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(DI)versos
Eliane Testa (Org.)
φ
Diagramação e capa: Lucas Fontella Margoni
Arte de capa: “mix sunergétikos”, de Lia Testa; Técnica: “colagem c/apropriação”
Revisão: João de Deus Leite
http://www.abecbrasil.org.br
(DI)versos. [recurso eletrônico] / Eliane Testa (Org.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2017.
86 p.
ISBN - 978-85-5696-159-4
Disponível em: http://www.editorafi.org
CDD-100
Índices para catálogo sistemático:
1. Filosofia 100
Para todos os leitores, esse nosso “diversos”,
em criação.
pensar-se como enigma
M. Merleau-ponty
Valéry
Maurice Barrès
SUMÁRIO
PREFÁCIO - JANETE SANTOS ..............................................................................................................15
NOTA E AGRADECIMENTOS ................................................................................................................25
POEMAS
MOÇA TOMBADEIRA
Kauany Fernandes ............................................................................................................................... 31
HOMÚNCULO
Jannyffer Sousa Almeida ...................................................................................................................... 32
VERME NECRÓFAGO
Juliana Sousa Rocha ............................................................................................................................ 33
À MOÇA VIRGEM
Willas Santos ...................................................................................................................................... 35
FRATURA
Victor França ....................................................................................................................................... 36
LA VIDA
Davi Gomes ......................................................................................................................................... 37
O ÓVULO DA SERPENTE
Cristiano Alves ..................................................................................................................................... 44
Hamilton Araújo .................................................................................................................................. 45
GIRO SERPENTINA
Jannyffer Sousa Almeida ...................................................................................................................... 47
SERPENTE SUICIDA
Willas Santos ...................................................................................................................................... 49
OROBORO
Kauany Fernandes ............................................................................................................................... 50
Haicais
Jannyffer Sousa Almeida ...................................................................................................................... 54
CONTOS BREVES
SILÊNCIO!
Davi Gomes ......................................................................................................................................... 58
ZERO GRAU
Willas Santos ...................................................................................................................................... 59
MORMAÇO
Juliana Sousa Rocha ............................................................................................................................ 59
PROIBIDO
Kauany Fernandes ............................................................................................................................... 60
O SILÊNCIO
Ana Sena ............................................................................................................................................ 61
CRÔNICAS
O DESCASCADOR DE LARANJAS
Cristiano Alves ..................................................................................................................................... 65
HAITI
Davi Gomes ......................................................................................................................................... 66
OUTROS ESCRITOS
EXERCÍCIO POÉTICO
Cristiano Alves ..................................................................................................................................... 69
CONTÁGIO
Cristiano Alves ..................................................................................................................................... 70
COLAGENS .......................................................................................................................................71
POSFÁCIO - DA LINGUAGEM POÉTICA EM CENA: A TESSITURA DE (DI)VERSOS - JOÃO DE DEUS LEITE .......83
PREFÁCIO
Janete Santos1
A energia produtiva da poeta Lia Testa é solidária, partilha
sonhos diversos e de versos. Sendo laboriosa poetisa _ referência
que ela prefere à “poeta”, forma lexical com a qual mais me afino
por dar, a meu ver, o mesmo status a poetas de diferentes gêneros
(masculino/feminino)_, é também dedicada a não só conquistar,
mas também a formar apreciadores do trabalho criativo da
poesia. E nada mais gratificante que, a partir de outro lugar, digo,
já na instância de docente, enunciando da posição de professora
de um curso de Letras, oportunizar essa experiência (a vivência
desse processo) a seus alunos de graduação, tendo como
resultado (produto) a presente coletânea, cujo prefácio me coube
fazer após convite que muito me honrou. A obra reúne três
gêneros literários (poesias, contos e crônicas) produzidos pelos
participantes das oficinas do exitoso projeto de criação literária,
encampado e coordenado por Eliane Cristina Testa, a docente, e
temperado em excelente medida pelo vigor criativo de Lia Testa,
a poeta (ou a poetisa, como ela preferir).
