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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL

ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Programa Empresário Rural

módulo 1

Custo de Produção
e Rentabilidade na
Agricultura
“O SENAR-AR/SP está permanentemente
empenhado no aprimoramento profissional e
na promoção social, destacando-se a saúde
do produtor e do trabalhador rural.”
Fábio Meirelles
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gestão 2008-2012

Fábio de Salles Meirelles


Presidente

AMAURI ELIAS XAVIER JOSÉ EDUARDO COSCRATO LELIS


Vice-Presidente Diretor 2º Secretário

EDUARDO DE MESQUITA ARGEMIRO LEITE FILHO


Vice-Presidente Diretor 3º Secretário

JOSÉ CANDÊO LUIZ SUTTI


Vice-Presidente Diretor 1º Tesoureiro

MAURÍCIO LIMA VERDE GUIMARÃES IRINEU DE ANDRADE MONTEIRO


Vice-Presidente Diretor 2º Tesoureiro

LENY PEREIRA SANT’ANNA ANGELO MUNHOZ BENKO


Diretor 1º Secretário Diretor 3º Tesoureiro

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL


Administração Regional do Estado de São Paulo
Conselho Administrativo

Fábio de Salles Meirelles


Presidente

DANIEL KLÜPPEL CARRARA EDUARDO DE MESQUITA


Representante da Administração Central Representante do Segmento das Classes Produtoras

BRAZ AGOSTINHO ALBERTINI AMAURI ELIAS XAVIER


Presidente da FETAESP Representante do Segmento das Classes Produtoras

Mário Antonio de Moraes Biral


Superintendente

Sérgio Perrone Ribeiro


Coordenador Geral Administrativo e Técnico
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

empresário rural

módulo 1

Custo de Produção e
Rentabilidade na Agricultura

São Paulo - 2009


IDEALIZAÇÃO
Fábio de Salles Meirelles
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP

COORDENAÇÃO
Jair Kaczinski
Chefe da Divisão Técnica do SENAR-AR/SP

AUTORES
Eliseu Alves
Pesquisador da Embrapa, Eliseu.Alves@embrapa.br

Luís Alberto Ambrósio


Pesquisador Científico do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico de Campinas
- APTA, ambrosio@iac.sp.gov.br

DIAGRAMAÇÃO
Thais Junqueira Franco
Diagramadora do SENAR-AR/SP

Direitos Autorais: é proibida a reprodução total ou


parcial desta cartilha, e por qualquer processo, sem a
expressa e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
Material impresso no SENAR-AR/SP

 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


1. Introdução

O empresário rural utiliza os seguintes capitais para efetuar um negócio que lhe gere renda
de forma sustentável: Capital Financeiro, Capital Físico, Capital Natural, Capital Humano e
Capital Social. Usar capitais em negócios com o objetivo de obter rendas significa investir.
O sucesso de um negócio depende da elaboração do projeto de investimento. O projeto de
investimento inicia-se com a realização do diagnóstico da situação atual da empresa em
termos de estoques dos capitais sociais, humanos, naturais, físicos e financeiros disponíveis.
O diagnóstico envolve investigação, coleta, registro, ordenação e análise de dados e
informações. As análises do diagnóstico são de dois tipos: (A) análise dos rendimentos atuais
proporcionados pelas atividades da empresa e (B) análise das informações para identificar
os pontos fortes e os pontos fracos do empreendimento atual. Estas análises são úteis para
o planejamento de negócios agropecuários.

O diagnóstico é iniciado com uma apresentação geral da empresa. A apresentação geral


fornece uma idéia sobre a empresa, quem são os responsáveis, qual o tamanho, as atividades
atuais, a produtividade e a sua história.

Exemplo 1. Apresentação Geral da Empresa.

Apresentação Geral da Empresa.

Nome da Empresa: Fazenda São Manoel

Localização: Bairro Sapezeiro Município: Santa Bárbara - SP

Proprietário: Manoel Silva Neto Área Total: 600 hectares

Caracterização Geral: A Fazenda São Manoel trabalha com a integração da agricultura e


pecuária de leite tipo “B”, cultivando a soja e o milho na área de reforma do pasto. Todos os
anos, são reformados 150 ha de pasto com braquiária. Na área de reforma, são cultivados
75 ha com milho (produtividade de 100 sc/ha) e 75 ha com soja (produtividade de 50 sc/ha),
usando o plantio direto. Atualmente, 250 ha de pasto são usados por 500 vacas holandesas
que estão produzindo leite, outros 76 ha de pasto são usados por vacas secas novilhas e
bezerras de recria. O gado se alimenta do pasto de braquiária e tem suplementação alimentar
no cocho com milho, soja e capineira. A capineira é comprada do vizinho. A produção média
por vaca é de 10 kg leite B/dia. O intervalo de parto é de 12 meses, produzindo 1 bezerro
por ano/vaca. Usa inseminação artificial.

A Fazenda São Manoel foi fundada em 1981 com o desmembramento da Fazenda Três
Irmãos cujas terras eram parte da antiga “Sesmaria do Barão”, doada pelo Império em
meados de 1870 ao Barão dos Toledos. Em 1940 Manoel Silva (avô do proprietário atual)
adquiriu as terras dos herdeiros do Barão, as culturas principais eram sisal e algodão. Em
1970 as terras da sesmaria foram herdadas pelos irmãos Manoel Silva Filho, João Silva e
Joaquim Silva que criaram a Fazenda Três Irmãos dedicada a produção de milho e algodão
até 1981.

 O empresário organiza a produção e assume os riscos de produzir, o empresário não é dono ou proprietário
do capital. O capitalista é dono do capital. Um indivíduo pode ser empresário, ser capitalista ou ser capitalista-
empresário ao mesmo tempo.

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Exemplo 2. Análise dos pontos fortes e fracos da apresentação geral da Fazenda São
Manoel.

Pontos fortes: Integração pecuária e agricultura e plantio direto. Boa produtividade das
culturas e boa lotação animal/ha. Experiência nas atividades. O leite “B” agrega valor e a
raça Holandesa é adequada para produção de leite.

Pontos fracos: processo de divisão das terras e compra de capineira.

2. Descrição do Capital Social

O estoque de Capital Social é formado pelas relações e vínculos que se estabelecem entre
as pessoas. O ser humano é um ser social, não vive isoladamente, vive em sociedade com
o objetivo de alcançar melhor qualidade de vida para si e para a humanidade. A unidade
básica da sociedade é a família, pois ela é o berço em que se desenvolvem as relações das
pessoas com a comunidade e com a sociedade em geral. Para uma pessoa do meio rural
a comunidade é formada pelos vizinhos, colegas de trabalho, colegas de escola, colegas
de clubes, membros de igreja, partidos políticos, sindicatos, associações de produtores,
cooperativas etc. Quanto mais a pessoa interage com a família e com a comunidade, maior
é o seu Capital Social. Ao interagir com as outras pessoas da família ou da comunidade,
adquire mais confiança nelas, passando a conhecer seus comportamentos, habilidades,
intenções e competências pessoais. Por outro lado, o mesmo ocorre com a comunidade
que adquire mais confiança na pessoa. Esta confiança é fundamental para as pessoas se
envolverem em projetos de interesse da comunidade e a comunidade apoiar os projetos
individuais. É esta confiança que leva as pessoas a serem sócias, parceiras e colaboradoras.
O Capital Social é o produto desta confiança recíproca.

No diagnóstico do Capital Social é importante obter respostas para duas perguntas:

O Capital Social está cumprindo seu papel na busca de melhor qualidade de vida para o
indivíduo, a família e a comunidade?

Como estão as interações entre as pessoas na Família e na Comunidade?

Para obter as respostas a estas perguntas, é necessário entender melhor o que são: Família
e Comunidade.

2.1. Família

A Família é um grupo de pessoas com diferentes graus de parentescos. Os membros da


família podem trabalhar e serem donos de um mesmo empreendimento, formando uma
Empresa Familiar. Também pode ocorrer que alguns membros da família tenham seus
negócios próprios dentro ou fora da propriedade familiar. Há, ainda, pessoas da família que
são empregados de terceiros. O importante é reconhecer que a Família possui uma renda
que é usada para as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde, educação, lazer
e outras despesas.

Um obstáculo para o desenvolvimento dos negócios da família é a ocorrência de litígios

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motivados por processos de herança. Quanto mais unida for a família, mais fácil será a
resolução de conflitos.

Você certamente deve pensar que a Família seja algo mais do que isto, mas são estas
características que têm aplicações práticas na elaboração de um projeto de investimento.

2.1.1. Descrição do Capital Social da Família

Para fazer o diagnóstico do Capital Social da Família são necessárias as seguintes


informações: a estrutura da família e os negócios atuais dos seus membros.

Exemplo de diagnóstico do estoque de Capital Social da Família.

A) Descrição da estrutura da família, os negócios e os trabalhos de seus membros. Considera-


se como membros todas as pessoas que vivem da Renda Familiar.

Exemplo 3. Descrição da estrutura familiar da Fazenda São Manoel.

A família é formada pelo casal fundador da empresa e os seus dois filhos, duas noras, um
neto e uma neta. Moram em três casas construídas na propriedade. Todos trabalham e vivem
na propriedade. A estrutura familiar é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Estrutura familiar e os negócios da família.

Nome da Grau de
Idade Negócios e trabalhos atuais
pessoa parentesco
Manoel Avô 63 Administra a fazenda
Maria Avó 61 Doméstica
Luis Filho 38 Trabalha na fazenda
Ana Nora 37 Trabalha na fazenda
Mario Filho 36 Trabalha na fazenda
Paula Nora 36 Trabalha na fazenda
José Neto 15 Trabalha na fazenda e estuda
Luisa Neta 13 Estuda

B) Para concluir o diagnóstico do Capital Social da Família é necessário responder as


questões: A Família está cumprindo seu papel na busca pela qualidade de vida? Como está
a interação entre os membros da Família?

As informações acima são analisadas para identificar os pontos fortes e os pontos fracos
da Família, como mostra o Exemplo 4.

Exemplo 4. Conclusão do diagnóstico da Família da Fazenda São Manoel.

As pessoas da Família trabalham na empresa. A renda da empresa dá para manter todos.


A interação na família é boa, um ajuda o outro no que for preciso e não há conflitos. Falta
participação nas decisões.

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Pontos fortes: Família unida. Todos trabalham. Não há conflitos.

Pontos fracos: Excessiva centralização das decisões.

2.2. Comunidade

Como já explicamos, a comunidade é formada pelas pessoas com as quais o empresário


interage. Para fazer o diagnóstico do Capital Social formado pela comunidade é necessário
descrever os seguintes tópicos:

A) Os grupos da Comunidade do empresário rural. Indique o nome do grupo e qual é a


participação do empresário e de outras pessoas. Indique se essas participações são
ativas ou passivas.

B) A confiança e a solidariedade. Qual é o grau de confiança e solidariedade entre os


membros da comunidade do empresário?

C) As ações sociais. As pessoas da comunidade participam ativamente (trabalhando e


dando opiniões) em ações sociais de interesse comum?

D) Os meios de comunicação e a troca de informações entre os membros da Comunidade.


Todas as pessoas ficam sabendo das novidades e outras informações?

E) A união da Comunidade e os fatores que dificultam a união, tais como os conflitos e a


violência na comunidade.

F) Como o poder é exercido na comunidade. Há participação em atos públicos, votação,


grau de controle da própria vida, confiança no governo e nas instituições públicas?

G) Quanto o empresário gasta por ano com a sua Comunidade.

A conclusão do diagnóstico do Capital Social da Comunidade tem a análise dos tópicos acima
e a identificação dos pontos fortes e dos pontos fracos da Comunidade. Depois, responda:
A Comunidade está cumprindo o seu papel na busca pela qualidade de vida? Como está a
interação entre as pessoas da Comunidade?

Exemplo 5. Descrição do Capital Social da Comunidade.

Os grupos de minha Comunidade são: Igreja, Associação dos Produtores da Micro-bacia,


Sindicato Rural, Time de Futebol e Bairro Rural. Todas as pessoas do Bairro se conhecem e
freqüentam a Igreja. Na Associação, são poucos os produtores que participam das reuniões.
No Sindicato Rural só os proprietários são associados, mas os familiares estão fazendo
cursos de treinamento no sindicato. O Time de Futebol está mal, faltam jogadores reservas
e torcida.

A confiança nos grupos e entre as pessoas da comunidade é alta. Os líderes são sempre
apoiados nas suas decisões. Aqui se alguém quiser organizar uma festa no Bairro, na
Igreja, organizar um mutirão de limpeza ou outra coisa qualquer, toda a comunidade ajuda.
É fácil saber o que acontece no Sindicato e na Igreja porque eles há os seus próprios
jornais informativos. As outras coisas se ficam sabendo pelas conversas com os amigos e
vizinhos.
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No Bairro não existem brigas nem roubos. Na política, cada um vota como quiser. Quando
se precisa de alguma coisa da prefeitura, o presidente da Associação resolve, nunca foi
preciso ir junto para fazer pressão. As pessoas preferem comprar na loja e no mercadinho
do Bairro.

Tabela 2. Gastos com os grupos da Comunidade.

Grupos da Comunidade Descrição Despesa mensal Despesa anual


Sindicato Rural Anuidade - 60,00
Igreja - Dízimo Dízimo 15,00 180,00
Associação de Produtores Anuidade - 15,00
Total 255,00

Exemplo 6. Pontos fortes e fracos da comunidade.

Pontos fortes: Comunidade organizada. Alta confiança. Líderes atuantes. Não há violência.
Alta interação entre as pessoas.

Pontos fracos: Baixa participação no sindicato, na associação e no clube de futebol.

3. Descrição do Capital Humano

As pessoas envolvidas em um negócio garantem os recursos humanos para as atividades


da empresa. A qualidade e a quantidade destes recursos humanos são chamadas de
Capital Humano. O Capital Humano é que incorpora as competências na empresa. Estas
competências dizem respeito:

A) Ás atitudes que geram condutas dos tipos: interessada ou desinteressada, positiva ou


negativa e ativa ou passiva;

B) Às habilidades que tornam as pessoas capazes para uma finalidade, incluindo o


conhecimento das técnicas;

C) À idoneidade (honestidade) para exercer uma função;

D) Às capacidades físicas (saúde) e intelectuais (inovação e organização);

E) À disposição (vontade) para o bom desempenho.

O Capital Humano se desenvolve com o treinamento, a educação e a experiência.

Por que o Capital Humano é importante para a empresa? Um dos motivos é a adoção
de tecnologias avançadas, as quais exigem flexibilidade e capacidade de inovação das
pessoas que atuam na empresa. Outro motivo é a globalização da economia, que exige
maior capacidade de concorrência das empresas, as quais, por sua vez, necessitam de
pessoas melhores qualificadas. E, finalmente, quanto melhor é o Capital Humano, maior é
a produtividade e maior é a renda das empresas rurais.

Para diagnosticar o estoque de Capital Humano da empresa, é necessário identificar para

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cada pessoa (da família ou contratada) envolvida nos negócios: (A) a responsabilidade
(função) atual; (B) a participação nas decisões: participa da decisão ou é informado; (C)
o nível de escolaridade; (D) os treinamentos realizados sobre as atividades dos negócios
agropecuários; E) a experiência de cada um; (F) os salários ou pro labore que recebem e
os respectivos encargos sociais e bens de consumo fornecidos pela empresa. Identificar,
também, as atitudes, habilidades, disposições e idoneidades de cada pessoa na execução de
tarefas produtivas. Identificar o seu estado de saúde. Por fim, identificar como estas pessoas
valorizam as atividades e os trabalhos rurais comparados aos trabalhos urbanos.

A conclusão do diagnóstico do Capital Humano tem a análise das informações acima e


a identificação dos pontos fortes e dos pontos fracos da empresa em relação ao Capital
Humano.

As Tabelas 3 e 4 apresentadas no exemplo abaixo permitem uma melhor organização das


informações sobre o Capital Humano.

Exemplo de descrição do Capital Humano na Fazenda São Manoel.

Tabela 3. Aspectos profissionais do Capital Humano da Fazenda São Manoel.

Nome Função Decisões Escolaridade Treinamentos Experiência Salários e


encargos
R$ / mês
Manoel Administrador Decide 4ª série Agricultura e 1.200,00
pecuária - 40 anos
Luis Tratorista Informado Técnico agrícola Trator, defensivos, Tratorista - 20 anos 900,00
fruticultura
Ana Ordenha Informado 2º grau Ordenha Ordenha - 10 anos 500,00
Mario Tratorista Informado 2º grau Trator, caminhão Tratorista - 15 anos 900,00
Paula Ordenha Informado Superior Administração Ordenha - 10 anos 500,00
José Geral 2º grau - Serviço geral - 2 anos 166,67
Carlos Geral Informado 4ª série - Serviço geral - 10 anos 500,00
Pedro Tratorista Informado 4a série Trator Tratorista - 20 anos 800,00
Cláudio Tratorista Informado 4 série a
Trator Tratorista - 12 anos 800,00
Vando Ordenhador Informado 6a série Ordenha Ordenha - 15 anos 600,00
Paulo Geral Informado - - Serviço geral - 5 anos 300,00

A Fazenda São Manoel ainda contrata temporariamente uma turma de trabalhadores, para
atividades diversas, gastando no total (incluindo encargos sociais) com assalariados R$
330.000,00, por ano.

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Tabela 4. Aspectos comportamentais do Capital Humano na Fazenda São Manoel.

