Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 4
BREVE ANÁLISE DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................................................... 6
1. Os Pressupostos e Fundamentos do Controle de Constitucionalidade ....................................................... 8
1.1. Pressupostos do controle de constitucionalidade ............................................................................... 8
1.2. Fundamentos do controle de constitucionalidade ........................................................................... 12
2. A Evolução do Controle de Constitucionalidade no Mundo e no Brasil .................................................. 16
2.1. O modelo norte americano de controle de constitucionalidade: o judicial review ..............................
......................................................................................................................................................... 17
2.2. O modelo europeu de controle de constitucionalidade: os tribunais constitucionais ....................... 21
2.3. A evolução do controle de constitucionalidade no Brasil: o controle misto .................................... 23
3. As Diversas Classificações do Controle de Constitucionalidade ............................................................. 26
3.1. Os controles formal e material ......................................................................................................... 26
3.2. Os controles difuso e concentrado ................................................................................................... 27
3.3. Os controles concreto e abstrato ...................................................................................................... 27
4. A Interpretação Constitucional Especializada e suas Implicâncias no Controle de Constitucionalidade . 29
4.1. A interpretação conforme a constituição ......................................................................................... 29
4.2. A declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto .............................................. 30
SÍNTESE DO PROCESSO LEGISLATIVO BRASILEIRO ................................................................................ 32
1. Contextualização Teórica do Processo Legislativo .................................................................................. 33
1.1. Os conceitos de lei ........................................................................................................................... 34
1.2. O processo legislativo fundamentado .............................................................................................. 35
2. Organização do Poder Legislativo Brasileiro ........................................................................................... 38
2.1. Bicameralismo federativo formador do Congresso Nacional .......................................................... 38
2.2. Câmara dos Deputados .................................................................................................................... 39
2.3. Senado Federal ................................................................................................................................ 39
2.4. Órgãos atuantes da produção legislativa no Congresso Nacional .................................................... 40
3. Visão Geral do Processo Legislativo Brasileiro na Constituição Federal de 1988 ................................... 41
3.1. As espécies legislativas ................................................................................................................... 42
3.2. Classificação do processo legislativo em relação à seqüência de fases procedimentais e sua
celeridade ...................................................................................................................................................... 43
3.3. O processo legislativo ordinário como objeto de estudo ................................................................. 44
4. O Processo Legislativo Ordinário na Constituição Federal de 1988 ........................................................ 44
4.1. Fase introdutória .............................................................................................................................. 44
4.2. Fase constitutiva .............................................................................................................................. 45
4.3. Fase complementar .......................................................................................................................... 48
ANÁLISE DA CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DO ARTIGO 475-N, I DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL .................................................................................................................................................................... 50
1. A Nova Reforma do Código de Processo Civil Brasileiro e a Reforma do Judiciário como Contexto à
Alteração do Artigo 475-N, I............................................................................................................................. 50
1.1. O artigo 475-N, I do Código de Processo Civil ............................................................................... 51
3
INTRODUÇÃO
1
Cf. Paulo BONAVIDES, Curso de direito constitucional, p. 296-299, 318.
2
“O controle formal é, por excelência, um controle estritamente jurídico. Confere ao órgão que o exerce a competência de
examinar se as leis foram elaboradas de conformidade com a Constituição, (...), enfim, se a obra do legislador ordinário
não contravém preceitos constitucionais pertinentes à organização técnica dos poderes ou às relações horizontais e verticais
desses poderes, bem como dos ordenamentos estatais respectivos, como sói [sic] acontecer nos sistemas de organização
federativa do Estado.
5
“O controle, que é de feição técnica, está volvido assim para aspectos tão-somente formais, (...).” (Paulo Bonavides, Curso
de direito constitucional, p. 297).
3
Sobre a natureza substancialmente política do controle de constitucionalidade, podemos citar a afirmação de Bonavides a
respeito: “O controle material de Constitucionalidade é delicadíssimo em razão do elevado teor de politicidade de que se
reveste, pois incide sobre o conteúdo da norma. Desce ao fundo da lei, outorga a quem o exerce competência com que
decidir sobre o teor e a matéria da regra jurídica, busca acomoda-la aos cânones da Constituição, ao seu espírito, à sua
filosofia, aos seus princípios políticos fundamentais.” (grifos do autor). Paulo BONAVIDES, Op. cit., p. 299.
4
Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, volume 1: comentários sistemáticos às
Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 160-162.
5
CÂMARA DOS DEPUTADOS, www.camara.gov.br, acessado em 03 de novembro de 2007; SENADO FEDERAL,
www.senado.gov.br, acessado em 03 de novembro de 2007.
6
6
A singela definição de Constituição aqui apresentada tem o único escopo de contextualizar o trabalho apresentado, não se
dirigindo a determinar um sentido único e abarcador de toda a complexidade de tal documento. Como bem afirma
Bonavides, o vocábulo “constituição” já possui em si acepções por demais diversas. A respeito disto, para efeito
ilustrativo, vale a lição do mestre cearense:
“A palavra Constituição abrange toda uma gradação de significados, desde o mais amplo possível – a Constituição em
sentido etimológico ou seja relativo ao modo de ser das coisas, sua essência e qualidades distintivas – até este outro em que
a expressão se delimita pelo adjetivo que a qualifica, (...).
“(...).
“Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição da
competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como
sociais. Tudo quanto for, enfim, conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem política exprime o
aspecto material da Constituição.” (Grifos do autor. Paulo BONAVIDES, Curso de direito constitucional, p. 80).
7
Ferdinand Lassale expressou sua teoria a respeito da essência das constituições em uma conferência em Berlim no ano de
1862. Em linhas gerais, entendia que existem duas Constituições: uma jurídica, que é o documento político-jurídico aqui
tratado, instituidor das normas constitucionais; e outra, real, expressão máxima das relações fáticas de poder existentes
num país. Segundo o autor, a Constituição jurídica tem sua capacidade de regular submetida à sua adequação à
Constituição real, pois num conflito entre ambas, é esta última sempre a vitoriosa. Sua teoria foi muito bem enfrentada já
no século XX por Konrad Hesse. Para maiores detalhes sobre ambos posicionamentos, Cf. Ferdinand LASSALE, A
essência da constituição, p. 1-40; Konrad HESSE, A força normativa da constituição, p. 1-34.
