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Universidade Federal de Alagoas

Campus de Arapiraca
Curso de Administração Pública

Teorias da
Administração
Pública

Wagner Soares de Lima

Arapiraca | 2013
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 2

Sumário

Sumário ..................................................................................................................................................... 2
Estado, governo e sociedade ....................................................................................................................... 5
Da tribo à sociedade política..................................................................................................................... 6
As faces do Estado ............................................................................................................................... 6
Evolução histórica do Estado ................................................................................................................... 7
Estado Antigo ........................................................................................................................................ 7
Estado Grego ........................................................................................................................................ 7
Estado Romano..................................................................................................................................... 7
Estado Medieval .................................................................................................................................... 7
Estado Moderno .................................................................................................................................... 7
Elementos constitutivos do Estado ........................................................................................................... 8
Povo ...................................................................................................................................................... 8
Território ................................................................................................................................................ 8
Soberania .............................................................................................................................................. 8
Estado-Nação ........................................................................................................................................ 8
Modelos de Estado Moderno .................................................................................................................... 9
Estado Liberal ....................................................................................................................................... 9
Estado Social ........................................................................................................................................ 9
Estado Democrático de Direito ............................................................................................................. 9
Conceitos do debate contemporâneo ..................................................................................................... 10
O público e o privado .......................................................................................................................... 10
Democracia ......................................................................................................................................... 10
Federalismo......................................................................................................................................... 10
Intervenção do Estado ........................................................................................................................ 10
Grupos de Pressão e Opinião Pública ................................................................................................ 10
X da Questão .......................................................................................................................................... 11
Pensadores ............................................................................................................................................. 15
Pesquisando ........................................................................................................................................... 17
Texto complementar............................................................................................................................ 17
Exercício .............................................................................................................................................. 18
Refletindo ................................................................................................................................................ 19
Texto Complementar ........................................................................................................................... 19
Exercício .............................................................................................................................................. 20
Referências bibliográficas ....................................................................................................................... 22
Gabarito .................................................................................................................................................. 23
Comentários ........................................................................................................................................ 23
Estrutura e função da Administração Pública ............................................................................................ 28
Objetivos ............................................................................................................................................. 28
Texto-base .......................................................................................................................................... 28
Conceito de Administração Pública ........................................................................................................ 29
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 3

Encargo Público .................................................................................................................................. 30


Sentido Objetivo: Função Administrativa ............................................................................................ 30
Sentido Subjetivo: Organização Administrativa .................................................................................. 30
Governo e Administração Pública ....................................................................................................... 30
Regime Jurídico Administrativo ........................................................................................................... 31
Função Administrativa ............................................................................................................................ 32
Função administrativa típica e atípica ................................................................................................. 32
Princípios ............................................................................................................................................. 32
Organização Administrativa .................................................................................................................... 35
Descentralização e Desconcentração ................................................................................................. 35
Administração Pública Direta .............................................................................................................. 36
Administração Pública Indireta ............................................................................................................ 37
X da Questão .......................................................................................................................................... 39
Refletindo ................................................................................................................................................ 46
Texto Complementar ........................................................................................................................... 46
Exercício .............................................................................................................................................. 48
Referências bibliográficas ....................................................................................................................... 49
Gabarito .................................................................................................................................................. 50
Comentários ........................................................................................................................................ 50
Modelos de Administração Pública no Brasil ............................................................................................. 53
Objetivos ............................................................................................................................................. 53
Texto-base .......................................................................................................................................... 53
Modelos Teóricos da Administração Pública .......................................................................................... 54
Patrimonialismo ................................................................................................................................... 54
Burocracia ........................................................................................................................................... 54
Gerencialismo ..................................................................................................................................... 54
Governança Pública ............................................................................................................................ 55
Evolução Administrativa do Estado Brasileiro ........................................................................................ 56
Quadros de evolução segundo Bresser-Pereira ................................................................................. 56
Períodos Paradigmáticos .................................................................................................................... 56
Estado oligárquico e patrimonial ......................................................................................................... 57
Reforma burocrática da Era Vargas .................................................................................................... 57
Plano de metas de JK ......................................................................................................................... 57
Plano desenvolvimentista nacional do regime militar ......................................................................... 57
Retrocesso burocrático da Constituição de 1988 ............................................................................... 58
Reformas do Estado na gestão de FHC ............................................................................................. 58
Adoção do sistema de governança GesPublica ................................................................................. 58
Particularidade do modelo brasileiro ...................................................................................................... 59
Questões da continuidade: forma híbrida ........................................................................................... 59
Simbiose de traços .............................................................................................................................. 59
Atropelo: mudança superficial, apenas de retórica ............................................................................. 60
Referências bibliográficas ....................................................................................................................... 61
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 4
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 5

Estado, governo e sociedade


Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 6

Da tribo à sociedade política


As faces do Estado
Estado-juiz

Estado-administrador

Estado-legislador

Estado-sacerdote

Estado-guerreiro
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 7

Evolução histórica do Estado


Estado Antigo

Estado Grego

Estado Romano

Estado Medieval

Estado Moderno
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 8

Elementos constitutivos do Estado


Povo

Território

Soberania

Estado-Nação
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 9

Modelos de Estado Moderno


Estado Liberal

Estado Social

Estado Democrático de Direito


Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 10

Conceitos do debate contemporâneo


O público e o privado

A liberdade negativa delimita a esfera de liberdade dos indivíduos na sociedade civil,


enquanto o direito positivo determina a esfera de poder do Estado sobre a sociedade.

Relações privadas
Regida pela liberdade negativa, Simplesmente porque essa esfera de liberdade – de fato,
bastante extensa – é claramente delimitada por dois ―não‖:
• pode-se fazer o que a lei não proibir; e
• pode-se deixar de fazer o que a lei não obrigar.

Essa é a regra geral que orienta todo o direito privado é, aquele que regula as relações
entre os entes privado sociedade, como os direitos Civil, Comercial, Penal etc.

Relações públicas
Por isso e para assegurar que por meio da ação estatal o interesse público seja atingido e a
liberdade individual assegurada o princípio que irá orientar o Direito Público será o de que o Estado:
 será obrigado a fazer exatamente aquilo que a lei mandar; e
 só poderá fazer o que a lei expressamente autorizar.

Democracia
Direta, Semidireta e Representativa

Sufrágio Universal

Democracia social e substancial

Federalismo

Intervenção do Estado

Grupos de Pressão e Opinião Pública


Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 11

X da Questão
ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria

01. O conceito de Estado é central na teoria política. Os enunciados a seguir referem-se à sua
formulação. Indique qual a assertiva correta.

A) O conceito de Estado surge com o de Pólis, na Grécia.


B) Sua formulação original integra o Direito Romano.
C) A definição passou a ser utilizada na Revolução Francesa.
D) A primeira referência ao termo é de Maquiavel.
E) A origem não pode ser identificada.

CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público

02. Com relação às concepções teóricas de Estado, julgue os itens subsequentes. Para Thomas
Hobbes, com a criação do Estado, o súdito deixa de abdicar de seu direito à liberdade natural para
proteger a própria vida.

( ) Certo ( ) Errado

CESGRANRIO - 2009 - FUNASA - Técnico de Contabilidade

03. Em um curso sobre Estado, sociedade e mercado, os participantes estudaram o conceito de Estado,
e concluíram, corretamente, que se refere a:

A) conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes e que


interagem entre si, constituindo uma comunidade.
B) local onde se encontram compradores e vendedores e que, por meio, de um processo de negociação,
determinam o preço e a quantidade do bem a ser transacionado ou trocado entre ambos.
C) instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando um território definido, e dirigida por
um governo que possui soberania reconhecida, em que a lei máxima é uma constituição escrita.
D) organização que é a autoridade governante de uma unidade política.
E) órgãos, serviços e agentes públicos, associados às demais pessoas coletivas, que asseguram a
satisfação das necessidades políticas.

CESPE - 2007 - MPE-AM - Promotor de Justiça

04. Sobre o Estado, relembraremos apenas o que dizem os manuais: Estado é uma nação politicamente
organizada, conceito sintético que demandaria desdobramentos esclarecedores, pelo menos quanto aos
chamados elementos constitutivos do Estado e, principalmente, sobre o modo como, em seu interior, se
exerce a violência física legítima, cujo monopólio Max Weber considera necessário à própria existência
do Estado Moderno.
MENDES, Gilmar; COELHO, Inocêncio M. e BRANCO, Paulo G. C.
Curso de Direito Constitucional.
São Paulo: Saraiva, 2007.

A) A idéia de Estado de Direito, desde os primórdios da construção desse conceito, está associada à de
contenção dos cidadãos pelo Estado.
B) A soberania do Estado, no plano interno, traduz-se no monopólio da edição do direito positivo pelo
Estado e no monopólio da coação física legítima, para impor a efetividade das suas regulações e dos
seus comandos.
C) Os tradicionais elementos apontados como constitutivos do Estado são: o povo, a uniformidade
lingüística e o governo.
D) Os fenômenos globalização, internacionalização e integração interestatal puseram em franca
ascendência o modelo de Estado como unidade política soberana.
E) O vocábulo nação é bastante adequado para expressar tanto o sentido de povo, quanto o de Estado.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 12

ESAF - 2009 - ANA - Analista Administrativo

05. Acerca das chamadas teorias contratualistas do Estado, é incorreto afirmar:

A) podem ser explicadas sob os enfoques antropológico, filosófico ou político.


B) em sentido amplo, vem o fundamento do Estado em um contrato, aceito pela maioria dos indivíduos,
assinalando o fim do estado natural e o início do estado social.
C) algumas de suas correntes foram utilizadas para justificar o absolutismo, ao passo que outras o foram
para contradizê-lo.
D) têm por expoente máximo a obra legada por Nicolau Maquiavel.
E) em comum, nas teorias contratualistas, encontra-se a ênfase no caráter racional e laico da origem do
poder.

CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público

06. De acordo com a teoria política de John Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e,
sendo instituição anterior à sociedade, é direito natural do indivíduo, não podendo ser violado pelo
Estado.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2009 - PGE-AL - Procurador de Estado - Prova Objetiva

07. Quando, na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de magistrados, o Poder Legislativo se junta ao
Executivo, desaparece a liberdade; pode-se temer que o monarca ou o senado promulguem leis
tirânicas, para aplicá-las tiranicamente. Não há liberdade se o Poder Judiciário não está separado do
Legislativo e do Executivo. Se houvesse tal união com o Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade
dos cidadãos seria arbitrário, já que o juiz seria ao mesmo tempo legislador. Se o Judiciário se unisse
com o Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se a mesma pessoa,
ou o mesmo corpo de nobres, de notáveis, ou de populares, exercesse os três poderes: o de fazer as
leis, o de ordenar a execução das resoluções públicas e o de julgar os crimes e conflitos dos cidadãos.

Montesquieu. In: Norberto Bobbio.


A teoria das formas de governo.
10.ª ed. Brasília: EDUnB, p. 137
(com adaptações).

Tendo como referência inicial o texto acima, assinale a opção correta.

A) Para a moderna doutrina constitucional, cada um dos poderes constituídos exerce uma função típica
e exclusiva, afastando o exercício por um poder de função típica de outro.
B) A CF, atenta às discussões doutrinárias contemporâneas, não consigna que a divisão de atribuições
estatais se faz em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
C) O poder soberano é uno e indivisível e emana do povo. A separação dos poderes determina apenas a
divisão de tarefas estatais, de atividades entre distintos órgãos autônomos. Essa divisão, contudo, não é
estanque, pois há órgãos de determinado poder que executam atividades típicas de outro. Um exemplo
disso, na CF, é a possibilidade de as comissões parlamentares de inquérito obterem acesso a decisão
judicial protegida sob o manto do segredo de justiça.
D) A edição de súmula vinculante vedando a nomeação de parentes da autoridade nomeante ou de
servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
exercício de cargo em comissão ou de confiança em qualquer dos poderes da União, dos estados, do
DF e dos municípios viola o princípio da separação dos poderes.
E) A cada um dos poderes foi conferida uma parcela da autoridade soberana do Estado. Para a
convivência harmônica entre esses poderes existe o mecanismo de controles recíprocos (checks and
balances). Esse mecanismo, contudo, não chega ao ponto de autorizar a instauração de processo
administrativo disciplinar por órgão representante de um poder para apurar a responsabilidade de ato
praticado por agente público de outro poder.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 13

ESAF - 2009 - MPOG - Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental - Prova 2

08. Estado de Bem-Estar (welfare state), conforme o Dicionário de Política organizado por Norberto
Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, pode ser definido como o "Estado que garante tipos
mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como
caridade, mas como direito político".

Os enunciados a seguir se referem a essa questão:

1. Há uma relação direta entre desenvolvimento econômico e os Estados de Bem-Estar tal como se
desenvolveram a partir da Segunda Guerra Mundial.

2. O Brasil se tornou um Estado de Bem-Estar ao inserir direitos sociais na Constituição de 1988.

3. Regimes totalitários como o fascismo e o nazismo podem ser considerados de Bem-Estar porque em
seu apogeu eliminaram a fome e o desemprego.

4. Pode-se dizer que entre os indígenas brasileiros estão presentes as características do Estado de
Bem-Estar, porque todos os seus membros têm direito aos mesmos níveis de alimentação, saúde e
educação.

5. Os processos de reforma do Estado, ao incluírem privatizações e reformas dos sistemas de


Previdência, acabaram com os Estados de Bem-Estar surgidos após a Segunda Guerra Mundial.

Em relação aos enunciados acima:

A) nenhum está correto.


B) todos estão corretos.
C) apenas o 2 está correto.
D) apenas o 1 está correto.
E) apenas o 5 está correto.

ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria

09. Entre a democracia grega e a moderna, há diversas diferenças. Uma delas é radical e se refere ao
resultado dos processos decisórios, como salienta o cientista político Giovanni Sartori. Os enunciados a
seguir se referem a essa distinção.

I. A democracia grega dividia o demos entre vencedores e vencidos.

II. Como os processos decisórios diretos em geral, a democracia grega se traduzia em decisões
de soma zero.

III. Nas democracias modernas o processo decisório está permeado por mediações e se traduz
em decisões de soma positiva.

Quanto a esses enunciados, assinale a opção correta:

A) Apenas o I está correto.


B) Todos estão corretos.
C) Apenas o II está correto.
D) Nenhum está correto.
E) Apenas o III está correto.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 14

CESPE - 2004 - AGU – Advogado

10. Acerca da Federação brasileira, da organização dos poderes, das competências da União e dos
estados-membros, julgue os itens a seguir.

O federalismo brasileiro constitui um federalismo de duplo grau por ter a Constituição da República
reconhecido aos municípios autonomia política, administrativa, normativa e financeira e definido suas
competências privativas, regra geral, de forma expressa.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2012 - TJ-RR - Administrador

11. Acerca dos elementos do Estado e da abrangência de seus Poderes, julgue os itens a seguir.

O sistema checks and balances, criado por ingleses e norte-americanos, consiste no método de freios e
contrapesos adotado no Brasil. Nesse sistema, todos os poderes do Estado desempenham funções e
praticam atos que, a rigor, seriam de outro poder, de modo que um poder limita o outro.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público

12. Tendo em vista a teoria geral do Estado, assinale a opção correta.

A) O federalismo brasileiro classifica-se, quanto à origem, como federalismo por agregação.


B) Federação é, por definição, um sistema de governo marcado pela garantia das autonomias regionais
de seus membros.
C) Com o advento da República, em 1889, adotou-se no Brasil o federalismo de terceiro grau, sistema
cujo poder estatal é dividido em três graus: federal, estadual e municipal.
D) As características fundamentais da República são: temporariedade, eletividade e responsabilidade.
E) O conceito de povo, um dos elementos constitutivos do Estado, está relacionado ao conjunto de
brasileiros e estrangeiros que se encontrem em território nacional, ainda que transitoriamente.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 15

Pensadores
Norberto Bobbio

Norberto Bobbio (Turim, 18 de outubro de 1909 —


Turim, 9 de janeiro de 2004) foi um filósofo político, historiador
do pensamento político e senador vitalício italiano.

Nicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel (em italiano: Niccolò Machiavelli;
Florença, 3 de maio de 1469 — Florença, 21 de junho de
1527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do
Renascimento.[1]É reconhecido como fundador do
pensamento e da ciência política moderna[1], pelo fato de
haver escrito sobre o Estado e o governo como realmente são
e não como deveriam ser. Os recentes estudos do autor e da
sua obra admitem que seu pensamento foi mal interpretado
historicamente.

Desde as primeiras críticas, feitas postumamente pelo


cardeal inglês Reginald Pole,[2] as opiniões, muitas vezes
contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjetivo
maquiavélico, criado a partir do seu nome, significa esperteza,
astúcia, aleivosia, maldade.

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli viveu a juventude sob o esplendor político da República
Florentina durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a política aos 29 anos de idade no
cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel observou o comportamento de
grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra. Depois
de servir em Florença durante catorze anos foi afastado e escreveu suas principais obras. Conseguiu
também algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto como
desejava.

Como renascentista, Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de


maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de traduções latinas,
e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù e o de fortuna.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 16

Thomas Hobbes
Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 —
Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi um matemático,
teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do
cidadão (1651).

Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista


sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos
e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns
homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que
outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a
estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal.
Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que
todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra
de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os
homens têm um desejo, que é também em interesse próprio,
de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades
entrando num contrato social.

De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros
devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz
interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até
mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma
autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no essencial as ideias de suas duas obras
anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e
Estado). Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros assuntos,
oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse próprio. Foi
contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a obra Meditações sobre filosofia
primeira, deste último.

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de


1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi um importante
filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata
suíço. É considerado um dos principais filósofos do
iluminismo e um precursor do romantismo.

Principais obras:
• Discurso Sobre as Ciências e as Artes
• Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os
Homens
• Do Contrato Social
• Emílio, ou da Educação
• Os Devaneios de um Caminhante Solitário
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 17

Pesquisando

Texto complementar

DÍVIDA HISTÓRICA DE GESTÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL

Trouxemos o termo ―gestão‖, que na Administração Pública, reflete uma vertente


economicista em busca de um Aparelho do Estado eficiente. Essa busca não pode ficar mais uma
geração dissociada de políticas sociais consistentes de um olhar humano. Como considerar um
funcionamento público otimizado, sem que se contemple as questões de trato social? Questões que
foram relegadas a um segundo plano na evolução histórica das decisões políticas no nosso país.

Estimulados pela professora da UERJ, Luitgarde Cavancanti, alagoana, antropóloga, que


palestrou na aula inaugural do campus do Sertão/Ufal, em janeiro de 2013, imbuímos de discutir sobre
um questionamento feito por ela aos universitários: para quem se faz ciência? Para quem se faz políticas
públicas?

Assim nos posicionamos, pois para conhecer sobre as metodologias, instrumentos e


teorias para fazer a máquina estatal funcionar de acordo com um plano estratégico de cunho gerencial,
inevitavelmente teremos que nos inteirar de fontes num tanto despersonalizantes do empenho em
gestão. Os quais acabam por privilegiar números, em detrimento de pessoas. Mas desses há
ensinamentos de aplicabilidade inquestionável. Por isso, o jeito, é aprender deles avisados antes sobre
esse cunho de profissionalismo desumanizado, entrando no estudo de ―gestão‖, sem esquecer o motivo
essencial de tudo isso.

O artigo em referência, do qual apresentamos alguns trechos abaixo, é uma versão


adaptada da palestra do ex-ministro Patrus Ananias proferida na abertura do Curso de Especialização de
Políticas Públicas de Proteção e Desenvolvimento Social, em 16 de março de 2010, na Escola Nacional
de Administração Pública (ENAP). Na ocasião, Patrus Ananias era ministro do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome. Ele se exonerou do cargo em 30 de março. Pedimos que você, aluno, acesse nosso
espaço digital e leia o artigo completo, ou então acesse o site da Escola Nacional de Administração
Pública (ENAP) e baixe a edição de n.º 4, Volume 61 da Revista do Serviço Público.

Referência bibliográfica
ANANIAS, Patrus. Gestão pública: desassombrando nossa história. In: Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP.
Vol. 61 (n.º 4): 333-344 Out/Dez 2010

Resumo
O desafio da gestão pública no Brasil faz parte de um acerto de contas com nossa
história. Integra um conjunto de esforços para romper com um déficit histórico de gestão que por longos
anos comprometeu o desenvolvimento das extraordinárias possibilidades no Brasil, dentro de um
contexto mais amplo de problemas econômicos e sociais. Neste artigo, propõe-se uma reflexão sobre
esse histórico, apontando como a relação promíscua entre público e privado alimentou um quadro de
exclusão social que está sendo revertido e discutindo o papel da qualificação da gestão pública nesse
processo.

Introdução
Do ponto de vista histórico, a preocupação em desenvolver uma política de qualidade na
área de gestão pública é relativamente recente e evidencia um processo importante de valorização e
consolidação de políticas. É também o reflexo de um processo de mobilização em torno da defesa e
construção de um ideal de bem comum, que se encontra em uma fase avançada de amadurecimento na
sociedade brasileira.

Estamos vivendo no Brasil um importante momento de transição paradigmática, no qual


enfrentamos desafios de modo a superar dificuldades que fincaram raízes em nossa história. Nesse
sentido, podemos mencionar ao menos duas sombras que por muito tempo têm dificultado o
desenvolvimento das potencialidades do nosso país. Uma delas é a questão social, pois não tivemos
uma tradição de políticas públicas sociais, diretamente voltadas para os mais pobres. Outra sombra diz
respeito à burocracia, mas uma burocracia que paralisa, que se torna sinônimo de entrave, ineficiência e
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 18

atraso e que aqui diz respeito principalmente a um perigoso processo de burocracia das almas, que
conduz ao envelhecimento das práticas e à falta de motivação. Essas questões estão sendo enfrentadas
e têm uma interface muito importante e mesmo estratégica com a questão da gestão pública.

[...]

Conclusão
É necessário concentrar todas as ações, de alimentação, de assistência social, de
educação, de saúde, enfim, direcionar tudo para a gente salvar uma geração. Penso que é muito mais
difícil fazer esse trabalho quando já perdemos algumas referências importantes. Porque, sejamos claros,
depois que alguém chega ao ponto de se tornar um consumidor compulsivo de drogas, de estabelecer
uma relação de dependência com o álcool, ou de se prostituir, fica muito mais difícil. Ainda há espaço
para recuperação. Este é dos nossos compromissos mais urgentes. Mas é uma tarefa dura, temos de
disputar um por um, luta a luta. Por isso, acredito que precisaríamos de um esforço de salvar uma
geração inteira no Brasil. Temos de cuidar das crianças que estão nascendo agora e falar que vamos
tomar conta desses meninos. E quanto mais pobre, mais o Estado tem de estar presente, mais tem de
cuidar.

Os desafios são muitos e poderíamos prosseguir nas muitas possibilidades que temos
de construir. Mas penso que, no espaço deste texto, conseguimos reunir um bom material para reflexão,
embora ele ainda precise ser desdobrado em conversas futuras. Este artigo se inscreve justamente
neste propósito: dar uma modesta contribuição para nossa extensa pauta de construir uma
administração pública mais eficiente e eficaz, que provoque os melhores sentimentos de nossa gente e
esteja em sintonia com um projeto de Nação. Conseguimos construir um belo ponto de partida. Mas
temos de continuar a enfrentar os desafios para estarmos à altura de nossas melhores conquistas. E
sinto que estamos fazendo isso. Desassombrados que somos.

Exercício

Vamos conhecer mais do tema: pesquise sobre algum dos tópicos apresentados no artigo. Ou
de cunho histórico ou dos programas de governo atuais na área da Assistência Social. Traga um recorte
de uma matéria (notícia, entrevista), artigo (científico), escopo de um programa de governo, vídeo etc.
Em sala, socializaremos alguns dos recortes.

1. Leia o artigo – Gestão pública: desassombrando nossa história (Patrus Ananias)


2. Entre os vários pontos abordados escolha um.
3. Pesquise outro artigo, matéria, notícia sobre o ponto
4. Em sala, todos que conseguiram um resultado na pesquisa vão ganhar um ponto extra na AB1
5. Alguns serão selecionados para apresentar esse ponto

Pontos abordados por Patrus:

1. Público e privado
2. A herança do período colonial
3. Falta de tradição de políticas públicas sociais
4. Burocracia das almas
5. Gestão: uma dívida histórica
6. Desenvolvimento econômico, social ou ambiental?
7. Desafio do planejamento: compromisso com o futuro
8. Intersetorialidade
9. Os Sertões, Fabiano e baleia, a fome
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Refletindo

Texto Complementar

PROCESSO DE ALARGAMENTO DA DEMOCRACIA

Tema que ainda será mais discutido no tópico de governança pública, a ampliação dos
instrumentos de participação popular nas instâncias de poder tem extrapolado os limites da dimensão
política e alcançando níveis de reestruturação do poder em várias outros núcleos de interação entre os
indivíduos em sociedade, a saber, a família (tanto entre os cônjuges e entre pais e filhos), as relações de
trabalho e inúmeros outros momentos que eram bem demarcados pela presença da autoridade com
arbítrio sobre vida e morte, liberdade e distribuição de recursos. Não é apenas a forma como se governa
o Estado que tem se democratizado, mas a sociedade tem acompanhado tal processo.

O professor e ex-senador italiano, Noberto Bobbio discute o tema com profundidade,


mas numa linguagem bastante acessível. Leia o texto abaixo, que é um extrato da obra que Bobbio
intentou como ponto de partida para uma teoria da política.

Referência bibliográfica
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade; por uma teoria geral da política. [Trad.: Marco Aurélio Nogueira].
— Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. (Coleção Pensamento Crítico, v. 69) Tradução de: Stato, governo, società: per
una teoria generale della política. Turim: Giulio Elianudi, 1985.

CAPÍTULO: IV. DEMOCRACIA E DITADURA

7. Democracia política e democracia social

O processo de alargamento da democracia na sociedade contemporânea não ocorre


apenas através da integração da democracia representativa com a democracia direta, mas também, e
sobretudo, através da extensão da democratização — entendida como instituição e exercício de
procedimentos que permitem a participação dos interessados nas deliberações de um corpo coletivo — a
corpos diferentes daqueles propriamente políticos.

Em termos sintéticos, pode-se dizer que, se hoje se deve falar de um desenvolvimento


da democracia, ele consiste não tanto, como erroneamente muitas vezes se diz, na substituição da
democracia representativa pela democracia direta (substituição que é de fato, nas grandes organizações,
impossível), mas na passagem da democracia na esfera política, isto é, na esfera em que o indivíduo é
considerado como cidadão, para a democracia na esfera social, onde o indivíduo é considerado na
multiplicidade de seus status, por exemplo de pai e de filho, de cônjuge, de empresário e de trabalhador,
de professor e de estudante e até de pai de estudante, de médico e de doente, de oficial e de soldado,
de administrador e de administrado, de produtor e de consumidor, de gestor de serviços públicos e de
usuário etc.; em outras palavras, na extensão das formas de poder ascendente, que até então havia
ocupado quase exclusivamente o campo da grande sociedade política (e das pequenas e muitas vezes
politicamente irrelevantes associações voluntárias), ao campo da sociedade civil em suas várias
articulações, da escola à fábrica.

