Você está na página 1de 12

4.

Bem Estar Social

4.1 Função Bem Estar Social

● Quando falamos em bem estar social estamos interessados em ordenar alternativas (ou
estados) possíveis na sociedade de acordo com as preferências sociais.

→ Uma alternativa social possível pode, por exemplo no modelo de troca pura, ser uma
afectação possível na economia: X = ( x A1 , x A2 , xB1 , xB 2 ) , com xA1 + xB1 = ω1 , sendo ω1 a dotação do
bem 1 existente, e x A 2 + x B 2 = ω2 .

→ Consideremos várias afectações sociais possíveis, várias alternativas para a sociedade


como um todo X a , X b , X c , cada uma com diferentes valores para x A1 , x A2 , xB1 , xB 2 .

● O ideal seria conseguir uma ordenação das alternativas para a economia, completa e transitiva,
que representasse as preferências sociais.
Ex: Consideremos que essa sociedade era capaz de dizer que X b fS X a fS X c .
→ Diríamos que, dentro das alternativas possíveis, a que maximiza a preferida nesta
sociedade é X b e que a sociedade ao passar de X a para X b aumentou o seu bem estar social
(BES).

→ Se essa ordenação for completa e transitiva e contínua sabemos que há uma função que
representa essa ordenação W = w ( X ) - função Bem Estar social do tipo Bergson (definida sobre o
conjunto de alternativas sociais).

● Mas há uma questão que se levanta: Que função w utilizar? Como obter uma ordenação destas
afectações em termos de preferências sociais? Como obter uma ordenação completa e transitiva
para que essa ordenação nos possa indicar quais são as melhores alternativas para a sociedade?
Como saber qual a alternativa preferida para a sociedade como um todo?

→ Dado que a sociedade é composta por indivíduos é natural que a ordenação social
dependa das ordenações individuais, das ordenações dos estados sociais segundo as preferências
dos indivíduos.
→ Gostaríamos então de ter um critério que aplicado às preferências individuais nos
permitisse obter uma ordenação em termos de preferências sociais. Um critério que agregasse
preferências individuais num índice de bem estar social: critério de escolha social.

→ Então a questão pode tornar-se bastante complicada. A pergunta agora será, mas que
critério de escolha social escolher? E Arrow mostrou que todos os critérios de escolha social têm
problemas.

→ Vejamos alguns critérios de escolha social. Por exemplo votação por maioria
simples…Pode gerar preferências sociais não transitivas.

Uma Família de 3: Pai (P), Mãe (M) e Filho (F) tem de decidir se vão ao teatro, concerto
rock ou futebol; As preferências individuais são transitivas e o Pai prefere futebol, depois teatro
e depois Rock; para a mãe é melhor teatro, depois rock e depois futebol; para o filho é melhor
rock depois futebol e depois teatro; Com votação por maioria simples , o rock ganha ao futebol,
o futebol ganha ao teatro, mas teatro ganha ao rock: falha a transitividade.
Critério de Pareto
● Este critério diz apenas o seguinte: se todos os indivíduos preferirem x a x´, então x é superior
a x´ em termos sociais.
→ É um critério que, em geral, leva a uma ordenação das afectações em termos sociais que
é incompleta. É um critério que não nos indica como ordenar duas alternativas x’ e x’’, se de x’
para x’’ alguns indivíduos estiverem melhor e outros pior.
→ Se todos os indivíduos tiverem a mesma ordenação individual das alternativas sociais
chegar-se a acordo sobre qual é a melhor para a sociedade não é difícil já que há consenso sobre
essa questão: neste caso o critério de Pareto serviria e gerava uma ordenação social completa,
idêntica às ordenações individuais.
→ E se, como geralmente acontece, nem todos tiverem a mesma opinião sobre o assunto?
Ver exemplo de funções utilidade individuais idênticas, mas com preferências individuais
individualistas (isto é, que só dependem dos consumos do próprio indivíduo e supor que são
monótonas): ordenações das afectações sociais em termos de preferências individuais são
diferentes de individuo para individuo se duma afectação social para outra uns indivíduos
tiverem mais e outros menos.
Critério não paternalista
● No caso duma sociedade em que as preferências individuais podem ser representadas por
funções utilidade podemos obter uma função bem estar social, w(x), da seguinte forma:
W = F (U1 ,U 2 ,...,U n ) e W = w( X ) ≡ F (u1 ( X ) , u2 ( X ) ,..., un ( X ))

→ À função bem estar social w(X) obtida a partir das funções utilidade individuais
chamamos Função Bem Estar Social (FBES) não paternalista, ou ‘Welfarist’.