Nome Atitudes Habilidades Idoneidade Saúde Inovação Disposição Valorização


da vida rural
Manoel Interessado, Alta Boa Boa Baixa Alta Alta
positiva
Luis Interessado, Alta Boa Ótima Alta Alta Alta
positiva
Ana Negativa Boa Boa Ótima Média Baixa Alta
Mario Negativa Alta Boa Ótima Alta Alta Baixa
Paula Interessada, Alta Boa Ótima Alta Alta Alta
positiva
José Positiva Boa Boa Ótima Média Alta Alta
Carlos Positiva Boa Boa Ótima Média Alta Alta
Pedro Positiva Boa Boa Ótima Média Média Alta
Cláudio Positiva Boa Boa Ótima Média Média Média
Vando Positiva Boa Boa Ótima Média Média Média
Paulo Negativa Baixa Ruim Ruim Baixa Baixa Baixa

As despesas (salários, encargos sociais, produtos consumidos e moradias quando não


descontadas) realizadas com os recursos humanos, por atividade da empresa, são
importantes para a análise das rentabilidades das atividades da empresa. Estas despesas são
de dois tipos: trabalho assalariado e trabalho familiar. As despesas com trabalho assalariado
envolvem os gastos com empregados fixos e temporários. As despesas com trabalho familiar
envolvem o pro labore que cada membro da família recebe.

O exemplo de despesas com o uso dos recursos humanos na Fazenda São Manoel, por
atividade/ano, é apresentado na Tabela 5.

Tabela 5. Despesas com recursos humanos na Fazenda São Manoel, por atividade/ano.

Recursos Humanos Milho Soja Leite Total


R$/ano R$/ano R$/ano R$/ano
Trabalho assalariado 45.000,00 55.000,00 230.000,00 330.000,00
Trabalho familiar 10.000,00 10.000,00 30.000,00 50.000,00
Total 55.000,00 65.000,00 260.000,00 380.000,00

Exemplo 7. Pontos fortes e pontos fracos do capital humano.

Pontos fortes: As funções dos trabalhadores estão bem definidas. As escolaridades são boas
e os salários são bons. Em geral as qualidades pessoais (atitudes, habilidades, idoneidade,
saúde, inovação, disposição e valorização da vida rural) são boas e altas.

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Pontos fracos: Não há participação nas decisões. Há pouco treinamento. Há um empregado
fora dos padrões da empresa. O proprietário tem baixa capacidade de inovação. Uma pessoa
que tem nível superior não é bem aproveitada na empresa. A despesa com trabalhadores
temporários é alta.

4. Descrição do Capital Natural

O Capital Natural é formado pelos elementos da natureza, localizados na biosfera, que


estão disponíveis à empresa agropecuária, tais como: solos, água, flora, fauna e ar. O
Capital Natural é muito sensível às ações humanas e se degrada com facilidade. O grau
de degradação dos recursos naturais nas últimas décadas alertou os governantes de todo
mundo e conscientizou as populações sobre a necessidade de se conservar os recursos
naturais; caso contrário, estaríamos comprometendo a sobrevivência das gerações futuras.
Assim, foi criado o conceito de desenvolvimento sustentável que implica no uso dos
recursos naturais sem promover suas degradações. Hoje, já existem muitas tecnologias e
recomendações técnicas para o setor agropecuário que minimizam as degradações e tornam
os empreendimentos sustentáveis.

As empresas agropecuárias dependem diretamente da quantidade e da qualidade dos


recursos naturais. Por isto, o diagnóstico do Capital Natural é importante para se definir as
alternativas existentes em termos de culturas anuais, pastagens, culturas permanentes,
florestas e áreas para preservação da flora e fauna. Outra característica importante do Capital
Natural é sua diversidade. Por exemplo, uma empresa agropecuária tem diferentes tipos de
solos com qualidades diferentes. As áreas com matas apresentam diferentes vegetações. A
água pode estar armazenada em lagos e represas ou escoando por pequenos córregos ou
grandes rios. Esta diversidade do Capital Natural é adequadamente diagnosticada quando
desenhada em um mapa ou croqui. Na descrição do Capital Natural é importante indicar o
valor atual da terra.

Quanto melhor for o diagnóstico do Capital Natural, melhor será o planejamento da empresa
rural.

4.1. Descrição do uso dos solos

4.1.1. Uso atual da terra

A terra em uma empresa agropecuária é dividida em diversas glebas. Cada gleba é usada
para uma finalidade. Por exemplo, têm-se glebas com culturas anuais, culturas perenes,
pastagens, reflorestamentos, matas naturais, mata ciliar, área de reserva legal, quintais
e represas. Em volta destas glebas existem as estradas e carreadores, as cercas, redes
elétricas, benfeitorias e moradias que também são importantes na caracterização do uso
da terra. A forma como a terra é dividida em glebas é um retrato do sistema de produção e
das técnicas adotadas na empresa.

A descrição do uso da terra é feita com o uso de um mapa, localizando cada gleba da empresa

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e suas respectivas áreas em hectare ou alqueire. Para cada uso, são descritas as principais
características das tecnologias de cultivo utilizadas (preparo dos solos, cultivares, plantio,
calagem, adubação, controle de plantas daninhas, controle de pragas e doenças, irrigação,
colheita e produção em termos de qualidade e quantidade). O mapa do uso atual da terra é
analisado para verificar em qual sistema de produção a empresa se enquadra: monocultura,
duas culturas (atividades) com uma principal, ou diversificado. Os sistemas de produção
com uma ou duas atividades são especializados, apresentam maior facilidade administrativa
e maior eficiência no uso dos estoques de capitais humanos e financeiros. Os sistemas de
produção mais diversificados são os de menores riscos de mercado e de produção e de maior
eficiência no uso do capital natural. É necessário verificar (A) se as glebas de matas ciliares
e de reserva legal estão de acordo com a legislação; (B) se as moradias estão localizadas
distantes de pocilgas, armazéns de defensivos e áreas de trabalho; (C) se as estradas e
carreadores dão acesso seguro a toda área da empresa e se a rede elétrica não atrapalha
as operações agrícolas. E, finalmente, qual é o preço de mercado da terra nua? O preço da
terra nua é a principal característica do capital natural, para fins de elaboração de projetos de
investimento. Observe que há glebas de terras que não são usadas diretamente nas atividades
produtivas, mas possuem valores relevantes, que devem ser rateados proporcionalmente
entre as glebas com terras úteis, como mostra a Tabela 6.

Exemplo 8. Croqui do uso atual da terra.

FAZENDA SÃO MANOEL


ÁREAS
Pasto braquiária 326,00 ha
Cultura milho 75,00 ha
Cultura soja 75,00 ha
Reserva legal 120,00 ha
Represa 3,33 ha
Construções 0,67 ha

ÁREA TOTAL 600,00 ha

USO ATUAL DA TERRA

Tabela 6. Preço de mercado da terra nua (sem benfeitorias), por gleba e total da Fazenda
São Manoel.

Glebas 1 2 3 4 5 Total
Uso atual Cultura Pastagem Mata Represa Construções
Área, ha 150 326 120 3,33 0,67 600 ha
Área útil 31,52% 68,48% -- -- -- 476 ha
R$/ha 8.300,00 6.500,00 5.100,00 6.000,00 6.000,00 -
R$/gleba 1.245.000,00 2.119.000,00 612.000,00 19.980,00 4.020,00 4.000.000,00

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Fontes de informações sobre o preço de mercado de terras nuas

As imobiliárias da região são uma boa fonte para saber o preço de mercado atual da terra.
Mas deve-se levar em conta que quase sempre os valores das imobiliárias não separam o
valor da terra nua e o valor das benfeitorias.

É comum, no mercado, a terra ter preços diferentes devido ao seu uso potencial. Assim,
as terras mais valorizadas são as terras de lavoura, seguidas pelas terras de pastagens,
terras de campos (terras de segunda com campos sujos, usados para lavoura e pastagem
com produtividade baixa ou para reflorestamento) e matas (normalmente é a terra de menor
valor, devido aos custos para torná-la produtiva e à obrigação da averbação de áreas para
fins de reserva legal).

Para o Estado de São Paulo, uma boa fonte de informação do preço da terra nua é o Instituto
de Economia Agrícola, que disponibiliza dados por Escritório de Desenvolvimento Rural e
por municípios, no site: http://www.iea.sp.gov.br/out/ibcoiea.php. As informações se referem
a: terra de culturas de primeira, terra de culturas de segunda, terra para pastagem e terra
para reflorestamento.

4.1.2. Capacidade de uso dos solos

O uso sustentável da terra depende das características dos solos e suas relações com
as culturas. Para se promover a conservação dos solos, devem se escolher as culturas
obedecendo a classe de capacidade de uso dos solos.

As classes de capacidade de uso dos solos são apresentadas abaixo.

CLASSE I. Terras cultiváveis permanente e seguramente com culturas anuais, obtendo


produtividades entre médias e elevadas, sem usar práticas ou medidas especiais de controle
da erosão. O solo é profundo, fácil de trabalhar, conserva bem a água, tem elementos
nutritivos medianos e declividade suave.

CLASSE II. Terras cultiváveis que requerem uma ou mais práticas especiais de conservação
dos solos para serem cultivadas com segurança e permanentemente com culturas anuais,
obtendo produtividades entre médias e elevadas. A declividade pode ser suficiente para correr
enxurrada e provocar erosão. O solo pode ter alguma deficiência que limite sua capacidade
de uso. As áreas naturalmente encharcadas podem requerer drenagem. O solo pode não ter
boa capacidade de retenção de umidade, necessitando de práticas de conservação simples:
plantio em nível, cobertura vegetal, culturas em faixa e terraços. Em alguns casos, pode
necessitar de remoção de pedras e da utilização de adubos e corretivos.

CLASSE III. Terras cultiváveis que requerem medidas de conservação dos solos intensas ou
complexas, para serem cultivadas com segurança e permanentemente com culturas anuais
e obter produtividades entre médias e elevadas. O terreno tem declividade moderada (6%
a 12%) e exige cuidados intensivos para controlar a erosão; a drenagem deficiente exige
controle da água e a baixa produtividade requer práticas especiais de melhoramento do solo
(fertilizantes e calcário).

CLASSE IV. Terras que não se prestam para cultivos contínuos ou regulares com culturas

14 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


anuais com produtividades entre médias e elevadas. Porém, tornam-se apropriadas, em
períodos curtos, quando adequadamente protegidas. Apresentam declives íngremes (até
20%), erosão severa, drenagem muito deficiente, baixa produtividade, ou qualquer outra
condição que as tornam impróprias para o cultivo regular.

CLASSE V. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente
adaptadas para algumas culturas perenes, pastagens ou reflorestamento. São terras
praticamente planas com problemas de encharcamento ou de alguma obstrução permanente,
como a presença de rochas. O solo é profundo e as terras têm poucas limitações para
uso com pastagens ou com reflorestamentos permanentes, não necessitando de práticas
especiais de controle de erosão ou de proteção do solo.

CLASSE VI. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente
adaptadas para algumas culturas perenes, pastagens ou reflorestamentos. Apresentam
problemas de pequena profundidade do solo ou declividade excessiva.

CLASSE VII. Terras que, além de não serem cultiváveis com culturas anuais, apresentam
severas limitações, mesmo para pastagens ou reflorestamentos, existindo grandes restrições
de uso, com ou sem práticas especiais de conservação dos solos. Requerem cuidados
extremos para o controle da erosão.

CLASSE VIII. Terras não cultiváveis com qualquer tipo de cultura e que não se prestam para
reflorestamentos ou para produção de qualquer outra forma de vegetação permanente de
valor econômico. Prestam-se apenas para proteção e abrigo da fauna silvestre, para fins
de recreação ou de armazenamento de água em açudes. São áreas extremamente áridas,
declivosas, pedregosas, arenosas, encharcadas ou severamente erodidas. São, por exemplo,
encostas rochosas, terrenos íngremes montanhosos ou terrenos com rochas, dunas arenosas
da costa, terrenos de mangues e pântanos.

Para fazer o diagnóstico da capacidade de uso dos solos é necessário fazer um mapa
(mesmo que seja um croqui desenhado a mão) com as glebas de terra e suas respectivas
classes. Ao lado do mapa deve-se descrever as glebas com suas áreas, seus estados de
conservação, as tecnologias de cultivo e principais espécies vegetais. Ao verificar se o uso
atual da terra está de acordo com a classificação da capacidade de uso do solo, observe
que podem ocorrer três situações: (1) o uso atual estar de acordo com a capacidade de uso;
(2) o uso atual estar em sobre-uso, ou seja, faz-se uso não recomendado; ou (3) o uso atual
estar em sub-uso, ou seja, não faz-se uso do potencial do solo ( por exemplo, reflorestar
área com solo da Classe I). Veja exemplo na Tabela 7.

A determinação da capacidade de uso dos solos é um trabalho que requer conhecimentos


técnicos específicos. No estado de São Paulo, a Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, mantém
agrônomos especializados que prestam assistência técnica nesta área (consulte www.
cati.sp.gov.br). Na ausência de um técnico, o agricultor pode fazer uma identificação da
capacidade de uso dos solos usando as descrições acima e elaborar um croqui com as
classes identificadas.

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Exemplo 9. Capacidade de uso dos solos.

FAZENDA SÃO MANOEL ÁREAS


Classe II 300,00 ha
Classe III 66,67 ha
Classe IV 80,00 ha
Classe V 120,00 ha
Classe VIII 30,00 ha
Represa 3,33 ha

ÁREA TOTAL 600,00 ha

Figura 2. Croqui da capacidade de uso dos


Capacidade de uso dos solos solos da Fazenda São Manoel.

Tabela 7. Áreas das classes de capacidades de uso dos solos e adequação do uso.

Classes de capacidade de uso dos solos Área hectares Uso atual


II 150 Pasto - Sub-uso
II 150 Culturas - Uso adequado
III 66,67 Pasto - Sub-uso
IV 80 Pasto adequado
V 30 Pasto - Uso adequado
V 90 Matas - Uso adequado
VIII 30 Matas - Uso adequado
Represa 3,33 Uso adequado
Área Total, ha 600

4.1.3. Descrição do manejo dos solos

O manejo dos solos consiste num conjunto de técnicas que permite melhorar a capacidade
de produção dos solos, reduzir a erosão, melhorar a fertilidade em termos de nutrientes e
de disponibilidade de água e reduzir a ocorrência de plantas daninhas, pragas e doenças.
As técnicas mais usadas são: adubação e calagem conforme análise de solos, irrigação,
cobertura vegetal, plantio direto, rotação de culturas, culturas em faixa, culturas intercalares,
adubação verde, plantio em nível, quebra-ventos e terraceamentos. As técnicas da agricultura
de precisão também contribuem para o correto manejo dos solos.

Para fazer o diagnóstico do manejo dos solos é necessário descrever as técnicas de manejo
usadas em cada gleba da empresa.

Exemplo 10.

Na gleba de culturas anuais, há o uso de: plantio direto, análise dos solos, rotação de culturas
e plantio em nível com terraços de base larga. Rotação de culturas usando a soja, o milho
e a pastagem.

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4.2. Descrição das fontes de água

As fontes de água disponíveis no empreendimento são chamadas de recursos hídricos. As


principais características destes recursos se referem ao volume disponível ao longo do ano e
ao seu uso potencial para irrigação, criação de animais e uso humano. As represas também
são importantes para a criação de peixes. No diagnóstico das fontes d’água, deve-se dar
especial atenção às nascentes e olhos d’água e suas conservação e proteção, conforme
determina a legislação ambiental. Também é necessário descrever os poços de onde se
extraem águas subterrâneas e seus respectivos usos. Considerar que as mesmas fontes
d’água que servem à empresa também servem a outros usuários, tanto a montante (acima)
como a jusante (abaixo). Por isto, é importante verificar quais as conseqüências dos usos
de cada fonte d´água, em termos de qualidade e quantidade de água.

Exemplo 11. Nas áreas da Fazenda São Manoel nascem 3 córregos que têm água o ano
todo. Todas as nascentes estão protegidas com matas (a uma distância de 50 metros, por
todos os lados). As casas são abastecidas com poços com bomba d’água. No centro da
fazenda há uma grande represa de 3,3 hectares. O Ribeirão Alambari passa na propriedade
e depois deságua no Rio Piracicaba.

4.3. Descrição da flora

No diagnóstico desse componente do Capital Natural, estamos interessados em conhecer


o atual estado de conservação e o uso sustentável da vegetação nativa. Para isto, basta
que se descrevam as características da vegetação existente em cada gleba de mata do
empreendimento, identificando as espécies de valor econômico e as que são protegidas
por lei.

Os diagnósticos técnicos identificam os estágios de desenvolvimento da vegetação natural,


em estágio primário e secundário. As características dos estágios dependem do tipo do
ecossistema: Mata Atlântica, Cerrado, Campos etc. No Estado de São Paulo as características
dos estágios seguem a Resolução CONAMA 01/94 para Mata Atlântica, a Resolução Conjunta
IBAMA/SMA 1/94 e a Resolução SMA 55/95 para Cerrado.

A vegetação em estágio primário é aquela de máxima expressão local e com grande


diversidade biológica, sendo os efeitos das ações humanas mínimos, a ponto de não afetarem
significativamente suas características originais de estrutura e de espécies.

A vegetação em estágio secundário apresenta 3 estágios de regeneração: (1) estágio inicial;


(2) estágio médio e (3) estágio avançado. Do estágio inicial para o avançado aumentam a
biodiversidade, o porte das espécies, a densidade de plantas e as espécies que ocorrem.
Quando não se dispõe de uma classificação técnica, sugerimos o uso de fotografias das
glebas com mata e das principais espécies, para melhor ilustrar os estágios das vegetações
das matas da empresa.

