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O TEMPO DOS SONHOS: ARTE ABORÍGENE CONTEMPORÂNEA DA AUSTRÁLIA

PATROCÍNIO:

Comercialização proibida.
Distribuição gratuita.
14/06 a 05/08/18 RECIFE / PE
CAIXA Cultural Recife
Av. Alfredo Lisboa, 505
Bairro do Recife - Recife/PE
Informações: (81) 3425-1915

Detalhe Capa: Respeitosamente informamos aos leitores indígenas


Charlie Tjararu Tjungurrayi, que esta publicação inclui obras de arte e imagens
1925-1999 & Willy Tjungurrayi, 1936. de pessoas falecidas.
Nome da obra: Ancestrais do Bandicoot
Combatem um Incêndio em Taltanya, 1981
Detalhe da Obra:
Tommy Watson, 1935
Wingellina, Território do Norte,
Deserto Ocidental, Pitjantjatjarra

Sem tulo, 2014

Tinta acrílica sobre linho belga


A
CAIXA Cultural apresenta O TEMPO DOS SONHOS: Arte Aborígene
Contemporânea da Austrália, uma mostra internacional inédita na
América La na, com obras originárias de um país tão distante e, ainda
assim, com caracterís cas tão próximas às brasileiras.

Realizada em parceria com a 2 levels - arte & cultura e Coo-ee Art Gallery, a exposição traz
uma seleção emblemá ca da arte contemporânea australiana produzida por ar stas
aborígenes daquele país.

Telas, esculturas e pinturas em materiais diversos ornam com primor as paredes das
galerias, na CAIXA Cultural Recife e CAIXA Cultural Salvador, e proporcionam ao público o
contato com uma cultura que se integrou e foi integrada à de seus colonizadores,
promovendo uma reflexão sobre os diferentes modelos coloniais e seus impactos na arte e
na cultura dos povos.

Desta maneira, ao viabilizar este projeto, a CAIXA contribui com o pensamento crí co e com
a formação do público, dando mais uma prova do seu compromisso com os brasileiros.
Desde que foi criada, em 1861, ela tem atuado intensamente na melhoria da qualidade de
vida da população. Além de seu papel como banco público e parceiro das polí cas de
estado, a CAIXA apoia e es mula a cultura, especialmente na circulação de eventos pelas
sete unidades da CAIXA Cultural.

Não é fácil chegar a tantas pessoas e lugares, mas esse é um desafio que vale a pena. Afinal,
para a CAIXA, a vida pede mais!

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL


Prefácio
do Embaixador da Austrália no Brasil

arte indígena australiana ocupa um importante lugar de destaque na história da

A Austrália. De fato, ela pode reivindicar, de forma jus ficável, sua posição de arte da
mais an ga cultura viva con nua do mundo. Esta exposição mostra e homenageia a
riqueza dessa cultura e o modo como os povos aborígenes e do Estreito de Torres
con nuam a pra car suas an gas tradições ar s cas, incorporando, inclusive,
novos suportes contemporâneos.

As artes cria vas cons tuem um meio pelo qual os ar stas podem se comunicar, compar lhar
suas histórias e culturas únicas com os povos do mundo inteiro. Esta exposição apresenta
também obras de muitos dos melhores ar stas da Austrália de origem aborígene e do Estreito de
Torres. Sua realização demonstra também o papel vital que galerias, consultores de arte e
importantes ins tuições nacionais podem desempenhar como agentes nesse processo de
comunicação. Esta exposição gera uma oportunidade para reflexão e um encontro de culturas.
Espero que as obras tenham uma repercussão nos ar stas brasileiros e no povo deste país, que
representa uma grande variedade de diferentes tradições culturais.

Parabenizo e expresso minha gra dão à CAIXA pelo apoio a esta maravilhosa exposição, o acervo
mais significa vo de arte indígena australiana a ser exposta no Brasil.

Meus agradecimentos também à 2 levels - arte & cultura e à Coo-ee Art Gallery, de Sidney, que
trouxeram esta dinâmica exposição ao Brasil, e à Kangaroo Tours, e a todos os curadores e
assistentes ar s cos dos dois países que realizaram este projeto.

Estou certo de que todos os visitantes da exposição serão bem recompensados e sairão dela
enriquecidos pelo magnífico espetáculo visual da arte aborígene.

Sr. John Richardson


I N T R O D U Ç Ã O

O TEMPO DOS SONHOS


ARTE ABORÍGENE CONTEMPORÂNEA DA AUSTRÁLIA

Clay D´Paula

Mão da ar sta da comunidade Mu julu.


Imagem: cortesia de Wayne Quilliam,
www.aboriginal.photography

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com grande prazer que apresentamos no Brasil a primeira exposição vigorosa,

É diversificada e com vários es los de arte aborígene da Austrália.1 Selecionadas da


coleção da Coo-ee Arte Gallery e também de outros acervos do país, as obras
apresentam o panorama dos ar stas aborígenes mais reconhecidos na Oceania e
internacionalmente. De Rover Thomas (1926 - 1998), que redefiniu o conceito da
paisagem australiana com pigmentos terrosos naturais sobre a madeira a Emily Kame
2
Kngwarreye (1910 - 1996), uma ar sta que desafiou noções pré-existentes da arte tradicional
aborígene ao se afastar das imagens adotadas por ar stas da mesma região. Ar stas vivos e no
auge de sua carreira também par cipam do projeto. Tommy Watson (1935) (pg. 18) nos oferece
uma paleta incandescente e vibrante e a ar sta Abie Loy Kemarre (1974) (pg. 18) nos presenteia
com uma obra caracterizada por ‘profundidade de campo’ com pequenos pontos brilhantes e
com uma textura altamente delicada e complexa.