7
8
Konrad HESSE, A força normativa da constituição, p. 16.
9
A esse respeito Cf. Paulo BONAVIDES, Curso de direito constitucional, p. 296; Luís Roberto BARROSO, O controle de
constitucionalidade no direito brasileiro, p. 1-2; Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 130-134; Rogério Bastos
ARANTES, Judiciário e política no Brasil, p. 27; José Afonso da SILVA, Comentário contextual à constituição, p. 537-
538; Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p. 598; Luiz Alberto David ARAUJO; Vidal Serrano NUNES
JÚNIOR, Curso de direito constitucional, p. 24-25.
10
Cf. Hans KELSEN, Op. cit., p. 126-129.
11
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 25-27; Luis Roberto BARROSO, Op.
cit., p. 2; Hans KELSEN, Op. cit., p. 181-182.
12
Conforme exposto, atualmente, a doutrina constitucional mais evoluída tende a considerar como obsoleta a divisão teórica
entre esses modelos. Neste sentido, cabe a observação de Francisco Segado: “Em resumen, la justicia constitucional, em el
nuevo siglo XXI, se nos presenta perfilada por uma serie de situaciones peculiares que aunque encontrando su origen em
8
épocas más o menos anteriores, han venido convergiendo y, a la par, acentuando sus rasgos: el proceso de progresiva e
ininterrumpida convergência entre los dos clásicos sistemas de justicia constitucional, la quiebra frontal del modelo
kelseniano del ‘legislador negativo’ com el subsiguiente rol creativo de Tribunales Constitucionales y la enorme
heterogeneidad y generalizada mixtura e hibirdácion de los actuales sistemas de justicia constitucional, han desencadeado
la obsolescência de la clásica bipolaridad ‘sistema americano – sistema europeo-kelseniano’, haciendo necesaria la
búsqueda de uma nueva tipologia que nos ofrezca uma mayor capcidad analítica de los sistemas de justicia constitucional”
(Sem negritos no original. Francisco Fernández SEGADO, La obsolescência de la bipolaridad “modelo americano-
modelo europeo-kelseniano” como critério analítico del control de constitucionalidad y la búsqueda de uma nueva
tipología explicativa, p. 5). Não obstante, apresentaremos tal bipolaridade, pois os sistemas ocidentais atuais de controle de
constitucionalidade, de uma forma ou de outra, derivam desses idéias, que se encontram na origem desse pensamento.
9
Ora, essa distribuição lógica das normas significa, segundo a teoria que
estamos expondo, que elas se ordenam, subordinando-se umas às outras,
gradativamente, obedecendo à estrutura de uma pirâmide: na base estão
inúmeras regras ou normas particulares, seguindo-se, em ordem de
subordinação crescente, as jurisprudenciais, as legais de Direito Privado e
as de Direito Público, até se atingir, no âmbito deste, o plano normativo
supremo que é o Constitucional, plano originário das competências, do
qual se originam todas as expressões normativas que dele recebem a sua
validade. (Sem negritos no original) 13
Dessa sorte, fica claro que a rigidez constitucional deriva da distinção formal
entre norma constitucional e norma legal lato sensu (norma infraconstitucional na acepção
contemporânea). Vale dizer, uma Constituição é considerada rígida quando o processo
necessário para alteração de suas normas é diferenciado e mais complexo do que o processo
de alteração legislativa ordinária, de modo a dificultar a alteração constitucional.
16
J. J. Gomes CANOTILHO, Direito constitucional e teoria da constituição, p. 245-246.
17
Aqui é de se notar a lição de Carlos Ari Sundfeld, para o qual princípios são “as idéias centrais de seu respectivo sistema,
ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a compreensão de seu modo de organizar-se” (Carlos Ari
SUNDFELD, Fundamentos de direito público, p. 143).
18
Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 131.
11
Parece-nos claro, por conseguinte, que, caso não haja uma Constituição com
um mínimo de rigidez, não teremos como aplicar o controle de constitucionalidade, visto que
uma norma que “viole” a Constituição, na verdade, irá revogar esta última por critério
cronológico, já que não haveria diferenciação entre normas infraconstitucionais e
constitucionais. O controle de constitucionalidade pressupõe uma Constituição minimamente
rígida.
19
Conforme afirma o próprio Hesse: “(...). A ‘constitucionalização’ de interesses momentâneos ou particulares exige, em
contrapartida, uma constante revisão constitucional, com a inevitável desvalorização da força normativa da
Constituição.” (Sem negritos no original. Konrad HESSE, A força normativa da constituição, p. 21).
20
“Esta classificação [Constituições rígidas ou flexíveis], que muitos autores compreendem como de pouca utilidade,
servindo apenas como instrumento didático para facilitar a compreensão dos processos de reforma constitucional, esconde,
na realidade, a decisão fundamental em torno da opção entre um Estado mais constitucional, no sentido de
assegurador de direitos e princípios de organização do poder, ou de um Estado em que a regra da maioria consiste no
procedimento por excelência de tomada de decisão política.” (Sem negritos no original. Oscar Vilhena VIEIRA,
Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 28).
21
Cf. Ibid., p. 28-34; Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p. 41. Deve-se salientar ainda que a maior parcela da
doutrina não entende haver a classificação de Constituições super-rígidas, sendo tal categoria integralmente abarcada pela
anterior, de Constituições rígidas. Neste último sentido, Cf. Luiz Alberto David ARAUJO; Vidal Serrano NUNES
JÚNIOR, Curso de direito constitucional, p. 4; Paulo BONAVIDES, Curso de direito constitucional, p. 83; J. J. Gomes
CANOTILHO, Direito constitucional e teoria da Constituição, p. 1059.
22
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 29. O autor inclui Israel entre os países
que detém Constituições flexíveis. Todavia, não apontaremos no mesmo sentido, visto que, aparentemente, a questão
merece estudo mais profundo. Ocorre que Israel não possui Constituição escrita, mas possui controle de
constitucionalidade por meio do judicial review, como assinala Daniel J. ELAZAR,
http://www.jcpa.org/dje/articles/constlimits-highcourt.htm, acessado em 29 de outubro de 2007, o que torna dúbia a
assertiva de possuir Constituição flexível.
12
23
Neste ponto Vilhena observa que a Constituição estabeleceu um critério claro de divisão entre dispositivos material e
formalmente constitucionais, posição com a qual não concordamos. Cf. Ibid., p. 31.
