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A Grande Omissão

A GRANDE COMISSÃO VERSUS A GRANDE


OMISSÃO
Este curso estaria incompleto se não incluíssemos um alerta sobre a lamentável condição
espiritual em que se encontra a grande maioria das igrejas evangélicas nos dias de hoje,
vivendo um pseudo-cristianismo. É evidente a grande diferença entre a Igreja de Atos e a
maioria das igrejas atuais. A tabela abaixo mostra o que poderíamos chamar de “A Grande
Disparidade”, isto é, o contraste gritante entre as características de um verdadeiro discípulo
de Cristo e um típico “adepto religioso” que frequenta as igrejas evangélicas da atualidade.

Adepto religioso Discípulo de Cristo

Pouca abertura; relacionamento Transparência; confissão de pecados;


reservado “entranháveis afetos e compaixões”

Cordialidade social Genuína preocupação pelos irmãos

Palavras de amor Atos de amor

Tende sempre a colocar-se em primeiro Tende sempre a dar preferência aos


plano demais

Em geral, se ofende quando Em geral aceita repreensões; procura


repreendido; procura justificar-se. corrigir-se.

Se é “crente velho”, tende a apoiar-se Quanto mais tempo tem de evangelho,


em artefatos de santidade aparente; mais consciente fica de suas limitações
considera-se superior aos mais novos. e de sua dependência de Deus.

Busca um Deus que funcione para ele; Busca funcionar para Deus; sempre
vive participando de campanhas pergunta a si mesmo: “Que mais posso
diversas, pedindo coisas para si mesmo. fazer para servir a Deus?”
Comodismo diante do “status quo”: Santa insatisfação com o “status quo”:
está acomodado com um evangelho sente-se indignado com a passividade
medíocre, e nem se dá conta disso. da Igreja nos dias de hoje.

Os primeiros discípulos de Cristo viviam em unidade e estreita comunhão, nas casas e no


templo, a ponto de terem tudo em comum. A maioria dos nossos irmãos de hoje têm um
momento de contato superficial apenas durante os cultos, e passam toda uma vida isolados
e voltados para si mesmos. Sob a direção do Espírito Santo e a liderança dos apóstolos, um
grupo de apenas cento e vinte discípulos cheios do Espírito Santo (At 1.15, 2.4) difundiram
o evangelho a todo o mundo conhecido de sua época e mudaram a história da humanidade.
Hoje, milhões de crentes têm um papel irrelevante na sociedade e mal conseguem
sobreviver espiritualmente em meio a uma geração pervertida, cada vez mais distante e
necessitada de Deus.

Jesus Cristo deu uma ordem clara à sua Igreja, o qual chamamos de a Grande
Comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado” (Mt 28.19-20). Mas a maioria das denominações evangélicas parece ter
reinterpretado essas palavras da seguinte maneira: “Chamem e esperem, portanto, fazendo
convertidos à nossa fé e prática, batizando-os para que se tornem membros contribuintes
e frequentadores dos nossos cultos; e então trate de manter esses membros ocupados com
diversas atividades religiosas”. Isto constitui a “Grande Omissão”: não ir, não
discipular, e não ensinar a obedecer a Cristo e gerar frutos para a glória de Deus. E o
fundamento dessa Grande Omissão é um conceito anti-bíblico (para não dizer diabólico)
que se infiltrou nas igrejas várias décadas atrás: não considerar o discipulado e a
obediência como uma condição para ser cristão. Grande parte dos problemas das igrejas
de hoje está no fato de que seus membros simplesmente “aceitaram” Jesus, mas nunca
tomaram a decisão de segui-lo e aprender a cada dia com Ele. Aceitar a salvação em Cristo é
apresentado como algo obrigatório para entrar no Reino de Deus, mas viver sob o senhorio
de Jesus é visto como algo opcional. Assim, o tipo de vida que poderia mudar o destino da
humanidade é excluído, ou pelo menos omitido da mensagem essencial da Igreja!
O pastor Aiden W. Tozer (1897-1963) denunciou: “Uma heresia extraordinária se
desenvolveu em todos os círculos cristãos: a idéia amplamente aceita de que os seres
humanos podem escolher aceitar a Cristo pelo simples fato de precisarem dele como
Salvador, e de que têm o direito de adiar a obediência a ele como Senhor pelo tempo que
desejarem! Mas a salvação sem obediência é algo desconhecido nas Escrituras.”(citado na
ref. [1], pág. 25).
Como se não bastasse a Grande Omissão, ao longo da história da Igreja fomos
“contaminados” com duas heranças do catolicismo que nos têm impedido de formar
verdadeiros discípulos: o clericalismo e o “templismo”.
O clericalismo separa os fiéis em duas classes: os clérigos, aos quais cabe fazer a obra de
Deus, e os leigos, aos quais cabe apenas receber passivamente as ministrações dos clérigos.
Mas isto não tem fundamento bíblico algum! Em Atos vemos uma igreja gloriosa, cheia de
fervor, onde cada membro era um discípulo, embaixador e ministro de Cristo, produzindo
frutos para o Reino de Deus. Por exemplo, vemos em At 8.1 que após a morte de Estevão,
quando começou a perseguição sobre a Igreja em Jerusalém, os apóstolos ficaram na
cidade, mas os discípulos se espalharam por toda parte, cheios da vida divina pelo Espírito
Santo e anunciando naturalmente o evangelho, cumprindo assim o mandamento dado por
Jesus em Mt 28.19 e At 1.8. Portanto, os discípulos também estavam preparados e
ativamente envolvidos na ministração e expansão do evangelho, sob a liderança dos
apóstolos e anciãos das igrejas.