Exemplo 12. A área de reserva florestal da Fazenda São Manoel possui mata fechada a
qual é preservada há muito tempo e está no estágio médio de regeneração. A altura das
árvores é de 3 a 8 metros. Existem poucas Embaúbas. As espécies que mais ocorrem são:
Angico, Ipê amarelo, Jatobá, Faveiro e Pau ferro. Existem áreas com muito cipó em cima
das árvores.
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4.4. Descrição da fauna

Os empreendimentos agropecuários mantêm estreitas relações com os animais selvagens. As


áreas de cultivo diminuem os espaços de hábitat destes animais, causando problemas para a
sobrevivência de muitas espécies. Como conseqüência, têm-se os desequilíbrios ecológicos
que também podem afetar as atividades agropecuárias e o ser humano. Por exemplo, são
conhecidos os casos de invasões de aves e roedores em áreas agrícolas causando prejuízos
às lavouras. Por isto, na elaboração do diagnóstico, é importante identificar as espécies de
animais selvagens, inclusive os de vida aquática, que vivem na área do empreendimento, e
verificar se está havendo problemas de sobrevivência destes animais.

Exemplo 13. Os animais que já foram vistos na Fazenda São Manoel são: Pássaros:
gavião, urubu, pintassilgo, colerinha do brejo, canário da terra, sabiá, anu preto, periquito,
quero-quero, rolinha, garça e pomba. Cobras: coral e jararaca. Animais grandes: capivara e
cachorro do mato. Animais pequenos: tatu, sagui e gambá. Na represa: rã, cágado e teiú.
Peixes: lambari, traíra, bagre e mandi.

4.5. Descrição do clima

As espécies de vegetais cultivadas e de animais criados nos empreendimentos agro-pecuários


apresentam diferentes adaptabilidades às condições climáticas. Os fatores climáticos,
como chuva, temperatura e vento, determinam as aptidões agrícolas de uma região. Por
isso, é importante conhecer as variações dos diferentes fatores climáticos na região do
empreendimento, ou seja, qual a sua caracterização agroclimática.

4.5.1. Classificação climática de Köppen

A classificação climática de Köppen relaciona o tipo de clima com as vegetações naturais


existentes na região. O Estado de São Paulo possui clima úmido classificado em 6 tipos:

Cwa - Clima tropical de altitude, com verão quente e inverno seco. Localizado no centro
do planalto.

Cwb - Clima tropical, com verão ameno. Localizado em algumas regiões serranas.

Aw - Clima tropical chuvoso com inverno seco. Localizado na região noroeste, perto
dos rios Paraná e Rio Grande.

Cfa - Clima tropical, com verão quente, sem estação seca de inverno. Localizado na
região sul do planalto.

Cfb - Clima tropical, com verão ameno e chuvoso o ano todo. Localizado nas regiões
altas das serras do Mar e Mantiqueira.

Af - Clima tropical chuvoso, sem estação seca. Localizado na região litorânea.

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4.5.2. Precipitações pluviais (chuvas)

A quantidade de precipitação pluvial é importante para o desenvolvimento das culturas. A


água da chuva é coletada em aparelhos chamados de pluviômetros e é medida em milímetros
(mm). Quando se diz que choveu 1 milímetro, isto quer dizer que a quantidade de água foi
de 1 litro por metro quadrado. Para fazer o planejamento agrícola é necessário conhecer:
(A) a precipitação que ocorreu na região em um longo período (mais de 20 anos) e (B) a
distribuição da precipitação ao longo do ano. Por exemplo, na época de plantio é necessário
que haja boa precipitação, mas na época de colheita a precipitação pode ser prejudicial.
Poucas empresas rurais fazem a medição da chuva nas suas áreas, por isto é comum usar
informações coletadas na região. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) faz estas coletas
nas diversas regiões do Estado de São Paulo. As informações climáticas podem ser obtidas
no site: http://www.iac.sp.gov.br/ciiagro ou nos boletins publicados pelo IAC.

Exemplo de tabela para apresentação da precipitação média mensal, Tabela 8.

Tabela 8. Precipitação média mensal, Jundiaí - SP, período de 1968 a 2001.

Mês Precipitação média, mm


Janeiro 237
Fevereiro 183
Março 146
Abril 81
Maio 79
Junho 61
Julho 42
Agosto 39
Setembro 86
Outubro 123
Novembro 151
Dezembro 215
Ano 1443
Fonte: CIIAGRO. Instituto Agronômico de Campinas, IAC.

Exemplo 14. A análise dos dados da tabela de precipitação, Tabela 8.

Análise da precipitação de Jundiaí. O período de maior precipitação é de outubro a março.


O período de menor precipitação é de abril a setembro. O total de precipitação anual de
1443mm mostra que o clima de Jundiaí é adequado para as atividades agrícolas.

4.5.3. Temperaturas

A temperatura do ar influencia diversas fases do desenvolvimento das culturas. Por exemplo,

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a germinação ótima para a maioria das culturas está entre 20ºC e 30ºC.

A temperatura do ar é medida por termômetros que registram a temperatura mínima e a


temperatura máxima que ocorreu no dia; com estas temperaturas se calcula a temperatura
média. Usamos a escala Celsius, que indica a temperatura em graus centígrados ou graus
Celsius.

Exemplo de tabela para apresentação de dados de temperatura, Tabela 9.

Tabela 9. Temperatura média mensal, das máximas, das mínimas e das médias, estimadas
para a região de Jundiaí (SP), período de 1941-2001.

Mês Temperatura média mensal, oC.


Máxima Mínima Média
Janeiro 29,8 17,9 23,9
Fevereiro 30,3 17,9 24,1
Março 29,8 17,3 23,5
Abril 27,6 15,1 21,4
Maio 25,3 12,4 18,9
Junho 24,1 10,5 17,3
Julho 24,4 10,2 17,3
Agosto 26,0 11,3 18,7
Setembro 26,5 13,3 19,9
Outubro 28,0 15,0 21,5
Novembro 28,5 16,0 22,5
Dezembro 28,9 17,3 23,2
Ano 27,4 14,5 21,0
Fonte: CIIAGRO. Instituto Agronômico de Campinas, IAC.

Exemplo 15. Análise dos dados da tabela de temperatura, Tabela 9.

Análise da temperatura de Jundiaí. A maior temperatura média máxima ocorre no mês de


fevereiro e a menor mínima no mês de julho. Os meses de maio a agosto, por apresentarem
temperaturas abaixo de 15oC, não são adequados para a germinação ótima das culturas.

4.5.4. Balanço hídrico

O balanço hídrico indica quais as épocas do ano que ocorrem deficiência ou excesso de água
nos solos. Para fazer o balanço hídrico são usadas as precipitações, as temperaturas e as
evapotranspirações. A evapotranspiração mostra a perda de água devido à evaporação da
água dos solos e à transpiração das plantas. O balanço hídrico é importante para planejar
a irrigação e para fazer o zoneamento agrícola.

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No diagnóstico do clima os fatores precipitação e temperatura são apresentados em tabelas
ou gráficos. O balanço hídrico normalmente é mostrado em um gráfico.

Exemplos de tabela e gráfico para apresentação de dados do balanço hídrico, Tabela 10 e


Figura 3.

Tabela 10. Balanço hídrico climático médio, período de 1968-2001, em Jundiaí (SP).
Armazenamento máximo de 125 mm.

Mês Temperatura Precipitação Evapotranspiração Evapotranspiração Deficiência Excedente


potencial real hídrica hídrico
°C mm
Janeiro 23,9 237 122 122 0 116
Fevereiro 24,2 183 109 109 0 74
Março 23,5 146 107 107 0 39
Abril 21,4 81 78 78 0 3
Maio 18,9 79 58 58 0 21
Junho 17,3 61 46 46 0 15
Julho 17,3 42 45 45 0 0
Agosto 18,7 39 58 56 2 0
Setembro 19,9 86 68 68 0 0
Outubro 21,5 123 89 89 0 32
Novembro 22,3 151 99 99 0 52
Dezembro 23,1 215 114 114 0 102
Ano 21,0 1443 991 989 2 454
Fonte: CIIAGRO. Instituto Agronômico de Campinas, IAC.

Precipitação
Excedente hídrico
Evapotranspiração real
mm

Meses

Fonte: CIIAGRO. Instituto Agronômico de Campinas, IAC.

Figura 3. Balanço hídrico climático, Jundiaí, período de 1968 a 2001.

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Exemplo 16. Análise do balanço hídrico.

Em Jundiaí a deficiência hídrica total anual é de 2 mm e ocorre no mês de agosto. Há um


período de reposição de água no solo de outubro até dezembro e, posteriormente, de janeiro
até março, ocorrem os excedentes de água (454 mm) sujeitos à percolação.

4.5.5. Zoneamento agrícola

O zoneamento agrícola é o mapeamento das regiões conforme suas aptidões agrícolas, ou


seja, considera-se suas características climáticas e as exigências climáticas das culturas. O
zoneamento agrícola tem por objetivo diminuir os riscos climáticos, fornecendo informações
sobre a época de plantio e os cultivares recomendados para cada região e tipo de solo.
Para o empresário obter recursos financeiros nos bancos, para custear a safra e para ter
direito ao seguro agrícola (PROAGRO), é necessário que as culturas financiadas estejam
de acordo com o zoneamento agrícola.

Exemplo de zoneamento do arroz de sequeiro para o município de Piracicaba, Tabela 11.

Tabela 11. Zoneamento do arroz de sequeiro, ciclos médio e precoce, dois tipos de solos
do município de Piracicaba.

Fonte: Agritempo. Site http://www.agritempo.gov.br. Acessado em 03/01/2005.

Nota: O período indicado é calculado de maneira que o plantio ou a semeadura feita naquela
data tenha 80% de chance de sucesso, evitando perdas por eventos climáticos extremos
(seca, geada, chuva na colheita) em função da estação do ano (verão, outono, inverno e
primavera).

Exemplo 17. Avaliação do zoneamento agrícola.

As culturas atuais da fazenda São Manoel estão de acordo com o zoneamento agrícola.
Com isto minimiza-se os riscos devidos aos eventos climáticos.

4.5.6. Fatores de riscos climáticos: Seca e geada

A geada é a formação de cristais de gelo na superfície dos vegetais, quando ocorrem


temperaturas em torno de 0o C. A geada provoca a queima e o ressecamento das folhas

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das plantas. Há regiões em que as geadas ocorrem com maior freqüência: regiões de alta
altitude e em seus vales.

A seca (estiagem) é caracterizada por um período longo de falta de água, que afeta tanto
as atividades agrícolas quanto os abastecimentos das cidades.

No diagnóstico, quando há informações disponíveis, descrever se a seca e a geada ocorrem


com freqüência na sua região. Em geral, basta o zoneamento agrícola.

4.5.7. Fontes de informações climáticas para a agricultura paulista

O Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (CIIAGRO), do Instituto Agronômico


de Campinas, coleta dados climáticos de precipitação e temperatura em 126 pontos do
Estado de São Paulo. Os dados são analisados para gerar aconselhamento às atividades
agrícolas do estado. A longa série de dados coletados pelo IAC é de extrema utilidade para o
planejamento agrícola. As informações climáticas são disponibilizadas em Boletins Técnicos
ou através do site: http://www.iac.sp.gov.br/ciiagro.

O Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura (CEPAGRI) da UNICAMP disponibiliza ao


público em geral as informações climáticas relevantes para as atividades agrícolas do estado
de São Paulo, tais como: precipitações, temperaturas, geadas, estiagens e zoneamento
agrícola. Seus mapas e tabelas são encontrados no site: http://www.cpa.unicamp.br/portal/
index.php.

O AGRITEMPO - Sistema de Monitoramento Agrometeorológico - permite aos usuários


o acesso, via internet, às informações meteorológicas e agrometeorológicas de diversos
municípios e estados brasileiros. Além de informar a situação climática atual, o sistema
alimenta a Rede Nacional de Agrometeorologia (RNA) do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) com informações básicas que orientam o zoneamento agrícola
brasileiro. Site: http://www.agritempo.gov.br.

Para fazer o diagnóstico do clima da região em que se localiza o empreendimento, é


necessário verificar: (A) a classificação climática de Köppen; (B) as séries de dados com as
médias mensais da precipitação e das temperaturas mínima, máxima e média; (C) o balanço
hídrico; (D) se o uso atual da terra está de acordo com o zoneamento climático; e (E) se há
ocorrências de fatores de riscos climáticos.

4.6. Descrição do potencial turístico

O Capital Natural possui outras características importantes para o ser humano, tais como: as
estéticas, cênicas, arqueológicas, históricas, espirituais, científicas, educacionais, esportivas,
artísticas e recreativas. Estas características são responsáveis pelo interesse turístico das
pessoas nas áreas rurais, oferecendo uma oportunidade de negócios para as empresas
rurais. As ocorrências destas características podem valorizar as terras da propriedade.

Descrever o potencial turístico do empreendimento.

Exemplo 18. A Fazenda São Manoel tem uma grande represa, mas o Sr. Manoel não permite
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as pessoas nadarem e pescarem nela. A paisagem é comum na região. Por isto tem baixo
potencial turístico.

4.7. Descrição dos impactos ambientais significativos

Define-se impacto ambiental como sendo qualquer modificação no ambiente (solo, água,
flora, fauna, ar e ser humano), adversa ou benéfica, resultante total ou parcialmente das
atividades, produtos e/ou serviços da empresa.

Tecnicamente, os impactos ambientais negativos e significativos são aqueles que requerem


ações ambientais para a diminuição dos seus efeitos. A significância de um impacto ambiental
depende: (1) da freqüência em que ocorre (todos os dias, uma vez por ano etc.); (2) da
sua duração (1 hora , 1 mês etc.); (3) da sua abrangência em extensão territorial (área da
propriedade, da microbacia, do município etc); (4) da reversibilidade ou recuperabilidade
(o ambiente se auto-regenera, é necessário ação humana, etc.); (5) da possibilidade de
minimizar os seus efeitos (ações preventivas tais como os terraceamentos); (6) e dos limites
estabelecidos pela legislação. Os impactos que atingem diretamente a saúde do ser humano
são sempre considerados significativos; o mesmo ocorre com os que têm altos custos de
recuperação. Pode-se contornar a dificuldade técnica para identificar impactos ambientais
significativos, indicando no diagnóstico ambiental quais são os impactos mais importantes
para a empresa.

O diagnóstico dos impactos ambientais é um instrumento preventivo para a elaboração de


projetos de investimentos agropecuários. Este diagnóstico melhora o processo de escolha
do negócio a ser analisado no projeto e permite a minimização dos efeitos negativos das
atividades projetadas, por meio da adoção de medidas conservacionistas, já na fase de
projeto. Ou seja, os impactos ambientais que a empresa considera mais importantes
deverão ser considerados nas etapas seguintes da elaboração do projeto. Para identificar e
localizar os impactos ambientais negativos associados a cada atividade agropecuária, pode-
se usar uma lista de verificação dos impactos ambientais que podem ocorrer na empresa
agropecuária.

A lista de verificação é usada para identificar os impactos ambientais que a empresa julga
serem mais importantes e que ocorrem na empresa.

Lista de verificação dos problemas ambientais das atividades agropecuárias.

- Erosão dos solos.


- Compactação dos solos.
- Assoreamento de rios e lagos.
- Salinização do solo.
- Encharcamento do solo.
- Inundações.
- Diminuição da vazão do corpo d'água em níveis críticos.
- Conflito por uso da água a montante ou a jusante.
- Dispersão de defensivos químicos pelo vento.
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- Contaminação de águas superficiais por defensivos.
- Contaminação de águas superficiais por fertilizantes nitrogenados.
- Contaminação de águas superficiais por fertilizantes fosfatados
- Contaminação de águas superficiais por água servida (lavagem de máquinas, pocilgas).
- Contaminação com resíduos urbanos e industriais.
- Ocorrência de vetores (caramujos e mosquitos) nas fontes d'água e de outras doenças.
- Desmatamento de Áreas de Preservação Permanente: mata ciliar.
- Desmatamento de Áreas de Preservação Permanente: nascentes.
- Desmatamento de Áreas de Preservação Permanente: topo de morros.
- Plantio no sentido do declive.
- Presença de excesso de poeira e/ou erosão do solo pelo vento (eólica).
- Adubação e calagem sem análise de solos.
- Uso inadequado das terras em relação à capacidade de uso dos solos.
- Uso de queimadas.
- Ocorrência de extrativismo vegetal, caça e pesca predatória.
- Ausência de Reserva Legal.
- Exploração florestal sem plano de manejo aprovado.
- Criação de animais silvestres sem autorização do IBAMA.
- Morte de animais silvestres (terrestres ou aquáticos) por contaminações.
- Invasão de pássaros e roedores nas áreas de cultivo.
- Intoxicação humana por defensivos agrícolas.
- Destinação de embalagens de defensivos, de modo diferente da legislação.
- Destinação de materiais de uso veterinário, de modo diferente da legislação.
- Destinação de lixos em locais não apropriados.
- Uso de defensivos sem receituário agronômico.
- Não-vacinação dos animais contra enfermidades (exemplo: febre aftosa).
- Consumo excessivo de combustível fóssil: petróleo,carvão e gás natural.
- Uso de trabalho infantil.

É possível que esta lista de verificação não atenda todas as necessidades da empresa;
fica a critério da empresa acrescentar novos itens. Mas lembre-se: os itens da lista devem
destacar os impactos mais importantes.

Os impactos assinalados devem ser descritos em termos dos fatores que afetam a sua
significância: (1) freqüência que ocorrem; (2) duração; (3) abrangência em extensão territorial;
(4) reversibilidade ou recuperabilidade; (5) possibilidade de mitigação; (6) limites estabelecidos
pela legislação. Indicar também o local onde ocorrem os impactos ambientais.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 25


Exemplo 19. A análise dos pontos fortes e fracos do Capital Natural.