→ F seria uma função (com uma determinada forma funcional) sobre as utilidades
individuais, que representa um determinado critério de escolha social.

● Mas este critério também tem problemas:

→ Diz-se que este critério F sofre do problema da dupla indefinição: que F e que u
escolher?
→ Se mudarmos as funções utilidade individuais sem alterar as preferências (relembrar que
as mesmas preferências individuais podem ser representadas por várias funções utilidade
diferentes), a ordenação social obtida aplicando F às novas funções utilidade individuais pode vir
alterada.
→ Então a ordenação social obtida através deste critério F não depende das preferências
individuais mas sim da função utilidade que as representa.
● Ver exemplo
→ Função bem estar social welfarista (FBESW) do tipo utilitarista (soma das utilidades)
numa economia só com um bem, cujas dotações totais são 5;
→ Calcular a afectação social possível que maximiza a FBESW, com funções utilidade de
2 indivíduos i=A,B iguais a U i = ui ( x i ) = xi , e depois calcular ótimo social também com outra
função utilidade pra o A que representa as mesmas preferências: U A = g A ( x A ) = 0.5 x A e
mesma função U para o B.
→ A solução para o máximo possível é diferente nos dois casos, embora as preferências
individuais (e o critério de escolha social, soma das utilidades, se tenha mantido o mesmo)
n
• A FBESW utilitarista W ( x ) = ∑ ui ( x ) é bastante utilizada:
i =1

i) Pode ser vista como a utilidade esperada dum indivíduo que tem de decidir qual a
afectação x na sociedade sem saber a identidade que vai encarnar (e podendo encarnar qualquer
uma com idêntica probabilidade);

ii) É neutra quanto à assimetria na distribuição de utilidades: Se duma afectação para outra
há um indivíduo que aumenta a utilidade mais do que a diminuição de utilidade doutro, essa
outra é preferível socialmente mesmo que aquele que melhora já tenha muito;

iii) Mas gera uma distribuição de recursos totalmente simétrica no caso de funções utilidade
côncavas e simétricas (isto é, formas funcionais idênticas) entre os indivíduos;

iv) No entanto levanta problemas de injustiça (Sen). Exemplo: W = F (U1 ,U 2 ) =U1 + U 2 ,


x1 + x2 ≤ 5 ; ver ótimo social com U i = ui ( xi ) = xi1/ 2 e alternativamente com U1 = g1 ( x1 ) = 0.5 x11/ 2
O individuo A que não consegue obter tanta utilidade (eventualmente devido a incapacidade
temporária) acaba penalizado no ótimo social.
Teorema da Impossibilidade de Arrow

● Um critério de escolha social que permita a partir das ordenações individuais obter uma
ordenação social deverá, em princípio, satisfazer alguns requisitos para que seja um critério útil,
isto é um critério operacional, um critério que as pessoas aceitem utilizar e com o qual
concordem.

● Arrow considerou 5 requisitos como requisitos que deverão estar satisfeitos se quisermos
democracia e operacionalidade. E demonstrou que não é possível arranjar um critério de escolha
social para ordenar as alternativas sociais (regra de escolha social) baseado nas preferências
individuais que satisfaça esses 5 requisitos (Ver pg seguinte).

● Por exemplo o Critério de Pareto ou viola o 1ºrequisito ou viola o 3º, já que para ser completo
tem se limitar a aplicar a um conjunto de preferências individuais específico (todas idênticas).

● O critério F, não paternalista, viola o 4º requisito, já que a ordenação social obtida com este
critério não depende apenas das preferências individuais mas das funções utilidade que
utilizamos para as representar.
TEOREMA DA IMPOSSIBILIDADE DE ARROW: não é possível arranjar um critério de escolha
social (CES) para ordenar as alternativas sociais baseado nas preferências individuais que
satisfaça os seguintes 5 requisitos:

1- CES que permita ordenar de forma completa e transitiva todas as afectações sociais.