Já o templismo confunde igreja com argamassa. No nosso meio são comuns expressões
como “ir à igreja” (significando ir ao templo ou prédio onde se reune a Igreja) ou “abrir uma
igreja” (significando alugar um salão ou construir um templo). Também é comum atribuir
santidade ao prédio, a ponto de alguns temerem aproximar-se do “altar” e serem
fulminados com um raio do céu. Mas falando em termos bíblicos, a Igreja é o Corpo de
Cristo, e para isto basta que estejam reunidos dois ou três discípulos, que aí está o Senhor
da Igreja (Mt 18.20), independente do lugar onde estejam. Este versículo também não diz
que um deles tem que ser um “ungido” ordenado pelos homens, pois cada um de nós é
templo do Espirito Santo. Por isso, o autor evangélico John F. Havlik afirma: “A igreja
nunca é um lugar, mas sempre um povo; nunca um curral, mas sempre um rebanho; nunca
um edifício sagrado, mas sempre a assembléia dos que crêem. A igreja é você que ora, não
onde você ora. Uma estrutura de tijolo ou mármore não pode ser igreja mais do que suas
roupas de sarja ou cetim não podem ser você”. E o filósofo e teólogo Dallas Willard
confirma: “A Igreja não precisa de mais pessoas, mais dinheiro, mais construções, mais
programas, mais ensino, e nem mais prestígio. Foi justamente no período em que esses
elementos se mostraram escassos ou inexistentes que a Igreja (os discípulos de Jesus
reunidos) mais se aproximou de sua verdadeira essência. A única coisa que a Igreja precisa
para cumprir os propósitos de Cristo na terra é a qualidade de vida que ela torna real em
seus discípulos” [ref. 1, pág. 13]. Se fizermos disso uma realidade (através de ensino, oração,
busca espiritual e prática do evangelho) o crescimento, a prosperidade e a relevância social
certamente virão como consequência.

Portanto, é vital e urgente que retornemos ao conceito bíblico de Igreja e discipulado. Na


época em que Jesus viveu nessa terra como homem, quando alguém escolhia e era aceito
por um rabino para tornar-se seu discípulo, tal decisão significava estar disposto a realinhar
e dedicar toda a sua vida para aprender com o mestre o tempo todo, até estar apto a pensar
e agir como ele. Não deveria ser diferente nos dias de hoje quando alguém decide ser
cristão. A Bíblia deixa claro que:
 Fomos comprados pelo sangue de Cristo, e já não pertencemos a nós mesmos,
devendo viver para Aquele que nos salvou (1Co 6.19-20; 2Co 5.15).
 Cada um de nós, não importando o título ou o tempo de evangelho, foi chamado para
ser um discípulo frutífero de Cristo (Jo 15.1-8; Rm 7.4; Ef 2.10).
Podemos concluir afirmando que a Igreja é um anfiteatro onde só existe palco: ninguém
fica na arquibancada, pois todos são atores na obra do evangelho. A única platéia deveria
ser a celestial.

Dallas Willard define: “Discípulo de Jesus é aquele que não apenas adota e professa a fé no
SENHOR, como também aplica sua compreensão crescente da vida no Reino dos Céus a
todos os aspectos de sua vida na terra” [ref. 1, pág. 11].

REFERÊNCIA:

[1] Dallas Willard, “A Grande Omissão – as dramáticas consequências de ser cristão sem se
tornar discípulo”, Editora Mundo Cristão, 2008.

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