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Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.

0089
Zona Eleitoral: 89a, de Conselheiro Pena
Recorrentes: Marcos Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador, eleito; Rones
Carlos da Costa, candidato a Vereador, eleito
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

Recurso Eleitoral. Ação de investigação


judicial eleitoral. Eleições de 2016.
Vereadores. Fraude a lei. Cota de
gênero. Candidatura fictícia ou simulada.
Pedidos julgados procedentes na
primeira instância.
Preliminar de litisconsórcio passivo
necessário. Rejeitada. AIJE ajuizada contra
os candidatos a vereadores eleitos e 16 dos
20 suplentes. Alegação de litisconsórcio
passivo necessário. Suposta causa de
extinção do processo sem julgamento de
mérito. Não caracterização. Decisão que gera
apenas efeitos secundários e m relação aos
suplentes. Desnecessidade do litisconsórcio.
Mérito
Inexistência de atos ou gastos de campanha.
Votação zerada. Alegação de fraude ao art.
10, 5 30, da Lei 9.504197, mediante
candidatura fictícia. Suposto abuso de poder.
Depoimento de candidata, chamada a
registrar a candidatura para viabilizar o
cumprimento do percentual de gênero
previsto e m lei. Elemento insuficiente para a
caracterização da fraude. Ausência de
simulação. Exercício da autonomia individual.
Não comprovação de aproximação espúria
por parte de outros candidatos, ou de
oferecimento de dinheiro ou vantagem para
se candidatar. Inexistência de preceito
normativo que vincule a decisão acerca das
candidaturas femininas ao comprometi
com a campanha ou cumprimento
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dever cívico, não exigido das candidaturas


masculinas. Precedente do TRE/MG. Ausência
de elementos idôneos que evidenciem a
fraude que constitua abuso de poder.
Recurso a que se dá provimento para
julgar improcedente a ação.

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo acima identificado,


ACORDAM os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, por maioria,
e m rejeitar a preliminar de litisconsórcio passivo necessário e, no mérito, por
.... maioria, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator, vencidos
parcialmente o Juiz João Batista Ribeiro e, totalmente, o Des. Alexandre Victor
de Carvalho.

Belo Horizonte, 26 de março de 2018.

Juiz A g F
nio ugusto Mesquita Fonte Boa

/ Relator
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

Sessão de 5/2/2018

R e c u r s o E l e i t o r a l no 1085-20.2016.6.13.0089
Z o n a E l e i t o r a l : 89a, de Conselheiro Pena
R e c o r r e n t e s : Marcos Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador, eleito; Rones
Carlos da Costa, candidato a Vereador, eleito
R e c o r r i d o : Ministério Público Eleitoral
R e l a t o r : Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa

O JUIZ ANTONIO AUGUSTO MESQUITA FONTE BOA - Trata-se de


recurso interposto por M a r c o s F e l i c í s s i m o G o n ç a l v e s e R o n e s C a r l o s da
Costa, candidatos a vereador eleitos, contra a sentença do Juiz da 89a Zona
Eleitoral, de Conselheiro Pena, que, proferida conjuntamente na presente Ação
de Investigação Judicial Eleitoral no 1085-20, na Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo no 1088-72, ambas propostas pelo M i n i s t é r i o P ú b l i c o , e na
Ação de Investigação Judicial Eleitoral no 1086-25, proposta pela Coligação
Unidos por Conselheiro Pena, julgou p a r c i a l m e n t e p r o c e d e n t e s os pedidos,
para cassar o diploma dos recorrentes e dos demais candidatos da Coligação
Reencontro com o Progresso I11 (PROS/PR), inclusive suplentes, determinar a
anulação dos votos obtidos pela coligação e cominar a sanção de inelegibilidade a
Helisson Carlos Alvarenga, por 8 (oito) anos.
A inicial (fls. 2-19) fora ajuizada e m 15/12/2016 contra os recorrentes
Marcos Felicíssimo Gonçalves e Rones Carlos da Costa, eleitos, e os suplentes
Angélica de Paula Vidal, Amanda de Paula Vidal Alvarenga, Creusa Maria Luiz,
Hélio Ferreira dos Santos, Luis Carlos Ribeiro Pereira, Ailton Tertuliano do
Rosário, Osvaldo dos Santos Filho, Célio Soares, José Venâncio Alves, Eduardo
da Silva Cunha, José Raimundo da Silva Sobrinho, Silvano Maciel de Oliveira,
Adão José Rosa, Helison Carlos Alvarenga, Sebastião Lean&&+Sobrinho e Carlos
Roberto Rezende do Prado Filho. I
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IVarra o impugnante a ocorrência de fraude na inscrição de Amanda de


Paula Vidal Alvarenga, Angélica de Paula Vidal e Creusa Maria Luiz, sem serem
candidatas de fato, de modo apenas a atender o percentual de 3O%, referente a
cota de gênero, previsto no 5 30 do art. 1 0 da Lei no 9.504/97, e possibilitar o
deferimento do Demonstrativo de Regularidade dos Atos Partidários (DRAP) da
Coligação Reencontro com o Progresso (PROS/PR) nas Últimas eleições
proporcionais e m Conselheiro Pena. Alega-se que as supostas candidatas fictícias
não tiveram gastos com material de propaganda, não fizeram campanha e
obtiveram zero voto. Sustenta-se que uma delas chegou a afirmar que foi
chamada, junta com as demais, para "fechar o número do partido". Ao final,
requer-se a procedência do pedido para reconhecer a prática da fraude e abuso
de poder na corriposição da lista de candidatos as eleições proporcionais,
desconstituir todos os mandatos obtidos pela coligação e considerar nulos todos
os votos a ela atribuídos, redistribuindo-se as cadeiras conquistadas conforme o
art. 109 do CE. Pleiteia, por fim, a cominação, aos agentes do abuso, da
inelegibilidade prevista na alínea 'd" do inciso I do art. 10 da LC no 64/90.1
Apenso o procedimento preparatório eleitoral presidido pelo Ministério
Público Eleitoral (MPMG-0184.16.000369-7).
Defesas de Rones Carlos da Costa, Marcos Felicíssimo Gonçalves,
Sebastião Leandro Sobrinho, e Helisson Carlos Alvarenga juntadas as fls. 56-65,
67-75, 88-99, e 113-115, respectivamente.
Termos de audiência as fls. 132-137.
Alegações finais do Ministério Público Eleitoral, as fls. 138-142,
Sebastião Leandro Sobrinho, as fls. 159-164, Marcos Felicíssimo Gonçalves, as
166-176, e Bones Carlos da Costa, as 1'1s. 177-187.
A sentença de fls. 230-237, pela procedência parcial, fundamentou-se
no fato de ter-se "claramente demonstrado que as candidaturas femininas foram
apresentadas única e exclusivamente para cumprir o aspecto formal da
legislação, o que não afasta configuração de conduta do ato, numa clara
tentativa de fraudar a lei, caracterizando, inclusive, poder político." (fls.

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236).
AS fls. 240-250 e 251-261, respectivamente, os recorrentes Rones
Carlos da Costa e Marcos Felicíssimo Gonçalves alegaram, e m sede de
preliminar, a ausência de citação de litisconsortes passivos necessários, a saber,
todos os 22 candidatos lançados pela coligação, sem o que o feito deve ser
extinto sem julgamento de mérito. IVo mérito, sustentam que: a) as candidaturas
femininas não foram fraudulentas; b) algumas candidaturas masculinas também
receberam votação baixa ou inexistentes; c) a desistência das candidatas
ocorreu por razões alheias a vontade dos recorrentes; d) o depoimento das
testemunhas não confirma a ocorrência de fraude; e) a sentença é expressa a
atribuir a responsabilidade pelas candidaturas fictícias a terceiros que não os
recorrentes e, no entanto, os pune por isso. Requerem a reforma da decisão
recorrida, para julgar improcedente a ação, não se declarando a nulidade dos
votos recebidos pelos candidatos.
Contrarrazões do Ministério Público as fls. 310-322.
AS fls. 334-338, manifestação da Procuradoria Regional Eleitoral, e m
sede de preliminar, pela desnecessidade de formação do litisconsórcio passivo, e,
no mérito, pelo não provimento do recurso, e m face da ocorrência de fraude que
configura abuso de poder.
É, no essencial, o relatório.

VOTO

O JUIZ ANTONIO AUGUSTO MESQUITA FONTE BOA - 0 s recursos são


tempestivos. A sentença foi publicada no DJE e m 19/9/2017 (terça-feira), e a
petição de ambos os apelos foi protocolizada na mesma data. Presente esse e os
demais pressupostos de admissibilidade, deles conheço.

PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE LI NSÓRCIO PASSIVO


(SUSCITA DA PELOS RECORRENTES)

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A primeira questão a ser dirimida diz respeito a composição do polo


passivo da AIJE. 0 s recorrentes suscitam que se está diante de uma hipótese de
litisconsórcio passivo necessário, de modo que todos os candidatos lançados pela
Coligação Reencontro com o Progresso I11 (PROS/PR) deveriam t e r sido
chamados a compor a ação.
No caso, porém, a AIJE foi ajuizada apenas contra 1 8 (dezoito) dos 22
(vinte e dois) candidatos que compuseram a coligação: os dois vereadores
eleitos (ora recorrentes) e 16 (quinze) não eleitos, todos filiados aos PROS. Os
demais candidatos da coligação, não eleitos e filiados ao PR, só foram citados por
deterrriinação do despacho de fls. 20, verso, lavrado e m 10/3/2017, muito tempo
depois de findado o prazo decadencial para ajuizamento da A1:IE. Por essa razão,
os recorrentes aduzem que o feito deve ser extinto sem julgamento de mérito.
Sem razão, porém.
A jurisprudência do TSE admite que figurem no pólo passivo da AIJE
todos os candidatos beneficiados pelo ilícito e não apenas os que tenham
praticado ou contribuído para a prática do ato abusivo. Cito:

Representação. Investigação judicial. Alegação. Abuso do poder político e


de autoridade. Atos de campanha em evento oficial. Infração aos arts. 73,
I e IV, e 74 da Lei no 9.504/97. Preliminares. [...I Ilegitimidade passiva.
Rejeição. [...I Na hipótese de procedência da investigação judicial
eleitoral, a sanção de inelegibilidade alcança tanto o candidato beneficiado
como a todos os que hajam contribuído para a prática do ato abusivo, nos
termos do inciso XIV do art. 22 da Lei Complementar no 64/90. (TSE. Ac.
de 7.12.2006 na Rp no 929, rel. Min. Cesar Asfor Rocha.)