Pontos fortes: Reserva legal com mata em estágio de regeneração médio. Manejo adequado
do solo com: plantio direto, plantio em nível, terraceamento e rotação de cultura. Água
disponível o ano todo em quantidade e qualidade. Clima Cwa tropical quente e úmido
adequado à agricultura e pecuária, temperaturas, precipitação e balanço hídrico adequados.
Culturas de acordo com o zoneamento agrícola e sem riscos climáticos.

Pontos fracos: Áreas com sobre-uso e sub-uso da capacidade de uso do solo. Ausência de
animais silvestres nativos. Não há potencial turístico. Encontraram-se 6 impactos ambientais
negativos importantes, que serão objetos de ações ambientais da empresa nos próximos
anos.

5. Descrição do Capital Físico

O estoque do Capital Físico é composto pela infra-estrutura básica da empresa: benfeitorias,


máquinas, veículos, equipamentos, materiais e utensílios, rede elétrica, cercas, animais de
reprodução e de trabalho, culturas permanentes, microcomputadores, software e redes de
computadores.

O estoque de Capital Físico que a empresa possui é demonstrado por intermédio de uma lista
que contém: descrição do item (tipo, modelo), quantidade do item e a respectiva unidade,
data de aquisição, vida útil restante, estado de conservação e valor atual. Esta lista tem de
ser exaustiva, contendo todos os itens existentes na empresa.

Na descrição do item devem constar as informações que permitam identificar o bem.

A vida útil é o tempo, geralmente medido em anos, que um bem físico leva para perder sua
utilidade na produção.

O estado de conservação pode ser classificado em quatro níveis: (A) Bom, para aquele
que está operacional e em funcionamento normal; (B) Regular, para aquele que necessita
de pequenos reparos ou consertos, mas está em funcionamento; (C) Ruim, para aquele
que necessita de grandes reparos e consertos e não está funcionando ou operacional; (D)
Sucata, para aquele que não funciona mais.

É muito importante, para a elaboração de projetos de investimentos, que no diagnóstico do


capital físico se faça a identificação da proporção de uso de cada fator (cada item da lista
de capital físico) em cada atividade da empresa.

Por exemplo, na Tabela 12: o trator de 85 Hp da fazenda São Manoel é usado nas atividades
de milho, soja e produção de leite (pastagens e transportes). Perguntou-se ao Sr. Manoel:
Durante o último ano, quanto do tempo deste trator foi usado em cada atividade? Ele
respondeu: 40% no milho, 45% na soja e 15% na produção de leite. Outro exemplo: A
ordenhadeira é usada somente na produção de leite, então seu uso aparece como 100%
na atividade de produção do leite.

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Item Descrição Quantidade Data Estado de Vida útil Valor atual Valor Uso do fator por atividade, %
aquisição Conservação restante sucata

reais.
Anos R$ % Milho Soja Leite
Benfeitorias ( % ) ( % ) (%)
Casa Alvenaria, 200m2. 1 1980 Bom 50 120.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Casa Alvenaria, 140m2. 1 1990 Bom 50 80.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Casa Alvenaria, 140m2. 1 1995 Bom 50 80.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Galpão Aberto, madeira. 1 1982 Bom 8 80.000,00 5 40,00 40,00 20,00
Caixa d’água Elevada, metálica. 1 1998 Bom 8 15.000,00 5 5,00 5,00 90,00
Silo grãos Metálico 120 ton. 2 2000 Bom 30 325.000,00 5 50,00 50,00 -
Curral Madeira, 160m2 1 1980 Regular 3 30.000,00 5 - - 100,00
Sala ordenha Alvenaria,40m2 1 2000 Bom 30 50.000,00 5 - - 100,00
Cocheira Alvenaria 80 m2 1 2000 Bom 30 20.000,00 5 - - 100,00

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural


Sala de ração Alvenaria, 100 m2 1 2000 Bom 30 80.000,00 5 - - 100,00
Exemplo da descrição do Capital Físico.

Bezerreiro Alvenaria, 80 m2. 1 2000 Bom 30 40.000,00 5 - - 100,00


Farmácia Alvenaria 20 m2. 1 2000 Bom 30 20.000,00 5 - - 100,00
Rede elétrica 220 volts. 1 1980 Bom 50 5.000,00 5 10,00 10,00 80,00
Transformador Trifásico. 1 2003 Bom 30 25.000,00 5 10,00 10,00 80,00

ATENÇÃO!!!
Cercas Arame 4 fios. 3000 m 1998 Bom 10 30.000,00 5 10,00 10,00 80,00
Total 1.000.000,00
Máquinas
Caminhão Truck, 12 t., 1999. 1 2002 Bom 5 30.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Trator 120 HP, 2000. 2 2000 Bom 6 170.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Trator 85 HP, 1999. 1 1999 Bom 6 55.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Secador de cereais Diesel 1 2001 Bom 12 80.000,00 10 50,00 50,00 -
Ordenhadeira Mecânica, 10 vacas 1 2000 Bom 6 20.000,00 10 - - 100,00
Tabela 12. Lista do Capital Físico disponível na Fazenda São Manoel.

Resfriador 600 l 600 l 1 2000 Bom 5 12.000,00 10 - - 100,00


Total 367.000,00
continua

Estes dados são fictícios, não use estes valores para avaliar casos

Administração Regional do Estado de São Paulo


27
28
Item Descrição Qdade Data Estado de Vida útil Valor atual Valor Uso do fator por atividade, %

reais.
aquisição Conservação restante sucata
Anos R$ % Milho Soja Leite
Equipamentos % % %
Semeadeira 10 linhas plantio direto 1 2002 Bom 15 8.000,00 5 40,00 60,00 -
Pulverizador 2000 l 1 1999 Bom 6 15.000,00 5 15,00 85,00 -
Distribuidor calcário Capacidade 2500kg 1 2000 Bom 10 14.000,00 5 30,00 40,00 30,00
Grade hidráulica 24 discos 2 2000 Bom 4 18.000,00 5 15,00 15,00 70,00
Carreta 3 ton. 1 2003 Bom 15 2.500,00 5 60,00 40,00 -
Carreta 3 ton. 1 2003 Bom 15 2.500,00 5 - - 100,00
Terraceador 16 discos 1 2003 Bom 6 25.000,00 5 50,00 50,00 -
Kit para inseminação Botijões, criogênico, 1 2002 Bom 10 35.000,00 5 - - 100,00
artificial etc

Federação da Agricultura e Pecuária


Utensílios Diversos Bom 4 10.000,00 5 30,00 40,00 30,00
Arreios Couro 3 2002 Bom 6 3.000,00 5 - - 100,00
Total 133.000,00
Animais

ATENÇÃO!!!

do
Mangalarga Cavalos de sela 3 2002 Bom 3 9.000,00 10 - - 100,00
Touro Holandês, PO. 3 2000 Bom 1 15.000,00 15 - - 100,00
Vacas adultas Holandesas 650 Bom 6 1.300.000,00 - - - 100,00
Total 1.324.000,00
Total geral 2.824.000,00

Estado de São Paulo


Estes dados são fictícios, não use estes valores para avaliar casos
Tabela 12. Continuação. Lista do Capital Físico disponível na Fazenda São Manoel.
Exemplo 20. Pontos fortes e pontos fracos do Capital Físico.

Pontos fortes: A Fazenda São Manoel possui um Capital Físico no valor de R$ 2.824.000,00.
Os estados de conservação dos bens são bons e os bens estão operacionais. A vida útil
restante dos bens mostra que eles serão usados por muitos anos na empresa. Metade do
valor do Capital Físico é devido às 650 vacas de produção de leite.

Pontos fracos: Muitos dos bens estão superdimensionados para a atual produção da empresa,
por exemplo, os silos metálicos. Poucos touros de reprodução.

6. Descrição do Capital Financeiro

A característica básica do capital financeiro é sua possibilidade de ser transformado em


dinheiro com rapidez. Os estoques de capital financeiro se encontram na forma de dinheiro
em caixa, depósitos a vista, depósitos a prazos, aplicações financeiras (títulos, obrigações,
certificados e outros papéis negociáveis), saldos a receber e outros direitos da empresa,
estoques de produtos e insumos e as dívidas e outras obrigações a pagar da empresa. Os
valores dos estoques de Capital Financeiro encontrados no diagnóstico serão, posteriormente,
usados na análise financeira da empresa com ou sem o projeto. A Tabela 13 apresenta um
exemplo de estoque de Capital Financeiro. Observe nesta Tabela 13 que tivemos apenas
a preocupação de classificar os valores em 6 categorias, de A a F. Cuidado: em termos
financeiros não é correto somar disponibilidades de dinheiro em datas diferentes.

Exemplo de diagnóstico do estoque financeiro de uma empresa agropecuária, Tabela 13.

Tabela 13. Estoque de capital financeiro da Fazenda São Manoel em 14/01/2005.

Descrição Quantidade Valor Data para Valor total R$


unitário disponibilidade
A- Caixa e depósitos a vista.
Dinheiro em caixa Imediata 800,00
Saldo em conta corrente Imediata 1.000,00
Total A 1.800,00
B- Aplicações financeiras
Caderneta de poupança 50.000,00 1/02/2005 50.345,00
Aplicação curto prazo 3.000,00 10/03/2005 3.300,00
Total B 53.645,00
C- Estoques de insumos
Ração bovinos 3 ton. 150,00 Não determinada 450,00
Combustível - Diesel 500 litros 0,60 Não determinada 300,00
Total C 750,00
D- Estoque de produtos para venda ou consumo
Milho 200 sc 17,00 Não determinada 2.000,00
Bezerros 5 un. 280,00 Não determinada 1400,00
Total D 3.400,00 continua

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 29


E- Valores a receber
Leite entregue 4.000 l 0,60 1/02/2005 2.400,00
Total E
F- Valores a pagar
Fornecedor de ração 5 ton 150,00 1/02/2005 750,00
Empréstimo a pagar 8.000,00 07/03/2005 9.200,00
Empréstimo a pagar 20.000,00 07/04/2005 31.500,00
Total F 41.450,00

Exemplo 21. Análise do estoque do Capital Financeiro apresentado na Tabela 13.

A Fazenda São Manoel tem disponibilidade financeira para fazer os pagamentos no período de
fevereiro a abril de 2005. Mas esse período é época de colheita de soja e milho e a empresa
necessitará de recursos financeiros para o custeio desta operação. A Empresa possui rendas
mensais da venda do leite, as quais fornecerão parte destes recursos.

7. Rentabilidade da Empresa

7.1. Introdução

As empresas são as unidades básicas do sistema econômico, onde ocorrem as transformações


dos insumos em produtos ou serviços. A empresa eficiente necessita de um organizador
eficiente: o Empresário. Além de organizar e coordenar os processos produtivos com a
sua capacidade administrativa, o empresário assume os riscos do sistema econômico,
pois, adquire os insumos com preços conhecidos para gerar produtos que serão vendidos
por preços desconhecidos. O empresário assume as incertezas do mercado e do próprio
processo de produção. Ele avalia as oportunidades de negócio e toma decisões para usar
estoques de capitais escassos.

Uma pessoa pode ser empresária tomando empréstimos e alugando bens do capitalista.
Pode também ser empresária e ao mesmo tempo ser capitalista por ser proprietária dos
bens e tomar empréstimos de capitalistas terceiros. Pode ainda ser empresária e ao mesmo
tempo capitalista por ser proprietária dos bens e usar recursos financeiros próprios, sem
recorrer a empréstimo de terceiros. No setor agrícola, é comum a empresa ser familiar, pois
os próprios familiares tomam as decisões, compõem a maior parte dos recursos humanos e,
em geral, são proprietários da terra e possuem parte dos capitais físico e financeiro investidos
na empresa. Nestes casos são empresários (por organizarem a produção e assumirem os
riscos inerentes) e capitalistas (por possuírem capitais físicos, naturais e financeiros).

A sustentabilidade da empresa e sua viabilidade econômica dependem da sua capacidade


de remunerar o empresário e o capitalista, mesmo quando são a mesma pessoa. A família
do empresário deve conhecer seu rendimento na empresa, para poder planejar o consumo
familiar.

30 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Já vimos que um indivíduo pode ser Empresário e, ao mesmo tempo, ser ou não Capitalista,
dono dos capitais naturais, físicos e financeiros. Para entender melhor como o negócio
remunera o Empresário, vamos estudar como se forma a sua remuneração, separadamente
da remuneração do Capitalista. Ambas as remunerações são calculadas com base no resíduo,
porém de forma diferente.

Resíduo = Renda bruta - Dispêndio

Para calcular a renda líquida obtida pelo Empresário, tem-se de descontar os juros pagos,
pois estamos considerando que o capital não lhe pertence. Portanto, os juros pagos fazem
parte do dispêndio. A remuneração do empresário é o lucro obtido nas atividades da empresa.
O lucro remunera o trabalho administrativo do empresário e os riscos por ele assumidos.

Para calcular a renda do Capitalista tem-se de descontar a remuneração do empresário


e não imputar juros ao capital do Capitalista. A remuneração do Empresário entra como
dispêndio, mas os juros não entram nos cálculos. O resíduo, no caso, é a renda do capital.
Os recursos naturais, físicos e financeiros pertencem ao capitalista. Além dos aluguéis pagos
para usar estes recursos, o empresário deve pagar juros. Os juros são as remunerações
do capitalista.

Define-se a Renda Familiar como a renda que remunera em conjunto o Capitalista, o


Empresário e o trabalho familiar, mas dentro da opção de descontar os juros pagos.

Cabe ressaltar, logo de início, que estamos fazendo um diagnóstico da situação atual de um
negócio, utilizando-se das informações do passado sobre o montante de recursos utilizados
e os resultados obtidos.

7.2. A Remuneração do empresário

O Empresário não dispõe de bens de capital. Ele aluga a terra, as benfeitorias, as máquinas,
os equipamentos e os animais. Ele também financia o custeio de suas atividades com
empréstimo. Quem empresta é o Capitalista.

Ponto crucial: quem aluga o bem de capital negocia o valor do aluguel. O valor do aluguel
não é estabelecido por nenhum procedimento implícito.

A remuneração do Empresário é igual à Renda Líquida, calculada como:

Renda Líquida = Renda Bruta - Dispêndio Total

A Renda Bruta é o valor de toda a produção e não somente da produção comercializada. Ela
inclui insumos produzidos (por exemplo: milho usado na ração dos animais) e os consumos
da família e de funcionários de bens produzidos na empresa.

Chamamos de custeio generalizado os gastos efetuados com os recursos utilizados: insumos


anuais, aluguéis pagos, trabalho assalariado, trabalho familiar e seguro de frustração de
safra.

O Dispêndio Total é igual à soma do custeio generalizado mais os juros. Assim, o Dispêndio
Total é calculado usando:

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 31


Dispêndio Total (DT) = custeio generalizado + juros

ou

Dispêndio Total (DT) = insumos anuais + aluguéis pagos + trabalho assalariado +


trabalho familiar + seguro de frustração de safra + juros

Então, a Renda Líquida fica igual a:

Renda Líquida = Renda Bruta - (insumos anuais + aluguéis pagos + trabalho


assalariado + trabalho familiar + seguro de frustração de safra + juros)

Os juros, que fazem parte do Dispêndio Total, incidem sobre o valor do custeio
generalizado.

O Empresário, ao término do período de produção, analisa a viabilidade do negócio efetuado,


buscando respostas para a questão: quais foram os recursos utilizados para empreender o
negócio? E obtém a resposta calculando o custeio generalizado:

Custeio generalizado = insumos anuais + aluguéis pagos + trabalho assalariado +


trabalho familiar + seguro de frustração de safra

O Empresário tomou empréstimos de bancos e de particulares de valor igual ao custeio


generalizado. O empréstimo vence no fim do ano de produção. Os valores dos juros foram
acordados no momento do empréstimo. O Empresário pagou, no vencimento, o principal
acrescido dos juros.

Por que não existiu prestação de empréstimos anteriores a pagar? Porque nesse caso, de
separação do Empresário do Capitalista, tudo é custeio generalizado, ou seja, o Empresário
arrendou os bens de capital e somente tomou empréstimo de montante igual ao custeio
generalizado, realmente efetuado. Repetindo, o prazo desse empréstimo foi de um ano,
sendo pago no fim do ano de produção. Note que o empréstimo pagou o valor correspondente
a: insumos anuais + aluguéis pagos + trabalho assalariado + trabalho familiar + seguro de
frustração de safra. No fim do ano o empresário teve de pagar o empréstimo + juros.

A Renda Líquida é a remuneração do empresário pelo risco que corre e pela administração
do negócio. O risco é residual ao seguro de frustração de safra, ou seja, aquela parte do
risco que o seguro não cobre.

A Renda Líquida mede a viabilidade de longo prazo do negócio. O negócio deve proporcionar
ao Empresário uma remuneração competitiva (por exemplo: um valor maior que o salário
que ele receberia se trabalhasse como empregado). Caso contrário, o negócio é instável.

Como o Empresário quita o empréstimo e os juros?

Note que o Empresário usa os recursos do empréstimo para pagar o custeio generalizado,
incluindo-se nele os aluguéis. Logo, ele precisa quitar o principal mais os juros.

Qual foi a fonte de recursos para quitar o empréstimo e os juros? Foi a capacidade de
pagamento (CP).

32 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Capacidade de Pagamento = renda líquida + trabalho familiar
+ montante do empréstimo

Por que se adiciona o montante do empréstimo nesse cálculo? Note que a renda líquida
é obtida subtraindo da renda bruta os valores de muitos itens. Ora, o empréstimo quitou
alguns desses itens. Assim, para se saber a capacidade de pagamento é necessário abater
dos dispêndios os itens quitados pelo empréstimo. Resolve-se o problema de cálculo
adicionando-se à renda líquida o montante do empréstimo. Como os juros não fazem parte
desse montante, eles não foram cobertos.

