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Por vezes acho que minha vida é uma vendaval, uma onda que morre na beira da praia, uma

multidão de expectativas mal resolvidas, algo como um medo de si gritante, uma inautenticidade
cortante, que vem e retira os últimos pedaços de eu mesmo que ainda restam. Acho que todas as
pessoas são assim, como uma música, brilhantes e árduas, um trabalho de Deuses, mas
destinados a perecer no fim de tudo. Somos todos como projetos incompletos, vivemos a vida,
tentamos tudo construir com as mãos, no final caímos todos em desespero ao saber que a vida é
curta. Aos homens falta portanto um tempo de reflexão, um voltar-se para si eterno, pois se
caminharmos neste vale de decepções voláteis, provando de todas as coisas e caminhando por
todos os espaços, acabaremos por desbravar os caminhos, por morrer no meio da estrada, como
indigentes que sonharam com todas as bonanças, mas acabaram por, de tanto tentar ver tudo,
presos num mar terrível, sendo tudo e ao mesmo tempo nada. Pois todos nós precisamos ver o
que há dentro de nós, as sinuosidades, os percalços e as feridas, para que não acabemos por
ficar desamparados, sofrendo todas as intempéries vendo todos os caminhos, mas incapazes de
caminhar. Precisamos ser fortes, e também ágeis; fortes pois o si mesmo é um vale de dores
que poucos suportam; ágeis pois para sair de seus caminhos é necessário ter a força da confiança
em Deus. Precisamos, assim, estar seguros de nós , saber percorrer os caminhos, ter coragem
para nos encontrar conosco mesmos. Pois cada ser que há nesse mundo é um vale, uma
multidão de sentimentos gritantes, um vazio que pede socorro e não tem por onde correr, e se
não tivermos a força e a coragem para sentirmos com toda força nossa dor e não tivermos o
medo de sentir cada peculiaridade deste vazio que preenche cada um de nós, tudo isso para que
no final percorramos tudo e nos encontramos com a dádiva perfeita que nos aguarda no céu de
uma mente tranquila, estaremos sempre presos às falácias de um eu que nunca se completa.
Precisamos assim da autodescoberta, e de audácia para superar cada vilipêndio de quem tem
medo de si, sem medo de no final se encontrar com o pior de nós mesmos, e superar o dragão
que habita dentro de cada homem. Isso porque a vitória é daqueles que superaram um a um todos
os seus defeitos e isso é para poucos. Não tenha medo de si mesmo. Tenha somente pavor das
consequências de deixar que o dragão tome conta de si e você morra sem poder fazer nada. A
força de cada homem aumenta na medida que ele se conhece, e aqueles que se desgarram da
missão de percorrer todos os caminhos do si mesmo, para depois voltar e finalmente poder dizer
que venceu o pior de si, acabam por si matar pouco a pouco e não descobrir que há todo um
mundo novo a ser descoberto. Viva e conheça, irmão…

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