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módulo 1
Custo de Produção
e Rentabilidade na
Agricultura
“O SENAR-AR/SP está permanentemente
empenhado no aprimoramento profissional e
na promoção social, destacando-se a saúde
do produtor e do trabalhador rural.”
Fábio Meirelles
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gestão 2008-2012
empresário rural
módulo 1
Custo de Produção e
Rentabilidade na Agricultura
COORDENAÇÃO
Jair Kaczinski
Chefe da Divisão Técnica do SENAR-AR/SP
AUTORES
Eliseu Alves
Pesquisador da Embrapa, Eliseu.Alves@embrapa.br
DIAGRAMAÇÃO
Thais Junqueira Franco
Diagramadora do SENAR-AR/SP
O empresário rural utiliza os seguintes capitais para efetuar um negócio que lhe gere renda
de forma sustentável: Capital Financeiro, Capital Físico, Capital Natural, Capital Humano e
Capital Social. Usar capitais em negócios com o objetivo de obter rendas significa investir.
O sucesso de um negócio depende da elaboração do projeto de investimento. O projeto de
investimento inicia-se com a realização do diagnóstico da situação atual da empresa em
termos de estoques dos capitais sociais, humanos, naturais, físicos e financeiros disponíveis.
O diagnóstico envolve investigação, coleta, registro, ordenação e análise de dados e
informações. As análises do diagnóstico são de dois tipos: (A) análise dos rendimentos atuais
proporcionados pelas atividades da empresa e (B) análise das informações para identificar
os pontos fortes e os pontos fracos do empreendimento atual. Estas análises são úteis para
o planejamento de negócios agropecuários.
A Fazenda São Manoel foi fundada em 1981 com o desmembramento da Fazenda Três
Irmãos cujas terras eram parte da antiga “Sesmaria do Barão”, doada pelo Império em
meados de 1870 ao Barão dos Toledos. Em 1940 Manoel Silva (avô do proprietário atual)
adquiriu as terras dos herdeiros do Barão, as culturas principais eram sisal e algodão. Em
1970 as terras da sesmaria foram herdadas pelos irmãos Manoel Silva Filho, João Silva e
Joaquim Silva que criaram a Fazenda Três Irmãos dedicada a produção de milho e algodão
até 1981.
O empresário organiza a produção e assume os riscos de produzir, o empresário não é dono ou proprietário
do capital. O capitalista é dono do capital. Um indivíduo pode ser empresário, ser capitalista ou ser capitalista-
empresário ao mesmo tempo.
Pontos fortes: Integração pecuária e agricultura e plantio direto. Boa produtividade das
culturas e boa lotação animal/ha. Experiência nas atividades. O leite “B” agrega valor e a
raça Holandesa é adequada para produção de leite.
O estoque de Capital Social é formado pelas relações e vínculos que se estabelecem entre
as pessoas. O ser humano é um ser social, não vive isoladamente, vive em sociedade com
o objetivo de alcançar melhor qualidade de vida para si e para a humanidade. A unidade
básica da sociedade é a família, pois ela é o berço em que se desenvolvem as relações das
pessoas com a comunidade e com a sociedade em geral. Para uma pessoa do meio rural
a comunidade é formada pelos vizinhos, colegas de trabalho, colegas de escola, colegas
de clubes, membros de igreja, partidos políticos, sindicatos, associações de produtores,
cooperativas etc. Quanto mais a pessoa interage com a família e com a comunidade, maior
é o seu Capital Social. Ao interagir com as outras pessoas da família ou da comunidade,
adquire mais confiança nelas, passando a conhecer seus comportamentos, habilidades,
intenções e competências pessoais. Por outro lado, o mesmo ocorre com a comunidade
que adquire mais confiança na pessoa. Esta confiança é fundamental para as pessoas se
envolverem em projetos de interesse da comunidade e a comunidade apoiar os projetos
individuais. É esta confiança que leva as pessoas a serem sócias, parceiras e colaboradoras.
O Capital Social é o produto desta confiança recíproca.
O Capital Social está cumprindo seu papel na busca de melhor qualidade de vida para o
indivíduo, a família e a comunidade?
Para obter as respostas a estas perguntas, é necessário entender melhor o que são: Família
e Comunidade.
2.1. Família
Você certamente deve pensar que a Família seja algo mais do que isto, mas são estas
características que têm aplicações práticas na elaboração de um projeto de investimento.
A família é formada pelo casal fundador da empresa e os seus dois filhos, duas noras, um
neto e uma neta. Moram em três casas construídas na propriedade. Todos trabalham e vivem
na propriedade. A estrutura familiar é apresentada na Tabela 1.
Nome da Grau de
Idade Negócios e trabalhos atuais
pessoa parentesco
Manoel Avô 63 Administra a fazenda
Maria Avó 61 Doméstica
Luis Filho 38 Trabalha na fazenda
Ana Nora 37 Trabalha na fazenda
Mario Filho 36 Trabalha na fazenda
Paula Nora 36 Trabalha na fazenda
José Neto 15 Trabalha na fazenda e estuda
Luisa Neta 13 Estuda
As informações acima são analisadas para identificar os pontos fortes e os pontos fracos
da Família, como mostra o Exemplo 4.
2.2. Comunidade
A conclusão do diagnóstico do Capital Social da Comunidade tem a análise dos tópicos acima
e a identificação dos pontos fortes e dos pontos fracos da Comunidade. Depois, responda:
A Comunidade está cumprindo o seu papel na busca pela qualidade de vida? Como está a
interação entre as pessoas da Comunidade?
A confiança nos grupos e entre as pessoas da comunidade é alta. Os líderes são sempre
apoiados nas suas decisões. Aqui se alguém quiser organizar uma festa no Bairro, na
Igreja, organizar um mutirão de limpeza ou outra coisa qualquer, toda a comunidade ajuda.
É fácil saber o que acontece no Sindicato e na Igreja porque eles há os seus próprios
jornais informativos. As outras coisas se ficam sabendo pelas conversas com os amigos e
vizinhos.
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo
No Bairro não existem brigas nem roubos. Na política, cada um vota como quiser. Quando
se precisa de alguma coisa da prefeitura, o presidente da Associação resolve, nunca foi
preciso ir junto para fazer pressão. As pessoas preferem comprar na loja e no mercadinho
do Bairro.
Pontos fortes: Comunidade organizada. Alta confiança. Líderes atuantes. Não há violência.
Alta interação entre as pessoas.
Por que o Capital Humano é importante para a empresa? Um dos motivos é a adoção
de tecnologias avançadas, as quais exigem flexibilidade e capacidade de inovação das
pessoas que atuam na empresa. Outro motivo é a globalização da economia, que exige
maior capacidade de concorrência das empresas, as quais, por sua vez, necessitam de
pessoas melhores qualificadas. E, finalmente, quanto melhor é o Capital Humano, maior é
a produtividade e maior é a renda das empresas rurais.
A Fazenda São Manoel ainda contrata temporariamente uma turma de trabalhadores, para
atividades diversas, gastando no total (incluindo encargos sociais) com assalariados R$
330.000,00, por ano.
O exemplo de despesas com o uso dos recursos humanos na Fazenda São Manoel, por
atividade/ano, é apresentado na Tabela 5.
Tabela 5. Despesas com recursos humanos na Fazenda São Manoel, por atividade/ano.
Pontos fortes: As funções dos trabalhadores estão bem definidas. As escolaridades são boas
e os salários são bons. Em geral as qualidades pessoais (atitudes, habilidades, idoneidade,
saúde, inovação, disposição e valorização da vida rural) são boas e altas.
Quanto melhor for o diagnóstico do Capital Natural, melhor será o planejamento da empresa
rural.
A terra em uma empresa agropecuária é dividida em diversas glebas. Cada gleba é usada
para uma finalidade. Por exemplo, têm-se glebas com culturas anuais, culturas perenes,
pastagens, reflorestamentos, matas naturais, mata ciliar, área de reserva legal, quintais
e represas. Em volta destas glebas existem as estradas e carreadores, as cercas, redes
elétricas, benfeitorias e moradias que também são importantes na caracterização do uso
da terra. A forma como a terra é dividida em glebas é um retrato do sistema de produção e
das técnicas adotadas na empresa.
