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Farmácia
ISSN 1980-1769
RESUMO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) acomete mais de 50% dos indivíduos na faixa
etária de 55 anos ou mais de idade. Estes pacientes merecem atenção especial pela possibi-
lidade de interação medicamentosa já que, muitas vezes, fazem uso de associações de me-
dicamentos. Problemas relacionados a medicamentos, como interações medicamentosas,
podem repercutir negativamente na saúde do paciente, provenientes do não alcance do
objetivo terapêutico desejado ou o aparecimento de efeitos indesejáveis. Através de uma
revisão de literatura, o objetivo deste trabalho foi identificar interações medicamentosas
que ofereçam riscos à saúde de pacientes hipertensos, bem como a importância dos cuida-
dos farmacêuticos a fim de evitá-las. Os medicamentos anti-hipertensivos podem interagir
com várias drogas, ou mesmo com alimentos, sendo que algumas interações oferecem ris-
cos potenciais ao paciente. O farmacêutico capacitado é o profissional mais indicado para
realizar a identificação e a monitorização de possíveis interações medicamentosas, eviden-
ciando a necessidade deste profissional na orientação quanto ao uso dos medicamentos.
PALAVRAS-CHAVE
Cadernos de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde | Aracaju | v. 13 | n.14 | p. 69-81 | jul./dez. 2011
70 | ABSTRACT
Hypertension (HAS) affects more than 50% of individuals aged 55 years or older. The-
se patients deserve special attention concerning the possibility of drug interactions as they
often make use of combinations of antihypertensive drugs. Drug-related problems such as
drug interactions may adversely affect the health of the patient, not from the range of the
desired therapeutic goal or undesirable effects. The aim of this work was to identify drug
interactions that cause risks to the health of patients with hypertension, as well as the im-
portance of pharmaceutical care to avoid them through a literature review. The antihyper-
tensive drugs can interact with various drugs, and some interactions offer potential risks to
the patient. The pharmacist is the most qualified person to perform the identification and
monitoring of potential drug interactions, highlighting the need of this professional in ad-
vising the use of drugs.
KEYWORDS
1 INTRODUÇÃO
Segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por In-
quérito Telefônico (VIGITEL), a proporção de brasileiros com diagnóstico médico prévio de
hipertensão arterial alcançou 23,3% em 2010, sendo ligeiramente maior em mulheres (25,5%)
do que em homens (20,7%). Em ambos os gêneros, o diagnóstico de hipertensão arterial se
torna mais comum com a idade, alcançando cerca de 8% dos indivíduos entre os 18 e os 24
anos de idade e mais de 50% na faixa etária de 55 anos ou mais de idade (BRASIL, 2011).
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eliminação, podendo induzir a modificações na sua concentração plasmática, ou na liga- | 71
ção ao receptor farmacológico, induzindo, dessa maneira, aumento ou redução da ativida-
de farmacológica de um dos medicamentos. Desta forma, os mecanismos envolvidos no
processo interativo são classificados de acordo com o tipo predominante de fase farmaco-
lógica em que ocorrem: farmacêutica, farmacocinética e farmacodinâmica (SECOLI, 2001;
MIYASAKA ; ATALLAH, 2003).
2 JUSTIFICATIVA
A maioria dos pacientes hipertensos é usuário da polifarmácia. Medeiros et al. (2009)
apontaram que a média de consumo de medicamentos em pacientes idosos, faixa etária
em que se encontra a maioria dos hipertensos, foi 4,5 medicamentos. Um estudo realizado
no município de Ijuí/RS por Bueno et al. (2009) demonstrou uma utilização média de 5,2
medicamentos, observando-se 4 interações medicamentosas por idoso.
3 OBJETIVOS
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72 | • Caracterizar o papel do farmacêutico na prevenção de interações medicamento-
sas em pacientes hipertensos.
4 METODOLOGIA
Nesta revisão de literatura, a busca ativa de informações foi executada utilizando os
seguintes descritores: “interações medicamentosas”, “drug interaction”, “hipertensão arte-
rial”, “hypertension”, “farmacêutico”, “pharmacist”, “atenção farmacêutica”, “pharmaceutical
care”, “automedicação”, “inibidores da ECA”, “ACE inhibitors”, “diuréticos”, “diuretics”, “beta-
bloqueadores”, “betablokers”, “captopril”, “hidroclorotiazida”, “hydrochlorothiazide” e “propra-
nolol”. As informações extraídas foram avaliadas quanto à relevância, atualização, citações
e adequação técnica. Os critérios de inclusão foram estudos originais, livros e dissertações
cujas publicações se deram entre os anos 2000 e 2011, nos idiomas espanhol, português ou
inglês. No estudo foram excluídas cartas ao editor e publicações em congressos.
