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Sumário

Mundo nerd: Pode ser profissão?


3
Arte, história e talento: conheça
o Sala Preta.
5
CONSELHO EDITORIAL O ELEFANTE Branco dos cinemas de
Volta Redonda.
COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO 8
Álvaro Britto A importância da Capoeira na for -
macão do indivíduo.
12
CHEFE DE REPORTAGEM Praça da Bandeira: símbolo históri -
João lucas e André nunes co que percorre pelos trilhos...
13
Diagramação A Luta Nossa de Cada Dia.
Amanda Dofini, Ana Carolina Duarte 15
e João Victor Rocha. Em Busca de Espaço.
17
Reportagens Feira Livre: uma Tradição em Barra
Amanda Dofini, Ana Carolina Duarte, Mansa.
Anderson Patrick, Ana Júlia 19
Zikan, André Nunes, Felipe Moura, Galeria de Arte Cléssio penedo:
Gabrielle de Castro, Isabelle magalhães CONHECENDO O DESCONHECIDO.
João Lucas Marins, João Victor Rocha, Lais 21
Paulo, Leonam Viana, Liz Roxo, Raissa de faria, Futebol: da cultura à paixão.
Marcos Alves, Macauley Domingues, matheus 23
Serafim
A polêmica religiosa.
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-3-
Mundo NERD pode
ser profissão?
A cada dia aumenta o número de pessoas
que leva o mundo da diversão muito a
sério
Se no passado ser nerd era si- Assim como os nerds,
nônimo de exclusão social, os geeks os geeks também são pesso-
estão aí para comprovar que este as viciadas em novas tecno-
conceito icou para trás. No dicioná - logias relacionadas às diver
rio de inglês as palavras nerd e geek sas áreas do entretenimento,
remetem a pessoas cafonas e fora de como computadores, games, li-
moda, porém hoje, ao que parece, vros, filmes e cultura pop em
esta denominação é que está ultra- geral. É como se eles fossem es-
passada. Danielem da Silva, que se pecialistas nas áreas que curtem,
considera dentro dessa cultura, air - pois se dedicam a pesquisar e
ma que ainda existe um certo precon- aprender tudo sobre ela. Porém,
ceito mas isso vem melhorado muito. eles não são solitários e tidos
A cultura geek está fortemen- como antissociais. Pelo contrá-
te presente na sociedade atual, apre- rio, a cultura geek tem feito su-
sentando-se como tendência. Você cesso e inclusive ditado tendên-
pode se lembrar do nerd nos anos cias, com um estilo bem próprio.
90 (ou já ouviu falar). Figura aicio - Hoje, além do auto co-
nada por tudo que envolvia compu- nhecimento, muitos dedicam-
tadores, tecnologia, games, RPGs e -se em passar o conteúdo para
icção cientiica, com inteligência outras pessoas. O meio mais
e timidez acima da média. Os cha- comum dessa troca de conheci-
mados nerds eram pessoas muito es- mento é a internet. Sites, canal
tudiosas, que gostavam de ficar em no YouTube, redes sociais com o
casa lendo, assistindo ilmes ou des - nerd como público alvo, a cada
cobrindo novas tecnologias, e com dia vem criando o seu espaço
praticamente nenhuma vida social. e aproximando mais pessoas.
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No YouTube, tudo começou com


uma diversão. Em 2009, o estudante Bru-
no Aiub, 23 anos, conhecido como Monark,
criou um canal no YouTube a fim de ensi-
nar as melhores estratégias para jogar Mi-
necraft – game que possibilita aos usuários
construírem um mundo formado por blo-
cos. Uma pesquisa realizada pelo
portal Omelete, direcionado a
esse público, detectou que
32% dos nerds e geeks no
Brasil possuem seu pró-
prio canal no YouTube.
“Eles começaram a
gerar audiência na in-
ternet e a ser remu-
nerados pelo Google
e por outros anun-
ciantes”, diz Teles.
Douglas Geo, com
mais de 300 mil ins-
critos no seu canal
conta que começou sem
muitas prevenções. “Eu
só gravei um vídeo mos- sucesso, Douglas afirma que
trando sobre o jogo, algumas é muito difícil viver de in-
estratégias e depois vi que estava ternet e possui outra proissão.
tendo um retorno muito grande”, dis- “Pouca gente sabe, mas sou enge-
se o YouTuber. Hoje o seu canal, nheiro civil. Youtube um mês dá muito e no ou-
oferece vídeos sobre diversos temas re- tro pode não dar nada. É uma coisa instável.
lacionados a jogos. Mas mesmo com esse Por isso tenho outra proissão”, afirmou Geo.
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Arte, história e talento,
conheça o Sala Preta!

Foto: Leonardo Avelino


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O Coletivo Teatral Sala Preta é o grupo do que evoluiu durante os anos e desta vez se reve-
teatro em Barra Mansa, cidade do interior do Rio la como “Nasce Uma Cidade – Operação Cascas”.
de Janeiro. Todos os anos, o coletivo realiza diver- Rafael Crooz, membro do coletivo, coorde-
sos espetáculos na cidade, seja de forma comemo- nador da peça e participante, explicita a impor-
rativa a alguma data especial ou mesmo para mos- tância do tema que caracteriza essa última ver-
trar uma nova criação. Alguns desses acontecem são “os antigos desiles deixavam uma parte muito
de forma itinerante, ou seja, não se restringem a importante da história de Barra Mansa de fora,
apenas um lugar ou locação. O que acaba trazendo que eram os ano de chumbo. A Operação Cascas
muito dinamismo e criatividade para a encenação. é uma ode ao trabalhador, aos operários poetas,
Uma das mais populares de suas que construíram a riqueza deste país. Este
apresentações é a peça “Nasce ano é uma denúncia. É um grito de li-
Uma Cidade” que conta justa- berdade, um abaixo à censura”.
mente a história de sua ci- “A Operação
dade natal, Barra Mansa. O nome, segundo Rafael, ho-
A intenção pode ser sem-
pre a mesma, contar
Cascas é uma ode ao menageia vítimas da exce-
ção realizada por alguns
a história local, mas
todo ano algum ele-
trabalhador, aos operá governos em determina-
das partes da história
mento novo é adi-
cionado à trama.
rios poetas, que constru “as Cascas dos abetos
de Aushwitz foram as
Além
encenar o clássi-
de íram a riqueza deste país. únicas testemunhas de
uma massacre que a ci-
co poema de Lacyr
Schettino, escritora
Este ano é uma denúncia. É esquecer. São essas cas-
vilização teima em não

