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RELEVO PIAUIENSE - Carta CEPRO - IracildeMouraFéLima PDF
RELEVO PIAUIENSE - Carta CEPRO - IracildeMouraFéLima PDF
APRESENTAÇÃO
Este trabalho foi desenvolvido originalmente como uma das áreas de estudo que
integra o PROJETO DELIMITAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL SEMI-ÁRIDO
– ESTADO DO PIAUÍ – , objeto de convênio entre o CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa
e Tecnologia e as Universidades Federais do Nordeste, através de acompanhamento pela
SUDENE.
No Piauí, a área de geomorfologia necessitou desenvolver inicialmente o trabalho de
classificação do relevo, como suporte à análise das formas de relevo do domínio semiárido
deste Estado. Assim, este estudo foi realizado durante os anos de 1982 e 1983, envolvendo
desde o levantamento dos trabalhos já realizados, que de alguma forma se referem aos tipos
de relevo piauiense, à montagem de uma criteriosa metodologia de fundamentação
geomorfológica, compatível com a natureza do estudo.
Como objetivo geral, portanto, o presente trabalho visa fornecer subsídios para a
compreensão das diferenças sub-regionais, através da proposição de uma base sobre qual
poderão ser desenvolvidos os trabalhos de detalhamento do relevo piauiense.
INTRODUÇÃO
Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.
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METODOLOGIA
Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.
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formas de detalhe, são referidas as do tipo ruiniformes, que ocorrem nos sedimentos areníticos
da “Formação Cabeças”, resultantes da intensa erosão pluvio-eólica orientada pelas áreas de
fraqueza: as diáclasses.
V – Lins (1978), ao analisar a bacia do Parnaíba, faz referência aos conceitos teóricos
sobre formas de relevo, destacando a sua localização. Salienta o conjunto de cuestas que
bordeja a bacia sedimentar em áreas piauienses, bem como considera, a exemplo da
classificação de Moreira anteriormente citada, uma segunda linha de “cuestas interiores”,
assinalando os contatos entre as formações e mesmo entre litologias diferentes dentro da
mesma formação geológica. Lins destaca outra unidade classificando-a como Chapadões ou
Chapadas, representada pelas grandes formas tabulares que “se dilatam no sul do Piauí e
Maranhão”. Faz referências, ainda, às relíquias ruiniformes de Sete Cidades esculpidas na
“Formação Pimenteiras”, além de feições isoladas tanto ao norte como ao sul do Estado.
Outra importante contribuição desse trabalho constitui-se das referências aos níveis de
aplainamentos, através dos processos de pedimentação e pediplanação, estudados no Brasil a
partir dos trabalhos de Bigarella e colaboradores (1965).
VI – O estudo de Pellerin (1983), representa o primeiro trabalho de mapeamento e
análise geomorfológica de detalhe no Estado do Piauí, utilizando fotografias áreas na escala
de 1:25.000. Constitui-se numa análise da área do Parque nacional da Serra da Capivara na
região sudeste, onde ocorrem as pinturas rupestres, nos municípios de São Raimundo
Nonato/São João do Piauí.
Este trabalho identifica três grandes conjuntos geomorfológicos:
1- Os planaltos conhecidos como chapadas, “muito regulares e monótonos”, com
altitudes entre 630-600 metros a SE e 520-500 metros a NW. Observou nesses
conjuntos as formas locais de platôs, vales de fundo chato e feições ruiniformes.
Destacou que esta área encontra-se praticamente desabitada pelo homem,
apresentando uma vegetação de caatinga arbustiva e presenças de crostas ferruginosas
sobre os afloramentos rochosos nas vertentes, e que ocorrem abrigos de pinturas
rupestres nos vales dos riachos da Serra Branca e do Boqueirão.
2- A zona de “cuestas” areníticas (Serra da Capivara, Nova, do Bom Jesus do Gurguéia).
Considerou esta zona uma cuesta dupla de arenito, com deposição intermediária de
conglomerados, a qual se encontra profundamente cortada por canyons de quilômetros
de extensão, com paredes verticais ruiniformes. Figura esta área como a de maior
concentração de pinturas rupestres.
