movimento operário organizado.
E sobretudo perante as ofensivasda burguesiaque a réplica unitária da Contudo, é necessário combater o sectarismo e o urra-esquerdlsmo pelo
classeoperária se torna absolutamente indispensável.'Estaofensiva pode ser que toca às organizaçõesde massatradicionais do movimento operário: sec-
económica: despedimentos, encerramento de empresas,redução dos salários tarismo e urra-esquerdismo que são não só obstáculos na via da leamaçao aa
reais, etc. E pode ser política: ataques ao direito de greve e àsliberdades sin- frente única operariacontra o inimigo de classe,mastambém obstáculosna

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via da luta eficaz contra a hegemonia das direções reformistas e est3linistl' da com os trabalhadores revolucionários, sem o acordo prévio dos seus diri-
sobre a maioria da classeoperária. gentes ''social-fascistas" ou "revisionistas". Supõe pois resolvida a tarefa que
Na base dos erros sectários e urra-esquerdistas encontra-se a incom- falta resolver: a de separar essa massa pela sua própria experiência das suas di-
preensão da natureza dupla e contraditória (ias organizações de massa tradi- reções oportunistas. Mas, justamente, o apelo aos dirigentes do PS e do PC
cionais e burocratizadas do movimento operário. (Duma maneira geral, o sec- para sejuntarem numa frente única contra a ofensivada reação,permite aos
tarismo caracteriza-se, aliás, pela incapacidade em compreender a luta de clas- trabalhadores que seguemessasdireções fazer uma experiênciapreciosa e in-
sesna sua totalidade complexa, pela tendência em isolar e a dar um peso de- dispensável quanto à credibilidade, eficácia e boa-fé dos seusdirigentes.
cisivo a um aspecto particular da realidade objetiva)- Aliás, supor que não é indispensável empenhar as direções do PS e do
Se é verdade que a política das direções destas organizações é largamen- PC na frente única operária, é reduzir esta a uma minoria da classeoperária,é
te favorável à burguesia, que estas direções praticam a colaboração de clas- semeargravesilusões sobre a possibilidade de fazer recuar, quer o patronato,
se, enfraquecem a luta de classedo proletariado, sãoresponsáveispor inúme- quer o Estado burguês, quer a ameaçafascista, sob golpes de ações minori-
ras derrotas sofridas pela classeoperária, é também verdade que a existência terias
destas organizações permite aos trabalhadores aceder a um múimo de cons- Quer isto dizer que a tática da frente única operáriase limita estrita-
ciência e de força de (classe,sem o qual a progressãodessaconsciênciase tor- mente a fins defensivos? De modo nenhum é assim.A organizaçãode toda a
na infinitamente mais difícil. A existênciadestasorganizaçõespermite mes- classeoperária em dispositivo de combate -- mesmo à partida para fins defen-
mo assim uma modiâcação das relações de força quotidianas entre o Capital sivos modifica as relaçõesde força entre asclasses,reforça consideravel-
e o Trabalho, sem a qual a confiança da classeoperária se encontraria forte- mente a combatividade, a força agressiva,a capacidadede ação polüica e a
mente abalada. Apenas a sua substituição imediata por formas superiores de confiança das classeslaboriosas em si próprias. Cria-se assim um imenso po-
organizaçãode cl;sse (sovietes) implicará que o seu enfraquecimento não se tencial de luta suplementar, que pode rapidamente transformar uma luta de-
salde por um recuo ou pela paralisia da classeoperária. Por outro lado, o seu fensiva em luta ofensiva. Quando do "putsch" de von Kapp,na Alemanha,
enfraquecimento, para não falar da sua destruição, pela reação capitalista, re- em março de 1920, a réplica vitoriosa e unitária das organizaçõesoperáriasa
presenta um enfraquecimento e um recuo grave para o conjunto do proleta- alemãscriou, nalguns dias, uma situação na qual os militantes de numerosas
riado. Eis a basede princípio sobrea qual os marxistasrevolucionáriosassen- organizações incluindo mesmo organizações reformistas, aceitaram, em vá-
tam a sua política de frente única operária contra a reação capitalista. rias cidades do Ruhr, constituir milícias operárias armadas.A necessidadede
um governo operário foi mesmo avançadapelos dirigentes sindicais mais mo-
derados.A rélpica vitoriosa e unitária das massasespanholascontra o
3. A dittâmica ofensba da ftettte "classe contra classe 'putch'' fascista de julho de 1936, na maioria das cidades, conduziu ao adia-
mento do proletariado à frente das fábricas.
Em face a qualquer ofensiva capitalista contra a classeoperáriae em Para explorar a fundo essepotencial ofensivo da frente única operária,
particular perante toda a ameaçafascista ou de estabelecimentode uma dita- os marxistas revolucionários preconizarão a necessidadede estruturar a fren-
dura da direita, os marxistas preconizam a constituição de uma frente única te única, na basecomo na cúpula, sem evidentementefazer destaestrutura-
de todas as organizações operárias, da base à cúpula. Esforçam-se por impli- ção um ultimatum dirigido aos partidos, sindicatosou massasdo proletaria-
car nesta frente única todas as organizaçõesque sereivindicam do movimen- do. Semelhante estruturação implica que, além de acordos e "cartéis" nacio-
to operário, incluindo as mais moderadas, com direções oportunistas e revisio- nais, regionais, etc., de organizaçõesoperárias, a frente única compreendaco-
nistas. Devem abordar sistematicamente os dirigentes do PS e do PC, dos mitês que deveriam ser, tão depressaquanto poss&el, democraticamente e-
sindicatos reformistas e cristãos, para que uma frente única seja estabelecida
leitos e empenhadosem mobilizaçõese açõesde massasistemáticas,
É evi-
entre direções nacionais, regionais, locais, entre seções nas empresase nos dente a dinâmica ofensiva de semelhante estrutura, que na realidade iniciaria
bairros, a Gim de fazer frente à ofensiva por todos os meios apropriados. uma situação revolucionária.
A recusa de alargar a frente única às cúpulasda social-democraciaou
dos PC (politica dita de "terceiro período'' do Comitern, retomada hoje por
não poucas organizações mao-estalinistas) assenta sobre uma incompr:ensão 4. Frettte Única operaria e frente popular
ultimatista e infantil da função objetiva e das pré-condições subjetivasda uni-
dade da frente proletária. Isso pressupõeque a massados trabalhadores socia- Quanto mais os marxistas-revolucionários sãofirmes partidários de uma
listas (ou que seguemo PC) estaria pronta a comprometer-senuma ação uni- política de frente única operária, tanto mais rejeitam a política da ''Frente