24
Art. 60 – (...):
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I – a forma federativa de Estado;
II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
III – a separação dos Poderes;
IV – os direitos e garantias individuais.
25
Assinale-se desde logo que a expressão “fundamentos do controle” tem sentido muito próximo, senão sinônimo, ao de
“objetivos do controle”. Vale dizer, os próprios fundamentos do controle, suas justificativas, são suas metas, ou seja, os
valores e princípios que se procura resguardar com sua atividade.
13
constitucionalista em si. Tamanha a importância de cada uma dessas idéias, impõe-se uma
análise detida de cada uma.
26
A norma fundamental, como bem teorizado por Kelsen, não constitui norma jurídica, mas norma transcendental na
acepção kantiana de transcendental, uma vez que constitui uma condição lógica que torna possível a experiência jurídica.
Cf. Miguel REALE, Lições preliminares de direito, p. 194.
27
Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 179. Do excerto depreende-se também a preocupação da obrigatoriedade da
Constituição em contraposição com sua força normativa, pois sem obrigatoriedade ela perde força normativa.
14
Este fundamento não costuma ser evidenciado por grande parcela da doutrina
nacional, contudo, parece-nos uma conseqüência da própria noção de constitucionalismo a
proteção dos direitos fundamentais como fundamento de toda a ordem constitucional.
28
Luís Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 1.
15
garantidor da própria Constituição, pois sem ele a Constituição não passaria, de fato, de
mero “pedaço de papel”.
sentido a regra da maioria ocupa uma posição privilegiada, pois ela é a mais
capaz de dar um tratamento igualitário a todos os cidadãos. Limitar a
democracia à regra da maioria, no entanto, é um risco, afinal as decisões
derivadas deste procedimento, como há muito nos alertava Rousseau, podem
não atender ao bem comum (...). Associada a um positivismo jurídico
desformalizado e desprovido de conteúdo ético, a regra da maioria pode
colocar em risco seu pressuposto maior, que é a idéia de dignidade humana,
de igual valor, agregada a todas as pessoas. (...). Logo, que os resultados da
regra da maioria devem passar por um teste de constitucionalidade para que
não ameacem os direitos fundamentais, os mecanismos que asseguram estes
direitos, bem como os próprios procedimentos que viabilizam a continuidade
da democracia. Esta a função essencial do constitucionalismo [e, portanto,
do controle de constitucionalidade], assegurar os pressupostos éticos da
democracia. 32
32
Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 26. A este respeito Kelsen chega a ser até
mais explícito em vedar a “ditadura da maioria”: “(...). Se virmos a essência da democracia não na onipotência da maioria,
mas no compromisso constante entre os grupos representados no Parlamento pela maioria e pela minoria, e por conseguinte
na paz social, a justiça constitucional aparecerá como um meio particularmente adequado à realização dessa idéia. A
simples ameaça do pedido ao tribunal constitucional pode ser, nas mãos da minoria, um instrumento capaz de impedir que
a maioria viole seus interesses constitucionalmente protegidos, e de se opor à ditadura da maioria, não menos perigosa para
a paz social que a da minoria.” (Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 182). Cf. ainda Luís Roberto BARROSO, O
controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 2.
33
Cf. Luís Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 42.
34
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 50. Neste ponto há que se comentar a
divergência doutrinária quanto ao tempo de origem do controle de constitucionalidade, baseando-se em doutrina
estrangeira, sendo que Oscar Vilhena o situa claramente na common law inglesa: “A necessidade de se controlar os atos do
governo e do parlamento, tendo em vista uma lei maior, a higher law, pode ser detectada no mundo moderno a partir do
conflito entre o common law, direito aplicado consuetudinariamente pelos juízes, e aquele produzido pelo parlamento, na
17
Inglaterra do século XVII. A origem do controle de constitucionalidade das leis, tal qual definido por Marshall em 1803,
pode ser encontrado dois séculos antes, em diversos casos em que Lorde Coke defendeu a supremacia do common law
frente o direito produzido pelo parlamento inglês. (...).” (Ibid., mesma página). Barroso, por sua vez, situa a origem do
controle de constitucionalidade no próprio direito norte americano, invocando a seu favor o princípio da supremacia do
Parlamento, vigente no direito inglês: “Como visto, o controle judicial de constitucionalidade teve origem no direito norte
americano, tendo se consolidado e corrido mundo a partir da decisão da Suprema Corte no caso Marbury v. Madison,
julgado em 1803. Embora herdeiro da tradição inglesa do common law, o direito constitucional americano não acolheu um
dos fundamentos do modelo britânico, a supremacia do Parlamento, (...).” (Grifos do autor. Luís Roberto BARROSO, Op.
cit., p. 42). Diante do impasse, não sendo escopo último deste trabalho esgotar o assunto, preferimos apontar o direito norte
americano como origem formal do controle de constitucionalidade no mundo, apontando, entretanto, o alto grau de
influência da common law inglesa, onde nasceu a idéia de Constituição com a Magna Carta de 1225, e sem o qual, muito
provavelmente o direito norte americano não seria capaz de construir a teoria do judicial review. Saliente-se ainda que, de
fato, foi o germe britânico a partir de Lorde Coke que começou a teorizar o sistema, mas que não pôde ser concluído no
sistema inglês em virtude da interrupção desta evolução operada pela Revolução Gloriosa (1685-1689), que institui o
princípio da Supremacia do Parlamento, eliminando até os dias atuais a possibilidade de um controle jurisdicional de
constitucionalidade.
18
verificá-lo com maiores detalhes, uma vez que suas principais idéias continuam a justificar o
controle de constitucionalidade.
americana para o writ of mandamus. Afirmou Marshall que a lei alargava a competência da
Corte, determinada constitucionalmente (art. 3º da Constituição dos Estados Unidos da
América). Neste sentido, por ir além do que determinava a permitia a Constituição, a lei em
questão não era com ela compatível. Assim é que Marshall inicia seu raciocínio para
determinar que tal lei, não sendo compatível com a Constituição, não poderia ser aplicada
pelo Poder Judiciário, o que equivale, neste modelo, a declará-la inválida, pois
inconstitucional.
