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FICHAMENTO:

CASTELLS, Manuel. A outra face da terra: movimentos sociais contra a nova ordem global. ______. O poder da identidade. V. II.
6. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

Você parte da premissa de que o “neoliberalismo” é uma doutrina. [...]. Você acha que o “neoliberalismo” é uma doutrina capitalista criada
para enfrentar crises econômicas que o capitalismo atribui ao “populismo”. [...] o “neoclassicismo” [...]. [...], é a própria crise, transformada em
teoria e doutrina econômica! [...] não tem a mínima coerência, muito menos planos ou perspectivas teóricas (p. 93). 1

Globalização, informalização e movimentos sociais

A globalização e a informalização, determinadas pelas redes de riqueza, tecnologia e poder, estão transformando nosso mundo, possibilitando
a melhoria de nossa capacidade produtiva, criatividade cultural e potencial de comunicação. Ao mesmo tempo, estão privando as sociedades
de direitos políticos e privilégios. [...], a repentina aceleração do tempo histórico, aliada à abstração do poder em uma rede de computadores,
vem desintegrando os mecanismos atuais de controle social e de representação política. [...], as pessoas em todo mundo se ressentem da
perda do controle sobre suas próprias vidas, seu meio, seus empregos, suas economias, seus governos, seus países e, em última análise, sobre
o destino do planeta. [...], a resistência enfrenta a dominação, a delegação de poderes reage contra a falta de poder, e projetos alternativos
contestam a lógica inerente à nova ordem global, cada vez mais percebida pelas pessoas de todo o planeta como se fosse desordem. Contudo,
tais reações e mobilizações, [...], acontecem de forma pouco comum, agindo por meios inesperados (p. 93-94).2

1
Castells inicia o capítulo com uma epígrafe que reproduz uma conversa entre Durito e o subcomandante Marco, porta-voz dos Zapatistas. Durito é um personagem
retirado das historias de Marcos. É um besouro muito inteligente, conselheiro intelectual do subcomandante, mas tem medo de ser esmagado pelas guerrilhas ao seu
redor. Por isso pede que Marcos mantenha o movimento sob control. No texto, Durito fala sobre o neoliberalismo que aparece sob uma capa de teoria e doutrina destinada
a resolver as crises causadas pelo “populismo”, mas afirma que, na realidade, o neoliberalismo, que ele denomina “neoclassicismo”, é a própria crise.
2
Nesta passagem, Castells parece estar aludindo a duas coisas: primeiro a situação atual marcada pela globalização, aceleração da produção de riquezas através da
melhoria da capacidade produtiva, o que gera, ao mesmo tempo, perdas aos habitantes do planeta, nos mais variados aspectos; segundo, alude à desintegração dos
mecanismos de dominação tradicionais pela diversificação de opções de expressão popular devido a existência da rede de computadores. Ao que parece, as duas coisas
juntas favorecem formas inesperadas de manifestação política da sociedade civil.
FICHAMENTO:
CASTELLS, Manuel. A outra face da terra: movimentos sociais contra a nova ordem global. ______. O poder da identidade. V. II.
6. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

[...], traçarei um paralelo entre três movimentos que opõem explicitamente à nova ordem global dos anos 90, nascidos a partir de contextos
culturais, econômicos e institucionais extremamente diferentes, e veiculados por ideologias profundamente contrastantes: os zapatistas em
Chiapas, México; as milícias norte-americanas; e a Aum Shinrikyo (Verdade Suprema), uma seita japonesa (p. 94).