que em 1963 lançou o


“Nasce Uma Cidade”,
um grito de liberdade, um nascas,Américas,
da operação condor
da revolução,
este ano o grupo agre-
gou uma nova temática:
abaixo à censura ”. locausto, das chacinas de Vigá-
dos cravos portuguesa, do ho-

uma resposta às políticas de rio, da Candelária, dos povos Gua-


exceção do Judiciário e da Polícia rani-Kaiowa que este trabalho fala”.
Federal. A intenção, além trazer arte Já quanto ao processo de organização do
e movimento para a cidade, é conscientizar a po- espetáculo, Crooz afirma: “a organização da peça,
pulação sobre temas importantes da atualidade. que esse ano é tocada pelo é sistematizada como
qualquer outro projeto artístico: planejamento,
A criação estudos, pesquisas historiográicas, seleção de
dados, ensaios, pesquisa estética e muito mais”
A apresentação, que começou como um além de tudo, ainda contamos com a parceria
desile cênico pela cidade de Barra Mansa, aca - da Brenda Coelho, uma historiadora brilhante”.
bou se tornando uma grande criação do grupo,
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Quem está por trás qualquer território ocupado por seres humanos”.
Segundo Marcelo, Barra Mansa não é um
Luisa Ritter, assessora do coletivo, quan- território que haja uma carência de cultura, mas
do questionada sobre as dificuldades em tra- um lugar que busca uma identidade própria: “O
balhar a imagem do grupo e seus espetáculos, papel de quem atua como dirigente de políticas
afirma “o grupo já tinha um nome quando eu os culturais em 2017 é majoritariamente reconhecer
conheci, meu trabalho foi potencializar sua o conjunto de ciências humanas que constitui o se-
imagem com a tecnologia, prin- tor. O desaio constante do barra-mansense
cipalmente as mídias sociais é a busca de uma identidade para a ci-
que nós temos hoje. E a dade. Em todas as gerações desde a
divulgação é bem efe-
tiva nesse âmbito,
O desafio fundação da cidade, houve quem
buscasse por essa identidade”.
pois nosso princi-
pal público é um
público online”
constante do Ao ser questionado sobre
sua atuação do atual gover-
no, afirma, “Barra Mansa
a
também
assessora

deixa de lado
não barra -mansense é a acabou de criar um sis-
tema municipal de cul-
tura (SMCBM), com a lei
as velhas mí-
dias “também busca de uma identidade 4.602/2016. É um ver-
dadeiro panorama local
divulgamos em sobre o assunto. A cidade
jornais impres-
sos da região
para a cidade determinou as metas para
o setor pelos próximos dez
embora nossa anos (…) Passamos por uma
principal ferra- verdadeira reconstrução do
menta seja mes- setor cultural, com transfor-
mo o Facebook”. - marcelo bravo, Secretá - mações impactantes inclusive
na estrutura administrativa da
A relação com o Poder rio de Cultura. Fundação Cultura Barra Mansa”.
Público A atração é realizada em todos fi-
nais de semana do mês de outubro, o qual
A apresentação não é a única ma- se comemora o aniversário da cidade, e é dividida
nifestação artística da região, mas é um das em várias pontos diferentes de Barra Mansa, desde
poucas que tem grande reconhecimento pela os principais, como a Praça da Preguiça, até pon-
população, ao ser questionado sobre o estímu- tos históricos, como o antigo quartel da região.
lo da cultura na região o secretário de cultu- Quando questionado sobre o motivo do sucesso do
ra de Barra Mansa, Marcelo Bravo, conta: “Não espetáculo, Rafael Crooz, não pensa duas vezes e
é possível falar em carência de cultura em é sucinto em sua resposta “Atribuímos ao amor”.
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"A Operação Cascas é uma


ode ao trabalhador, aos
operários poetas, que cons�
truíram a riqueza deste
país. Este ano é uma denún�
cia. É um grito de liberdade,
um abaixo à censura”.

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Foto: Leonardo Avelino


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O ELEFANTE BRANCO DOS CINEMAS