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O mapeamento efetuado pelo Projeto Radam (1973) indica uma descontinuidade destes seguimentos ao se
interromperem na área pré-litorânea e voltarem a ocorrer capeando a Formação Itapecuru, no interior da bacia sedimentar,
formando uma camada horizontal. Identifica estes sedimentos como areno-argilosos, mas não se refere à sua estratigrafia.
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I – Depressões Periféricas
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possíveis de comprovação pelos registros deixados nos ambientes, como as linhas de pedras,
cascalheiras, lateritas e sílex, entre outros. A maior intensidade de incisão da drenagem e de
processos de pedimentação e pediplanação, observados no Nordeste e no Piauí, é explicada,
assim, como anteriores à instalação dos domínios morfoclimáticos atuais, documentados por
essas paleoformas a nível regional e local.
Essas superfícies de erosão são representadas pelos “sertões” cristalinos da região
Nordeste que foram elaboradas a partir de um passado remoto, Pré-Siluriano, uma vez que
iniciaram o fornecimento de detritos para a formação da bacia sedimentar, submetendo-se ora
com maior intensidade, ora com menor intensidade às perturbações tectônicas, oscilações do
nível do mar e variações climáticas continentais.
As combinações de processos regionais evacuaram “grandes quantidades de massa de
solos e de rochas” responsáveis pela exposição de rochas intrusivas em toda sua extensão,
como é o caso do granito (AB’SABER, 1975). Esses eventos são considerados como os
agentes desencadeadores dos processos desnudacionais, a que se submeteram essas
superfícies arrasadas.
Na Região Nordeste não ocorreram recentemente condições de umidade suficientes,
como foi o caso do sudeste/sul e norte do país, para nela se desenvolverem fases de processos
de intemperismo químico pronunciado e, consequentemente, solos propícios à instalação de
florestas. Estas, além da função de proteção dos solos contra a erosão, funcionaram como
fixadoras de umidade que, aprofundando o manto de decomposição, possibilita também a
infiltração e favorece a alimentação interna dos cursos d’água. Vale destacar, ainda, que a
variedade mineralógica que compõe as rochas das regiões cristalinas, de origem magmática,
em presença de constante umidade favorece o desenvolvimento de solos naturalmente ricos
em nutrientes, que adquirem maior valor econômico em relação aos solos desenvolvidos em
áreas sedimentares, predominantemente areníticas da bacia do Maranhão-Piauí.
Os solos que ocupam essas áreas cristalinas, no Piauí, apresentam-se pouco
intemperizados, portanto, de espessura pouco profunda, à exceção de alguns paleossolos2.
Ocorrem, ainda, áreas, ora com tendência à salinização, notadamente na bacia do rio Piauí,
ora com coberturas de cascalhos e seixos, observados nas rampas pedimentares e nos antigos
terraços fluviais (atualmente não inundáveis).
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Considera-se paleossolos aqueles tipos desenvolvidos em condições ambientais diferentes das atuais.
No caso do Nordeste semiárido são aqueles que apresentam intemperismo químico pronunciado, incompatível,
portanto, com as condições climáticas atuais dessa região.
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Do ponto de vista geomorfológico o termo “Chapada” consiste em um planalto sedimentar típico de
encostas elevadas. O “Chapadão” representa uma designação regional para uma série de chapadas ou planaltos
de superfície regular (GUERRA, 1966).
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“Planalto” é um vocábulo muito utilizado, porém deverá estar sempre associado ao tipo de estrutura,
que lhe atribuirá à origem, para não adquirir uma conotação apenas descritiva da forma horizontal ou sub-
horizontal e da altitude elevada (GUERRA, 1966).
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O termo “serra” indica elevações acidentadas, com fortes desníveis, tratando-se, porém, de uma
descrição empírica e muito imprecisa. As “serras” do sul do Piauí foram designadas neste trabalho Planaltos
Sedimentares por possuírem estrutura geológica de rochas sedimentares em camadas horizontais.
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(6) O termo “serra” indica elevações acidentadas, com fortes desníveis, tratando-se porém, de uma descrição empírica e
muito imprecisa.