Note que se a renda líquida for maior que zero, por causa de sua definição, o
empresário não precisou da remuneração do trabalho familiar para quitar o empréstimo.
A renda líquida pode ser negativa e, mesmo assim, desde que a seguinte condição seja
obedecida, será possível quitar o empréstimo, incluindo-se os juros:

Capacidade de Pagamento - Montante do empréstimo - juros > 0

7.3. A Remuneração do capitalista

Estamos usando a palavra capitalista no singular, mas devemos considerar que pode haver
mais de um capitalista em um mesmo negócio.

Em nossa apresentação, o Empresário é totalmente separado do Capitalista. O Empresário


nada tem que ver com o Capitalista externo, a não ser para pagar os aluguéis e os juros
devidos. O Capitalista cuida da administração do seu patrimônio. Note que o aluguel comporta
duas parcelas: (A) os juros que remuneram o capital; e (B) a depreciação que mede, em
valor, o desgaste físico do bem. A rigor, o valor da depreciação está depositado em um fundo
de depreciação, esse valor não deve ser usado para amortizar dívidas. No caso em análise,
o Capitalista tem de separar as duas parcelas (juros e depreciação). Ele as recebe juntas,
em um só pagamento.

O Capitalista pode ter tido prestação a pagar, é verdade, e o fez com recursos advindos
dos aluguéis recebidos, com o cuidado de respeitar o fundo de depreciação. A não ser em
alguma circunstância especial, o fundo de depreciação deve ser usado para repor o bem
depreciado.

Portanto, a renda do Capitalista é igual à soma dos aluguéis recebidos mais os juros sobre
empréstimos.

Renda do capitalista = aluguéis recebidos + juros

7.4. Renda familiar do empresário

A Renda Familiar do empresário oriunda do negócio é igual à renda líquida mais o trabalho
familiar. Da mesma forma, o negócio deve proporcionar à família uma remuneração
competitiva. Caso contrário, a família buscará alternativas, sendo uma delas a venda do
negócio. Por outro lado, a Renda Familiar estabelece o valor máximo que a família pode
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 33
consumir sem comprometer a capacidade de produção do empreendimento.

Renda Familiar do Empresário = Renda Líquida + trabalho familiar

Cabe agora uma questão delicada: Como o Empresário pode sustentar a família e pagar os
impostos explícitos (não embutidos nos preços dos insumos ou no valor do produto)?

Se a seguinte condição se verificar, haverá recursos para quitar o empréstimo (montante do


empréstimo + juros), os impostos explícitos e cobrir as despesas com a família.

CP - (Montante do empréstimo + juros + despesas com a família +

+ impostos explícitos) > 0 (*)

Muitos negócios quebram por causa de despesas exageradas com a família e não somente
por motivos de má gestão do empreendimento. Ainda é costume esquecer-se dos impostos
explícitos. Por isso, é crucial verificar se a desigualdade (*) está ocorrendo.

7.5. Caso geral: a remuneração do empresário-capitalista

No caso geral, a mesma pessoa é o Empresário e o Capitalista, dono do capital ou parte


dele. A única diferença em relação ao caso da separação do Empresário do Capitalista é a
existência dos recursos próprios. Por isso, é geral. Temos de dividir o Capitalista em dois
grupos: o Capitalista-empresário (CE) e o Capitalista-terceiro (CT). Deve-se observar que
quem recebe os aluguéis é o Capitalista-terceiro. A diferença é que o Capitalista-empresário
conta, além dos juros, com a renda líquida e o trabalho familiar para amortizar compromissos,
em vista de ser, simultaneamente, capitalista e empresário.

Os recursos próprios podem estar cristalizados em bens de capital e ser utilizados para
complementar os recursos necessários para cobrir o custeio desembolsado. O aluguel do
capital de terceiros é parte do custeio, (por exemplo: dispêndios com aluguéis de máquinas
e equipamentos e aluguel de terra). O capital com origem no CE dá origem aos juros
implícitos que vão compor a Renda Familiar da família do CE. Cabe uma questão: e se for
utilizado o valor de mercado para se estimar o aluguel? Então, nesse caso, deve-se estimar
os juros implícitos sobre o capital com origem no CE. Em símbolo, JICE. Na prática, pode
ser complicado obter-se essa estimativa.

Para ficar o mais próximo possível do exemplo de separar o Empresário do Capitalista, usa-
se como referência os valores do mercado para estabelecer os valores dos aluguéis. As
imputações devem ser evitadas ao máximo. A imputação é uma forma de estimar o aluguel
de um bem de capital, como o é também o valor de mercado, quando o bem pertence ao
Capitalista-empresário. Quando não se conhecem os valores de aluguel de máquinas do
mercado, a melhor alternativa é estimar o aluguel usando o preço da máquina nova como
referência. No caso de usar o preço da máquina velha, notar que só se recupera aquele
valor (usar o valor atual da máquina).

O Dispêndio Total é agora, no caso geral, calculado de forma diferente:

34 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Dispêndio Total (DT) = insumos anuais + aluguéis (CE) + aluguéis (CT)
+ trabalho assalariado + trabalho familiar
+ seguro de frustração de safra + juros (CE) + juros (CT)

Os juros CE referem-se aos juros sobre o capital de custeio do Empresário (Capitalista-


empresário) e os juros CT referem-se aos juros que foram pagos a terceiros, no que se
refere a custeio.

Custeio desembolsado = insumos anuais + aluguéis (CT) + trabalho assalariado +


trabalho familiar + seguro de frustração de safra

O empréstimo é tomado de terceiros para cobrir o custeio desembolsado, mas pode ser
menor que esse valor, se o capitalista-empresário tiver capital financeiro disponível (recursos
próprios).

Empréstimo (CT) = custeio desembolsado - recursos próprios desembolsados

Os juros (CT) dizem respeito a esse empréstimo (CT). Os juros sobre os recursos próprios,
usados pelo capitalista-empresário para cobrir o custeio desembolsado, são designados
por CE-JCDE.

7.6. Renda familiar do capitalista-empresário

Já vimos que a Renda Líquida é igual a:

Renda Líquida = Renda Bruta - Dispêndio Total

Uma inequação mais geral resolve o problema de renda líquida negativa.

Vamos construí-la.

Renda Familiar do Capitalista-empresário = Renda líquida + juros (JICE) +


juros (CE-JCDE) + trabalho familiar (**)

A Renda Familiar do capitalista-empresário é oriunda do negócio, obviamente. Para o caso


geral, também se calcula a capacidade de pagamento (CP), como segue:

Capacidade de Pagamento = Renda Familiar +


montante de empréstimos do ano corrente

A inequação é dada por:

CP - (prestações de empréstimos anteriores e do ano de produção

+ juros (CT) + despesas da família + impostos explícitos) > 0

Essa é a condição suficiente para, no ano de produção, cobrir as prestações de empréstimos


de terceiros e as despesas da família, mais as prestações de empréstimos anteriores,
correlacionados ao financiamento do capital e vencidas no fim do ano de produção, e mais
os impostos explícitos.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 35


E se ocorrer que:

CP - (prestações de empréstimos + juros (CT) + despesas da família

+ impostos explícitos) < 0

Então, não foi possível efetuar despesas com a família, quitar as prestações de empréstimos
e pagar os impostos explícitos. O melhor caminho para resolver este problema é revisar o
custo de produção e buscar alternativas de menor custo (por exemplo, novas tecnologias),
para então poder aumentar a renda líquida. É possível reduzir as despesas com a família, mas
elas oferecem pouco espaço. Deixar de honrar as prestações de empréstimos ou de pagar
os impostos explícitos é a última alternativa, pois resulta, no fim, na venda de patrimônio;
em tais situações ocorrem as concordatas ou as falências dos negócios.

Há uma fonte de recursos que pode ser ocasionalmente usada. O aluguel do capital do
Capitalista-empresário (aluguel CE) compõe-se de duas parcelas: depreciação + juros. Os
juros imputados foram utilizados no cálculo da Renda Familiar do Capitalista-empresário
(equação assinalada com **). Não se utilizou a depreciação. Eventualmente, ela pode ser
utilizada. Mas o fundo de depreciação tem de ser reposto o mais depressa possível. Se isso
não for feito, não há como reduzir o endividamento, pois não haverá recursos para substituir
máquinas e equipamentos, edificações e animais que ficaram obsoletos ou velhos.

7.7. Exemplo numérico para as remunerações do capitalista-empresário

Veremos um exemplo para o Capitalista-empresário, em que todo o capital lhe pertence. É


fácil adaptar o exemplo, no caso de apenas parte do capital lhe pertencer e a outra parte
ser alugada de terceiros.

7.7.1. Imputação de valores para aluguel pago e juros

Como nesse exemplo do Capitalista-empresário não há um valor real de aluguel pago e de


juros pagos, torna-se necessário imputar um valor para tais itens.

Imputação (ou imputar) significa dar ou atribuir um valor com base em algum critério. Portanto,
o critério para fazer a imputação dos aluguéis e juros, dos bens do capital físico, é o uso dos
fatores. Isto é, quanto mais um fator for usado em uma atividade, maior será o valor a ser
imputado para essa atividade.

Os dispêndios (itens do capital físico) que necessitam de imputação são os apresentados


na Tabela 12.

A) Como calcular o aluguel imputado para um bem?

O aluguel imputado é calculado baseado no método da Tabela Price, os cálculos para obter
o aluguel imputado são facilmente feitos usando a função PGTO da planilha Excel. Esta
função do Excel retorna o pagamento periódico de uma anuidade de acordo com pagamentos

36 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


constantes e com uma taxa de juros constante. A fórmula da função no Excel é:

=PGTO (juro; vida útil; valor presente; - sucata; 0)

Na fórmula, o juro é a taxa de juros fixada (por exemplo 6% ou 0,06 ao ano). A vida útil é a
vida útil restante do bem em anos. O valor presente é o valor atual. E sucata é o valor do
bem no final da vida útil (valor negativo). O valor 0 (zero) indica que o pagamento é feito no
final do período (se fosse no início do período usar-se-ia o valor 1).

Exemplo 22. Cálculo do aluguel imputado.

Exemplifiquemos com o item de dispêndio “trator 85 HP” da Tabela 12. O trator de 85HP tem
valor atual de R$ 55.000,00, valor de sucata igual a 10% do valor atual (igual a R$ 5.500,00,
escrever o valor negativo, -5.500,00) e vida útil restante de 6 anos. A taxa de juros fixada é
de 6% ao ano.

Escrever, na célula escolhida da planilha:

=PGTO(0,06 ; 6 ; 55.000,00 ; -5.500,00 ; 0)

Em seguida, pressionar a tecla Enter.

Resultado do Excel: (R$ 10.396,45)

Notar que o resultado mostrado no monitor do computador é um valor negativo, em vermelho


e entre parênteses para significar que há um débito a pagar. No caso, são 6 prestações
anuais de valores iguais aos mostrados na tela do computador (R$ 10.396,45).

O aluguel assim calculado é igual à Depreciação pura mais os juros. Observe que não há
valores devidos à manutenção, reparos ou operação do trator. Mas quando se usa o valor
de aluguel, tal como é praticado no mercado, neste valor podem estar incluídos os custeios
de manutenção, reparos e operacionais (tratorista, combustível, graxa etc). Portanto, quando
se calcula o aluguel imputado usando a fórmula acima, deve-se também incluir no custeio
generalizado os gastos com combustíveis, óleos, graxas, reparos e manutenção, e incluir
no item de trabalho assalariado o pagamento do tratorista.

B) Como calcular os juros imputados?

Os juros imputados são calculados usando a equação:

Juros imputados = aluguel imputado - depreciação pura

Já calculamos o aluguel imputado, agora calcularemos a depreciação pura.

Depreciação pura = (valor no presente - sucata) / vida útil

Na planilha Excel, se for colocado o valor zero como juros, a função PGTO dará a depreciação
pura.

Exemplo 23. Cálculo da depreciação pura.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 37


=PGTO( 0 ; 6 ; 55.000,00 ; -5.500,00 ; 0 )

Resultado do Excel: (R$ 8.250,00)

Portanto, a depreciação pura do valor do trator é de R$ 8.250,00 por ano.

Exemplo 24. Cálculo dos juros imputados.

Assim, os juros imputados para o trator são:

Juros imputados = 10.396,45 - 8.250,00 = 2.146,45

Portanto, os juros imputados ao trator são iguais a R$ 2.146,45, por ano.

A planilha Excel é muito útil quando há muitos itens (bens) com valores a serem imputados.
Observar que no exemplo acima usamos o valor atual do trator sem considerar o seu uso
nas atividades da fazenda. Como o trator é usado em 3 atividades (milho, soja e leite), os
valores imputados deverão ser alocados proporcionalmente ao uso do trator por atividade.
No ANEXO 1, mostramos as tabelas com os valores imputados para os bens da Tabela 12,
tanto no geral (empresa) na Tabela A1 (anexo), como por atividade na Tabela A2 (anexo)

Os dados resumidos da imputação de valores de aluguéis e juros da Tabela A2 (anexo) estão


apresentados na Tabela 14. O valor da terra foi obtido no diagnóstico do Capital Natural
mostrado na Tabela 6.

Tabela 14. Tipos de capital próprio (Bens do Capital Físico e a terra) da empresa e as
imputações necessárias.

Itens Terra* Benfeitorias Máquinas Equipamentos Touro, Rebanho* Total


cavalo
1. Juro fixado(%) 4 % 6 % 6 % 6 % 6 % 6 % -
2. Vida útil Infinito Diversos Diversos Diversos Diversos, -
restante (anos) infinito
3. Valor no 4.000.000,00 1.000.000,00 367.000,00 133.000,00 24.000,00 1.300.000,00 6.824.000,00
presente (R$)
4. Valor de 4.000.000,00 50.000,00 36.700,00 6.650,00 3.150,00 1.300.000,00 5.396.500,00
sucata (R$)
5. Aluguel 160.000,00 87.894,62 64.604,99 23.979,14 16.734,29 78.000,00 431.213,04
imputado (R$)/ano
6. Depreciação 0,00 46.779,58 50.310,00 18.936,67 15.450,00 0 131.476,25
pura (R$)/ano
7. Juros imputa- 160.000,00* 41.115,04 14.294,99 5.042,47 1.284,29 78.000,00* 299.736,79
dos (R$/ano)
*Observação: Os juros fixados sobre a terra estimam o valor do seu aluguel. O mesmo
ocorre para o rebanho estabilizado. Não se trata de imputação de juros, embora apareçam
na linha de juros imputados.

Esta Tabela 14 é usada apenas como exemplo didático; no projeto de investimento deve-se

38 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


usar as Tabelas A1 e A2 apresentadas no Anexo.

7.7.2. Custeio generalizado

Continuando o exemplo numérico do Capitalista-empresário, consideramos o dispêndio da


Fazenda São Manoel, em termos de insumos anuais (fertilizantes, defensivos químicos,
combustíveis, rações, aluguéis de terceiros etc.), trabalho assalariado, trabalho familiar,
aluguéis pagos a terceiros e seguro.

Exemplo 25. Custeio generalizado.

Tabela 15. Custeio generalizado da Fazenda São Manoel, por ano.

Dispêndio Valor, R$

Insumos 735.000,00

Trabalho assalariado 330.000,00

Trabalho Familiar 50.000,00

Aluguéis pagos a terceiros 0,00

Seguros 40.000,00

Total custeio generalizado 1.155.000,00

7.7.3. Sumário das remunerações do capitalista-empresário

Construímos um sumário, Tabela 17, para facilitar o entendimento do que foi escrito
acima.

Renda Bruta. A renda bruta da Fazenda São Manoel foi de R$ 1.487.750,00, conforme Tabela
16 com as fontes de renda.

Tabela 16. Fontes de renda da Fazenda São Manoel.

Fontes de Renda Valor R$ / ano

Milho 127.500,00

Soja 131.250,00

Leite 1.095.000,00

Bezerros 98.000,00

Vacas descartes 36.000,00

TOTAL 1.487.750,00

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 39


Exemplo 26. Cálculos das remunerações do Capitalista-empresário da empresa.

Neste exemplo numérico, vamos admitir que o recurso próprio para custeio é zero (lembra-se
do diagnóstico do Capital Financeiro?). Portanto, a Fazenda São Manoel tomará empréstimos
equivalentes ao montante de R$ 1.155.000,00, e os juros (6%) correspondem a R$ 69.300,00.
O empréstimo, obviamente, não cobre os juros imputados. A capacidade de pagamento, nesse
caso, é da família. Por isso, é necessário calcular a Renda Familiar e adicionar o empréstimo,
porque quem toma empréstimo é o capitalista. No caso, o Capitalista-empresário têm à sua
disposição a Renda Familiar. Por esta razão, a capacidade de pagamento tem de partir dela.
É claro que se valem de fatos gerados pelo negócio. Mas, se a família tiver outras fontes
de renda, é possível calcular a Renda Familiar-ampliada, adicionando-se as outras fontes
de renda à Renda Familiar proporcionada pelo negócio. O resultado, porém, não é um bom
instrumento de gestão, porque mascara o empreendimento com renda externa ao mesmo.
No entanto, pode ser útil para verificar se o empréstimo pode ser pago.

A Tabela 17 relaciona os cálculos que têm de ser feitos, e é auto-explicativa, tendo-se em


vista os conceitos desenvolvidos.

Tabela 17. Sumário para o capitalista-empresário que possui todo o capital, com 100% de
empréstimo para custeio. Dados da Fazenda São Manoel.

