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Segurança nas Vibrações sobre

o Corpo Humano

Prof. Dr. João Candido


Fernandes

2000
1. - O QUE É VIBRAÇÃO?
Um corpo é dito em vibração quando ele descreve um movimento oscilatório em torno de
um ponto de referência. O número de vezes de um ciclo completo de um movimento durante um
período de um segundo é chamado de freqüência e é medido em Hertz [Hz].
O movimento pode consistir de um simples componente ocorrendo em uma única
freqüência, como um diapasão, ou muitos componentes ocorrendo em diferentes freqüências
simultaneamente, como por exemplo, com o movimento de um pistão de um motor de combustão
interna (Figura 1).

Figura 1 – Freqüências fundamentais e harmônicos.

Na prática, os sinais de vibração consistem em muitas freqüências ocorrendo


simultaneamente, dificultando a observação em um gráfico amplitude X tempo. Esses
componentes podem ser visualizados plotando a amplitude da vibração X freqüência. O mais
importante dos sinais de vibração é o estudo dos componentes individuais da freqüência que é
chamado de análise de freqüência, uma técnica que pode ser considerada a principal ferramenta
de trabalho nos diagnósticos de medida de vibração.
O gráfico mostrando o nível de vibração em função da freqüência é chamado de
espectrograma de freqüência. Quando analisamos a vibração de uma máquina, nós encontramos
um grande número de componentes periódicos de freqüência que são diretamente relacionados
com os movimentos fundamentais de várias partes da máquina. Com a análise de freqüência, é
possível descobrir as fontes de vibração na máquina.

2. - QUANTIFICANDO O NÍVEL DE VIBRAÇÃO.


A amplitude da vibração, que caracteriza e descreve a severidade da vibração, pode ser
classificada de várias formas. A figura 2 mostra a relação entre o nível pico-a-pico, nível de pico,
nível médio e nível RMS de um sinal senoidal.

Figura 2 – Representação da intensidade da vibração.

O valor pico-a-pico indica a máxima amplitude da onda e é usado, por exemplo, onde o
deslocamento vibratório da máquina é parte crítica na tensão máxima de elementos de máquina.
O valor de pico é particularmente usado na indicação de níveis de impacto de curta
duração.
O valor médio, por outro lado, é usado quando se quer se levar em conta um valor da
quantidade física da amplitude em um determinado tempo.
O valor RMS é a mais importante medida da amplitude porque ele mostra a média da
energia contida no movimento vibratório. Portanto, mostra o potencial destrutivo da vibração.
O parâmetros de vibração devem ser medidos em unidades métricas de acordo com a norma
ISO, conforme a tabela 1.

Tabela 1 – Unidades do SI usadas em vibração.


Unidades de vibração (ISO 1000)
Deslocamento m, mm, m
Velocidade m/s, mm/s (ou m.s-1, mm.s-1)
Aceleração m/s2 (ou m.s-2)  1g = 9,81 m/s2

A constante gravitacional g também pode ser usada nos níveis de aceleração, tomado como
9,81 m2/s.

3. - EQUIPAMENTO DE MEDIDA
O transdutor universalmente usado na captação de uma vibração é o acelerômetro
piezoelétrico, que se caracteriza por ter uma banda dinâmica maior, com boa linearidade.
Acrescente-se que os acelerômetros piezoelétricos são altos geradores de sinal, não necessitando
de fonte de potência. Além disso, não possuem partes móveis e geram um sinal proporcional à
aceleração, que pode ser integrado, obtendo-se a velocidade e o deslocamento do sinal.
A essência de um acelerômetro piezoelétrico é o material piezoelétrico, usualmente uma
cerâmica ferro-elétrica artificialmente polarizada. Quando ela é mecanicamente tensionada,
proporcionalmente à força aplicada, gera uma carga elétrica que polariza suas faces (Figura 3).
Figura 3 - Acelerômetro piezoelétrico.

Os acelerômetros possuem uma faixa dinâmica útil, abaixo da sua freqüência de


ressonância (Figura 4).