104 105
Popular", que procura impor de novo, desde o 7o Congressodo Comintern! a do seu nível médio ae consciênciade classe.
velha política reformista social-democrata,de aliançasentre a burguesia "li-. Aqueles que preconizam o desaparecimento prévio dessadivisão coma
beral"' (ou "nacional", ou "anui-fascista") e o movimento operário ("cartel pré-condição para atingir a organização unitária de classe,perseguem uma
das esquerdas"). quimera. Essadivisão existe desde há um século. Não existe qualquer índice
A distinção fundamental entre a frente única operária e o ''cartel das de que desapareçaem breve. Considerar essede?apuecimento como prévio,
esquerdas",ou "Frente Popular", reside em que, pela sua lógica de "classe é proclamar áe fato que a unidade da frent? proletária (e, logo, a suavitória)
contra classe«,a frente única operária aciona uma dinâmica de acentuação e é impossá'el até um futuro que se perde nas brumas do tempo..
de exarcebaçãoda luta do proletariado contra a burguesia,enquanto que, pe- Aqueles que vêem a realização da unidade de ação da classe.como.sim-
la sua lógica de colaboração de classe,a política da Frente Popular, pelo con- ples função de acordos de cúpula, independentemente do conteúdo de classe
trário, desenvolve uma dinâmica de travagem das lutas operárias, ou até de re- e da dinâmica objetiva desencadeadapor essesacordos por exemplo, iden-
pressão das camadas operárias mais radicalizadas. Enquanto que a frente úni- tificando positivamentefrente única operária e frente popular esquecem
ca operária contra a ofensiva capitalista não comporta qualquer pré-condição que a unidade real da frente proletária não é poss&el senão sobre uma base
de defesada ordem burguesa e da propriedade capitalista (qualquer que seja de classe;com efeito, é impensávelque todos os setorese todas ascamadas
o apego dos dirigentes reformistas a essadefesa), a frente popular assenta no da classe operária aceitarão a auto-imitação e a auto-mutilação contidas em
respeito da ordem burguesa e da propriedade, sem o qual, diz-se, a presença acordos de colaboração de classe.
da 'burguesia progressista'' no seio da frente se torna impossível, o que "re- Existe, pois, uma ligação última entre unidade de ação da classeoperá-
forçaria a reação". Toda a lógica da frente popular tende pois a desviar, con- ria no seu coÜunto, e objetivos de luta comumenteaceitesou até fc,rmasde
ter ou destruir as lutas de massa, o que não é o caso dos acordos de frente ú- luta adoradas pela classe. Os marxistas-revolucionários vinculam-se com 6u-
nica operaria. meza a toda a iniciativa realmente unitária, porque estão convencidos que
Como é evidente, a distinção entre frente única operária e frente popu-
tais iniciativas reforçam sempre a combatividade e a consciência dos traba-
lar, sendo embora uma diferença considerável, segundo a natureza de classe
lhadores num sentido de intransigente luta de classecontra o capital.
objetiva dos dois tipos de acordo, não é uma diferença ''absoluta''. Podem ve- A independência de classe do proletariado, sem a qual a sua unidade
rificar-se aplicações oportunistas da tática de frente única operária, nas quais, é irrealizável,situa-se,em relação ao patronato, ao nível de empresae de ra-
sob o pretexto de não ''assustaros dirigentesreformistas", os dirigentes de mo de indústria. Situa-seem relação aos partidos burgueses.Mas situa-setam-
organizações que se afirmam revolucionárias, comecem por sua vez a travar bém em relação ao Estado burguês, até mesmo ao mais livre Estado democrá-
as lutas das massas. Inversamente, em certas situações, as massaspodem par-
tico-burguês. A confiança que a classeoperária adquire em si própria, passan-
tir das ilusões unitárias disseminadas pelos acordos de frente popular para a-
do por uma experiência realmente unitária de toda a classe,incita-a a desejar
centuar as suas lutas e criar mesmo estruturas de auto-organização, iniciativas
tomar nas suaspróprias mãos a solução de todos o? problemas, incluindo os
estasque os marxistas-revolucionáriosdeverão evidentemente favorecer e re- problemas normalmente relegados ao Parlamento. É mais uma razão para os
forçar por todos os meios.
revolucionários serem os advogadosmais resolutos e mais Gumesda unidade
Mas sejamquais forem estassituaçõesintermediárias, a questão de prin- de ação de toda a classe operái:ia.
cípio permanece vital. Do ponto de vista da luta de classe, é necessário favo-
recer uma política de frente única operária; é necessáriocombater todo o a-
cordo político com partidos burguesesmesmade "esquerda", que repõe em 6. Independência de classee alianças entre as ctclsses
causa a independência política de classe do proletariado.
A distinção de princípio que fazemos entre frente única operária e fren-
te popular, foi com frequência criticada como sendo "dogmática". .Tal distin-
5. Independência política de classee organizaçãounitária de cesse
ção "negaria a necessidadede aliança''- Sem ''alianças de classe" a vitória
da revolução socialista seria impossível. De resto, o próprio Lenine não fun-
Assim, a problemática da frente única operária, como a da frente popu- dou toda a estratégia bolchevique sobre a necessidade de uma aliança entre o
lar, reconduzem definitivo a uma únicae mesmaquestãovital: comopode a proletariado e o campesinato?
classeoperária realizar uma organizaçãounitária da sua força, com total inde- De imediato há que observar que é abusivo todo o paralelo entre ospa'
pendência em relação à burguesia, apesar da sua divisão em correntes ideoló- íses imperialistas de hoje e a Rússia tsarista. Na Rússia, o proletariado ape-
gicas e partidos, grupos e seitas políticas diferentes, e apesarda insuficiência nas representava 20% da população atava. Nos países imperialistas, à exceção

106 107
de Portuga] (no qual representa 38% da população) o proletariado, ou seja,a
massadaqueles que são obrigados a vender a sua força de trabalho, represen-
tam a maioria esmagadora da nação, na maior parte destes países de 7(i a 90% O ADVENTO DA SOCIEDADE SEM CLASSES
da populaçãoatiça. A unidade da frente proletária (incluindo, como é evi-
dente, os empregados) é in6lnitamente mais vital para a revolução do que a a-
liança com o campesinato.
Acrescente-seque os marxistas-revolucionáriosde nenhum modo são
adversários de uma aliança entre o proletariado e a pequena burguesia labori-
osa (não exploradora) das cidades e dos campos, memso nos pares onde esta
1. 0$m socialistaaatinge'
é minoritária. Em numerosos paísesimperialistas, tais como Portugal, Espa-
nha, Itália e França, o estabelecimento da aliança operário-camponesa é ain- O objetivo socialistaque queremosatingir é o de substituir a sociedade
da de uma grande importância política, e sobretudo económica, para a vitó- burguesa,baseadana luta de todos contra todos, por uma sociedadecomuni-
tária sem classes, na qual a solidareidade social substitua o desejo de enrique-
ria e consolidação da revolução socialista. O que nós contestamosé que a ali-
ança entre partidos operários e partidos burgueses seja necessáriapara fundar cimento individual como móbil essencial de atividade, e na qual a riqueza da
semelhante aliança das classeslaboriosas. Pelo contrário, libertar o campesi- sociedadeassegureo desenvolvimento harmonioso de todos os indivíduos.
nato e a pequena burguesia urbana da influência da burguesia, pressupõe Muito longe de desejar ''tornar todos os homens iguais", como preten-
emancipa-lostambém do apoio que concedema partidospolíticos burgueses. dem todos as adversários ignorantes do socialismo, os marxistas desejam per-
A aliança pode e deve ser baseada em interesses comuns. O proletariado e os mitir, pela primeira vez na história humana, o desenvolvimento de toda a ga-
seuspartidos devem oferecer, a estas classes,objetivos sociais, económicos, ma infinita de diferentes possibilidades de pensamento e de ação, presentes
culturais e políticos que lhes interessem e que a burguesia é incapaz de lhes em cada indivíduo. Mas compreendem que a @ua/cedeeconómica e soca/, a
assegurar.Se a experiência confirma a vontade do proletariado de conquistar emancipaçãodo homem da necessidadede lutar pelo seu pão quotidiano, re-
o poder e realizar o seu programa, poderá obter o apoio de uma boa parte de presenta uma condição prévia para a conquista desta verdadeira realização da
pequenaburguesia com vista a realizar essesobjetivos. personalidadehumana por parte de todos os indiu'duos.
Uma sociedade socialista exige pois uma economia desenvolvida ao pon-
to em que a produção em ./iznçãb das lzecessfdadessuceda à produção para o
/urro. A humanidade socialista deixará de produzir mercadorias destinadasa
ser trocadas por dinheiro, no mercado. Produzirá valores de uso, distribuüos
a todos os membros da sociedade a fim de todos satisfazerem as suas neces-
sidades.
Semelhante sociedadelibertará o homem da cadeia da divisão social e
económica do trabalho. Os marxistas rejeitam a tese segundo a qual certos ho-
mens "nasceram para mandar" e certos outros "nasceram para obedecer'