Contudo, referida jurisprudência formou-se e m momento anterior a


viragem jurisprudencial que ampliou o espectro de condutas que podem ser
apuradas na AIJE. Se tomada a anterior interpretação, mais restritiva, da fraude
que ludibriava o eleitor, patente que são individualizáveis os candidatos
beneficiados e somente seus mandatos devem ser atingidos, seguindo-se, no

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Porém, a partir do momento e m que o abuso de poder passa a abarcar


o artifício empregado contra a Justiça Eleitoral para lograr a homologação do
DRAP, está-se diante de fraude que impacta globalmente toda a lista. Inegável
que o acolhimento da pretensão t e m por desdobramento lógico inviabilizar a
assunção de mandato por qualquer candidato da coligação.
Desse modo, e m prol do contraditório, deve-se permitir a formação do
litisconsórcio, comum e facultativo, seja por iniciativa do autor ou do próprio
terceiro. Até que se firme posição específica daquele Tribunal a respeito, entendo
que, por cautela, devem-se admitir os beneficiários diretos ou indiretos de AIMEs
por fraude a lei eleitoral.
Por outro lado, não se trata de litisconsórcio unitário, pois o pedido
continua a ser o de cassação de mandato do eleito e o efeito que pode atingir os
candidatos não eleitos é apenas secundário. Tampouco é caso de litisconsórcio
necessário, j á que se trata da, assim denominada por Liebman, "eficácia natural
da sentença" - consequências inevitáveis da decisão e que podem atingir
terceiros.
Nesses termos, não cabe acolher a alegação de que todos os
candidatos da coligação, mesmo os filiados ao PR e não eleitos, deveriam t e r sido
chamados a compor o polo passivo, sob pena de extinção do feito sem
.-. julgamento de mérito.
Considerando o exposto, rejeito a preliminar.

PEDIDO DE VISTA

O JUIZ FEDERAL JOÃO BATISTA RIBEIRO Sr. Presidente, peço vista


dos autos.

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Sessão de 5/2/2018

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrentes: Rones Carlos da Costa, candidato a Vereador eleito; Marcos
Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador eleito
Advogados: Drs. Augusto Ivlário Caldeira Paulino; Augusto IYario Menezes
Paulino; Elaine Pereira de Oliveira; Júlio Firmino da Rocha Filho
Recorrido: Ivlinistério Público Eleitoral
Defesa oral pelos recorrentes: Dr. Júlio Firmino da Rocha

Decisão: Após as sustentações orais, pediu vista o Juiz João Batista Ribeiro, após
o Relator rejeitar a prelirriinar de litisconsórcio passivo necessário.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Edgard Penna Amorim. Presentes os Exmos. Srs.
Des. Alexandre Victor de Carvalho e Juizes Paulo Rogério Abrantes, Ricardo
Torres Oliveira, Ricardo Matos de Oliveira, Antônio A sto Mesquita Fonte Boa e
"-
João Batista Ribeiro e o Dr. Ângelo Giardini de ira, procurador Regional
Eleitoral.

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Sessão de 19/2/2018

VOTO DE VISTA

O JUIZ FEDERAL JOÃO BATISTA RIBEIRO - Conforme relatado,


trata-se de recursos eleitorais interpostos por Marcos Felicíssimo Gonçalves,
candidato a vereador, eleito, e Rones Carlos da Costa, candidato a Vereador,
eleito, e m razão do inconformismo com a decisão proferida pelo Juiz Eleitoral da
8 9 a Zona Eleitoral de Conselheiro Pena conjuntamente nos autos da AIIVIE no
1085-20.2016.6.13.0089 e da AIJE n o 1085-20.2016.6.13.0089, propostas pelo
Ministério Público Eleitoral, e da ALIE n o 1086-05.2016.6.13,0089, proposta pela
Coligação Unidos por Conselheiro Pena (DEM/PV/PPS/PHS/PMDB). Na sentença, o
Juiz Eleitoral julga parcialmente procedentes os pedidos.

PRELIMINAR - LITISCONS~RCIO PASSIVO


Quanto à preliminar apontada nas razões recursais de ausência de
litisconsórcio passivo necessário, o ilustre Relator a rejeita.
J á é pacífica na doutrina eleitoral a necessidade de composição de
litisconsórcio passivo e m apuração de casos de condutas vedadas e abuso de
poder econômico e político por todos aqueles que participaram da conduta ou
que dela se beneficiaram de qualquer forma.
Tenho que a AIJE, antes de ter por pedido a cassação de
mandato do eleito - ou de seu diploma, tem por objetivo a declaração da
inelegibilidade daqueles que concorreram para o ilícito, bem como dos
seus beneficiários. Neste sentido:

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério


Público Eleitoral poderá representar a Justiça Eleitoral, diretamente ao
Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas,
indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para
apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de
autoridade, ou utilização indevida de veículos ou m e i
social, e m benefício de candidato ou de partido

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seguinte rito:
XIV - julgada procedente a representação, ainda que após a
proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do
representado e de quantos hajam contribuído para a prática do
ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se
realizarem nos 8 (oito)anos subsequentes a eleição e m que se verificou,
além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente
beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou
abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação,
determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para
instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação
penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar

A própria lei deterrriina que seja declarada a inelegibilidade de todos.


Além disso, a possibilidade da aplicação da sanção de inelegibilidade - ao
contrario do que ocorre na A I M E - possibilita tal formação. Se a lei demanda a
declaração da inelegibilidade de todos os que concorreram para o ato,
todos devem compor o polo passivo.
Veja que a jurisprudência do TSE com relação a necessidade de
litisconsórcio passivo alterou nos últimos anos para impor a necessidade
de chamar todos, beneficiados e beneficiadores, a lide. Assim, a
apuração de fraude tratada na AIJE deve se dar o mesmo tratamento,
pois até na conduta vedada há exigência de litisconsórcio passivo.
Com relação a jurisprudência acerca da necessidade do Iitisconsórcio
passivo necessário no caso de abuso de poder, vê-se que até as eleições de
2014 a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral desconsiderava a
existência de litisconsórcio passivo necessário entre os beneficiários do
abuso de poder econÔmico/político e aqueles que contribuíram para a
sua prática, a teor do disposto no inciso XIV do art. 22 da LC no 64/90.
Nesse sentido, o seguinte julgado paradigma:

Agravo regimental. Recurso especial. Ação de investigação judicial


eleitoral. Captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico.
Embargos de declaração. Violação. Art. 275 do Código Eleitoral.

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do abuso de ~ o d e r .Nesse sentido: R 0 no 7 2 2 , rel. Min. Francisco


Pecanha Martins, DJ de 20.8.2004.
2. O argumento de que o juiz não está obrigado a responder a todos os
questionamentos da parte deve ser examinado com cautela, de forma a
não permitir que as decisões judiciais se transformem e m afirmações
apoditicas e desassociadas da realidade processual.
3. Se o vício apontado nos declaratórios contiver elemento capaz de
alterar o julgado - seja e m razão da omissão de análise de questões
prejudiciais, tais como os preliminares de mérito, seja e m decorrência do
exame de depoimentos que sejam apontados como relevantes para o
deslinde dos fatos -, cabe ao julgador se manifestar sobre ele, ainda que
para afastá-lo.
Agravo regimental a que se nega provimento."
(TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral no 7 6 4 -
4 0 / M G - Pedra Azul, Rel. Min. Henrique Neves da Silva, julgado
em 10.4.2014 e publicado no DJE de 23.5.2014, p. 70.) (Destaques
nossos.)

Ocorre que este entendimento jurisprudencial foi recentemente


alterado pelo Tribunal Superior Eleitoral, e m julgamento concluído e m
21.6.2016 no Recurso Especial Eleitoral no 843-56, preconizando-se, a
partir das eleições deste ano, a necessidade de formação do litisconsórcio
passivo na ação de investigação judicial eleitoral fundada no art. 22 da
Lei Complementar n o 64/90, conforme demonstrado pelo julgado abaixo
colacionado:
ELEIÇÕES 2012. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL.
PREFEITO E VICE-PREFEITO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO
DO PODER ECON~MICO. FORNECIMENTO DE VALES-COMBUSTÍVEL E
PROMESSA DE ENTREGA DE NUMERÁRIO. PROCEDÊNCIA.
Preliminares:
1. IVão há violação ao art. 275, I e 11, do Código Eleitoral quando o
Tribunal examina de forma lógica e fundamentada todos os temas
relevantes para o deslinde da controvérsia.
2. O entendimento consagrado pelo Tribunal Regional Eleitoral relativo a
desnecessidade da formação de Iitisconsórcio passivo entre o candidato
beneficiado e o responsável pela prática do abuso ou pela captação ilícita
de sufrágio está e m consonância com a jurisprudência deste Tribunal
consolidada para o pleito de 2012. Incidência, na espécie, da SÚmula 30
do TSE: "Não se conhece de recurso especial eleitoral por dissídio
jurisprudencial quando a decisão recorrida estiver e m conformidade com a
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral".
3. No iulaamento do Recurso Esriecial no 843-56. concluído em
21.6.2016, ficou consignado que o novo entendimento deste Tribunal
sobre a necessidade de formação do litisconsÓrcio passivo, na ação de
investigação judicial eleitoral fundada no art. 2 2 da Lei
64/90, somente será aplicado a partir das Eleições de

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princípio da segurança jurídica e da regra do art. 16 da Constituição da


República.
( S . . )

(TSE - Recurso Especial Eleitoral no 764-40/MG - Pedra Azul, Rel. Min.