DE VOLTA REDONDA
Marco histórico e cultural, o Cine 9 de Abril
é mais um dos prédios que habitam de forma
nostálgica a rotina da cidade
É quase que impossível dar um passeio, apres- Não é uma mera homenagem, a relação entre
sado ou preguiçoso que seja pela Vila sem se cinema e siderurgia vai além. Durante a forma-
deparar com o edifício largo e nostálgico que ção da cidade, além das ruas e bairros iniciais,
abriga em sua marquise casais em dias de chu- planejava-se um formato de integração de
va, pessoas que dormem na rua e um carrinho serviços considerados básicos (saúde, educa-
de pipoca. Esse último é o único dos elementos ção, lazer, cultura, etc) com o trabalho diário
cotidianos que faz jus ao propósito do prédio. e o vínculo quase que familiar entre operário e
O cinema ali localizado foi batizado com a data companhia. Baseado nos conceitos de bem es-
de fundação da companhia que praticamente tar social vindos do keynesianismo gringo, jun-
deu signiicado a Volta Redonda. Sim, 9 de Abril to da siderúrgica, a cidade ganhou hospitais,
não é só o nome do bairro cortado pela Dutra escolas, clubes de lazer e uma sala de cinema.
já nos limites da cidade, é também o dia em Dessa forma, o cine representava a integração
que a CSN se fez destino dos que se estabele- de todos os elementos da vivencia do funcioná-- 9 -
ceram no interior do estado. rio, desde o momento de trabalho até o lazer
dos fins de semana. No entanto, essa relação
MAIS QUE UM NOME extrapolou os limites corporativos no
- 10 - NOSTALGIA
No entanto, essa popularidade e alta bilheteria
do cine foram decaindo, sobrando somente a Em frente ao cinema, parei diversos transeuntes
nostalgia da grande sala. Giovanni me explica a para chegar à conclusão: as pessoas vão ao Cine
dificuldade do 9 de Abril em obter os principais 9 de Abril? Entrevistei cerca de 30 pessoas e com
lançamentos nacionais e internacionais. “Pegar a exceção de minha última entrevistada, todas
o filme em período de estréia = cinema cheio” é airmavam que preferiam frequentar o cinema
a lógica, descrita por ele, para determinar se o do shopping. Mas por que? Muitos relacionavam
cine vai ter público. No entanto, a competição à falta de lançamentos constantes e recentes,
com as salas do Sider Shopping, pertencentes evidenciado pelo relato de Giovanni, e alguns
a uma cadeia de salas de cinema, é o principal à estrutura do cine, considerada pelos mesmos,
impeditivo para que o 9 de Abril tenha exclusivi - inferior às salas do shopping. Entretanto uma
dade em seus lançamentos. O único ponto a fa- pessoa me chamou a atenção. Juliane tirava fo-
vor do Cine é o fato, expresso por Giovanni, de tos com seu celular em frente ao prédio do cine.
ele ser um “cinema projetado pra ser cinema”. Perguntei se ela era frequentadora e me respon-
deu dizendo que não morava mais na cidade, po-
rém, sua cerimônia de colação de grau fora no
OS CINES DE RUA
Cine 9 de Abril. Como estava de visita a VR, foto-
grafava pela nostalgia que o lugar lhe causava.
Uma raridade na urbanidade atual, os cine-
mas que ocupam prédios e construções pró-
prias, com bilheteria na calçada e letreiros
estilosos, característicos do início do século
XX, reinavam sozinhos nos fins de semana de
entretenimento familiar e nas soturnas ma-
tinês de meio de semana. Característicos da
cultura cinéila voltarredondense, cines como
o Poeirinha e o 17 de julho eram as opções,
junto com o 9 de Abril dos que ansiavam pe-
las fitas importadas, nacionais e, em alguns
casos, as impróprias para menores de idade.
Quando pergunto aos mais velhos sobre o
destino daquelas salas obscuras, até na me-
mória, os relatos saem seguidos de boas lem-
branças da juventude operária que pegava
ônibus nos fins de semana para ver os filmes.
Giovanni, por outro lado, respondeu a minha
dúvida com mais firmeza histórica. Então, o
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empreendimentos. Faz sentido. Uma vez que
o formato da construção é compatível com a
de um hipermercado desses atacadistas que
vemos por aí. No entanto, através de um re-
curso na justiça, o Cine foi tombado pelo Patri-
mônio Histórico Municipal e Estadual (INEPAC).
Com a febre das compras e reformas dos cines,
o 9 de Abril, considerado a maior sala de rua em
funcionamento da América Latina, hoje é uma
das únicas em funcionamento no estado do Rio.