36
Como se vê, a decisão de Marshall parece a certo ponto até mesmo ilógica, visto que, caso quisesse se declarar
incompetente, um argumento processual-formal, poderia tê-lo feito no início da decisão, sem necessidade de análise do
mérito. Contudo, concordamos com Barroso no sentido de que toda a apreciação do mérito elaborada por Marshall não foi
feita à toa, mas sim no sentido de determinar seus próprios poderes frente aos demais Poderes Legislativo e Executivo. A
esse respeito, vale verificar a lição do mestre fluminense: “É indiscutível que o voto de Marshall reflete, intensamente, as
circunstâncias políticas de seu prolator. Ao estabelecer a competência do Judiciário para rever os atos do Executivo e do
Legislativo à luz da Constituição, era o seu próprio poder que estava demarcando, poder que, aliás, viria a exercer pelos
trinta e quatro longos anos em que permaneceu na presidência da Corte. A decisão trazia, no entanto, um toque de
inexcedível sagacidade política. É que as teses nela veiculadas, que em última análise davam poderes ao Judiciário sobre os
outros dois ramos do governo, jamais seriam aceitas passivamente por Jefferson e pelos republicanos do Congresso. Mas,
como nada lhes foi ordenado – pelo contrário, no caso concreto foi a vontade deles que prevaleceu –, não tinham como
descumprir ou desafiar a decisão” (Luís Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 9).
Saliente-se ainda que a decisão pode ser tomada como ilógica, visto que impede que o Congresso alargue a competência da
20
Sem óbice, outro ponto que lhe é fundamental, entretanto, é a idéia do stare
decisis. A possibilidade de qualquer juiz analisar a constitucionalidade, como bem afirmará
Kelsen em sua crítica a este modelo de controle de constitucionalidade, pode criar uma grave
falha no sistema jurídico em virtude da possível (e provável) existência de análises de
constitucionalidade contraditórias, mitigando o princípio da segurança jurídica.
Suprema Corte, mas permite que ela mesma o faça. A este respeito, Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal
Federal: Jurisprudência política, p. 66.
37
No Brasil, como se verá, a falta deste princípio aponta como falha no sistema misto de controle de constitucionalidade.
Análise primordial das razões desta aparente falha é bem colocada por Lamy e Conci, indicando que tal ausência não
proposital se deveria ao fortalecimento, no âmbito nacional, do dogma da Supremacia do Legislador. A este respeito Cf.
Marcelo LAMY; Luiz Guilherme Arcaro CONCI, Reflexões sobre as súmulas vinculantes, in: André Ramos TAVARES;
Pedro LENZA; Pietro de Jesús Lora ALARCÓN (Org.), Reforma do judiciário: analisada e comentada, p. 295-318.
21
último caso, o efeito é ainda impróprio, pois o princípio do stare decisis vincula tão somente o
Poder Judiciário, mas não os demais Poderes Legislativo e Executivo.
Não obstante, foi com a atuação e a teoria de Hans Kelsen que a Constituição
Austríaca de 1920 criou os primeiros tribunais constitucionais europeus. A jurisdição
constitucional kelseniana buscou identificar problemas no sistema norte americano,
oferecendo soluções criativas.
38
Cf. Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. XII (Introdução).
39
Posteriormente os artigos e palestras mais relevantes do autor foram reunidos num compêndio, publicado no Brasil sob o
nome de Jurisdição constitucional, como consta de nossa bibliografia.
40
Cf. Id. ibidem, p. 237-298. Cf. ainda nota 23 deste trabalho.
41
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 53-54.
22
Assim sendo, todas as questões constitucionais devem ser resolvidas por esse
único órgão específico, criando “incidentes de constitucionalidade” no curso dos processos
contenciosos, quando necessário. O Tribunal, assim, não decidiria, como no caso do sistema
norte-americano, a lide, mas apenas a compatibilidade da norma atacada com a Constituição.
Disto decorre ao menos duas conseqüências extremamente relevantes. Primeiro, a
constitucionalidade das leis, controlada apenas por um órgão, não seria mais motivo de
insegurança jurídica, visto que sempre o mesmo órgão resolveria tais questionamentos.
Segundo, isto nos faz concluir que a análise do controle de constitucionalidade europeu se dá
42
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 54. Aqui cabe a lição do próprio Hans
Kelsen a respeito da matéria: “(...). A anulação de uma norma geral fica confinada ao caso concreto quando as autoridades
– tribunais ou autoridades administrativas – que deveriam aplicar a norma podem ou devem recusar sua aplicação no caso
que lhes é levado a exame, por a considerarem irregular, e decidir em conseqüência como se ela não estivesse em vigor,
mas quando, para o resto, essa norma permanece em vigor e deve ser aplicada em outros casos por outras autoridades (...).
Disso resulta, antes de mais nada, a falta de unidade das soluções e a insegurança do direito daí resultante, que se faz sentir
desagradavelmente quando um tribunal se abstém de aplicar um regulamento ou mesmo uma lei por considerá-los
irregulares, quando outro tribunal faz o contrário e quando é vedado às autoridades administrativas recusar a aplicação da
norma, se também forem chamadas a intervir. (...)” (Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 144-145).
23
de forma abstrata, vale dizer, fora do contexto do caso concreto, analisando tão somente a
harmonia do ordenamento jurídico 43.
43
Neste sentido a lição de Hans Kelsen: “(...). A centralização do poder de examinar a regularidade das normas gerais
certamente se justifica sob todos os aspectos. Mas se se decide confiar esse controle a uma autoridade única, torna-se
possível abandonar a limitação da anulação ao caso concreto e adotar o sistema da anulação total, isto é, para todos os
casos em que a norma deveria ter sido aplicada. É óbvio que um poder tão considerável só pode ser confiado a uma
instância central suprema.” (Hans KELSEN, Jurisdição constitucional, p. 145).
44
Neste sentido, Barroso destaca ainda que uma necessidade do controle europeu ser concentrado decorre do fato de que este
continente, de tradição jurídica predominantemente civilista, em que pese a Inglaterra com seu direito consuetudinário, não
possui o princípio do stare decisis para vincular os magistrados, motivo pelo qual apenas um controle concentrado
garantiria a segurança jurídica necessária (Cf. Luís Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito
brasileiro, p. 46-47). Constatamos nesta observação que talvez seja a ausência deste princípio a razão da crítica kelseniana
ao problema de segurança jurídica do modelo norte americano de controle de constitucionalidade.