Henrique Neves da Silva, julgado em 10.9.2016 e publicado no DJE de
8.9.2016, Tomo 173, pp. 61/62.)

No leadíng case destacado no julgado acima (RESp no 843-56/IYG -


Jampruca, Rel. IYin. João Otávio de Noronha, julgado e m 21.6.2016 e publicado
no DJE de 2.9.2016, Tomo 170, pp. 73/74), embora a ementa refira-se apenas a
abuso de poder político (que era o caso examinado no mencionado julgado),
ficaram assentados no voto condutor do aresto os fundamentos que ensejaram a
mudança de orientação jurisprudencial da Corte Superior com relação a
interpretação do disposto no inciso XIV do art. 22 da LC n o 64/90, isto e,
abrangendo o litisconsórcio passivo necessário para todo e qualquer caso de
abuso de poder econômico e político, objeto de ação de investigação judicial
eleitoral.
Para ilustrar a assertiva, transcrevo a seguir os seguintes
trechos da fundamentação que orientou o julgado, constantes as fls. 8,
12, 2 4 e 3 0 / 3 2 do mencionado aresto:
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVOI DE NORONHA (reiator):
Senhor Presidente, examino, separadamente, as questões objeto
do recurso especial eleitoral e das contrarrazões.
1. Da formação do litisconsórcio passivo necessário em relação ao
autor da conduta tida como ilícita nas ações de investigação
judicial eleitoral em que se apura a prática de abuso de poder.
(..-I
A meu ver, com as vênias dos que entenderem em sentido
contrário, não há iustificativa plausível para a distinção atualmente
existente, qual seia. exigir-se nas representacões ~ o conduta
r vedada que
o aqente público seia citado e, noutro passo, não se ter essa mesma
obriqatoriedade nas acões de investiaacão judicial eleitoral.
Enquanto os já citados 55 40 e S0 do art. 73 da Lei 9.504/97
prevêem multa ao agente público responsável pela conduta
vedada, o inciso XIV do art. 22 da LC 64/90 dispõe expressamente
que "julqada procedente a representação, C...] o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam
contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de
inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos

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J 10
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postulante a cargo eletivo.


Desse modo, diante da identidade de situações e, considerando
que no caso dos autos o TRE/MG assentou que o prefeito e o vice-
prefeito de Jampruca/MG foram meros beneficiários da conduta, o
responsável pela prática do suposto ilícito deveria t e r sido citado.
Entendo, contudo, que essa nova orientacão deve ser aplicada apenas a
partir das Eleicões 2016, em observância ao princípio da segurança
jurídica, implicitamente previsto no art. 16 da CF/SS.
(-.-I
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA:
(...I
Acompanho o relator.
No campo das condutas vedadas, este Tribunal j á concluiu pela
necessidade de que o responsável e o beneficiário figurem
simultaneamente no pólo passivo da demanda, em face do
disposto no art. 73, gg 40, 5O e SO, da Lei n o 9.504/97, diante da
compreensão de que não se poderia cogitar que apenas o
favorecido com a conduta pudesse isoladamente ser demandado e
punido, a revelia do autor do ato imputado.
Em face desse mesmo raciocínio, se o inciso XIV do art. 22 da LC no
64/90 prevê a declaracão de ineleqibilidade em relacão aqueles Que
contribuíram para a prática do ato abusivo (responsáveis), não há como,
então, cogitar que apenas o beneficiário possa fiqurar no pólo passivo da
relacão processual na acão de investiaação judicial eleitoral.
(...I
E evidente que a não inclusão de quem foi responsável pela prática de
determinado ato no pólo passivo da demanda caracteriza situacão que
dificulta a defesa daqueles que são apontados apenas como beneficiários.
Por óbvio, o agente que praticou o ato tem maiores condições não
apenas de defender a sua legalidade, mas principalmente de
demonstrar as circunstâncias em que os fatos ocorreram,
trazendo, inclusive, eventuais justificativas.
Nesse aspecto, para a correta aplicação do direito, é necessário
privilegiar a verdade material, sem se descuidar do devido
processo legal e da ampla defesa, com todos os recursos que lhe
são inerentes.
Em outras palavras, se a acusacão formulada contra determinado
candidato é no sentido de aue ele foi beneficiado por omissão incorrida ou
ato praticado por terceiro, e havendo - como há - conseauências iurídicas
previstas na leaislacão que podem atinair auem praticou o ato, tal terceiro
deve ser obriqatoriamente incluído na lide - independentemente do tipo de
acão - para que possa se defender e, se for o caso, arcar com as
consequências de eventual condenacão.
Assim, tal como o eminente relator, reconheço a necessidade de
este Tribunal rever sua jurisprudência no que tange a necessidade
de inclusão de auern pratica o abuso de poder no polo passivo das acões
1 pelas mesmas razões que
impuseram a alteração do entendimento relativo as
representações que tratam das condutas vedadas.
(...) (Destaques nossos.)

Em 8/11/2016, o TSE decidiu no julgamento do Especial


Eleitoral no 8547, do PI, Relatoria do Ministro Antonio Herm

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(...) no tocante as ações de investigação judicial eleitoral, nunca se exigiu


tal litisconsórcio até as Eleições 2014. Em recente julgado, concluído e m
21.6.2016, no REspe 843-56/MG, de relatoria do e. Ministro João Otávio
de Noronha (redator designado Ministro Henrique Neves), esta Corte fixou
nova orientação, aplicável apenas a partir do pleito de 2016, sobre
necessidade de se intimar, nessas demandas, o responsável pelo ato ilícito
e o candidato.

O Respe no 843-56/MG, julgado e m 4/10/2016, citado acima pelo


Ministro, consignou que, como na conduta veda, no caso de abuso de poder,
seria necessário, também, haver Iitisconsórcio passivo. Veja-se:

ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITADE SUFRÁGIO. ABUSO DO PODER
POLÍTICO E ECON~MICO. LITISCONS~ RCIO PASSIVO N ECESSÁRIO.
CANDIDATO BENEFICIADO. RESPONSÁVEL. AGENTE PÚBLICO.
JURISPRUDÊNCIA. ALTERAÇÃO. SEGURANÇA JURÍDICA.
1. Até as Eleições de 2014, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral
se firmou no sentido de não ser necessária a formação de litisconsórcio
passivo necessário entre o candidato beneficiado e o responsável pela
prática do abuso do poder político. Esse entendimento, a teor do que já
decidido para as representações que versam sobre condutas vedadas,
merece ser reformado para os pleitos seguintes.
(...I
Firma-se o entendimento, a ser aplicado a partir das Eleições de 2016, no
sentido da obrigatoriedade do litisconsórcio passivo nas ações de
investigação judicial eleitoral que apontem a prática de abuso do poder
político, as quais devem ser propostas contra os candidatos beneficiados e
também contra os agentes públicos envolvidos nos fatos ou nas omissões
a serem apurados.
(...I

Quanto ao litisconsórcio passivo na Ação de Investígação Judicial


Eleitoral (AIJE), lecionam os mestres Carlos Mario da Silva Velloso e Walber de
Moura Agra (Elementos de Direito Eleitoral, Saraiva, 5 a ed., 2016, p.):

No polo passivo da AIJE deve constar qualquer pessoa, candidato ou não


candidato que pratique as condutas mencionadas. Igualmente é preciso
indicar o candidato ou mandatário que, mesmo não se envolvido de forma
direta com as práticas descritas e m seu permissivo legal, aferiu algum
beneficio dessas condutas, comprovando-se seu conhecimento e m relação
as condutas delituosas praticadas. Real sa hipótese, há a
formação de litisconsórcio passivo nece o candidato e os

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 12


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

cidadãos que realizaram a conduta descrita como ilícita para beneficiá-lo."