Publicado As “serras”
originalmente: do CEPRO.
Carta sul do Piauí foram designadas
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1987. Sedimentares
Digitalizadopor
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2013.
estrutura geológica de rochas sedimentares em camadas horizontais.
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distribuídas em maior período do ano – portanto a transição climática do tipo mais seco para o
mais úmido, como as condições de alimentação interna, ou seja, a surgência de águas
subsuperficiais para estes leitos, a partir das áreas dos vales do Gurguéia e das bacias
hidrográficas à sua esquerda.
O vale do rio Gurguéia se destaca pela sua extensão, abrangendo uma área estimada de
300km2 (Lins 1978). É considerado o vale pedimentar de maior expressão desta unidade, pois
sua evolução se faz a partir do recuo das encostas, possibilitando, assim, tanto o alargamento
do leito maior, quanto maior liberdade para divagar, formando meandros, uma vez que a
amplitude do seu perfil longitudinal sendo pequena favorece este comportamento. Destaca-se,
ainda, que além de solos coluviais e aluviais que aí se desenvolvem, a disponibilidade natural
de umidade pela perenidade do rio e a presença de aquíferos sob alta pressão (jorrantes) que
permitem maior enriquecimento deste – natural e de exploração – em relação aos vales
vizinhos. Em alguns trechos do curso, porém, o leito desse rio encontra-se encaixado na estru-
tura geológica, denotando condições anteriores de maior competência em relação à atual.
Apesar desse enriquecimento milenar, tanto pelo recebimento de material mais fino
que chega às suas margens através da seleção natural dos detritos – da encosta até o leito
maior – quanto pela inundação periódica do rio depositando o material em suspensão e em
dissolução, essa área atualmente encontra-se subutilizada. Observa-se a ocupação atual
somente de algumas manchas esparsas, principalmente pela pecuária e pelo cultivo do arroz
dentro do vale, e do milho e feijão nas áreas mais elevadas, mas que se tornam inexpressivas
em relação à área total. Nesta última década é crescente a ocupação das áreas mais elevadas,
não só desta bacia hidrográfica, mas de todo o compartimento por projetos de reflorestamento,
utilizando o cajueiro como essência prioritária.
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"Cuesta" corresponde a um tipo de Planalto Sedimentar dessimétrico, por apresentar um mergulho
suave (em torno de 30º graus) de finas camadas. O corte abrupto em um dos seus limites, representa o "front" ou
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entre 900 metros – áreas mais elevadas no Ceará – e um nível de base local em torno de 200
metros. Forma uma grande linha de cuesta, cujo "front" está voltado para as depressões
sertanejas cearenses e o reverso para o Piauí. Apresenta-se mais uniforme ao norte, onde é
denominada genericamente de "Serra da Ibiapaba" e ao sul, a partir do canyon ou boqueirão
do rio Poti, é conhecida por "Serra Grande", apresentando, nessa parte, altitudes mais modes-
tas, e escarpa bastante festonada pela drenagem de sudoeste do Ceará. Interrompe-se,
praticamente, nos limites com os terrenos cristalinos no sudeste piauiense, onde o seu contato
é representado pela Chapada do Araripe (Ceará/Pernambuco) que, em terras piauienses, faz-se
representar por uma estreita faixa de sedimentos. A sudeste limita-se com as depressões
periféricas e a oeste com os Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba.
A litologia é formada, predominantemente, por arenitos e folhelhos, que compõem as
Formações Serra Grande, Pimenteiras e Cabeças, apresentando capeamentos pontuais de
pequena expressão das Formações Piauí e Itapecuru.
Observa-se que a área constituída pela Formação Serra Grande é a que se apresenta
mais conservada, em termos de erosão areolar, em relação às demais formações,
correspondendo desde o "front" ao reverso imediato destas, da linha da cuesta, que forma o
bordo da própria bacia sedimentar soerguida.