Nenhum homem,pela sua natureza,nascepredestinado a ser,durante to-


da a suavida, mineiro, torneiro ou guarda-freio.Em cada homem existela-
tente o desejo de exercer um certo número de atividades diferentes: basta ob-
servar os trabalhadores durante os seus tempos livres para disso nos aperceber-
mos. Na sociedade socialista, o alto nüel de qualiâcação técnica e intelectual
de cada cidadão permitir-lhe-á desempenhar, no decurso da sua vida, numero-
sase variadas tarefas úteis à comunidade. A escolha da "profissão" deixará de
ser imposta aos homens por forças ou condições materiais independentes da
suavontade; dependeráda sua própria necessidade,do seu próprio desenvolvi-
mento individual O trabalho deixará de ser uma atividade ím;x2sfa,que não
se pode esquivar, para se tornar simplesmente a realização da própria persona-

108 109
em relação a serviços sociais, como o ensino, a saúde, os transportes coletivos,
etc
Mas a abolição do salariato não exige apenas a transformação das conde.
ções de retribuição e de distribuição dos bens de consumo. Reclama também
a modificação da esZmMra/ziezórqzzfca da empresa, a substituição, pelo rego
me da democraciados produtores, do regime de comandoúnico do diretor
(assistido pelos chefes de oficina, contra-mestres, etc.). 0 6un do socialismo é
Q autogoverno dos homens em todos os escalões da vida social, a começar pe-
pode'garantir à humanidade esta paz universal que se.torna condiçaol da sim- la vida económica.É a substituição de todos os delegadosdesignadospor che-
ples sobrevivência da espécie na época das armas atómicas e termonucleares. fes eleitos, de todos os delegadospermanentespor chefesque exerçam essa
função temporariamente. É por esta via que se pode chegar a criar ascondi-
2. As condições ecottõmicas e sociais para atingir essefim ções de uma verdadeira igualdade.
A riqueza social, que permite instaurar um regime de abundância, não
Se não nos contestamos com sonhar num futuro radioso, se queremos será atingida por outro meio que não sqa a pünjfüaçãl) da economia permi-
lutar por conquistaressefuturo, devemos.compreender
que a construçãou tindo evitar todo o desperdício) que representa a não utilização dos meios de
uma sociedade socialista, que transformará completamente os costumes e há- produção, e o desemprego,assimcomo a utilização dessesmeio: para 6ms
bitos dos homens, radicados há milênios nas sociedadesdivididas em classes, contrários aos interes;es da humanidade. A emancipação do trabalho fica su-
está subordinada a transformações materiais não menos profundas, a realizar bordinada ao desenvolvimento prodigioso da técnica moderna(aplicação pro-
previamente. dutiva da energiaatómica uma vez reunidas as condições máximas de seguran-
O advento do socialismo exige, antes de tudo, a supressãoda proprieda- ça e investigaçãointensiva das fontes de energia alternativas, eletrõnica e tele-
de privada dos meios de produção Na época da grande indústria e da técni- comando, que permite a automatização completa da produção) que liberta o
ca moderna (que não se poderia suprimir sem lançar a humanidade na.pobre- homem cada v;z mais das tarefas pesadas, degradantes e embrutecedoras. As-
za generalizada) esta propriedade privada dos meios.de produção implica ine- sim a história responde por antecipação à velha e vulgar objeção contra Q so-
vitavelment. , divisão da sociedade numa minoria de capitalistas que explo- cialismo: "Quem pois exercerá as baixas tarefas numa sociedade socialista? "
üm e numa maioria de assalariados que são explorados. O desenvol;imento máximo da produção nas condições rentáveis para a
O advento d.l sociedade socialista exige a supressão do salariato, da ven- humanidade exige a manutenção e a extensão de uma divisão mundial do tra-
da da força de trabalho em brocadum saláriofixo em dinheiro, que faz do balho, modificada contudo profundamente para suprimir a articulação de pd.
produtor uma engrenagemimpotente da vida económica. Ao salariato deve ses "avançados" e de países "dependentes", a supressão das fronteiras e a pla-
suceder a retribuição do trabalho pelo livre acessoa todos os bens necessários nificação mundial da economia. A supressãodas fronteiras e a real unificação
à satisfaçãodas necessidadesdos produtores. Somente numa sociedade que as- do gênero humano é de resto também um imperativo psicológico do socialb-
'cgure ao homem semelhante abzz/üáncü de bens pode.nascer uma nova cons- mo, a único meio de suprimir a desigualdadeeconómicae social entre H na-
iência social, uma nova atitude dos homens, uns em relação aos outros. ções. A supressãodas fronteiras de modo nenhum significa a supressãoda per-
sonalidadecultural própria de cadanação;pelo contrário, permitirá a afimia-
Semelhante abundância de bens não é de modo nenhum utópica, sob
ção dessa personalidade de forma bem mais saliente do que hoje, sobre o ter-
ündiçào de ser atingida gradualmente e de partir de uma racionalização pro-
reno quelhe é próprio.
gressiva das necessidadesdos homens, emancipados dos constrangimentos da
A gestão das empresas pelos trabalhadores, a da economia por um con-
c'ncorrência. da caça à riqueza privada e da manipulação por uma publicida-
gressode conselhosde trabalhadores, a de todas as esferasda vida social pelas
:ie interessadaem criar um estado de insatisfação permanente nos indivíduos.
coletividades a que respeitam, reclama também ela condições materiais de rea-
Assim. os progressosdo nível de vida criaram já um estado de saturação do
lização, para que não sqa fictícia. .Á redução radica/ da jó/zzazüde íruba/#o --
rlsllm') cm pão, batatas, !egumes, certos frutos, até produtos lácteos gordos
de fato, a introdução da meiajornada de trabalho -- é indispensávelpara quc
rrie de porco, na parte menospobre da população dos paísesimperialistas.
os produtores disponham de tempo para gerir as empresas e as comunas, para
Tendência análoga se manifesta no que respeita às roupas interiores, calçado,
que não se constitua uma nova camadade administradores profissionais.
iveis de base.eEC.Todos estesprodutos poderiam ser progressivamente dis
ribuídos gratuitamcnce, sem intervenção de dinheiro e sem cam isso provoca A generalização
do ensinosuperior e umanovarepartição
entreo
nip"rtanees ,um':!idos 'iüs despesascoietivas. A mesma possibilidade existe
111
/

