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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Recurso Eleitoral no 68-50.2016.6.13.0023


Procedência: 23a ZE de Barbacena
Recorrente: Carlos Alberto Sa Grise
Recorrido: Ministério Publico Eleitoral
Relator: Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

Recurso eleitoral. Propaganda eleitoral extemporânea e


divulgação de pesquisa na internet e pelo WhatsApp.
Reconhecimento de ofensa aos arts. 3 3 , s 3 O e 36 da Lei
9.507/97. Sentença condenatória com aplicação de multa.
Não se pode afirmar ser a opinião que se pede uma
resposta a própria pesquisa o u se trata-se de u m a enquete
totalmente desvinculada da notícia de pesquisa que
acontecera em momento distinto. Ausência de acesso aos
termos da suposta pesquisa. Retirada do site.
O recorrente não se valeu de pesquisa de opinião. Não se
invocou a opinião pública como fonte de informações, que é
elementar e m uma pesquisa eleitoral.
Mensagem que se caracteriza como propaganda eleitoral.
Recurso parcialmente provido para afastar a aplicação da
multa por pesquisa eleitoral irregular e manter a multa por
propaganda antecipada.

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo acima identificado,


ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, e m dar
parcial provimento ao recuso para afastar a aplicação da multa por pesquisa
eleitoral irregular e manter a multa por propaganda antecipada.

Belo Horizonte, 13 de setembro de 2016.

Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa


Relator
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Sessão de 12/9/2016
Recurso Eleitoral no 68-50.2016.6.13.0023
Procedência: 23a ZE de Barbacena
Recorrente: Carlos Alberto Sá Grise
Recorrido: Ministério Píiblico Eleitoral
Relator: Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

Cuida-se de recurso interposto por Carlos Alberto Sá Grise contra


sentença que julgou procedente representação aviada pelo Ministério
Público Eleitoral por propaganda irregular e divulgação de pesquisa em
desacordo com a Resolução 23.453115.

Segundo a inicial, o recorrente disponibilizou nas redes sociais a


mensagem seguinte: "BARBACENA ouviu e pediu. Dr. Sá Grise na frente
para assumir a Prefeitura em pesquisa realizada na internet. BARBACENA
QUER OUVIR VOCÊ. Queremos ouvir sua opinião! Queremos ouvir sua
participação. CLIQUE NO LTNK ABAIXO PARA RESPOIVDER" (Grifo no
original).

Imputa tratar-se, portanto, de veiculação de propaganda eleitoral, visto


-- que consta o nome do recorrente, foto, cargo que pretende disputar, além
de divulgação de pesquisa em desacordo com as normas.

Nos autos da denúncia de número 21.345/47, foi concedida liminar em


27/07/2016, que determinou a retirada imediata do material das redes
sociais (fl. 22)

Sentença de fls. 36/39, reconhecendo a violação aos arts. 33, 530 e 36,
530 ambos da Lei 9.504/97, impondo ao recorrente multas nos valores de
R$53.205,00 e R$5.000,00, respectivamente.

O recorrente, as fls. 42/46, nega a suposta pesquisa eleitoral, afirmando


que a servidora do cartório eleitoral não constatou indícios de sua
existência e que não há prova da autoria ou do prévio conhecimento do
candidato acerca da propaganda.
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Procuração a fl. 47.

Nesta instância, o d. Procurador Regional Eleitoral manifesta-se pelo não


provimento do recurso.

Relatados, passo ao voto.

A sentença foi publicada no dia 20/08/2016, as 14hsl4min. (fl. 39-v),


tendo o recurso sido interposto no dia 21/08/2016, as 14hsl4min. (fl.
.- 42). Portanto, tempestivo.

0 s demais pressupostos de admissibilidade encontram-se presentes,


devendo o apelo ser conhecido.

Constata-se da certidão de fls. 13, que a servidora do cartório eleitoral, ao


acessar, em 22/7/2016, o site denunciado como aquele em que se
encontrava a propaganda, alegou que não obteve êxito, visto que não
teve acesso a página. Declarou, ainda, que em relação a publicação em
WhatsApp, a Justiça Eleitoral não dispõe de ferramentas para promover a
fiscalização.