45
O texto integral do decreto pode ser conferido em, CÂMARA DOS DEPUTADOS,
http://www.camara.gov.br/internet/infdoc/novoconteudo/legislacao/republica/leis1890_1a30_de_%20junho/pdf17.pdf,
acessado em 29 de outubro de 2007.
46
Art. 59 – Ao Supremo Tribunal Federal compete:
§ 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal:
b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em face da Constituição, ou das leis
federais, e a decisão do Tribunal do Estado considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas.
24
Vieira expõe um aspecto curioso contido no artigo 12, § 2º da Carta de 1934 48.
Tal artigo faz referência à Representação de Inconstitucionalidade. Tal ação inaugura o
controle de constitucionalidade concentrado no Brasil e possuía como único legitimado
ativamente o Procurador-Geral da República. Afirma o autor que este dispositivo é um
embrião da ação direta de inconstitucionalidade, pois inaugura a modalidade do controle de
constitucionalidade concentrado no Brasil, ainda que fosse muito restrito, pois se presta
apenas a analisar a constitucionalidade de um caso de intervenção federal nos Estados-
membros 49.
47
Art. 91 – Compete ao Senado Federal:
IV - suspender a execução, no todo ou em parte, de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, quando hajam sido
declarados inconstitucionais pelo Poder Judiciário.
48
Art. 12 – A União não intervirá em negócios peculiares aos Estados, salvo:
§ 2º - Ocorrendo o primeiro caso do nº. V, a intervenção só se efetuará depois que a Corte Suprema, mediante provocação
do Procurador-Geral da República, tomar conhecimento da lei que a tenha decretado e lhe declarar a constitucionalidade.
49
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 120-121. Cf. no mesmo sentido Luís
Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 58.
25
controle difuso pelo controle concentrado 50. A criação das modernas ADIn por omissão (art.
103, § 2º, CF), Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, I, a e § 2º, CF) e Argüição
de Descumprimento de Preceito Fundamental (art. 102, § 1º, CF) vão pouco a pouco
eliminando a importância do controle difuso, que também vai ser reforçado com a criação do
instituto do Mandado de Injunção 51, 52.
50
Para um estudo mais aprofundado sobre o fenômeno que vem determinando a crescente concentração do controle de
constitucionalidade brasileiro, Cf. Rogério Bastos ARANTES, Judiciário e política no Brasil¸ p. 101-115.
51
É importante notar, entretanto, que existe manifestação doutrinária no sentido de que a Argüição de Descumprimento de
Preceito Fundamental, na verdade, constitui também uma medida de controle de constitucionalidade difuso. Luis Roberto
Barroso cita André Ramos Tavares como expoente desta corrente em: André Ramos TAVARES, Argüição de
descumprimento de preceito constitucional fundamental: aspectos essenciais do instituto na Constituição e na lei, 2001, p.
66-72. Para tanto, Cf. Luis Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 232. Deve-se
lembrar, entretanto que o Supremo Tribunal Federal não admite atualmente esta interpretação.
52
Deve-se notar, contudo, que este “reforço” na via difusa do controle de constitucionalidade não é tão grande quanto o feito
na via concentrada. Ademais, a interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal à norma constitucional que institui o
Mandado de Injunção retira deste a maior parte de sua eficácia, pois o mesmo adotou a teoria não concretista para a
determinação dos efeitos da decisão em Mandado de Injunção. Para tanto Cf. a título de exemplo: STF, Pleno, MI nº. 107-
3, Rel. Min. Moreira Alves, D.J. 21/09/1990.
53
Cf. Oscar Vilhena VIEIRA, Supremo Tribunal Federal: Jurisprudência política, p. 218-226.
54
Cf. Rogério Bastos ARANTES, Judiciário e política no Brasil, p. 65-69, 204-209.
55
“Há porém, problemas decorrentes dessa conjugação [dos modelos difuso e concentrado], pois não contando o sistema
jurídico brasileiro com o princípio do stare decisis, existente no mundo do common law, fica muito vulnerabilizada a
autoridade dos tribunais superiores, especialmente a do Supremo Tribunal Federal. (...)” (grifos do autor), Oscar Vilhena
VIEIRA, Op. cit., p. 218. Cf. ainda nota 29 deste trabalho.
56
“A combinação original destes dois sistemas – o difuso e o concentrado – não deve ser, como pensam alguns, motivo de
alegria. Pelo contrário, julgo que esta combinação é precária e revela que, entre nós, o papel do Judiciário na vida política
não está institucionalmente definido. Mais do que isso, nosso sistema de controle constitucional, por seu hibridismo, pode
ser considerado um dos principais fatores institucionais daquilo que se convencionou chamar crise de governabilidade”
(grifos do autor), Rogério Bastos ARANTES, Judiciário e política no Brasil, p. 204.
57
Uma das mais controvertidas novidades da Reforma do Judiciário mereceria monografia específica para tratar da matéria.
Assim, iremos nos restringir a apresentá-la, apontando porque se trata de um instrumento de reforço do controle de
constitucionalidade difuso. As Súmulas Vinculantes são nada mais do que Súmulas emitidas pelo Supremo Tribunal
Federal, mas que, diferentemente das demais, vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública
direta e indireta. Trata-se do instrumento inscrito no artigo 103-A da Constituição Federal. Qualquer aparente confusão
com o princípio do stare decisis norte-americano não é mera coincidência, visto que, em ambos os casos, se procura
vincular as demais decisões dos órgãos do Judiciário à decisão da sua cúpula. A sua maior diferença reside no fato de que,
26
no caso norte-americano, basta a decisão da Suprema Corte para se operar o vínculo, ao passo que entre nós é necessária a
edição de uma Súmula, mediante o procedimento especial previsto pela Constituição e pela lei 11.417/2006, que a
regulamentou.
58
No caso do Recurso Extraordinário, a Emenda Constitucional nº. 45/2004 trouxe, entre as suas diversas modificações, duas
que devemos destacar. Primeiro, numa clara aproximação à estrutura de funcionamento da Suprema Corte norte-
americana, incluiu no artigo 102 da Constituição Federal o § 3º, que coloca como exigência preliminar à admissibilidade
do referido recurso a demonstração da repercussão geral das questões constitucionais decididas no caso. Assim, o Supremo
não decide qualquer questão constitucional, mas apenas os casos relevantes socialmente. A segunda novidade foi a
inclusão da alínea d ao inciso III do artigo 102 da Constituição Federal, ampliando a sua competência no exercício de sua
jurisdição difusa. Neste último caso entendemos que não houve propriamente um incremento do controle difuso de
constitucionalidade propriamente dito. Isto, pois o alargamento de competência do Supremo se faz no sentido de análise da
contraposição entre lei federal e lei local (estadual ou municipal), não havendo diretamente a análise de constitucionalidade
dos dispositivos, que continuam abarcados pelas demais alíneas do mesmo inciso.