O tulo da exposição ‘’O Tempo dos Sonhos’’ é a base da cultura aborígene e refere-se à criação
do universo, o começo do conhecimento e de onde vieram as leis que regem o mundo. É também
o início dos tempos, quando os seres supernaturais do passado nasceram dentro de sua própria
eternidade. (BARDON, 1991) Essa concepção mí ca, de ‘’O Tempo dos Sonhos’’, é mesmo vasta e
pode dar origem a várias interpretações nos campos da religião e da antropologia.

Rover Thomas, 1926 – 1998


Turkey Creek, Austrália Ocidental, Kimberley Oriental, Kukatja

Solo Argiloso, Estrada de Canning Stock, 1985

Pigmentos terrosos naturais sobre madeira

1 - Existe uma literatura riquíssima sobre arte aborígene contemporânea da Austrália em inglês e francês. No entanto, este é o primeiro catálogo sobre esse assunto, a ser
publicado na nossa língua portuguesa, com a par cipação de especialistas brasileiros.
2 - Emily Kame Kngwarreye começou a pintar aos 79 anos de idade e em um período de 7 anos conseguiu produzir nada menos que 5.000 obras de arte antes de sua morte
em1996. Até hoje Kngwarreye é conhecida como a mais bem-sucedida e amada de todos os ar stas aborígenes.

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Para nós, de outra cultura, podemos encontrar muita beleza e ter curiosidades sobre essa visão
espiritual aborígene. E, na arte, vibra uma diversidade espiritual e uma complexidade visual. Na Contemporânea não no sen do dos
obra O Sonhar da Água, de Abie Jangala (1919 – 2002) , o ar sta vem nos mostrar parte de sua padrões de definição da arte criada no mundo
cultura por meio do fascínio que ele tem com a chuva, nuvens e relâmpagos. Na sua fase adulta o Ocidental, tais como Modernismo, Pós-
ar sta par cipou de rituais para trazer a chuva. Os desenhos nas obras de Jangala nos faz lembrar modernismo e dai por diante. Aliás, se o modelo
exatamente as pinturas feitas no corpo dos par cipantes dessa cerimônia. e nomenclatura Ocidental devem ser citadas, a

No entanto, as obras aborígenes vão muito além do mundo espiritual, que aliás muitas vezes tal
espiritualidade nos faz distrair da apreciação esté ca dos trabalhos criados pelos primeiros
australianos. E ainda temos a limitação imposta, por grande parte de colecionares e do grande
público, que é o esforço de apreciar as obras de dentro para fora, ou seja, decifrar o significado da
8 ”
arte aborígene então é Pós-modernista e não
Modernista. Isso porque a maioria das obras de
arte aborígenes em coleções pelo mundo foram
adquiridas depois da Segunda Guerra Mundial.
E isso a faz muito contemporânea.
iconografia adotada pelo ar sta. Com isso, a esté ca assume um segundo plano no contexto (MUNDINE, 2012)
ar s co da produção de arte aborígene. Porém, antes de mais nada, não podemos nos esquecer
da integridade e intensidade que os ar stas têm com os materiais u lizados durante o processo de
criação da obra de arte. Abie Jangala, 1919 – 2002
Lajamanu, Território do Norte,
Gostaria de mencionar aqui que para alcançar a sua verdadeira função uma obra de arte deveria Deserto de Tanami, Warlpiri
ser julgada por suas qualidades especiais (execução e uso de cores, apenas para citar algumas
delas) e não pelo fato de ter sido trazida de uma cultura diferente da nossa. Manter essa O Sonhar da Água, 1997
integridade e qualidade é essencial para a produção da arte em qualquer lugar do mundo. Além Tinta acrílica sobre linho belga
disso, temos outro fator que não podemos deixar de levar em consideração na produção ar s ca
dos ar stas: a maioria das obras criadas transmitem respostas sobre os horrores da colonização
que os ancestrais desses ar stas enfrentaram – fatos transmi dos por meio de histórias às
gerações mais novas. Portanto, podemos assumir que a arte aborígene é contemporânea por
manifestar um reflexo dos acontecimentos do passado e momentâneos dentro da Austrália. Todos
esses ar stas mantêm viva uma tradição ar s ca que, embora seja apreciada pelo Ocidente, nada
tem a ver com a cultura eurocêntrica da arte. (MUNDINE, 2012) Djon Mundine elucida ainda mais
essa questão para nós:

...............................

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Os ar stas aborígenes u lizam materiais do mundo Ocidental, mas querem passar uma
mensagem aborígene, específica de sua cultura. Eles não querem nos trazer uma ideia de
Abstração, Minimalismo ou Expressionismo – a Europa não está no centro do universo deles. O
que esses ar stas nos oferecem são obras que perpetuam a sua tradição, refle ndo a sua
existência no mundo. Muitos deles, inclusive, atuam como a vistas na cena ar s ca australiana. O
ar sta Richard Bell, representado na exposição pela obra Você não tem que men r!, 1993, chama
a nossa atenção sobre as mazelas da colonização e invasão, inclusive aquela realizada pelos
portugueses. De longe podemos ter a ilusão de que a obra foi criada com desenhos tradicionais
aborígenes. No entanto, ao realizamos uma inspeção mais minuciosa, marrons e amarelos são
desfigurados com referências históricas da mais forte conotação simbólica.

Queremos com essa exposição levar o povo brasileiro a refle r sobre os povos indígenas na
Austrália e no Brasil e sobre o impacto da colonização sobre todos eles. Reconhecer o potencial
ar s co dos nossos ameríndios pode ser uma forma de reconciliação com o passado e trazer uma
nova perspec va. A exposição apresenta trabalhos de ar stas aborígenes com múl plas vozes. As
obras produzidas por eles emergiram de uma tradição cultural conhecida pelo mundo devido a sua
Richard Bell, 1953 complexidade religiosa e restrita por uma série de leis e fundamentos que apenas eles podem
Charleville, Queensland, decifrar e entender, logo tais obras se distanciam do Eurocentrismo. Elas também nos fazem
Queensland Ocidental, Kamilaroi repensar uma nova forma de apreciar e de nos inspirar através da arte. As obras da exposição são
parte música da sobrevivência e parte afirmação por meio das artes visuais sobre o que é ser
Você não tem que men r!, 1993
indígena.
Técnica mista sobre tela
Bibliografia:
MUNDINE, DJON. Chegando de Utopia. Art Monthly
Australia, 2012. No. 250, p. 39.