A descrição do uso da terra é feita com o uso de um mapa, localizando cada gleba da empresa
Tabela 6. Preço de mercado da terra nua (sem benfeitorias), por gleba e total da Fazenda
São Manoel.
Glebas 1 2 3 4 5 Total
Uso atual Cultura Pastagem Mata Represa Construções
Área, ha 150 326 120 3,33 0,67 600 ha
Área útil 31,52% 68,48% -- -- -- 476 ha
R$/ha 8.300,00 6.500,00 5.100,00 6.000,00 6.000,00 -
R$/gleba 1.245.000,00 2.119.000,00 612.000,00 19.980,00 4.020,00 4.000.000,00
As imobiliárias da região são uma boa fonte para saber o preço de mercado atual da terra.
Mas deve-se levar em conta que quase sempre os valores das imobiliárias não separam o
valor da terra nua e o valor das benfeitorias.
É comum, no mercado, a terra ter preços diferentes devido ao seu uso potencial. Assim,
as terras mais valorizadas são as terras de lavoura, seguidas pelas terras de pastagens,
terras de campos (terras de segunda com campos sujos, usados para lavoura e pastagem
com produtividade baixa ou para reflorestamento) e matas (normalmente é a terra de menor
valor, devido aos custos para torná-la produtiva e à obrigação da averbação de áreas para
fins de reserva legal).
Para o Estado de São Paulo, uma boa fonte de informação do preço da terra nua é o Instituto
de Economia Agrícola, que disponibiliza dados por Escritório de Desenvolvimento Rural e
por municípios, no site: http://www.iea.sp.gov.br/out/ibcoiea.php. As informações se referem
a: terra de culturas de primeira, terra de culturas de segunda, terra para pastagem e terra
para reflorestamento.
O uso sustentável da terra depende das características dos solos e suas relações com
as culturas. Para se promover a conservação dos solos, devem se escolher as culturas
obedecendo a classe de capacidade de uso dos solos.
CLASSE II. Terras cultiváveis que requerem uma ou mais práticas especiais de conservação
dos solos para serem cultivadas com segurança e permanentemente com culturas anuais,
obtendo produtividades entre médias e elevadas. A declividade pode ser suficiente para correr
enxurrada e provocar erosão. O solo pode ter alguma deficiência que limite sua capacidade
de uso. As áreas naturalmente encharcadas podem requerer drenagem. O solo pode não ter
boa capacidade de retenção de umidade, necessitando de práticas de conservação simples:
plantio em nível, cobertura vegetal, culturas em faixa e terraços. Em alguns casos, pode
necessitar de remoção de pedras e da utilização de adubos e corretivos.
CLASSE III. Terras cultiváveis que requerem medidas de conservação dos solos intensas ou
complexas, para serem cultivadas com segurança e permanentemente com culturas anuais
e obter produtividades entre médias e elevadas. O terreno tem declividade moderada (6%
a 12%) e exige cuidados intensivos para controlar a erosão; a drenagem deficiente exige
controle da água e a baixa produtividade requer práticas especiais de melhoramento do solo
(fertilizantes e calcário).
CLASSE IV. Terras que não se prestam para cultivos contínuos ou regulares com culturas
CLASSE V. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente
adaptadas para algumas culturas perenes, pastagens ou reflorestamento. São terras
praticamente planas com problemas de encharcamento ou de alguma obstrução permanente,
como a presença de rochas. O solo é profundo e as terras têm poucas limitações para
uso com pastagens ou com reflorestamentos permanentes, não necessitando de práticas
especiais de controle de erosão ou de proteção do solo.
CLASSE VI. Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo especialmente
adaptadas para algumas culturas perenes, pastagens ou reflorestamentos. Apresentam
problemas de pequena profundidade do solo ou declividade excessiva.
CLASSE VII. Terras que, além de não serem cultiváveis com culturas anuais, apresentam
severas limitações, mesmo para pastagens ou reflorestamentos, existindo grandes restrições
de uso, com ou sem práticas especiais de conservação dos solos. Requerem cuidados
extremos para o controle da erosão.
CLASSE VIII. Terras não cultiváveis com qualquer tipo de cultura e que não se prestam para
reflorestamentos ou para produção de qualquer outra forma de vegetação permanente de
valor econômico. Prestam-se apenas para proteção e abrigo da fauna silvestre, para fins
de recreação ou de armazenamento de água em açudes. São áreas extremamente áridas,
declivosas, pedregosas, arenosas, encharcadas ou severamente erodidas. São, por exemplo,
encostas rochosas, terrenos íngremes montanhosos ou terrenos com rochas, dunas arenosas
da costa, terrenos de mangues e pântanos.
Para fazer o diagnóstico da capacidade de uso dos solos é necessário fazer um mapa
(mesmo que seja um croqui desenhado a mão) com as glebas de terra e suas respectivas
classes. Ao lado do mapa deve-se descrever as glebas com suas áreas, seus estados de
conservação, as tecnologias de cultivo e principais espécies vegetais. Ao verificar se o uso
atual da terra está de acordo com a classificação da capacidade de uso do solo, observe
que podem ocorrer três situações: (1) o uso atual estar de acordo com a capacidade de uso;
(2) o uso atual estar em sobre-uso, ou seja, faz-se uso não recomendado; ou (3) o uso atual
estar em sub-uso, ou seja, não faz-se uso do potencial do solo ( por exemplo, reflorestar
área com solo da Classe I). Veja exemplo na Tabela 7.
Tabela 7. Áreas das classes de capacidades de uso dos solos e adequação do uso.
O manejo dos solos consiste num conjunto de técnicas que permite melhorar a capacidade
de produção dos solos, reduzir a erosão, melhorar a fertilidade em termos de nutrientes e
de disponibilidade de água e reduzir a ocorrência de plantas daninhas, pragas e doenças.
As técnicas mais usadas são: adubação e calagem conforme análise de solos, irrigação,
cobertura vegetal, plantio direto, rotação de culturas, culturas em faixa, culturas intercalares,
adubação verde, plantio em nível, quebra-ventos e terraceamentos. As técnicas da agricultura
de precisão também contribuem para o correto manejo dos solos.
Para fazer o diagnóstico do manejo dos solos é necessário descrever as técnicas de manejo
usadas em cada gleba da empresa.
Exemplo 10.
Na gleba de culturas anuais, há o uso de: plantio direto, análise dos solos, rotação de culturas
e plantio em nível com terraços de base larga. Rotação de culturas usando a soja, o milho
e a pastagem.
Exemplo 11. Nas áreas da Fazenda São Manoel nascem 3 córregos que têm água o ano
todo. Todas as nascentes estão protegidas com matas (a uma distância de 50 metros, por
todos os lados). As casas são abastecidas com poços com bomba d’água. No centro da
fazenda há uma grande represa de 3,3 hectares. O Ribeirão Alambari passa na propriedade
e depois deságua no Rio Piracicaba.
Exemplo 12. A área de reserva florestal da Fazenda São Manoel possui mata fechada a
qual é preservada há muito tempo e está no estágio médio de regeneração. A altura das
árvores é de 3 a 8 metros. Existem poucas Embaúbas. As espécies que mais ocorrem são:
Angico, Ipê amarelo, Jatobá, Faveiro e Pau ferro. Existem áreas com muito cipó em cima
das árvores.
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 17
4.4. Descrição da fauna
Exemplo 13. Os animais que já foram vistos na Fazenda São Manoel são: Pássaros:
gavião, urubu, pintassilgo, colerinha do brejo, canário da terra, sabiá, anu preto, periquito,
quero-quero, rolinha, garça e pomba. Cobras: coral e jararaca. Animais grandes: capivara e
cachorro do mato. Animais pequenos: tatu, sagui e gambá. Na represa: rã, cágado e teiú.
Peixes: lambari, traíra, bagre e mandi.
Cwa - Clima tropical de altitude, com verão quente e inverno seco. Localizado no centro
do planalto.