O volume vem distribuído em seis partes ou seções. A
primeira é composta de dez poemas que trazem em si, como fio
condutor que enlaça os textos, o sintagma nominal osso côncavo do
olho. A segunda, também constituída de dez poemas, traz como
proposta de composição a alegoria cobra que morde o rabo, na qual
um dos poemas conjuga signo linguístico e não-linguístico. A
terceira está organizada por onze haicais. A quarta parte, de dez
contos curtos. A quinta, de três crônicas. A sexta, de três poemas
livres de eixo temático, com uso no terceiro poema de outros
signos que não apenas o linguístico, e mobilizado este tipo
somente no título.
Fechando a obra, a sétima e última parte vem composta
por imagens resultantes de colagens de figuras outras. Escolhi
dois poemas da primeira seção para beliscar a curiosidade do
leitor quanto à riqueza das propostas produzidas no exercício
1Escritora e poeta, por inquietação. Janete Silva dos Santos (mestre e doutora em LA,
pela Unicamp), docente e pesquisadora da UFT, por ofício.
16 | (DI)
Verme Necrófago
POEMA: OLHOSCÓPIO
Escureço
Na visão.
Olho-me
Por fora.
Para ver
Um cego.
Onde eu
Espelhei
Meu osso
Côncavo.
Do olho
E alheio.
Cristiano Alves
ELIANE TESTA (ORG.) | 31
MOÇA TOMBADEIRA
Kauany Fernandes
32 | (DI)
HOMÚNCULO
VERME NECRÓFAGO
Afoguei-me em lágrimas
íris avermelhados deixei,
pupila bem dilatada
nervo óptico a romper.
reflete luz
os meus olhos pirilampos
almejo tanto resplandecer.
Elizandra Sousa
ELIANE TESTA (ORG.) | 35
À MOÇA VIRGEM
Willas Santos
36 | (DI)
FRATURA
Victor França
ELIANE TESTA (ORG.) | 37
LA VIDA
CORVO
CURVA
TUSSO
CORPO
CORPO
CORPO SÚBITO
SÚBITA MORTE
OLHOS APAGADOS NA NOITE
CURVAS BATIDAS
BATIDAS
BOOM,
TURVO
OSSO CÔNCAVO DO OLHO
RUÍDO
QUEBRADO
SALTADO
CURVO
CURVA
CURVO
LINHAS TORTAS
CONCAVIDADE
DO OSSO CAVADO DA VIDA
Davi Gomes
38 | (DI)
Osso côncavo
Osso do fêmur
Osso da bacia
Osso do rádio
Rádio comunicar
Coluna é osso
Osso sustentação
Osso do cóccix
Osso da tíbia
Osso do pé
Medula no osso
Tutano de células
Hamilton Araújo
ELIANE TESTA (ORG.) | 39
Meu olho,
No fundo,
Lá dentro,
Do seu olho.
Adentro,
No osso.
Côncavo do olho,
Do seu C.U.
Vai, lá dentro!
Do osso,
Do olho,
Do côncavo,
Do C.U.
Vai, Ai, Ui
Vai, vai
Ui, Ui.
Ana Sena
Cobra que morde o rabo
42 | (DI)
Victor França
44 | (DI)
O ÓVULO DA SERPENTE
A cobra morde
O próprio rabo.
O rabo morde
A própria cobra.
Forma-se a eternidade
Do círculo à fecundação.
Cristiano Alves
ELIANE TESTA (ORG.) | 45
Curvas, curvas
Mulheres curvas
Olhar seduzido
Corpo sedução
Levante-te, resplandece!
É forte, é grande
Amor suicídio?
Devora-se
Renova-se.
Hamilton Araújo
46 | (DI)
Cobra
que
morde
que
tange
que
mata
o
próprio
rabo
Ana Sena
ELIANE TESTA (ORG.) | 47
GIRO SERPENTINA
Oscilação vertiginosa
Tempos antigos
Giros labirínticos
Destino desatino
Em círculos a criação
A vida
A morte
A ressureição.