BARDON, Geoffrey, Papunya Tula, Arte do Deserto


Ocidental, Penguin books Australia, 1991 p. 7.

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O
mercado de Arte Aborígene Contemporânea é um constructo. Enquanto os
ar stas aborígenes oferecem ícones, ideias e possivelmente uma persistência da
A AUSTRÁLIA BRANCA memória moral, a valorização de sua arte pelos "estrangeiros" é essencialmente
dirigida pelo mercado e baseada em um conceito histórico europeu.
TEM UMA HISTÓRIA NEGRA
Sua aceitação envolveu a descoberta de que o con nente australiano abrigava muitas sociedades,
línguas e formas de expressão cultural aborígenes diferentes. Muitos - se não a maioria - dos
acervos públicos e privados refletem esse despertar gradual.
1
Djon Mundine OAM A história da arte aborígene apresenta várias fases que se sobrepõem e de fronteiras indefinidas.

Primeiramente, havia o período do começo dos tempos (49.999 anos BPI [Índice de Posição
Ba métrica]) até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando toda a arte aborígene, com certas
exceções como o aquarelista Albert Namatjira (1902-1959), era vista como uma arte "primi va"
feita por povos primi vos.

A Segunda fase foi marcada pela "descoberta" das bark pain ngs (pinturas em entrecasca de
eucalipto) da chamada Terra de Arnhem, no norte da Austrália, e a proposta de que a arte
aborígene era arte com "A" maiúsculo e que possivelmente fosse arte contemporânea. A Art
Gallery of NSW começou a colecionar essas pinturas a par r da década de 1950, marcando a
passagem da arte aborígene da condição de a vidade de culturas ex ntas da etnografia para a de
artes plás cas vivas.

..................

1 - Medalha da Ordem da Austrália.

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Ar sta Desconhecido

Tokampini (Escultura Tiwi com um Único Pássaro)

Escultura em madeira com pigmentos terrosos naturais

No romance épico "Capricornia" (1938), de Xavier


Herbert, o autor previu que o futuro da sociedade
australiana, e seus novos heróis, seriam aquelas
1 pessoas de descendência mes ça de aborígenes e
não aborígenes. Acredito que agora os australianos
Tommy Watson, 1935 Abie Loy Kemarre, 1974 contam com pelo menos uma noção das muitas
Wingellina, Território do Norte, Utopia, Território do Norte, facetas da arte aborígene e da realidade, "com
Deserto Ocidental, Pitjantjatjarra Deserto Oriental, Alyawerre
todos os seus defeitos", de nossa sociedade ainda
Sem tulo, 2014 O Sonhar da Folha de Arbusto, 2008 não resolvida e nossa jornada comum juntos.

Tinta acrílica sobre linho belga Tinta acrílica sobre linho belga

A Terceira fase foi o início do movimento dos "pontos e círculos do Deserto Ocidental" com pinturas
sobre tela produzidas em Papunya, a noroeste de Alice Springs, a par r do início da década de
1970. Paddy Fordham Wainburranga, 1941 – 2006
Beswick, Território do Norte, Katherine, Rembarrnga
A Quarta fase veio com o ressurgimento da arte do sudeste e do uso do termo "arte aborígene
urbana" (que gerou uma forte polêmica entre os próprios ar stas) no começo dos anos 80. O Espírito de Balangjalngalan, c.1990

Escultura em madeira com pigmentos


A Quinta fase, a par r da década de 1990, é quando os povos aborígenes começaram a fazer terrosos naturais
curadoria, escrever e conquistar uma pequena parcela de controle sobre a comercialização e a
"leitura" de nossa própria cultura. Os resultados con nuam sendo confusos.

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Lily Nungarayi Hargrave
1930
Lajamanu
Território do Norte
Deserto de Tanami
Warlpiri Declan Apua mi, 1930 – 1985
Wuramiyanga, Território do Norte, Ilha Bathurst, Tiwi
O Sonhar das Mulheres
1991 Pamajini (Braçadeiras para Cerimônias), c.1984

Tinta acrílica sobre tela Pigmentos terrosos naturais sobre entrecasca de eucalipto

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A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO
D
epois de mais de 60.000 anos de ocupação con nua por seus habitantes
aborígenes, a Austrália foi "descoberta" pelo Capitão James Cook em 1770.
DO MOVIMENTO DE ARTE Dezoito anos mais tarde, o governo britânico enviou o Capitão Arthur Phillip (que
havia passado sete anos na Marinha portuguesa) para tomar posse do
MODERNA ABORÍGENE con nente em nome da coroa inglesa. Ele fez uma parada no Rio de Janeiro vindo da Inglaterra
para abastecimento e fazer contato com o conselho do Governador de Portugal, o Vice-Rei Luís de
Vasconcelos, o sucessor de seu bom amigo e admirador, o Marquês do Lavradio. Ao chegar à
Austrália, fundou um assentamento na enseada de Sidney, a par r de onde a coroa iria governar
Adrian Newstead OAM 1 um país duas vezes o tamanho da Índia e apenas um pouco menor do que o Brasil. Os britânicos
consideraram o país uma "terra nullius", uma terra vazia.