Figura 4 – Faixa útil de um acelerômetro piezoelétrico.

Nas medições de vibrações, há necessidade de se escolher o acelerômetro correto para cada


freqüência a ser medida. Na medição da vibração é necessário usar-se um medidor de vibração
conectado ao acelerômetro (Figura 5). Esse medidor contém um pré-amplificador, que indica o
nível RMS da aceleração ou velocidade ou deslocamento. Também pode ser usado um medidor
portátil de vibração.

4. - ESCALAS DE MEDIDA
Escalas logarítmicas são usadas para plotar as amplitudes de vibração. Também é usada a
escala decibel (dB) para comparar níveis. O decibel (dB) é a relação de um nível qualquer em
relação ao nível de referência.
Os níveis em dB são dados por:
 a 
N(dB)  20 log10  
a 
 ref 

onde a é o nível de vibração a ser medido, aref é o nível de referência e N é o valor em decibels.

Os níveis de referência em decibel são fixados pela norma ISO R 1683:


 Nível de aceleração – aref = 10-6 m/s2
 Nível de velocidade – aref = 10-9 m/s

Figura 5 – Equipamentos de medição da vibração.


5. - EXPOSIÇÃO DO CORPO HUMANO À VIBRAÇÃO
O corpo humano é um sistema (física e biologicamente) extremamente complexo. Quando
estudado como um sistema mecânico, contém um grande número de ‘elementos’ lineares e não
lineares com propriedades mecânicas diferentes de pessoa para pessoa.
Biologicamente a situação é mais complexa, especialmente quando efeitos psicológicos são
incluídos. Em consideração à resposta do homem para vibrações e choques é necessário levar em
conta, porém, efeitos mecânicos e psicológicos. Os conhecimentos sobre conforto, fadiga e
diminuição da eficiência, são baseados em dados estatísticos coletados na prática e em condições
experimentais. Em função da dificuldade em realizar ensaios experimentais com seres humanos,
do tempo consumido e por problemas éticos, muitos conhecimentos sobre efeitos danosos são
obtidos em experimentos com animais. Assim, não é sempre possível obter uma escala de
resultados em experimentos com animais correlacionada com o homem, mas apenas informações
aproximadas. Considerando o corpo humano como um sistema mecânico, pode-se (a baixas
freqüências e baixos níveis de vibração) obter aproximadamente um sistema de parâmetros como
o mostrado na Figura 6.
Uma das mais importantes partes desse sistema diz respeito ao efeito da vibração e choque
do sistema tórax-abdomen. Isso é devido a um efeito distinto de ressonância que ocorre na faixa
entre 3 e 6 Hertz que produz uma maior amplitude no movimento para pessoas sentadas ou em
pé.
Outro efeito de ressonância é encontrado entre 20 e 30 Hz, que é causada pela ressonância
do sistema cabeça-pescoço-ombro. Também na região de 60 a 90 Hz são sentidos distúrbios pela
ressonância do globo ocular. O mesmo efeito é sentido no sistema crânio-maxila, que acontece
entre 100 e 200 Hz. Acima de 100 Hz as partes do corpo absorvem a vibração, não ocorrendo
ressonâncias, como mostrado na Figura 7.
Figura 6 – Modelagem mecânica do corpo humano.
Figura 7 – Principais ressonâncias do corpo humano à vibrações.

Tabela 2 – Principais sintomas relacionados com a freqüência da vibração


SINTOMAS FREQÜÊNCIA
Sensação geral de desconforto 4-9
Sintomas na cabeça 13-20
Maxilar 6-8
Influência na linguagem 13-20
Garganta 12-19
Dor no peito 5-7
Dor abdominal 4-10
Desejo de urinar 10-18
Aumento do tonus muscular 13-20
Influência nos movimentos respiratórios 4-8
Contrações musculares 4-9
6. - EFEITOS DA VIBRAÇÃO
Os efeitos da vibração são complexos e difíceis de medir, sendo obtidos por experimentos
com animais e aplicados ao homem como extensão.