Itens Valor
1. Insumos anuais 735.000,00
2. Trabalho assalariado 330.000,00
3. Trabalho familiar 50.000,00
4. Seguro 40.000,00
5. Custeio generalizado (1+2+3+4) 1.155.000,00
6. Juros sobre custeio generalizado (6%; 0,06 x 1.155.000,00) 69.300,00
7. Aluguel imputado (item 5, Tabela 14, coluna total) 431.213,04
8. Dispêndio total (5+6+7) 1.655.513,04
9. Renda bruta 1.487.750,00
10. Renda líquida (9-8) -167.763,04
11. Juros imputados (item 7, coluna total da Tabela 14) 299.736,79
12. Trabalho familiar 50.000,00
13. Renda Familiar (10+11+12) 181.973,75
14. Empréstimo + juros (5+6) 1.224.300,00
15. Capacidade de pagamento (13+5) 1.336.973,75

 Nos R$ 1.155.000,00, incluiu-se o trabalho familiar, porque é necessário se manter a família. Os juros sobre a
terra estimam o valor do seu aluguel. Não se trata de imputação de juros.

40 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Exemplo 27. Análise das remunerações da empresa.

Observe na Tabela 17 que a capacidade de pagamento (item 15) é maior que o montante
de empréstimo + juros (item 14). Portanto existe uma diferença positiva no valor de R$
112.673,75 (Item 15 - Item 14). Este é o valor disponível na Fazenda São Manoel para se
efetuar as despesas com a família e pagar os impostos explícitos, como mostra a expressão
abaixo.

CP - (prestações de empréstimos + juros (CT) + despesas da família

+ impostos explícitos) < 0

Portanto, a Fazenda São Manoel tem condições de efetuar as despesas com a família, quitar
as prestações de empréstimos e os juros e pagar os impostos explícitos.

Solução: Como a Receita Líquida neste caso foi negativa recomenda-se que a Fazenda
São Manoel faça uma revisão dos custos de produção das atividades e busque alternativas
para aumentar a renda líquida, elaborando outros projetos de investimentos.

A apresentação acima tem por objetivo ajudar o leitor a fixar os conceitos de remuneração
do empresário separada da remuneração do capitalista, remuneração do Capitalista-
empresário, Renda Familiar do empresário, Renda Familiar do capitalista, Renda Familiar
do Capitalista-empresário, entre outros. Estes conceitos são importantes para a formação
do empresário rural.

Para fins de análise da rentabilidade de longo prazo e análise da rentabilidade de longo


prazo das atividades essenciais para o diagnóstico da situação atual da empresa, que é
a primeira fase da elaboração de projetos de investimento de capitais, devem-se usar as
Tabelas 18 e 20.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 41


Tabela 18. Rentabilidade de longo prazo da empresa, exemplo da Fazenda São Manoel.

VIABILIDADE DE LONGO PRAZO DA EMPRESA - Fazenda São Manoel.

Capital Natural Valor atual da terra Juros R$/ano


Juros Imputados - Terra1 4.000.000,00 4% 160.000,00*
Capital Físico - Aluguel imputado (depreciação + juros)
Benfeitorias 87.894,62
Máquinas 64.604,99
Equipamentos 23.979,14
Animais 94.734,29
Sub-total 271.213,04
Custeio generalizado
Trabalho assalariado 330.000,00
Trabalho familiar 50.000,00
Insumos 735.000,00
Seguro 40.000,00
Manutenção e reparos capital físico 0,00
Aluguéis pagos a terceiros 0,00
Sub-total 1.155.000,00
Juros sobre empréstimo para custeio 6 % 69.300,00
Receita bruta
Milho 127.500,00
Soja 131.250,00
Leite 1.095.000,00
Bezerros 98.000,00
Vacas descartes 36.000,00
TOTAL 1.487.750,00
Viabilidade Receita bruta Custeio Aluguel Arrendamento Juros Total
de longo prazo = (+) generalizado = Deprec+juros (-) Custeio(-)

Receita líquida 1.487.750,00 1.155.000,00 271.213,04 160.000,00 69.300,00 -167.763,04

Observação: * Neste exemplo o valor da terra nua foi imputado usando-se uma taxa de juros
de 4% ao ano. Porém, na prática, o melhor valor é o valor de arrendamento da terra.

A Tabela 18 mostra que a receita líquida é negativa, portanto a rentabilidade no longo prazo
da empresa é negativa. Solução: Revisar o custo de produção das atividades e buscar
alternativas para aumentar a renda líquida, elaborando o projeto de investimento.

42 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


8. Rentabilidade de Longo Prazo das Atividades da Empresa

Chamamos de atividade da empresa o conjunto de operações necessárias para transformação


dos insumos em um produto e seus subprodutos. Por exemplo, a atividade “cultura do milho”
envolve as operações de preparo do solo, plantio, tratos culturais e colheita. A avaliação da
rentabilidade das atividades da empresa rural permite ao empresário conhecer os resultados,
em termos monetários, das suas decisões na escolha do que, quanto e como produzir. O
empresário rural utilizou os fatores de produção disponíveis na expectativa de obter uma
determinada renda; para isto, optou por fazer uma, duas ou mais atividades. Agora, no
diagnóstico, é necessário saber se todas as atividades estão satisfazendo às expectativas
iniciais, em termos monetários. Claro está que o empresário prefere trabalhar com as
atividades de maior rentabilidade. A rentabilidade de cada atividade deve remunerar todos
os fatores de produção usados (terra, insumos, máquinas e equipamentos, benfeitorias, juros
sobre o capital, trabalhos e serviços) para que a atividade tenha viabilidade no longo prazo.
Portanto, a rentabilidade da atividade depende da Renda Bruta que proporciona à empresa
e da parcela do Dispêndio Total gerada por ela.

A Renda Bruta da atividade é formada pelo montante da venda do seu produto principal,
subprodutos e pelo valor dos consumos internos. Por exemplo, a atividade “produção de
leite” tem como receita: venda de leite, venda de bezerros, venda de vacas descartadas,
venda de esterco e consumo de leite dos funcionários e família do empresário. Considera-
se nestes casos de consumo interno o mesmo valor de venda do leite. Outro exemplo: se o
bezerro é destinado à atividade de recria/engorda, o seu preço deve ser somado à receita
da produção de leite e entra como custo da atividade de recria/engorda.

O nosso objetivo é analisar a rentabilidade da empresa no longo prazo. A análise das


rendas líquidas proporcionadas pelas atividades individualmente é um detalhamento que
permite identificar as atividades com menores rendas líquidas e quais atividades poderão
ser substituídas pela atividade analisada no projeto de investimento. Então, calcula-se a
parcela do dispêndio total (custeio generalizado e juros) que é associada a cada atividade,
bem como a renda bruta de cada atividade.

Exemplo 28. Cálculo das rentabilidades das atividades.

Vamos analisar as rentabilidades das atividades do Capitalista-empresário, com os dados


usados para construir a Tabela 18, do exemplo da Fazenda São Manoel. A questão importante
é conhecer a rentabilidade de cada atividade: produção de leite, milho e soja, tal como mostra
a Tabela 19.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 43


Tabela 19. Rentabilidade de longo prazo das atividades: produção de leite, milho e soja.

Itens Milho Soja Leite


Valor, R$ Valor, R$ Valor, R$
1. Insumos anuais 73.000,00 62.000,00 600.000,00
2. Trabalho assalariado 45.000,00 55.000,00 230.000,00
3. Trabalho familiar 10.000,00 10.000,00 30.000,00
4. Seguro 8.000,00 12.000,00 20.000,00
5. Custeio generalizado (1+2+3+4) 136.000,00 139.000,00 880.000,00
6. Juros sobre custeio generalizado (6%) 8.160,00 8.340,00 52.800,00
7. Aluguel imputado 81.327,71 86.416,75 263.468,57
8. Dispêndio total (5+6+7) 225.487,71 233.756,75 1.196.268,57
9. Renda bruta da Atividade 127.500,00 131.250,00 1.229.000,00
10. Renda Líquida (9-8) -97.987,71 -102.506,75 32.731,43
11. Juros imputados* 47.277,32 48.306,19 204.153,28
12. Trabalho familiar 10.000,00 10.000,00 30.000,00
13. Renda Familiar (10+11+12) -40.710,39 -44.200,56 266.884,71
14. Empréstimo + juros (5+6) 144.160,00 147.340,00 932.800,00
15. Capacidade de pagamento (13+5) 95.289,61 94.799,44 1.146.884,71
* No item 11. Juros Imputados estão incluídos os juros sobre a terra e o rebanho produtivo
os quais não são imputados, e sim calculados usando os juros fixados de 4 e 6%
respectivamente.

Observação: Nos ANEXOS são apresentadas as informações básicas da Fazenda São


Manoel: Os aluguéis imputados e os juros imputados por atividade estão na A2. Para o
aluguel da terra e para os insumos anuais usados estão no Anexo, Tabela A3. A renda bruta
por atividade é apresentada na Tabela 16.

Exemplo 28. Análise das remunerações das atividades da empresa.

Observe na Tabela 19 que, para as atividades de milho e soja, as capacidades de pagamento


(item 15) são menores que o montante de empréstimo + juros (item 14); se, ainda,
adicionarmos os valores de despesas da família e os impostos explícitos veremos que para
estas atividades:

CP - (prestações de empréstimos + juros (CT) + despesas da família

+ impostos explícitos) < 0

Por outro lado, a atividade produção de leite apresenta capacidade de pagamento maior
que o montante de empréstimo + juros. Portanto, esta atividade tem condições de contribuir
para quitar as prestações e, além disto, sobra recursos para pagar parte das despesas da

44 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


família e dos impostos explícitos.

Solução: Revisar o custo de produção das atividades de produção de milho e soja e buscar
alternativas para aumentar a renda líquida, elaborando o projeto de investimento.

Tabela 20. Rentabilidade das atividades da empresa, exemplo da Fazenda São Manoel.

VIABILIDADE DAS ATIVIDADES DA EMPRESA - Fazenda São Manoel.


Milho Soja Leite

Capital Natural (A) R$/ano R$/ano R$/ano

Juros Imputados - Terra1 28.909,34 28.909,34 102.181,31

Capital Físico - Aluguel imputado (depreciação + juros)

Benfeitorias 22.733,91 22.733,91 42.426,80

Máquimas 24.182,23 26.638,26 13.784,50

Equipamentos 5.502,23 8.135,24 10.341,67

Animais - - 94.734,29

Sub-total (B) 52.418,37 57.507,41 161.287,26

Custeio generalizado

Trabalho assalariado 73.000,00 62.000,00 600.000,00

Trabalho familiar 45.000,00 55.000,00 230.000,00

Insumos 10.000,00 10.000,00 30.000,00

Seguro 8.000,00 12.000,00 20.000,00

Manutenção e reparos capital físico - - -

Aluguéis pagos a terceiros - - -

Sub-total (C) 136.000,00 139.000,00 880.000,00

Juros sobre empréstimo 8.160,00 8.340,00 52.800,00


para custeio (D)

Receita Bruta (E) 127.500,00 131.250,00 1.229.000,00

Receita líquida = -97.987,71 -102.506,75 32.731,43

E-A-B-C-D

Observação: Recomendamos o uso desta Tabela 20 para a análise da viabilidade de longo


prazo das atividades em projetos de investimento.

Exemplo 29. Análise da viabilidade de longo prazo das atividades da empresa.

A Tabela 20 mostra que as atividades de milho e soja apresentam receita líquida negativa.
Portanto, o empresário rural deve buscar alternativas para estas atividades, elaborando o
projeto de investimento de capital.
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 45
9. Custos de Produção Eliseu Alves

“Seu” Manoel é o agricultor que vai fazer perguntas. A resposta do Professor Fernando vem
na linha seguinte à pergunta.

Manoel - Professor Fernando, diga uma coisa: calcular o custo de produção faz o agricultor
ganhar mais dinheiro?

Professor Fernando - Claro que sim. Se um quilo de milho custou mais caro que o preço de
venda, então “Seu” Manoel trabalhou duro e ficou no vermelho. Perdeu dinheiro. Conhecendo
o custo de produção, a gente sabe quanto perdeu.

Manoel - Perder dinheiro é muito ruim. Deixa de ser urubu, professor.

Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel. Assim, se o preço do milho for mais alto que o
custo o senhor sabe quanto ganhou.

Manoel - E daí, professor? Somente me diz se fico triste ou alegre. Por que o meu amigo
Joaquim ganha mais do que eu? Vendemos o milho pelo mesmo preço e pagamos os
mesmos preços pelos insumos. O meu amigo Joaquim está ficando rico e tem olho gordo
para comprar o meu sítio.

Professor Fernando - “Seu” Manoel, cuidado com olho gordo. O Joaquim há muito tempo
calcula o custo de produção de seu sítio. Ele conversa com um grupo de agricultores e juntos
discutem os custos de produção que tiveram e o que pode ser melhorado. Quais as despesas
que podem ser cortadas e como cortá-las. Por esse motivo, o Joaquim está ficando rico. Por
que o senhor não se junta ao grupo?

Manoel - Bom conselho. Mas o professor não respondeu à minha dúvida. O que quero saber
é o que vou fazer com o custo de produção. O professor Fernando não vai ensinar como
a gente volta ao passado e corrige os erros, vai? Professor, o senhor tem aquela máquina
do tempo?

Professor Fernando - Deixa de gozação, “Seu” Manoel. O doido é o professor Pardal. Mas
o senhor fez duas observações muito importantes:

1. O conhecimento do custo de produção ajuda a conhecer os erros cometidos, para


poder corrigi-los no planejamento do próximo ano e dos anos seguintes.

2. O custo de produção é calculado para o ano seguinte, usando as informações do


ano passado (anterior), mas com liberdade total para ajustá-las. Assim, é possível, depois
de avaliar as melhores alternativas, manter o sítio tal qual é, mudá-lo, ampliá-lo, eliminar
atividades, ou mesmo vendê-lo. “Seu” Manoel, esta liberdade de planejar, mesmo para
deixar tudo como está, é muito importante. Por isso, o que será decidido tem um custo de
oportunidade, porque o “Seu” Manoel deixará de fazer algumas coisas no lugar da opção que
escolherá. O “Seu” Manoel decidiu que comprará um boi, mas poderia ter escolhido comprar
uma vaca. Comprará um arado, mas poderia ter escolhido comprar uma grade. Poderá
não comprar nada e pôr o dinheiro no Banco, a juros. Veja que no futuro, no planejamento,
também não existe custo fixo. Em tese tudo é variável.

 Pesquisador da Embrapa, e-mail: Eliseu.Alves@embrapa.br

46 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Manoel - Professor Fernando, para que saber o custo? Eu quero é saber quanto me sobra
para gastar com a família, pagar dívidas e investir. O resto é papo para boi dormir, é ou não
é?

Professor Fernando - Calma, “Seu” Manoel. O senhor deu uma dormida na aula. Que coisa
feia! Digamos que um saco de milho custou R$ 15,00 e foi vendido por R$ 20,00, sobrando
R$ 5,00 por saco. O sítio produziu 500 sacos. Então, veja esta conta: 500 X 5 = 2.500. Pronto!
Achamos uma sobra igual a R$ 2.500,00! Resposta rápida, não achou, “Seu” Manoel? Não
o embrulhei desta vez!

Manoel - É verdade!

Professor Fernando - De fato, o custo de produção serve para gente saber o quanto sobrou,
o que pode ser feito com a sobra e que espaço há para melhorar. Estamos falando de muita
coisa, não é, “Seu” Manoel? Por isso, vamos responder a pergunta devagar. Devagar com
o andor, porque o santo não gosta de surpresa!

Manoel - É mesmo, então continua explicando certinho e devagar.

O empresário e o capitalista

Manoel (pensando com seus botões): “O professor Fernando só complica. Vivi muito bem
sem lidar com essas duas palavras. Do capitalista, ouço dizer que é um parasita que vive
de juros; do empresário, sei que é cabra rico e folgado”.

Manoel - Professor Fernando, eu tenho mesmo que saber o significado dessas palavras
capitalista e empresário?

Professor Fernando - Tem sim, “Seu” Manoel. O senhor vai descobrir que também é um
capitalista-empresário e que veste as duas camisas. E o capitalista que o senhor é ganha
ou perde dinheiro; o mesmo ocorre quando se usa a camisa de empresário.

Manoel - Sou ruim para entender explicações longas. Um exemplo é o melhor caminho.

Professor Fernando - Muito bom, “Seu” Manoel! Vejamos os exemplos do “Seu” Jorge, que
é empresário, e do “Seu” Abílio, que é só capitalista. O “Seu” Abílio ficou velho. Tem 100
hectares de terra que servem para plantar milho. Ele quer alugar a terra com as benfeitorias
por R$ 30.000,00 por ano. Aí, “Seu” Jorge vai ver o sítio. Chora um aluguel menor, mas
fecha o negócio e decide plantar o milho. Quando “Seu” Jorge fechou o negócio e resolveu
plantar o milho, ele virou um empresário. Vai custear a lavoura e correr os riscos, ou seja,
vai empreender um negócio.

Manoel - Professor Fernando, o senhor é um professor supimpa. Já saquei. O “Seu” Abílio


é o capitalista. Sua remuneração anual é de R$ 30.000,00. O “Seu” Jorge é o empresário.
Sua remuneração é o que sobrar depois de pagar os R$ 30.000,00 e as outras despesas.
Como a produção pode quebrar pouco ou muito, o “Seu” Jorge corre muito risco. A sobra
somente paga esse risco, não é?

Professor Fernando - É isto aí, “Seu” Manoel. O trabalho que o “Seu” Jorge fez como
tratorista, na supervisão do trabalho dos filhos e dos empregados, entrou nos cálculos das
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 47
despesas. A única despesa que foi deixada de fora é o risco que o “Seu” Jorge correu. A
sobra, já falada, remunera esse risco.

