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TEXTO DE APOIO
sua carga de sublime. A prosa “realista” situa-se fora do tempo; o que é ancorado
no tempo não tem valor.
Obediência ao mercado
É lógico que a literatura “branca” arrasta consigo sua antítese, o roman noir.
Aqui, a rua, o conflito, o urbano, o social desempenham um papel importante. Já
as estruturas planetárias do sistema, as evoluções históricas, as mutações
psicológicas e comportamentais que o desenvolvimento tecnológico gera não
têm papel algum, exceto em casos raros. Os acontecimentos se reduzem ao
conflito entre alguns indivíduos animados pelas eternas paixões: ódio, vingança,
amor, sede de justiça. O “maximalismo” do cenário se dissolve no “minimalismo”
do tratamento: policial corrupto, ou dúbio, ou honesto, contra criminoso honesto,
dúbio ou corrupto. Nem sempre, mas com bastante freqüência. E, no entanto, o
sistema é questionado, em seu conjunto. Na realidade, trata-se de um
“minimalismo” mais amplo, ou de um “maximalismo” reduzido. Dois passos à
frente e um passo atrás.
O fato é que hoje, mais do que nunca, o sistema diluiu-se em escala continental
e o controle sobre as vidas individuais se encontra nas mãos de um poder
anônimo e longínquo. Um volume vertiginoso de trocas decide no espaço de um
dia centenas de milhares de destinos: uma fábrica fecha na França, uma revolta
estoura na Indonésia, uma empresa italiana desloca sua produção para a
Albânia, um aventureiro ganha milhões de dólares na Austrália e os perde na
Espanha no dia seguinte; tudo isso escoltado por milhares de dramas que
ninguém se encarrega de registrar… Alguém gostaria de saber quem está na
origem de tantas tragédias? Descobre-se que são acionistas inconscientes que
confiaram suas economias a um administrador de fundos. Este último também é
parcialmente inconsciente: tudo o que ele conhece é o mercado. Ora, o mercado
não é uma entidade física, é um conjunto de equilíbrios gerado por regras. Quem
impôs tais regras? Os governos. Mas os governos também são inconscientes,
pelo menos em parte: tomam decisões em ligação com outros governos mais
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Voltemos atrás, com Hell’s Pavement, de Damon Knight (1955). Uma sociedade
imaginária, relativamente próxima à nossa no tempo, descobre o remédio
definitivo contra o crime. Os criminosos confirmados são condicionados a sofrer
alucinações no momento em que tentarem cometer um delito. A descoberta cai
nas mãos de algumas sociedades multinacionais, que a adaptam a seu próprio
objetivo: o delito mais grave, que provoca alucinações, torna-se a compra dos
produtos das empresas concorrentes. Resultado: O mundo inteiro é dividido em
zonas de influência, onde cada sociedade multinacional exerce sua dominação
impondo aos cidadãos as alucinações que lhes convêm.
Isso faz você sorrir? Eu não sorrio. Vivo num país — a Itália — onde um
movimento político nasceu de um aceno, graças ao único fato de que seu líder
— Silvio Berlusconi — era o dono de uma rede de televisão…
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A falência da democracia
A resistência do cyberpunk
Com a metáfora, a ficção científica soube perceber, melhor que qualquer outra
forma de narração, as tendências evolutivas (ou regressivas) do capitalismo
contemporâneo. Isto lhe permitiu, frequentemente, ultrapassar os limites
habituais da literatura e se expandir para os costumes, comportamentos, os
modos de falar comuns, em uma palavra, a vida cotidiana. A corrente cyberpunk,
ainda ativa há uns dez anos, constitui o exemplo principal. Pela primeira vez na
história, e bem antes do desenvolvimento atual da Internet, muitos escritores
tomavam como tema de seus romances esta forma de relação entre o homem e
a máquina, que é a informática.
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