as8idade dc advidade criadora através da qual cada um contribui para o bem-


esw e o desenvolvimento de todos.
A transformação radical das estruturas de S)pressão,que são a família
rincal, o ensinoautoritáriotipo torre de marfim,o consumo
passivo
du
idéias e dos "bens culturais", ocorrerá a par e passodas transformações so-
ciais e políticas.
A ditadura do proletariado não reprimirá nenhuma idéia, nenhuma cor-
rente científica, literária, cultural ou artisdca. Não recuaráas idéias,conven-
asse$m s, ideológicas,psicológicase culturais para atingir cida da superioridade das idéias comunistas..Mas nem por isso será neutra pe-

Ê:l!'l:ln:n ==mnml;'n=:lÇW:%W
cultura e progressivamente modelo os elementos da cultura comunista uni-
ficada da humanidade futura. .
A revolução cultural, que marcarácom o seu selo a construçãodo co-
munismo suá'antes de tudo uma revoluçãodas condiçõesnas quais.osho-
mens criam a sua própria cultura, a transformação da massados cidadãos de
consumidores passivosem produtores culturais atino.se criadores.

mo rejeita resolutamente a utopia reacionária de um comunismo ascético e


de penúria A expansãoda vida económica e social dos povos do.hemisfério
meridional rec '' planificação socialista da economia mundial,
mas ainda uma redistribuição radical dos'recursos materiais em proveito des--
ses povos.
SÓ uma transformação dos modos egoístas de pensamento: míopes e
entes burgueses que sobrevivem hoje numa parte importante da classe o-
pcrana do hemisfério norte, permitirá que seatiiÜaaqueleobjetivo A educa-
r'o internacionalista deverá neste sentido seguir a par com? háb .o da abun-
v' cia que demonstraráque semelhanteredistribuição pode realizar-sesem
provocar um recuo do núel das massassetentrionais

4. As etapas da sociedade sem classes

Partindo da já rica base de experiência dasrevoluções pr"leitarias desde


há mais de um século -- ou seja, desde a Comuna de Paria -- três etapas pc'"
F dem ser destacadasna construção de uma sociedade sem classes:

-- a etapa de transição do capitalismo. para o socialismo, que é a etapa


r'
da ditadura do proletariado, da sobreüvência do capitalismo em importantes
e da economia mone-
pares, da sobrevivência.parcialda produção mercantil =. . =-d-..:n. .l AP n.{
1' r- 'da sobrevivência de várias classes e camadas sociais no interior dos paí-
sespercorrendo esta etapa, e, portanto, da necessidadeda sobrevivênciado

113
112
l

Estado para defender os interessesdos trabalhadorescontra todos os partidá-


rios de um retorno ao domütio do capital; '' ''' " r
-- a etapa do socialismo, cuja construção se ultima e que se caracteriza
pelo .deperecimento das classessociais,("o socialismo é a sociedade sem clãs.. XVl- O MATERIALISMO DIALETICO
se" disseLenine) pela extinção.da.economiamercantil monetária,pelo desa-
parecimento do Estado, pelo triunfo internacional da nova socieda(ie.Contu.
do, durante a etapa socialista, a retribuição de cada um,(abstraindo dasatb- ! . Q movimento universo!
fação gratuita das n:ce?cidades de base) continuará a ser calculada em função
da quantidade de trabalho prestado à sociedade. ' ""'-"' Se recapitularmos os quinze capítulos precedentese se buscamios reu-
-- a etapa do comunismo, que se caracteriza pela aplicação integral do ni-los numa só fórmula, não podemos encontrar outra melhor que a seguinte:
principio. ''de cada um segundo as suascapacidades,'a cada um segundo as su- tudo muda, tudoestáemperpétuo movimento . . . . .
as necessidades", pelo desaparecimento da divisão social do trabalho, pelo de- Da sociedade primitiva sem classes, a humanidade passaà sociedade di-
sapar'cimentoda separaçãoentre trabalho manuale intelectual, pelo'desapa- vidida em classes;esta por sua vez dá lugar à sociedadesocialista sem classes,
recimento da separaçãoentre a cidade e o campo A humanidadeorganizu- de amanhã.Os modos de produção sucedem-se;mesmo antesde desaparece'
se-á sob a forma de comunas limes de produtores-consumidores, capazes de rem, passampor constantesalterações.A classedominante de hoje é muito
por si próprias se administrarem, sem nenhum orgão separado,reintegradas diferente da classe dos proprietários de escravosque dominava o Império ro-
num meio natural reabilitado, e protegidascontra os riscos de destruiçãodo mano. O proletariado contemporâneo f completamente diferente do servome-
equiHbrio ecológico.
dieval. Entre um capitalista-pequenofabricante, do início do séculoXIX, e o
Sr. Rockefeller ou o chefe do rmsre Rhâne-Poulenc de hoje, há um mundo
No entanto, desde que se está em presença de uma sociedade pós-capa
de diferença. Tudo muda, tudo está em perpétuo movimento
talista, liberta do monopólio do poder de uma camadaburocrática -- quer di-
zer, em presençade um poder efetivo dos trabalhadores -- nenhuma revolu. Este movimento universal podemos reencontra-lo a todos os níveis da
ção, nenhuma ruptura brusca serão necessárias para estabelecer a sucessão realidade e não apenas ao da história das sociedades humanas. Os individuos
mudam, sujeitos a um destino inexorável. Nascem, crescem, amadurecem,
destas etapas' Re;ultarão de uma evolução progressiva das relações de produ-
adultose depoiscomeçama declinaracabando.por
mor'er. A este
ção e das relações sociais. Serão a expressãodo deperecimento progressivo
das categorias mer?anéis, do dinheiro, das classes sociais, do Estado, da divã destino estão sujeitos tanto as espéciesvivas como os indivl'duos. A espécie
humana não existiu sempre. Espécies que povoaram outrora o nosso planeta,
são social do trabalho, e das estruturas mentais que resultuam de todo o pas-
sado de desigualdade e de luta de classes. O essencial é iniciar prontamente como os répteis gigantes da época terciária, desapareceram.Outras espécies
estesprocessos de deperecimento e não os transferir às gerações futuras. vegetais e animais desapareceramatualmente sob os nossosolhos, em parte
como resultado de perturbações anárquicasque o modo de produção capita-

:;.,s4=Jl$Ê.:=;='=;:'i= U :=:=h:===!:=:E= lista provocou na ecologia terrestre.


