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Apontamentos em relação ao documento “Parâmetros Gerais do Currículo Integrado na

Rede Federal de EPCT”, realizado pelo Núcleo de Estudos em Educação Profissional.

Em função do tempo exíguo para leitura, análise e discussão do documento, o Núcleo


de Estudos em Educação Profissional (NEEP), Grupo de Pesquisa lotado no IFBA/Campus
Eunápolis, fez apenas uma reunião (em 05/07/2018) e uma rápida discussão em torno do
documento supracitado e discorre abaixo algumas considerações na forma de apontamentos,
tentando contribuir com a discussão.

1. Os dados apresentados em relação à Rede Federal de EPCT no intuito de


contextualizar o debate sobre possíveis parâmetros do currículo integrado
suscitaram algumas dúvidas.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) possuem, por


determinação da Lei no 11.892/2008, no art. 8º, a obrigação de ofertar, em cada exercício, um
determinado limite mínimo de vagas, assim distribuídos:
a) 50% de suas vagas para os cursos de educação profissional técnica de nível médio,
prioritariamente na forma de cursos integrados;
b) 20% de suas vagas para os cursos de licenciatura, bem como programas especiais de
formação pedagógica, com vistas à formação de professores para a educação básica, sobretudo
nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional (BRASIL, 2008b).
Cumpre ressaltar que essa limitação de vagas, no Art. 8º, §1º, deverá observar o conceito
de aluno-equivalente (Aeq)1, conforme regulamentação que foi definida posteriormente pelas

Portarias MEC no 818/2015 (BRASIL, 2015a) e MEC/SETEC no 25/2015 (BRASIL, 2015b).

1
Aeq - É a quantidade de alunos matriculados (m) em um determinado curso, multiplicado pelo Fator de
Equiparação de Carga Horária (FECH) e pelo Fator de Esforço de Curso (FEC). Na linguagem algébrica, Aeq =
m × FECH × FEC. O primeiro fator é determinado pela carga horária mínima anual do curso (c), dividida pela
multiplicação da duração do curso em anos (a), por uma constante igual a 800 (pois definiu-se 800 horas como
carga horária padrão). Assim, FECH = c ÷ (a × 800). Para cursos de FIC, c = carga horária total do curso e a = 1.
Em tese, o segundo fator leva em conta a carga horária de aulas práticas, pois necessitariam de uma demanda de
mais docentes por turmas menores (ou mais carga horária por docente), a depender da complexidade, logística do
curso, conteúdos curriculares ministrados e atividades práticas em laboratórios. Ou seja, é um ajuste de carga
horária pois as aulas práticas, na maioria das vezes, demandam uma relação aluno-docente menor. Esse fator ficou
estabelecido através da Portaria MEC/SETEC no 25/2015, no anexo I. Exemplos (FEC): Cursos técnicos: Análises
Químicas = 1,27; Radiologia = 1,10; Telecomunicações = 1,25; Guia de Turismo = 1,01. Licenciaturas: Física =
1,10; Computação = 1,08. Cursos Superiores de Tecnologia: Radiologia 1,18; Secretariado = 1,0; Gestão de

1
Não está claro - e esta é a nossa dúvida - o quantitativo de vagas que é apresentado nas
páginas 5 e 6 do documento. O quantitativo de vagas para cálculo de limites mínimos exigidos,
exclusivamente aos IFs, (seguindo o Art. 8º citado anteriormente, se não estivermos
enganados), deve levar em conta o exercício/ano na oferta de novas turmas, assim como a
definição de ingressantes2 acumulados equivalentes (entendimento que é análogo à definição
de aluno-equivalente, observando exclusivamente alunos com novas matrículas), obedecendo
a Portaria MEC/SETEC no 25/2015, segundo o Art. 7º:

O cálculo dos percentuais de vagas dos cursos dos Institutos Federais, a que
faz referência o art. 8º da Lei no 11.892/2008, se dará com base nos
Ingressantes Acumulados Equivalentes (BRASIL, 2015b).

Salvo melhor juízo, o cálculo deve ser realizado apenas com os ingressantes
equivalentes técnicos em relação ao total dos ingressantes equivalentes, isto é, só é considerado
o cálculo com multiplicação de fatores, apenas com alunos novos/vagas novas (BRASIL, 2016,
p. 17).

2. Duração e carga horária dos cursos.

2.1 [PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO ITEM 18] Organizar os PPCs dos Cursos


Integrados de forma que os cursos tenham preferencialmente a duração de quatro anos,
incluindo a possibilidade de realização do estágio curricular supervisionado obrigatório,
quando previsto, ao longo do curso.