De forma própria, e pela dissonância criativa de suas múltiplas vozes, o ambientalismo também lança seu desafio à desordem ecológica global,
[...], o risco de suicídio ecológico, provocado pelo desenvolvimento global desenfreado e pelo desencadeamento de forças tecnológicas sem
precedentes sem que sua sustentabilidade social e ambiental tenha sido avaliada. Contudo, sua especificidade cultural e política e seu caráter
de movimento social pró-ativo, e não reativo, sugerem um tratamento analítico diferenciado para o ambientalismo, que se distingue dos
movimentos defensivos erigidos sobre trincheiras de identidades específicas (idem).3

3
Castells traça o plano do capítulo, informando que irá descrever comparativamente três movimentos sociais característicos da questão levantada sobre a desordem
trazida a partir dos anos 1990, enfatizando, contudo que o movimento ambientalista também está incluído no contexto e adquire importância, mas, possui características
próprias que o distinguem dos demais movimentos citados, criando a necessidade de analisa-lo em um capítulo em separado.
FICHAMENTO:
CASTELLS, Manuel. A outra face da terra: movimentos sociais contra a nova ordem global. ______. O poder da identidade. V. II.
6. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

[...], movimentos sociais devem ser entendidos em seus próprios termos: em outras palavras, eles são o que dizem ser. Suas práticas (e sobretudo as práticas discursivas)
são sua autodefinição. Tal enfoque nos afasta da pretensão de interpretar a “verdadeira” consciência dos movimentos, como se somente pudessem existir revelando as
contradições estruturais “reais”. Como se, para vir ao mundo, tivessem necessariamente de carregar consigo essas contradições, [...]. Uma linha de pesquisa diferente e
necessária consiste em estabelecer a relação entre os movimentos, conforme definido por suas práticas, valores e discurso, e os processos sociais aos quais parecem estar
associados, por exemplo, globalização, informacionalização, crise da democracia representativa e predominância da política simbólica no espaço da mídia. Em minha
análise, tentarei trabalhar em ambas as linhas: a caracterização de cada movimento, nos termos de sua própria dinâmica específica, e sua interação com os processos mais
amplos que sustentam sua existência e se modificam justamente em função dessa existência (p. 94-95).4

[...], os movimentos sociais podem ser conservadores, revolucionários, ambas as coisas, ou nenhuma delas. [...], do ponto de vista analítico, não há movimentos sociais
“bons” ou “maus”. Todos eles são sintomas de nossas sociedades, e todos causam impacto nas estruturas sociais, em diferentes graus de intensidade e resultados distintos
que devem determinados por meio de pesquisas. [...], parto do princípio de que todos representam indícios significativos de novos conflitos sociais, germes de resistência
social e, em alguns casos, de transformação social (p. 95).

[...], creio que seja apropriado incluí-los em categorias nos termos da tipologia clássica de Alain Touraine, que define movimento social de acordo com três princípios: a
identidade do movimento, o adversário do movimento e a visão ou modelo social do movimento, que aqui denomino meta societal. [...], identidade refere-se á
autodefinição do movimento, sobre o quem ele é, e em nome de quem se pronuncia. Adversário refere-se ao principal inimigo do movimento, conforme expressamente
elaborado pelo próprio movimento. Meta societal refere-se à visão do movimento sobre o tipo de ordem ou organização social que almeja no horizonte histórico da ação
coletiva que promove (p. 95-96)5.

4
Castells inicia com considerações metodológicas para informar ao leitor quais as orientações que o norteiam no estudo. Inicialmente, remete a duas opções de
direcionamento da pesquisa quando se trata dos movimentos sociais: levar em consideração tais movimentos em seus próprios termos, sem procurar encontrar uma
consciência oculta, derivada das condições estruturais; analisá-los na interação que possuem com os processos mais amplos das condições históricas em que se inserem,
que lhe dão sua feição própria e que são modificados pela sua existência. Castells propõe uma análise que incida sobre as duas coisas.
5
Como o próprio autor está afirmando, ele altera a caracterização original dos três principais enfocados por Touraine que seriam: o princípio da identidade, princípio da
oposição e princípio da totalidade. De acordo com Castells, a alteração foi feita com o intuito de facilitar a compreensão dos princípios pelos leitores internacionais, de
modo que diz respeito á mesma caracterização, embora nomeadas de forma diferente.

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