Manoel - A sobra é igual à receita menos despesas, não é? Professor Fernando, o senhor
gosta de batizar e de dar nomes aos bois. Que nome o senhor deu para a sobra?

Professor Fernando - Que esperto o “Seu” Manoel é! Inventou uma equação:

Sobra = receita - despesa

Manoel - Não quero elogios. O nome? Qual é o nome da sobra, professor?

Professor Fernando - Que impaciência, “Seu” Manoel! Depois, vai reclamar de tantos nomes.
Renda líquida é o nome. “Seu” Manoel, sua equação é agora:

Renda líquida = Sobra = Receita - Despesa

Manoel - Deixa de ser preguiçoso, professor Fernando! Detalha, em uma Tabela, o dispêndio
que o “Seu” Jorge teve que enfrentar para cultivar 100 hectares de milho. Veja, professor
Fernando, não falei custo e sim dispêndio! ah! ah! Aprendi que custo é um termo técnico,
ligado a uma tal função custo, da qual não entendo patavina!

O empresário

Professor Fernando - A Tabela vem a seguir. Que bom que você falou da função custo.
No próximo curso vamos estudá-la. Os dados são de uma lavoura mecanizada, do plantio
até a colheita. As máquinas e os equipamentos foram alugados. O “Seu” Jorge achou que
alugar era o melhor negócio. Não vamos questionar os dados. Eles foram arranjados para
ensinar algumas lições.

Tabela 21. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare.

Tipo de dispêndio Valor (R$)


Aluguel de terra e benfeitoria 30.000,00
Insumos (fertilizantes, herbicidas, calcário, etc.) 100.000,00
Aluguel de máquinas e equipamentos 30.000,00
Trabalho familiar 10.000,00
Outros dispêndios 10.000,00
Dispêndio total 180.000,00
Venda de 12.000 sacos a R$ 20,00/saco 240.000,00
Renda líquida (Venda - Dispêndio total) 60.000,00
Taxa de retorno (Renda Líquida/Dispêndio total) (%) 33,33

48 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Manoel - Professor Fernando, o que o senhor quer ensinar com essa Tabela?

Professor Fernando - Várias coisas. Vamos por partes. Note, de início, que o saco de milho
custou R$ 15,00.

1. O “Seu” Jorge investiu R$ 180.000,00 e o retorno foi de R$ 60.000,00. Uma taxa de retorno
de 33,33%, em um período de setembro a junho; portanto, em dez meses. Correu muito
risco, é verdade. Por isso, é empresário. Ele é um empresário competente, porque obteve
uma taxa de retorno elevada comparada com a que obteria na Caderneta de Poupança.

2. Para quem “Seu” Jorge fez pagamentos? Para vários capitalistas. Para o “Seu” Abílio, de
quem alugou os 100 hectares de terra, pagou R$ 30.000,00. Pelo aluguel de máquinas e
equipamentos, pagou a seus donos. Também pagou às firmas que venderam os insumos.

3. Pagou a mão-de-obra familiar e outros dispêndios.

Manoel - A Tabela 21 está incompleta, professor Fernando. De onde o “Seu” Jorge tirou o
dinheiro para financiar o dispêndio total? Tomou emprestado dos Bancos, de particulares ou
das firmas que vendem insumos? Sendo empresário somente, tomou emprestado o valor
de R$ 180.000,00?

Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel, você me derrotou desta vez. Vamos corrigir a
Tabela 21, de um jeito simples, incluindo uma taxa de juros de 6% no período. Mais adiante
nós vamos estudar os juros com mais detalhes.

Tabela 22. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare, Tabela 21 corrigida.

Tipo de dispêndio Valor (R$)


Aluguel de terra e benfeitoria 30.000,00
Insumos (fertilizantes, herbicidas, calcário, etc.) 100.000,00
Aluguel de máquinas e equipamentos 30.000,00
Trabalho familiar 10.000,00
Outros dispêndios 10.000,00
Subtotal 180.000,00
Juros sobre o subtotal (6% ao ano) 10.800,00
Dispêndio Total 190.800,00
Venda de 12.000 sacos a R$ 20,00/saco 240.000,00
Renda líquida (Venda - Total) 49.200,00
Taxa de retorno (Renda líquida/Dispêndio total) (%) 25,79

Manoel - Mesmo incluindo os juros, o “Seu” Jorge é competente: obteve ótima taxa de
retorno, 25,79%. O custo do saco de milho é, agora, R$ 15,90 = (190.800/12000). Se o
“Seu” Jorge tivesse recursos próprios, ou parte deles, para fazer face às despesas, ele não
seria um capitalista?
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 49
Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel. E os juros continuariam incidindo sobre os
R$ 180.000,00. Aí nada muda. Exceto que o “Seu” Jorge pagaria juros a ele mesmo, para
remunerar seu próprio capital. O empresário Jorge pagando juros ao capitalista Jorge. Mas
isso não ocorreu. Combinamos que o “Seu” Jorge é só empresário. Todo o capital seria de
terceiros: terra, máquinas e equipamentos e recursos para financiar o custeio.

Manoel - Não entendi como o empréstimo será pago, pois somente sobraram R$ 49.200,00,
que é a renda líquida. Esse valor não dá para pagar R$ 180.000,00 e os juros de R$ 10.800,00.
Ou seja, de onde “Seu” Jorge tirou dinheiro para pagar R$ 190.800,00?

Professor Fernando - “Seu” Manoel quer me enrolar? O senhor sabe muito bem de onde vem
o dinheiro. O empréstimo de custeio é necessário porque as despesas ocorrem diariamente
e a receita vem no fim da safra. Com o dinheiro do empréstimo, o “Seu” Jorge, ao longo
do período, pagou igual valor de despesas. Somente sobraram para pagar os juros, de R$
10.800,00. “Seu” Jorge, portanto, somente ficou devendo o empréstimo de R$ 180.000,00
e os juros. Essa é a única dívida do “Seu” Jorge, no valor de R$ 190.800,00. A receita de
R$ 240.000,00 paga a dívida e sobra a renda líquida de R$ 49.200,00.

Manoel - Com quanto dinheiro a família do “Seu” Jorge ficou para gastar e investir?

Professor Fernando - Para gastar no próximo ano, “Seu” Manoel. O “Seu” Jorge somente
recebeu dinheiro quando vendeu a colheita. A renda da família - olha outro conceito “Seu”
Manoel -, é igual à renda líquida mais algum pagamento que foi feito à família, em termos
de insumo (trabalho). No caso, R$ 49.200,00 + R$ 10.000,00 = R$ 59.200,00. Note que R$
10.000,00 é de trabalho familiar. A família do “Seu” Jorge conta com R$ 59.200,00 para pagar
despesas correntes, fazer investimento, pagar dívidas e guardar uma reserva para o futuro.
Se a terra fosse de propriedade do “Seu” Jorge, a família contaria com mais R$ 30.000,00.
A família pode ter outras fontes de renda, mas esta é a renda da família proveniente do sítio
do “Seu” Jorge.

Manoel - Nada disso, professor Fernando, ele poderia ter vendido a safra antecipadamente.
É verdade que pagam um preço antecipado muito baixo pelo milho. Mas concordo que a
família precisa estar preparada para custear suas despesas até que venha a colheita. Por
isso, muitos gostam de produzir leite. Tem receita todo mês.

O capitalista-empresário

Manoel (com o pensamento nas nuvens): “Percebi o golpe do professor Fernando. Ele
construiu o exemplo com todo o cuidado para atender algum propósito secreto”.

Manoel - Professor Fernando, vejamos, o “Seu” João tem 100 hectares de terra, as
benfeitorias e os equipamentos. É produtor de milho. Como poderemos aproveitar o que
aprendemos até aqui, para ver se o “Seu” João anda bem das pernas?

Professor Fernando - “Seu” Manoel, o senhor descobriu meu propósito secreto, que sabido!
Vê longe. Vamos dividir o “Seu” João em dois. João-capitalista e João-empresário, e, assim,
voltamos ao caso anterior. O João-capitalista é dono do capital, inclusive financia o custeio.
E o João-empresário somente produz milho. O João-empresário não tem capital, ele aluga
o capital do João-capitalista. O João-capitalista recebe do João-empresário, no fim da safra,

50 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


os aluguéis da terra, de máquinas e equipamentos, benfeitorias e animais. Recebe também
o valor do empréstimo de custeio, acrescido de juros. O João-empresário cuida de produzir.
Paga ao João capitalista o que lhe é devido e também as demais despesas. Vende a safra.
E obtém a renda líquida, como no caso anterior.

Na Tabela 23, os dispêndios somam também R$ 180.000,00. O João-capitalista empresta


esse montante para o João-empresário, que lhe pagará no fim da safra. Consideramos um
ano o prazo do empréstimo. O João-capitalista, para obter o montante do empréstimo, usa
recursos próprios ou toma emprestado de bancos e de particulares. Recebe o pagamento
do João-empresário e quita, com o montante recebido, o empréstimo.

Manoel - Então, o João-empresário fica por conta de produzir. Já as finanças são de


responsabilidade do João-capitalista. Por que os juros incidem sobre R$ 180.000,00 e não
somente sobre o pagamento para terceiros? Ora, o “Seu” João só precisa de financiamento
para fazer face às despesas com terceiros, não é verdade?

Professor Fernando - “Seu” Manoel, o “Seu” João está planejando a propriedade para o
ano que vem. Como vimos, tem ampla liberdade, inclusive de deixar tudo como está. Há,
assim, muita coisa que o “Seu” João poderia fazer com o sítio e o capital que lá tem investido.
Pode produzir soja, leite ou outras atividades. Pode vender tudo e colocar o dinheiro a juros.
Assim, os investimentos em terra, máquinas e equipamentos, animais e custeio têm um custo
de oportunidade. Essa é a razão para incidir os juros sobre os R$ 180.000,00, mesmo que
parte dos recursos seja da família. Por isso, precisamos do João-capitalista, que é dono de
todos os bens de capital, os quais são alugados ao João-empresário. A Tabela 23 cuida do
João-empresário.

Tabela 23. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare. Dispêndios do João-empresário.

Tipo de dispêndio Quem recebe Valor (R$)


Aluguel de terra João-capitalista 25.000,00
Depreciação pura de benfeitorias (Fundo de depreciação) João-capitalista 3.000,00
Manutenção de benfeitorias Terceiros 2.000,00
Depreciação pura de máq. e equip.(Fundo de depreciação) João-capitalista 10.000,00
Operação e manutenção de máquinas e equipamentos Terceiros 10.000,00
Aluguel de máquinas e equipamentos de terceiros Terceiros 10.000,00
Trabalho familiar João-capitalista 10.000,00
Insumos (fertilizantes, herbicidas, calcário, etc.) Terceiros 100.000,00
Outros dispêndios Terceiros 10.000,00
Subtotal (2) - 180.000,00
Juros de 6% sobre (180.000,00) João-capitalista 10.800,00
Dispêndio Total - 190.800,00
Custo de produção (R$/saco) - 15,90
Venda de 12.000 sacos a R$ 20,00/saco - 240.000,00
Renda Líquida (Venda - Total) João-empresário 49.200,00
Taxa de retorno (Renda Líquida/Dispêndio Total) (%) - 25,79

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 51


Manoel - Noto que o montante de dispêndio é o mesmo; e a coluna do meio mostra quem
recebe os pagamentos. Qual é a finalidade dessa coluna?

Professor Fernando - A finalidade é calcular a renda que a família recebe: os recursos


provenientes da fazenda que a família pode gastar.

1. O João-capitalista recebe R$190.800,00 do empréstimo de custeio, de R$ 180.000,00,


que fez ao João-empresário. Se ele captou esse valor no mercado e efetua o pagamento
e não lhe sobra nada. Se forem recursos próprios, tem que guardar R$ 180.000,00 para a
próxima safra. Sobram-lhes os juros.

2. Os dispêndios com os bens de capital são divididos em:

A). Depreciação pura. O bem vale R$ 100.000,00. A vida útil é de 10 anos, considerando-se
a intensidade de uso. Como sucata nada vale, para simplificar a argumentação. A depreciação
pura, em um ano, vale R$ 10.000,00. Esse valor não pode ser gasto. Será usado para repor
o bem, quando terminar sua vida útil.

B). Dispêndio de manutenção e operação. Depois, temos, para benfeitorias, as despesas


de manutenção. Para as máquinas e equipamentos, temos as despesas de manutenção e
operação, além da depreciação pura.

Manoel - Que é isso, professor Fernando? Cadê o custo de oportunidade de máquinas e


equipamentos e benfeitorias?

Professor Fernando - É isto uma armadilha, seu Manoel? Quer me pegar em contradição?
Veja, seu Manoel, as depreciações de benfeitorias, máquinas e equipamentos estão entre as
parcelas que somam R$ 180.000,00. E neste montante aplicamos 6% de juros para obter o
custo de oportunidade. Assim, cuidamos do custo de oportunidade que o senhor perguntou.
Ele seria dado pelos juros que incidiriam sobre a depreciação pura de benfeitorias, máquinas e
equipamentos. Mas fizemos exatamente isto. Note que esta apresentação é mais simples.

Manoel - Golpe sujo, professor Fernando. Nós não estamos estimando o aluguel destes
itens? E ele não se compõe, no caso das benfeitorias, da manutenção pura e dos juros
sobre a depreciação? E no caso de máquinas e equipamentos, da depreciação pura, dos
juros sobre elas e das despesas de manutenção e operação? Não são estes os valores
que terceiros nos cobrariam? Neste caso, os juros vão incidir sobre o valor estimado, e não
somente sobre a depreciação pura! O professor está é fugindo de aplicar juros sobre juros?
Confesse, professor!

Professor Fernando - A melhor maneira de resolver o problema é descobrir o valor de


mercado do aluguel. No caso de máquinas e equipamentos, o valor é, mais freqüentemente,
dado por hora de trabalho. Digamos que seja R$ 30,00/hora. O seu João necessita, no ano,
de 500 horas. O aluguel anual é de 15.000,00. A máquina vale R$ 50.000,00 e tem uma
vida de 25 anos, sendo o valor de sucata zero. A depreciação anual pura corresponde a R$
2.000,00. E o valor de operação e manutenção será de R$ 13.000,00.

Manoel - Estou entendendo, mas nós vamos estudar a depreciação direitinho, não é,
Professor?

 Os 25 anos são calculados em termos do uso que o seu João faz da máquina.

52 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Professor Fernando - É sim, mas vamos continuar devagar.

Manoel - Voltando à Tabela 23, como fica a Renda Familiar de “Seu” João?

Professor Fernando - A Renda Familiar é composta da renda líquida e daquilo que o João-
capitalista recebe. As parcelas correspondem à renda líquida e aos aluguéis dos bens de
capital. Veja a Renda Familiar do “Seu” João na Tabela 24.

Tabela 24. Renda Familiar do “Seu” João.

Tipo de dispêndio Valor (R$)

Renda líquida 49.200,00

Aluguel da terra 25.000,00

Depreciação pura de benfeitorias 3.000,00

Depreciação de máquinas e equipamentos 10.000,00

Empréstimo recebido 180.000,00

Juros sobre R$ 180.000,00 10.800,00

Trabalho familiar 10.000,00

Total 288.000,00

A família arrecada R$ 288.000,00. Mas note que os R$ 180.000,00 têm que ser preservados
para financiar a próxima safra, se eles fizerem parte de uma reserva da família. Nesse
caso, os juros de R$ 10.800,00 podem ser usados para financiar as despesas da família.
Se João-capitalista os obteve por empréstimo, então o principal e os juros pagarão a dívida
contraída pelo João-capitalista. Assim, a família pode contar com R$ 97.200,00 para financiar
suas necessidades. Esse valor será acrescido de R$ 10.800,00, se os R$ 180.000,00 forem
recursos próprios.

Manoel - Descobri mais uma falha na argumentação do professor. A família não pode
gastar a depreciação pura. Tem que ser bem aplicada para renovar benfeitorias, máquinas e
equipamentos, na hora que surgir a necessidade. A família realmente dispõe de R$ 84.200,00
(Renda líquida + Aluguel da terra + Trabalho familiar).

Professor Fernando - Grato pela correção.

Manoel - Professor Fernando, porque o senhor usou a palavra dispêndio em vez de custo?
Tenho dificuldade de compreender a razão.

Professor Fernando - Digamos que haja 10 agricultores que, pela mesma metodologia,
calcularam o custo de produção do milho. Este custo por saco variou de R$ 12,00 a R$ 18,00.
Conferiram-se as contas. Não se encontrou nada de errado, e a heterogeneidade de solos
e recursos naturais em geral explicou diminuta parcela da diferença. Os dez agricultores
resolveram organizar a produção de tal modo a convergir o custo por saco para o menor valor,

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 53


R$ 12,00. O exemplo ilustra a idéia de que existe um custo mínimo, e que cada agricultor
deve buscá-lo. O dispêndio estimado por saco pode não coincidir com o mínimo que o
agricultor poderia ter obtido. Este dispêndio por saco minimizado é o custo de produção.
Juntar numa mesa de discussão alguns agricultores, sob a mesma metodologia de cálculo
de custo, é uma forma de ter uma idéia aproximada de qual é o custo mínimo. Ou seja, o
dispêndio mínimo, observadas as restrições do agricultor, é o seu custo total de produção,
e dividindo-se este pelo número de sacos de milho produzido, obtém-se o custo médio de
produção, R$/saco. Logo, o dispêndio não é equivalente ao custo de produção, a não ser
por pura coincidência.