Em consequência, as formas hodiernas de desenvolvimento da democracia não podem


ser interpretadas como a afirmação de um novo tipo de democracia, mas devem ser bem mais
entendidas como a ocupação, por parte de formas até tradicionais de democracia, de novos espaços,
isto é, de espaços até então dominados por organizações de tipo hierárquico ou burocrático.

Uma vez conquistado o direito à participação política, o cidadão das democracias mais
avançadas percebeu que a esfera política está por sua vez incluída numa esfera muito mais ampla, a
esfera da sociedade em seu conjunto, e que não existe decisão política que não esteja condicionada ou
inclusive determinada por aquilo que acontece na sociedade civil. Portanto, uma coisa é a
democratização da direção política, o que ocorreu com a instituição dos parlamentos, outra coisa é a
democratização da sociedade. Em consequência, pode muito bem existir um Estado democrático numa
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 20

sociedade em que a maior parte das instituições, da família à escola, da empresa aos serviços públicos,
não são governadas democraticamente.

Daí a pergunta que melhor do que qualquer outra caracteriza a atual fase de
desenvolvimento da democracia nos países politicamente mais democráticos: "É possível a
sobrevivência de um Estado democrático numa sociedade não democrática?" Pergunta que também
pode ser formulada deste modo: "A democracia política foi e é até agora necessária para que um povo
não seja governado despoticamente. Mas é também suficiente?" Até ontem ou anteontem, quando se
queria dar uma prova do desenvolvimento da democracia num dado país, tomava-se como índice a
extensão dos direitos políticos, do sufrágio restrito ao sufrágio universal; mas sob este aspecto todo
desenvolvimento ulterior não é mais possível depois que o sufrágio foi em quase toda parte estendido às
mulheres e em alguns países, como a Itália, o limite de idade foi diminuído para dezoito anos.

Hoje, quem deseja ter um indicador do desenvolvimento democrático de um país deve


considerar não mais o número de pessoas que têm direito de votar, mas o número de instâncias diversas
daquelas tradicionalmente políticas nas quais se exerce o direito de voto. Em outros termos, quem
deseja dar um juízo sobre o desenvolvimento da democracia num dado país deve pôr-se não mais a
pergunta "Quem vota?", mas "Onde se vota?".

8. Democracia formal e democracia substancial

O discurso sobre o significado de democracia não pode ser considerado concluído se


não se dá conta do fato de que, além da democracia como forma de governo de que se falou até agora,
quer dizer, democracia como conjunto de instituições caracterizadas pelo tipo de resposta que é dada às
perguntas "Quem governa?" e "Como governa?", a linguagem política moderna conhece também o
significado de democracia como regime caracterizado pelos fins ou valores em direção aos quais um
determinado grupo político tende e opera.

O princípio destes fins ou valores, adotado para distinguir não mais apenas formalmente
mas também conteudisticamente um regime democrático de um regime não democrático, é a igualdade,
não a igualdade jurídica introduzida nas Constituições liberais mesmo quando estas não eram
formalmente democráticas, mas a igualdade social e econômica (ao menos em parte). Assim foi
introduzida a distinção entre democracia formal, que diz respeito precisamente à forma de governo, e
democracia substancial, que diz respeito ao conteúdo desta forma. Estes dois significados podem ser
encontrados em perfeita fusão na teoria rousseauniana da democracia, já que o ideal igualitário que a
inspira se realiza na formação da vontade geral, e portanto são ambos historicamente legítimos.

A legitimidade histórica, porém, não autoriza a crer que tenham, não obstante a
identidade do termo, um elemento conotativo comum. Tanto é verdade que pode ocorrer historicamente
uma democracia formal que não consiga manter as principais promessas contidas num programa de
democracia substancial e, vice-versa, uma democracia substancial que se sustente e se desenvolva
através do exercício não democrático do poder. Desta ausência de um elemento conotativo comum
temos a prova na esterilidade do debate sobre a maior ou menor democraticidade dos regimes que se
inspiram uns no princípio do governo do povo, outros no princípio do governo para o povo.

Cada um dos regimes é democrático segundo o significado de democracia escolhido


pelo defensor e não c democrático no significado escolhido pelo adversário. Além do mais, o único ponto
sobre o qual um e outro poderiam concordar é que uma democracia perfeita deveria ser ao mesmo
tempo formal e substancial. Mas um regime deste gênero pertence, até agora, ao gênero dos futuríveis.

Exercício

Enquanto se fala muito em democracia na instância política, mediante principalmente a escolha


de representantes diretamente pelo voto popular, há instituições que tradicionalmente mantêm uma
estrutura de poder bastante hierarquizada, onde a cultura perpetuada consideraria impensável a escolha
das lideranças mediante o voto dos membros, mesmo os mais subalternos. Ou seria uma afronta que os
membros tivessem direito a conhecer os detalhes das decisões tomadas, como a avaliação de uma
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 21

prestação de contas conjugada com algum tipo de reunião, onde pudessem ser discutidos os rumos
seguidos pela liderança.

Nessas organizações conservadoras mantêm-se traços como a vitaliciedade em cargos; a


hereditariedade na transmissão do poder; a imunidade da alta liderança a processos disciplinares;
ostentação de símbolos de diferenciação, tais como vagas para o carro pessoal, uso de telefones,
banheiros, acessos, elevadores exclusivos; bem como a desnecessidade de prestar satisfação aos
demais membros; a escolha de oficiais e assessores entre parentela e amigos; a imposição das regras
aos demais membros sem, no entanto, ser rigorosamente seguida pela cúpula.

1. Você participa ou conhece alguma organização conservadora que não adotou instrumentos de
participação geral do poder? Talvez um órgão público, uma organização não-governamental, uma
universidade, uma igreja, um grupo empresarial familiar etc.

2. Seria possível a adoção de instrumentos de democratização interna? Que tipos de mudanças


isso causaria? Ocorreria a possibilidade de desorganização e revoltas caso fossem implantadas, ou a
não adoção, com o tempo, será fator gerador desse tipo de desordem?

3. Você participa ou conhece alguma organização que adotou os instrumentos de distribuição de


poder, gerando um tipo de democratização interna? Tal como cooperativas, associações, comitês e
colegiados, nos quais os membros participam das decisões de um órgão público, de uma ONG, de uma
empresa etc.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 22

Referências bibliográficas
LOPES, André Luiz. Noções de Teoria Geral do Estado: Roteiro de Estudos. Belo Horizonte: Escola
Superior Dom Helder Câmara, 2010.

AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 42. ed. São Paulo: Globo, 2002.

MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2008.

FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser; CORREIA, Manoel Bonfim Furtado. Considerações
históricas da evolução do estado e desenvolvimento econômico. Marília/SP: UNIMAR, 2009.

BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: por uma teoria geral da política. [Trad.: Marco
Aurélio Nogueira]. — Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. (Coleção Pensamento Crítico, v. 69) Tradução
de: Stato, governo, società: per una teoria generale della política. Turim: Giulio Elianudi, 1985.

Questões de Concursos - QC. [On-line] Disponível em < http://questoesdeconcursos.com.br/ >.


Acessado em 25.02.2013.
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Gabarito
01 02 03 04 05
D Errado C B D

06 07 08 09 10
Certo E D B Errado

11 12 - - -
Certo D - - -

Comentários

Questão 01

Estado (do latim status: modo de estar, situação, condição), segundo o Dicionário Houaiss é
datada do século XIII e designa "conjunto das instituições (governo, forças armadas,
funcionalismo público etc.) que controlam e administram uma nação"; "país soberano, com
estrutura própria e politicamente organizado".[1]. Segundo o jurista italiano Norberto Bobbio,
a primeira vez que a palavra foi utilizada, com o seu sentido contemporâneo, foi no livro O
Príncipe, de Nicolau Maquiavel.

A questão pode ser passível de recurso, porque Bobbio, na verdade, alude que
Maquiavel usou pela primeira vez o termo em uma obra sobre o tema, sendo que
provavelmente o termo já estava em uso corrente, o que implicaria na assertiva de letra E.

―É fora de discussão que a palavra ‗Estado‘ se impôs através da difusão e pelo prestígio do
Príncipe de Maquiavel. A obra começa, como se sabe, com estas palavras: ‗Todos os
estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou
repúblicas ou principados‘ [1513, ed. 1977, p. 5]. Isto não quer dizer que a palavra tenha
sido introduzida por Maquiavel. Minuciosas e amplas pesquisas sobre o uso de ‗Estado‘ na
linguagem dos Quatrocentos e dos Quinhentos mostram que a passagem do significado
corrente do termo status de ‗situação‘ para ‗Estado‘ no sentido moderno da palavra, já
ocorrera, através do isolamento do primeiro termo da expressão clássica status rei publicas.
O próprio Maquiavel não poderia ter escrito aquela frase exatamente no início da obra se a
palavra em questão já não fosse de uso corrente‖. (BOBBIO, 2007, p.67).

Questão 02

Não deixa de abdicar, ele abdica mesmo.

Para Thomas Hobbes, com a criação do Estado, o súdito deixa de abdicar de seu direito à
liberdade natural para proteger a própria vida.

Questão 03

A letra (A) refere-se ao conceito de Nação, já a letra (B) aponta para o significado de
Mercado. A alternativa que conceitua corretamente o termo Estado é a letra (C). A assertiva
(D) aqui está mais para a ideia de chefia de governo. A última alternativa reporta-se à
concepção de órgão.

Estado é uma sociedade politicamente organizada, dotada de um território, de um povo, e


com objetivos determinados. Estado não é sinônimo de país. Este é componente espacial
do estado. Estado não é sinônimo de nação. Esta significa um conjunto de pessoas ligadas
pela mesma origem histórica ou religião. Estado não é sinônimo de pátria. Este não é um
conceito jurídico. Os elementos constitutivos do Estado são poder, território, povo e
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 24

objetivos. De acordo com Dallari, sempre se deve acrescentar finalidade, aos três primeiros
elementos, pois se traduz no objetivo de bem comum à coletividade.

Questão 04

a) Errado. Estado de Direito remete à idéia de exercício de poder político nos limites do
ordenamento jurídico vigente, que, ao mesmo tempo em que delimita todo arcabouço de
conformação politico-administrativa do Estado e o rege à finalidade última do bem comum,
apresenta-se como verdadeira garantia e salvaguarda dos diretos dos indivíduos ante as
ações estatais.
b) CERTO.
c) Errado. Os elementos são povo, governo (poder soberano) e território.
d) Errado. A globalização, internacionalização e integração interestatal relativizaram a
soberania interna estatal em prol de um poder supranacional, vide União Europeia.
e) Errado. Povo representa o conjunto de indivíduos, ligados a um território por uma relação
jurídico-política (nacionalidade), no exercício da cidadania. Já o conceito de nação
representa um conjunto de indivíduos ligados por uma identidade histórico-cultural e que
tem aspirações comuns. Estado é uma nação política e juridicamente organizada em uma
base territorial.

Questão 05

Apesar de Maquiavel ter sido expressivamente relevante para estabelecer as bases de uma
teoria sobre o Estado, ele não se preocupou em discorrer aprofundadamente sobre a
legitimação do Estado, como um bem ou um mal necessário, ele observou de que forma até
então se conhecia as expressões de poder e propôs como controlá-las. São expoentes da
teoria contratualista Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rosseau e John Locke:

Thomas Hobbes é um dos maiores expoentes da ideia de Contrato Social. Este filósofo
britânico do sec. XVII, parte de um cenário hipotético de como seria vivermos uns com os
outros sem uma ordem social, e que se traduziria, segundo ele, numa situação caótica e
altamente violenta onde cada um defenderia intransigentemente os seus interesses, criando
um mundo de desconfiança e violência. Esta ideia era sustentada no fato de os homens
terem todas as mesmas necessidades básicas, como é o caso da alimentação, alojamento
e vestuário, e de os recursos serem limitados gerando uma feroz concorrência e
competição, um verdadeiro estado de guerra de um contra todos, sem que seja possível
qualquer vitória. Designou esta situação como o estado da natureza.

Para se ultrapassar esta situação as pessoas têm de desenvolver modos de cooperação


uns com os outros, gerando deste modo não só mais bens como maneiras de os distribuir
por aqueles que deles necessitem. Neste sentido Hobbes defende que têm de se verificar
duas garantias: a de que as pessoas não farão mal umas às outras e a existência de uma
base de confiança quanto ao cumprimento dos seus acordos. Esta situação pressupõe um
governo que assegure a ordem de modo a que estas garantias se possam tornar efetivas.

O Estado, com a concordância das pessoas, torna-se deste modo o garante da vida em
sociedade, a este acordo de que cada cidadão é parte, designa-se contrato social. Neste
contexto a moralidade pode ser entendida como o conjunto de regras que facilita a vida em
sociedade. A moralidade surge como a resolução de um problema, as regras morais são
necessárias para nos permitir obter os benefícios de viver em comum. .

Um pouco mais tarde, Jean-Jacques Rousseau, no seguimento de Hobbes, defenderia


mesmo que a superação do estado de natureza trouxe ao homem uma mudança radical,
permitindo ultrapassar os seus impulsos pela razão, tornando-o num ser nobre, criativo e
inteligente.

Questão 06
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 25

Propriedade não deve ser entendida como a acepção atual do termo. Para Locke,
propriedade era tudo aquilo que material ou imaterialmente pertencia ao indivíduo. Um
exemplo de propriedade, para Locke, seria a liberdade.

O cerne do conceito de propriedade em Locke é que ela é um direito natural, ou seja, já


existia no estado de natureza. Com essa concepção, refuta, apesar de sem mencionar
diretamente, duas outras teorias: a doutrina de Hobbes e a de Pufendorf.