COMPRAS, FILME E BIG MAC


Mas afinal, pra onde foram os cinemas? Com
a crescente massificação e industrialização da
produção cinematográica, os filmes foram ad -
quirindo grande caráter comercial, demonstra-
do lá nos primeiros Blockbusters de Spilberg. Os
que aconteceram com os saudosos cines de
cinemas acompanharam esse crescimento e as
rua? Simples. Aquele mercado de bugigangas
grandes cadeias de projeção cinematográica
que não custam mais do que dois reais, aquele
distribuíram tanto a ideia quanto suas franquias
perto da prefeitura, pois bem, era um deles.
por todo o país. Dessa forma, os cines foram
Ao fim do século passado, os cines de rua vi-
se integrando ao principal centro de consumo
raram grande atrativo de empresas de super-
das cidades, o shopping center. O aumento das
mercados e igrejas evangélicas. As grandes es-
franquias e da cultura de que filme, só acompa-
truturas e salas espaçosas eram quase que um
nhado de um fast-food e de compras enquanto
galpão aberto para reformas de qualquer tipo.
a sessão não começa, foi o golpe final contra
Giovanni me conta que a maioria dos cines de
os cines de rua, a essa altura, já sucateados.
rua brasileiros passaram por essas reformas
O Cine 9 de Abril, com seu espaçoso cal-
e vendas e os que resistiram, como é o caso
çamento, familiar a qualquer transeunte
do 9 de Abril, foram graças a um grito histó-
e sua história envolvendo políticos, operá-
rico e cultural que o próprio edifício emite.
rios e amantes do cinema, ainda cativa a
Em 1985, o já extinto mercado Casas da Banha
atenção e interesse dos que passam, mes-
se interessou pelo imponente edifício do 9 de
mo que sem entrar para assistir a um filme.
Abril para transformá-lo em mais um de seus
--12
3 --
AMundo NERD
importância podena
da capoeira
ser profissão?
formação
Grupo
de um indivíduo
A cadade
diaCapoeiristas busca de pessoas
aumenta o número
resgatar
que levavalores
o mundoháda29diversão
anos muito a
sério
Se no passado ser nerd era si- Assim como os nerds,
nônimo de exclusão social, os geeks os geeks também são pesso-
estão aí para comprovar que este as viciadas em novas tecno-
conceito icou para trás. No dicioná - logias relacionadas às diver
Fundado
rio em 1988
de inglês pelo José Tadeu
as palavras nerd Carneiro
e geek Cardoso, co- No projeto para sasidosos,áreas
por exemplo, são dadas ativi -
do entretenimento,
nhecido como Mestre Camisa, o grupo Abadá Capoeira dades que visam o fortalecimento corporal e mental,
remetem a pessoas cafonas e fora de como computadores, games, li -
– Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da conhecido como Capoeiridade. Para crianças, além dos
moda, porémé hoje,
Arte-Capoeira, uma das aomaiores
que parece,
organizações de capo- vros,trata
exercícios, a capoeira ilmes
tambéme cultura pop geo
sobre história, em -
esta
eira, com núcleos desenvolvidos em 26ultra
denominação é que está - do Bra-
estados geral. É
graia e outras temáticas comona
comuns seescola.
eles fossem
Sem contares-
passada.
sil e também Danielem
no Distrito da Silva,
Federal, que
além de se a parceriapecialistas
feita com anas
APAE áreas que curtem,
– Associação de Pais
estender pordentro
considera mais 60dessa
países cultura,
pelo mundo.
air - e Amigos
pois dosse Excepcionais
dedicam a– pesquisar
onde oferecem e
ma que ainda existe um certo precon -
Em Barra Mansa, a sede do Aba
" A capoeira
-
atividades para pessoas com
aprender tudo sobre ela. Porém, deiciência
intelectual, com intuito de estimular o
ceito mas issoexiste
vem melhorado
a 20 anos, muito.
eles não são solitários e tidos
dá Capoeira
seguindo A cultura geek
o objetivo deestá
é como um jogo de
usarfortemen
a -
desenvolvimento mental, e deicien -
como antissociais.
tes físicos, promovendo Peloa inclusão.
contrá-
te presente na sociedade atual, apre - rio, a cultura geek tem feito su -
capoeira como
gico, divulgando
sentando-se
esporte pedagó-
e desenvolven-
como
xadrez que trabalha
tendência. Você cesso
Compostae inclusive
de dança,ditado
luta etendên
símbolo-
do a arte.
pode Segundodoo professor
se lembrar com a mente.”
nerd nos anos
Paulo César dos Santos, conheci-
de resistência, a capoeira
cias, com um estilo bem próprio.
nhecida como Patrimônio
Hoje, além do auto co -
foi reco -
Cultural
90 (ou já ouviu falar). Figura aicio -
do como PC, mestre de Capoeira, da Humanidade pela Organização das
nada por tudo
a atividade não temqueidade.
envolvia compu -- PC, Mestre
Crianças,
de Capoeira nhecimento, muitos dedicam --
Nações Unidas para a Educação, a Ci
tadores, tecnologia,
adolescentes, adultos games,
e idosos RPGs
podem e ência-see a em passar
Cultura o conteúdo
(Unesco), para
e, de acordo
icção cientiica, “São
ser beneiciadas. comvários
inteligência
os benefícios: outras pessoas.
com o mestrando Luís Carlos O meioconheci
Rocha, mais-
emelhora
timidezdaacima
capacidade cardiovascular,
da média. Os cha -melhor con - do como Pretinho, comum dessa troca de conheci-
há alguns anos, a igura de mestre
dicionamento físico e mental.
mados nerds eram pessoas muito O corpo es
torna-se
- mais de capoeira sofreu mentoumaéforte desvalorização.
a internet. “Bus -
Sites, canal
forte, mais lexível, disposto, além de reletir dire - camos resgatar a amplitude dos valores de um mes-
tudiosas, que gostavam de icar em no YouTube, redes sociais com o
tamente na autoestima do praticante”, explica ele. tre, valorizando o estudo sobre o esporte, a cultura,
casa lendo, assistindo ilmes ou des - origem, além dos nerd como
toques do público
berimbau,alvo, a cada
incentivando
cobrindo novascondição
Para cada idade, tecnologias, e com
ou limitação é aplicada uma dia vem criando
sempre o desenvolvimento do aluno para formaro seu espaço
um
praticamente nenhuma
metodologia diferente vida social.
para alcançar bons resultados. bom cidadão por e completo”,
aproximando ressaltamais pessoas.
o capoeirista.
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B A N D E I R A símbolo histórico
PRA Ç A D A
que percorre pelos trilhos...

O Brasil, no século XIX, já era um grande exportador de produtos


primários para a Inglaterra, que por sua vez negociava com o resto do mundo.
Crescia a necessidade de melhorar os meios de escoamento da produção
agrícola destinada à exportação. Então, em 1858, foi iniciada a construção da
Estrada de Ferro Dom Pedro II, que também veio atender à demanda de
abastecimento interno das Províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais.
A construção ficou sob a direção do engenheiro Christiano Benedicto
Ottoni. O projeto previa uma via férrea, que atravessasse alguns municípios
próximos a Capital. No dia 29 de março de 1858 foi inaugurado um trecho
inicial com mais de 47 Km, ligando a estação da Corte à Queimados, no Rio de
Janeiro.
Esta ferrovia se constituiu em uma das mais importantes obras da
engenharia ferroviária do país, na ultrapassagem dos 412 metros de altitude da
Serra do Mar: uma obra com cortes colossais, aterros e perfurações de túneis
reconhecido em todo país por sua esplêndida magnitude.