5 REVISÃO DE LITERATURA
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muitos desses fármacos interfere na síntese de PGs constitutivas (COX-1) e efeitos home- | 73
ostáticos. Destarte, os AINES podem diminuir a ação dos anti-hipertensivos, pois inibem a
síntese de PGs renais de modo que todos os fármacos do largo espectro dos AINEs somen-
te devem ser prescritos após consideração do balanço risco/benefício (BATLOUNI, 2010;
BURKE et al., 2010).
De acordo com Fortes e Nigro (2005), todos os AINEs podem antagonizar parcial ou
totalmente os efeitos de muitos agentes anti-hipertensivos. Dessa forma, podem aumentar
a morbidade relacionada à hipertensão arterial. O efeito na pressão arterial pode levar a
crises hipertensivas.
Silva Júnior et al. (2008) encontraram a interação entre dipirona e o captopril como a
mais prevalente entre AINEs e anti-hipertensivos, já que estes fármacos são os mais prescri-
tos de suas respectivas classes. O diclofenaco foi considerado o segundo AINE com maior
risco de desenvolver eventos cardiovasculares em pacientes hipertensos, devido, principal-
mente, ao aumento da pressão arterial.
O ácido acetilsalicílico (AAS), usado pela maioria dos pacientes em baixas doses (80
a 200 mg) para prevenção de acidentes cardiovasculares, é relacionado ao aumento dos
níveis pressóricos quando em uso crônico, sobretudo no paciente idoso (SILVA JÚNIOR et
al., 2008; CODAGNONE NETO et al., 2010).
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74 | mente, essa co-administração tem provocado arritmias e mortes (NOVAES ; GOMES, 2006;
LIMA et al., 2008; RANG et al., 2008).
Vários estudos apontam a interação entre o captopril e a furosemida como uma das
mais frequentes em hipertensos (FERREIRA SOBRINHO; NASCIMENTO, 2006; VERONEZ ;
SIMÕES, 2008).
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5.2.8 Hidroclorotiazida/furosemida e digoxina | 75
Todos os diuréticos que agem antes da porção final do túbulo contorcido distal, como
os de alça e os tiazídicos, promovem aumento da excreção de K+. A perda urinária desse
íon é maior com os tiazídicos, devido à sua ação mais prolongada, dificultando a atuação
intermitente dos mecanismos de retenção de potássio (BATLOUNI, 2009).
Esta interação eleva os níveis de glicose sanguínea por atuação direta da hidroclo-
rotiazida no bloqueio de secreção de insulina e na produção hepática de glicose, na qual
os betabloqueadores inibem de forma indireta a captação tissular da glicose sanguínea,
causando um alto risco de crise hiperglicêmica, principalmente em pacientes diabéticos
(ESPÓSITO ; VILAS-BOAS, 2001, apud VERONEZ ; SIMÕES, 2008).
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76 | as subfamílias CYP3A e CYP2C, que representam mais de 80% das isoenzimas da CYP450.
Portanto, a rifampicina pode aumentar o metabolismo de fármacos que são metabolizados
de forma parcial ou total pelo CYP450, quando administrados de maneira concomitante.
Além disso, a rifampicina também induz a UDP-glicuroniltransferase, outra enzima impli-
cada no metabolismo de diversos medicamentos que podem ter seus níveis plasmáticos
reduzidos quando administrados em conjunto (BACIEWICZ et al., 2008, NIEMI et al., 2003,
apud ARBEX et al., 2010)
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ser utilizado com segurança na disfunção ventricular esquerda grave. Pode ainda, segun- | 77
do alguns trabalhos, reduzir a mortalidade cardíaca pós-enfarte do miocárdio (VAUGHAN
WILLIAMS, 1984, JULIAN et al., 1997, SINGH et al., 1995, CEREMUZYNSKKI et al., 2000 apud
CAMPOS, 2004).
6 OS CUIDADOS FARMACÊUTICOS
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78 | dos fármacos, e o paciente manifesta reação como se a dose tivesse ultrapassado sua dose
máxima segura (MACHUCA et al., 2004; VICTORIO et al., 2008).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
SOBRE O TRABALHO
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