O nosso planeta, por sua vez, não tem vida.eterna. A segundalei da ter-

3.:=.i=:'ã:s; e.==;:Ç::iu ti11Éâ!'!11ã:%


mais cordosos combatentes pela Emancipaçãodo Trabalho, ontem como
modinâmica, a lei sobre a perda de energia, condena-a inexoravelmente a de-
saparecerum dia. Também não existe desdesempre. Nasceude uma constela-
ye ção interplanetária que, ela mesma, não é mais do que uma das inumeráveis
constelações análogas do universo.
O movimento, a evolução universal, governa toda a existência -- esta é
material. Com basena matéria, existem átomos que são elespróprios compos'
tos de partículas ainda menores. Pelas combinaçõesde átomos constituem-se
as moléculas,que formam entre si os diferentes elementos de base da crosta
terrestre e da atmosfera. O oxlgênio e o hidrogênio, em determinada combi-
nação -- H2 0 constitui a água; de outras moléculas formam-se os metais,
os ácidos, as bases.
A evolução da matéria inorgânica deu lugar, em condições determina
das, ao aparecimento da matéria orgânica. Esta produz a evolução das espé-
114
115
cãesvivas, vegetais e anim is. No decurso desta evolução nascem os seresvivos
superiores, os mamaeros Melhor: quanto mais os nossosconhecimentosseaperfeiçoame se tor-
de que quem parte os súnios, que quão surgir a es- nam cada vez mais científicos; quanto mais o conhecimento se aproxima da
pécie humana.
realidade (a identidade fora/ do conhecimento e da realidade.é impoõsfvel,so-
2. A diabética, lógica do movimento bretudo pelo fato de que esta última está em ?erpétua mudança) eHa cami-
nhada irá cada vez mais seguir o movhnento objetivo da matéria. A diabética
do nosso pensamento científico, a diabética materialista, pode apreender o
Posto que um movimento universalparecegove;nartoda a existência, real justamente porque o seu próprio movimento. correspo"de cada vez mais
devem poder ser destacadostraços comuns entre o movimento da matéria, o ao movimento da matéria, porque as leis do conhecimento e da apreensão
movimento da sociedade humana e o movimento dos nossos conhecimentos
espiritual do real, que a diabéticaaplica, correspondem cada vez mais às leis
(da ciência, do espüito humano). De fato, a diabéticamaterialista de Man e
que governam o movimento universal da realidade objetiva.
Engelspretende por a nu essestraços comuns do movimento universal.
É preciso destacar uma importante .diferença entre o desenvolvimento
A dialética, ou lógica do movimento, manifesta-sepois a três níveis: das ciências sociais e o desenvolvimento das ciências naturais, (os nossosco-
-- diabéticada naturezasdialética inteiramente objetiva, ou seja,inde- nhecimentos a respeito de tudo o que se relaciona com a vida social como
pendente de ptqetos, de intenções ou de motivações do homem que nã0 8ae objeto de investigação, incluindo os nossos conhecimentos sobre as origens, e
azreramepzfesobre a história humana. Isso não exclui que, com o desenvolvi a dialética do desenvolvimento de todas as ciências, incluindo as ciências na-
mento das.forças produtivas, a humanidade possautilizar as leis da natureza turais). O próprio desenvolvimento das ciências naturais é também histórica e
para remodelar o seu meio natural. socialmente determinada.

-- A diabéticada história, dialética largamenteobjetivo à partida, mas na Os homens, mesmo os génios mais arrojados, não podem põr e não po-
qual a irrupção do prometo
do proletariadoparareconstruir a sociedadesegun- dem resolver, em cada época, mais do que um certo número de problemas
do um programa pre-estabelecido,constituiuma viagemrevolucionária.mesmo cient#icos. São tributários das idéias e da educação recebidas. Os problemas
novos nascem neste contexto, em relação com transformações materiais! de-
quando a elaboração e a realização desseprometoestão ligadas a condições ma-
teriais, objetivas, pré-existentes e independentes da vontade dos homens signadamenteo trabalho, instrumentos de trabalho, instrumentos científicos
-- A diabética do conhecimento (do pensamento humano)que é uma dia- de investigação, etc. Mas trata-se de uma determinação frzdfrefa,não mediati-
. 1- o resirado deumainteraçãoconstanteentre
' ' ' "'' "' "'-'--''/u-+v osobjetos
lética objeto-sujeito, u"'Au-a zada imediatamente por interessesmateriais diretos de classe.
..-L..
É diferente o que se passacom as ciências sociais.Estas tocam de muito
'.conhecer (os objetos de.cada uma das.ciências) e a.ação dos sujeitos que
mais perto a organizaçãoe a estrutura da sociedadede classe..
O pesodas
==='='==çHii::j:.=':==='E:==f'!':=.=:::
ÊIÉã ''idéias recebidas e herdadas" é nelas tanto maior quanto essasidéias não são
mais do que a apressãb, no plano ideológico, de flzreresses,.quer de conserva-
Iho como os conceitos -- a transformação destes meios pela atividade social
""'nte, "'., etc.). ' ção social, quer de revolução social, interessesque se relacionam em definiti-
vo com posições de classes antagónicas.

Êl$1il11iii
l=H=m:u='Ü:='ã
SPyoza e aperfeiçoadapor Hegel) poder-se-iaser tentado a reconduzir toda a
Sem querer transformar os filósofos, os economistas, os sociológos e.os
antropólogos em ''agentes'' deliberados de tal ou tal.classe, comprom:tidos
numa conspiração quer para defender a ordem estabelecida,quer para."orga-
nizar a subversão", é evidente que a determinação social do desenvolvimento
diabéticaà dialética objeto-sujeito. Isso, porém, seria cometer um erro. E cla.
das ciências sociais é bastante mais direta e imediata do que a das ciências na-

:ÉBB;=:;1;='1:\
:l:li ;i: ilÜj#iÊ
xis social, determinados pelas nossas condições de existência social. Mas este
turais

fato evidente em nada impede que possamossaber -- e veriâcar e ver con6u. 3. Dialêüca e lógica formal
made por provas práticas múltiplas - .que.a vida é mais velha do que o pensa-
mento humano; que a terra .é mais velha do que a vida; que o universo é mais A dialética, ou lógica do movimento, dintingue-se.da lógica formal ou

SIH:l! ui:: $11


Ülã11hEI
lógica estática. A lógica formal assentaem três elementosfundamentais:
a) A lei da identidade: A é igual a A; uma coisa permanece sempre igual
a si mesma.