Esta área é testemunha dos grandes falhamentos regionais que cortam todo o Piauí,
falhamentos que deslocaram grandes blocos de sedimentos e direcionaram o encaixe da
drenagem na estrutura em direção ortogonais de NE/SW e NW/SE. As maiores falhas são
conhecidas como Urbano Santos/Oeiras (ou falha do rio Canindé), que é cortado pela falha de
Picos em ângulo reto, a de Guaraciaba (ou de Jaibara/Porto Nacional), e a de Curimatá, entre
outras de menor extensão detectadas ou inferidas pelo RADAM (1973). São frequentes
também, nesta porção a ocorrência de fraturas silicificadas, (Formações Serra Grande e
Cabeças), de diques de diabásio (basalto?) de extensões variadas, ocorrendo de norte a sul res-
ponsáveis pela formação de solos mineralogicamente ricos, e ainda, de alguns domos
estruturais ao longo das Formações Pimenteiras e Cabeças. Este poderoso controle estrutural,
segundo Lima (1982), reflete o soerguimento em conjunto e a estrutura local intensamente
falhada e fraturada que determina as feições atuais.
As formas de relevo deste compartimento estão representadas pelos reversos de
cuestas conservadas em estruturas monoclinais, depressões e vales encaixados – destacando-
se o canyon ou boqueirão do Poti, que tem piso cristalino e encostas sedimentares com
frente e o declive suave do sentido contrário ao front designa-se "reverso". O ataque da erosão diferencial realça
a diferença de resistência de suas camadas ou formações geológicas.
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amplitude de mais de 300 metros. Merece destaque, ainda, outro tipo de feição
geomorfológica, como a do tipo ruiniforme que ocorre nos municípios de Castelo do
Piauí/São Miguel do Tapuio e Picos. Esta representa afeição residual que se forma a partir do
desgaste provocado pela erosão plúvio/eólica, segundo, os planos de diaclases, na Formação
Cabeças. No município de Piracuruca, no contato desta unidade com os Baixos Planaltos do
Médio Baixo Parnaíba, ocorre um expressivo agrupamento destas formas-relíquia na área do
Parque Nacional de Sete Cidades. Nessas áreas, uma fina cimentação, capeia o arenito,
protegendo-o contra o desgaste acelerado. Apresenta, na maioria dos "conjuntos
monumentos", uma aparência de casco de tartaruga pela retração da rocha, segundo os planos
de diaclases, como resultante das variações climáticas que o Nordeste sofreu durante o
Pleistoceno (MAIO, 1962).
A interiorização deste planalto se apresenta como um grande desmembramento em
forma de cuestas gradativamente menos elevadas, atestando que a sua condição estrutural
comanda os processos erosivos. O desgaste do reverso é representado principalmente pela
forte incisão dos grandes rios que drenam essa área como o Longá, através dos seus afluentes:
os rios dos Matos, Piracuruca e Corrente; o Poti, representado pelos seus afluentes:
Macambiras, Cais, São Nicolau e Sambito; e ainda, o Canindé que se representa pelo rio
Guaribas no, contato entre esta unidade e as depressões cristalinas. Observa-se que estes rios
se encontram em processo de erosão regressiva, encaixados na estrutura do reverso inten-
samente fraturada, paralelamente, entre si, obedecendo predominante a mente à direção geral
destes falhamentos de NE/SW e, em menor proporção, à direção do mergulho da estrutura de
E/W. Sugerem um comportamento semelhante ao do rio Poti que, segundo hipótese de
fendida por Lima (1982), baseando-se em várias evidências, coloca a elevada probabilidade
de que o Poti aproveitando-se de fraquezas litológica e estrutural tenha cortado gradualmente
por erosão regressiva a estrutura da cuesta, através do processo de epigenia por superimposi-
ção, formando um grande canyon, e capturando a drenagem endorréica da depressão
periférica de Crateús.
A área do grande reverso da cuesta em terras piauienses apresenta uma reduzida
umidade em relação à porção cearense, em função da predominância das chuvas orográficas,
atingindo somente o seu front e reverso imediato (maiores altitudes do planalto,
principalmente a porção norte limitada pelo canyon do Poti).