A mensagem impugnada afirma que o recorrente saiu a frente em


pesquisa realizada na internet, ou seja, foi utilizado o tempo passado.
Abaixo, pede para ouvir sua opinião. Não se sabe se essa opinião seria em
resposta a própria pesquisa ou se se trata de uma enquete totalmente
-- desvinculada da noticia de pesquisa que acontecera em momento distinto.
Não se sabe, inclusive, o que se indaga na pesquisa, pois necessário se
faz abrir novo link para acesso a seus termos, não sendo toleradas meras
suposições para imposição de condenação. Vejamos:

"BARBACENA ouviu e pediu. Dr. Sa Grise na frente para assumir a


Prefeitura e m pesquisa realizada na internet. BARBACENA QUER
OUVIR VOCÊ. Queremos ouvir sua opinião! Queremos ouvir sua
participação. CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA RESPONDER"

Lado outro, o art. 33 da Lei 9.504/97, tipifica, dentre outras condutas, a


divulgação de pesquisa de opinião, devendo ser entendida como tal aquela
em que sua metodologia, nome de quem contratou, plano amostral,
enfim, que são públicos, esteja registrada na Justiça Eleitoral para acesso
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pelos interessados.

Do conteúdo da matéria depreende-se que o recorrente não se valeu de


pesquisa de opinião. Não se invocou a opinião pública como fonte de
informações, que é elementar em uma pesquisa eleitoral. Cuida-se, com
esforço, de uma pesquisa atípica que não ofende os direitos do cidadão.

Como destaca Edson de Resende astro', a legislação eleitoral deixa livre


a atividade das entidades e empresas do ramo de pesquisa, exigindo-lhes
somente o registro prévio de alguns dados. Contudo, "esse registro prévio
-e
só será exigido quando a pesquisa tiver como objetivo o conhecimento
público, ou seja, quando seus resultados forem divulgados. Então, se o
candidato ou Partido quer realizar pesquisa apenas para orientar sua
campanha ou a forma da sua propaganda, não haverá necessidade do
mencionado registro".

Ademais, a notícia da divulgação da pesquisa data de 20/07/2016 (fl. 7),


ou seja, antes do início da propaganda eleitoral, o que pode ser entendido
apenas como prévia colhida internamente a respeito de pré-candidatos em
conformidade com o art. 36-A da Lei 9.504197.

Contudo, vislumbro a propaganda eleitoral extemporânea, que consiste


naquela, dirigida ao eleitor e feita por partidos políticos e candidatos, em
que há a exposição do nome do candidato, com a divulgação de seu
projeto político e o pedido de votos em razão de se mostrarem os mais
aptos a assumir os cargos que disputam.
-.-
Com essas considerações, dou provimento parcial ao recurso para
afastar a aplicação da multa por pesquisa eleitoral irregular, mantendo a
multa por propaganda extemporânea.

E como voto.

Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa


Relator

Curso de Direito Eleitoral, 8a Edição, De1 Rey, BH, 2016. página 370.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Sessão de 12/9/2016

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 68-50.2016.6.13.0023


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrente: Carlos Alberto Sá Grise
Advogados: Drs. Henrique Martins Campello Filho; Guilherme Lessa Guimarães
Recorrido: Ministério Público Eleitoral

Decisão: Pediu vista o Des. Rogério Medeiros, após o Relator dar parcial
provimento ao recurso.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Pedro Bernardes de Oliveira. Presentes os Exmos.


Srs. Des. Rogério Medeiros e Juízes Paulo Rogério Abrantes, Virgílio de Almeida
Barreto, Carlos Roberto de Carvalho, Ricardo Torres Oliveira e Antônio Augusto
Mesquita Fonte Boa (Substituto) e o Dr. Patrick Salgado Martins, Procurador
Regional Eleitoral.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

Recurso Eleitoral no68-50.201 6.6.13.0023


Procedência: 23a Zona Eleitoral, de Barbacena
Recorrente: Carlos Alberto Sá Grise
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Assunto: Representação. Divulgação de pesquisa eleitoral sem o prévio registro de
informações. Propaganda eleitoral extemporânea. Internet e "WhatsApp".
Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

VOTO DE VISTA - DESEMBARGADOR ROGÉRIO MEDEIROS


(divergente em parte)