116 117
b) A lei da contradição: A é diferente de nãa-A, A não podejamau ser
A dialética, ou lógica do movimento, estuda pois as leis do movimento,
igual a não-A.
u forma que esteanota- Vamos examina-lu sob dois UBectos: o movimento,
c) A lei do terceiroexcluHo:ou bemA, ou bemnão-A;nadapodeser
nem A nem não-A. função da contradição; o movimento, função da totahdadf.
' Todo o movimento é sempre causado. A causalidade é uma das catego-
Um só momento de reflexão permite concluir que o que caracterizaa rias fundamentais da dialética, t;l como é uma categoria fundamental de toda
lógica formal é a orientação que consiste em colocar entre parênteses o movi- a ciência. Negar a causalidade é, em última análise, negar a possibiHdade do
mento e a mudança. Todas as leis que acabamos de enumerar são verdadeiras, conhecimento.
m medüía em qzzese absZraüzdo i7zopímenfo. "A'' permanece sempre Igual a A causa última de todo o movimento, de toda a mudança, são as con-
si mesmo,ma medida em que não mude. "A'' é diferente de "não--A", na me- üadições internas do objeto em mutação. Todo o objeto, t?do o fenómeno
dida em que não se transforme na seu contrário. Ou bem existe ''A" ou bem muda, "dá de si", modifica-se e transforma-se,em última análise, sob o efeito
existe ''não--A", na medida em que não severifique aí um movimento com- das suas contradições internas. Neste sentido, tem-se amiúde, e justamente,
binando "A'' com "não A", etc. Perantea transformaçãoda crisálida em chamado à dialética a ciência das contradições. Lógica do movimento e lógica
borboleta, do adolescenteem adulto, a "lei da identidade'' é manifestamente
dascontradições, são duas definições da dialética, praticamente idênticas.
insu6lciente.
A análisede todo o objeto, de todo o fenómeno,ou de todo o feixe, de
O fato de abstrair do movimento, da transformação, das mudanças, é
útil sob dois pontos de vista. Desde logo, para poder estudar fenómenos de todo o conjunto de fenómenos, deve pois visar a determinar quais deles.sãoos
elementos constitutivos contraditórios, e quais são os movimentos, a dinâmi-
maneira isolada e contütua, o que sem qualquer dúvida permite aprofundar os
nossosconhecimentos dessesfenómenos. Depois de um ponto de vista práti - ca, desçncandeadospor essascontradições.
co, quando as mudançasque se produzem são de natureza infinitesimal e po- Assim, ao longo de toda esta exposição, indicamos até gue ponto a lu-
ta de classe,resultante da existência no seio da sociedadede classesantagóni-
dem por isso ser efetivamente desprezadas pelos interessados.
Se compro l Kg de açúcar pré-embalado, a igualdade estabelecida pela cas, governa o movimento da história das sociedades divididas em classe.
Por forma mais ampla, englobando ao mesmo tempo a sociedade primi-
balança, l Kg de açúcar -- l Kg, é válida para mim, visto o fim prático da tiva sem classes.a sociedade dividida em classese a sociedade socialista futura,
compra. Com efeito, para poder açucararo meu café, e manter em equilíbrio
o meu orçamento caseiro,pouco importa que o peso real de tal embalagem pode-se dizer que a contradição entre o nível atulgido .em certas épocas.pelo
sqa na realidade não l Kg mas somente 999,9887 g, e que o peso de uma desenvolvimento das forças produtivas (o grau de domúüo do homem sobre a
natureza) e as relações de produção (a organização social) nascidas, em última
outra embalagem seja 999,999999 g . Diferençastão pequenaspodem ser va-
análise, de níveis de desenvolvimento anteriores dessas mesmas forças produti-
lidamente desprezadasde um ponto de vista prático.
Eis porque a lógica formal continua a ser utilizada tanto em teoria co- vas, governam toda a evolução da humanidade:
mo na prática. Eis porque a dialética materialista não "recusa"a lógica formal, ' Simplificando e esquematizando muito largamente, podemos indicar as
mas a integra, considerando-acomo um instrumento válido de análise e de co- leis seguintesdo movimento, ou formas principais que o .mesmo toma e que
nhecimento, mas válido sob condição de seIhe aperceberos limites: na medi- nos dão categoriasfundamentais da lógica dialética ou da lógica do movimen-
10
da em que se compreendaque é inaplicável aosfenómenos do movimento, aos
a) A unidade e a luta dos contrários. Quem diz movimento diz contra-
processos de mudança. Desde que se estala em presença de tais fenómenos,
dição. Quem diz contradição diz coexistência de elementos opostos uns aos
impõe-se o recurso às categorias da dialética, da lógica do movimento, catego-
outro$simultaneamente coexistência e luta entre esseselementos.Se existe ho-
rias estas diferentes das da lógica formal.
mogeneidade integral, ausência total de elementos opostos uns aos outros,não
existe contradição, não existe movimento, não existe vida, não há existência.
4. O movimettto, função da contradição A existência de elementos contraditórios inclui a sua coexistência numa
totalidade estruturada, num conjunto em que cada um dos seus elementos
O movimento, pela sua natureza, é uma passagem, uma ultrapassagem. tem o seu lugar, e a luta desseselementos para decompor esseconNnto..O.ca-
De um ponto de vista estático, um objeto não pode estar em dois locais dize pitalismo não é possível sem a existência sfmu/áapzea
do capital e do trabalho
rentes no mesmo momento (mesmosendoum momento infinitamente ci-
assalariado, da burguesia e do proletariado. Um não pode existir sem o outro-
to). Do ponto de vista dinâmico, o movimento de um objeto é precisamente Mas isso de modo nenhum significa que um deles não procure suprimir o capi-
a sua passagemde um ponto a outro.
tal e o salariato, não procure, protanto, ultrapassar o capitalismo.

118 119
b) Mudanças qualitativas e mudançasquantitativas. O movimento toma
a forma de mudanças mantendo a estrutura'(ou a qualidade) dos fenómenos; Para poderem desenvolver-seras forças produtivas devem necessaria-
falamos neste.casode uma mudançaquantitativa, íreqüentemente imperceptí
vel. .A partir de um certo "limiar';, a mudança quantitativa transforma-se em
mudança qualitativa. A partir deste limiar, a mudança, em vez de ser gradual,
tua-se p?r "salto",dando.lugar a uma nova qualidade. Uma pequena aldeia
pode transformar-se gradualmente numa grande aldeia ou vila,'num burgo,
mesmo numa pequena cidade. Mas entre uma cidade e uma aldeia não exÉte
somente uma (diferençade quantidade (quantidade de habitantes, de espaço
eMcado, etc.).. Existe também uma dizer:nça de qualidade. A atividaie pro-
fissional da maioria dos habitantes, modifica.se: em lugar do ag icultor,r' o intelectual da humanidade.
open:árioe o empregado que predominam. Nasceum novo meio social, levan-
tando problemas sem nenhuma existência no seio da aldeia Novas classesso-
ciais aparecem, com novas contradições sociais entre si.
c) Negação e ultrapassagem. Todo o movimento tem tendência a produ-
zir a negaçãode certos dos seusfenómenos, a transformar objetos no seu con-
trário. A vida produz a morte. O calor não pode ser entendido senão em fun.
ção do frio. A sociedade sem classeproduz a sociedade dividida em classes,
que por sua vez produz uma nova sociedadesemclasses.Mas é preciso distin-
guir a negação "pura'' e a."negação da negação", quer dizer, a ultrapassagem
dacontradiçãoaumnitel ' ' '' ' '
;,'Ü;='=.f.E==!=E:'::=' :Z U:= num :':'.'::"'.q-
. .. . superior,queimplica?aomesmotempo,umanega-
'''-'"-r-""o-"'
ção, uma conservaçãoe uma elçvaçaoa um nhel superior.A sociedadeprimiti-
va sem classestinha um alto núel de coesãointerna, precisamenteem função
da .sua.pobreza, da sua subordinação quase total às forças da naturezaA socie-
dade dividida em classesrepres'nta uma etapa do domúiio"superior do ho-
mem sobre as forças da natureza, pagapelo preço de uma contradição, de um
desgarramento mais profundo da organização social. Na sociedade socialista
futura, .esta negação será ultrapassada. Uma forma ainda mais elwada do do-
mínio do homem sobre a natureza será destavez combinada com uma forma
igualmente superior de coesão social e de cooperação, graças à existência de
uma sociedade sem classes.