Cwb - Clima tropical, com verão ameno. Localizado em algumas regiões serranas.
Aw - Clima tropical chuvoso com inverno seco. Localizado na região noroeste, perto
dos rios Paraná e Rio Grande.
Cfa - Clima tropical, com verão quente, sem estação seca de inverno. Localizado na
região sul do planalto.
Cfb - Clima tropical, com verão ameno e chuvoso o ano todo. Localizado nas regiões
altas das serras do Mar e Mantiqueira.
4.5.3. Temperaturas
Tabela 9. Temperatura média mensal, das máximas, das mínimas e das médias, estimadas
para a região de Jundiaí (SP), período de 1941-2001.
O balanço hídrico indica quais as épocas do ano que ocorrem deficiência ou excesso de água
nos solos. Para fazer o balanço hídrico são usadas as precipitações, as temperaturas e as
evapotranspirações. A evapotranspiração mostra a perda de água devido à evaporação da
água dos solos e à transpiração das plantas. O balanço hídrico é importante para planejar
a irrigação e para fazer o zoneamento agrícola.
Tabela 10. Balanço hídrico climático médio, período de 1968-2001, em Jundiaí (SP).
Armazenamento máximo de 125 mm.
Precipitação
Excedente hídrico
Evapotranspiração real
mm
Meses
Tabela 11. Zoneamento do arroz de sequeiro, ciclos médio e precoce, dois tipos de solos
do município de Piracicaba.
Nota: O período indicado é calculado de maneira que o plantio ou a semeadura feita naquela
data tenha 80% de chance de sucesso, evitando perdas por eventos climáticos extremos
(seca, geada, chuva na colheita) em função da estação do ano (verão, outono, inverno e
primavera).
As culturas atuais da fazenda São Manoel estão de acordo com o zoneamento agrícola.
Com isto minimiza-se os riscos devidos aos eventos climáticos.
A seca (estiagem) é caracterizada por um período longo de falta de água, que afeta tanto
as atividades agrícolas quanto os abastecimentos das cidades.
O Capital Natural possui outras características importantes para o ser humano, tais como: as
estéticas, cênicas, arqueológicas, históricas, espirituais, científicas, educacionais, esportivas,
artísticas e recreativas. Estas características são responsáveis pelo interesse turístico das
pessoas nas áreas rurais, oferecendo uma oportunidade de negócios para as empresas
rurais. As ocorrências destas características podem valorizar as terras da propriedade.
Exemplo 18. A Fazenda São Manoel tem uma grande represa, mas o Sr. Manoel não permite
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 23
as pessoas nadarem e pescarem nela. A paisagem é comum na região. Por isto tem baixo
potencial turístico.
Define-se impacto ambiental como sendo qualquer modificação no ambiente (solo, água,
flora, fauna, ar e ser humano), adversa ou benéfica, resultante total ou parcialmente das
atividades, produtos e/ou serviços da empresa.
A lista de verificação é usada para identificar os impactos ambientais que a empresa julga
serem mais importantes e que ocorrem na empresa.
É possível que esta lista de verificação não atenda todas as necessidades da empresa;
fica a critério da empresa acrescentar novos itens. Mas lembre-se: os itens da lista devem
destacar os impactos mais importantes.
Os impactos assinalados devem ser descritos em termos dos fatores que afetam a sua
significância: (1) freqüência que ocorrem; (2) duração; (3) abrangência em extensão territorial;
(4) reversibilidade ou recuperabilidade; (5) possibilidade de mitigação; (6) limites estabelecidos
pela legislação. Indicar também o local onde ocorrem os impactos ambientais.
Pontos fortes: Reserva legal com mata em estágio de regeneração médio. Manejo adequado
do solo com: plantio direto, plantio em nível, terraceamento e rotação de cultura. Água
disponível o ano todo em quantidade e qualidade. Clima Cwa tropical quente e úmido
adequado à agricultura e pecuária, temperaturas, precipitação e balanço hídrico adequados.
Culturas de acordo com o zoneamento agrícola e sem riscos climáticos.
Pontos fracos: Áreas com sobre-uso e sub-uso da capacidade de uso do solo. Ausência de
animais silvestres nativos. Não há potencial turístico. Encontraram-se 6 impactos ambientais
negativos importantes, que serão objetos de ações ambientais da empresa nos próximos
anos.
O estoque de Capital Físico que a empresa possui é demonstrado por intermédio de uma lista
que contém: descrição do item (tipo, modelo), quantidade do item e a respectiva unidade,
data de aquisição, vida útil restante, estado de conservação e valor atual. Esta lista tem de
ser exaustiva, contendo todos os itens existentes na empresa.
A vida útil é o tempo, geralmente medido em anos, que um bem físico leva para perder sua
utilidade na produção.
O estado de conservação pode ser classificado em quatro níveis: (A) Bom, para aquele
que está operacional e em funcionamento normal; (B) Regular, para aquele que necessita
de pequenos reparos ou consertos, mas está em funcionamento; (C) Ruim, para aquele
que necessita de grandes reparos e consertos e não está funcionando ou operacional; (D)
Sucata, para aquele que não funciona mais.
Por exemplo, na Tabela 12: o trator de 85 Hp da fazenda São Manoel é usado nas atividades
de milho, soja e produção de leite (pastagens e transportes). Perguntou-se ao Sr. Manoel:
Durante o último ano, quanto do tempo deste trator foi usado em cada atividade? Ele
respondeu: 40% no milho, 45% na soja e 15% na produção de leite. Outro exemplo: A
ordenhadeira é usada somente na produção de leite, então seu uso aparece como 100%
na atividade de produção do leite.
reais.
Anos R$ % Milho Soja Leite
Benfeitorias ( % ) ( % ) (%)
Casa Alvenaria, 200m2. 1 1980 Bom 50 120.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Casa Alvenaria, 140m2. 1 1990 Bom 50 80.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Casa Alvenaria, 140m2. 1 1995 Bom 50 80.000,00 5 30,00 30,00 40,00
Galpão Aberto, madeira. 1 1982 Bom 8 80.000,00 5 40,00 40,00 20,00
Caixa d’água Elevada, metálica. 1 1998 Bom 8 15.000,00 5 5,00 5,00 90,00
Silo grãos Metálico 120 ton. 2 2000 Bom 30 325.000,00 5 50,00 50,00 -
Curral Madeira, 160m2 1 1980 Regular 3 30.000,00 5 - - 100,00
Sala ordenha Alvenaria,40m2 1 2000 Bom 30 50.000,00 5 - - 100,00
Cocheira Alvenaria 80 m2 1 2000 Bom 30 20.000,00 5 - - 100,00
ATENÇÃO!!!
Cercas Arame 4 fios. 3000 m 1998 Bom 10 30.000,00 5 10,00 10,00 80,00
Total 1.000.000,00
Máquinas
Caminhão Truck, 12 t., 1999. 1 2002 Bom 5 30.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Trator 120 HP, 2000. 2 2000 Bom 6 170.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Trator 85 HP, 1999. 1 1999 Bom 6 55.000,00 10 40,00 45,00 15,00
Secador de cereais Diesel 1 2001 Bom 12 80.000,00 10 50,00 50,00 -
Ordenhadeira Mecânica, 10 vacas 1 2000 Bom 6 20.000,00 10 - - 100,00
Tabela 12. Lista do Capital Físico disponível na Fazenda São Manoel.
