Você está na página 1de 2

Resumo – Breves considerações sobre o ativismo judicial no contexto da crise política

brasileira

“Com os recentes julgamentos envolvendo temas controvertidos, como os casos sobre união
estável de pessoas do mesmo sexo, a possibilidade de aborto de fetos anencefálicos, a
realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, a questão das cotas sociais e raciais
em universidades públicas, entre outros, não se pode negar que a Suprema Corte brasileira
passou a deliberar sobre questões sensíveis que ensejam considerável apelo popular e
midiático.” (p. 111)

“Ora, o ativismo judicial caracteriza-se por uma atuação jurisdicional forte, invasiva de
domínios decisórios em geral pertencentes a outras esferas de poder, manifestando-se mais
facilmente nos casos de omissão e de vazios de poder, mas não apenas neles. Reconhecida
como postura proativa, não pode ser associada a uma específica perspectiva ideológica.”
(p.112)

A autocontenção, por seu turno, espelha uma postura de não interferência do Judiciário nas
outras esferas de poder, relega a “política para os poderes políticos” (dentro de uma
construção da política que a compreende apartada do direito), possibilitando uma margem de
atuação maior dos demais poderes no exercício de suas respectivas competências,
apresentando-se como atitude de deferência em relação aos atos e decisões do Legislativo ou
do Executivo. (p 112)

“Diante da prática orientada pela parcimônia e pela contenção, o Judiciário deixa de exercer
um controle forte sobre as leis envolvendo temas políticos ou morais controversos. Trata-se de
postura orientada no sentido de aceitar que a maioria prevaleça, convergindo com o
entendimento desta, enfraquecendo o papel contramajoritário da Corte enquanto guardiã da
Constituição. Em termos da tensão entre o constitucionalismo e a democracia, esta assume um
peso mais importante.” (p. 114)

“A defesa de direitos não pressupõe, portanto, no constitucionalismo contemporâneo, o


abandono da preocupação com o “bem comum” ou com a “moralidade”. No mais das vezes,
nas disputas entre moralidade e direitos, emergem conflitos aparentes, superficiais, pois tanto
os direitos concernentes ao bem-estar social como os definidos como individuais não podem
ser adequadamente compreendidos senão à luz da ideia de igual respeito e consideração.”(p.
119)

“De fato, desde o final da Segunda Guerra Mundial verificou-se, na maior parte dos países
ocidentais, um avanço da justiça constitucional sobre o espaço da política majoritária, que é
aquela feita no âmbito do Legislativo e do Executivo, tendo por combustível o voto popular.”
(p.1)

“Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política ou social estão
sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas instâncias políticas tradicionais: o
Congresso Nacional e o Poder Executivo – em cujo âmbito se encontram o Presidente da
República, seus ministérios e a administração pública em geral.”

Judicialização da política = reflexo da judicialização da vida cotidiana

Alterações no equilíbrio dos poderes

Fortalecimento do poder judiciário com a promulgação da Constituição de 1988


- Judiciário deixa de ser um poder técnico/instrumentalista e passa a ser, de certa forma, um
agente político

- A cidadania é despertada pela redemocratização, e a população, agora mais informada, passa


a querer proteger seus interesses junto a juízes e tribunais, aumentando a demanda por justiça

“A segunda causa foi a constitucionalização abrangente, que trouxe para a Constituição


inúmeras matérias que antes eram deixadas para o processo político majoritário e para a
legislação ordinária.”

“Na medida em que uma questão – seja um direito individual, uma prestação estatal ou um
fim público – é disciplinada em uma norma constitucional, ela se transforma, potencialmente,
em uma pretensão jurídica, que pode ser formulada sob a forma de ação judicial.”

Controle de constitucionalidade no Brasil = difuso + incidental (o Judiciário pode deixar de


aplicar determinada norma a um caso concreto levado à sua apreciação se a julgar
inconstitucional) ADIs e ADCs

A Constituição de 1988 buscou democratizar o acesso à justiça, permitindo que todos os


cidadãos possam, pessoalmente ou por meio dos grupos que os representam, levar à
apreciação do PJ não apenas situações jurídicas controvertidas no âmbito privado, mas
também questões políticas ou moralmente relevantes. A maior expressão desse fato está no
extenso rol de legitimados para propor as ações diretas, de competência originária do STF.

“No âmbito das ações individuais, a Corte se manifestou sobre temas como quebra de sigilo
judicial por CPI, demarcação de terras indígenas na região conhecida como Raposa Serra do Sol
e uso de algemas, dentre milhares de outros.”

Você também pode gostar