No polo passivo da AIJE, adverte o autorizado magistério doutrinário


de JOSÉ JAIR0 GOMES ('Direito Eleitoral", 1 3 a ed., Ed. Atlas, 2017, p.
685) podem figurar '( ...) candidato, pré-candidato e também qualquer pessoa
que haja contribuído para a prática abusiva, sem se excluírem autoridades
públicas", acrescentando ao tratar da formação do litisconsórcio passivo que ele
depende das circunstâncias observando (ob. Cit. Pág. 689) "que a exigência de
litisconsÓrcio necessário na AIJE só é razoável na hipótese de c a s s a ~ ã o de
registro de candidatura ou diploma e inelegibilidade."
Mais recentemente, o TRE/SP esposou entendimento de que todos que
compõem a chapa devem figurar no polo passivo:

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO


JLIDICIAL ELEITORAL - AIJE. LANÇAMENTO DE CANDIDATURA FICTICIA
PARA PREENCHIMENTO DAS COTAS FEMININAS. SENTENÇA DE
INDEFERIMENTO DA INICIAL. PRELIMINARES : ILEGITIMIDADE ATIVA.
AFASTADA; ILEGITIMIDADE PASSIVA DA COLIGAÇÃO MAJORITÁRIA
SUSCITADA EM SEDE DE CONTRARRAZ~ES.ACOLHIDA; ILEGITIMIDADE
PASSIVA DA COLIGAÇÃO PROPORCIONAL SUSCITADA DE OFÍCIO;
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AFASTADA E AUSÊNCIA DE
LITISCONS~RCIOS PASSIVOS NECESSÁRIOS SUSCITADA DE OFÍCIO.
1 - APÓS A REALIZAÇÃO DAS ELEIÇÕES TANTO A COLIGAÇÃO COMO O
PARTIDO COLIGADO POSSUEM LEGITIMIDADE CONCORRENTE PARA
PROPOR REPRESENTAÇ~ESQUE ENVOLVAM A CASSAÇÃO DE DIPLOMAS
E/OU A IMPOSIÇÃO DE INELEGIBILIDADE. PRECEDENTES: TSE E TRE/SP.
2 - COLIGAÇ~ES, PARTIDOS, E PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO
PÚBLICO OU PRIVADO NÃO PODEM FIGURAR NO POLO PASSIVO DE
AÇÕES DE INVESTIGAÇ~ES JUDICIAIS ELEITORAIS FUNDADAS NO
ARTIGO 2 2 DA LEI COMPLEMENTAR No 64/90, TENDO EM VISTA QLIE
ENSEJA A INELEGIBILIDADE E A CASSAÇÃO D O REGISTRO OU DO
DIPLOMA. PRECEDENTES: TSE E TRE/SP.
3 - A AÇÃO DE IIVVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL E IIVSTRUMENTO
PROCESSUAL HÁBIL PARA APURAÇÃO DE FRAUDE A LEI (LANÇAMENTO
DE CANDIDATURA FICTÍCIAPARA COMPOSIÇÃO DA COTA DE GÊNERO -
ARTIGO 10, 5 3O, DA LEI No 9.504/97), DECORRENTE DE ABUSO DE
PODER POLTTICO. PRECEDENTES: TSE E TRE/SP.
4 - PROPOSITURA DA DEMANDA SEM A INCLUSÃO DE TODOS OS
CANDIDATOS INTEGRANTES DA CHAPA PROPORCIONAL.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO TEM PESTIVA. DECADÊNCIA. PREJUDICIAL
DE MÉRITO SUSCITADA DE OFÍCIO. EXTINÇÃO DO FEITO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO EM REL - AS COLIGAÇOES
RECORRIDAS E EXTINÇÃO DO FEITO co OLUÇÃO DE MÉRITO
EM RELAÇÃO AOS DEMAIS RECORRIDOS

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


V
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

(RECURSO n 71233, ACÓRDÃO de 24/08/2017, Relator(a)


MARCUS ELIDIUS MICHELLI DE ALMEIDA, Publicação: DJESP -
Diário da Justiça Eletrônico do TRE-SP, Data 3 1 / 8 / 2 0 1 7 ) . (Grifo
nosso.)

O Relator Marcus Elidius Michelli de Almeida, no julgamento do RE no


71233, de 24/8/2017, do TER/SP, fundamentou seu voto nesse sentido:
Contudo, em feitos dessa natureza, há litisconsórcio necessário entre os
candidatos que integram a chapa da coligação proporcional, uma vez que
o reconhecimento da fraude eleitoral e a consequente procedência da
presente demanda enseja a aplicação da sanção de inelegibilidade
prevista no artigo 22, XIV, da Lei Complementar n(2 64/90 aos
responsáveis pela conduta ilícita, bem como a pena de cassação do
registro ou do diploma de todos os candidatos que foram diretamente
beneficiados pelo ato ilícito, ou seja, de todos os integrantes da chapa da
coligação proporcional, na medida em que viabilizou o deferimento do
registro do Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários - DRAP da
coligação impugnada.
Isto porque, a fraude em testilha constitui vicio de origem o qual
obstaculiza a participação no certame de todos os envolvidos, de maneira
que, a sanção apropriada e a cassação do registro de todos os candidatos,
bem como dos diplomas dos suplentes e dos mandatos eletivos dos
eleitos.
Ocorre que, in casu, constata-se que a autora, ora recorrente, não incluiu
no polo passivo do presente feito todos os candidatos que compõem a
chapa da coligação proporcional envolvida na alegada fraude eleitoral, de
maneira que em primeiro momento, a solução mais correta seria
reconhecer a nulidade dos atos processuais a partir da petição inicial e
determinar o retorno dos autos a origem para que a coligação recorrente
providencie o aditamento a inicial para incluir e requerer a citação dos
supracitados candidatos.
Contudo, não há como determinar o acima mencionado, tendo em vista
que a decadência restou consumada. Explico.
O rito previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64/90 não estabelece
prazo decadencial para o ajuizamento da ação de investigação judicial
eleitoral. Por construção jurisprudencial, no âmbito do c. Tribunal Superior
Eleitoral, entende-se que as ações, de investigação judicial eleitoral que
tratam de abuso de poder econômico e político podem ser propostas ate a
data da diplomação porque, após esta data, restaria, ainda, o ajuizamento
da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) e do Recurso Contra
Expedição do Diploma (RCED) (Precedentes: TSE, AgR-RMS 5390/RJ, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, DJE 9.5.2014; TSE, REspe na 12.531/SP1
Rel. Min. limar Gaivão, DJ 10.9.1995; TSE, R 0 no 401/ES, Rel. Min.
Fernando Neves, DJ 10.9.2000; TSE, RP na 628/DF, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo, DJ 17.12.2002).
0 s referidos candidatos devem ser chamados a integrar a lide dentro do
prazo para propositura da ação, o que não ocorreu no presente caso, pois
a diplomação dos eleitos aconteceu no dia 09. .2016. Portanto, de rigor,
o reconhecimento, de ofício, da decadênci do direito de propor a
presente ação.

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.00


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Portanto, resta claro que operou a decadência, visto que todos que
concorreram pela Coligação Reencontro com o Progresso I1 (PROS/PR) deveriam
t e r integrado a lide no polo passivo.
Com esses fundamentos, acolho a preliminar para reconhecer a
decadência e extinguir o processo com resolução do mérito, nos termos
do inciso 11 do art. 487 do Código de Processo Civil.

O DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO - Trata-se de recursos


interpostos contra a decisão que julgou parcialmente procedente as AIIEs e a
AIME ajuizadas sob a alegação de fraude relativa a inscrição de candidaturas
fictícias para preenchimento de percentual de gênero, determinando a cassação
dos diplomas dos candidatos eleitos e suplentes, a anulação dos votos recebidos
pela Coligação Reencontro com o Progresso I11 (PROS/PR) e declarando a
inelegibilidade dos candidatos que perpetraram a fraude, Helisson Carlos
Alvarenga, Creusa Maria Luiz, Amanda de Paula Vidal Alvarenga e Angélica de
Paula Vidal.

PRELIMINAR DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO


Nas ações que visem desconstituir mandato, o polo passivo deve ser
ocupado por candidatos diplomados. IVão há falar, portanto, e m Iitisconsórcio
passivo necessário entre os candidatos eleitos e não eleitos. Acompanho o
Relator para rejeitar a preliminar.

O JUIZ PAULO ROGÉRIO ABRANTES - De acordo com o Relator.

O JUIZ RICARDO TORRES OLIVEIRA - De acordo com o Relator.

O JUIZ RICARDO MATOS DE OLIVEIRA - De acor o com o Relator.


A

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

O JUIZ ANTONIO AUGUSTO MESQUITA FONTE BOA - MÉRITO


0 s autos cuidam de ação de impugnação de mandato eletivo proposta
pelo Ministério Público Eleitoral, nos termos do art. 22 da LC no 64/90, com o
objetivo de c a s s a r os m a n d a t o s dos v e r e a d o r e s , titulares e suplentes, que
concorreram no pleito de 2016 pela C o l i g a ç ã o R e e n c o n t r o c o m o P r o g r e s s o
I11 (PROS/PR), e m razão de suposta fraude na reserva de percentual de
gênero prevista no 930 do art. 10 da Lei no 9.504/97, o que constituiria abuso de
poder. A alegada fraude teria sido caracterizada pela inscrição da candidatura
fictícia de Amanda de Paula Vidal Alvarenga, Angélica de Paula Vidal e Creusa
Maria Luiz. Por consequência, pretende-se a a n u l a c ã o dos votos obtidos pela
referida coligação no pleito, redistribuindo-se as cadeiras, como sobra, e a
cominação de inelegibilidade aos responsáveis pelo ilícito.
De início, cumpre esclarecer que a presente ALIE foi apensada a AIPIE
no 1088-72, de autoria do Ministério Público Eleitoral, e a ALIE no 1086-05,
ajuizada pela Coligação Unidos por Conselheiro Pena. O apensamento a AIJE
1086-05, para julgamento conjunto, foi requerido pelo Ministério Público a fl. 117
e deferido pela MMa. Juíza Eleitoral a fl. 118, que determinou a instrução e o
julgamento conjuntos de ambas as ações. Em sentença Única, IYM. Juiz Eleitoral
julgou os pedidos parcialmente procedentes, restringindo a cominação da
inelegibilidade somente a Helisson Carlos Alvarenga.
Feito o esclarecimento, passo a m e debruçar sobre esta ação.
A AIJE foi proposta em 15/12/2016. Não havendo notícia da data e m
que ocorreu a diplomação dos eleitos, deve ser presumido o atendimento do
prazo constitucionalmente previsto.
A Coligação Reencontro com o Progresso I11 (PROS/PR) apresentou
originariamente lista de candidatos a eleição proporcional formada de 1 5 homens
e 7 mulheres (fl. 31), perfazendo, portanto, no momento do registro do DRAP
u m percentual mínimo de 30% de candídaturas de cada gêne@.
A Lei no 9.504/97, com redação dada pela L 0 12.034/2009,
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M:tNAS GERAIS

estabelece que:

Art. 1 0 (...)
Ej 3P DO número de vagas resultante das regras previstas neste artigo,
cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento)
e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.