Estes dados são fictícios, não use estes valores para avaliar casos
reais.
aquisição Conservação restante sucata
Anos R$ % Milho Soja Leite
Equipamentos % % %
Semeadeira 10 linhas plantio direto 1 2002 Bom 15 8.000,00 5 40,00 60,00 -
Pulverizador 2000 l 1 1999 Bom 6 15.000,00 5 15,00 85,00 -
Distribuidor calcário Capacidade 2500kg 1 2000 Bom 10 14.000,00 5 30,00 40,00 30,00
Grade hidráulica 24 discos 2 2000 Bom 4 18.000,00 5 15,00 15,00 70,00
Carreta 3 ton. 1 2003 Bom 15 2.500,00 5 60,00 40,00 -
Carreta 3 ton. 1 2003 Bom 15 2.500,00 5 - - 100,00
Terraceador 16 discos 1 2003 Bom 6 25.000,00 5 50,00 50,00 -
Kit para inseminação Botijões, criogênico, 1 2002 Bom 10 35.000,00 5 - - 100,00
artificial etc
ATENÇÃO!!!
do
Mangalarga Cavalos de sela 3 2002 Bom 3 9.000,00 10 - - 100,00
Touro Holandês, PO. 3 2000 Bom 1 15.000,00 15 - - 100,00
Vacas adultas Holandesas 650 Bom 6 1.300.000,00 - - - 100,00
Total 1.324.000,00
Total geral 2.824.000,00
Pontos fortes: A Fazenda São Manoel possui um Capital Físico no valor de R$ 2.824.000,00.
Os estados de conservação dos bens são bons e os bens estão operacionais. A vida útil
restante dos bens mostra que eles serão usados por muitos anos na empresa. Metade do
valor do Capital Físico é devido às 650 vacas de produção de leite.
Pontos fracos: Muitos dos bens estão superdimensionados para a atual produção da empresa,
por exemplo, os silos metálicos. Poucos touros de reprodução.
A Fazenda São Manoel tem disponibilidade financeira para fazer os pagamentos no período de
fevereiro a abril de 2005. Mas esse período é época de colheita de soja e milho e a empresa
necessitará de recursos financeiros para o custeio desta operação. A Empresa possui rendas
mensais da venda do leite, as quais fornecerão parte destes recursos.
7. Rentabilidade da Empresa
7.1. Introdução
Uma pessoa pode ser empresária tomando empréstimos e alugando bens do capitalista.
Pode também ser empresária e ao mesmo tempo ser capitalista por ser proprietária dos
bens e tomar empréstimos de capitalistas terceiros. Pode ainda ser empresária e ao mesmo
tempo capitalista por ser proprietária dos bens e usar recursos financeiros próprios, sem
recorrer a empréstimo de terceiros. No setor agrícola, é comum a empresa ser familiar, pois
os próprios familiares tomam as decisões, compõem a maior parte dos recursos humanos e,
em geral, são proprietários da terra e possuem parte dos capitais físico e financeiro investidos
na empresa. Nestes casos são empresários (por organizarem a produção e assumirem os
riscos inerentes) e capitalistas (por possuírem capitais físicos, naturais e financeiros).
Para calcular a renda líquida obtida pelo Empresário, tem-se de descontar os juros pagos,
pois estamos considerando que o capital não lhe pertence. Portanto, os juros pagos fazem
parte do dispêndio. A remuneração do empresário é o lucro obtido nas atividades da empresa.
O lucro remunera o trabalho administrativo do empresário e os riscos por ele assumidos.
Cabe ressaltar, logo de início, que estamos fazendo um diagnóstico da situação atual de um
negócio, utilizando-se das informações do passado sobre o montante de recursos utilizados
e os resultados obtidos.
O Empresário não dispõe de bens de capital. Ele aluga a terra, as benfeitorias, as máquinas,
os equipamentos e os animais. Ele também financia o custeio de suas atividades com
empréstimo. Quem empresta é o Capitalista.
Ponto crucial: quem aluga o bem de capital negocia o valor do aluguel. O valor do aluguel
não é estabelecido por nenhum procedimento implícito.
A Renda Bruta é o valor de toda a produção e não somente da produção comercializada. Ela
inclui insumos produzidos (por exemplo: milho usado na ração dos animais) e os consumos
da família e de funcionários de bens produzidos na empresa.
O Dispêndio Total é igual à soma do custeio generalizado mais os juros. Assim, o Dispêndio
Total é calculado usando:
ou
Os juros, que fazem parte do Dispêndio Total, incidem sobre o valor do custeio
generalizado.
Por que não existiu prestação de empréstimos anteriores a pagar? Porque nesse caso, de
separação do Empresário do Capitalista, tudo é custeio generalizado, ou seja, o Empresário
arrendou os bens de capital e somente tomou empréstimo de montante igual ao custeio
generalizado, realmente efetuado. Repetindo, o prazo desse empréstimo foi de um ano,
sendo pago no fim do ano de produção. Note que o empréstimo pagou o valor correspondente
a: insumos anuais + aluguéis pagos + trabalho assalariado + trabalho familiar + seguro de
frustração de safra. No fim do ano o empresário teve de pagar o empréstimo + juros.
A Renda Líquida é a remuneração do empresário pelo risco que corre e pela administração
do negócio. O risco é residual ao seguro de frustração de safra, ou seja, aquela parte do
risco que o seguro não cobre.
A Renda Líquida mede a viabilidade de longo prazo do negócio. O negócio deve proporcionar
ao Empresário uma remuneração competitiva (por exemplo: um valor maior que o salário
que ele receberia se trabalhasse como empregado). Caso contrário, o negócio é instável.
Note que o Empresário usa os recursos do empréstimo para pagar o custeio generalizado,
incluindo-se nele os aluguéis. Logo, ele precisa quitar o principal mais os juros.
Qual foi a fonte de recursos para quitar o empréstimo e os juros? Foi a capacidade de
pagamento (CP).
Por que se adiciona o montante do empréstimo nesse cálculo? Note que a renda líquida
é obtida subtraindo da renda bruta os valores de muitos itens. Ora, o empréstimo quitou
alguns desses itens. Assim, para se saber a capacidade de pagamento é necessário abater
dos dispêndios os itens quitados pelo empréstimo. Resolve-se o problema de cálculo
adicionando-se à renda líquida o montante do empréstimo. Como os juros não fazem parte
desse montante, eles não foram cobertos.
Note que se a renda líquida for maior que zero, por causa de sua definição, o
empresário não precisou da remuneração do trabalho familiar para quitar o empréstimo.
A renda líquida pode ser negativa e, mesmo assim, desde que a seguinte condição seja
obedecida, será possível quitar o empréstimo, incluindo-se os juros:
Estamos usando a palavra capitalista no singular, mas devemos considerar que pode haver
mais de um capitalista em um mesmo negócio.
O Capitalista pode ter tido prestação a pagar, é verdade, e o fez com recursos advindos
dos aluguéis recebidos, com o cuidado de respeitar o fundo de depreciação. A não ser em
alguma circunstância especial, o fundo de depreciação deve ser usado para repor o bem
depreciado.
Portanto, a renda do Capitalista é igual à soma dos aluguéis recebidos mais os juros sobre
empréstimos.
A Renda Familiar do empresário oriunda do negócio é igual à renda líquida mais o trabalho
familiar. Da mesma forma, o negócio deve proporcionar à família uma remuneração
competitiva. Caso contrário, a família buscará alternativas, sendo uma delas a venda do
negócio. Por outro lado, a Renda Familiar estabelece o valor máximo que a família pode
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consumir sem comprometer a capacidade de produção do empreendimento.
Cabe agora uma questão delicada: Como o Empresário pode sustentar a família e pagar os
impostos explícitos (não embutidos nos preços dos insumos ou no valor do produto)?
Muitos negócios quebram por causa de despesas exageradas com a família e não somente
por motivos de má gestão do empreendimento. Ainda é costume esquecer-se dos impostos
explícitos. Por isso, é crucial verificar se a desigualdade (*) está ocorrendo.
Os recursos próprios podem estar cristalizados em bens de capital e ser utilizados para
complementar os recursos necessários para cobrir o custeio desembolsado. O aluguel do
capital de terceiros é parte do custeio, (por exemplo: dispêndios com aluguéis de máquinas
e equipamentos e aluguel de terra). O capital com origem no CE dá origem aos juros
implícitos que vão compor a Renda Familiar da família do CE. Cabe uma questão: e se for
utilizado o valor de mercado para se estimar o aluguel? Então, nesse caso, deve-se estimar
os juros implícitos sobre o capital com origem no CE. Em símbolo, JICE. Na prática, pode
ser complicado obter-se essa estimativa.