Foto: Arquivo Histórico


Estação na década de 1930, após reforma

Um sonho perambulava em algumas mentes resendenses desde o início


do projeto e se atiçou ainda mais quando os trilhos da ferrovia chegaram à Barra
do Piraí, em 1864. Destaca-se então a figura do alferes Joaquim Antunes, que
era amigo de Christiano Ottoni e compadre de Mariano Procópio, nada menos
que o engenheiro chefe do serviço de locação.
Joaquim Antunes, na certeza de que os trilhos da ferrovia Dom Pedro II
chegariam pela Princesinha do Vale e passariam por Campos Elíseos, tratou de
providenciar sob seu custo, a abertura de uma rua ao longo do traçado da via
férrea. Em seguida, solicitou a Câmara Municipal que desse o nome de seu
compadre Mariano Procópio a essa artéria, o que foi feito.
- 14 -
Em 19 de fevereiro de 1873, passa finalmente, pela ponte do Surubi, a
histórica locomotiva Petrópolis. A ferrovia chegara. Mas a obra ainda estava em
andamento, pois estava sendo construída a ligação com a Estação de Boa Vista, obra
esta que teria seu final no ano de 1874. Ainda nesta data,se fezecessária, em função
da intensidade do tráfego na ferrovia, a criação de uma estação intermediária entre
Resende e Boa Vista. Nasceu a hoje conhecida Praça da Bandeira ou Praça do
Trenzinho.‘‘A história da “Praça do Trenzinho” é bem antiga. Na época, a estação
recebia um grande fluxo de pessoas devido o trem fazer o transporte de pessoas e de
cargas. Era cercada por hotéis, pousadas, bares... Infelizmente, por volta de década
de 1960, nosso tão esperado sonho foi perdendo as forças até chegar em seu estado
atual, sendo utilizado em mais de 70% somente como transporte de cargas, o que
teve como consequência a diminuição do fluxo diário de pessoas na praça –
complementa o historiador Claudionor Rosa.
Desta forma podemos entender que o café, com todo o seu robusto sopro de
progresso, não trouxe ao Vale do Paraíba o verdadeiro desenvolvimento econômico. E
sim, o crescimento enquanto duraram os cafezais, enquanto que a ferrovia, como
legado dessa forte produção agrícola, proporcionou de fato, a integração de Resende
com todo o Vale do Paraíba e também com os mais importantes centros urbanos do
país.
Nesse contexto histórico, a estação ferroviária, localizada no bairro Campos
Elíseos, retrata uma época em que a emoção da chegada e as lágrimas da despedida
corriam sobre trilhos, e não sobre o asfalto ou pelo ar. O prédio, que ainda guarda
suas características arquitetônicas, fica na Praça da Bandeira, onde, ao centro,
repousa uma graciosa “Maria Fumaça”, fabricada em 1911 em Berlim, na Alemanha.
É graças a ela, que dá à paisagem um charme muito especial, que o local é conhecido
como Praça do Trenzinho. ‘‘ Valorizar essa fábrica de histórias é um feito importante;
e sem dúvidas, uma conquista. Quando vemos a praça movimentada, com grande
circulação de gente, com eventos culturais, todos nós, independente se você é novo
ou velho, ficamos muito contentes.’’reforça Rosa.
As novas atividades realizadas hoje no espaço tão marcante para a população
do município, ficou conhecida como Happy Hour do Trenzinho, onde artistas locais
atraem multidões que optam por ouvir música boa e comida de qualidade.
Esquecida pelo tempo, o charme e a história da Praça da Bandeira ficaram
para trás. É possível que a maioria das pessoas não tenha ideia da representatividade
que a praça possuiu um dia. Antes um local tão movimentado foi agonizando até ser
por quase completo abandonado. Hoje, o que resta é apenas uma vaga lembrança do

Foto: Arquivo Histórico


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A luta
nossa
nossa
de

cada
dia
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Foto:Micaela Soares
Resistência. Superação. Resiliência. São essas três
palavras que definem a luta dos negros por um mundo menos
desigual e preconceituoso. Já são 39 anos caracterizados por
um árduo e intenso combate à herança da escravidão. Entre
marchas e encontros de valorização africana e contra o padrão
de beleza difundido, a luta contra o preconceito racial se
desenha e tenta transformar a ótica do brasileiro quando o
assunto é o estereótipo negro.
Em Barra Mansa, no Sul Fluminense, o Projeto Fuzuê é
um exemplo dessa reação que promove a disseminação da
cultura negra. Idealizado pela produtora cultural Bruna
Barcelona, o grupo nasceu em 2013 defendendo uma causa Roda de conversa do projeto aborda assuntos relacionados a cultura negra
nobre: o desenvolvimento da educação por meio da arte e
cultura com o intuito de valorizar, resgatar, empoderar e algumas vezes, disse que o sentimento que fica é de
refletir a identidade da cultura afro-brasileira. esperança e orgulho. “Participar de um projeto como esse é
um combustível para derrubar barreiras que o jovem negro
Através de diversas atividades como feiras,
enfrenta todos os dias’’, contou.
artesanato, oficinas, dança, rodas de conversa, música e
trabalhos com os jovens, o projeto busca fomentar na O grande desafio de cada dia é garantir a
população um verdadeiro “fuzuê”, que para os senhores de representatividade do povo negro e promover uma cultura
engenho era a folia coletiva dos escravos ao praticarem sua de valorização da identidade de cada um. A organizadora do
cultura. projeto reiterou a importância da descendência. “É preciso
saber que a cultura africana está enraizada na nossa nação,
“Vamos reunir pessoas que se movimentam em prol da arte e,
na ação, no cotidiano, nas palavras e no costume. É
através das linguagens artísticas, falaremos sobre
necessário levar para todos os lugares as nossas raízes”,
multiculturalismo. Precisamos fazer que as pessoas não só se
concluiu.
conscientizem, mas que vivam sua identidade cultural!”, disse
Bruna Barcelona sobre o início do projeto. Pensando sempre em transmitir uma mensagem de
resistência, luta e identidade cultural, o Projeto Fuzuê
Para os que já vivenciaram o Projeto Fuzuê fica a
segue firme na busca de uma sociedade nova, usando como
gratidão. Micaela Soares, que já participou do projeto
ferramenta do amanhã a transformação das crianças e
jovens do hoje. Afinal, o futuro da humanidade sem
preconceito rompe os parâmetros de raça, cor de pele e
etnia e se preocupa apenas com a íntegra formação do
caráter.