A vegetação característica do lado piauiense compõe-se predominantemente de
cerrados e caatingas, intercalados de palmeiras nas áreas mais úmidas. Os solos são predomi-
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Este compartimento inicia-se com o arco norte dos sedimentos Paleozóicos das
Formações Serra Grande e Pimenteiras, no contato com a Formação Barreiras, ao norte do
Estado. O seu extremo noroeste corresponde à planície fluvial do Parnaíba, a partir da Lagoa
do Cajueiro (Joaquim Pires) e em direção: a montante do Parnaíba até à foz do Gurguéia,
quando aquele rio retorna à direção geral Sanfranciscana (sul/norte). A este limita-se com o
Planalto Oriental da Bacia Sedimentar – a cuesta da Ibiapaba – e, ao sul, com os Chapadões
do Alto-Médio Parnaíba. Compreende uma área de aproximadamente 61.000km², ou seja,
24,4% do total do Estado e 29,2% da bacia sedimentar – área piauiense.
Sua litologia é constituída predominantemente pelos sedimentos Devonianos (arenitos
e folhelhos) da Formação Longá; arenitos intercalados com folhelhos datados do Carbonífero
(Formação Piauí); arenitos, folhelhos, siltitos e calcários, das Formações Pedra de Fogo e
Itapecuru, do Permiano ao Cretáceo; e uma mancha de sedimentos Terciários da Formação
Barreiras, formando topo entre os rios Longá\Parnaíba. Destacam-se afloramentos de sill e
diques Cretáceos de basaltos (alguns autores denomina-os como diabásio), na área sul desse
compartimento, mapeados pelo RADAM (1973), como Formação Orozimbo, ocorrendo nos
municípios de Água Branca, São Pedro e adjacências, em maior expressão espacial. Em
direção ao sul, nos municípios de Amarante, Floriano e Valença, esses afloramentos se tomam
mais esparsos, como se pode observar em campo, não se conhecendo ainda os mapeamentos
detalhados dessas manchas de rochas básicas. Nas áreas desses afloramentos observa-se maior
ocupação agrícola, pois esses solos minerais escuros desenvolvidos nessas rochas básicas,
pela sua fertilidade natural, adquirem maior valor para utilização agrícola, sendo considerados
como os melhores de todo o Estado.
Topograficamente, esse compartimento apresenta reflexos, ainda que fracos, do
mergulho geral das camadas suborizontais como continuidade aos terrenos da cuesta da
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Ibiapaba. As altitudes evoluem, portanto, de oeste para leste, aproximadamente 20/40 metros
no vale do Parnaíba e para 200/300 metros nos planaltos rebaixados.
A dissecação, em intert1úvios tabulares, isola pequenos planaltos considerados como
mesas com simetria de vertentes, pela sua forma tabular, que, ora se adensam formando os
grupamentos de mesas, ora se esparsas formando vales coluviais achatados, além dos aluviais.
Assim, apesar desse compartimento ser classificado como categoria erosiva,
principalmente, porque nas suas porções central, sudeste e sul ocorrem predominantemente os
processos erosivos em relação aos processos de formação de solos, observa-se que esse
desgaste é, em parte, ainda, orientado pela estrutura geológica. Justifica-se esta afirmação pela
observação de que o contato desse compartimento com a grande linha de cuesta que forma o
Planalto da Ibiapaba é identificado por Moreira (1977) como uma segunda linha de cuestas
internas de menores altitudes que correspondem a degraus estruturais, relacionados aos sills
de diabásio (basalto?), que são comuns na Formação Longá. Para o interior desta bacia, no
entanto, as cuestas menores vão perdendo a sua forma característica para apresentarem-se
dissecadas em unidades menores de mesas e morrotes, guardando parcialmente a topografia
tabular de camadas horizontais. Em muitas áreas, a manutenção dessas superfícies deve-se ao
capeamento por concreções lateríticas, que funcionam como proteção contra o desgaste.