Neste quesito somos contrários, no item 18 (p. 18 do documento), à defesa de um curso


integrado com duração de três anos, preferencialmente, na organização dos PPCs. O campus
Eunápolis teve a experiência de ofertar o curso técnico integrado em informática em 3 anos,
durante o período 2005-2007. Essa experiência apresentou uma série de problemas, em função
de variados fatores. Destacamos: i) a concentração excessiva de disciplinas em uma quantidade
de horas limitadas ao longo da semana, sobrecarregando as atividades discentes; ii) dificuldades

Turismo = 1,01; Sistemas de Telecomunicações = 1,25. Bacharelados: Administração = 1,0; Ciências da


Computação = 1,10; Engenharia de Telecomunicações = 1,19; Turismo = 1,0; etc. (BRASIL, 2015b).
2
Refere-se ao total de alunos ingressantes (novas matrículas) (BRASIL, 2016, p. 12).

2
de locomoção em função do problema crônico (ou falta) de transporte público em Eunápolis
(desde 1996), pois exigia, na maioria das vezes, mais aulas e/ou outras atividades pela manhã
e tarde na escola; iii) falta de restaurante gratuito ou privado próximo à escola que pudesse
atender todos os alunos (principalmente os alunos de baixa renda); iv) exigência de uma carga
horária maior de aulas (teóricas e práticas) para um número reduzido de docentes na época, etc.
Os próprios estudantes realizaram uma série de manifestações e paralisações em 2007
contrários à dinâmica e organização do curso. Por fim, a direção da escola suspendeu a oferta
deste curso em 03 anos em razão dos problemas enfrentados.
Outro aspecto que destacamos é que a oferta de um curso integrado em 3 anos vai de
encontro aos princípios e propostas que o próprio documento aparentemente defende:
“Resolução CNE/CEB no 06/2012” (item 5); “Garantir a oferta de todas as áreas do
conhecimento fortalecendo a integração e a formação integral” (item 8); “Assegurar nos
currículos a prática profissional através de experimentos e atividades específicas em ambientes
especiais, tais como laboratórios, oficinas, empresas pedagógicas, ateliês, investigação sobre
atividades profissionais, projetos de intervenção, visitas técnicas, articulando ensino, pesquisa
e extensão” (item 9); “Estágio Curricular Supervisionado Obrigatório” (item 11); “Garantir nos
PPCs a possibilidade da realização do Estágio Curricular Supervisionado não Obrigatório”
(item12); “Inclusão da Prática Profissional Integrada” (item 13). Ora, a lei 13.415/2017 que
nasceu de uma medida provisória, de um governo que carece de legitimidade (e tem prazo de
validade até 2018), instaurando um “novo” ensino médio, aponta justamente para o
enxugamento de disciplinas. Ao mesmo tempo, essa lei e a proposta de Base Nacional Comum
Curricular reduzem ainda mais as possibilidades de enriquecimento curricular ao determinar
que 1.800 horas da carga horária total sejam destinadas ao ensino de disciplinas obrigatórias,
basicamente língua portuguesa e matemática, ficando outros “componentes curriculares”
diluídos em áreas de conhecimento.

2.2 – [PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO ITEM 19] - Adotar matriz de referência


institucional por curso para a organização dos PPCs nos diferentes campi.

No documento original, acrescentamos apenas o aspecto que a “matriz de referência”


seja definida para um curso em diferentes campi, para não dar a ideia de uma única matriz
curricular mínima obrigatória para todos os cursos técnicos integrados.

3
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC no 818, 13 de agosto de 2015.


Regulamenta o conceito de Aluno-Equivalente e de Relação Aluno por Professor, no âmbito
da Rede Federal Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Brasília, DF, 2015a.
Disponível em: <www.ifpb.edu.br/pre/educacao-superior/legislacao-e-
normas/Arquivos/portaria-no-818-setec.pdf>. Acesso em: 11 maio 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC/SETEC no 25, de 13 de agosto de 2015.


Define conceitos e estabelece fatores para fins de cálculo dos indicadores de gestão das
Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Diário
Oficial da União, Brasília, 28 ago. 2015b. Seção 1, p. 28. Disponível em:
<portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=21991-portaria-
n25-2015-setec-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 11 maio 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica.


Manual para cálculo dos indicadores de gestão das instituições da Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica (EPCT): versão 2.0. Brasília, DF, 2016.

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