Ao longo do século seguinte, os 1colonos se espalharam por todo o país desapropriando os


primeiros povos de suas terras. Durante o século seguinte, os povos aborígenes foram
"protegidos" por uma rigorosa rede de leis especiais que controlava seus movimentos, o
casamento, o comportamento sexual, o des no de seus filhos, o emprego, suas economias e o
consumo de álcool. Além da faixa costeira, a resistência aborígene à indústria pecuária em
expansão nha sido em grande parte dominada na década de 1930. Mais da metade dos 500 ou
mais clãs que exis am na época da chegada dos europeus viu-se reduzida devido à doença, à
violência e sua remoção das terras tradicionais. Aqueles que sobreviveram a essa inves da
violenta foram segregados em estações do governo, missões cristãs, reservas ou campos de
concentração. A única atrocidade à qual os aborígenes australianos não foram subme dos foi a
escravidão.
Jimmy Pike, 1940 – 2002
Fitzroy Crossing, Austrália Ocidental,
Grande Deserto Arenoso, Walmajarri

Yakarn, 1990

Tinta acrílica sobre tela


Coleção par cular, NSW

1 - Medalha da Ordem da Austrália.

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Até a década de 1960, a "Polí ca da Austrália Branca" manteve as pessoas de cor (incluindo os
asiá cos) fora do país. Os italianos e os gregos foram os primeiros da nova onda de imigrantes a
ganhar entrada na Austrália em grande número. Aqueles "tocados com a escova de alcatrão" *
eram rejeitados sociais. No início da década de 1970, vietnamitas, cambojanos e tailandeses
passaram a integrar essa leva e, na década seguinte, chegaram os libaneses e outros migrantes do
Oriente Médio. A Austrália moderna era agora vista do exterior como uma terra rica em recursos
naturais e com um aspecto sico impressionante, com uma vibrante mistura de culturas étnicas.
No entanto, na sua costa, seus povos na vos viviam em condições de Terceiro Mundo. Apesar de
suas vastas riquezas sicas e culturais, a sociedade australiana da década de 1970 passava por um
afastamento cultural profundo em relação a tudo que fosse europeu e por uma crise iden tária
cultural dentro do país.

[* mesmo tendo uma pequena quan dade de sangue aborígene – um termo adotado do uso de
alcatrão para conter o fluxo de sangue de um cordeiro depois da tosa]

O surgimento do movimento de arte aborígene moderna data desse período. Os primeiros sinais Essa surpreendente transformação de objetos etnográficos e produto turís co em arte
estavam entre os velhos homens da tribo no Deserto Ocidental e os jovens negros cultos no contemporânea viu os ar stas indígenas u lizando uma variedade de suportes. A par r de
ambiente urbano. Juntos, embora distantes, escreveram o capítulo mais emocionante e materiais rela vamente baratos, frequentemente ob dos em seu entorno imediato - incluindo os
transcendente da história da arte contemporânea australiana. pigmentos terrosos e restos de material de construção descartado até ntas de polímero de alta
qualidade, linho belga importado e os mais finos papéis de arte -, a produção cria va de áreas
No espaço de apenas 40 anos, os ar stas indígenas viriam a transformar a percepção de sua urbanas e remotas resultou em obras de arte contemporâneas que abriram seu caminho para
cultura de algo de interesse estritamente etnográfico em um dos grandes movimentos ar s cos acervos de arte significa vos em todo o mundo.
de todos os tempos. A suposição de que suas culturas individuais es vessem em ruínas, com os
úl mos remanescentes quase totalmente integrados à sociedade branca dominante, não Contudo, se a valorização deste legado ar s co único vesse sido deixado por conta somente dos
encontrou respaldo diante do crescente status adquirido pelos ar stas aborígenes. australianos, todo este empreendimento poderia muito bem ter fracassado. Sem o fascínio e o
apoio dos europeus, principalmente dos colecionadores franceses, alemães e suíços junto com
seus homólogos norte-americanos, o interesse pela arte aborígene teria definhado desde o
princípio.

No começo dos anos 80, o rendimento anual total de todas as vendas de artesanato e arte
aborígenes a ngiram US$ 2,5 milhões. No fim dessa mesma década, as vendas anuais de arte
aborígene alcançaram o patamar de US$ 20 milhões, dos quais mais de 80% representava obras
adquiridas por estrangeiros. O interesse na arte aborígene alcançou seu nível máximo.

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O NASCIMENTO DO MERCADO

ARTE ABORÍGENE - SÍMBOLOS E ÍCONES


A difusão do movimento de pintura aborígene em todo o con nente deu-se como um fogo que
lentamente foi abrindo caminho por uma trilha estreita no meio da pica gramínea Spinifex. Cada 1 2 3 4 5
lugar incendiado por esse fogo via sua temperatura subir em um momento e arrefecer no
seguinte, deixando um rastro negro carbonizado e de restolho com fumaça. Alguns tocos de
árvore estranhos con nuaram com labaredas muito tempo depois que o fogo nha se alastrado. 6 7 8 9 10
Mais tarde, surgiram os brotos novos em terreno fér l. A arte dos pintores mais importantes do
movimento de arte aborígene foi assim. O ardor do fogo que ainda queimava muito depois do
interesse nos ar stas de menos sucesso e no es lo regional que defendiam nha abrandado. 13 14 15
11 12

Os pintores de bark pain ng da Terra de Arnhem foram os primeiros a conquistar a atenção do


