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Relações entre autores acerca questão racial no Brasil

Adrian Albuquerque e Gabriela Coniutti

Gilberto Freyre nasceu em 1900 no Recife/PE. O pai, Alfredo Freyre, era juiz e
professor universitário que ensinaria latim ao filho. Apesar do estímulo ao estudo
em casa, Freyre não conseguia aprender a escrever e fazia desenhos para
expressar-se. Estudou em colégios americanos e quando terminou sua formação
partiu para os Estados Unidos onde se matricularia na Universidade de Baylor,
Texas e anos mais tarde, em Columbia.

Retorna ao Brasil em 1924, assume a direção de jornais e escreve inúmeros


artigos sobre a formação social do Brasil que eram publicados em jornais de
Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Igualmente, trabalha como secretário
particular do governador de Pernambuco, Estácio de Albuquerque de Coimbra.

Em 1933, após intensas pesquisas, lança "Casa-Grande & Senzala", que


provocaria polêmica no meio intelectual brasileiro seja por sua linguagem como
pelos temas propostos. Seus livros ganham edições em várias línguas e "Casa-
Grande e Senzala" é a até hoje o livro de Sociologia brasileiro mais editado e
traduzido no exterior.

Na análise de José Carlos Reis em “Reelogio da Colonização Portuguesa”,


discute-se o posicionamento de Freyre diante da colonização lusitana na qual
ainda que enaltecesse esse processo como primordial para o crescimento do
Brasil, ponderava a contribuição dos índios e principalmente dos negros
escravos nesse papel. Freyre observava a miscigenação entre diferentes
culturas como um artifício para fortalecer o surgimento de uma raça miscigenada
superior. Além disso, é entre a casa grande e a senzala, para o sociólogo, que
essa mistura ocorreu de forma harmoniosa e pacifica.
A partir dessa premissa são feitas críticas, em sua maioria marxistas, a Freyre
por não contemplar em seu pensamento as tensões de classe entre os senhores
e os escravos. Nesse sentido, Freyre é visto como conservador, por apresentar
um certo saudosismo do sistema colonial.

Diante disso, é possível traçar um paralelo entre a análise de Reis sobre Freyre
e o texto “O Negro no Mundo dos Brancos”, de Florestan Fernandes – sociólogo
importante para a etnologia brasileira e que dialoga com a sociologia clássica e
moderna e, principalmente com o pensamento marxista.

Fernandes destaca a análise dos movimentos sociais do negro e do mulato.


Assim, toma a história social do Brasil, desde a abolição da escravatura ao
abordar o esforço persistente e difícil do negro e mulato no sentido de conseguir
a redefinição social do ex-escravo, como trabalhador livre e como cidadão.

Ao partir dessa redefinição, o autor estuda o mito da democracia racial no qual


a partir da sutil neutralização do negro enquanto coletivo ou categoria racial se
bloqueia a eficácia política desses sujeitos. Sob esse aspecto, o mito da
democracia racial atinge o caráter de técnica social, pelo qual o branco, nas
normas de sua classe social, estabelece as condições para que o negro se
movimente socialmente e dita as regras para que sejam reconhecidos como
grupos sociais e indivíduos.

Partindo para os pensamentos de Nina Rodrigues, a imagem que se tinha do


sertão, enquanto berço da nação, elemento de fundação de nacionalidade,
reduto do homem primordial da brasilidade teve como inspiração a construção
discursiva da literatura romântica. Porém, imaginar o sertanejo convivendo com
a sua crença na civilização e no progresso, fazia com que a consciência do
homem ficasse angustiada e também sombria, projetando reflexões que não
poderiam deixar de transparecer tais tensões.
Já Euclides da Cunha, sendo um romântico buscava um exílio da agitação
urbana fugindo para a solidão, pois tentava viver o tempo perdido revestindo-se
de contemplação e nostalgia trazendo de volta a percepção da natureza e do
sertão, traço que pode ser notado em um dos seus primeiros escritos chamado
Em viagem, difundido pelo jornal O Democrata, de abril de 1889. O autor
aninhava seus sentimentos com os ais elevados valores do cientificismo.

A situação racial no Brasil aparece de forma normalizada e estabilizada, como


se a desigualdade fosse algo advindo da natureza, o país vive um ar de “boa
consciência”, onde nega o preconceito ou tenta diminui-lo, dando como
justificava de ações discriminatórias a falta de política que resultem na
diminuição desses fatos. Há uma afirmativa genérica de hegemonia racial que é
jogada para o lado pessoal sem possíveis conflitos, fazendo com que a
discussão do tema passe a ser ainda mais complicada, pois ora existe, ora é
problema do outro.

O tema é ainda mais complexo, pois no país não existe regras fixas ou modelos
de descendência biológica aceita consensualmente, e traçar uma “linha de cor”
no Brasil é algo a se temer, pois a classe social do indivíduo, local e situação
podem variar de acordo com o ambiente em que ele está inserido. Em território
brasileiro não apenas o dinheiro e as posições de prestigio que embranquecem,
mas também a “raça” transvestida em um conceito chamado “cor” transformasse
em um conceito relativo e passageiro.

Dessa forma afirma-se que não existem bons ou maus racismos, todo racismo é
ruim e desrespeitoso com um povo e sua descendência. É necessário pensar
nas características da histórica brasileira que faz da discriminação um espaço
não formalizado e da desigualdade uma etiqueta internalizada.

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