Um dos pontos fundamentais de seu pensamento político se transformou sensivelmente


quando o intelectual passou a questionar a legitimidade do direito divino dos reis. A obra
que essencialmente trata desse assunto é intitulada ―Dois Tratados sobre o Governo‖ e foi
publicada nos finais do século XVII. Em suas concepções, Locke defendia o
estabelecimento de práticas políticas que não fossem contras as leis naturais do mundo.

Questão 07

A) ERRADA - A moderna doutrina constitucional, ao contrário do afirmado, refuta a ideia de


uma separação estanque dos poderes, defendendo uma divisão flexível, em que cada um
dos poderes além de suas funções típicas exerce, também, funções atípicas. Assim,
embora a função típica do Poder Judiciário seja a judicante, esse poder também exerce a
função atípica administrativa (administra seus bens e pessoal) e legislativa (elaboram seus
regimentos internos).
B) ERRADA - A CF/88 elenca de forma expressa que são poderes independentes e
harmônicos entre si o Executivo, Legislativo e Judiciário (art. 1, p. unico).
C) ERRADA - A primeira parte do enunciado encontra-se correta, entretanto as comissões
parlamentares de inquérito (CPI`s) não dispõem de competência para ter acesso a decisão
protegida sob o manto do segredo de justiça.
D) ERRADA - O STF firmou o entendimento de que a edição, pelo Tribunal, de súmula
vinculante contra o nepotismo, alcançando todos os Poderes da República não ofende ao
princípio da separação dos poderes, tanto que editou a Súmula n. 13 sobre o assunto.
E) CERTA - Cada um poderes tem funções típicas conferidas pela CF e, como forma de
harmonia entre os poderes, aplica-se o mecanismo dos freios e contrapesos. Entretanto,
esse controle recíproco tem limites certos e determinados elencados na própria CF e que
não permitem a "invasão" de um poder em outro, cabendo a instauração de PAD contra
agente público ao Poder em que o mesmo é subordinado.

Questão 09

Giovanni Sartori analisa as diferenças entre a democracia grega e a moderna,


desmistificando, de certa forma, muito do que se pensa sobre o modelo ateniense. Segundo
o autor, com o passar do tempo, tanto seu uso [do termo democracia] denotativo quanto seu
uso conotativo mudaram. Seria estranho se não tivesse sido assim; e, por isso, é
surpreendente a pouca atenção dada ao fato de o conceito atual de democracia ter apenas
uma vaga semelhança com o conceito desenvolvido no século V a.C. A diferença entre as
democracias antiga e moderna não é apenas de dimensões geográficas e demográficas
exigindo soluções completamente diferentes mas também uma diferença de objetivos e
valores.

O grau de envolvimento na política requerido pela fórmula era tão absorvente que um
desequilíbrio profundo foi criado entre as funções da vida social. A hipertrofia política trouxe
consigo a atrofia econômica: quanto mais perfeita se tornava sua democracia, tanto mais
pobres ficavam os cidadãos. Parece, então, que a democracia da Antiguidade estava
fadada a ser destruída pela luta de classes entre ricos e pobres por ter produzido um animal
político em detrimento do homo economicus. A experiência grega gerou uma ―cidadania
total‖ que foi longe demais.

A consideração que se apresenta com base no que dissemos acima é que os sistemas
indiretos de governo têm vantagens que estamos, excessivamente, inclinados a subestimar.
Em primeiro lugar, um processo de tomada de decisões políticas constituído de múltiplos
estágios e filtros contém, exatamente em virtude de ser indireto, precauções e restrições
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 26

que a forma direta não tem. Em segundo lugar, a democracia direta implica política de soma
zero, ao passo que a democracia indireta permite a política de soma positiva.

Questão 10

Ao analisar o tema em apreço, Marcelo Novelino esclarece que o federalismo, quanto às


esferas de competência, se classifica em duas espécies, vejamos:

"O federalismo típico, bidimensional, bipartite, ou de 2º grau se caracteriza pela existência


de duas esferas de competência: a esfera central (União) e a esfera regional (Estados-
membros). É o modelo adotado nos Estados Unidos e em praticamente todas as federações
existentes no mundo. No Brasil, foi adotado até o advento da Constituição de 1988.

No federalismo atípico, tridimensional, tripartite ou de 3º grau se constata a existência de


três esferas ou centros de competência: a esfera central (União), a esfera regional (Estados-
membros) e a esfera local (Municípios)"

Embora seja adepto da teoria segundo a qual a espécie de federalismo existente no Brasil é
o federalismo de 3º grau, o próprio autor faz uma ressalva ao afirmar que outros
doutrinadores entendem em sentido contrário, para eles o tipo de federalismo consgrado
pela CF/88 seria o de 2º grau "(...) uma vez que o poder de auto-organização dos
Municípios se subordinam aos princípios da Constituição Federal e aos da Constituição do
respectivo Estado."

Questão 11

Questão 12

a) ERRADO - "No caso específico do federalismo, identificam-se dois tipos básicos. O


primeiro é o federalismo por agregação que tem por característica a maior descentralização
do Estado, no qual os entes regionais possuem competências mais amplas, como ocorre
nos Estados Unidos da América do Norte (EUA). O segundo, é o federalismo por
desagregação, onde a centralização é maior. O ente central recebe a maior parcela de
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 27

poderes, como é o caso da federação brasileira".


(http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4555)

b) ERRADO - "O Estado Federal é conceituado como uma aliança ou união de Estados. A
própria palavra federação, do latim foedus, quer dizer pacto,
aliança".(http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4555)

c) ERRADO - "...pela Constituição da República de 1988, que de forma inovadora erigiu o


Município à categoria, nominalmente expressa no texto constitucional, de ente federativo,
atribuindo-lhe competências somente concebíveis, em um federalismo clássico, a Estados-
membros. Instituiu-se, pois, um federalismo de três níveis– União, Estados e Municípios".
(http://jus.com.br/revista/texto/20774/o-federalismo-e-a-posicao-do-municipio-no-estado-
federal-brasileiro).

d) CERTO - "As características fundamentais da República são: pluralidade das funções;


temporariedade; eletividade; responsabilidade"
(http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_ordem=assunto&page_id=565&p
age_print=1)

e) ERRADO - "É recente a definição jurídica de povo. Sendo conceituado como o conjunto
de indivíduos que, através de um momento jurídico, se unem para constituir o Estado,
estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da
formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. Ou de forma mais
sucinta o conjunto de pessoas naturais que pertencem ao
Estado".(http://www.vemconcursos.com/opiniao/index.phtml?page_ordem=assunto&page_id
=565&page_print=1)

Formas de estado: unitário, federativo, composto, confederativo, regional.


Formas de governo: monarquia, diarquia, república.
Sistemas de governo: monarquismo, parlamentarismo, presidencialismo,
semipresidencialismo.
Regimes políticos: democracia, autoritarismo, totalitarismo.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 28

Estrutura e função da Administração


Pública
Objetivos

Ao fim desta lição você deverá ser capaz de responder às seguintes questões:

 Qual é o conceito de Administração Pública? Existem dois sentidos: objetivo e


subjetivo, no que se diferenciam?

 Qual a diferença entre descentralização e desconcentração? O que é


Administração Pública Direta e Indireta?

 Como se classificam e quais são das características básicas das entidades da


Administração Pública Indireta?

 Para qual poder a função administrativa é típica e como se dá o caráter atípico nos
demais?

Texto-base

Conceitos bases, principalmente referente ao entendimento inicial sobre o que é Administração Pública,
recomendamos:

Hely Lopes MEIRELLES


Direito Administrativo Brasileiro. Capítulo 11 – A Atividade Administrativa. pg. 75 a 80.

José MATIAS-PEREIRA
Curso de Administração Pública.
Capítulo 8 – Administração Pública e sociedade civil. pg. 61 a 64.
Capítulo 23 – Fundamentos constitucionais do Estado e da
Administração Pública. pg. 175 a 178.

Para os estudos relacionados à Organização Administrativa, o texto de referência é o livro-texto do


Curso de Graduação em Administração a Distância, patrocinado pela ENAP:

Luis Carlos Cancellier OLIVO


Direito administrativo. Unidade 4 - Administração Direta e Indireta, Entidades,
Paraestatais e Terceiro Setor. p. 67 a 86.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 29

Conceito de Administração Pública

Antes de delinear os contornos do conceito de Administração Pública é salutar referir-se a


Matias-Pereira (2010), quando ele diz que ―o conceito de Administração Pública é amplo e complexo‖.
Ele nos informa que existe uma ausência de definição clara e consistente do referido termo. Mas para
isso há uma explicação: ―decorre da diversidade de sentidos da própria expressão, quer pelos diferentes
campos por meio dos quais se desenvolve a atividade administrativa‖, parafraseando, portanto, Helly
Lopes Meirelles.
Para esse sempre vivo doutrinador: ―Em sentido lato, administrar é gerir interesses,
segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias‖. Isso será
verdade tanto para com os bens individuais como para com os da coletividade. No primeiro caso, ocorre
a administração particular, já nos segundo realiza-se a administração pública.
Um conceito inicial para nosso debate pode ser aquele que na verdade consubstancia-se
como a síntese de tudo o que já se discutiu sobre o tema, estando nele características universalistas de
natureza e finalidade, não se limitando às estruturas internas do poder político, não ―joga‖ para nenhum
poder ou esfera uma incumbência maior e alicerça o cunho contratual da relação Estado e sociedade,
independentemente da adoção da democracia plena:

A Administração Pública é a ocupação de todos aqueles que atuam em nome do povo –


em nome da sociedade, que delega de forma legal – e cujas ações têm consequências para os
indivíduos e os grupos sociais.
(HARMON E MAYER, 1999, p.34
apud MATIAS-PEREIRA, 2010)

Contudo, a dualidade entre função e estrutura, órgãos exclusivamente governamentais e


entidades delegatárias, função típica do Poder Executivo e atípica dos demais irá sempre se apresentar,
quer seja a discussão na dimensão jurídica, sociológica ou de outra área do conhecimento. Então
vejamos os diferentes conceitos apontando um viés como sendo o mais amplo e outro mais estrito.

Autor Conceito Sentido/Acepção


Conjunto de atividades preponderantemente executórias de
Diogo de Figueiredo pessoas jurídicas de Direito Público ou delas delegatárias,
Sentido objetivo
Moreira Neto gerindo interesses coletivos, na consecução dos fins desejados,
pelo Estado.
É uma das manifestações do Poder Público na gestão ou
De Plácido e Silva Sentido amplo
execução de atos ou de negócios políticos.
Designa o conjunto das atividades diretamente destinadas à
execução das tarefas ou incumbências consideradas de Sentido mais
Norberto Bobbio
interesse público ou comum, numa coletividade ou numa abrangente
organização estatal.
São a organização e a gerencia de homens e materiais para a
Estrutura e função
consecução dos propósitos de um governo.
Dwight Waldo São a arte e a ciência das gerencias aplicadas aos negócios do Habilidade e
Estado campo do
conhecimento
Designa o conjunto de serviços e entidades incumbidos de
concretizar as atividades administrativas, ou seja, da execução Sentido amplo
das decisões políticas e legislativas.
Pode ser entendida como a estrutura do Poder Executivo, que
tem a missão de coordenar e implementar as políticas públicas.
José Matias-Pereira
Apresenta-se como um conjunto de atividades diretamente Sentido restrito
destinadas à execução concreta das tarefas condideradas de
―interesse público‖.
Todo o sistema de governo, todo o conjunto de ideias, atitudes, Sentido amplo:
normas, processos, instituições e outras formas de conduta ciência política e
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 30

humana, que determinam como se distribui e se exerce a jurídica


autoridade política, bem como se atendem os interesses
públicos.
É a gestão de bens e interesses qualificados da comunidade, no
Hely Lopes Meirelles âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do
direito e da moral, visando ao bem comum.

Encargo Público
Quando destacamos o ―em nome do povo‖ do conceito de Harmon e Mayer (1999 apud
MATIAS-PEREIRA, 2010) queríamos destacar justamente o que Hely Lopes (2005) aponta como a
natureza de múnus público, ou seja, de encargo da investidura como administrador público.
O administrador público não tem para com o objeto de sua atividade a mesma relação que
um proprietário tem para com sua propriedade. Naquele caso, o proprietário tem à sua disposição a
posse da coisa e o direito de negociá-la, alugando, não usando, arrendando, vendendo, doando,
trocando etc.
Conforme Meirelles, ―mas o que desejamos assinalar é que os termos administração e
administrador importam sempre a ideia de zelo e conservação de bens e interesse‖. Disso decorre que
―os poderes normais do administrador são simplesmente de conservação e utilização dos bens confiados
à sua gestão, necessitando sempre de consentimento especial do titular de tais bens‖. Ora o titular da
―res publica‖ é o povo, então, ―esse consentimento, na Administração Pública, deve vir expresso em lei‖.
(MEIRELLES, 2005).

Sentido Objetivo: Função Administrativa


Segundo Andrade (2012), no sentido material, administração pública representa o
exercício da atividade administrativa. É por assim dizer o Estado administrando, através de atividades
tais como: a polícia administrativa, o serviço público, a intervenção etc.
Neste sentido, o termo administração pública costuma ser grafado com as letras
minúsculas. (MEIRELLES, 2005, p. 75). É ainda denominado de sentido objetivo ou funcional.

