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Análise do comportamento violento dentro das

manifestações contra o aumento da tarifa da passagem sob

uma ótica Freudiana

Curso: Ciências Sociais Turma: MA-3 Data: 27/06/2013

Disciplina: Psicologia Professor: Sérgio Wajman

Alunos: Marco Antonio Cardoso da Silva RA: 00118516

Jeferson Carvalho de Souza RA: 00111561

Desde o dia 6 de junho de 2013, pudemos acompanhar as manifestações contra o

aumento da tarifa da passagem, tanto na cidade de São Paulo, quanto em outras cidades

em todo o Brasil. Foi possível observar uma grande mudança no foco das

manifestações, assim como na grande massa que compunha o movimento como um

todo e, acompanhada dessas mudanças, surgiu a necessidade de discussão e análise de

um comportamento muito recorrente que acompanha esse movimento de indignação

geral da sociedade brasileira: a violência.

Com o aumento da tarifa da passagem de R$ 3,00 para R$ 3,20, o MPL –

Movimento Passe Livre – com o uso das redes sociais, convocou a população a uma

marcha com o objetivo de reduzir essa tarifa e também lutar pela tarifa zero. Em seus

primeiros dias a manifestação era composta basicamente de coletivos como o Juntos,


que é ligado ao PSOL, a Anel, partidários do PSTU e também uma grande quantidade

de jovens universitários. O início das manifestações foi marcado por uma forte e

violenta repressão da polícia com uso de balas de borracha, gás lacrimogênio e bombas

de efeito moral. Mesmo com a repressão violenta da polícia o número de pessoas

crescia gradativamente a cada manifestação. Até que no dia 13 de junho de 2013 a

polícia usou de uma violência absurda para conter os manifestantes, não atacando – os

somente, mas também repórteres e pessoas que simplesmente passavam pelo local

voltando do trabalho entre outras. Quando essa informação foi disseminada com o uso

da internet, das mídias digitais, e até das mídias tradicionais que até agora tentavam

abafar informações sobre as manifestações, a população quase como um todo tomou

partido contra a violência da polícia. Podemos enxergar na polícia e seus superiores.

Freud nos diz que o homem tem um anseio pela beleza e que toda sujeita nos parece

incompatível com a civilização. Podemos entender que as manifestações, aos olhos das

autoridades, são como uma sujeira que precisava ser limpa. O homem tem um anseio

por ordem. Ele usa de métodos para afastar desprazeres proporcionados pelo seu interior

e também pelo exterior. Aqui podemos ver um processo que busca neutralizar um

desprazer. Um processo que “considera a realidade como a única inimiga e a fonte

de todo sofrimento, com a qual é impossível viver, de maneira que, se quisermos

ser de algum modo felizes, temos de romper todas as relações com ela” (FREUD:

2011, pp 12).

A polícia usou de violência desde o início dessas manifestações. Então qual o

motivo pelo qual a indignação geral contra essa violência demorou a surgir? Aqui

podemos identificar outro processo, um que gera um desvinculo com a realidade. O

prazer, a satisfação buscada com o fim de sobrepor-se ao desprazer, é dessa forma

obtido através de ilusões. Quando a violência, configurada como um desprazer, não


pode mais ser mascarada com essas ilusões desvinculadas da realidade geradas pela

mídia tradicional um sentimento oceânico surgiu na sociedade.

Na manifestação seguinte que ocorreu no dia 17 de junho de 2013 o número de

manifestantes cresceu exponencialmente. Agora era composta de uma grande massa de

indignação, porém difusas. Podiam-se ver, além da proposta de redução da tarifa e de

passe livre, cartazes criticando a corrupção, pela melhoria da saúde, da educação, contra

a PEC 37, contra o Estatuto do Nascituro, contra aos grandes investimentos na Copa,

entre outros. Mas quero chamar a atenção a um fato específico dentro desta e de outras

manifestações posteriores. Aqueles que representavam partidos políticos passaram a ser

hostilizados e agredidos. O motivo aparente para tal repúdio é a insatisfação quanto a

maneira em que a política é feita no Brasil. Contudo, se formos mais afundo nessa

análise, poderemos constatar que essa parcela da sociedade, que vem nos demonstrando

uma reação conservadora e nacionalista está satisfazendo nos membros de partidos

políticos sua agressividade.

Podemos ver no texto de Freud que na nossa sociedade, onde os princípios do

cristianismo estão gravados de maneira muito forte no povo, um deles é o mandamento

“Amarás o próximo como a ti mesmo”. Mas nisso repousa um problema: só é possível

sentir amor por alguém quando com ele nos identificamos. Quando o outro é um

estranho, partimos do princípio que ele não se importa conosco e que é capaz de

qualquer coisa para satisfazer suas vontades e, assim, devemos agir da mesma forma

para com ele.

Então é possível identificar nos agressores dos partidários uma reação recíproca

em sua conduta agressiva. Quando falo recíproca é no sentido em que eles se sentem

lesados e agredidos pela representação partidária que satisfaz sua vontade através do
povo. Então eles satisfazem sua indignação contra os partidos políticos em forma de

violência para com os membros de partidos.

Freud nos diz que para nós homens, abandonar a satisfação que a agressividade

nos proporciona é muito difícil e que um grupo, para sentir-se coeso, possui a

necessidade de descontar a agressividade em membros de fora desse grupo. “A

inclinação para a agressão é, portanto, uma disposição instintiva original e auto-

subsistente, e ela é o maior impedimento à civilização.” (FREUD: 2011, pp. 35).

Concluindo, podemos ver nos agressores aquele sentido de morte e destruição

que Freud mostrou-nos em sua obra. Esse sentido é demonstrado no mundo externo

como um sentido de agressividade. Isso compele o homem a destruir algum outro

organismo diferente de si próprio.

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