5. Alguns problemas suplementares da diabética do conhecimento

a) Conteúdo e forma. Todo o movimento toma forçosamente formassu


cessivasque podem variar segundo um grande número de circunstâncias. Não
pode de.afazer-se automaticamente de ta] ou ta] forma, previamente adotada.
resiste. Tal resistênciatem que ser vencida.A forma'deve corresponderao
conteúdo e corresponde-lhe, pois, mas somente até um certo ponto- A sua na-
tureza mais rígida opõe-se a toda a correspondênciaabsoluta e permanente a
a um movimento que é o oposto a tudo o que é agido. '
Um bom exemplo destarelaçãocontraditória entre a forma e o contei.
La t o que apetecea diabéticaentre as relaçõesde produção e as forças produ- d) O relativo e o absoluto. Compreender o movimento, a mudança uni-

121
120
r de análise e de conhecimento, não apenas para disso determinar as contradi-
versam,é compreender a existência de uma infinidade de situações transitórias
"0 movimento é a unidade da continuidade e da descontinuidade"(Hegel).Por ções internas que determinam a sua evolução (as suas"leis de desenvolvimen-
isso, uma das características fundamentais da diabética é a compreensão da.re- to"). Deve igualmente esforçar-sepor abordar o fenómeno de maneira global,
latividade das coisas, é a recusa a erigir barreiras absoZzifasentre as categorias, por o dominar soblodos os seusaspectos,por o.considerarna suatotalidade,
e a' investigação das mediações entre os elementos opostos' A evolução univer- por estar toda a aproximação unilateral, que isola de maneira arbitrária tal ou
sal implica a existência de fenómenos híbridos, situações e casosde ' transe tal aspectoparticular da realidade, suprime, não menosarbitrariamente,tal
ção'' entre a vida e morte, entre asespéciesvegetais e animais, entre as aves e ou tal outro' aspecto, e é, por essefato, incapaz de apreender as contradições
os mamíferos, entre os macacose o homem - que tornam relativas asdistin- no seu conjunto e, logo, de compreender o movimento na sua totalidade.
çõesentreestascategonas- ... . . . t: Esta capacidadeda dialética para integrar na sua análiseo método "uni-
Contudo, a dialética tem sido muitas vezesutilizada de maneira.subjeti- versalista'' ÍH//sefrlgkeir, diz Lenine em alemão e em russo), é .um dos seus
vista, como "arte de confundir" ou "arte de defender paradoxos". A diferen- méritos principais. De resto, há praticamente sinonúnia entre "lógica do mo-
ça entre a dialética científica, instrumento de conhecimento real, e a diabética vimento", "lógica da contradição'' e "lógica da.totalidade': É fechando os
sl bjetivista ou se/zkh'ca,consiste particularmente em.que a relata.dado .dos olhos perante certos elementos contrllditórios do real, que.aparecem.como
fenómenos e das categorias se torna, por sua vez, qualquer coisa de.absoluto "tornando demasiado complexa" a análise, que alguns pensadores não-dialétl-
para os sofistas. Esquecemestes.(ou 6ulgem esqui;er) que a relatividad: das cos vão do total ao parcial, expelindo, a um tempo, a contradição e a totah-
jade
a
categorias é apenas uma relatividade parcial e. não uma ;elatividade absoluta,
e que é preciso,por suavez,rebüvíza' a rebf»iüzde..A diferença''absoluta' Evidentemente que é inevitável uma certa simplificação,.uma certa "re-
entre a vida e a morte é contestada pela existência de situaçõestransitórias, dução" da ''totalidade" aos seuselementos constitutivos decisivos, cama pri-
diz a dialética científica. Tudo é relativo, logo a diferença entre a vida e a meira tentativa de aproximação de toda a análise científica. Esta é, à partida:
morte não passade muito relativa quando não inexistente, prossegueo sofip necessariamente abstrata. Mas é necessário ter presente que este inevitável
ta. Não, replica o diabético: há qualquer coisa de absoluto e não somente de processo de abstração empobrece. o real? quanto mais se aproxima do real,
relativo na diferença entre a vida e a morte. Do fato incontestável de haver mais se aproxima de uma totalidade rica de uma infinidade de aspectos,que a
múltiplas etapasintermediárias, não se pode tirar a abswda conclusãoque análisecientífica e o conhecimento devem explicar, ao mesmo tempo, nas
consiste em negar que a morte permanece a negação da vida. suas relações recíprocas e nas relações contraditórias: "A verdade é sempre
a'; (Lenine). ''O verdadeiro é a totalidade" (Hegel).
6. O movimento, função da totalidade o abstrato e o concreto
7. Teoria e pratica
Vimos que todo o movimento é semprefunção de contradiçõesinter-
nas do fenómeno ou do feixe de fenómenos considerados. Cada fenómeno -- A dialética é uma teoria, um instrumentó do conhecimento. Historica-
sqa uma célula viva, um meio natural onde diversas espéciescoabitam, uma mente, pode-se definir a dialética materialista como a teoria do conhecimen-
sociedade humana, um sistemainterplanetário ou um átomo -- campo'ta, no to do proletariado ( o que em nada diminui o seu caráter objetivamente cien-
entanto, uma infinidade de aspectos,de componentes, de elementos constitu- tíGlco,que necessitauma verificação constante igualmente no terreno cientí-
tivos. Estes elementos não se aglomeram uns com os outros de maneira for- fic.)
C

tuita e constantemente modificada. Formam ConÜZzlzrosesrmürados, uma to- Toda a teoria do conhecimento é submetida a uma prova implacável: a
talidade construída seguindouma lógica determinada. Assim, no seio da socie- prova da prática.
dade burguesa, as relações mútuas e antagónicas.entre.o Capital e o Trabalho, Em última análise, o próprio conh:cimento não é um fenómeno separa'
de modo nenhum são fortuitas. São determinadas pela obrigação económica do da vida e dos interesses dos homens. É uma arma para a conservação da es-
em que se encontra o assalariado de vender a sua força de trabalho ao capita- pécie, uma arma que premite ao homem dominar as forças da natureza, uma
lista, detentor dos meios de produção e de subsistência,sob forma de merca- arma para compreender (mais tarde) as origens.da "questão.social" e os
dorias Relações mútuas qualitativamente diferentes daquelas, produziram ou- meios de as resolver. O conhecimento nasceu pois da prática social dohomem
tras sociedadesfundadas sobre a exploração; mas não se tratava de sociedades tem por função aperfeiçoar esta prática. A sua eficácia mede-se,em última a-
capitalistas. nálise, pelos 'seus efeitos práticos. A yeri6lcação prática permanece a melhor
A díalética materialista deve pois abordar cada fenómeno, cada objeta arma de última instância contra os sofistas e os cénicos.