Manoel - Há uma dúvida me atormentando. Quando o empresário aluga o trator de um


terceiro, o valor do aluguel é claro. Ele é uma parcela do dispêndio total. Como se aplicam
6% de juros sobre o dispêndio total, o aluguel também é acrescido, implicitamente, deste
valor. Tudo se passa como se cada parcela do dispêndio total fosse acrescida de 6% de
juros. Se fossem somados os juros das parcelas se obteria o valor 0,06 x 180.000,00 = R$
10.800,00. Assim, o custo de oportunidade do gasto com aluguel do trator é contemplado,
embora não apareça na Tabela 24.

E o se o trator fosse do capitalista? Tudo tem que ser igual ao caso anterior. Obtém-se no
mercado o valor do aluguel, ou então se estima o mesmo. E este valor será o aluguel do
trator, como no caso anterior. Correto, professor Fernando?

Professor Fernando - Correto. Mas precisamos saber qual é a depreciação pura, porque
o seu valor não pode ser gasto pela família. Então, o aluguel de mercado, ou o estimado,
é dividido em duas parcelas, que, se somadas, dão o mesmo valor: depreciação pura e
manutenção-operação. Este último valor é igual ao aluguel menos a depreciação pura. Tudo
como está na Tabela 24.

Manoel - Não se aplicou juros sobre juros?

Professor Fernando - Não. É o valor de aluguel que conta para o empreendedor. É sobre ele
que exercerá a decisão de alugar ou não alugar, na qual se assenta o custo de oportunidade.
É claro que o aluguel foi feito, depois de uma boa sondagem entre os ofertantes de serviços
de trator.

Manoel - O professor Fernando cuidou de nos ensinar os princípios básicos. Há muitos


detalhes deixados de lado para não complicar a exposição. Isso é verdade, professor?

Professor Fernando - Correto, “Seu” Manoel. Alguns detalhes serão esclarecidos durante
o curso e nas questões específicas mostradas abaixo.

Manoel - Obrigado, professor Fernando.

Professor Fernando - Estamos ao seu dispor, “Seu” Manoel.

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Questões específicas

1. Custo fixo

As respostas do Professor Fernando não deixaram dúvidas de que o custo é calculado para
auxiliar o planejamento do próximo ano, e que o empresário tem plena liberdade de repetir
a experiência do passado, reorganizar o negócio ou mesmo vendê-lo. Por isto, todos os
recursos, incluindo a terra, máquinas e equipamentos, benfeitorias e os animais, têm custo de
oportunidade, não são fixos, podem ter valores mudados. Assim, não faz sentido desdobrar
o custo em fixo e variável.

2. Impostos

O modelo de produção se assemelha a uma grande panela. O empresário põe aí os insumos,


cozinha e saem os produtos. Somente pode ser computado como gasto o dispêndio nos
insumos. Um imposto que não incida sobre um insumo não pode ser computado como gasto.
O imposto de renda é um exemplo. O custo é calculado em nível de porteira. Isto facilita as
discussões entre produtores.

O imposto de renda não é parte do custo. É da responsabilidade do empresário. Incide


sobre a renda líquida.

O imposto territorial é adicionado ao custo do aluguel da terra. Se a terra é alugada de


terceiros, o contrato de aluguel pode estabelecer que o dono da terra pagará o imposto
territorial. Neste caso, não incluir o imposto territorial, pois ele já está embutido no valor do
aluguel.

Impostos sobre insumos: o correto é adicioná-los ao valor do insumo. Na maioria das


vezes, o imposto já está cristalizado no insumo, e aí nada há a acrescentar. A exceção mais
conhecida é o trabalho. O salário é composto do que se paga ao trabalhador e de todos os
impostos, taxas e contribuições que incidam sobre a folha de pagamento.

O preço que o produtor recebe é livre de imposto, taxas e contribuições, em nível da porteira,
obviamente, descontado o custo de transporte. O preço do insumo é em nível de fazenda,
acrescido do custo de transporte, impostos, taxas e contribuições, como já dito. O custo
é, assim, calculado em nível de porteira. Deste modo, fica mais fácil para um agricultor
conversar com outro.

Contribuições e taxas: as que dizem respeito ao trabalho devem ser adicionadas aos
salários. As contribuições patronais têm de ser examinadas com cuidado. Aquela que se
paga porque se é proprietário da terra incide sobre a terra, ou seja, aumenta o aluguel da
terra - a contribuição sindical rural é um exemplo; aquela que se paga à Contag incide sobre
o trabalho, e deve ser adicionada ao salário.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 55


3. Seguros

É preciso examinar a natureza do seguro. Um seguro sobre veículo onera a operação do


veículo, e deve ser adicionado ao dispêndio em máquinas e equipamentos. Um seguro contra
frustração de safra deve ser descontado do valor da venda da produção.

4. Objetivo

O texto enfatiza o uso do custo de produção para fins de política agrícola e avaliação
econômica de tecnologia. Por isto, não há recursos fixos e o custo de oportunidade do
dinheiro é um só. Mas, seu Manoel pode querer testar uma idéia para o próximo ano apenas
e que é válida para seu negócio somente. Neste caso, pode se usar várias taxas de juros e
manterem determinados recursos fixos, como a terra. Mas, seu Manoel tem que entender
que: o resultado somente vale para ele e para aquela circunstância. Não pode negociar
o preço de seu produto baseado nele, e nem culpar o governo, se o preço do produto for
menor que seu custo.

56 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


ANEXOS

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Tabela A1. Valores imputados para aluguel e juros para os bens da Tabela 12. Exemplo da Fazenda São Manoel.
Juros fixados Vida útil restante Valor atual Valor sucata Aluguel imputado Depreciação pura Juros Imputados
Benfeitorias % Anos R$ ( % ) R$ R$ R$
Casa 6 50 120.000,00 5 7.592,65 2.280,00 5.312,65
Casa 6 50 80.000,00 5 5.061,77 1.520,00 3.541,77
Casa 6 50 80.000,00 5 5.061,77 1.520,00 3.541,77
Galpão 6 8 80.000,00 5 12.478,73 9.500,00 2.978,73
Caixa d’água 6 8 15.000,00 5 2.339,76 1.781,25 558,51
Silo grãos 6 30 325.000,00 5 23.405,35 10.291,67 13.113,68
Curral 6 3 30.000,00 5 10.752,13 9.500,00 1.252,13
Sala ordenha 6 30 50.000,00 5 3.600,82 1.583,33 2.017,49
Cocheira 6 30 20.000,00 5 1.440,33 633,33 807,00
Sala de ração 6 30 80.000,00 5 5.761,32 2.533,33 3.227,98

Federação da Agricultura e Pecuária


Bezerreiros 6 30 40.000,00 5 2.880,66 1.266,67 1.613,99
Farmácia 6 30 20.000,00 5 1.440,33 633,33 807,00
Rede elétrica 6 50 5.000,00 5 316,36 95,00 221,36

do
Transformador 6 30 25.000,00 5 1.800,41 791,67 1.008,74
Cercas 6 10 30.000,00 5 3.962,24 2.850,00 1.112,24
Total     1.000.000,00 50.000,00 87.894,62 46.779,58 41.115,04
Máquinas % Anos R$ ( % ) R$ R$ R$
Caminhão 6 5 30.000,00 10 6.589,70 5.400,00 1.189,70

Estado de São Paulo


Trator 6 6 170.000,00 10 32.134,48 25.500,00 6.634,48
Trator 6 6 55.000,00 10 10.396,45 8.250,00 2.146,45
Secador de cereais 6 12 80.000,00 10 9.067,95 6.000,00 3.067,95
Ordenhadeira 6 6 20.000,00 10 3.780,53 3.000,00 780,53
Resfriador 600 Lt 6 5 12.000,00 10 2.635,88 2.160,00 475,88
Total     367.000,00 36.700,00 64.604,99 50.310,00 14.294,99
Tabela A1. CONTINUAÇÃO. Valores imputados para aluguel e juros para os bens da Tabela 12. Exemplo da Fazenda São Manoel.
Juros fixados Vida útil restante Valor atual Valor sucata Aluguel imputado Depreciação pura Juros Imputados
Equipamentos % Anos R$ ( % ) R$ R$ R$
Semeadeira 6 15 8.000,00 5 806,52 506,67 299,85
Pulverizador 6 6 15.000,00 5 2.942,92 2.375,00 567,92
Distribuidor calcário 6 10 14.000,00 5 1.849,04 1.330,00 519,04
Grade hidráulica 6 4 18.000,00 5 4.988,91 4.275,00 713,91

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural


Carreta 6 15 2.500,00 5 252,04 158,33 93,70
Carreta 6 15 2.500,00 5 252,04 158,33 93,70
Terraceador 6 6 25.000,00 5 4.904,86 3.958,33 946,53
Inseminação 6 10 35.000,00 5 4.622,61 3.325,00 1.297,61
artificial
Utensílios 6 4 10.000,00 5 2.771,62 2.375,00 396,62
Arreios 6 6 3.000,00 5 588,58 475,00 113,58
Total     133.000,00 6650 23.979,14 18.936,67 5.042,47
Animais
Mangalarga 6 3 9.000,00 10 3.084,29 2.700,00 384,29
Touro 6 1 15.000,00 15 13.650,00 12.750,00 900,00
Vacas adultas 6 4 1.300.000,00 78.000,00 78.000,00
Total     1.324.000,00 3.150,00 94.734,29 15.450,00 79.284,29

Administração Regional do Estado de São Paulo


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Tabela A2. Valor atual, aluguel imputado e depreciação pura e juros imputados para os bens da Tabela 12. Fazenda São Manoel.
Valor atual, R$ Aluguel imputado, R$ Depreciação pura, R$ Juros Imputados, R$

Benfeitorias Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite

Casa 36000,00 36000,00 48000,00 2277,79 2277,79 3037,06 684,00 684,00 912,00 1.593,79 1.593,79 2.125,06
Casa 24000,00 24000,00 32000,00 1518,53 1518,53 2024,71 456,00 456,00 608,00 1.062,53 1.062,53 1.416,71
Casa 24000,00 24000,00 32000,00 1518,53 1518,53 2024,71 456,00 456,00 608,00 1.062,53 1.062,53 1.416,71
Galpão 32000,00 32000,00 16000,00 4991,49 4991,49 2495,75 3.800,00 3.800,00 1.900,00 1.191,49 1.191,49 595,75
Caixa d’água 750,00 750,00 13500,00 116,99 116,99 2105,79 89,06 89,06 1.603,13 27,93 27,93 502,66
Silo grãos 162500,00 162500,00 0,00 11702,68 11702,68 0,00 5.145,83 5.145,83 0,00 6.556,84 6.556,84 0,00
Curral 0,00 0,00 30000,00 0,00 0,00 10752,13 0,00 0,00 9.500,00 0,00 0,00 1.252,13
Sala ordenha 0,00 0,00 50000,00 0,00 0,00 3600,82 0,00 0,00 1.583,33 0,00 0,00 2.017,49
Cocheira 0,00 0,00 20000,00 0,00 0,00 1440,33 0,00 0,00 633,33 0,00 0,00 807,00

Federação da Agricultura e Pecuária


Sala de ração 0,00 0,00 80000,00 0,00 0,00 5761,32 0,00 0,00 2.533,33 0,00 0,00 3.227,98
Bezerreiros 0,00 0,00 40000,00 0,00 0,00 2880,66 0,00 0,00 1.266,67 0,00 0,00 1.613,99
Farmácia 0,00 0,00 20000,00 0,00 0,00 1440,33 0,00 0,00 633,33 0,00 0,00 807,00

do
Rede elétrica 500,00 500,00 4000,00 31,64 31,64 253,09 9,50 9,50 76,00 22,14 22,14 177,09
Transformador 2500,00 2500,00 20000,00 180,04 180,04 1440,33 79,17 79,17 633,33 100,87 100,87 807,00
Cercas 3000,00 3000,00 24000,00 396,22 396,22 3169,79 285,00 285,00 2.280,00 111,22 111,22 889,79
Total 285250,00 285250,00 429500,00 22733,91 22733,91 42426,80 11004,56 11004,56 24770,46 11729,35 11729,35 17656,34
Máquinas Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite

Estado de São Paulo


Caminhão 12000,00 13500,00 4500,00 2635,88 2965,37 988,46 2.160,00 2.430,00 810,00 475,88 535,37 178,46
Trator 68000,00 76500,00 25500,00 12853,79 14460,52 4820,17 10.200,00 11.475,00 3.825,00 2.653,79 2.985,52 995,17
Trator 22000,00 24750,00 8250,00 4158,58 4678,40 1559,47 3.300,00 3.712,50 1.237,50 858,58 965,90 321,97
Secador de cereais 40000,00 40000,00 0,00 4533,97 4533,97 0,00 3.000,00 3.000,00 0,00 1.533,97 1.533,97 0,00
Ordenhadeira 0,00 0,00 20000,00 0,00 0,00 3780,53 0,00 0,00 3.000,00 0,00 0,00 780,53
Resfriador 600 L 0,00 0,00 12000,00 0,00 0,00 2635,88 0,00 0,00 2.160,00 0,00 0,00 475,88
Total 142000,00 154750,00 70250,00 24182,23 26638,26 13784,50 18660,00 20617,50 11032,50 5522,23 6020,76 2752,00
Tabela A2. CONTINUAÇÃO. Valor atual, aluguel imputado e depreciação pura e juros imputados para os bens da Tabela 12.
Fazenda São Manoel.

Valor atual, R$ Aluguel imputado, R$ Depreciação pura, R$ Juros Imputados, R$


Equipamentos Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite
Semeadeira 3200,00 4800,00 0,00 322,61 483,91 0,00 202,67 304,00 0,00 119,94 179,91 0,00
Pulverizador 2250,00 12750,00 0,00 441,44 2501,48 0,00 356,25 2.018,75 0,00 85,19 482,73 0,00
Distribuidor calcário 4200,00 5600,00 4200,00 554,71 739,62 554,71 399,00 532,00 399,00 155,71 207,62 155,71
Grade hidráulica 2700,00 2700,00 12600,00 748,34 748,34 3492,24 641,25 641,25 2.992,50 107,09 107,09 499,74

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural


Carreta 1500,00 1000,00 0,00 151,22 100,81 0,00 95,00 63,33 0,00 56,22 37,48 0,00
Carreta 0,00 0,00 2500,00 0,00 0,00 252,04 0,00 0,00 158,33 0,00 0,00 93,70
Terraceador 12500,00 12500,00 0,00 2452,43 2452,43 0,00 1.979,17 1.979,17 0,00 473,26 473,26 0,00
Inseminação artificial 0,00 0,00 35000,00 0,00 0,00 4622,61 0,00 0,00 3.325,00 0,00 0,00 1.297,61
Utensílios 3000,00 4000,00 3000,00 831,49 1108,65 831,49 712,50 950,00 712,50 118,99 158,65 118,99
Arreios 0,00 0,00 3000,00 0,00 0,00 588,58 0,00 0,00 475,00 0,00 0,00 113,58
Total 29350,00 43350,00 60300,00 5502,23 8135,24 10341,67 4385,83 6488,50 8062,33 1116,40 1646,74 2279,34
Animais Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite
Mangalarga 0,00 0,00 9000,00 0,00 0,00 3084,29 0,00 0,00 2700,00 0,00 0,00 384,29
Touro 0,00 0,00 15000,00 0,00 0,00 13650,00 0,00 0,00 12750,00 0,00 0,00 900,00
Vacas adultas 0,00 0,00 1300000,00 0,00 0,00 78000,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 78000,00
Total 0,00 0,00 1324000,00 0,00 0,00 94734,29 0,00 0,00 15450,00 0,00 0,00 79284,29

Administração Regional do Estado de São Paulo


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Anexo A3 - Informações básicas da Fazenda São Manoel.

(A) Dispêndios com insumos por atividade.

Tabela A3. Dispêndios com insumos por atividade, Fazenda São Manoel.

Dispêndios com insumos Valor R$ / ano


Milho 73.000,00
Soja 62.000,00
Leite, incluindo pastagem 600.000,00
TOTAL 735.000,00

(B) Proporção das áreas não usadas distribuídas por atividade.

Tabela A4. Proporção das áreas não usadas alocadas por atividade.

Milho Soja Leite Total


Área útil, ha 75 75 326 476
% da área útil 15,76 15,76 68,48 100
Área não usada 19,54 19,54 84,92 124
R$ Área útil 622.500,00 622.500,00 2.119.000,00 3.364.000,00
R$ área não usada 100.233,60 100.233,60 435.532,80 636.000,00
VP terra por atividade, R$ 722.733,60 722.733,60 2.554.532,80 4.000.000,00

(C) Classes de capacidade de uso dos solos.

Tabela A5. Áreas das classes de capacidade de uso dos solos, Fazenda São Manoel.

Classes capacidade uso dos solos Área hectares


II 300,0
III 66,67
IV 80,0
V 120,0
VIII 30,0
Represa 3,33
Total 600,00

62 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


10. Referências Bibliográficas

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Tese de Doutorado. 2002.

BERTONI, J. & LOMBARDI NETO F. Conservação dos solos. Ícone, São Paulo, 1990.
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HOFFMANN, R., ENGLER, J. J. C., SERRANO, O., THAME, A. C. M., NEVES, E. M.


Administração da empresa agrícola. São Paulo - SP: Pioneira, 1992, v.1. p.325.

KINLAW, DENNIS C. Empresa competitiva e ecológica: desempenho sustentado na


era ambiental. Tradução de Lenke Peres Alves de Araújo. São Paulo: Makron Books,
1997.

PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 2.ed. Rio


de Janeiro: FGV, 2000.

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 63


senar-ar/sp
Rua Barão de Itapetininga, 224
CEP: 01042-907 - São Paulo/SP
www.faespsenar.com.br

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