Foto:Micaela Soares
“Participar de um projeto
como esse é um combustível para
derrubar barreiras que o jovem
negro enfrenta todos os dias’’
Micaela Soares,19

Participantes do projeto posam para foto


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Em busca
de espaço
Artesãs dizem ter dificuldade para
fazer a divulgação de seus trabalhos

Não há quem não admire um trabalho manual bem Cada região possui suas características específicas, com
feito, ainda mais quando você começa a reconhecer cada artistas que deixam seus traços e seu DNA em cada trabalho
matéria-prima utilizada para a realização daquela pequena feito. Utilizando matéria-prima que nós, pessoas comuns, não
obra de arte. E assim, o artesanato sempre esteve conseguimos enxergar nenhuma possibilidade de
impregnado nas raízes humanas, e mais ainda nas brasileiras, transformação para ela.
que é um povo reconhecido pela sua criatividade. O artesanato em Barra Mansa mantém essa natureza.
O artesanato toma forma de acordo com sua origem. Com artesãos que já estão há décadas no ramo e que buscam a
cada dia inovar seus produtos e ganhar mais espaço na cidade.
Utilizando matérias-primas que estão presentes em nosso
cotidiano, os artistas utilizam, inclusive, a reciclagem para
dar forma às suas criações.
Durante muito tempo a cidade teve em seu calendário
semanal a feira de artesanato, que se tornou tradicional.
Foto: André Nunes

Chamada carinhosamente de “feirinha”, o evento contava


com um grande número de expositores. A feirinha já possuía
local certo para acontecer, o Jardim das Preguiças, e toda
semana atraía um grande número de compradores. Com o
tempo, o apoio da prefeitura diminuiu. Passaram a mudar a
feirinha constantemente de lugar e a cobrar taxas para a
exposição.

Tem famílias que só possuem


essa renda do artesanato.
Regina Gomes, 59 anos.
Artesãs expõem seus trabalhos
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Foto: Divulgação
Feira de artesanato realizada na praça da matriz

Desafio dos artesãos

A artesã Regina Gomes, 59 anos, nos conta um pouco Eu vi uma oportunidade de aumentar
da sua experiência. Sua principal fonte de renda sempre foi o minha renda fazendo algo prazeroso.
artesanato, e assim ela pôde criar e pagar os estudos de sua Cintia Delleprane, 50 anos.

filha. Ela se dedica a esse trabalho há mais de 40 anos e foi


inspirada por sua tia e sua mãe. Feiras independentes
Quando questionada sobre a valorização do
artesanato em Barra Mansa, ela nos conta: “Muito Devido às feiras públicas estarem escassas e cobrando
desvalorizado, mesmo sendo um artesanato bom. As pessoas altas taxas, a artesã Cíntia Delleprane, 50 anos, buscou uma
acham que é brincadeira, mas tem famílias que só possuem alternativa diferente. Ela monta uma feira própria itinerante.
essa renda”. E enfatiza que em cidades turísticas, é possível Composta por somente sua barraca, ela tem a flexibilidade de
obter muito mais retorno financeiro com essas artes. se deslocar para onde quiser e buscar os compradores de cada
Para Regina, o artesanato não oferece renda apenas bairro.
com a venda. Ela também é professora e, atualmente, ensina Cíntia trabalha com artesanato há 20 anos e disse que
para cerca de 60 alunos como desenvolverem suas próprias viu na arte uma forma de aumentar sua renda familiar. “Foi em
artes. Uma de suas alunas é Vera Nascimento, 45 anos, que um momento que eu estava apertada e me apresentaram o
aprende com Regina há três anos no bairro Boa Vista, em artesanato. Eu gostei de fazer e ao mesmo tempo eu vi uma
Barra Mansa. Ela disse que se interessou pelo artesanato oportunidade de aumentar meu faturamento fazendo algo
vendo programas do tema na TV e quando descobriu que o prazeroso”, conta a artista, que divide seu tempo entre o
curso estava abrindo vagas, logo se interessou. artesanato e sua vida de professora na creche do bairro.
Vera destaca: “O curso aqui é muito bom. É diferente
da TV. Aqui nós trabalhamos com material reciclável, com
matéria-prima que está nas nossas mãos todos os dias e
normalmente são descartadas”. A aluna já conseguiu
aumentar sua renda com a venda e disse que pretende
começar a vender na internet.
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Feira Livre

Foto: Felipe Moura

Feira realizada no bairro Ano Bom, em Barra Mansa (RJ)