Já o abuso de poder é uma categoria prevista no art. 22 da LC no

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ivlinistério


Público Eleitoral poderá representar a Justiça Eleitoral, diretamente ao
Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios
e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso
indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade,
ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, e m
benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito
[...I.

Quanto a configuração jurídica exigida para viabilizar a discussão da


questão e m sede de AIJE, devem-se observar os seguintes julgamentos
proferidos pelo TSE: 1) No REspE no 1-49/PI, e m 21/10/2015, admitiu a
alegação de preenchimento fraudulento da cota de gênero como causa de pedir
da AIME, ampliando o conceito de fraude, anteriormente adstrito a vícios de
vontade na votação ou apuração, para englobar todo ardil que implique violação
a normalidade do pleito; 2) No REspE no 631-840/SC, de 2/8/2016, estatuiu que
toda fraude é uma espécie do gênero abuso de poder e, portanto, passível de
apuração em AIJE; 3) REspE n o 243-42/PI, de 16/8/2016, consignou
expressamente a possibilidade de manejo da AIJE para fins de apuração de
fraude na cota de gênero das listas proporcionais.
Assim, resta pavimentada pelo TSE a possibilidade de discutir-se e m
AIIE o lançamento de candidaturas femininas fictícias, como modalidade de
abuso de poder político por parte de partidos políticos e coligações, ao
argumento de que estes detêm o monopólio no lançamento de
essa moldura, forçoso aceitar o ajuizamento da presente AIJE, co

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


'TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

pedidos de cassação e aplicação de sanção de inelegibilidade.


Decidir pela admissibilidade de uma acão é, porém, questão diversa de
concluir pela procedência do pedido. A pretensão condenatória somente terá
êxito pela demonstração de que tal modalidade de abuso tenha efetivamente
sido praticada por aqueles que poderiam indicar candidatos. É, pois,
necessário, em qualquer caso, demonstrar a fraude capaz de macular a
norma.
Por isso, imperioso refletir sobre os elementos que permitem qualificar
denominada conduta como fraudulenta.
Para José Jairo ornes^, fraude 'implica frustração do sentido e da
finalidade da norma jurídica pelo uso de artimanha, astúcia, artifício ou ardil.
Aparentemente, age-se e m harmonia com o Direito, mas o efeito visado - e, por
vezes, alcançado - o contraria". Segue o autor, apresentando os requisitos para
que se configure a simulação:

1) existência de falsa declaração de vontade;


2) divergência intencional (querida) entre vontade interna e declarada, ou
seja, entre o verdadeiro querer e o sentido da declaração exteriorizada;
3) pactum simulacionis ou acordo simulatório, isto é, ajuste entre o
declarante e o declaratario - conluio entre partes;
4) finalidade de enganar terceiro^.^

Por sua vez, Rodrigo Lopes zilio3 escreve que:


(...) fraude se caracteriza como o ato voluntário que induz outrem e m
erro, mediante a utilização de meio astucioso ou ardil. Pressupõe
que a conduta seja perpetrada com o deliberado propósito de induzir
alguém e m erro, configurando-se ilícito tanto quando houver benefício
como prejuízo indevido a quaisquer dos atores do processo eleitoral
(candidato, partido ou coligação). (Grifo nosso.)

Na esteira dessas lições, esta Corte Regional, no julgamento dos REs


nos 209-13 e 1060-23, de relatoria do Desembargador Pedro Bernardes, firmou
o entendimento de que, para a caracterização de fraude cumprimento

I GOMIIS. José Jairo. Direito eleitoral. 12 ed. São I'aiilo: Atlas; 2016. p. 785.
2
CiOMIZS. José Jairo. [lireito eleitoral 12 ed. Sâo Paiilo: Atlas, 2016, p. 785.
' %11,10. Kodrigo I.<ipcs.I)ircit« eleii«r;il. 5 ed. Porto Alegre: Verbo Juridico, 2016, p. 559.

R0 Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

do percentual de gênero, não há dis~ensade demonstracão de elemento


su bietivo consistente na vontade deliberada de burlar a norma jurídica,
ainda que tal elemento possa ser evidenciado por circunstâncias fáticas que
indiquem que os envolvidos sabiam ou dispunham de elementos para saber
que se tratava de candidatura simulada.
Não há exigência dirigida as mulheres de que demonstrem especial
engajamento e m suas campanhas ou, mesmo, que as proíba de renunciar. E de
outro modo não haveria de ser, se o fundamento da cota de gênero é uma
política afirmativa e m benefício das mulheres. Por isso, na análise da fraude,
não se pode partir da premissa de que existem exigências éticas e
morais mais rigorosas dirigidas as mulheres que aos homens, sob pena
de, subvertendo o propósito da cota de gênero, transformá-la em
instrumento de inibição e mesmo intimidação a mulheres que arrisquem
aproximação com o mundo da política.
Por conseguinte, para que se possa considerar comprovada a fraude, é
preciso haver nos autos elementos de prova que evidenciem, de forma cabal, a
adoção de subterfúgios destinados a preencher a lista proporcional com nomes
femininos dissociados de qualquer ato volitivo genuíno por parte das candidatas.
Não se pode confundir indícios, como votação inexpressiva ou zerada, renúncia,
abandono informal da campanha, gastos ínfimos ou inexistentes e omissão na
prestação de contas com provas de conluio para frustrar o objetivo da cota de
gênero de viabilizar a participação de mulheres na disputa eleitoral.
Ancorado nessa premissa, passo perquirir, no caso concreto, a
demonstração de atos de má-fé necessários a caracterizar a fraude na
composição da lista proporcional.
Nos presentes autos, a fraude foi alegada com base na votação zerada
e na ausência de atos e gastos de campanha de Amanda de Paula Vidal
Alvarenga, Creusa Maria Luiz e Angélica de Paula Vidal, e e m declaração desta
Última, colhida no contexto do Procedimento Preparatório Eleitoral conduzido
pelo Ministério Público, no sentido de que fora chamada se candidatar para

R0 Recurso Eleitoral n o 1085-20 2016.6.13.0089 19


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

'fechar o número partido".


A sentença concluiu que a fraude estava caracterizada porque: restou
comprovado nos autos que a apresentação das candidaturas femininas visou
exclusivamente a cumprir o requisito formal imposto pela legislação; das 7
candidatas registradas, quatro obtiveram O voto, e uma, apenas 1 voto; e m
momento algum, as candidatas demonstraram intenção de participar das
eleições; quatro das 7 candidatas t ê m parentesco com o candidato a vereador
Helisson Carlos Alvarenga JÚnior, político experiente, que não pretenderia
disputar votos com as candidatas; o depoimento de Angélica d e Paula Vidal
confirmaria que as candidaturas femininas foram utilizadas tão-somente para
possibilitar o aumento do número de candidaturas masculinas.
No mesmo sentido, o parecer do Procurador Regional Eleitoral, que
arrola, às fls. 338, 'os elementos que indicam a ocorrência de fraude" no caso:
'1- Não recebimento de nenhum voto; 2- Ausência de justificativa coerente para
a desistência das candidaturas; 3- Não realização de propaganda eleitoral pelas
candidatas desde o princípio da propaganda eleitoral; 4- Relação de parentesco
próximo entre as candidatas e também com o candidato que as convidou,
Helisson Alvarenga; 5- Depoimento de Angélica de Paula Vidal, confirmado e m
juizo, de que foi convidada apenas para 'fechar o partido' e foi comunicada da
desnecessidade de realização de propaganda eleitoral."
A prova produzida a partir de requerimento do autor consistiu,
basicamente, no depoimento pessoal de duas das candidatas acima referidas e
de outros. Em juizo, Amanda de Paula Vidal Alvarenga afirmou:

(...) foi candidata a vereadora nas últimas eleições pelo partido PROS; não
obteve nenhum voto, pois desistiu no meio da campanha; ninguém lhe
convidou para ser candidata; ninguém lhe convidou para ser candidata;
[...I tomou a iniciativa de desistir da candidatura no meio da campanha;
distribuiu santinhos para a mãe e o irmão; sua mãe e marido não votaram
em si; ingressou na política porque havia necessidade de lançar pessoas
novas; não tinha conhecimento de que sem u m numero mínimo de
mulheres não era possível a candidatura dos homens; acredita que sua
irmã tenha mentido ao afirmar que FAFA pediu para a declarante e a irmã
se candidatarem; não sabe por qual razão sua irmã se candidatou, pois

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 2O


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

não conversava com a mesma na época; conhece as demais candidatas e


não perguntou as mesmas por que se candidataram. (fls. 134).

Lindomarques Ferreira Lopes, que foi presidente do PRB e


representante da Coligação "Reencontro com o Progresso", assevera que:

Amanda, Creusa, Angélica foram candidatas; houve confecção de santinho


pelas referidas candidatas; as candidatas, e m momento algum,
comunicaram as desistências das candidaturas; não presenciou as
candidatas pedindo voto, pois não saia na rua, ficando mais com a parte
burocrática da coligação; acredita que u m candidato homem teve zero
votos, salvo engano, u m candidato do PR, mas não se recorda o nome do
mesmo, mas o apelido é Cacau. (fl. 137).