Como formas de relevo locais podem ser citados os agrupamentos de mesas, os
planaltos rebaixados, os morros testemunhas tipo mesa e morrotes, as áreas deprimidas de
acumulação inundáveis e as planícies flúvio-lacustres dos rios Parnaíba e Longá. Como
planaltos rebaixados podem ser identificadas as formas localmente conhecidas por Serra
Grande, Serra do Grajaú, Serra da Lagoa Funda, Chapada Grande, Serra de São Pedro e Serra
do Tabuleiro, entre outras.
Os rios nesse compartimento, que isolam em interflúvios tabulares os planaltos e as
unidades menores citadas, apresentam um fluxo torrencial, inundando periodicamente áreas
além leito maior, principalmente nos cursos baixos onde têm seus fluxos represados pelo rio
Parnaíba, em períodos de "cheias". Representam a drenagem dessa área, os baixos cursos dos
rios Canindé e Poti, de direção sudeste/noroeste, pequeno trecho (próximo à foz) do rio
Itaueira, quase a totalidade da bacia do Longá e os trechos médio e baixo do rio Parnaíba
(margem direita), que apresentam direção sul/norte.
Na bacia do Longá, merece destaque a formação de uma área periodicamente
inundável mapeada pelo RADAM (1973), como "agrupamento de lagoas temporárias em
prováveis áreas de “playas” em exorreísmo”.
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V – Tabuleiros Pré-Litorâneos
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Nos Estados do Amazonas, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, essa faixa de
sedimentos Terciários é objeto de estudos geológicos e geomorfológicos (BIGARELLA e
ANDRADE, 1964; RADAM, 1981; SOUZA, 1975). No Piauí, somente o mapa geológico do
RADAM (1973) se refere a estes sedimentos, identificando-os como Formação Barreiras
composta de arenitos brancos e róseo-avermelhados (pouco consolidados) granulação variada,
leitos de argila creme e lentes de caulin e calcário. Apresenta-se recobrindo uma faixa de 50-
30 km de largura entre a bacia sedimentar e o litoral como um glacis de acumulação,
designado como tabuleiros em todo Norte e Nordeste ao Brasil. Essa área corresponde aos
interflúvios rebaixados dos principais rios: Parnaíba/Portinho/lgarapé Baixo do
Salgado/Riacho da Baixa Velha/São Miguel/Cardoso/Camuripim/ Ubatuba/Camelo (cartas
DSG 1978).
Vale destacar que o mapa do RADAM (1973) indica a presença de uma mancha destes
sedimentos no interior da bacia sedimentar do Maranhão – Piauí, sobre a Formação ltapecuru
(Cretáceo), no interflúvio Longá/Parnaíba, entre os municípios Matias Olímpio, Barras e
Miguel Alves, aproximadamente. Observa-se que esta mancha tem correspondência com o
alongamento sul da Formação Barreiras no espaço maranhense, que acompanha a margem
esquerda do Parnaíba em grandes extensões. Essa área representa a forma de um planalto
rebaixado de camada horizontal, que limita a área das lagoas fluviais formadas pelo Parnaíba,
ao longo do seu baixo curso.
VI – Planície Costeira
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RESUMOS E CONCLUSÕES
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total piauiense. Ressalte-se que não foram mapeadas as aluviões que se tornam
inexpressivas em relação à área total do Estado, tendo, consequentemente, área
imprecisa na escala base deste trabalho, que é de 1:1.000.000.
2 – Essa base geológica ou lito-estrutural reflete-se nas formas de relevo regionais que,
associadas ao clima, permitem a individualização e a classificação dos compartimentos
regionais do relevo do Piauí:
Estrutura cristalina, intensamente metamorfisada e desnudada, constitui o
compartimento das Depressões Periféricas. Essa área corresponde às
superfícies de erosão interplanáticas, que se estendem por todo o Nordeste
Oriental, conhecidas regionalmente como “Sertões Semiáridos Nordestinos”;
A estrutura sedimentar compreende três compartimentos regionais de relevo:
os chapadões do Alto-Médio Parnaíba, o Planalto Oriental da Ibiapaba e os
Baixos Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba. Os dois primeiros
individualizaram-se basicamente pelos critérios estrutural e topográfico, por
refletirem a estrutura de camadas concordante horizontal, no caso dos
Chapadões do Alto-Médio Parnaíba, e a estrutura concordante inclinada por
tectonismo-monoclinal ou homoclinal do Planalto Oriental da Ibiapaba, que lhe
confere o tipo de “cuesta”. O Terceiro compartimento, ou seja, os Baixos
Planaltos do Médio-Baixo Parnaíba, apesar de refletir a estrutura, identifica-se
pelo comando da evolução do relevo a partir das condições climáticas: nas de
relevo: os Tabuleiros Pré-litorâneos, que se constituem num glacis de
acumulação de sedimentos de origem continental, e a Planície Litorânea,
formada pelos Sedimentos Quaternários do litoral.