público. Até 1955, as obras de bark pain ng da Terra de Arnhem estavam sendo vendidas em lojas 20
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de arte nos Estados Unidos e em Londres pela primeira vez. Pouco tempo depois, a UNESCO
desenvolveu um programa que patrocinou exposições de bark pain ngs aborígenes na Europa e
nos Estados Unidos, assim como o acervo dessas obras para museus internacionais.
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À medida que aumentou a demanda por bark pain ngs e artefatos de qualidade ao longo da
década de 1960, pequenas empresas de artesanato pipocaram por todo o país. Em 1970, um 1 - HOMEM 15 - ESCUDO
2
jovem professor, Geoffrey Bardon, começou a trabalhar no assentamento remoto de Papunya, no 2 - MULHER 16 - GAMBÁ
coração do Deserto Ocidental. Quando procurou aconselhamento com os manobreiros, 3 - CHUVA 17 - FORMIGUEIRO
cozinheiros e vereadores aborígenes da cidade sobre um mural que as crianças queriam pintar na 4 - LANÇA DE CAÇA 18 - PEGADAS DE CANGURU
parede da escola, ele possivelmente não poderia ter imaginado o efeito es mulante que esse 5 - ACAMPAMENTO 19 - ENCONTRO DE QUATRO MULHERS
ocorrido teria sobre eles. Nem poderia ter previsto que esse mural provocaria uma revolução na 6 - LUGAR DE DESCANSO 20 - CAVANDO PARA ENCONTRAR
pintura que teria seus efeitos sen dos em todo o con nente nas décadas seguintes. 7 - DOIS HOMENS CONVERSANDO CLAPSTICK (INSTRUMENTO MUSICAL
8 - POÇA DE ÁGUA ABORÍGENE QUE ACOMPANHA O
2 - Bardon, Geoffrey, Papunya Tula, Art of the Western Desert,
Penguin books Australia, 1991 p 21.
9 - LUGAR DE ENCONTRO DIDGERIDOO)
10 - FUMAÇA, ÁGUA CORRENTE, RELÂMPAGO, 21 - PEGADAS NA AREIA OU TRILHAS DE ANIMAL
INCÊNDIO FLORESTAL 22 - LARVA DE MARIPOSA
11 - ESTRELA 23 - BUMERANGUE
12 - PESSOAS REUNIDAS 24 - INHAME
13 - POÇA DE ÁGUA LIGADA A ÁGUA CORRENTE 25 - FORMIGAS
14 - ARCO-ÍRIS, DUNAS OU NUVEM
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Bardon descreveu mais tarde o momento glorioso quando o mural da escola foi concluído e várias
pessoas aproximaram-se da parede e a tocaram mesmo antes de a nta secar. Ele escreveu: "os Jack Bri en, 1921 – 2002
homens aborígenes viam-se a sua própria imagem bem diante de seus olhos e em um prédio Frog Hollow, Austrália Ocidental,
europeu. Algo verdadeiramente estranho e maravilhoso nha começado.” Kimberley Oriental, Gija

O Tempo dos Sonhos


À medida que os ar stas começaram a transpor seus desenhos para qualquer super cie que lhes
de Guarloring, 1995
chegasse às mãos (madeira compensada e folhas de Masonite, caixotes e ocasionalmente até
vidraças an gas e chapas de ferro), o desejo de Bardon de libertar as pinturas da influência Pigmentos terrosos
ocidental levou os ar stas a explorar uma gama de símbolos gráficos apropriados que poderiam naturais sobre tela
ser vendidos para, ou vistos por, pessoas inexperientes. Enquanto uma forma em U poderia
representar um homem, talvez um caçador, círculos concêntricos poderiam representar várias
caracterís cas, incluindo colinas, locais dos corroborrees (encontros cerimoniais), olhos d'água ou
infiltrações. As linhas paralelas inteiras poderiam representar nuvens quando tracejadas e
alinhadas em pares, ou trajetos quando posicionadas entre locais específicos. Quando onduladas,
viriam a representar água corrente. A presença e os deslocamentos de vários animais seriam
demonstrados com figuras semelhantes a suas pegadas. A almofada redonda do pé cercada por .....................
pequenas marcas de dedos do pé simbolizava o dingo; um E mais plano, a trilha de um gambá. Um
canguru era representado pela impressão dos pés estendidos como duas linhas curtas ou ques
alinhados em ambos os lados de uma marca mais comprida que representa sua cauda achatada.
Dessa maneira, desenvolveu-se um léxico inteiro de símbolos. Com o tempo, isso permi u aos Em 1980, a pintura sobre tela foi se espalhando como um incêndio ao longo de uma frente,
ar stas contar as longas narra vas através da iconografia. O mais importante foi o fato de ter-lhes a ngindo os Desertos Australiano, de Tanami e Ocidental. Na década seguinte, a popularidade da
permi do registrar o movimento de um local a outro. pintura do deserto ofuscaria completamente todas as outras manifestações de arte aborígene.

Ao mesmo tempo, um número crescente de ar stas foram se aglomerando em torno de uma nova
coopera va urbana, Boomalli, no subúrbio da cidade de Chippendale. Alguns dos ar stas do
Boomalli nham frequentado a escola de arte, outros eram autodidatas. Fora de Boomalli, havia
aqueles que nham aprendido a fazer arte na cadeia, com orientação vocacional, ou em centros
comunitários nas cidades do interior. Por toda a Austrália onde o povo aborígene nha sido
marginalizado, estavam descobrindo que a arte poderia ser a chave de sua libertação. Lin Onus
começou como funileiro e pintor a pistola. Tracey Moffa fez home videos no quintal. Gordon
Syron aprendeu a pintar sozinho enquanto cumpria pena de dez anos por um homicídio tribal.
Outros pegaram formões e nta, dedicando seus primeiros trabalhos a parentes que nham
falecido sob guarda da polícia, ou foram assassinados defendendo suas terras.