59
Atente-se aqui que tais categorias não se confundem com o conceito de normas materialmente constitucionais e normas
formalmente constitucionais. Estas se referem ao conjunto de normas essencialmente constitucionais ou não, como bem
explica Bonavides: “Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto de normas pertinentes à organização do poder,
à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto
individuais como sociais. Tudo quanto for, enfim, conteúdo básico referente à composição e ao funcionamento da ordem
política exprime o aspecto material da Constituição”, e continua o mestre cearense, “(...). Com efeito, as disposições de
teor aparentemente constitucional penetram por sua vez na Constituição, mas apenas de modo impróprio, formalmente, e
não materialmente, visto que não se reportam aos pontos cardeais da existência política, a saber, à forma de Estado, à
natureza do regime, à moldura e competência do poder, à defesa, conservação e exercício da liberdade.” (Grifos do autor.
27
curso da apreciação de casos concretos. Neste sentido, é essencial a sua vinculação a uma
lide, isto é, a um conflito de interesses, devendo a questão constitucional atuar tecnicamente
como questão prejudicial no processo, sendo o controle exercido no curso normal da função
jurisdicional. Não se identifica aqui uma preocupação abstrata com o ordenamento jurídico
em si, mas com o conflito concreto, real do qual depende a decisão da controvérsia
constitucional. Assim, ao decidir a questão constitucional, o magistrado ou tribunal decide
também a questão concreta.
62
Apenas a título de exemplo desta posição, podemos citar os seguintes: Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p.
608-610 e 626-627; Luiz Alberto David ARAUJO; Vidal Serrano NUNES JÚNIOR, Curso de direito constitucional, p.
28-37.
63
Cf. nota 42 deste trabalho.
64
Cf. Luís Roberto BARROSO, O controle de constitucionalidade no direito brasileiro, p. 49-50.
29
65
Art. 28 – Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em
seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão.:
Parágrafo único - A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a
Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito
vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal. (grifos
nossos)
30
66
Ou, nos dizeres do mestre Celso Ribeiro Bastos: “Pela interpretação conforme à Constituição, uma lei não deve ser
declarada nula quando seja passível de uma interpretação que a coloque em plena sintonia com o conjunto normativo-
constitucional. (...) Quando uma norma infraconstitucional apresentar dúvidas em relação ao seu exato significado, deve-
se dar preferência à interpretação que lhe coloque em conformidade com os preceitos constitucionais.” (Celso Ribeiro
BASTOS, Hermenêutica e interpretação constitucional, p. 170).
67
Celso Ribeiro BASTOS, Hermenêutica e interpretação constitucional, p. 171.
68
Id. ibid., p. 175.
69
Id. ibid., p. 175.
31
70
Celso Ribeiro BASTOS, Hermenêutica e interpretação constitucional, p. 175-176.
32
II
Sendo assim, em seu sentido mesmo, jurídico, e que nos interessa no presente
trabalho por razões óbvias, se traduz na totalidade de normas lógicas procedimentais, de
natureza constitucional, determinantes dos atos formais da produção legislativa. Em outras
palavras, trata-se do conjunto de regras e princípios que determinam as direções e sentidos
para os atos sucessivos que culminam na produção legislativa, conforme estabelecido
constitucionalmente.
71
Assim já adianta Alexandre de Moraes: “O termo processo legislativo pode ser compreendido num duplo sentido, jurídico
e sociológico. Juridicamente, consiste no conjunto coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser
obedecido pelos órgão (sic!) competentes na produção das leis e atos normativos que derivam diretamente da própria
constituição, enquanto sociologicamente podemos defini-lo como o conjunto de fatores reais que impulsionam e
direcionam os legisladores a exercitarem suas tarefas.” (Grifos do autor. Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p.
544).
33
cumprimento do processo legislativo, sendo assim conhecido, pois não trata o âmago da
norma, seu sentido e conteúdo, mas tão somente do processo de criação das normas,
pertinente a todas elas, independente do seu conteúdo material ser ou não constitucionalmente
válido.
Ora, como bem dito, o Poder Legislativo, como expressão da força legiferante
estatal, edita leis. Contudo, com o intuito de evitar o arbítrio deste e dos demais Poderes, o
constitucionalismo moderno já lhe impunha diversas restrições, de modo que não pudesse
exercer seu poder como bem desejasse. Neste sentido, os direitos fundamentais costumam ser
bastante lembrados como bloqueio da atuação do legislador.
consecução dos objetivos estatais. Assim é que o processo legislativo não apenas orienta a
atuação legislativa, mas compulsoriamente a encaminha sob certos procedimentos específicos,
de modo que não haja fugas arbitrárias.
Contudo, dentro desse compêndio, cabe ainda lembrar diferenciação feita pela
doutrina entre lei no sentido formal (ou, simplesmente, lei formal) e lei no sentido material
(ou, simplesmente, lei material).
75
Como bem explica Ferraz Jr. , lei formal trata do modo de produção de
normas, ao passo que lei material cuida de seu conteúdo. Assim, na lição de José Afonso da
Silva:
72
Cf. José Afonso da SILVA, Processo constitucional de formação das leis, p. 21.
73
Cf. Id. ibidem, p. 22-25.
74
Neste sentido cabe lembrar a lição de Tercio Sampaio Ferraz JÚNIOR diferenciando lei e norma: “A noção de lei, contudo,
não é fácil de se determinar. Antes de mais nada, como vimos, é preciso evitar a confusão entre lei e norma. A norma é
uma prescrição. A lei é a forma de que se reveste a norma ou um conjunto de normas dentro do ordenamento. Nesse
sentido, a lei é fonte de direito, isto é, o revestimento estrutural da norma que lhe dá a condição de norma jurídica. (...).”
(Negritos nossos. Tercio Sampaio FERRAZ JÚNIOR, Introdução ao estudo do direito – técnica, decisão, dominação, p.
233).