EMENTA
Recurso eleitoral. Representação. Divulgação de
pesquisa eleitoral sem o prévio registro de
informações na Justiça Eleitoral. Propaganda
eleitoral extemporânea. Pedido julgado procedente
pelo Juízo a quo. Aplicação de multas, nos termos
dos arts. 33, $j 3O, e 36, $j 3O, da Lei no 9.50411997.
Pré-candidato a Prefeito. Divulgação, na rede social
denominada "WhatsApp", de mensagens contendo o
nome e a imagem do pretenso candidato,
acompanhados de dizeres que faziam menção a uma
suposta pesquisa realizada na internet.
A legislação eleitoral veda a divulgação de pesquisa
eleitoral sobre cujo processo de realização os
cidadãos não tenham acesso e, portanto, possam se
sujeitar a distorções ou manipulações em sua
intenção de voto. Ausência de invocação da opinião
pública como fonte de informações, pressuposto da
pesquisa eleitoral. Mensagens divulgadas antes do
período proibido as enquetes. Não subsunção da
hipótese ao art. 33, $j$j 3' ou 5O, da Lei no 9.50411997,
Menção a pretensa candidatura, via internet,
mediante a divulgação, pelo "WhatsApp", da própria
imagem, acompanhada de dizeres sobre o pleito
majoritário municipal, para o qual o pretenso
candidato teria "saído na frente". Conduta
expressamente permitida pelo art. 36-A, caput e
inciso V , c/c o $j 2 O , da Lei no 9.50411997. Inexistência
de pedido explícito de votos. Não configuração de
propaganda eleitoral antecipada, descabendo falar
na multa do art. 36, $j 3O, da Lei no 9.50411997.
Recurso provido.

Trata-se de recurso eleitoral do qual pedi vista em 12/9/2016, após o


Relator lhe dar parcial provimento, para afastar uma das multas, aplicada ao
recorrente com base no art. 33, § 3O, da Lei no 9.504/1997 (propaganda eleitoral
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extemporânea), e manter a outra, imposta com fundamento no art. 36, 9 3O, da


referida Lei (propaganda eleitoral extemporânea).

O recurso foi interposto por Carlos Alberto Sá Grise contra a sentença do


MM. Juiz da 23a Zona Eleitoral, de Barbacena, que condenou o recorrente a duas
multas, nos valores de R$53.205,00 (cinquenta e três mil e duzentos e cinco reais) e
de R$5.000,00 (cinco mil reais), pela divulgação, na rede social denominada
"WhatsAppl', de mensagens contendo o nome do pretenso candidato a Prefeito e
sua foto, acompanhados dos seguintes dizeres:

BARBACENA OUVIU E PEDIU. Dr. Sá Grise sai na frente para


assumir a Prefeitura em pesquisa realizada na internet. Participe
você também. BARBACENA QUER OUVIR VOCÊ. Queremos ouvir
sua opinião. Clique no link abaixo para responder. (fls. 8, 10 e 12.)

No que se refere a consideração, pelo eminente Juiz Eleitoral


sentenciante, dos citados dizeres como divulgação de pesquisa eleitoral irregular, é
necessário destacar a redação do art. 33, caput e § 301 da Lei no 9.50411997,
especificamente quanto a a necessidade do registro prévio, na Justiça eleitoral, das
informações relativas as pesquisas de opinião pública:

Art. 33. As entidades e empresas que realizarem pesquisas de


opinião pública relativas as eleições ou aos candidatos, para
conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a
registrar, junto a Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da
divulgação, as seguintes informações:
I - quem contratou a pesquisa;
II - valor e origem dos recursos despendidos no trabalho;
111 - metodologia e período de realização da pesquisa;
IV - plano amostra1 e ponderação quanto a sexo, idade, grau de
instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho a
ser executado, intervalo de confiança e margem de erro;
V - sistema interno de controle e verificação, conferência e
fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo;
VI - questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
VI1 - nome de quem pagou pela realização do trabalho e cópia da
respectiva nota fiscal.
(...)
5 3 O A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das
informações de que trata este artigo sujeita os responsáveis a
multa no valor de cinquenta mil a cem mil UFIR.
(...)
3 5 O É vedada, no período de campanha eleitoral, a realização de
enquetes relacionadas ao processo eleitoral.

Portanto, o que a Lei veda é a divulgação de pesquisa eleitoral sobre cujo


processo de realização os cidadãos não tenham acesso e, portanto, possam se
sujeitar a indevidas distorções ou manipulações e m sua intenção de voto.
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A pesquisa eleitoral, portanto, requer dados estatísticos realizados junto a


uma parcela da população de eleitores, com o objetivo de corriparar-lhes a
preferência e a intenção de voto em relação aos candidatos em disputa ou que
pretendem disputar a eleição, o que não se vislumbra no presente caso.

Assim como registrou o eminente Relator, não há a invocação da opinião


pública, como fonte de informações, nas mensagens divulgadas pelo "WhatsApp",
que diziam que o recorrente havia saído "na frente para assumir a Prefeitura em
pesquisa realizada na internet" (fls. 8 , 10 e 12.).

