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Você sabe ler?

por Reinaldo Polito

É só aparecer alguém com um bloco de papel na mão para que a platéia comece a se
entediar. Não! Dê uma olhada no calhamaço que ele está trazendo para leitura. Do
”Senhoras e Senhores” até o “Muito Obrigado” vai ser uma longa viagem. De maneira geral,
a leitura é vista como uma das atividades mais chatas da comunicação, perdendo apenas
para a fala decorada.
As pessoas não sabem ler em público por dois motivos essenciais: Primeiro, porque
tiveram poucas oportunidades de praticar essa atividade. Quando pergunto em sala de aula
quantas pessoas durante a vida toda leram mais de três vezes diante de um grupo, menos
de cinco se manifestam. Depois, porque além de, normalmente, não existir a experiência da
leitura em público, quando as pessoas lêem apresentam-se sem nenhum critério técnico.
Portanto, para aprender a ler bem em público é preciso seguir algumas regrinhas muito
simples e praticar bastante.
Um conselho - não deixe para se aprimorar na leitura em público apenas quando tiver
necessidade, pois, dependendo da circunstância, talvez não haja tempo suficiente para você
se preparar de forma conveniente.
Olhe para os ouvintes -- algumas pessoas se esquecem de que a mensagem deve ser
transmitida para os ouvintes e permanecem o tempo todo olhando para o texto, como se
estivessem conversando com o papel. Durante as pausas prolongadas e nos finais de frases,
olhe para os ouvintes e demonstre com essa atitude que as informações estão sendo
transmitidas para eles. Cuidado também para não olhar sempre para as mesmas pessoas.
Distribua a comunicação visual olhando ora para um lado, ora para outro. Assim, todos
se sentirão incluídos no ambiente. Para não se perder na leitura enquanto olha para os
ouvintes, aqui vai uma boa dica: Marque a linha de leitura com o dedo polegar, pois ao voltar
para o texto saberá exatamente onde parou.
Segure o papel na altura correta -- se você deixar o papel muito baixo, terá dificuldade
para enxergar o texto. Se, entretanto, deixar muito alto, esconderá seu semblante da platéia.
Por isso, procure deixar a folha na parte superior do peito, para ler com mais facilidade e não
se esconder do público. Considere também que, se o papel estiver muito baixo, você terá
que abaixar muito a cabeça para ler e levará muito tempo para retornar, olhar e ver as
pessoas.
Deixando a folha na parte superior do peito, bastará tirar os olhos do texto e já estará
mantendo a comunicação visual com os ouvintes. Falando em não abaixar a cabeça, ao
digitar o texto procure usar apenas os dois terços superiores da página, deixando o terço
inferior em branco. Esse cuidado permitirá um contato visual mais tranqüilo e suave, já que
para ver as pessoas bastará apenas levantar os olhos, sem movimentar muito a cabeça.
Faça poucos gestos -- a gesticulação na leitura deverá ser moderada. A não ser que a
mensagem exija maior quantidade de movimentos, a leitura de uma página, de maneira
geral, pode ser feita com meia dúzia de gestos. É preferível fazer poucos gestos, que
destaquem as informações mais relevantes com convicção e firmeza, do que demonstrar
hesitação soltando repetidamente a mão do papel e retornando depressa, como se estivesse
arrependido. Se você for muito inexperiente e encontrar dificuldade para gesticular, será
melhor que não gesticule. Fique o tempo todo segurando a folha com as duas mãos.
Marque o texto -- faça pequenas marcações no texto para facilitar a interpretação da
mensagem. Use, por exemplo, traços verticais antes das palavras para indicar o momento de
fazer pausas mais expressivas, e traços horizontais embaixo das palavras que mereçam
maior destaque.v Observe que essas marcações não coincidirão necessariamente com a
pontuação gramatical.

Segredinhos que ajudam muito:


 Para facilitar a identificação de cifras misture números com palavras. Por exemplo,
fica mais fácil ler 25 milhões, do que 25.000.000, ou vinte e cinco milhões.
 Termine sempre a página com ponto final. Evite deixar frases incompletas no final
da página para não ter que se apressar em procurar o complemento da informação na
página seguinte.
 Numere as folhas com números bem visíveis e para facilitar o manuseio deixe-as
soltas, sem clipes ou grampos.
 Use um corpo de letra de acordo com sua capacidade de enxergar, mesmo que
para isso seja obrigado a usar muitas folhas. A tipologia minúscula de letras possui desenhos
mais fáceis de ler do que a maiúscula. Por isso, a regra é usar corpo de letra grande com
tipologia minúscula.
E a tremedeira? -- se costuma sentir tremores nas mãos, a saída é usar folhas de
gramatura mais encorpada. Somente pelo fato de saber que com as folhas mais grossas os
pequenos tremores não serão percebidos, você irá se comportar com mais tranqüilidade e,
provavelmente, não tremerá.
Treine bastante -- selecione textos de jornais ou de revistas, faça marcações para
ajudar na interpretação e treine com auxílio de uma câmera de vídeo – na falta deste
equipamento faça os exercícios na frente de um espelho. Dê atenção especial às pausas
expressivas, à comunicação visual e aos gestos. Um texto para ser bem lido e interpretado
necessita de pelo menos trinta ensaios, pois somente aí é que conseguirá soltar-se do papel
com tranqüilidade e se comunicar de forma eficiente com os ouvintes. Cuidado, entretanto,
para não ensaiar muito a ponto de decorar a mensagem e se esquecer de olhar para o papel.
Se este fato ocorrer, pelo menos finja que está lendo.
Quando ler -- a leitura deverá ser reservada para momentos especiais como:
 Pronunciamentos oficiais.
 Textos muito técnicos que não possam conter erros.
 Discursos de posse de presidentes de entidades, pois esse é o momento em que
apresentará as bases da sua administração e não deveria, portanto, improvisar.
 Agradecimentos de homenagens feitas a grupos, especialmente quando a
mensagem representar a filosofia das pessoas, ou tiver de ser distribuído para a imprensa.
 Discursos de oradores de turma, em que a mensagem deve representar a vontade
de todos os formandos.
 Além dessas situações e de uma ou outra que poderia ser acrescentada, a leitura
deveria ser substituída por outros recursos, que tratarei nesta coluna nas próximas semanas.

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