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As primeiras placas de arte foram criadas no extremo norte da Austrália Ocidental por Paddy
Jaminji e Rover Thomas, dois ar stas de East Kimberley, e apareceram para venda no início dos
O PROTAGONISMO
anos 80. Isso aconteceu após o boom da mineração em Kimberley durante a década de 1970 em DA ARTE ABORÍGENE
meio a amargos confrontos entre a polícia e os manifestantes. O represamento do Rio Ord nha
deixado grandes faixas de terra aborígene cobertas pelas águas do Lago Argyle, incluindo locais
sagrados. Com a indústria pecuária em declínio, os anciãos Gija, influentes de East Kimberley, Antes da década de 1980, o viés eurocêntrico do mundo da arte predominantemente branco
interpretaram a destruição de Darwin e arredores pelo ciclone Tracey, em 1974, como um aviso da raramente foi desafiado. Agora, porém, havia tanta a vidade cria va entre os ar stas indígenas
Serpente Arco-Íris contra os modos do Gadiya (homem branco). que o direcionamento curatorial das principais ins tuições de arte da Austrália passou por uma
mudança radical.
As primeiras pinturas carregadas sobre os ombros dos dançarinos nas cerimônias nham o
obje vo de resgatar a cultura de Kimberley, nunca para a venda. Entretanto, no começo da década Em 1981, as pinturas do Deserto Ocidental foram incluídas no Perspecta, na Art Gallery of New
de 1980, essas obras nham se tornado objeto de interesse comercial. Desde o início, essas South Wales. Uma grande pintura de areia, criada por um grupo de anciãos de Lajamanu, foi o
pinturas intensas e terrenas destacaram-se pelo diferencial aprecia vo das obras pon lhadas em destaque da Bienal de Sidney em 1983, e para a segunda edição do Australian Perspecta, no
acrílico policromá co mais conhecidas que estavam sendo criadas em Papunya no mesmo AGNSW, foram selecionadas oitenta obras de Ramingining, na região central da Terra de Arnhem.
período. O isolamento da região de Kimberley incen vou um desenvolvimento à parte. Jaminji, e Aqui, na vanguarda do mundo de arte branco, pela primeira vez as obras tradicionais foram
os outros que o seguiram, preferiu trabalhar apenas com os tradicionais tons de ocre, dispensando instaladas sem a costumeira explicação cultural sobre as paredes brancas nuas da galeria.
3
a nta acrílica como "lixo" do gadiya. Claypans, Canning Stock Route, c.1985, são picas pinturas Posteriormente, essas obras viajaram com uma seleção de pinturas do Deserto Ocidental para
de Rover Thomas do período. Pintadas em madeira compensada de material de construção par cipar da XVII Bienal de São Paulo, no Brasil.
descartado, a super cie altamente texturizada delineia os contornos reais do país e transmite a
sensação de que os traços dos desdobramentos temporais dos acontecimentos estão O fluxo irreversível da espetacular arte aborígene exigiu reconhecimento nacional formal. Assim,
incorporados à obra. em 1984, Margie West, curadora de arte aborígene do Museum and Art Gallery of the Northern
Territory, realizou a primeira edição do Prêmio Nacional de Arte Aborígene. O vencedor foi
Michael Nelson Tjakamarra, que havia acabado de concluir uma importante obra des nada ao
Andrew Wanambi Margalulu, 1959 – c.2012 foyer norte da Ópera de Sidney e um carro de corrida BMW M3 pintado à mão, colocando-se,
Ramingining, Território do Norte, assim, ao lado de ar stas como Robert Rauchenburg, Andy Warhol e Alexander Calder.
Terra de Arnhem Central, Djinang

Abrigo do Yolngu, 1997

Litogravura sobre papel ..................

3 - Homem branco.

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O MERCADO EM
DESENVOLVIMENTO
No final da década de 1980, a efervescência voltou-se, mais uma vez, para a Terra de Arnhem, onde
ocorria uma nova onda de inovação. A demanda do mercado por produtos diversificados levou à
criação de esculturas em madeira de coníferas retratando figuras ancestrais totêmicas e
espirituais. Diversos ar stas especializaram-se no uso desse suporte, incluindo a entrecasca de
árvore, como England Bangala, Mick Kubarkku e David Malangi, cujo desenho nha sido usado,
sem sua autorização, na nota de 1 dólar australiano.

Em meados da década de 1980, Alice Springs tornou-se o núcleo de uma rede de comunidades
produtoras de arte. Contudo, a verdadeira movimentação ocorria entre os ar stas Warlipi de
Yuendumu, os Kukatja de Balgo Hills e os ar stas de Anmatjerre Oriental em Utopia. Parecia haver
aqui uma ênfase na luminosidade, em um uso mais livre das cores e da expressão. Se houve uma
...........................

ar sta que exemplificasse essa mudança e elevasse a arte aborígene ao nível de protagonista no
circuito de arte, ela certamente foi Emily Kame Kngwarreye que, aos 79 anos de idade, criou as
primeiras 5.000 obras de sua produção nos úl mos sete anos de sua vida.
Ray Young, 1951 – 2009
Sidney, Nova Gales do Sul Nota de 1 dólar australiano
Costa Leste