Também não é possível cogitar da subsunção do fato a vedação do § 5O


do art. 33 da Lei no 9.50411997, segundo a qual, no período de campanha eleitoral,
não é permitida a realização de enquetes relacionadas ao processo eleitoral.
- Enquete, conforme definição do parágrafo único do art. 23 da Resolução no
23.4531201~/TsE', é a simples coleta de opiniões de eleitores sem nenhum controle
de amostra e sem a utilização de método científico para sua realização, o que
poderia, em tese, assemelhar-se a hipótese dos autos, já que esse tipo de consulta
depende apenas da participação espontânea do interessado.

Todavia, observa-se que as denúncias foram enviadas ao Tribunal


Regional Eleitoral de Minas Gerais em 201712016 (fls. 7-12), portanto no primeiro dia
de vigência da proibição da realização de enquetes relacionadas ao processo
eleitoral de 2016, conforme o calendário eleitoral deste ano, e noticiavam como
ilícitas mensagens que faziam referência a pesquisa "realizada" na internet, ou seja,
em tempo anterior a data das denúncias e das próprias mensagens.

Por essas razões, acompanho o eminente Relator para considerar


inexistente a alegada divulgação de pesquisa irregular, sem o prévio registro das
informações mencionadas nos incisos do art. 33 da Lei no 9.50411997, não se
podendo concluir, tampouco, pela realização de enquete em período vedado.

No entanto, ouso divergir do eminente Relator no que se refere a


condenação do recorrente em multa, nos termos do art. 36, 5 3O, da Lei no
9.50411997, pela prática de propaganda eleitoral extemporânea, que, com a máxima
vênia, também não vislumbro no presente caso.

Ao contrário, cuida-se de mera divulgação de pré-candidatura via internet,


por meio de mensagens de "WhatsApp", que sequer contêm pedido explícito de
votos, razão pela qual a conduta encontra-se autorizada pelo art. 36-A, caput e
inciso V , da Lei no 9.50411997, cujos dizeres ora transcrevo:

Art. 36-A. Não configuram propaganda eleitoral antecipada,


desde que não envolvam pedido explícito de voto, a menção a
pretensa candidatura, a exaltação das qualidades pessoais dos pré-

' Art. 23. É vedada. no período de campanha eleitoral, a realização de enquetes relacionadas ao processo
eleitoral.
Parágrafo único. Entende-se por enquete ou sondagem a pesquisa de opinião publica que não obedeça as
disposições legais e as determinações previstas nesta resolução.
'TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

candidatos e os seguintes atos, que poderão ter cobertura dos meios


de comunicação social, inclusive via internet:
(...)
V - a divulgação de posicionamento pessoal sobre questões políticas,
inclusive nas redes sociais;
(...I
O citado caput do art. 36-A dispõe que não configura propaganda eleitoral
antecipada a simples menção a pretensa candidatura e a exaltação das qualidades
pessoais dos pretensos candidatos, desde que tais atos não sejam acompanhados
de pedido explícito de votos.

Em reforço a esse permissivo legal, o 5 2' do mesmo artigo admite que os


candidatos ou seus simpatizantes peçam apoio político e divulguem as pré-
candidaturas. Observe-se:

Art. 36-A. (...)


(...I
§ 2' Nas hipóteses dos incisos I a VI do caput, são permitidos o
pedido de apoio político e a divulgação da pré-candidatura, das
ações políticas desenvolvidas e das que se pretende desenvolver.

Nesse contexto, há de se enfatizar que, no presente caso, inexiste pedido


explícito de voto, ou mesmo pedido de apoio político, pois o teor da mensagem
impugnada restringe-se a anunciar o recorrente como pretenso candidato a Prefeito
e a divulgar opinião a ele favorável, ao fazer remissão a uma "saída na frente" no
pleito que se avizinha, havendo que se adrriitir, por conseguinte, a legalidade da
publicidade questionada.

Portanto, na espécie, não incíde a vedação do caput do art. 36 da Lei no


9.50411997, haja vista que, sob a atual vigência do art. 36-A da referida Lei, não
configuram propaganda eleitoral antecipada atos como o ora sob análise, pela
ausência de pedido explícito de voto no teor da mensagem divulgada via internet, na
rede social denominada "WhatsApp".