TU
Que mata
Feri
Morde
Incita
Destrói
Que é faca
Farsa
Farpa
Força
Fatal
Davi Gomes
ELIANE TESTA (ORG.) | 49
SERPENTE SUICIDA
Em terras quentes,
asfalto frita ovo,
sol bronzeia a pele,
corpo sua no corpo,
bituca de cigarro queima o mato
e serpente vira ouroboro:
cobra que morde o rabo.
Símbolo de eternidade,
Eterno retorno numa alquimia das mesmas partes.
Renove, recomece, recrie,
Autofecunda a história rastejante da língua bifurcada.
Willas Santos
50 | (DI)
OROBORO
Círculo da alma
Do fim, o começo
Do começo, o fim
Borós voraz se alimenta
Do velho, cospe o novo
Transforma a alma
Renovando o espírito
Cobra que morde o rabo
Do velho ao novo
Devora a carne
Engole o sopro
Cospe a nova versão
Víbora herdeira.
Kauany Fernandes
ELIANE TESTA (ORG.) | 51
Elizandra Sousa
Haicais
54 | (DI)
Brilho da escama
Sereia profetiza
Sol morre.
A sobra da sombra
Assombra a sobrancelha
Escrita no olho fechado.
Cristiano Alves
Chuva de verão
Haicai pelo chão
Um arco-íris, no fim.
Cristiano Alves
ELIANE TESTA (ORG.) | 55
O azul do céu
Escreve forte:
Sol/u do norte.
Cristiano Alves
Nuvens densas
Pessoas correm
Tardes cansativas
Pequena planta
Concreto trincado
Resistência
Muralha
Grilos cantam
Jardim secreto
Fim de tarde
Pássaros cantam
Despedida
Pequena flor
Dança ao vento
Carícia
Manhã de inverno
Lótus abre
Transcende à sombra.
SILÊNCIO!
Chega cedo ao trabalho, todos os dias. Naquele dia, esperava
ser especial, aflita trabalha com pressa, sempre na expectativa que a
qualquer momento tocaria seu telefone, e uma bela voz falasse o que
ela queria ouvir.
Não tocou, nem mensagem recebeu. Foi para casa, embora
não quisesse; queria ler alguma coisa, não conseguiu, o celular parado
quieto sem nada a fazer, demonstrava somente as horas que se
passavam depressa. Cansou. Saiu rua abaixo, estação, ônibus bairro da
ribeira, medo, trêmula, com esperança, era agora! Lembrou de sua
chave reserva, abriu a porta, verificou tudo, nada achou, a não ser o
silêncio mórbido e crucial.
Escada acima chegou ao quarto, portas entreabertas, suspiros,
gritos baixos, beijos doces, arfando em delírios, aís prazerosos. Suor
quente; sai chorando em desespero, coração a mil, este punhal que
favor me faz, traspassa o corpo da arfante, e a garganta traidora. Noite
fria, na mente solidão. Bilhete - Se não és meu, de ninguém será teu
coração.
Davi Gomes
O ENCONTRO DA GAROTA DE LINCHTENSTEIN
Papelada pela mesa, bloquinhos de notas néon colados na tela
do monitor, um porta retrato barato com a foto do pai falecido
parado ao lado de um delicado arranjo de mosquitinhos. O ritual
matinal era o mesmo, chegava às 8:00, pontual, despia-se do blazer e
sentava-se para desapertar um nível do fecho do salto preto, os
cabelos cereja levemente bagunçado, rímel e batom sagrados, ligava o
monitor e, então, saudava à todos com um suave e simpático: Bom
dia!
Iniciava sua jornada sempre na companhia de um copo
abastecido de café, sentia-se impaciente ao ler os relatórios, pois,
aguardava uma importante ligação, fazendo tudo com muita
ansiedade, mantendo sempre sua visão fixa na tela do aparelho,
verificando de hora em hora se o celular havia tocado, vibrado ou
acendido. Então, levanta-se e senta-se novamente com o ar de
decepção estampado em seu rosto.