Iº Prêmio de
Arte Aborígene, 1984

Silk-screen sobre papel

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Com a chegada do fim da década de 1980, os ar stas indígenas australianos viram-se enaltecidos
no cenário mundial. O clímax foi Dreamings - The Art of Aboriginal Australia, do Asia Society, cuja GRAVURA ABORÍGENE
i nerância cobriu as cidades de Nova York, Chicago, Los Angeles, Melbourne e Adelaide. Segundo o
4
antropólogo americano Fred Myers, “o público americano ficou absolutamente fascinado”. Apesar de um número reduzido de ar stas aborígenes terem trabalhado com gravura nos idos de
Dreamings atraiu um público de 27.000 visitantes ao Asia Society em Nova York, o maior de todas 1965, esse suporte era de uso rigorosamente restrito aos ar stas urbanos até 1980. A par r daí,
as exposições já realizadas ali na época. O acontecimento marcou a primeira ocasião em que a arte vários gravadores e ateliês trabalharam oportunamente com ar stas aborígenes em suas visitas a
aborígene foi apresentada como uma forma de expressão das "artes plás cas" em um espaço fora Camberra, Sidney e Melbourne. Em 1989, a exposição que marcou época, New Tracks Old Land,
de um museu de história natural. Isto foi uma inves gação bastante intelectual em torno do apresentou 91 trabalhos representando cada marco histórico na história da gravura aborígene até
imaginário tradicional. Com curadoria de antropólogos brancos, explorou paralelos com a arte aquele momento, fazendo uma i nerância pela América do Norte.
5
contemporânea e foi recebida com uma crí ca extraordinária.
6
A exposição abriu em Boston, em 1991. Foi um caso impressionante para o qual a ar sta
A ascensão da pintura acrílica nas artes plás cas foi sinalizada em resenhas nas principais mul mídia de Queensland Arone Meeks criou uma grande escultura site specific. O grupo de rock
publicações e periódicos, desde o New York Times e Time Magazine até o Art in America. Kaye aborígene Yothu Yindi realizou um grande espetáculo na galeria antes de a exposição sair em turnê
Larson, crí ca de arte da New York Magazine, escreveu: "O Modernismo nos permi u para Nova York, St Louis, Sea le, Santa Fé e outras cidades em todos os Estados Unidos entre 1991
compreender o ponto de vista aborígene... A força da arte aborígene, em sua melhor forma de e 1995. A revista de arte internacional Art In America publicou uma resenha sobre a exposição,
expressão, é tão forte quanto qualquer pintura abstrata que eu possa imaginar. Fiquei me que foi designada pelo Boston Globe como a 4a melhor exposição i nerante a visitar os Estados
lembrando de Jackson Pollock, que também espalhou o peso emocional do pensamento e da ação Unidos em 1992.
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em todos os espaços vazios de sua tela..."
Uma exposição paralela com o mesmo nome percorreu os 25 locais australianos no início dos anos
A Europa também abraçou com grande entusiasmo a arte indígena no fim da década de 1980. Seis 90. Nessa época, foram realizados os simpósios Ge ng Into Print, em Darwin e Alice Springs,
ar stas de Yuendumu par ciparam da exposição Magiciens de la Terre, no Centro Georges contando com a par cipação de mais de 300 ar stas, coordenadores, administradores e
Pompidou, em Paris. Quando Rover Thomas e Trevor Nickolls expuseram na Bienal de Veneza em gravadores. Esses eventos anunciaram o vibrante movimento de gravura aborígene
1990, a arte aborígene claramente nha chegado ao circuito mundial e rumou inexoravelmente contemporânea de hoje.
para as galerias da "caixa branca".

Era o romper de uma nova era dominada por "estrelas de arte".

..................

4 - Myers, F.R., Pain ng Culture, Duke University Press, EUA, 2002, p 206.. 5 - Com curadoria da Seção de Antropologia do South Australian Museum, foi
acompanhado por um livro publicado por Peter Su on, com excelentes ensaios de Su on, Christopher Anderson, Philip Jones e Françoise Dussart. 6 - Myers, F.R.,
Pain ng Culture, Duke University Press, EUA, 2002, p 277. 7 - Larson, Kaye. 1988. Their Brilliant Careers. New York Magazine, 4 de outubro, 148-50

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O MERCADO FLORESCENTE Quando os Jogos Olímpicos foram realizados em Sidney no ano 2000, as vendas de arte aborígene
superaram os US$ 100 milhões e a Austrália foi levada pelo Great Interna onal Art Bubble que
Entre 1980 e 1987, a quan dade de galerias de arte aborígene e lojas de artesanato aumentou assolou o mundo da arte até a chegada da Crise Financeira Global no final de 2007. Apesar do revés
rapidamente com a entrada de importantes galerias privadas nessa área. A indústria cresceu enfrentado pela arte aborígene juntamente com todo o mercado de arte, a recuperação veio em
ver ginosamente, saltando de US$ 2,5 milhões para US$ 14 milhões até o final da década de 1980. 2011 e hoje está tão forte como sempre foi.

A potência internacional Sotheby's sempre havia incluído bark pain ngs em suas vendas de arte Atualmente em toda a Europa, de Madrid a Bordeaux, de Roma a Paris e de Miami a Sea le,
tribal. Contudo, quando introduziu as primeiras pinturas de Papunya e Kimberley no fim dos anos colecionadores de arte aborígene australiana compar lham sua paixão com os outros. As
80, a casa de leilões viu uma autên ca virada de jogo no tocante à arte aborígene. O fato de a exposições na Austrália e no exterior con nuam a comprovar o gênio cria vo de uma tradição de
Sotheby's estar preparada para imprimir sua marca oficial nas obras aborígenes modernas foi um 60.000 anos de idade; uma tradição que, apesar das rápidas mudanças sofridas durante os séculos
sinal ao mundo de que essas obras eram importantes e colecioná-las era uma a vidade séria, XX e XXI, con nua a resis r e iluminar aqueles que têm olhos para ver e o coração para se
8
mesmo diante da falta ainda de um discurso crí co sobre a arte na época. emocionar com sua beleza, sua an ga narra va e suas verdades eternas.

Em 1995, quando a Sotheby's realizou seu primeiro leilão exclusivamente de arte aborígene na © Adrian Newstead
Austrália, as vendas saltaram para US$ 45 milhões por ano. As exposições individuais, um Bondi Beach, February 2016
fenômeno raro antes, nham se tornado corriqueiras. Este período também marcou o surgimento
das pintoras mulheres que se transformariam, no novo milênio, na mais potente força em um
movimento que já nha sido quase totalmente dominado pelos homens. Uma oficina de pintura
perto de Haasts Bluff, no Deserto Ocidental, abrigou as primeiras pinturas criadas por mulheres
Pintupi, que viriam a causar um sucesso estrondoso no mundo da arte.

Dennis Nona, 1973


Ilha Badu, Queensland, Ilhas do
Estreito de Torres, Kuku Lagaw Yah
..................
Saulal, 2010

Gravura a água-forte

Edição: 16/45

8 - Isso fica evidente hoje pelo desinteresse nas revendas de obras de arte de vários ar stas de enorme sucesso na época. Muitos agora foram relegados em status e
colocados no âmbito do artesão repe vo ou produtores de obras sofis cadas para turistas. Dentre estes figura um número enorme de pintores de obras em entrecasca
de eucalipto da Terra de Arnhem, bem como uma quan dade grande de ar stas de Papunya, Mount Allan, Napperby e Haasts Bluff, que, na época, apareciam entre os
produtores mais prolíficos da arte do deserto.