75
Cf. Tercio Sampaio FERRAZ JÚNIOR, Introdução ao estudo do direito – técnica, decisão, dominação, p. 235.
35
Como se pode notar, a lei material, de fato, trata do conteúdo clássico da lei,
que trata de ser geral, abstrata e obrigatória 77. A lei formal, por sua vez, não necessariamente
se atém ao conteúdo, mas sim ao processo próprio, tendo sido emitida por órgão competente,
que nos Estados de Direito republicanos tende a ser o Poder Legislativo. Deve-se verificar
ainda que, via de regra, as leis são formais e materiais concomitantemente, sendo exceção as
apenas formais ou as apenas materiais.
Sob tal teoria, devemos restringir nossa análise às leis formais, visto que
trataremos do processo legislativo, não cabendo analisar as normas editadas a despeito deste.
79
Cf. José Afonso da SILVA, Processo constitucional de formação das leis, p. 50-52.
37
discussão e votação; (iv) princípio da unidade da legislatura; e (v) princípio do exame prévio
dos projetos por comissões parlamentares.
O (ii) princípio da oralidade, por sua vez, indica no sentido de que os debates,
seja na discussão, seja na votação, sejam feitos de forma oral, de “viva voz”. Atualmente, a
tecnologia auxilia nesta divulgação por amplos sistemas de som e de painéis eletrônicos.
80
Na Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br e, no Senado Federal: www.senado.gov.br (ambos acessados em 24 de
outubro de 2007).
38
81
Aliás, muitos criticam a existência do sistema bicameral, por entenderem ser desnecessária a existência do Senado federal,
visto que este não representa propriamente os Estados-membros. Tal argumento toma maior relevo nas realidades brasileira
e norte-americana, nas quais os senadores, a exemplo dos deputados, são eleitos, não atuando propriamente como
delegados dos Estados-membros. Isto, segundo os críticos, deturpa o equilíbrio representativo dos Estados-membros no
Congresso Nacional. Cf. José Afonso da SILVA, Processo constitucional de formação das leis, p. 74-76.
39
organizacional federal, que aglutina os diversos Estados-membros numa só União, mas lhe
garante grande autonomia. Assim, se prevê uma Câmara representativa do povo em sua
unidade, a Câmara dos Deputados. E outra, representativa dos Estados-membros, com igual
número de representantes por Estado.
82
Maiores detalhes a respeito dos cálculos nos sistemas eleitorais brasileiros podem ser encontrados no didático texto de
Jairo Nicolau em: Jairo NICOLAU, O sistema eleitoral brasileiro, in: Lúcia AVELAR; Antônio Octávio CINTRA (Org.),
Sistema político brasileiro: uma introdução, p. 293-301.
83
Cf. nota anterior.
40
Ambas as Mesas são compostas por membros das respectivas casas eleitos para
mandatos de dois anos, vedada a recondução, sendo a composição de um presidente, dois
vice-presidentes e quatro secretários (no Senado ainda contam dois suplentes de secretários).
Em qualquer caso, o artigo 58, § 1º da Constituição Federal impõe que se obedeça, na
composição das Mesas e na medida do possível, a representação proporcional dos partidos da
respectiva Casa.
85
A este respeito, Cf. Luiz Alberto David ARAUJO; Vidal Serrano NUNES JÚNIOR, Curso de direito constitucional, p.
311.
42
As (ii) leis complementares são leis comuns, mas que, em virtude de disposição
do artigo 69 da Constituição possuem quórum de maioria absoluta, portanto mais dificultoso,
para aprovação. Assim, algumas matérias, cuja modificação legislativa deve-se dar com
menor freqüência, são reservadas pela própria Constituição apenas para regulamentação por
lei complementar, como é o caso da edição de normas gerais de direito tributário (art. 146,
CF).
As (iii) leis ordinárias, por sua vez, são as leis comuns na acepção literal da
palavra. Constituem a maior parte da legislação infraconstitucional, não se incluindo aqui, é
evidente, as normas de cunho regulamentar. Assim, as disposições gerais acerca do processo
legislativo se direcionam à sua produção.
Os (vi) decretos legislativos são utilizados pelo Congresso Nacional para editar
normas de cunho administrativo, pelo qual se dá efetividade a sua deliberação em matéria de
sua competência. É por meio do decreto legislativo, por exemplo, que o Congresso Nacional
executa sua competência de resolver a respeito de tratados internacionais (art. 49, I, CF).
86
Cf. Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p. 547.
44
87
Cf. Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p. 547-562.
88
Cf. Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO, Do processo legislativo, p. 206.
45
89
Ressalte-se que Alexandre de Moraes apresenta uma classificação para as diversas espécies de emendas parlamentares
(supressivas, aditivas, aglutinativas, modificativas, substitutivas e de redação), mas que, por não adicionar nada ao presente
46
58, § 2º, I, CF), seja porque não havia autorização do regimento interno, seja porque houve
recurso de um décimo dos membros da Casa, o mesmo segue para votação em Plenário.
trabalho e serem de, data venia, discutível utilidade, não serão apresentadas. Em todo o caso Cf. Alexandre de MORAES,
Direito constitucional, p. 557.
90
Alexandre de MORAES, Direito constitucional, p. 557.
47
Sob o regime de urgência, os projetos de lei devem ser deliberados por cada
uma das Casas Legislativas em até quarenta e cinco dias (em cada uma), restando apenas dez
dias para apreciação pela Casa iniciadora (Câmara dos Deputados nos projetos de iniciativa
do Presidente) das emendas da Casa revisora. Findo tais prazos, independentemente da
situação do projeto não finalizado, todas as demais deliberações legislativas da respectiva
Casa que descumpriu o prazo serão sobrestadas (pauta trancada), com exceção das que
tenham prazo constitucional determinado.
Tanto veto quanto sanção, podem ser totais, abarcando todo o projeto de lei, ou
parciais, abarcando apenas parcela do projeto, vedada a supressão (veto) de expressões
textuais, mas tão somente de dispositivos inteiros. Além disso, a sanção pode ser expressa,
quando o Presidente manifesta positivamente sua concordância com o projeto de lei; ou pode
ser tácita, quando o Presidente não manifesta sua opinião quanto ao projeto de lei dentro do
prazo de quinze dias úteis, ou seja, quando não há veto neste prazo, presumindo-se a
concordância executiva.