Victor França
ELIANE TESTA (ORG.) | 59
Cristiano Alves
ZERO GRAU
Willas Santos
MORMAÇO
PROIBIDO
Kauany Fernandes
O SILÊNCIO
Cristiano Alves
CRÔNICAS
UMA CENA URBANA
O DESCASCADOR DE LARANJAS
HAITI
Sopro natural, vindo de longe, chega de mansinho e começa
fazer bagunça, sopra vento, chuva, treme o chão. Estava tudo muito
bem, tranquilo, belas paisagens, campos e cidades, em ruínas!
Levantando do chão como quem renasce, era como a estrela cadente,
que, quando se vê, já sumiu. Vejo de longe os pastores a caminho do
Haiti, como quem vai a ver cristo, pastores vestido de verde, com
armas na mão. Seus presentes? Uma banana, pedaços de pão, sua luta
é pelas vidas, que ora partidas, pelo sopro do vento, que, em vão
momento, fez o castelo ir ao chão; o Herodes, o grande rei, manda
seus homens para socorrer. Sabe que terras como aquelas, mesmo não
sendo as de Vera Cruz, em se plantando tudo dá.
O morador lamenta, chora, grita, faz do sonho a realidade,
pois, em sonhar com um mundo novo, recomeça tudo outra vez; faz
desse povo guerreiros valentes; sabe aquelas histórias de sobrevivência
embaixo dos escombros, pois é não é sonho nem pesadelo, aquela
mãe descabelada, aquele pai a gemer de fúria, a criança, em chão
deitada, suspira, vendo a moça Caetana abraçar-lhe e apagar as luzes.
Tudo treva, dor cosome o lugar, era sonho, tinha vida, o sopro veio,
levou tudo; a sonoplastia natural do ambiente levou tudo que podia,
mas, se é dinheiro, eu pago; se alugar, vou dividir com você, e, água,
eu tenho a dar, mas o vento disse não é nada disso que quero. Quero
apenas devastar, como disse a amiga Caymmi: “batidas na porta da
frente é o vento, e eu sem argumento”. Lembrei-me, amigo, de Ana
Terra, toda vez que sopra o vento algo vai acontecer. Ah!, amigo
Veríssimo, se fosse o vento de Ana, talvez, fossem todos Haiti, mas
não é França nem é Mariana, é Haiti. Sabe o que quer dizer isto? Ei! É
aí ti, esse distante, tão nosso, de casa, não é branco, não fala Francês,
não é do Central Park, muito menos de Nova York; fica do outro lado
do pacífico, em uma terra de pele negra, sangue negro, vidas negras,
belezas negras; vista de longe, como animais, fome e se de
humanidade. Que humanidade? Que ser humano? Barack não foi ,
Temer não foi, e você também não foi ao facebook nem ao perfil e
disse #somostodoshaiti. Lembro-me do profeta judeu, raça de
víboras, são como os sepulcros caiados. Vento tempo, tempo vento, é
tudo descontentamento.
Davi Gomes
OUTROS ESCRITOS
68 | (DI)
De olhos fechados
percebem-se as dimensões do mundo
O mundo em que vivo
e o mundo que vive em mim
Na linha de divisa
entre
carne
&
alma
liberdade
In
prisão
EXERCÍCIO POÉTICO
CA N S A ÇO
CAN AÇO
A N A
A A
A
Cristiano Alves
70 | (DI)
CONTÁGIO
Cristiano Alves
Sob orientação da professora
Dra. Eliane Testa COLAGENS
72 | (DI)
Cristiano Alves
ELIANE TESTA (ORG.) | 73
Elizandra Sousa
74 | (DI)
Elizandra Sousa
ELIANE TESTA (ORG.) | 75
Elizandra Sousa
76 | (DI)
Jennyffer Almeida
ELIANE TESTA (ORG.) | 77
Jennyffer Almeida
78 | (DI)
3
Doutor e Mestre em Estudos Linguísticos, é docente do curso de Letras e do PPGL
da UFT. Atualmente é membro do grupo de Pesquisa e Estudos em Linguagem e
Subjetividade (GELS) e do grupo de Estudo em Linguagem e Psicanálise (GELP).
84 | (DI)
Referências