Para ficar o mais próximo possível do exemplo de separar o Empresário do Capitalista, usa-
se como referência os valores do mercado para estabelecer os valores dos aluguéis. As
imputações devem ser evitadas ao máximo. A imputação é uma forma de estimar o aluguel
de um bem de capital, como o é também o valor de mercado, quando o bem pertence ao
Capitalista-empresário. Quando não se conhecem os valores de aluguel de máquinas do
mercado, a melhor alternativa é estimar o aluguel usando o preço da máquina nova como
referência. No caso de usar o preço da máquina velha, notar que só se recupera aquele
valor (usar o valor atual da máquina).
O empréstimo é tomado de terceiros para cobrir o custeio desembolsado, mas pode ser
menor que esse valor, se o capitalista-empresário tiver capital financeiro disponível (recursos
próprios).
Os juros (CT) dizem respeito a esse empréstimo (CT). Os juros sobre os recursos próprios,
usados pelo capitalista-empresário para cobrir o custeio desembolsado, são designados
por CE-JCDE.
Vamos construí-la.
Então, não foi possível efetuar despesas com a família, quitar as prestações de empréstimos
e pagar os impostos explícitos. O melhor caminho para resolver este problema é revisar o
custo de produção e buscar alternativas de menor custo (por exemplo, novas tecnologias),
para então poder aumentar a renda líquida. É possível reduzir as despesas com a família, mas
elas oferecem pouco espaço. Deixar de honrar as prestações de empréstimos ou de pagar
os impostos explícitos é a última alternativa, pois resulta, no fim, na venda de patrimônio;
em tais situações ocorrem as concordatas ou as falências dos negócios.
Há uma fonte de recursos que pode ser ocasionalmente usada. O aluguel do capital do
Capitalista-empresário (aluguel CE) compõe-se de duas parcelas: depreciação + juros. Os
juros imputados foram utilizados no cálculo da Renda Familiar do Capitalista-empresário
(equação assinalada com **). Não se utilizou a depreciação. Eventualmente, ela pode ser
utilizada. Mas o fundo de depreciação tem de ser reposto o mais depressa possível. Se isso
não for feito, não há como reduzir o endividamento, pois não haverá recursos para substituir
máquinas e equipamentos, edificações e animais que ficaram obsoletos ou velhos.
Imputação (ou imputar) significa dar ou atribuir um valor com base em algum critério. Portanto,
o critério para fazer a imputação dos aluguéis e juros, dos bens do capital físico, é o uso dos
fatores. Isto é, quanto mais um fator for usado em uma atividade, maior será o valor a ser
imputado para essa atividade.
O aluguel imputado é calculado baseado no método da Tabela Price, os cálculos para obter
o aluguel imputado são facilmente feitos usando a função PGTO da planilha Excel. Esta
função do Excel retorna o pagamento periódico de uma anuidade de acordo com pagamentos
Na fórmula, o juro é a taxa de juros fixada (por exemplo 6% ou 0,06 ao ano). A vida útil é a
vida útil restante do bem em anos. O valor presente é o valor atual. E sucata é o valor do
bem no final da vida útil (valor negativo). O valor 0 (zero) indica que o pagamento é feito no
final do período (se fosse no início do período usar-se-ia o valor 1).
Exemplifiquemos com o item de dispêndio “trator 85 HP” da Tabela 12. O trator de 85HP tem
valor atual de R$ 55.000,00, valor de sucata igual a 10% do valor atual (igual a R$ 5.500,00,
escrever o valor negativo, -5.500,00) e vida útil restante de 6 anos. A taxa de juros fixada é
de 6% ao ano.
O aluguel assim calculado é igual à Depreciação pura mais os juros. Observe que não há
valores devidos à manutenção, reparos ou operação do trator. Mas quando se usa o valor
de aluguel, tal como é praticado no mercado, neste valor podem estar incluídos os custeios
de manutenção, reparos e operacionais (tratorista, combustível, graxa etc). Portanto, quando
se calcula o aluguel imputado usando a fórmula acima, deve-se também incluir no custeio
generalizado os gastos com combustíveis, óleos, graxas, reparos e manutenção, e incluir
no item de trabalho assalariado o pagamento do tratorista.
Na planilha Excel, se for colocado o valor zero como juros, a função PGTO dará a depreciação
pura.
A planilha Excel é muito útil quando há muitos itens (bens) com valores a serem imputados.
Observar que no exemplo acima usamos o valor atual do trator sem considerar o seu uso
nas atividades da fazenda. Como o trator é usado em 3 atividades (milho, soja e leite), os
valores imputados deverão ser alocados proporcionalmente ao uso do trator por atividade.
No ANEXO 1, mostramos as tabelas com os valores imputados para os bens da Tabela 12,
tanto no geral (empresa) na Tabela A1 (anexo), como por atividade na Tabela A2 (anexo)
Tabela 14. Tipos de capital próprio (Bens do Capital Físico e a terra) da empresa e as
imputações necessárias.
Esta Tabela 14 é usada apenas como exemplo didático; no projeto de investimento deve-se
Dispêndio Valor, R$
Insumos 735.000,00
Seguros 40.000,00
Construímos um sumário, Tabela 17, para facilitar o entendimento do que foi escrito
acima.
Renda Bruta. A renda bruta da Fazenda São Manoel foi de R$ 1.487.750,00, conforme Tabela
16 com as fontes de renda.
Milho 127.500,00
Soja 131.250,00
Leite 1.095.000,00
Bezerros 98.000,00
TOTAL 1.487.750,00
Neste exemplo numérico, vamos admitir que o recurso próprio para custeio é zero (lembra-se
do diagnóstico do Capital Financeiro?). Portanto, a Fazenda São Manoel tomará empréstimos
equivalentes ao montante de R$ 1.155.000,00, e os juros (6%) correspondem a R$ 69.300,00.
O empréstimo, obviamente, não cobre os juros imputados. A capacidade de pagamento, nesse
caso, é da família. Por isso, é necessário calcular a Renda Familiar e adicionar o empréstimo,
porque quem toma empréstimo é o capitalista. No caso, o Capitalista-empresário têm à sua
disposição a Renda Familiar. Por esta razão, a capacidade de pagamento tem de partir dela.
É claro que se valem de fatos gerados pelo negócio. Mas, se a família tiver outras fontes
de renda, é possível calcular a Renda Familiar-ampliada, adicionando-se as outras fontes
de renda à Renda Familiar proporcionada pelo negócio. O resultado, porém, não é um bom
instrumento de gestão, porque mascara o empreendimento com renda externa ao mesmo.
No entanto, pode ser útil para verificar se o empréstimo pode ser pago.
Tabela 17. Sumário para o capitalista-empresário que possui todo o capital, com 100% de
empréstimo para custeio. Dados da Fazenda São Manoel.
Itens Valor
1. Insumos anuais 735.000,00
2. Trabalho assalariado 330.000,00
3. Trabalho familiar 50.000,00
4. Seguro 40.000,00
5. Custeio generalizado (1+2+3+4) 1.155.000,00
6. Juros sobre custeio generalizado (6%; 0,06 x 1.155.000,00) 69.300,00
7. Aluguel imputado (item 5, Tabela 14, coluna total) 431.213,04
8. Dispêndio total (5+6+7) 1.655.513,04
9. Renda bruta 1.487.750,00
10. Renda líquida (9-8) -167.763,04
11. Juros imputados (item 7, coluna total da Tabela 14) 299.736,79
12. Trabalho familiar 50.000,00
13. Renda Familiar (10+11+12) 181.973,75
14. Empréstimo + juros (5+6) 1.224.300,00
15. Capacidade de pagamento (13+5) 1.336.973,75
Nos R$ 1.155.000,00, incluiu-se o trabalho familiar, porque é necessário se manter a família. Os juros sobre a
terra estimam o valor do seu aluguel. Não se trata de imputação de juros.