Pelo exposto, renovadas as vênias ao eminente Relator, dele divirjo, não


obstante parcialmente, para dar provimento ao recurso e reformar integralmente a
sentença recorrida, afastando, assim, ambas as multas aplicadas ao recorrente com
base nos arts. 33, 5 3O, e 36, 5 3O, da Lei no 9.50411997, diante da não configuração
das alegadas condutas eleitorais ilícitas, supostamente decorrentes do mesmo fato.

É como voto.

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Recurso Eleitoral no 68-50.2016.6.13.0023
Procedência: 23= ZE de Barbacena
Recorrente: Carlos Alberto Sá Grise
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Relator: Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

VOTO PARCIALMENTE DIVERGENTE


Juiz Virgílio de Almeida Barreto

Peço vênia para divergir parcialmente do voto do e. Relator.


Endosso o judicioso voto de relatoria na parte em que dá provimento ao
recurso para afastar a aplicação da multa por pesquisa eleitoral irregular. De fato, o
3O do art. 33 da Lei 9.504/97 prevê que, 'A divulgação de pesquisa sem o prévio
registro das informações de que trata este artigo sujeita os responsáveis a multa no
valor de cinqüenta mil a cem mil UFIR." Há que se considerar, porém, qual o bem
jurídico tutelado pela norma. A regra visa a evitar que cidadãos/eleitores sejam
levados a erro por dados falsos ou não confiáveis, que se supõem obtidos por meio
de metodologia rigorosa quando, na verdade, não o são. Observo que, no caso dos
autos, a simples menção a enquete realizada na internet está longe de configurar a
conduta prevista no mencionado parágrafo, uma vez que não se verifica qualquer
ameaça ou possibilidade real de dano ao bem jurídico tutelado.
Discordo, porém, do e. Relator no que se refere a procedência parcial da
representação pela prática de propaganda eleitoral antecipada ilícita.
Conforme tenho me posicionado sobre o tema, em sua nova redação, o
caput do art. 36-A da Lei 9.504/97 passou a exigir "pedido explícito de voto"
para a configuração da propaganda antecipada ilícita. O novo texto veio sutlerar o
entendimento jurisprudencial segundo o qual se caracterizaria a
propaganda extemporânea vedada em caso de "pedido subliminar" ou
"implícito" - justamente aauele inferido de atos como o pedido de apoio e
a promocão pessoal de pré-candidato.
"Explícito" é, com a permissão da redundância, o contrário de
"implícito"; portanto, algo expresso ou ~erfeitamente declarado. Não
obstante, o que se tem visto é aquilo que Vicente de Paula Maciel Júnior denomina
"interpretação repristinatória": a persistência de entendimento patentemente
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS
incompatível com a lei em vigor, destinado a ressuscitar o sentido da lei
revogada. O termo adotado por Maciel Júnior, evidentemente irônico, convoca
tribunais a uma rel'lexão sobre o que significa levar o princípio da legalidade a sério
e, neste sentido, estou convicto de que não há "direito jurisprudencial" que se
possa arvorar em ignorar a letra de uma alteração leqislativa que adveio Dara
ampliar o exercício de direitos fundamentais.
No caso dos autos, verifico que a ~ropasanda obieto da
re~resentacão NÃO contém pedido explícito, isto é, expresso ou
perfeitamente declarado, de voto. Não constitui, pois, ~rotlaciandaeleitoral
ilícita em razão de sua antecipacão ou extemtloraneidade.
Tendo em vista o exposto, por entender não caracterizadas no caso nem a
divulgação de pesquisa sem o prévio registro nem a propaganda eleitoral
antecipada ilícita, reitero vênias ao e, Relator, para dar provimento ao recurso e
reformar a sentenca recorrida, iulciando im~rocedentea retlresentacão.
É como voto.

Juiz Virgílio de Almeida Barreto


Sessão de 13/9/2016

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 68-50.2016.6.13.0023


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrente: Carlos Alberto Sa Grise
Advogados: Drs. Henrique Martins Campello Filho; Guilherme Lessa Guimares
Recorrido: Ministério Público Eleitoral

Decisão: O Tribunal deu provimento parcial ao recurso, por maioria, nos termos
do voto do Relator, vencidos parcialmente o Des. Rogério Medeiros e o Juiz
Virgílio de Almeida Barreto.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Domingos Coelho. Presentes os Exmos. Srs. Des.
Rogério Medeiros e Juízes Paulo Rogério Abrantes, Virgílio de Almeida Barreto,
Carlos Roberto de Carvalho, Ricardo Torres Oliveira e Antônio Augusto Mesquita
Fonte Boa (Substituto) e o Dr. Patrick Salgado Martins, Procurador Regional
Eleitoral.

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