Já Angélica de Paula Vidal confirmou em juízo a declaração prestada


perante o Ministério Público Eleitoral, e m sede do Procedimento Preparatório (fls.
40 do apenso), e m que se lê:

(...) foi o sogro da irmã da depoente quem lhe solicitou que candidatasse
para que fechassem o numero de mulheres necessárias para o partido;
que o nome do sogro da sua irmã é Helisson, mas o apelido é Fafá; que
tal pessoa t a m b é m pediu para sua irmã, Amanda Vidal, para Josi
(Josiane), para Margareth e para a pessoa de nome Creuza Maria da Luz,
para 'fechar o número do partido', conforme se expressa; [...I a
depoente não fez campanha eleitoral, haja vista que quando foi
chamada para se candidatar, foi informada que somente o seria
para poder "ter o partido" e que não era necessário ter campanha
para se eleger e, por isso, sequer pediu voto para alguém; que
nenhuma contraprestação foi oferecida para que a depoente se
candidatasse; que a depoente não tinha pretensão nenhuma de ser
vereador e candidatou-se única e exclusivamente para fechar o partido.

Sendo estes os depoimentos colhidos, cabe analisá-los sob a ótica da


fraude que constitua abuso de poder praticado pelo partido na indicacão de
candidatos, como delineado na petição inicial.
Pois bem. Com a vênia devida, não se encontra fundamento para a
procedência dos pedidos.
Em nenhum dos casos, há relato de qualquer aproximação espúria por
parte de outros candidatos, que lhe houvessem oferecido dinheiro ou vantagem
para que se candidatassem ou para que deixarem a disputa.
Como visto do depoimento da primeira candidata, motivos pessoais a
levaram a abandonar a candidatura. O que se tem evi e m relação a

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


U
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Amanda de Paula Vidal Alvarenga e Creusa Maria L i ~ i zé apenas u m desestímulo


posterior ao ímpeto de se candidatar, que conduziu ao abandono informal da
candidatura.
Cabe apontar que a não formalização de renúncia não constitui
nenhuma irregularidade. Não vigora exigência legal que imponha o dever de que
o desinteresse na campanha se transmute e m renúncia, sendo este mais u m
ponto e m que cabe o alerta para que não se analise a conduta das candidatas
com rigor maior que aquele com que se analisaria a de candidatos. Uma vez que
a decisão individual por ingressar na disputa eleitoral, assim como dela desistir,
formalmente ou não, não exige fundamentação lógica e racional, não se reputa
comprovada a fraude alegada.
Já no caso de Angélica de Paula Vidal, ela confirma o que havia dito
perante o Ivlinistério Público, quando abertamente admitiu t e r sido convidada por
u m vereador a compor a lista de candidatos, e m razão da exigência de
percentual de gênero. A questão, então, é se o simples uso estratégico do
registro de uma determinada candidata, para viabilizar o registro do DRAP da
lista proporcional como u m todo, basta para a configuração da fraude e abuso de
poder.
Com a vênia devida, eu entendo que não. E trago a cotação o RE no
212-65, caso muito similar ao ora sob exame, recentemente julgado por esta
corte, e m que também uma das candidatas, e m seu depoimento, afirmou que se
candidatou para promover o preenchimento do requisito da cota de gênero.
Naquela ocasião, prevaleceu o judicioso voto do e. Juiz Paulo Abrantes, ao qual
m e filiei e cujos fundamentos reproduzo:

Entendo que não é democrático nem republicano exigir que aquela mulher
que se apresenta como candidata obrigatoriamente e sob pena de
responder a processo, seja compelida a demonstrar que sua candidatura
não é fraudulenta, até porque, não vislumbro que essas mesmas
exigências tenham sido dirigidas contra aqueles candidatos do sexo
masculino, o que pode até configurar u m atentado a própria finalidade da
lei que estabeleceu cotas, para não falar na bra do princípio da
isonomia ou igualdade de todos perante a lei.
Em analogia, parece-me que pelo raciocínio cons e da inicial, também

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 22


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devesse ser processado o candidato em um processo vestibular que se


candidatou para preenchimento de vaga por cota racial, religiosa ou etc.,
e que não compareceu para submeter-se à prova ou, uma vez aprovado,
não se matriculou e, até o momento, não é de meu conhecimento a
existência de nenhum processo nesse sentido, por absurdo que possa ser.
Demais disso, vejo na eventual procedência do pedido u m sério conflito
entre a vontade do eleitor, que conferiu aos investigados o direito de
representação através do voto, com inegável relativização dessa própria
vontade popular.
A realidade é que existem várias ações em tramitação, com 20 ou mais
candidatos que correm risco de terem seus mandatos cassados, em razão
da alegação de fraude que, a meu juízo, não pode ser questão maior do
que a vontade popular, vez que o voto e o mandato são a essência da
democracia e, consequentemente, não podem ser relativizados e devem
ser considerados como princípios maiores.
Que se exija o cumprimento da lei, porque é uma exigência legal a
observância da cota, mas também há o princípio constitucional da
legalidade e o da livre autodeterminação da pessoa, no sentido de que
"ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei".
Assim, não há, no meu modo de ver, nenhuma imposição legal, no sentido
de se exigir que as candidatas investigadas fossem obrigadas a sair, a
campear ou a granjear votos. Teria que haver uma comprovação muito
robusta, no sentido de que essa fraude foi perpetrada por todos os
candidatos cujos mandatos estão sob o risco da alegação. Então,
somente a vontade ou não da pessoa em participar do processo eleitoral -
não me convence e não me da tranqüilidade suficiente para acolher uma
impugnação dos votos e, por conseqüência, da vontade e da soberania
popular de todas essas regiões.
Por tudo isso é que me coloco contrariamente a pretensão. Para mim,
deve ficar comprovado bem todo esse conluio, deve haver uma prova
robusta demonstrando-se a existência de fraude a lei e não me bastam as
presunções.

Veja-se que o direito de pleitear candidatura é e m si u m direito


fundamental, que permite ao cidadão compor a estrutura do próprio Estado,
como membro de um dos Poderes políticos. A constituição e, mais
especificamente, a lei eleitoral impõem uma série de condições a serem
cumpridas para que esse direito seja exercido, mas, entre elas, não se inclui a
virtude cívica ou a motivação desinteressada de contribuir para o bem comum.
Na verdade, o Direito não exige de ninguém, seja homem ou mulher, que
justifique por que se candidata.
Ao contrario, admite-se tanto a candidatura de q u realmente t e m
por fim a boa gestão da coisa pública quanto daqueles que m a atividade
política como meio para a satisfação de interesses pessoais n dados por lei.

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 1


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Ou seja, o uso estratégico da política e m geral e das candidaturas e m particular


é lícito. Em se tratando de candidaturas masculinas, isso ocorre diuturnamente,
sem causar maior perplexidade.
Na verdade, o próprio sistema proporcional - o modo como ele se
organiza - favorece o lançamento de candidaturas estratégicas, na medida e m
que, por meio do quociente eleitoral, faz o destino dos candidatos depender do
de toda a legenda. Não por outra razão, nas eleições para vereador, candidatos
mais experientes e que dispõem de recursos para campanha saem a procura de
pessoas relativamente conhecidas e m seu bairro ou região e os convencem a
também se candidatar. No mais das vezes, dada a falta de recursos e
experiência, as chances reais desses candidatos são baixíssimas e suas
candidaturas não incentivadas só porque funcionam como u m chamariz dos
votos necessários para atingir o quociente eleitoral. Essa prática é conhecida, e,
não havendo lei que a proíba, lícita.
Feita essa comparação, salta aos olhos a desproporcionalidade do Ônus
que se quer impor as candidaturas femininas e m casos como o ora sob exame.
Ressai do exame dos autos que, no momento do registro de
candidaturas, a regra do art. 10, 5 30, da Lei no 9.504/97 foi cumprida, sem que
tenha ficado comprovada a simulação de candidatura que pudesse viciar o
preenchimento de tal requisito e atingir a legitimidade e a normalidade das
eleições.
Extrai-se, ademais, e m cotejo com a jurisprudência do TSE, que a
fraude apta a caracterizar abuso e acarretar a cassação do mandato por meio de
AIME deve ficar provada de forma robusta, não podendo ser apenas presumida
pelo contexto fático:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO D E IMPUGNAÇÃO D E MANDATO ELETIVO.
ELEIÇÕES 2006. DEPUTADO FEDERAL. RECURSO ORDINÁRIO.
CABIMENTO. ART. 121, g 40, IV, DA COIVSTITUIÇÃOFEDERAL. ABUSO DO
PODER E C O N ~ M I C OPOLÍTICO
, E D E AUTORIDADE. CAPTAÇÃO ILÍCITA
D E SUFRÁGIO. PROVA ROBUSTA. AUSÊNCIA.
1. E cabível recurso ordinário quando a decisão recorrida versar matéria
que enseja a perda do mandato eletivo estadual federal, tenha ou não
sido reconhecida a procedência do pedido.
2. E incabível ação de impugnação de mand tivo com fundamento

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 24


e m abuso do poder político ou de autoridade strictu sensu, que não possa
ser entendido como abuso do poder econômico.
3. A ação de impugnação d e mandato eletivo exige a presença de prova
forte, consistente e inequívoca.
4. Do conjunto probatório dos autos, não há como se concluir pela
ocorrência dos ilícitos narrados da inicial.
Recurso ordinário desprovido.
(Recurso Especial Eleitoral no 28928, Acórdão, Relator(a) Min. Marcelo
Henriques Ribeiro, Publicação: DJE - Diário Justiça Eletrônico, Tomo 38,
Data 25/2/2010, Página 28/29)

Confirma-se, por conseguinte, o desacerto da sentença, que, com rigor


excessivo, divisou na conduta das candidatas uma anormalidade que transborda
para a ilicitude.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso para reformar a sentença
e julgar improcedentes os pedidos.
É como voto.