Observe na Tabela 17 que a capacidade de pagamento (item 15) é maior que o montante
de empréstimo + juros (item 14). Portanto existe uma diferença positiva no valor de R$
112.673,75 (Item 15 - Item 14). Este é o valor disponível na Fazenda São Manoel para se
efetuar as despesas com a família e pagar os impostos explícitos, como mostra a expressão
abaixo.
Portanto, a Fazenda São Manoel tem condições de efetuar as despesas com a família, quitar
as prestações de empréstimos e os juros e pagar os impostos explícitos.
Solução: Como a Receita Líquida neste caso foi negativa recomenda-se que a Fazenda
São Manoel faça uma revisão dos custos de produção das atividades e busque alternativas
para aumentar a renda líquida, elaborando outros projetos de investimentos.
A apresentação acima tem por objetivo ajudar o leitor a fixar os conceitos de remuneração
do empresário separada da remuneração do capitalista, remuneração do Capitalista-
empresário, Renda Familiar do empresário, Renda Familiar do capitalista, Renda Familiar
do Capitalista-empresário, entre outros. Estes conceitos são importantes para a formação
do empresário rural.
Observação: * Neste exemplo o valor da terra nua foi imputado usando-se uma taxa de juros
de 4% ao ano. Porém, na prática, o melhor valor é o valor de arrendamento da terra.
A Tabela 18 mostra que a receita líquida é negativa, portanto a rentabilidade no longo prazo
da empresa é negativa. Solução: Revisar o custo de produção das atividades e buscar
alternativas para aumentar a renda líquida, elaborando o projeto de investimento.
A Renda Bruta da atividade é formada pelo montante da venda do seu produto principal,
subprodutos e pelo valor dos consumos internos. Por exemplo, a atividade “produção de
leite” tem como receita: venda de leite, venda de bezerros, venda de vacas descartadas,
venda de esterco e consumo de leite dos funcionários e família do empresário. Considera-
se nestes casos de consumo interno o mesmo valor de venda do leite. Outro exemplo: se o
bezerro é destinado à atividade de recria/engorda, o seu preço deve ser somado à receita
da produção de leite e entra como custo da atividade de recria/engorda.
Por outro lado, a atividade produção de leite apresenta capacidade de pagamento maior
que o montante de empréstimo + juros. Portanto, esta atividade tem condições de contribuir
para quitar as prestações e, além disto, sobra recursos para pagar parte das despesas da
Solução: Revisar o custo de produção das atividades de produção de milho e soja e buscar
alternativas para aumentar a renda líquida, elaborando o projeto de investimento.
Tabela 20. Rentabilidade das atividades da empresa, exemplo da Fazenda São Manoel.
Animais - - 94.734,29
Custeio generalizado
E-A-B-C-D
A Tabela 20 mostra que as atividades de milho e soja apresentam receita líquida negativa.
Portanto, o empresário rural deve buscar alternativas para estas atividades, elaborando o
projeto de investimento de capital.
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9. Custos de Produção Eliseu Alves
“Seu” Manoel é o agricultor que vai fazer perguntas. A resposta do Professor Fernando vem
na linha seguinte à pergunta.
Manoel - Professor Fernando, diga uma coisa: calcular o custo de produção faz o agricultor
ganhar mais dinheiro?
Professor Fernando - Claro que sim. Se um quilo de milho custou mais caro que o preço de
venda, então “Seu” Manoel trabalhou duro e ficou no vermelho. Perdeu dinheiro. Conhecendo
o custo de produção, a gente sabe quanto perdeu.
Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel. Assim, se o preço do milho for mais alto que o
custo o senhor sabe quanto ganhou.
Manoel - E daí, professor? Somente me diz se fico triste ou alegre. Por que o meu amigo
Joaquim ganha mais do que eu? Vendemos o milho pelo mesmo preço e pagamos os
mesmos preços pelos insumos. O meu amigo Joaquim está ficando rico e tem olho gordo
para comprar o meu sítio.
Professor Fernando - “Seu” Manoel, cuidado com olho gordo. O Joaquim há muito tempo
calcula o custo de produção de seu sítio. Ele conversa com um grupo de agricultores e juntos
discutem os custos de produção que tiveram e o que pode ser melhorado. Quais as despesas
que podem ser cortadas e como cortá-las. Por esse motivo, o Joaquim está ficando rico. Por
que o senhor não se junta ao grupo?
Manoel - Bom conselho. Mas o professor não respondeu à minha dúvida. O que quero saber
é o que vou fazer com o custo de produção. O professor Fernando não vai ensinar como
a gente volta ao passado e corrige os erros, vai? Professor, o senhor tem aquela máquina
do tempo?
Professor Fernando - Deixa de gozação, “Seu” Manoel. O doido é o professor Pardal. Mas
o senhor fez duas observações muito importantes:
Professor Fernando - Calma, “Seu” Manoel. O senhor deu uma dormida na aula. Que coisa
feia! Digamos que um saco de milho custou R$ 15,00 e foi vendido por R$ 20,00, sobrando
R$ 5,00 por saco. O sítio produziu 500 sacos. Então, veja esta conta: 500 X 5 = 2.500. Pronto!
Achamos uma sobra igual a R$ 2.500,00! Resposta rápida, não achou, “Seu” Manoel? Não
o embrulhei desta vez!
Manoel - É verdade!
Professor Fernando - De fato, o custo de produção serve para gente saber o quanto sobrou,
o que pode ser feito com a sobra e que espaço há para melhorar. Estamos falando de muita
coisa, não é, “Seu” Manoel? Por isso, vamos responder a pergunta devagar. Devagar com
o andor, porque o santo não gosta de surpresa!
O empresário e o capitalista
Manoel (pensando com seus botões): “O professor Fernando só complica. Vivi muito bem
sem lidar com essas duas palavras. Do capitalista, ouço dizer que é um parasita que vive
de juros; do empresário, sei que é cabra rico e folgado”.
Manoel - Professor Fernando, eu tenho mesmo que saber o significado dessas palavras
capitalista e empresário?
Professor Fernando - Tem sim, “Seu” Manoel. O senhor vai descobrir que também é um
capitalista-empresário e que veste as duas camisas. E o capitalista que o senhor é ganha
ou perde dinheiro; o mesmo ocorre quando se usa a camisa de empresário.
Manoel - Sou ruim para entender explicações longas. Um exemplo é o melhor caminho.
Professor Fernando - Muito bom, “Seu” Manoel! Vejamos os exemplos do “Seu” Jorge, que
é empresário, e do “Seu” Abílio, que é só capitalista. O “Seu” Abílio ficou velho. Tem 100
hectares de terra que servem para plantar milho. Ele quer alugar a terra com as benfeitorias
por R$ 30.000,00 por ano. Aí, “Seu” Jorge vai ver o sítio. Chora um aluguel menor, mas
fecha o negócio e decide plantar o milho. Quando “Seu” Jorge fechou o negócio e resolveu
plantar o milho, ele virou um empresário. Vai custear a lavoura e correr os riscos, ou seja,
vai empreender um negócio.
Professor Fernando - É isto aí, “Seu” Manoel. O trabalho que o “Seu” Jorge fez como
tratorista, na supervisão do trabalho dos filhos e dos empregados, entrou nos cálculos das
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 47
despesas. A única despesa que foi deixada de fora é o risco que o “Seu” Jorge correu. A
sobra, já falada, remunera esse risco.
Manoel - A sobra é igual à receita menos despesas, não é? Professor Fernando, o senhor
gosta de batizar e de dar nomes aos bois. Que nome o senhor deu para a sobra?
Professor Fernando - Que impaciência, “Seu” Manoel! Depois, vai reclamar de tantos nomes.
Renda líquida é o nome. “Seu” Manoel, sua equação é agora:
Manoel - Deixa de ser preguiçoso, professor Fernando! Detalha, em uma Tabela, o dispêndio
que o “Seu” Jorge teve que enfrentar para cultivar 100 hectares de milho. Veja, professor
Fernando, não falei custo e sim dispêndio! ah! ah! Aprendi que custo é um termo técnico,
ligado a uma tal função custo, da qual não entendo patavina!
O empresário
Professor Fernando - A Tabela vem a seguir. Que bom que você falou da função custo.