36 37
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Jack Bri en, 1921 – 2002
Milliga Napaltjarri, 1921 – 1994
Frog Hollow, Austrália Ocidental,
Balgo Hills, Território do Norte,
Kimberley Oriental, Gija
Grande Deserto
Arenoso, Kukatja
O Tempo dos Sonhos de Guarloring,1995
Purrungu, perto de Kiwikurra no
Pigmentos terrosos naturais sobre tela
Grande Deserto
Arenoso, 1993
Loren & Myrtle Pennington, 1935-2008
Tinta acrílica sobre tela Tjuntjuntjarra, Austrália Ocidental, Grande
Deserto de Vitória, Pitjantjatjarra

Nyarnkurn and Karna, 2002

Tinta acrílica sobre linho belga

38 39
Sally Morgan, 1951
Perth, Austrália Ocidental, Pilbara, Bailgu

Mulheres Reunidas, 1987 Dennis Nona, 1973


Ilha Badu, Queensland, Ilhas do Estreito
Tinta acrílica sobre tela de Torres, Kuku Lagaw Yah

Naath (State I), 1993

Gravura sobre papel

Prince of Wales Midpul, 1938 – 2002 Ar sta Desconhecido


Belyuen, Território do Norte, Darwin, Larakia
Tunga, 1986
Marcas no corpo, 2000
Pigmentos terrosos naturais sobre
Tinta acrílica sobre tela entrecasca de eucalipto

40 41
Ar sta Desconhecido

Tokampini (Escultura Tiwi com um Único Pássaro)

Escultura em madeira com pigmentos terrosos naturais

Hector Jandanay Joongoorra, 1920 – 2004


& Adam Rish, 1953
Balgo Hills, Território do Norte,
GrandeDeserto Arenoso, Kukatja,
Sidney, Nova Gales do Sul,
Costa Leste

O Úl mo Espetáculo, 1996 Red Back Graphics


Pigmentos terrosos naturais sobre linho belga Design e Cartaz de
Exposição, 1982

Silk-screen
sobre papel

42 43
Queenie McKenzie, 1930 – 1998
Turkey Creek, Austrália Ocidental,
Kimberley Oriental, Gija
Fa ma Kan lla, 1971
Pulurumpi, Território do Norte, Ilha Melville, Tiwi As Três Irmãs, Montanhas Azuis, 1997

Esta Manada Vai Caçar, 1990 Pigmentos terrosos naturais sobre tela

Silk-screen sobre papel fine-art


Edição: 5/35

..................

Angelina Tjaduwa Woods, 1954


Tjuntjuntjarra, Austrália Ocidental, Grande Deserto
de Vitória, Pitjantjatjarra

Pirapi, 2011

Tinta acrílica sobre tela

44 45
AUSTRÁLIA
Fotografia: Emmanuelle Bernard.

AUSTRÁLIA

WURAMIYANGA
PULURUMPI

RAMINGINING
MILIKATPITI

OENPELLI
BESWICK
KALUMBURU
ILHA BADU
DERBY
FITZROY CROSSING

BILILUNA

MANINGRIDA
MULLUN
TURKEY CREEK

BELYUEN
BALGO HILLS
FROG HALLOW CAIRNS

TERRITÓRIO
DO NORTE

QUEENSLAND

AUSTRÁLIA CHARLEVILLE
1 2 3 OCIDENTAL
TJUNTJUNTJARRA AUSTRÁLIA
DO SUL CUMERAGUNJA

PERTH
NOVA GALES
DO SUL COBDOLGA NABIAC

1e3 2 SYDNEY
VICTORIA
Homens Iny/Karajá Xoha
Ilha do Bananal, etnia Iny/Karajá Etnia Iny/Karajá, Ilha do Bananal
NT
Raheto (Cocar Iny/Karajá) Mandala karajá, 2017 LAJAMANU
TASMÂNIA

YUENDUMU UTOPIA
Penas de urubu, arara e jaburu, hastes de jabu , Tinta acrílica sobre tela WINGELLINA NAPPERBY
algodão e aro de taquara Obra comissionada especialmente PAPUNYA
D E S E R T O KINTORE
Obras cedidas pelo Museu do Índio, RJ. para esta exposição CENTRAL

SA

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Coo-ee Art Gallery, Sidney, Austrália. Cortesia: 2 levels exhibi ons - art & culture.

Este é um projeto de colaboração entre Coo-ee Art Gallery


- a galeria de arte aborígene mais tradicional da Austrália
www.cooeeart.com.au e 2 Levels exhibitions - art & culture.

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O Tempo dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália
Organização: 2 levels – arte & cultura (Brasil-Austrália) e Edição: Clay D´Paula
Coo-ee Art Gallery, Sidney – Austrália Adrian Newstead

Curadoria: Clay D´Paula Design e diagramação: Flávio Mello -


Adrian Newstead www.agenciablank.com.br
Djon Mundine
Textos escritos especialmente para este catálogo
Consultoria: Ilana Goldstein na língua inglesa por Adrian Newstead e Djon
Germana Portella
Mundine – Tradução de Marisa Shirasun.

Agradecimentos:
2 levels - arte & cultura e Coo-ee Art Gallery expressam sua gra dão ao Sr. John Richardson, Embaixador da Austrália no
Brasil. Agradecimentos especiais a Tracy Reid, Conselheira e Vice-Chefe da Austrália no Brasil; Gary D. Mares, Ilana
Goldstein, Germana Portella, Dulce Schunck, Glênio Lima e Eli Braga.

Para ser doador de órgãos, lembre-se de avisar sua família.


Preserve o meio ambiente. Precisamos dele para viver.
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