6.1. – VIBRAÇÃO TRANSMITIDA AO CORPO TODO

Esses elementos podem sofrer variações em função da alimentação, massa muscular, sexo,
estatura, bem como doenças. Os efeitos psicológicos como a percepção, desconforto e dor, têm
sido estudados em mais detalhes. Muitos desses estudos têm sido realizados com motoristas,
pilotos, onde sua habilidade é testada em trabalhos complexos, em condições adversas.
A maioria dos testes foi feita com as pessoas sentadas ou em pé. Estes resultados foram
usados na criação da norma ISO 2631, que estabelece critérios para vibração sobre o corpo
humano na faixa de freqüência de 1 a 80 Hz. Na faixa de freqüência abaixo de 1 Hz ocorrem
outros efeitos que são completamente diferentes dos produzidos em freqüências maiores. Esses
efeitos não podem ser simplesmente relatados através dos três parâmetros (intensidade, duração e
freqüência) como é relatado na faixa de 1 a 80 Hz. As reações abaixo de 1 Hz são extremamente
variáveis, dependendo de um grande número de fatores externos não relacionados com a vibração
(idade, sexo, visão, atividade, odor).
Acima de 80 Hz as sensações e efeitos são muito dependentes do local do ponto de
aplicação, da direção e da posição e área em que a vibração é transmitida, e do amortecimento do
ponto. Esses fatores externos influenciam grandemente a resposta da pele e dos tecidos
superficiais afetados por freqüências acima de 80 Hz.

6.2. - VIBRAÇÃO TRANSMITIDA À MÃO

A vibração transmitida ao sistema mão-braço é o segundo grande problema na área de


transmissão de vibração sobre o corpo humano, diferentemente da vibração sobre o corpo todo,
pelo tipo de problemas que apresenta. Ao passo que a vibração transmitida ao corpo de pé ou
sentado aumentam problemas de natureza geral, por exemplo, desconforto, náusea, redução da
eficiência no trabalho etc., a vibração aplicada na mão pode, em adição, produzir danos físicos
localizados para níveis de exposição suficientemente altos. Os níveis de vibração encontrados em
muitas ferramentas manuais comuns são suficientemente altos para causar danos quando
operados por longos períodos. Típicas ferramentas são os martelos pneumáticos, britadeiras,
furadeiras de impacto, motoserras, amplamente usadas em mineração, construção, indústrias e
empresas florestais. A vibração pode ser transmitida para o corpo através de uma ou duas mãos
encostadas em uma ferramenta vibratória. Para baixos níveis de vibração haverá desconforto e
redução da eficiência do trabalho. Para altos níveis e longos períodos de exposição, ocorrem
doenças que afetam os vasos sangüíneos, juntas e circulação.
Exposições severas levam a uma desordem progressiva da circulação, em que parte do
corpo – usualmente os dedos da mão, quando a mão está presa em uma ferramenta – sofre um
altíssimo nível de vibração. Esse tipo de alteração é encontrada na literatura como “mão morta”
ou “doença do dedo branco” ou doença de Raynaud. Em casos extremos pode haver danos
permanentes ou gangrena. Essas doenças e suas causas são constantemente estudadas por
pesquisadores médicos e engenheiros.
A norma ISO 5349 avalia e mede o risco da exposição de vibração sobre a mão,
cobrindo uma faixa de freqüência de 8 Hz a 1 kHz. Através de curvas de exposição para
bandas de 1/3 de oitava, pode-se encontrar os limites de níveis de vibração na mão quando esta
está presa a uma ferramenta. Muito dos dados usados advém de curvas obtidas em experimentos
onde se usavam uma excitação vibratória utilizando sinais senoidais ou de banda estreita de
freqüência. Estes dados podem ser provisoriamente aplicados a outros tipos de experimentos que
utilizem uma excitação vibratória não senoidal ou em situações em que o tipo de sinal não pode
ser determinado com exatidão.
A figura 8 mostra as freqüências em que ocorrem perturbações fisiológicas no organismo.

Figura 8 – Principais incômodos da vibração ao organismo.

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