No próximo curso vamos estudá-la. Os dados são de uma lavoura mecanizada, do plantio
até a colheita. As máquinas e os equipamentos foram alugados. O “Seu” Jorge achou que
alugar era o melhor negócio. Não vamos questionar os dados. Eles foram arranjados para
ensinar algumas lições.
Tabela 21. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare.
Professor Fernando - Várias coisas. Vamos por partes. Note, de início, que o saco de milho
custou R$ 15,00.
1. O “Seu” Jorge investiu R$ 180.000,00 e o retorno foi de R$ 60.000,00. Uma taxa de retorno
de 33,33%, em um período de setembro a junho; portanto, em dez meses. Correu muito
risco, é verdade. Por isso, é empresário. Ele é um empresário competente, porque obteve
uma taxa de retorno elevada comparada com a que obteria na Caderneta de Poupança.
2. Para quem “Seu” Jorge fez pagamentos? Para vários capitalistas. Para o “Seu” Abílio, de
quem alugou os 100 hectares de terra, pagou R$ 30.000,00. Pelo aluguel de máquinas e
equipamentos, pagou a seus donos. Também pagou às firmas que venderam os insumos.
Manoel - A Tabela 21 está incompleta, professor Fernando. De onde o “Seu” Jorge tirou o
dinheiro para financiar o dispêndio total? Tomou emprestado dos Bancos, de particulares ou
das firmas que vendem insumos? Sendo empresário somente, tomou emprestado o valor
de R$ 180.000,00?
Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel, você me derrotou desta vez. Vamos corrigir a
Tabela 21, de um jeito simples, incluindo uma taxa de juros de 6% no período. Mais adiante
nós vamos estudar os juros com mais detalhes.
Tabela 22. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare, Tabela 21 corrigida.
Manoel - Mesmo incluindo os juros, o “Seu” Jorge é competente: obteve ótima taxa de
retorno, 25,79%. O custo do saco de milho é, agora, R$ 15,90 = (190.800/12000). Se o
“Seu” Jorge tivesse recursos próprios, ou parte deles, para fazer face às despesas, ele não
seria um capitalista?
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 49
Professor Fernando - Certo, “Seu” Manoel. E os juros continuariam incidindo sobre os
R$ 180.000,00. Aí nada muda. Exceto que o “Seu” Jorge pagaria juros a ele mesmo, para
remunerar seu próprio capital. O empresário Jorge pagando juros ao capitalista Jorge. Mas
isso não ocorreu. Combinamos que o “Seu” Jorge é só empresário. Todo o capital seria de
terceiros: terra, máquinas e equipamentos e recursos para financiar o custeio.
Manoel - Não entendi como o empréstimo será pago, pois somente sobraram R$ 49.200,00,
que é a renda líquida. Esse valor não dá para pagar R$ 180.000,00 e os juros de R$ 10.800,00.
Ou seja, de onde “Seu” Jorge tirou dinheiro para pagar R$ 190.800,00?
Professor Fernando - “Seu” Manoel quer me enrolar? O senhor sabe muito bem de onde vem
o dinheiro. O empréstimo de custeio é necessário porque as despesas ocorrem diariamente
e a receita vem no fim da safra. Com o dinheiro do empréstimo, o “Seu” Jorge, ao longo
do período, pagou igual valor de despesas. Somente sobraram para pagar os juros, de R$
10.800,00. “Seu” Jorge, portanto, somente ficou devendo o empréstimo de R$ 180.000,00
e os juros. Essa é a única dívida do “Seu” Jorge, no valor de R$ 190.800,00. A receita de
R$ 240.000,00 paga a dívida e sobra a renda líquida de R$ 49.200,00.
Manoel - Com quanto dinheiro a família do “Seu” Jorge ficou para gastar e investir?
Professor Fernando - Para gastar no próximo ano, “Seu” Manoel. O “Seu” Jorge somente
recebeu dinheiro quando vendeu a colheita. A renda da família - olha outro conceito “Seu”
Manoel -, é igual à renda líquida mais algum pagamento que foi feito à família, em termos
de insumo (trabalho). No caso, R$ 49.200,00 + R$ 10.000,00 = R$ 59.200,00. Note que R$
10.000,00 é de trabalho familiar. A família do “Seu” Jorge conta com R$ 59.200,00 para pagar
despesas correntes, fazer investimento, pagar dívidas e guardar uma reserva para o futuro.
Se a terra fosse de propriedade do “Seu” Jorge, a família contaria com mais R$ 30.000,00.
A família pode ter outras fontes de renda, mas esta é a renda da família proveniente do sítio
do “Seu” Jorge.
Manoel - Nada disso, professor Fernando, ele poderia ter vendido a safra antecipadamente.
É verdade que pagam um preço antecipado muito baixo pelo milho. Mas concordo que a
família precisa estar preparada para custear suas despesas até que venha a colheita. Por
isso, muitos gostam de produzir leite. Tem receita todo mês.
O capitalista-empresário
Manoel (com o pensamento nas nuvens): “Percebi o golpe do professor Fernando. Ele
construiu o exemplo com todo o cuidado para atender algum propósito secreto”.
Manoel - Professor Fernando, vejamos, o “Seu” João tem 100 hectares de terra, as
benfeitorias e os equipamentos. É produtor de milho. Como poderemos aproveitar o que
aprendemos até aqui, para ver se o “Seu” João anda bem das pernas?
Professor Fernando - “Seu” Manoel, o senhor descobriu meu propósito secreto, que sabido!
Vê longe. Vamos dividir o “Seu” João em dois. João-capitalista e João-empresário, e, assim,
voltamos ao caso anterior. O João-capitalista é dono do capital, inclusive financia o custeio.
E o João-empresário somente produz milho. O João-empresário não tem capital, ele aluga
o capital do João-capitalista. O João-capitalista recebe do João-empresário, no fim da safra,
Professor Fernando - “Seu” Manoel, o “Seu” João está planejando a propriedade para o
ano que vem. Como vimos, tem ampla liberdade, inclusive de deixar tudo como está. Há,
assim, muita coisa que o “Seu” João poderia fazer com o sítio e o capital que lá tem investido.
Pode produzir soja, leite ou outras atividades. Pode vender tudo e colocar o dinheiro a juros.
Assim, os investimentos em terra, máquinas e equipamentos, animais e custeio têm um custo
de oportunidade. Essa é a razão para incidir os juros sobre os R$ 180.000,00, mesmo que
parte dos recursos seja da família. Por isso, precisamos do João-capitalista, que é dono de
todos os bens de capital, os quais são alugados ao João-empresário. A Tabela 23 cuida do
João-empresário.
Tabela 23. Dispêndios numa lavoura de milho de 100 hectares, toda mecanizada e que
produz 120 sacos por hectare. Dispêndios do João-empresário.
A). Depreciação pura. O bem vale R$ 100.000,00. A vida útil é de 10 anos, considerando-se
a intensidade de uso. Como sucata nada vale, para simplificar a argumentação. A depreciação
pura, em um ano, vale R$ 10.000,00. Esse valor não pode ser gasto. Será usado para repor
o bem, quando terminar sua vida útil.
Professor Fernando - É isto uma armadilha, seu Manoel? Quer me pegar em contradição?
Veja, seu Manoel, as depreciações de benfeitorias, máquinas e equipamentos estão entre as
parcelas que somam R$ 180.000,00. E neste montante aplicamos 6% de juros para obter o
custo de oportunidade. Assim, cuidamos do custo de oportunidade que o senhor perguntou.
Ele seria dado pelos juros que incidiriam sobre a depreciação pura de benfeitorias, máquinas e
equipamentos. Mas fizemos exatamente isto. Note que esta apresentação é mais simples.
Manoel - Golpe sujo, professor Fernando. Nós não estamos estimando o aluguel destes
itens? E ele não se compõe, no caso das benfeitorias, da manutenção pura e dos juros
sobre a depreciação? E no caso de máquinas e equipamentos, da depreciação pura, dos
juros sobre elas e das despesas de manutenção e operação? Não são estes os valores
que terceiros nos cobrariam? Neste caso, os juros vão incidir sobre o valor estimado, e não
somente sobre a depreciação pura! O professor está é fugindo de aplicar juros sobre juros?