Sentido Subjetivo: Organização Administrativa


No sentido formal, Administração Pública refere-se às pessoas e órgãos administrativos.
Aqui estamos falando da estrutura, o qual pode ser chamado também de sentido subjetivo ou
orgânico (ANDRADE, 2012). Normalmente o termo é grafado com letras maiúsculas e pode ser
encontrado apenas como ―a Administração‖. Este é o Estado-Administrador.
Numa visão estrita, caberia apenas alusão à máquina estatal que concretiza aquilo que as
instâncias políticas definem como serviço à comunidade, sendo, portanto o Poder Executivo. Mas
mesmo em sentido subjetivo, vemos o Poder Judiciário e o Legislativo compondo a Administração
Pública, desde que em funções eminentemente administrativas e não as políticas.
É no sentido subjetivo que dizemos ser a Administração Pública dividida em Direta e
Indireta.

Governo e Administração Pública


É digna de nota a preocupação de Hely Lopes Meirelles, de resguardar a distinção entre
governo e administração. Comparativamente, pode-se dizer que governo é a atividade discricionária e
política, enquanto a administração é a atividade neutra, instrumental, normalmente vinculada à lei e
à norma técnica.
Odete Medauar afirma que há certa dificuldade em separar as fronteiras, na medida em que
Administração de caráter técnico e o governo de caráter político coexistem, no vértice do Poder
Executivo, funções governamentais e funções administrativas, o que dificulta também a nítida separação
de ambos. O que é uma realidade fática, nos altos escalões a Administração é capturada pelo governo.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 31

Regime Jurídico Administrativo

A expressão Regime Jurídico da Administração Pública ou Administrativo é utilizada para


designar, em sentido amplo, o regime de Direito Público a que está submetida a Administração Pública,
ou seja, esta tem que observar normas de caráter público, onde o interesse da coletividade tem que
prevalecer como finalidade única dos atos administrativos praticados pelo Administrador Público.
Estas normas são compostas por direitos (prerrogativas) e deveres (limitação) que o
ordenamento jurídico confere ao Poder Público e que não se estende aos particulares, por força dos
interesses que ela representa quando atua. O particular só será submetido a este regime quando lhe for
delegado o exercício da função administrativa, isto é, quando executar um serviço público. Ex.:
concessionário ou permissionário; cartórios extrajudiciais.

Elementos caracterizadores do Regime Jurídico Administrativo pátrio

Princípios que regem o Regime Jurídico Administrativo Brasileiro


Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.
Poder-Dever: O exercício das prerrogativas que o Estado têm, como certos poderes, não
são direitos, são na verdade deveres. O agente público não pode fiscalizar, ele deve fazer isso.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 32

Função Administrativa
Função administrativa típica e atípica

Princípios
Os princípios apontam para o caminho ou o modo a seguir, mesmo quando não há regra
específica para aquele assunto. Servem para a interpretação das demais normas jurídicas, apontando os
caminhos que devem ser seguidos pelos aplicadores da lei. Os princípios procuram eliminar lacunas,
oferecendo coerência e harmonia para o ordenamento jurídico.
Segundo Helly Lopes Meirelles, antes mesmo das normas, o Direito Administrativo trata dos
princípios que norteiam as atividades da Administração Pública. De acordo com o arcabouço jurídico
pátrio, três são as categorias de princípios:

Princípios Constitucionais Básicos


Taxativos, explícitos na Constituição e denominados como os princípios da Administração
Pública, princípios esses que devem ser seguidos em todos os órgãos públicos da Administração Direta
e em todas as entidades da Administração Indireta, das três esferas (União, dos Estados/do Distrito
Federal e dos Municípios), de todos os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), no caput do Art.
37 da Constituição Federal de 1988 (LIMPE):
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]

PRINCÍPIOS DO CAPUT DO ART. 37 DA CF/88


Dica
Princípio Conceito
Mnemônica
Para o direito comum, o princípio da legalidade
significa que o cidadão pode fazer tudo aquilo que a lei não
proíba. Para o Direito Administrativo, a legalidade impõe ao
L Legalidade
administrador a obrigação de fazer, ou deixar de fazer,
exatamente aquilo que a lei estabelece de forma
determinada.

Por este princípio cabe ao administrador público agir


no sentido de atender a todos, sem preferência ou
favorecimento em função de ligações políticas ou partidárias.
I Impessoalidade
Por isso o ato de um funcionário público representa uma
vontade da administração. O administrador não age em seu
próprio nome, mas em nome do Estado

O princípio da moralidade impõe ao administrador


M Moralidade agir de maneira ética, com probidade, considerando que o
interesse público se sobrepõe ao interesse particular

Todas as pessoas têm direito de saber o que a


administração faz, por isso os seus atos são públicos, devem
P Publicidade ser publicados nos órgãos oficiais de divulgação para que
tenham validade. A divulgação dos atos oficiais não deve
servir para a promoção pessoal das autoridades públicas

O princípio da eficiência não constava da redação


original da Constituição de 1888. Foi introduzido em 1998,
quando da chamada Reforma do Estado, que incorporou
E Eficiência
noções adotadas na iniciativa privada, como eficiência,
eficácia, redução de custos, resultados, controle, avaliação e
cumprimento de metas.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 33

Princípios Fundamentais
Encontrados no Decreto Lei n.º 200 de 1967, considerado o Diploma da Reforma
Administrativa, lembrados como PCCDD: Planejamento, Coordenação, Controle, Descentralização e
Delegação de Poderes.
PRINCÍPIOS DO DECRETO LEI N.º 200 DE 1967
Dica
Princípio Conceito
Mnemônica
A ação governamental obedecerá a planejamento que
vise a promover o desenvolvimento econômico-social do
País e a segurança nacional, norteando-se segundo planos e
programas e compreenderá a elaboração e atualização dos
seguintes instrumentos básicos:
P Planejamento a) plano geral de governo;
b) programas gerais, setoriais e regionais, de duração
plurianual;
c) orçamento-programa anual;
d) programação financeira de desembolso

A coordenação será exercida em todos os níveis da


administração, mediante a atuação das chefias individuais, a
C Coordenação realização sistemática de reuniões com a participação das
chefias subordinadas e a instituição e funcionamento de
comissões de coordenação em cada nível administrativo.

O controle das atividades da Administração Federal


deverá exercer-se em todos os níveis e em todos os órgãos,
compreendendo, particularmente:
a) pela chefia competente, da execução dos
programas e da observância das normas que governam a
atividade específica do órgão controlado;
b) pelos órgãos próprios de cada sistema, da
observância das normas gerais que regulam o exercício das
C Controle
atividades auxiliares;
c) da aplicação dos dinheiros públicos e da guarda
dos bens da União pelos órgãos próprios do sistema de
contabilidade e auditoria.
O trabalho administrativo será racionalizado mediante
simplificação de processos e supressão de controles que se
evidenciarem como puramente formais ou cujo custo seja
evidentemente superior ao risco.

A descentralização será posta em prática em três


planos principais:
a) dentro dos quadros da Administração Federal,
distinguindo-se claramente o nível de direção do de
execução; (Entendida como desconcentração)

D Descentralização b) da Administração Federal para a das unidades


federadas, quando estejam devidamente aparelhadas e
mediante convênio; (Daqui se implementam os movimentos
de municipalização)
c) da Administração Federal para a órbita privada,
mediante contratos ou concessões. (Aqui temos a versão
pública da terceirização privada)
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 34

Para melhor desincumbir-se das tarefas de


planejamento, coordenação, supervisão e controle e com o
objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina
administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da
realização material de tarefas executivas, recorrendo,
sempre que possível, à execução indireta, mediante
contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada
suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar
os encargos de execução.

A delegação de competência será utilizada como


instrumento de descentralização administrativa, com o
objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade às
decisões, situando-as na proximidade dos fatos, pessoas ou
D Delegação de Poderes
problemas a atender. O ato de delegação indicará com
precisão a autoridade delegante, a autoridade delegada e as
atribuições objeto de delegação. Conforme regulamento
próprio.

Princípios Constitucionais Implícitos e Infraconstitucionais


Alguns princípios encontram-se no artigo 37 da Constituição, mas não esgotam a matéria.
Exemplo de princípios que não estão no rol do artigo 37 da Constituição: O Princípio da isonomia, o
Princípio da supermacia do interesse público, o Princípio da proporcionalidade, o Princípio da finalidade,
o Princípio da motivação.
Tendo em vista que o rol do artigo 37 da Constituição Federal é exemplificativo, os Estados
podem criar outros quando da elaboração da sua Constituição (poder constituinte derivado), mas
observando aqueles previstos na Constituição Federal (art. 25 da CF). O artigo 111 da Constituição do
Estado de São Paulo determina que a Administração Pública direta, indireta e fundacional de qualquer
dos poderes do Estado obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação e interesse público.
Os Municípios e o Distrito Federal também têm essa possibilidade quando da elaboração de
suas leis orgânicas, desde que observados os previstos na Constituição Federal (art. 29 e 32 da CF). O
legislador infraconstitucional também pode estabelecer outros princípios, desde que não exclua aqueles
previstos no artigo 37 da Constituição Federal.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 35

Organização Administrativa
Descentralização e Desconcentração
Com o passar do tempo e o crescente volume das interações sociais entre os cidadãos e o
Estado, os serviços administrativos alcançaram uma demanda tal, que se tornou inevitável a
desconcentração e a descentralização destes serviços. Então, essas obrigações foram deslocadas do
centro Estatal superlotado para setores periféricos. A esse movimento que apenas repassa do centro
nervoso para periferias, em órgãos subordinados, denomina-se: desconcentração.
Além da atuação Estatal direta, na prestação dos serviços, feita por meio de órgãos, o
Estado também criou outras pessoas como entidades ou simplesmente transferiu a particulares o
exercício de outras atividades públicas. Esse acentuado movimento de transferência de atribuições,
recebe outra denominação: descentralização.
Pelo critério federativo enunciado pela Carta Federal, existem as Administrações Públicas
Federal, Estadual e Municipal. As expressões Administração Direta e Indireta foram consolidadas no
ordenamento brasileiro pelo artigo 4º do Decreto n.° 200/67, conhecido como o Diploma da Reforma
Administrativa:
Art. 4° A Administração Federal compreende:
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados
na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
Ministérios.
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes
categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista;
d) Fundações públicas. (Incluído pela Lei nº 7.596, de 1987)

Elementos caracterizadores do Regime Jurídico Administrativo pátrio

Administração Indireta como um todo é fruto do primeiro impulso de descentralização. Com


o passar do tempo, não foi possível apenas distribuir tarefas e responsabilidade entre entes controlados
de certa forma pelo Estado. A descentralização atingiu níveis mais profundos quando atividades estatais,
ou seja, serviços públicos foram repassados para organizações que não compõe a máquina estatal.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 36

Administração Pública Direta


Também chamada de Administração Pública Centralizada, existe em todos os níveis das
Esferas do Governo, Federal, Estadual, Distrital e Municipal, e em seus poderes, Executivo, Legislativo e
Judiciário. É em si, a própria Administração Pública.
Na Administração Pública Direta como o próprio nome diz, a atividade administrativa é
exercida pelo próprio governo que "atua diretamente por meio dos seus Órgãos, isto é, das unidades que
são simples repartições interiores de sua pessoa e que por isto dele não se distinguem". Celso Antônio
Bandeira de Mello (2004:130).

Os poderes e as esferas

A 3 Esferas e os 3 Poderes
Poderes 
Executivo Legislativo Judiciário
 Esferas
Congresso Nacional Tribunais e Juízes
Presidente da
Câmara dos Federais
República Senado Federal
União Deputados
(Senadores da (Supremo Tribunal
Ministérios (Deputados
República) Federal - STF)
Federais)

Governador de Estado
Assembleia Legislativa Estadual Tribunal de Justiça
Estados
(Deputados Estaduais) Juízes Estaduais
Secretarias Estaduais

Prefeito Municipal
Câmara Municipal
Municípios -
(Vereadores)
Secretarias Municipais

Entes da Federação
Conforme o inciso I do artigo 4º, do Decreto-Lei n° 200/67, a Administração Direta Federal
se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos
Ministérios.
Para os demais entes da federação, entende Medauar (2005 apud OLIVO, 2007),
Administração Direta é o conjunto dos órgãos integrados na estrutura da chefia do Executivo (Gabinete
do Presidente da República, do Governador e do Prefeito Municipal) e na estrutura dos órgãos auxiliares
(Ministério, Secretaria de Estado e Secretaria Municipal).
O Distrito Federal, onde se situa Brasília, é ente federativo que sedia a Capital do Brasil e,
de acordo com as diretrizes impostas pelo artigo 32 da Constituição Federal, não poderá ser dividido em
Municípios e a ele são conferidas as competências legislativas reservadas aos Estados-membros e aos
Municípios.

ENTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA


Chefe do Poder Dispositivo
Ente da Federação Norma constituinte
Executivo Constitucional
Presidente da
União Constituição Federal
República
Estados Governador de Estado Constituição Estadual Art. 25 da CF/88
Municípios Prefeito Lei Orgânica Art. 29 da CF/88
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 37

Governador do Distrito
Distrito Federal Lei Orgânica Art. 32 da CF/88
Federal

Órgãos Públicos
Aqueles órgãos que compõe a Administração Direta são despersonalizados, ou seja, não
possuem personalidade jurídica própria, portanto, não são capazes de contrair direitos e
obrigações por si próprios. Os Órgãos não passam de simples repartições internas de retribuições, e
necessitam de um representante legal (agente público) para constituir a vontade de cada um deles.
Trata-se da desconcentração do poder na Administração Pública.
Onde há desconcentração administrativa vai haver hierarquia, entre aquele Órgão que
está desconcentrando e aquele que recebe a atribuição (exemplo: Delegacias Regionais da Polícia
Federal, Varas Judiciais, Comissão de Constituição e Justiça).