Uma cultura que está enraizada no conhecido por todos. Os movimentos de


sangue do brasileiro. Em uma feira livre feira livre são conhecidos em pequenas e
encontramos de tudo: variedades de grandes cidades, levando ao consumidor
produtos de horti-frutti, vendedores uma opção de lazer e compra ao mesmo
ambulantes, brinquedos infantis, roupas tempo. A diferença de uma feira livre
e não podemos deixar de lado o famoso diante do comercio tradicional é o vínculo
pastelzinho com caldo de cana, tão na relação comerciante-consumidor.
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Foto: Felipe Moura


A MANSA

No município de Barra Mansa, sul do Estado do Rio de


Janeiro, há mais de 50 anos, é uma tradição nas ruas que não
pode faltar. De terça a domingo, os organizadores da feira se
reúnem em um bairro diferente da cidade.
Conversamos com o vendedor Adir Pedro de Moura,
de 64 anos, mais conhecido como “Careca” entre os amigos Ir à feira já virou parte do cotidiano da população
feirantes. De acordo com seu relato, ele ajudou a fazer a
primeira feira livre na cidade de Barra Mansa. Adir Pedro, nos
ajuda do seu genro, abriu novas lojas levando o nome
conta que montou sua barraca e começou a vender produtos
originário de “Casa do Pastel”. Apesar da feira ainda ser uma
de horti-frutti que ele mesmo plantava com ajuda dos pais,
grande tradição e fazer parte da cultura do povo brasileiro, a
aos 8 anos de idade. Ainda retratando um pouco da sua
consumidora Rosangela Dias de 49 anos, que frequenta feira há
história no movimento de feira livre, Adir disse que as feiras
35 anos, acredita que atualmente o movimento está fraco em
já tiveram melhores momentos. Ele acredita que a atual
comparação há anos anteriores. Ela comenta que o costume
recaída se deve ao fator de desemprego do consumidor que
das famílias irem as feiras aos finais de semana está caindo. “A
tem feito com que as vendas também caíssem,
tradição de levar os filhos e netos a feira está acabando”,
consequentemente. Apesar da recessão, o feirante falou que
disse.
a tradição deve e tem que continuar. Domingos Sálvio
Ferreira, de 61 anos, também é feirante e contou que Mesmo com os altos e baixos da economia e os novos
começou nesse ramo nos anos 80 e está há 35 anos exercendo tempos de facilidade de compra com auxílio da internet, a
sua atividade. “Fiz minha primeira feira no dia 22 de março
feira livre é um costume milenar. Ir a feira para uns ou fazer
de 1982, caiu na quarta-feira, lá no Jardim da Preguiça.
Nesse dia montei toda a estrutura e vendi só um pastelzinho feira para outros, o importante é não deixar um tradicional
e um café”, lembrou. O ex-caminhoneiro e atual vendedor evento acabar. Não se trata apenas de fazer compras, mas sim
de pasteis na feira de Barra Mansa, Domingos, se orgulha da uma prática sadia para a sociialização.
profissão e tem muito a comemora. Com muito esforço e
trabalho conseguiu já formar uma filha em medicina e, com
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Galeria de Arte Clécio Penedo:


conhecendo o desconhecido
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O município de Barra Mansa, com mais de 180 mil habitantes, sente falta de um espaço que supra suas
necessidades culturais. Se depender do poder público, o barramansense não terá acesso a sua própria
história, quem dirá do Brasil e do mundo. Porém, há lugares desconhecidos pelo povo onde são oferecidas
exposições regulares de cunho cultural, bastante relevante. É o caso da Galeria de Artes Clécio Penedo,
situada no campus UBM, no centro de Barra Mansa.
Por ser carente e não acostumada a possuir lugares como esse, a população se surpreende ao
descobrir um espaço dedicado à exposições culturais na universidade. A artesã Maria do Rosário, moradora da
cidade se espantou ao ser informada da existência da “Clécio Penedo”.
- Eu, como artesã e expositora da minha arte, não sabia que existia um espaço como esse na nossa
cidade. Acho que os nossos governantes poderiam fazer um convênio com o UBM, para colocar os artistas
da cidade para expor lá. Isso ajudaria na nossa visibilidade e estimularia outros a fazerem arte, pois
estariam expondo em um local bacana.
Criada em 1995 pelo Núcleo de Difusão Cultural do Centro Universitário de Barra Mansa, a galeria já
abrigou mostras de relevância em suas dependências. A exposição "Viva O Povo Brasileiro", que comemorou os
80 anos que Clécio Penedo, inspiração para nomear o espaço, foi um grande sucesso. A mostra trouxe obras
originais da série “Baralho Imperial”, expostas pela primeira vez depois da morte de Clécio, em 2004. Criadas
em 1987, por encomenda da Fundação Nacional Pró-Memória, a coleção tem de maneira irônica, no lugar de
rei, valete, dama, as figuras que "davam as cartas" de verdade durante o Primeiro e Segundo Reinados. A

Foto: Divulgação
Clécio Penedo em seu arquivo

exposição apresenta, entre outras obras, os originais em óleo sobre eucatex da série “Baralho Imperial”,
acervo do Museu Imperial. São revelados ainda os estudos inéditos que levaram o artista a cada obra. A
exposição teve destaque na imprensa nacional.