Confesse, professor!
Manoel - Estou entendendo, mas nós vamos estudar a depreciação direitinho, não é,
Professor?
Os 25 anos são calculados em termos do uso que o seu João faz da máquina.
Manoel - Voltando à Tabela 23, como fica a Renda Familiar de “Seu” João?
Professor Fernando - A Renda Familiar é composta da renda líquida e daquilo que o João-
capitalista recebe. As parcelas correspondem à renda líquida e aos aluguéis dos bens de
capital. Veja a Renda Familiar do “Seu” João na Tabela 24.
Total 288.000,00
A família arrecada R$ 288.000,00. Mas note que os R$ 180.000,00 têm que ser preservados
para financiar a próxima safra, se eles fizerem parte de uma reserva da família. Nesse
caso, os juros de R$ 10.800,00 podem ser usados para financiar as despesas da família.
Se João-capitalista os obteve por empréstimo, então o principal e os juros pagarão a dívida
contraída pelo João-capitalista. Assim, a família pode contar com R$ 97.200,00 para financiar
suas necessidades. Esse valor será acrescido de R$ 10.800,00, se os R$ 180.000,00 forem
recursos próprios.
Manoel - Descobri mais uma falha na argumentação do professor. A família não pode
gastar a depreciação pura. Tem que ser bem aplicada para renovar benfeitorias, máquinas e
equipamentos, na hora que surgir a necessidade. A família realmente dispõe de R$ 84.200,00
(Renda líquida + Aluguel da terra + Trabalho familiar).
Manoel - Professor Fernando, porque o senhor usou a palavra dispêndio em vez de custo?
Tenho dificuldade de compreender a razão.
Professor Fernando - Digamos que haja 10 agricultores que, pela mesma metodologia,
calcularam o custo de produção do milho. Este custo por saco variou de R$ 12,00 a R$ 18,00.
Conferiram-se as contas. Não se encontrou nada de errado, e a heterogeneidade de solos
e recursos naturais em geral explicou diminuta parcela da diferença. Os dez agricultores
resolveram organizar a produção de tal modo a convergir o custo por saco para o menor valor,
E o se o trator fosse do capitalista? Tudo tem que ser igual ao caso anterior. Obtém-se no
mercado o valor do aluguel, ou então se estima o mesmo. E este valor será o aluguel do
trator, como no caso anterior. Correto, professor Fernando?
Professor Fernando - Correto. Mas precisamos saber qual é a depreciação pura, porque
o seu valor não pode ser gasto pela família. Então, o aluguel de mercado, ou o estimado,
é dividido em duas parcelas, que, se somadas, dão o mesmo valor: depreciação pura e
manutenção-operação. Este último valor é igual ao aluguel menos a depreciação pura. Tudo
como está na Tabela 24.
Professor Fernando - Não. É o valor de aluguel que conta para o empreendedor. É sobre ele
que exercerá a decisão de alugar ou não alugar, na qual se assenta o custo de oportunidade.
É claro que o aluguel foi feito, depois de uma boa sondagem entre os ofertantes de serviços
de trator.
Professor Fernando - Correto, “Seu” Manoel. Alguns detalhes serão esclarecidos durante
o curso e nas questões específicas mostradas abaixo.
1. Custo fixo
As respostas do Professor Fernando não deixaram dúvidas de que o custo é calculado para
auxiliar o planejamento do próximo ano, e que o empresário tem plena liberdade de repetir
a experiência do passado, reorganizar o negócio ou mesmo vendê-lo. Por isto, todos os
recursos, incluindo a terra, máquinas e equipamentos, benfeitorias e os animais, têm custo de
oportunidade, não são fixos, podem ter valores mudados. Assim, não faz sentido desdobrar
o custo em fixo e variável.
2. Impostos
O preço que o produtor recebe é livre de imposto, taxas e contribuições, em nível da porteira,
obviamente, descontado o custo de transporte. O preço do insumo é em nível de fazenda,
acrescido do custo de transporte, impostos, taxas e contribuições, como já dito. O custo
é, assim, calculado em nível de porteira. Deste modo, fica mais fácil para um agricultor
conversar com outro.
Contribuições e taxas: as que dizem respeito ao trabalho devem ser adicionadas aos
salários. As contribuições patronais têm de ser examinadas com cuidado. Aquela que se
paga porque se é proprietário da terra incide sobre a terra, ou seja, aumenta o aluguel da
terra - a contribuição sindical rural é um exemplo; aquela que se paga à Contag incide sobre
o trabalho, e deve ser adicionada ao salário.
4. Objetivo
O texto enfatiza o uso do custo de produção para fins de política agrícola e avaliação
econômica de tecnologia. Por isto, não há recursos fixos e o custo de oportunidade do
dinheiro é um só. Mas, seu Manoel pode querer testar uma idéia para o próximo ano apenas
e que é válida para seu negócio somente. Neste caso, pode se usar várias taxas de juros e
manterem determinados recursos fixos, como a terra. Mas, seu Manoel tem que entender
que: o resultado somente vale para ele e para aquela circunstância. Não pode negociar
o preço de seu produto baseado nele, e nem culpar o governo, se o preço do produto for
menor que seu custo.
do
Transformador 6 30 25.000,00 5 1.800,41 791,67 1.008,74
Cercas 6 10 30.000,00 5 3.962,24 2.850,00 1.112,24
Total 1.000.000,00 50.000,00 87.894,62 46.779,58 41.115,04
Máquinas % Anos R$ ( % ) R$ R$ R$
Caminhão 6 5 30.000,00 10 6.589,70 5.400,00 1.189,70
Benfeitorias Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite
Casa 36000,00 36000,00 48000,00 2277,79 2277,79 3037,06 684,00 684,00 912,00 1.593,79 1.593,79 2.125,06
Casa 24000,00 24000,00 32000,00 1518,53 1518,53 2024,71 456,00 456,00 608,00 1.062,53 1.062,53 1.416,71
Casa 24000,00 24000,00 32000,00 1518,53 1518,53 2024,71 456,00 456,00 608,00 1.062,53 1.062,53 1.416,71
Galpão 32000,00 32000,00 16000,00 4991,49 4991,49 2495,75 3.800,00 3.800,00 1.900,00 1.191,49 1.191,49 595,75
Caixa d’água 750,00 750,00 13500,00 116,99 116,99 2105,79 89,06 89,06 1.603,13 27,93 27,93 502,66
Silo grãos 162500,00 162500,00 0,00 11702,68 11702,68 0,00 5.145,83 5.145,83 0,00 6.556,84 6.556,84 0,00
Curral 0,00 0,00 30000,00 0,00 0,00 10752,13 0,00 0,00 9.500,00 0,00 0,00 1.252,13
Sala ordenha 0,00 0,00 50000,00 0,00 0,00 3600,82 0,00 0,00 1.583,33 0,00 0,00 2.017,49
Cocheira 0,00 0,00 20000,00 0,00 0,00 1440,33 0,00 0,00 633,33 0,00 0,00 807,00
do
Rede elétrica 500,00 500,00 4000,00 31,64 31,64 253,09 9,50 9,50 76,00 22,14 22,14 177,09
Transformador 2500,00 2500,00 20000,00 180,04 180,04 1440,33 79,17 79,17 633,33 100,87 100,87 807,00
Cercas 3000,00 3000,00 24000,00 396,22 396,22 3169,79 285,00 285,00 2.280,00 111,22 111,22 889,79
Total 285250,00 285250,00 429500,00 22733,91 22733,91 42426,80 11004,56 11004,56 24770,46 11729,35 11729,35 17656,34
Máquinas Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite Milho Soja Leite
Tabela A3. Dispêndios com insumos por atividade, Fazenda São Manoel.
Tabela A4. Proporção das áreas não usadas alocadas por atividade.
Tabela A5. Áreas das classes de capacidade de uso dos solos, Fazenda São Manoel.
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