Administração Pública Indireta


A Administração Indireta, ou Administração Pública Descentralizada é o conjunto de
pessoas administrativas que, vinculadas à respectiva Administração Direta, têm o objetivo de
desempenhar as atividades administrativas de forma descentralizada.
As pessoas jurídicas que integram a Administração Indireta guardam, entre si, três pontos
em comum:
 criação por lei específica,
 personalidade jurídica,
 patrimônio próprio.

De acordo com o artigo 4º, II, do Decreto-Lei n° 200/67, originalmente, a Administração


Indireta compreende as seguintes entidades:
 Autarquias;
 Empresas públicas e
 Sociedades de economia mista.
Posteriormente, as fundações públicas foram incluídas no elenco da administração
indireta por meio da Lei n° 7.596, de 10/04/1987. Formando o que chamamos de FASE, como dica
mnemônica para melhor fixação do conteúdo.

F A S E
Sociedade
Fundação de Empresa
Autarquia
Pública Economia Pública
Mista

Entidades da Administração Indireta


Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 38

Autarquias

Agências reguladoras

Agências executivas

Fundações Públicas

Empresas Estatais

Terceiro Setor
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 39

X da Questão
Cespe – 2009 – MPOG

01. Os princípios básicos da administração pública não se limitam à esfera institucional do Poder
Executivo, ou seja, tais princípios podem ser aplicados no desempenho de funções administrativas
pelo Poder Judiciário ou pelo Poder Legislativo.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase

02. Acerca dos princípios de direito administrativo, assinale a opção incorreta.

a) Tanto a administração direta quanto a indireta se submetem aos princípios constitucionais da


administração pública.
b) O rol dos princípios administrativos, estabelecido originariamente na CF, foi ampliado para contemplar
a inserção do princípio da eficiência.
c) O princípio da legalidade, por seu conteúdo generalizante, atinge, da mesma forma e na mesma
extensão, os particulares e a administração pública.
d) Embora vigente o princípio da publicidade para os atos administrativos, o sigilo é aplicável em casos
em que este seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

CESPE - 2005 - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área Administrativa

03. Acerca do Estado, do governo e da administração pública, assinale a opção correta.

a) Atualmente, considera-se que a característica essencial dos Estados é a separação dos poderes. Em
virtude dessa separação, cada um dos órgãos com funções executivas, legislativas e judiciárias é
especializado em suas funções e não pratica atos com natureza própria dos demais ramos.
b) Do ponto de vista subjetivo, a administração pública não se compõe apenas dos órgãos do Poder
Executivo.
c) Nos moldes das teorias publicistas historicamente consolidadas, a Federação brasileira é constituída
apenas pelos seguintes componentes: União, estados-membros e Distrito Federal.
d) O que caracteriza o governo e a administração pública é a produção de atos políticos e a atuação
politicamente dirigida, traduzida em comando, iniciativa e fixação de objetivos do Estado.
e) A Presidência da República, o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE/GO), o Banco do Brasil S.A.
(sociedade de economia mista federal), os ministérios do Poder Executivo, a Fundação Nacional do Índio
(fundação pública federal) e a Caixa Econômica Federal (empresa pública federal) são, tecnicamente,
exemplos de órgãos da chamada administração pública federal.

CESPE/BACEN/Procurador/2009

04. Quando as atribuições de um órgão público são delegadas a outra pessoa jurídica, com vistas a
otimizar a prestação do serviço público, há desconcentração.

( ) Certo ( ) Errado

TCESPE/TCE-AC/2009

05. A descentralização política ocorre quando os entes descentralizados exercem atribuições próprias
que não decorrem do ente central. Sendo os estados-membros da Federação tais entes e, no Brasil,
também os municípios, a descentralização política possui os mesmos entes da descentralização
administrativa.

( ) Certo ( ) Errado
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 40

CESPE/MS-Analista/2010

06. A delegação ocorre quando a entidade da administração, encarregada de executar um ou mais


serviços, distribui competências no âmbito da própria estrutura, a fim de tornar mais ágil e eficiente a
prestação dos serviços.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE/TCE-ES/2009

07. A administração pública, em sentido objetivo, abrange as atividades exercidas por pessoas jurídicas,
órgãos e agentes incumbidos de atender concretamente às necessidades coletivas.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE/SEFAZ-ES/2009

08. A administração pública, compreendida no sentido subjetivo como o conjunto de órgãos e de


pessoas jurídicas que, por força de lei, exercem a função administrativa do Estado, submete-se
exclusivamente ao regime jurídico de direito público.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE/SEJUS-ES/2009

09. A vontade do Estado é manifestada por meio dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, os
quais, no exercício da atividade administrativa, devem obediência às normas constitucionais próprias da
administração pública.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE/MP-AM/2007

10. Os tradicionais elementos apontados como constitutivos do Estado são: o povo, a uniformidade
lingüística e o governo.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2012 - MPE-PI - Técnico Ministerial

11. Com relação a administração direta, indireta e funcional, julgue o item a seguir.

As agências executivas não constituem uma nova entidade, pois, na verdade, elas não passam de
autarquias e(ou) fundações públicas que foram qualificadas como tal.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2007 - TCU - Técnico de Controle Externo

12. Julgue os itens a seguir, acerca da organização administrativa da União.


Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 41

As entidades paraestatais, pessoas jurídicas de direito privado, não-integrantes da administração direta


ou indireta, colaboram para o desempenho do Estado nas atividades de interesse público, de natureza
não-lucrativa.
( ) Certo ( ) Errado

13. Para a criação de uma autarquia, é exigido o registro do seu estatuto em cartório competente.

( ) Certo ( ) Errado

14. As empresas públicas e as sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de direito privado.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2009 - DETRAN-DF - Auxiliar de Trânsito

15. Julgue os itens a seguir acerca da administração pública e seus agentes.

As autarquias e as empresas públicas são pessoas jurídicas de direito público e integram a


administração indireta.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2011 - PREVIC - Técnico Administrativo – Básicos

16. No que se refere a direito administrativo, julgue os itens a seguir.

Empresas públicas são pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração indireta criadas
por lei sob a forma de sociedades anônimas com o objetivo de explorar atividade econômica ou prestar
determinado serviço público.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2011 - TRE-ES - Técnico Judiciário

17. Com relação aos agentes públicos, julgue os itens seguintes.

Considere que João pretenda ingressar como empregado na PETROBRAS, sociedade de economia
mista, integrante da administração indireta da União. Nessa situação, João não precisa ser previamente
aprovado em concurso público, visto que o regime jurídico dessa empresa é o celetista.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2011 - PC-ES - Escrivão de Polícia

18. Julgue o item subsequente, que versa sobre a descentralização e desconcentração da atividade
administrativa do Estado.

Diferentemente da descentralização, em que a transferência de competências se dá para outra entidade,


a desconcentração é processo eminentemente interno, em que um ou mais órgãos substituem outro com
o objetivo de melhorar e acelerar a prestação do serviço público.

( ) Certo ( ) Errado
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 42
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 43

19. Relativamente ao conceito de pessoa administrativa e à delegação e avocação de competências,


julgue o item a seguir.

Tanto as pessoas públicas quanto as pessoas de direito privado instituídas pelo Estado têm
personalidade jurídica própria, capacidade de autoadministração e patrimônio próprio.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2009 - SEJUS-ES - Agente Penitenciário

20. Com relação à organização administrativa do Estado brasileiro, julgue os próximos itens.

A sociedade de economia mista, pessoa jurídica de direito privado, deve ser organizada sob a exclusiva
forma de sociedade anônima.

( ) Certo ( ) Errado

CESPE - 2010 - DPU - Agente Administrativo

21. Acerca do controle exercido sobre a administração direta e indireta, assinale a opção correta.

A) As fundações, as empresas públicas e as sociedades de economia mista não se submetem à


fiscalização do TCU, apenas à supervisão ministerial.
B) As empresas públicas e as sociedades de economia mista submetem-se à fiscalização do TCU,
independentemente de sua criação por lei.
C) As fundações, as empresas públicas e as sociedades de economia mista submetem-se à fiscalização
do TCU, desde que criadas por lei.
D) As empresas públicas e as sociedades de economia mista submetem-se à fiscalização do TCU,
desde que possuam servidores celetistas e também estatutários em seu quadro de pessoal.
E) Por serem parte da administração indireta, as empresas públicas e as sociedades de economia mista
não se submetem à fiscalização do TCU.

CESPE - 2008 - TJ-RJ - Tecnico de Atividade Judiciária

22. Julgue os itens abaixo, relativos à administração indireta.

I. As empresas públicas e as sociedades de economia mista não se sujeitam a procedimentos


licitatórios por terem o mesmo tratamento jurídico das empresas privadas.
II. As sociedades de economia mista só podem adotar a forma de sociedade anônima.
III. O capital de empresa pública é todo estatal.
IV. Não é permitido às autarquias desempenhar atividades econômicas.
V. As fundações públicas são, exclusivamente, pessoas jurídicas de direito público.

A quantidade de itens certos é igual a

A) 1.
B) 2.
C) 3.
D) 4.
E) 5.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 44

CESPE - 2010 - TRE-MT - Técnico Judiciário

23. Assinale a opção correta quanto aos serviços públicos.

A) Serviço público é toda atividade material que a lei atribui diretamente ao Estado, sob regime exclusivo
de direito público; assim, as atividades desenvolvidas pelas pessoas de direito privado por delegação do
poder público não podem ser consideradas como tal.
B) Serviços públicos impróprios são aqueles que o Estado assume como seus e os executa diretamente,
por meio de seus agentes, ou indiretamente, por meio de concessionários e permissionários.
C) Tanto os serviços públicos prestados por pessoas da administração descentralizada quanto os
prestados por particulares colaboradores devem ser controlados pela administração, devendo a entidade
federativa respectiva aferir a forma de prestação, os resultados e os benefícios sociais alcançados, entre
outros aspectos.
D) Considera-se de execução direta o serviço público que é prestado diretamente pelo Estado ou que,
mesmo executado por entidades diversas das pessoas federativas, é objeto de regulamentação e
controle por parte delas.
E) Em atenção ao princípio da livre iniciativa, apenas os serviços prestados pelas pessoas de direito
privado que integram a administração pública indireta podem sofrer uma disciplina normativa que os
regulamente.

CESPE - 2005 - TRE-MT - Técnico Judiciário

24. Assinale a opção que apresenta uma entidade que integra a administração indireta federal.

A) TSE
B) Ministério da Justiça
C) Congresso Nacional
D) partido político de âmbito nacional
E) fundação pública instituída pela União

CESPE - 2005 - TRE-MA - Técnico Judiciário

25. Assinale a opção correta acerca da administração indireta.

A) É traço comum às empresas públicas e sociedades de economia mista o desempenho de atividade


de natureza econômica.
B) As fundações instituídas e mantidas pelo poder público não integram a administração indireta.
C) Os bens das autarquias e fundações públicas são penhoráveis.
D) São características das autarquias: criação por decreto, personalidade jurídica pública e grande
abrangência de fins ou de atividades.
E) Todas as entidades da administração indireta têm personalidade jurídica de direito público.

CESPE - 2005 - TRE-GO - Técnico Judiciário

26. Organizado o Estado no que respeita à divisão do território, à forma de governo, à investidura dos
governantes, à instituição dos Poderes e às garantias individuais, estruturam-se, hierarquicamente, os
órgãos encarregados do desempenho de certas atribuições que estão sob sua responsabilidade. A
organização do Estado é matéria constitucional, cabendo ao Direito Constitucional discipliná-la, enquanto
a criação, estruturação, alteração e atribuições das competências dos órgãos da Administração Pública
são temas de natureza administrativa, cuja normatização é da alçada do Direito Administrativo. A
primeira cabe à Constituição, enquanto a segunda toca à lei.

Diogenes Gasparini. Direito administrativo.


6.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001 p. 41-2.

Considerando o texto II, assinale a opção correta em relação à organização administrativa da União.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 45

A) As fundações instituídas pelo Estado podem ter personalidade jurídica de direito público ou privado.
No primeiro caso, o regime jurídico delas equivale ao das autarquias, no segundo, serão regidas, em
princípio, pelas leis civis, naquilo que não conflitarem com as normas aplicáveis do direito público.
B) A técnica da desconcentração administrativa implica a repartição de competências entre a pessoa
estatal e outras pessoas jurídicas, tais como autarquias e empresas públicas.
C) As empresas públicas são pessoas jurídicas de direito privado e detêm capital integralmente público
ou público e privado, mas sempre com predominância de recursos públicos.
D) No vigente direito brasileiro, as sociedades de economia mista são, de pleno direito, criadas por lei,
de modo que, a partir da publicação válida da norma na imprensa oficial, essas pessoas jurídicas de
direito privado passam a ser detentoras de direitos e obrigações.
E) Devido à vinculação que os entes da administração indireta possuem com o Estado, os agentes
públicos que neles trabalham têm legitimidade passiva para figurar como autoridade impetrada em ações
de mandado de segurança que venham a ser ajuizadas contra os atos deles.

27. Pessoa jurídica de direito público, dotada de patrimônio próprio, criada por lei para o desempenho de
serviço público descentralizado.

A definição acima refere-se a

A) órgão público.
B) autarquia.
C) sociedade de economia mista.
D) empresa pública.

CESPE - 2007 - TSE - Técnico Judiciário

28. A PETROBRAS S.A. é uma sociedade anônima em que particulares podem ter ações, mas cuja
acionista majoritária é a União. Nessa situação, a PETROBRAS S.A.

A) não integra a administração pública.