2- CES que seja compatível com o critério de Pareto.

3- CES que possua o requisito da Universalidade ou domínio não restrito, que possa ser aplicado
a qualquer conjunto de preferências individuais.

4- CES que possua o requisito da Independência das alternativas irrelevantes: a ordenação social
entre as afectações x e x’ só depende da ordenação individual entre x e x’ e não da ordenação
individual entre outros estados alternativos.

5- CES que seja não ditatorial: Diz-se que um indivíduo é ditador se as suas preferências
prevalecerem qualquer que seja a opinião e preferências dos outros indivíduos.

Arrow demonstrou que se o critério de escolha social satisfizer 1, 2, 3, 4 então 5 não pode estar
satisfeito.
Os dois Teoremas Fundamentais e o Bem Estar Social

• Apesar deste resultado do Teorema da Impossibilidade de Arrow, podemos fazer algumas


afirmações relativamente gerais em termos de bem estar social, ao utilizarmos uma função bem
estar social não paternalista, sem especificarmos a forma funcional de F e de u.

• Vamos apenas considerar que F tem duas propriedades: é crescente nas utilidades individuais
(isto é respeita o critério de Pareto) e vamos considerar que as curvas de indiferença sociais são
convexas para a origem (diz-se neste caso, que F respeita o critério da equidade).
Curvas de Indiferença Social: curvas no espaço das utilidades individuais (U ,U
1 2
) que unem os
pontos que representam o mesmo bem estar social (com W constante).

• Comecemos por definir óptimo social: uma afectação x é o óptimo social se for a afectação
possível na economia que maximiza W ( x) = F (u1( x),...., un ( x)) .

• Há uma proposição que diz que o óptimo social é eficiente de Pareto.


Proposição: Se x é uma afectação possível que maximiza o Bem Estar Social, medido por uma
função bem estar social não paternalista (com as propriedades acima indicadas), então x é Pareto
eficiente.
Esta Proposição diz que se x possível maximiza W ( x) = F (u1( x),...., un ( x)) ⇒ x é eficiente de
Pareto;

ou de forma equivalente:

Se x não é eficiente de Pareto ⇒ x não é uma afectação optima social.

• Notas: 1) x ser uma afectação eficiente de Pareto é condição necessária para ser uma afectação
possível que maximiza o Bem Estar Social (mas não suficiente - ver gráfico em baixo: xb , com
U b = (u1 ( xb ), u2 ( x b )) é eficiente de Pareto e não maximiza Bem Estar Social);

2) Há afectações que não sendo eficientes de Pareto podem gerar um Bem Estar Social mais
c
elevado do que uma determinada afectação eficiente de Pareto (por exemplo a afectação x que
c
não sendo eficiente de Pareto leva ao ponto U abaixo da Fronteira de Possibilidades de
Utilidade (FPU), em relação a U b na FPU e correspondente a afectação eficiente de Pareto).
• Gráfico com Função Bem Estar Social 'Welfarista' que respeita o critério de Pareto e o critério
da Equidade: curvas de indiferença social negativamente inclinada, e convexas para origem
U1 UPC

•U a

e Wa > Wb Wa
•U c

U c gera bem estar social Wc > Wb > • U Wb


b

U2
• Vejamos agora algumas afirmações que se podem fazer, levando em consideração os dois
teoremas fundamentais do bem estar.
→ Como podemos dizer que o ótimo social é eficiente de Pareto, então, utilizando os 2
teoremas fundamentais do bem estar, podemos concluir que através de mercados de equilíbrio
Walrasiano em conjunto com redistribuição lump sum podemos atingir sempre o ótimo social
(qualquer que ele seja).
→ Mas também podemos ver que, se não houver redistribuição lump sum, poderão existir
afectações que, não são sendo de equilíbrio Walrasiano (e não sendo eficientes de Pareto, são
c
afectações que geram pontos que se encontram abaixo da FPU, U ), geram um bem estar social
(medido através dum critério não paternalista F) maior do que uma determinada afectação de
equilíbrio Walrasiano que estará na fronteira de possibilidades de Utilidade, U b .

Você também pode gostar