123
122
BI BLIOG RAFI A

Capítulo l
K. Marx e Fr. Engels-- O Manifesto Comunista
Fr. Engels -- Anti-Dilhring (2a e 3a partes).
Max Beer -- História do Socialismo.
K. Kautsky -- As Origensdo Cristianismo.
-- Thomas More.

Capítulo 11

Marx e Engels-- O Manifesto Comunista.


Engels -- Anti-Dilhring (2a e 3a partes).
Gordon Childe O que aconteceu na História.
-- O homem faz-se a si pró prio.
Glotz -- O trabalho na antiga Grécia.
Bolsonnade -- O trabalho na Idade Média.
Ernest Mandei -- Tratado de economia marxista (4 primeiros capítulos)

Capítulo lll
K. Marx e Fr. Engels-- O Manifesto Comunista.
Fr. Engels-- As origensda família, da propriedadeprivadae do Estado
Herman Gorter -- O materialismo histórico
Boukharine -- A teoria do materialismo histórico.
Plekhanov-- Questõesfundamentais do marxismo.
K. Kautsky -- Ética e concepção materialista da história.
A. Moret e G. Davy -- Das clãsaos Impérios.

Capítulo IV
Karl Marx -- Salári.o,preço e lucro.
RosaLuxemburgo -- l ntrodução à economia política.
Ernest Mandei -- Iniciação à teoria económica marxista.
-- Tratado de economia marxista.
Pierre Salama et Jacques Valier -- l ntrodução à economia política
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125
Capítulo v

Kart Marx -- Salário, preço e lucro. Capítulo IX


Marx e Engels O Manifesto comunista. Lenine -- Que fazer?
Fr. Engels -- Anti-Dühring (2a parte). Lenine -- O esquerdismo. doença infantil do comunismo
Karl Kautsky -- A doutrina económica de Karl Marx. Rosa Luxemburgo -- Reforma ou revolução.
Rosa Luxemburgo Introdução à economia poli'tica Rosa Luxemburgo -- Greve de massa, partido e sindicatos.
Ernest Mandei -- Iniciação à teoria económica marxis.a. L. Trotsky -- Os sindicatos na época do declínio do capitalismo
Tratado de economia marxista. G. Lukács -- Lenine.

Ernest Mandei e George Novack -- A teoria marxista da alienação.


Pierre Salama e J. Valier Introdução à economia poli'teca. Capítulo X
K. Marx -- A guerra civil em França.
Capítulo yl
Lenine -- O Estado e a revolução.
Lenine -- A revolução proletária e o renegado Kautsky.
Lenine -- O l mperialismo, estágio supremo do capitalismo.
R. Hilferding -- O capital financeiro. L. Trotsky -- Escritos sobre a Alemanha.
go Congressoda IV Internacional -- Teses sobre o declínio e queda do
E. Mandei -- Tratado de economia marxista {caps. 12-14).
Pierre Jalée -- O Imperialismo em 1970. estalinismo {inclui uma descrição detalhada das instituições
da democracia proletária sob a ditadura do proletariado.
Pierre Salama -- O pro:esso de subdesenvolvimento.

Capa'tufo yl l Capítulo XI

Pierre Jalée -- O imperialismo em 1970. Lenine -- Duastáticas da social-democracia.


-- A catástrofe iminente e os meios de a conjurar
Pierre Salama O processo de subdesenvolvimenlu.
-- Os bolcheviques conservarão o poder?
Paul A. Baran -- A economia poli'teca do crescimento.
RosaLuxemburgo -- Brochura de Junius.
Haupt-Lowy-Weill -- Os marxistas e a questão n acional {textos de Leníne. -- A revolução russa.
Rosa Luxemburgo, Kautsky, Otto Bauer. etc.) Léon Trotsky -- Três concepçoesda revolução russa.
Capítujo yf l l -- Discurn de Copenhague (1932).
-- História da revolução russa.
Marx e Engels Manifesto comunista. -- A revolução permanente.
Engels Socialismo utÓPico e socialismo ciente'fico.
Marx Beer -- História do socialismo.
Capítulo Xll
Kart Marx -- A guerra civil em França
Lissagaray -- A Comuna de Paras.
E. Mandei -- Da burocracia.
L. Trotsky -- Lições de outubro.
-- Novos rumos {Cours nouveau).
-- A revolução tra ída.
Moshe Lewin -- O último combate de Lenine.
Tesesdo 4o e 5o Congressosda IV Internacional -- Ascensoe üeclinlo ao
Estalinismo -- Declínio e queda do Estalinismo.
126
127
Samízdat l. Henri Lefebvre -- Lógica formal. lógica diabética.
G. Plekanov -- Questões fundamentais do marxismo.
Polânia -- Hungria, 1956.
George Novack -- Uma introdução à lógica do marxismo.
Capítulo Xll l N. Boukharine -- O materialismo histórico.
G. Luckács-- História e consciênciade classe (2 primeiros capítulos)
L. Trotsky -- A agonia do capitalismo e as tarefas da IV,Internacional
(Programa de Transição).
Congressode Reunificação {7o CongressoMundial da IV l nternacional)
-- A dialética atual da revolução mundial.
Ernest Mandei -- O controle operário.
Controle operário. conselhosoperários, autogestão (analogia)
Liga Comunista -- Projetos de Programa.
Documentos do IX e X Congressos Mundiais da IV Internacional.
}

Capítulo XIV
Resolução do 3o Congresso da 1. C. sobre a tática.
Lenine -- O "esquerdismo", doença infantil do comunismo
Leon Trotsky -- Para onde vai a França?
Escritos sobre a Alemanha.
-- O movimento comunista em França.
Ernest Mandei -- Sobre o fascismo.
Daníel Guérin -- Fascismoe Grande Capital.
Henry Weber -- Marxismo e consciênciade classe.
Ernest Mandei Lenine e a consciência de classeproletária.

Capítulo XV
Kart Marx -- Crítica do Programade Gotha.
Friederich Engels Anta-Dühring, 3a parte: "0 Socialismo
Lenine O Estado e a revolução.
Boukharine e Préobrajensky -- ABC do comunismo.
Leon Trotsky -- Literatura e revolução -- Problemasda vida quotidiana
Lafargue -- O direito à preguiça

Capítulo XVI

Fr. Engels -- Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã


-- Anta-Dilhring la parte.
129
128
l mpresso por Edições Renascença Ltda.
para Editora Movimento em março de 1982.
121 /78 '\
'\
Coleção Diabética

História e Ideologia
Erniido Stein
Metaf ísica e Finitude
herda Bornheim

Reflexões sobre a arte antiga


J.J. Winckelmann

Melancolia
Ernildo Stein
Função dos intelectuais numa
sociedade de classes
Jefferson carros

Cr ética de razão tupiniquim


Roberto Games

l ntrodução ao marxismo
Ernest Mandei

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