B) integra a administração pública na qualidade de parceria público-privada.
C) integra a administração pública na qualidade de sociedade de economia mista.
D) integra a administração pública na qualidade de empresa pública.
Teorias da Administração Pública Estado, governo e sociedade | 46

Refletindo

Texto Complementar

AUTARQUIZAÇÃO DAS EMPRESAS ESTATAIS

Autarquias são entes autônomos, mas conduzem em suas atividades parte da mão de
controle do Estado, com poderes de regulação. Isso lhes coloca numa esfera ainda muito próxima da
Administração Direta. Reconhecendo a relevância da parcela de seus poderes na conjuntura estatal e da
extrema indisponibilidade, a suscetibilidade a negociações e peculiaridades do mercado e de interesses
particulares; a legislação e a interpretação dos tribunais buscam resguardar o patrimônio e o interesse
público exigindo das autarquias, procedimentos idênticos aos demais órgãos públicos, no tocante a
licitações, contratação de pessoal, deveres fiscais etc.

Mas essa não era o destino pensado para as empresas estatais, sendo empresas
públicas ou sociedades de economia mista. A elas esperava-se que fossem submetidas a um regime de
direito privado e que competissem em condições de igualdade com as empresas do setor privado. É
normal que em algum ponto o regime público se impusesse pelo interesse coletivo, mas não ao ponto de
transformar essas empresas em mais tantas repartições de uma burocracia obsoleta, logo elas que
foram concebidas para a descentralização, mantidas para reforma do aparelho estatal e para uma
gradativa melhoria em eficácia dos serviços públicos.

Henrique Motta Pinto é mestre em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo. Coordenador da Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público.
Advogado consultor em direito público e regulação, autor do artigo abaixo, discute a importância de se
dar prosseguimento às reformas para o efetivo cumprimento das funções estatais. Dentro dessa
preocupação geral, o artigo analisa como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vem dificultando
o uso de empresas estatais para a prestação de serviços públicos com a sua autarquização.

Segue um extrato do artigo, com o seu resumo, introdução e conclusão, para a


compreensão é preciso a leitura na íntegra, como o que está disponível do blog do curso ou no site da
FGV.

Referência
Autor: PINTO, Henrique Motta.
In: Cadernos Gestão Pública e Cidadania / CEAPG – v. 15, n. 57 – São Paulo: FGV, 2010.

A AUTARQUIZAÇÃO DAS EMPRESAS ESTATAIS NA


JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
UM OBSTÁCULO PARA AS REFORMAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

RESUMO
O cumprimento adequado das funções estatais depende da realização de reformas na administração
pública que alterem as leis e, frequentemente, a Constituição. Nos quadros da organização
administrativa, a empresa estatal é um instrumento para a consecução de finalidades governamentais,
inclusive a prestação de serviços públicos. O presente artigo avalia como a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal vem dificultando o uso de empresas estatais para a prestação de serviços públicos com
a sua autarquização.

PALAVRAS-CHAVE
Autarquização, empresa estatal, serviços públicos, organização administrativa, Supremo Tribunal
Federal.

A empresa estatal pode ser vista como um modelo jurídico usado pelo Estado para
realização de suas atividades. Ao criar uma entidade como pessoa de direito privado, na forma de
empresa, o Estado a submete a um regime jurídico em que predomina o direito privado. Sua opção pelo
formato empresarial contém, em si, a avaliação de que esse é o melhor meio para o cumprimento da
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finalidade almejada, para a qual se reconhece um interesse público ou coletivo. A entidade concebida
pelo Estado ganha dele uma missão, a de desenvolver certa ação governamental, a qual lhe caberá
perseguir na condição de empresa.

Quando recorre ao formato empresarial para organizar a vida de uma entidade sua, o
Estado vai buscá-lo na experiência do setor privado. Interessado na técnica empresarial por suas
virtudes, o Estado a incorpora para certas entidades suas, compreendendo que ela será útil para o
cumprimento de atribuições que o ordenamento jurídico lhe reservou. Como fenômeno de origem
externa ao setor público, a empresa possui seu regime jurídico formado principalmente por normas de
direito privado, que disciplinam sua organização e atuação no contexto do setor privado da economia.
Quando o formato empresarial passa a ser usado pelo Estado, o regime jurídico empresarial é adotado
para a regência da vida da nova entidade.

O ato de criação de uma empresa estatal importa na sua submissão a normas comuns,
típicas do direito privado e aplicáveis tanto às empresas estatais quanto às empresas do setor privado.
Ao recorrer a normas comuns para reger a vida de uma entidade sua, o Estado faz uma escolha pelo
regime jurídico básico de direito privado. Em vez de criá-la como pessoa de direito público, para quem o
regime jurídico básico seria o de direito público, o Estado opta por empregar a forma de empresa, própria
do direito privado, atraindo a incidência de um complexo normativo típico do setor privado. O Estado se
submete, então, às normas comuns da sociedade, abdicando de parte do conjunto normativo que
poderia aplicar se optasse por criar uma pessoa de direito público.

A submissão da nova entidade estatal a um regime jurídico em que predominam os


traços de direito privado não impede que sobre ela incidam normas próprias, que não recaem sobre as
empresas do setor privado.

[...]

A preservação do caráter empresarial das estatais pelo STF


O STF e o início de uma crise no modelo jurídico de empresa estatal
As possíveis saídas para a crise no modelo jurídico da empresa estatal

[...]

Tais problemas só poderiam ser resolvidos por meio da criação de novas normas
constitucionais, que fixassem uma proibição expressa à fruição da imunidade tributária recíproca pelas
empresas estatais. Essa regra já decorre do § 3º do artigo 150 do texto constitucional, quando admite a
cobrança de impostos das entidades estatais que exploram atividades econômicas ou que prestam
serviços públicos econômicos. Contudo, em razão da jurisprudência do STF que afirma esse privilégio
para as estatais de serviços públicos, torna-se necessária a realização de uma reforma constitucional
para incluir, no texto do § 3º do artigo 150, a referência expressa às empresas estatais.

Essa terceira alternativa ressalta um importante aspecto de relação institucional entre o


STF e os poderes legislativo e executivo. Na medida em que esses poderes iniciem um movimento
contrário à jurisprudência consolidada do STF, será necessário mostrar à corte a importância e a
necessidade das alterações legislativas e constitucionais propostas. A corte precisará ser convencida de
que a solução legislada é compatível com a Constituição e que é conveniente para uma melhor
organização administrativa do Estado, com impactos positivos na prestação de serviços públicos pelo
Estado. Para tanto, a atitude recomendável não é a de enfrentamento ou de disputa entre os poderes,
mas a de um diálogo institucional que propicie uma evolução permanente na disciplina da matéria. Com
boas razões, tudo indica que será possível convencer a corte da necessidade de abandono da
jurisprudência que causa crise no modelo jurídico da empresa estatal.

A melhoria da qualidade dos serviços públicos oferecidos à sociedade passa pela


possibilidade de o Estado escolher o melhor meio para prestá-los, valendo-se de um leque de
possibilidades para aplicação em contextos distintos. A opção pela prestação de um serviço público por
meio de empresa estatal é uma das possibilidades que o Estado deve ter ao seu alcance, sem prejuízo
de outras que se mostrem mais adequadas para a situação concreta. Para tomar essa decisão, própria
de formulação de uma política pública, o Estado deve ter a preocupação, sobretudo, com a qualidade
dos serviços oferecidos, que depende das melhores escolhas sobre o meio para prestá-lo.
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Exercício

O texto de Motta Pinto apresenta um dilema: foi projetado um modelo de Estado empresarial
para promover serviços que careciam de uma estrutura menos engessada para se desenvolver como
atividade viável economicamente. Mas o Poder Judiciário tem sido procurado pelas próprias estatais,
que em sua autonomia para fazer esses acionamentos, têm buscado o que podem dos privilégios
jurídicos concedidos às pessoas de direito público.

E uma recente corrente jurisprudencial tem concorrido para o retorno desses entes
descentralizados para práticas típicas do núcleo administrativo do Estado. Mas isso somente pode ser
compreendido como dilema, se acreditarmos que o Estado precisa utilizar o modelo empresarial para
algumas de suas atividades.

Posicionando-se sobre o tema e demonstrando o quanto conseguiu entender das questões


levantadas, respondas as perguntas abaixo:

1. Você concorda com o autor, que haja uma atual crise no modelo jurídico da empresa estatal?
O STF está seguindo a linha correta, ao tratar as empresas estatais mais semelhantemente como
autarquias?

2. Como devem ser pesados os critérios? O que se torna mais relevante:


a) Manter as empresas estatais sob um regime semelhante as das empresas privadas e
esperar nisso ganho em desempenho ou;
b) Submetê-las a um regime híbrido mais próximo do público convencional, para garantir
transparência e moralidade com a verba púbica?

3. Como o autor responde às suas próprias indagações: Há saída para a crise instalada no
modelo jurídico da empresa estatal? Esse processo é reversível? Quais são as alternativas institucionais
que se apresentam para a viabilização do uso pleno do formato empresarial pelo Estado, com a
preservação dos aspectos operacionais e de funcionamento regidos pelo direito privado?
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Referências bibliográficas

ANDRADE, Flávia Cristina Moura de. Direito administrativo. 6a. ed. [Coord.: Nestor Távora e Luiz
Flávio Gomes]. Revista e Atualizada. Coleção OAB, vol. 8. Niterói, RJ: Impetus, 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 1988. Disponível em <


planalto.gov.br >. Acesso em 01jul12.

COELHO, Ricardo Corrêa. O Público e o Privado na Gestão Pública. Florianópolis: Departamento de


Ciências da Administração / UFSC; Brasília: CAPES/UAB, 2009.

MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2008.

MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

OLIVO, Luis Carlos Cancellier. Direito administrativo. [Curso de Graduação em Administração a


Distância] Florianópolis: CAD/UFSC, 2007.

SILVA, Elyesley. Entidades da Administração Indireta. Disponível em < http://www.e-concursos.net/ >.


Acesso em 08Jul12.
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Gabarito

01 02 03 04 05
Certo C B Errado Errado

06 07 08 09 10
Errado Certo Errado Certo Errado

11 12 13 14 15
Certo Certo Errado Certo Errado

16 17 18 19 20
Errado Errado Certo Certo Certo

21 22 23 24 25
B B C E A

26 27 28 - -
A B C - -

Comentários

Questão 01

Correto. A Constituição Federal, no seu art. 37, caput, dispõe que a administração pública
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. Dessa forma, todos os Poderes devem obediência aos
princípios da Administração Pública.

Questão 02

No Direito privado, de acordo com o princípio da legalidade, ao particular é permitido fazer


tudo o que a lei não proíbe. No âmbito do Direito Administrativo, pela doutrina tradicional,
existe uma subordinação da ação do administrador, em função do que estabelece a lei, de
forma que ele só pode agir nos moldes e limites estabelecidos pela legislação.

Questão 03

a) FALSA - Os poderes do Estado têm funções típicas, isso é um fato, contudo nada impede
que os poderes exerção funções atípicas.

b) CORRETA - pelo principio subjetivo entidades administrativas também fazem parte da


Administração Pública; A Administração Pública em sentido SUBJETIVO (sujeito) considera
os sujeitos que exercem a atividade administrativa, ao passo que a administração pública
em sentido OBJETIVO consiste na própria atividade administrativa, consiste, portanto, no
exercício da designada função administrativa.

Administração Pública em sentido subjetivo, segundo José dos Santos Carvalho Filho: ―A
expressão pode significar o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas que tenham
a incumbência de executar as atividades administrativas‖.

É muito comum achar que Administração Pública e Poder Executivo são conceitos
sinônimos. Essa noção, entretanto, não é verdadeira. Existe Administração Pública nos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, uma vez que os três poderes de forma típica
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(no caso do poder executivo) ou de forma atípica (no caso dos poderes legislativo e
judiciário) cumprem funções administrativas.

c) FALSA - o município também faz parte da organização politica brasileira;


d) FALSA;
e) FALSA - BB e CE não são órgãos.

Questão 04

Errado. A desconcentração (descOncentração – Órgão) é uma distribuição interna de


competência dentro da mesma pessoa jurídica. Ao contrário, na descentralização
(descEntralização – Ente), há uma repartição de competências entre pessoas jurídicas
diversas. Vale ressaltar que na desconcentração há hierarquia e na descentralização há
tutela, supervisão ministerial.

Questão 05

Errado. Enquanto a descentralização política dá surgimento aos entes políticos (União,


Estados, DF e Municípios), a descentralização administrativa dá surgimento a entes ou
entidades administrativas.

Questão 06

Errado. O fenômeno abordado na questão é o da desconcentração, pelo qual se dá uma


distribuição interna de
competências dentro da própria entidade, com o objetivo de tornar mais ágil e eficiente a
prestação do serviço.

Questão 07

Correto. O sentido objetivo também é chamado de material ou funcional e corresponde às


funções desempenhadas pela
Administração Pública, ou seja, ao Estado administrando.

Questão 08

Errado. A expressão Administração Pública, no sentido subjetivo, orgânico ou formal, diz


respeito aos sujeitos, aos entes que exercem a atividade administrativa (pessoas jurídicas,
órgãos e agentes públicos). Já o sentido objetivo, material ou funcional designa a natureza
da atividade, as funções exercidas pelos entes, caracterizando, portanto, a própria função
administrativa, exercida predominantemente pelo Poder Executivo. O erro da assertiva está
em afirmar que as pessoas são regidas exclusivamente pelo direito público, uma vez que há
situações em que o direito privado será também aplicado.

Questão 09

Correto. A função típica do Poder Judiciário é julgar. Já a sua função atípica é a de


participar do processo legislativo, quando encaminha normas para apreciação do Poder
Legislativo, bem como administrar, quando, por exemplo, realiza licitações e concursos
públicos para seleção de servidores. Essa mesma função – administrativa – pode ser
percebida com relação ao Poder Legislativo, que também exerce atipicamente funções
administrativas, quando faz licitações, concursos etc. O mesmo Legislativo também
desempenha a atividade jurisdicional quando, por exemplo, o Senado processa e julga o
Presidente da República nos crimes de responsabilidade. Por fim, o Poder Executivo, cuja
missão típica é a atividade administrativa, também exerce, atipicamente, a missão
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legislativa. Dessa forma pode-se dizer que todos os Poderes devem obediência às normas
constitucionais próprias da administração pública.