PEDIDO DE VISTA

O JUIZ FEDERAL JOÃO BATISTA RIBEIRO - Sr. Presidente, quanto ao


mérito, após ouvir a exposição do Relator, cheguei a conclusão de que houve u m
equívoco quanto ao voto escrito que eu trouxe.
Vou pedir vista dos autos para reexaminar quanto ao mérito.

O JUIZ PAULO ROGÉRIO ABRANTES - Sr. Presidente, e m antecipação


de voto, coerente com o que tenho decidido e c forme j á m e manifestei, estou
acompanhando integralmente o voto do Relator.

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GEMI'S

Sessão de 19/2/2018

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrentes: Rones Carlos da Costa, candidato a Vereador eleito; Marcos
Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador eleito
Advogados: Drs. Augusto Mário Caldeira Paulino; Augusto Mario Menezes
Paulino; Elaine Pereira de Oliveira; Júlio Firmino da Rocha Filho
Recorrido: Ministério Público Eleitoral

Decisão: Rejeitaram, por maioria, a preliminar de litisconsórcio passivo


necessário, nos termos do voto do Relator. Pediu vista o Juiz João Batista
Ribeiro, após o Relator e, e m antecipação regimental de voto, o Juiz Paulo
Rogério Abrantes, darem provimento ao recurso.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Edgard Penna Amorim. Presentes os Exmos. Srs.
Des. Alexandre Victor de Carvalho e Juizes Paulo Rogério Abrantes, Ricardo
Torres Oliveira, Ricardo Matos de Oliveira, Antônio M g u s t o Mesquita Fonte Boa e

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

Sessão de 10/3/2018

VOTO DE VISTA DIVERGENTE

Em sua analise de mérito, o i. Relator da provimento aos recursos,


reformando a sentença e julgando irriprocedentes os pedidos.
Peço vênia ao ilustre Relator para divergir de seu voto. Apesar
de seu judicioso entendimento, os fatos trazidos nos autos apontam, em meu
juízo, para caminhos diversos daqueles elencados e m seu voto.
Inicialmente, é patente a ausência de vontade de Angélica de Paula
Vidal e m se candidatar. Durante sua oitiva e m procedimento preparatório (fl.
40), confirmada durante audiência judicial (fl. 134), afirma que "foi candidata a
vereadora pelo partido PROS, sendo que foi o sogro da irmã da depoente
quem lhe solicitou que candidatasse para que fechasse o número de
mulheres necessários para o partido" (sic).
Sua irmã, Amanda de Paula Vidal Alvarenga, também ouviu
comentários sobre precisarem "de mulher para fechar o partido" (fl. 41),
apesar de não achar que seria seu caso.
Angélica ainda traz detalhes das conversas com o sogro de sua irmã:
"quando FAFA [Helisson Carlos Alvarenga] disse que fecharam o número
do partido, deduziu que havia necessidade de mulheres" (fl. 133, autos).
No depoimento de Helisson Carlos Alvarenga Júnior, pode-se
vislumbrar que sua mãe, mulher de Fafá, também foi candidata: "CREUSA é sua
mãe e também se candidatou" (fl. 135).
Logo, por meio dos depoimentos pessoais, fica claro que as três
candidatas são parentes entre si. Ao depor e m juízo, Angélica
disse que (fls. 170-171):

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

"foi candidata nas Últimas eleições pelo partido PROS; não obteve nenhum
voto já que nem a declarante votou e m si; os próprios familiares começaram a pedir
as coisas e, como não tinha dinheiro, paralisou a campanha.
[...I Confirma seu depoimento prestado perante a Promotoria de
Justiça no apenso investigatório; não tinha conhecimento de que sem u m número
mínimo de mulheres não era possível ao partido lançar os candidatos; quando FAFA
disse que fecharam o número do partido, deduziu que havia necessidade de mulheres;
não conversou com nenhuma das demais candidatas e por isso não sabe informar se
elas tinham interesse na candidatura; não viu nenhuma das candidatas realizar
campanha eleitoral.
[...I filiou ao PROS no ano da campanha; ninguém lhe procurou para se filiar;
fez a filiação na casa da pessoa de nome Neyval; é irmã gêmea da senhora Amanda; a
declarante e sua irmã são cunhadas do Josiane; não sabe informar se Josiane e sua
irmã fizeram campanha fora da família; não sabe informar quem auxiliava durante os
trabalhos convencionados; a reunião da convenção ocorreu na casa de Neyval; sua
irmã e cunhada estavam presentes no dia da convenção; deduziu que a pessoa de
nome Hellison convidou Amanda e Josiane para filiação; durante a convenção
ninguém lhe disse que seria candidata apenas para fechar o partido; sua irmã
não disse que foi candidata apenas para fechar o partido; não se recorda com qual
número concorreu as eleições; recebeu dez mil santinhos, mas distribuiu no máximo
quinhentos; acredita que sua irmã e cunhada, também, receberam santinhos, já que
na família fizeram campanha; os santinhos foram apanhados na casa de Neyval."

A testemunha Angélica confirmou o depoimento perante o


representante do Ministério Público (fl. 40 do procedimento) e nesse depoimento
ela diz textualmente que foi o sogro de sua irmã que lhe pediu para se
candidatar para fechar o número de candidatas no partido. Por isso, está valendo
essa confissão
No depoimento pessoal, Amanda de Paula Vida Alvarenga (f1.168, v.)
disse que:
"foi candidata a vereadora nas últimas eleições pelo PROS; não obteve
nenhum voto, pois desistiu no meio da campanha; ninguém lhe convidou
para ser candidata; confirma seu depoimento prestado perante a
Promotoria de Justiça no apenso investigatório.
[...I tomou a iniciativa de desistir da candidatura no meio da campanha;
distribuiu santinhos para a mãe e o irmão; sua mãe e marido não votaram
e m si; ingressou na política porque havia necessidade de lançar pessoas
novas; não tinha conhecimento que sem u m número mínimo de mulheres
não era possível a candidatura dos homens; acredita que sua irmã tenha
mentido ao afirmar que FAFA pediu para a declarante e a irmã se
candidatarem; não sabe por qual razão sua irmã se candidatou, pois não
conversava com a mesma na época; conhece as demais candidatas e não
perguntou as mesmas porque se candidataram.
E filiada ao PROS desde o ano passado; ninguém lhe proc
filiar; fez a filiação na casa da pessoa de nome Neyval; é ir

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 28


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

senhora Angélica; a declarante e sua irmã são cunhadas de Josiane; não


sabe informa se Josiane e sua irmã fizeram campanha; não sabe informar
quem auxiliava durante os trabalhos convencionais; a convenção ocorreu
na casa de Neyval; não se recorda se sua irmã e cunhada estavam
presentes no dia da convenção."

O relator entende que o mero uso estratégico do registro de uma


candidata mulher, para cumprir a exigência legal do percentual de gênero, não é
suficiente para a configuração da fraude. Discordo do e. Relator
Para a configuração da fraude é necessária a vontade do agente e m
- ..
realizar u m ato com aparência legal para a consecução, na verdade, de objetivo
vedado pela legislação. Assim, a estratégia adotada também deve ser
submetida a Lei.
A utilização de candidaturas estratégicas, com a determinação, pelo
partido político, de determinadas mulheres que queiram concorrer as eleições é
válida, desde que, como dito, não haja burla a lei. A permissão da utilização de
candidatas que só existem como tal para "fechar o número de mulheres
necessárias para o partido" inviabiliza a participação feminina, pois ocupa
eventuais vagas que outras mulheres, pelo sentimento de dever cívico ou
vontade de, ao menos, concorrer, gostariam de utilizar.
Apesar da validade da forma e legitirriidade da escolha, ela foi
realizada com u m único objetivo: burlar a legislação eleitoral. Assim, o propósito
de sua realização não é consistente com a forma na qual se reveste.
A definição estratégica de candidatos para burlar a mens legís deve ser
prontamente afastada, visando a manutenção da intenção buscada pelo
legislador:
Note-se que, conquanto se aplique indistintamente a ambos os sexos, a
regra em apreço foi pensada para resguardar a posição das mulheres, que
tradicionalmente não desfrutam de espaço relevante no cenário político,
em geral controlado por homens. Também nesses domínios, a
discriminação contra a mulher constitui desafio a ser superado. Ainda nos
dias de hoje, é flagrante o baixo número de mulheres na disputa pelo
'
poder estatal, fato de todo lamentável em u m m que elas já são
maioria. Consoante evidenciado pelo senso de ico realizado pelo
IBGE em 2010, a população feminina era, naqu de 51% do total
contra 49% da masculina (disponível em : http:/ ge.com.br/home/

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089 29


- sinopse dos resultados do Censo 2010. Acesso em: 30-4-2011).
Também são maioria nas universidades e instituições d e ensino superior,
respondendo, ademais, por expressiva fatia dos mercados de trabalho e
consumo (GOMES, J. J. Direito Eleitoral. 12a Ed. São Paulo: Atlas, 2016)

As mulheres aqui arroladas são todas parentes entre si, nenhuma com
qualquer voto. Há indícios suficientes para condenação, como se viu do
depoimento de Angélica, mormente porque ela confirmou o depoimento perante
o Ministério Público nesses termos (Procedimento Eleitoral e m apenso, fl. 40):