Clécio Penedo, a inspiração


Clécio Penedo nasceu em 1936, em Bom Jardim (MG), mas residia em Barra Mansa. Frequentou a Escola
Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, na década de 1950, e produziu diversas séries. Suas obras compõem
o acervo de grandes museus, além de já terem sido expostas no Japão e na Alemanha.
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Futebol

da cultura à paixão
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O peso cultural do futebol no país influencia todas as
gerações. De avô para pai e de pai para filho, grande parte da
população está inserida no universo do esporte mais popular e “Meu sonho sempre foi ser
que mais mexe com a paixão do povo brasileiro. O domingo à
tarde torna-se tradicionalmente um momento único no qual jogador de futebol, mas quando
familiares e amigos se reúnem em frente a TV para torcer pelo
time do coração ou somente apreciar uma boa partida de
comecei eu não imaginava chegar em
futebol. tão alto nível assim...’’
Indo além da função de entreter, desde criança o Marcelo da Conceição Benevenuto, 21.
brasileirinho vê no futebol uma possibilidade de obter sucesso
financeiro e profissional, muitas vezes sendo a esperança de
famílias carentes e de classe média baixa. O sonho,
geralmente, é perseguido até depois da maioridade.
Todas as fichas são apostadas em uma chance de Ainda tímido e se adaptando a grande mudança no
mostrar seu talento na expectativa de ser descoberto por estilo de vida, o zagueiro fala sobre seus primeiros passos
olheiros que garimpam campos de várzea e lugares de menor no esporte: “Meu sonho sempre foi ser jogador de futebol,
expressão onde o futebol é praticado. mas quando comecei eu não imaginava chegar em tão alto
Em alguns casos, a persistência é recompensada. nível assim. Com 12 anos comecei a jogar em
Jovens descobertos recebem a tão sonhada oportunidade em campeonatos de bairro’’.
grandes clubes de expressão e acabam mudando de vida, Assim como muitos jogadores, Marcelo também
conquistando a condição de poder fazer o bem para seus teve sua chance bem novo. “Logo depois me pediram para
familiares e amigos de sua terra natal. fazer um teste no Resende e eu fui só para poder jogar
A figura bem sucedida de atletas em comunidades em um campo melhor. Mas quando passei no teste as
carentes acaba se transformando em referência e esperança coisas foram ficando sérias e tudo fluiu para mim.”. O
de que, a qualquer momento, outro membro daquele grupo jovem jogador tem na bagagem o título do campeonato
possa alcançar seu lugar ao sol. Foi o que aconteceu com brasileiro sub-20 de 2016 pelo Botafogo, somando 6 gols e
Marcelo da Conceição Benevenuto Malaquias, 21. sendo artilheiro na mesma temporada.
Natural do bairro Vila Vicentina em Resende-RJ,
Marcelo possui no currículo a única função de ajudante de
pedreiro antes de se tornar jogador de futebol. Com passagens
pela categoria da base do Resende e do Fluminense, o zagueiro
foi comprado pelo Botafogo em 2016 e desponta hoje como
umas das maiores joias do elenco alvinegro carioca.

Marcelo faz parte do elenco do alvinegro caricoca


- 25 - O impacto causado no bairro vai além. Crianças e
Marcelo não deixa de lado suas raízes. Nas folgas
entre jogos, treinamentos e o longo calendário do futebol pais passaram a tratar o esporte com mais seriedade e
brasileiro não perde a oportunidade de visitar a família e todos dedicação, tendo em vista o caso recente de Marcelo. A
os amigos que ainda moram em seu bairro. Envolvido em mudança afeta também na perspectiva de uma vida melhor
causas e projetos sociais, o jovem é visto como um bom em toda a comunidade, reforçando valores positivos que
exemplo para as gerações futuras da Vila Vicentina. melhoram a qualidade de vida e trazem mais cidadania aos
O sucesso do zagueiro é responsável por mudanças moradores.
positivas no lugar de onde saiu. Seu pai, Marco Aurélio
Benevenuto Malaquias, 41, conta como a ascensão do jogador
mudou a sua vida; “O sucesso do Marcelo já está refletindo
aqui. Graças a ele eu parei de beber, parei de viver no bar.
Mudou a família inteira, desde os amigos até os pais dele”. ‘‘Através do Marcelo
Marco Aurélio ainda conta um caso curioso que retrata
a mudança na vida do filho: “Ele trabalhava de ajudante de as pessoas podem
pedreiro até meio dia e ia treinar no Resende às 14h00, e agora
o Marcelo pagou o mesmo pedreiro com quem trabalhou para saber que daqui pode
fazer a minha casa”; contou o pai, completando:“Bonito isso,
né?!”. sair o futuro.’’
As crianças da Vicentina passaram a ter uma espécie Jane Alves, 35.
de herói. Entre aquelas que sonham em ser jogadores de
futebol, Marcelo passou a ser exemplo de comportamento.
Sempre que tem a oportunidade o jovem jogador comparece a
eventos promovidos pela associação de moradores do bairro e Os sentimentos de orgulho e de representação
toma a palavra para levar mensagens de a g r a d e c i m e n t o e também são boas novidades proporcionadas pela história do
incentivo. jogador, como garante Jane Alves, 35, moradora do bairro:
Questionado sobre a importância do futebol para a “Através do Marcelo as pessoas podem saber que daqui pode
comunidade ele afirma: “Tem uma importância tremenda sair o futuro. Que não é só porque é de comunidade que tem
porque livra as crianças do tráfico, da criminalidade. Você que ser traficante, se envolver com drogas ou coisas do
aprende várias coisas, como disciplina, compromisso, tipo”. E completa “O caso dele mostra que pode-se fazer
comprometimento com o seu trabalho e é um esporte diferença. Nós somos a diferença”.
valorizado, muda a vida das pessoas.”    Assim como Marcelo sonhou quando criança, no
Brasil, ou até no mundo todo, há crianças que crescem
ouvindo e vivendo o futebol como cultura e ainda sonham
em poder mudar suas vidas através dessa paixão mundial.
Foto: Arquivo Pessoal

Evento realizado na comunidade patrocinado por Marcelo Zagueiro em treino Foto: Arquivo Pessoal
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