Questão 10

Errado. São três os elementos clássicos na composição do Estado: povo, território, e


governo soberano. Para alguns, há também um quarto elemento, qual seja, a finalidade do
bem comum. O povo é o elemento humano, o território representa os limites do Estado, e o
governo soberano diz respeito ao elemento condutor, responsável pela organização do
Estado.
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Lição
3
Modelos de
Administração Pública
no Brasil
Objetivos

Ao fim desta lição você deverá ser capaz de responder às seguintes questões:

 Conhecer as principais características de cada modelo, sendo capaz de diferenciá-


los;

 Contextualizar os processos de transformação com os momentos históricos.

Texto-base

Para compreender os modelos um a um em síntese:

OLIVEIRA, Gustavo Justino


Modelos Teóricos da Administração Pública In Administração Pública. Campinas,
SP: IESDE, 2010.

Para contextualização dos modelos e as transformações do Estado Brasileiro:

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos


Do Estado Patrimonial ao Gerencial In Pinheiro, Wilheim e Sachs (orgs.), Brasil: Um
Século de Transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001: 222-259.

Para acompanhar a evolução dos modelos na experiência internacional:

SECCHI, Leonardo
Modelos organizacionais e reformas da administração pública. In Revista de
Administração Pública — Rio de Janeiro 43(2):347-69, MAR./ABR. 2009.
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Modelos Teóricos da Administração Pública

O que são Modelos Teóricos? São abstrações que tentam capturar características de uma
realidade ou propor novas visões de funcionamento de um dado sistema, no caso particular, estamos
falando de concepções de como administrar os bens coletivos a cargo do Estado.
Sagrou-se definir três modelos com características definidas:
 Patrimonialista;
 Burocrático e
 Gerencial.

Ainda há uma última forma de aprofundamento da democracia que tende a constituir um


modelo gestão neogovernamental: a Governança Pública.

Patrimonialismo
Segundo Oliveira (2010), ―o patrimonialismo é uma herança da época feudal, vigente nas
sociedades pré-democráticas‖. Neste modelo, a Administração Pública deve atender os interesses do
governante, o príncipe, fazendo uso do poder em seu favor. ―O aparelho de Estado é uma espécie de
extensão do poder do soberano‖ (OLIVEIRA, 2010).

Res publica e Res principis

Burocracia
Concepção de Max Weber

Crise do modelo burocrático

Disfunções segundo Merton


Vejamos as disfunções observadas por Merton, em 1949 (apud BERGUE, 2010) autor que
focou tanto quanto Weber na questão das estruturas, mas já conseguia perceber as dificuldade que o
modelo puro da burocracia sofria para implementação de sua prática:
 Internalização e o elevado apego às normas;
 Excesso de formalização, de rotinas e de registros;
 A resistência às mudanças;
 A despersonalização dos relacionamentos;
 A ausência de inovação e conformidade com as rotinas;
 A exibição de sinais de autoridade;
 As dificuldades no atendimento a clientes e conflitos com o público e
 A hierarquização do processo de tomada de decisão.

Gerencialismo

Nova Gestão Pública


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Gestão Pública por resultados


Uma boa indicação de leitura sobre o tema é o livro: Gestão pública por resultados: Quando
o Estado se compromete, da professora francesa Sylvie Trosa.
Uma frase marcante da leitura é esta que sintetiza a nova relação do Estado com o cidadão:
Os usuários não toleram mais serem tratados como súditos,
serem considerados em princípio culpados e não inocentes,
não serem tratados com respeito e cortesia ou ainda verem ser
aplicadas soluções gerais e padronizadas para seu problema
específico (TROSA, 2001).

Os objetivos do novo gerenciamento público apontado pela professora Trosa (2001):


 Domínio dos serviços e dos custos: o que fazemos, como fazemos, quanto
gastamos;
 Acompanhar a produtividade através de índices;
 Delegar poderes, ampliar a responsabilidade dos níveis subordinados,
descentralizar e
 Alocar e promover pessoas por suas habilidades e competências.

Por que o serviço público precisa se modificar? Quais circunstâncias estão impondo
adaptação? Sylvie Trosa responde com três principais situações:
 Mundialização e globalização;
 A mudança dos usuários que são mais exigentes e querem dispor de um tratamento
personalizado e não mais um padronizado e
 A crescente diversificação nas formas de fazer e de produzir no serviço público que
passam a constituir uma constelação bem maior do que o Estado no sentido
tradicional.

Governança Pública

Governo em Rede

Transnacionalidade

Protagonismo do cidadão
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Evolução Administrativa do Estado Brasileiro


Apoiados em Bresser-Pereira vamos fazer a leitura dos fatos históricos que lapidaram a
evolução da máquina estatal no Brasil por três dimensões, as quais aqui chamaremos de:
 Organização sócio econômica;
 Forma de poder político cooptante do Estado e
 Modelo Administrativo do Estado.

Quadros de evolução segundo Bresser-Pereira

O Estado Oligárquico e Patrimonial


Sociedade Mercantil-Senhorial, até 1930

O Estado Autoritário e Burocrático


Sociedade Capitalista Industrial, até 1995
Dois momentos de regime totalitários:
Ocorrem destacadamente as iniciativas da gestão de Getúlio Vargas, com a criação
do DASP.
A Reforma Desenvolvimentista de 1967

O Estado Democrático
Sociedade Pós-Industrial

Formas Históricas de Estado e Sociedade no Brasil

Elaborado pelo autor adaptado de Bresser-Pereira (2001)

Períodos Paradigmáticos

A pesquisadora e professora Tania Keinert (1994) fez ―uma análise para identificar algumas
formas de raciocínio que têm marcado a evolução do campo – enquanto correntes principais de
pensamento- -, as quais iremos chamar de paradigmas‖. Constituindo-se uma análise da evolução do
campo de conhecimento em Administração Pública através dos paradigmas dominantes nos diversos
momentos no século XX.
Administração Pública pode ser vista quanto ao campo de conhecimento como:
 Ciência Jurídica;
 Ciência Administrativa;
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 Ciência Política e
 Administração Pública mesmo, numa abordagem própria.

Estado oligárquico e patrimonial


Compreensão sociológica antropológica
É extremamente importante que na análise histórica da comunhão entre os modelos
teóricos e os processos de reforma, alteração e modernização da estrutura administrativa do Estado
Brasileiro seja feita por vias da compreensão sociológica-antropológica. Contra os opositores dos social
democratas brasileiros, é preciso destacar que pelo menos no plano acadêmico, Bresser-Pereira faz
escolhas de obras e autores mais que pertinentes para esmiuçar as base do poder e da produção da
nossa sociedade.
Como bem enfatiza Bresser-Pereira, o primeiro caminho para reflexões pode seguir a linha,
num tanto firme, fugindo dos entendimentos convencionais liberais e marxistas de Raymundo Faoro,
com destaque para a obra Os Donos do Poder (1957).

Reforma burocrática da Era Vargas

Plano de metas de JK

Plano desenvolvimentista nacional do regime militar

Para Bresser-Pereira (2010), o aspecto mais marcante da Reforma Desenvolvimentista de


1967, com edição do Decreto n.º 200, foi o movimento de descentralização para a administração indireta,
particularmente para as fundações de direito privado criadas pelo Estado, as empresas públicas e as
empresas de economia mista, além das autarquias, que já existiam desde 1938.
Através da autonomia dada às empresas de economia mista viabilizava-se o grande projeto
de industrialização com base em grandes empresas estatais de infraestrutura e serviços públicos que já
havia sido iniciado nos anos 40, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, e acelerado nos
anos 50, com a criação da Petrobrás, da Eletrobrás, e da Telebrás, e do BNDES. Por outro lado, são
então criadas ou desenvolvidas novas agências reguladoras, como o Banco Central, que regulam
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também com autonomia as atividades econômicas, tendo sempre como critério a promoção do
desenvolvimento industrial.

Esforços de desburocratização
No contexto desses esforços, é indispensável referência a Hélio Beltrão, que havia
participado ativamente da Reforma Desenvolvimentista de 1967, volta à cena, agora na chefia do
Ministério da Desburocratização do governo Figueiredo.
O ministro Hélio estava particularmente engajado em alterar a práticas da relação
Administração-administrado: ―retirar o usuário da condição colonial de súdito para investi-lo na de
cidadão destinatário de toda a atividade do Estado‖ (BELTRÃO, 1984 apud BRESSER-PEREIRA, 2010).
Entre 1979 e 1983 Beltrão transformou-se em um arauto das novas ideias; criticando, mais
uma vez, a centralização do poder, o formalismo do processo administrativo, e a desconfiança que
estava por trás do excesso de regulamentação burocrática, e propondo uma administração pública
voltada para o cidadão.
Já nos compromissos de desburocratização, surge a figura das fundações, em 1987,
durante o governo Sarney, o Estado dava grande autonomia administrativa para os serviços sociais e
científicos, que passavam, inclusive, a poder contratar empregados celetistas.

Retrocesso burocrático da Constituição de 1988

Reformas do Estado na gestão de FHC

Adoção do sistema de governança GesPublica


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Particularidade do modelo brasileiro

Questões da continuidade: forma híbrida


Como nos afirma Gustavo Oliveira (2010), já apoiado por vários outros entendimentos
convergentes: ―nenhum modelo de administração rompe totalmente com os preceitos do anterior,
havendo sempre uma continuidade, sem que o modelo precedente seja integralmente abandonado‖.
Todo novo modelo é trazido por mensageiros comissionados, entusiasmados, são ―fórmulas
mágicas‖, para as quais o professor Leonardo Secchi (2009) nos alerta:
É importante lembrar que a presumida ―mágica‖ das reformas
administrativas deve ser cautelosa. Este artigo mostrou que
novos modelos organizacionais compartilham algumas
características com o modelo burocrático weberiano: continuam
a colocar ênfase na função controle e não se apresentam como
modelos de ruptura.

Simbiose de traços
Enquanto no mundo todo se discute a persistência do pensamento desvirtuado da
burocracia como um mal que paulatinamente precisa ser extirpado por práticas que busquem eficácia e
mediante uma aproximação do cidadão, no Brasil por um conjunto de fatores sócio econômicos
convivemos com a persistência e impertinência de traços marcantes do patrimonialismo que usa a capa
da burocracia para alicerçasse em práticas, para as quais não há disposição de mudança.
Nisto é oportuno o comentário do professor Faoro (1957):
[...] a realidade histórica brasileira demonstrou a persistência
secular da estrutura patrimonial, resistindo galhardamente,
inviolavelmente, à repetição, em fase progressiva, da
experiência capitalista. Adotou do capitalismo a técnica, as
máquinas, as empresas, sem aceitar-lhe a alma ansiosa de
transmigrar [...]
O que faz do Brasil uma sociedade capitalista-industrial, mas nem tanto assim; bem como
se intitula Estado Democrático de Direito, o que é apenas em parte. Podemos sentir a força de atuação
de uma oligarquia que não tem o domínio total dos meios de produção, mas exerce seu poder de
controle mediante a captura das estruturas de poder, pretensamente legitimados, tanto quanto se pode
fazer ―lavagem de intenções políticas‖ (como se faz com a lavagem de dinheiro). Os meios ―eleitoreiros‖
são os de maior destaque, mas não são os únicos.
A máquina estatal é constitucionalmente burocrática, com inserções insipientes de
expectativas gerenciais, tais como a inclusão posterior do princípio da eficiência. E sua vivência prática
demonstra a continuidade de traços patrimonialistas muito arraigados na mentalidade de todos aqueles
que se dispõe em ―servir-se‖ usando as estruturas estatais. Não são servidores do Estado, a classe
servil, na verdade, são seus sustentados e a parcela dominante membro do governo são seus
cooptantes. Se assim o é, não há nem que se falar em serviço à sociedade.
Detalhando esse panorama e o professor Sandro Bergue (2010), pôde elencar os traços
típicos da Administração Pública do Brasil:
 Estabilidade
 Gargalos
 Feudos
 Ilhas
 Nepotismo
 Paternalismo
 Corrupção
 Particularismo
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Atropelo: mudança superficial, apenas de retórica

Acompanhe o comentário de Secchi (2009) que enfatiza o uso astuto da retórica que faz
promessas de ganhos futuros:
Outro cuidado [...] as reformas [...] podem tornar-se facilmente
políticas simbólicas de mero valor retórico. Políticos,
funcionários de carreira e empreendedores políticos em geral
tentam manipular a percepção coletiva a respeito das
organizações públicas usando as reformas administrativas
como argumento para isso. Não são raros os esforços de
reforma da administração pública que avançam mais em
autopromoção e retórica do que em fatos concretos.
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Referências bibliográficas
KEINERT, Tania Margarete Mezzomo. Os Paradigmas da Administraçao Pública No Brasil (1900-92).
In Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 34, n. 3, p. 41-48 Mai./Jun, 1994.

TOSA, Sylvie. Gestão pública por resultados: Quando o Estado se compromete, p. 89-90, Ed. Renan;
Brasília, DF: ENAP, 2001.

OLIVEIRA, Gustavo Justino. Modelos Teóricos da Administração Pública In Administração Pública.


Campinas, SP: IESDE, 2010.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Do Estado Patrimonial ao Gerencial In Pinheiro, Wilheim e Sachs


(orgs.), Brasil: Um Século de Transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001: 222-259.

SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. In Revista de


Administração Pública — Rio de Janeiro 43(2):347-69, MAR./ABR. 2009.

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