"Aos 7 de dezembro de 2016, que pelo que se recorda, foi candidata a


vereadora pelo Partido PROS, sendo que foi o sogro da irmã da depoente
quem lhe solicitou que candidatasse para que fechasse o número d e
mulheres necessários para o partido; que o nome d o sogro da sua irmã
Helisson, mas o apelido é Fafá; que tal pessoa t a m b é m pediu para sua
irmã, Amanda Vidal, para Josi (Josiane), para Margareth e para pessoa d e
nome Creuza Maria d e Luiz, para "fechar o número do partido". [...I"

Assim, ao confirmar e m Juízo o depoimento perante o Ministério


Público, esse depoimento passa a integrar o termo de depoimento pessoal do
Juízo.
Tal contexto fático, alinhado com a declaração, confirmada em
juízo, de Angélica, demonstra claramente a busca por romper a vontade
da lei, congregando "candidatas" que lá se encontram somente para a
finalidade de cumprir a "quota de gênero", sem qualquer vontade de
serem candidatas.
Além disso, conforme apontado acima, elas - e não só elas,
mas os demais que concorreram para o ato - tinham a possibilidade de
saber ser contra a lei t a l definição.
IVão é apenas o registro de candidatas sem sua manifestação de
vontade que pode ser considerado fraudulento. A manifestação volitiva das
candidatas, que buscam finalidade que se opõe a lei, também o é.
De forma diversa do apresentado pelo i. Relator, nã acredito ser o
presente caso u m Ônus mais gravoso imposto as mulheres. É d snecessária a
exigência de justificativa para a candidatura, assim como ormalização

R0 Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

de sua desistência. Porém a justificativa, quando fornecida, não pode


passar ao largo da lei.
Fica clara, a meu ver, a existência de candidatas apresentadas
somente com a finalidade de preenchimento dos requisitos determinados pela lei
no artigo 100, 930, da Lei 9.504/97, inexistindo vontade real das candidatas e m
pleitearem o cargo público. Assim, impedem que as mulheres tenham realmente
uma maior participação como candidatas no pleito eleitoral.
Por fim, entendo que não incide a previsão no art. 368-A que dispõe
que: "A prova testemunhal síngular, quando exclusiva, não será aceita nos
processos que possam levar a perda do mandato." Pois, no caso, há uma
confissão e vários indícios de que a fraude, de fato, ocorreu.
Deve-se ressaltar, também, que a ação de impugnação de mandato
eletivo foi ajuizada para apurar fraude da Coligação/Partido para burlar o
percentual mínimo de 3O0/0 de candidaturas do sexo feminino, conforme previsto
no art. 10, 9 30 da Lei no 9.504/97. Portanto, o que importa nestes autos é que
a fraude beneficiou todos os candidatos diplomados, independentemente de
existência de responsabilidade daquele que se beneficiou.
Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS, para manter
a sentença que cassou os diplomas dos recorrentes.
É como voto.

ANTECIPAÇÃO DE VOTO t

O JUIZ RICARDO TORRES OLIVEIRA - De acordo c Relator.

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


Sessão de 10/3/2018

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrentes: Rones Carlos da Costa, candidato a Vereador eleito; Marcos
Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador eleito
Advogados: Drs. Augusto Mário Caldeira Paulino; Augusto Mario Menezes
Paulino; Elaine Pereira de Oliveira; Júlio Firmino da Rocha Filho
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Registrada a presença do Dr. Júlio Firmino da Rocha Filho, advogado do
recorrente

Decisão: O Tribunal rejeitou, por maioria, a preliminar de litisconsórcio passivo


necessário, nos termos do voto do Relator. Suspendeu-se o julgamento para
colher o voto do Des. Alexandre Victor de Carvalho e do Juiz Ricardo Matos de
Oliveira, após o Relator, os Juízes Paulo Rogerio Abrantes, Ricardo Torres
Oliveira darem provimento ao recurso e o Juiz João Batista Ribeiro a ele negar
provimento.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Edgard Penna Amorim. Presentes os Exmos. Srs.
Des. Pedro Bernardes e Juízes Pa~iloRogerio Abrantes, Ricardo Torres Oliveira,
Ricardo Matos de Oliveira, Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa e poão Batista
Ribeiro e o Dr. Ângelo Giardini de Oliveira, Procurador Regional Eleit

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Sessão de 26/3/2018

O DES. PRES:[DENTE - Em sessão de 10/3/2018, suspendeu-se o


julgamento para colher o voto do Des. Alexandre Victor de Carvalho e do Juiz
Ricardo Matos de Oliveira.

VOTO DIVERGENTE

O DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO - MERITO


Embora perfilhe o entendimento do em. Relator quanto a "Inexistência
de preceito normativo que vincule a decisão acerca das candidaturas femininas
ao comprometimento com a campanha ou cumprimento de u m dever cívico, não
exigido das candidaturas masculinas", peço vênia para dele divergir, pois a meu
sentir, as provas dos autos são claras a demonstrar a fraude perpetrada no
registro das candidaturas de quatro candidatas da coligação.
No caso e m análise, a Coligação teve dois candidatos eleitos, dentre
eles Helisson Carlos Alvarenga, que obteve 2 6 1 votos para sua reeleição.
Dos depoimentos colhidos pelo Ministério Público Eleitoral em
procedimento preliminar e corroborados e m juízo, das sete candidaturas
femininas, quatro foram intermediadas por Helisson, com pessoas com quem ele
mantém, direta ou indiretamente, vínculos familiares: sua esposa, Creusa Maria
Luiz, sua nora, Amanda de Paula Vidal Alvarenga, a irmã da nora, Angélica de
Paula Vidal, e Josiane Lima Ambrósio, que é cunhada de Amanda e Angélica.
Segundo depoimento de Angélica, "foi o sogro da irmã da depoente quem lhe
solicitou que candidatasse para que fechasse o n ro de mulheres
necessários ao partido."
Como bem observou o MM. Juiz a quo,

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE M I N A S GERAIS

Ora, não é crível que u m político tarimbado, que certamente conhece o


funcionamento do sistema eleitoral, num colégio eleitoral onde u m voto
pode representar a diferença entre a vitória e a derrota, iria disputar votos
e m seu círculo familiar, onde as candidatas do sexo feminino,
curiosamente, tiveram votação zerada enquanto o próprio candidato teve
261 votos.

Ressalte-se que as candidatas não realizaram qualquer tipo de


campanha eleitoral para si próprias, porém confirmaram que atuaram a favor da
candidatura de Helisson, o que reforça a certeza de que suas candidaturas eram
fictícias.

Colaciono trecho do parecer ministerial, que resume com clareza o


conjunto de provas do cometimento da fraude:

Em suma, são esses os elementos que indicam a ocorrência de fraude:


1. Não recebimento de nenhum voto;
2. Ausência de justificativa coerente para a desistência das candidaturas;
3. Não realização de propaganda eleitoral pelas candidatas desde o
princípio da campanha eleitoral;
4. Relação de parentesco próximo entre as candidatas e também com o
candidato que as convidou, Helison Alvarenga;
5. Depoimento de Angélica de Paula Vidal, confirmado e m juízo, de que foi
convidada apenas para 'fechar o partido" e foi comunicada da
desnecessidade de realização de propaganda eleitoral.

Pelo exposto, comprovada a fraude no registro da coligação realizado


mediante o uso de candidaturas femininas fictícias, renovada a vênia, nego
provimento ao recurso.
É como voto.

VOTO CONVERGENTE

O JUIZ RICARDO MATOS DE OLIVEIRA - Sr. Presidente, da analise que


fiz destes autos, diferentemente de como votei naquele proc
procedente, data vênia do Juiz João Batista Ribeiro e do De xandre Victor
de Carvalho, acompanho o Relator.

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

Sessão de 26/3/2018

EXTRATO DA ATA

Recurso Eleitoral no 1085-20.2016.6.13.0089


Relator: Juiz Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa
Recorrentes: Rones Carlos da Costa, candidato a Vereador eleito; Marcos
Felicíssimo Gonçalves, candidato a Vereador eleito
Advogados: Drs. Augusto Mário Caldeira Paulino; Augusto Mario Menezes
Paulino; Elaine Pereira de Oliveira; Júlio Firmino da Rocha Filho
Recorrido: Ministério Público Eleitoral
Registrada a presença do Dr. Júlio Firmino da Rocha Filho, advogado do
recorrente

Decisão: O Tribunal rejeitou, por maioria, a preliminar de litisconsórcio passivo


necessário, nos termos do voto do Relator, e deu provimento ao recurso, nos
termos do voto do Relator, vencidos parcialmente o Juiz João Batista Ribeiro e,
totalmente, o Des. Alexandre Victor de Carvalho.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Pedro Bernardes. Presentes os Exmos. Srs. Des.
Alexandre Victor de Carvalho e Juízes Paulo Rogerio Abrantes, Ricardo Torres
Oliveira, Ricardo Matos de Oliveira, Antônio Augusto Mesquita Fonte Boa e João
Batista Ribeiro e o Dr. Ângelo Giardini de Oliveira, Procurador Regi Eleitoral.

Recurso Eleitoral n o 1085-20.2016.6.13.0089


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Certifico e dou fé que o acórdão de fls. 346/38S, fc)Z
diçponibilizado no Diário da Justiça Eletrônico - CllE -
(www.tre-ms.jus.br) na data de 89/C4/2Cl:i I;,
considerando-se publicado no dia IO/C4/2O:LE:,
iniciando-se o prazo processual no primeiro dia fiti!
seguinte a publicação, nos termos da Lei no
11.419/2006, art. 40, 5 40. Belo H(.irlz.r~rs:e,
10/04/2018.

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SEPUB/COS

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