3 – A partir dos trabalhos de A. Caileux, J. Tricart, Fairbridge e F. Ruellan, iniciados
na década de 1950, sobre os aspectos básicos da dinâmica paleo-climática quartenária
do Brasil, autores brasileiros como Ab’Saber, Bigarella, Mousinho, Andrade, entre
outros, têm desenvolvido estudos muito importantes para o conhecimento dos
complexos arranjos das condições ambientais que se estabelecem e variaram desde o
Plioceno ao Holoceno.
Esta literatura demonstra que, no Brasil, os climas semiáridos (quentes, com fases de
chuvas concentradas) correspondem aos interglaciais e que as fases mais secas e
relativamente frias correspondem às fases glaciais. Deixa claro, ainda, que os domínios ou
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conjuntos regionais de paisagens morfoclimáticos7, ora do tipo zonal, ora do tipo azonal, não
dependem somente da zonação climática atual, mas dos efeitos acumulados dessa série de
flutuações climáticas pretéritas.
4 – Para o conhecimento das variações de condições ambientais no espaço piauiense
necessita-se de estudos aprofundados através de métodos geomórficos e pedológicos,
associados aos sedimentológicos. No entanto, evidenciam-se algumas características
que documentam a sua importância para a composição das condições ambientais
atuais:
4.1. Como processos/feições relíquias resultantes de condições climáticas
pretéritas, diferentes das atuais, podem ser citadas:
Encaixamento pronunciados de vales fluviais;
Níveis de terraços antigos sedimentos por cascalheiras;
Capeamentos por lateritas8, páleo-solos;
Rampas e vales pedimentares;
Morros testemunhos sedimentares e cristalinos (inselbergs).
Estas ocorrências testemunham que também no Piauí:
As condições subatuais de semiaridez, ora mais acentuadas, ora mais
moderadas, com períodos de forte concentração de chuvas possibilitaram o
desenvolvimento dessas formas;
Os processos degradacionais foram intensos e bem demarcados por vários
níveis de erosão, desde as depressões periféricas ao litoral;
Os níveis atuais das superfícies e cimeira, de planaltos rebaixados, de morros
testemunhos e alguns terraços de cascalhos são mantidos por capeamentos
lateríticos. Estes ocorrem em todos os compartimentos regionais de relevo,
tendo sido constatados nos municípios de Parnaíba, Barras, José de Freitas,
Campo Maior, Teresina, Picos, Oeiras, Floriano, Canto do Buriti, São
Raimundo Nonato e São João do Piauí; a drenagem apresenta-se, no atual
domínio do semiárido, com caráter de intermitência, frequentemente
anastomosado. Inclusive os rios perenes, o Parnaíba e o Gurguéia, encontram-
se sem competência para transportar sua carga atual de sedimentos arenosos.
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As combinações regionais de fatos geomórficos, climáticos, hidrológicos e pedológicos levam à composição de
províncias ou domínios morfoclimáticos.
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Lateritas correspondem às crostas duras com forte concentração de ferro e alumínio. “Velhos solos
transformados em nova rocha, sob a forma de crosta ferruginosa resistente” formados em condições climáticas
ainda não suficientemente estudadas (Ab’Saber, 1975).
Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.
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Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.
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REFERÊNCIAS
Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.
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APÊNDICE A
Publicado originalmente: Carta CEPRO. Teresina. v.12 n.2 p. 55-84 Ago/Dez 1987. Digitalizado em 2013.