O veto, por sua vez, que, entre nós, sempre deverá ser expresso, motivado, total
92
ou parcial, supressivo e superável, se dá em duas vertentes . Primeiro, pode ser jurídico,
91
Em muito se discute se é a sanção ou a promulgação que fazem a lei surgir no ordenamento jurídico. Contudo, por não ser
pertinente ao trabalho, entendemos como a posição mais aceita, de que a sanção cria a lei, sendo a promulgação necessária
apenas para atribuição de obrigatoriedade à mesma. Para maiores detalhes Cf. Alexandre de MORAES, Direito
constitucional, p. 562.
92
O veto deverá ser expresso, pois caso contrário há entendimento de presunção de concordância, ocorrendo a sanção tácita
caso não haja veto dentro de quinze dias úteis do recebimento do projeto de lei. O veto será ainda motivado e por escrito,
de modo que se conheçam as razões jurídicas, políticas ou jurídico-políticas do mesmo. Ademais, o veto terá de ser total ou
parcial, devendo isto ser claramente declarado e lembrando que o veto parcial não recai sobre expressões soltas do texto,
mas tão somente sobre dispositivo legislativo integral, tal qual um artigo, parágrafo, inciso ou alínea. Outrossim, o veto
48
Bem, uma vez sancionado o projeto de lei a lei segue para promulgação pelo
Presidente em até quarenta e oito horas. Caso haja veto, jurídico ou político, a matéria vetada
é retornada ao Congresso Nacional e a matéria sancionada, se houver, é promulgada. No
Congresso, a matéria vetada é analisada em escrutínio secreto, quando os congressistas
decidirão pela manutenção do veto e conseqüente arquivo dos dispositivos vetados, ou
decidirão pela derrubada do veto por maioria absoluta dos Deputados e Senadores, caso em
que o projeto re-analisado é re-enviado ao Presidente da República para promulgação, início
da fase complementar do processo legislativo.
será supressivo, cabendo a ele apenas retirar pedaços do texto, mas nunca acrescentá-los. Finalmente, o veto deverá ser
superável, pois ainda será objeto de deliberação no Congresso Nacional, que poderá mantê-lo ou suspendê-lo.
93
Cf. Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO, Do processo legislativo, p. 249-250.
94
Cf. nota 79.
95
Conforme informa José Afonso da Silva, os dispositivos constitucionais aplicáveis ao caso, especialmente o art. 66, § 7º da
CF, não deixam margem de dúvida quanto à obrigação do Presidente da República em promulgar as leis aprovadas.
Obrigação tal que, na omissão do primeiro é transmitida ao Presidente do Senado Federal e, em sua omissão, ao Vice-
Presidente do Senado. Caso haja omissão deste último, questiona-se se poderia o Poder Judiciário promulgar a lei, visto
que existiria lei, mas ineficaz. José Afonso entende que, diante da inércia dos Poderes, o Judiciário não pode se intrometer,
devendo ser apurada a responsabilidade dos envolvidos, que cometem claramente crime de responsabilidade. Cf. José
Afonso da SILVA, Processo constitucional de formação das leis, p. 234-237.
49
Finalmente, uma vez publicada a lei, a mesma passa a valer quando cumprida
sua vacatio legis, que, em regra é de quarenta e cinco dias contados da data de sua publicação
(art. 1º, Lei de Introdução ao Código Civil), podendo a própria lei reduzir ou alargar este
prazo.
96
Manoel Gonçalves FERREIRA FILHO, Op. cit., p. 251.
97
“Há, portanto, obrigação de publicar decorrente da obrigação de promulgar. A autoridade que emitir o ato de promulgação
tem que providenciar imediata publicação” (José Afonso da SILVA, Processo constitucional de formação das leis, p. 253).
50
III
98
A Justiça brasileira encontra-se à beira do colapso, conforme noticiam os principais canais informação. A revista eletrônica
Consultor Jurídico divulgou em diversas reportagens dados emitidos por estudo do Supremo Tribunal Federal a respeito do
estado da Justiça federal e estadual no país. Segundo este estudo, mais da metade dos processos recebidos pela Justiça não
são julgados em menos de um ano, sendo o Primeiro Grau da Justiça Federal aquele tido como o mais lento (dados obtidos
por intermédio dos artigos “Produtividade do Judiciário” (Luciana NANCI,
http://conjur.estadao.com.br/static/text/34664,1, acessado em 12 de outubro de 2007) e “Cara e lenta” (Revista
CONSULTOR JURÍDICO, http://conjur.estadao.com.br/static/text/34630,1, acessado em 12 de outubro de 2007).
Outrossim, a lentidão da Justiça brasileira também é apontada como preocupante pelo relatório da Anistia Internacional
sobre os direitos humanos no mundo, o qual, ao falar do sistema judicial, ressalta a questão da impunidade: “A extrema
lentidão e a ineficácia do sistema judicial reforçaram a impunidade para violações dos direitos humanos” (Anistia
Internacional Informe 2007, http://www.br.amnesty.org/relatorio2007.shtml, acessado em 12 de outubro de 2007).
99
Art. 5º – (...):
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.
51
100
Neste sentido a lição de José Afonso da Silva: “(...). É aqui que a garantia de celeridade da tramitação tem sua
importância, já que o que se tem não é uma garantia abstrata da celeridade, mas o dever de peordenar (sic!) meios para ser
alcançada. De certo modo, enquanto não se aparelhar o Judiciário com tais meios, a razoabilidade da demora fica sempre a
saber se o magistrado tinha, ou não, possibilidade de fazer andar seu processo mais rapidamente. Corre-se, assim, o risco
da previsão de mais uma garantia individual sujeita à ineficácia, já que ela vai depender de providências ulteriores” (José
Afonso da SILVA, Comentário contextual à constituição, p. 176).
101
Esse título tem sido atribuído pela doutrina processualista civil, sendo de principal destaque a obra de Cassio Scarpinella
Bueno.
102
Cf. Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, volume 1: comentários
sistemáticos às Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 159-160.
103
Tal revogação se deu expressamente pelo artigo 9º da lei 11.232/2005.
104
Cf. Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, volume 1: comentários
sistemáticos às Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 159.
52
(...). A redação dada ao inciso I do art. 475-N – (...) – é mais amplo (sic!). É
título executivo judicial a sentença que reconhece a existência de obrigação
de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia.
Há, rigorosamente, diferença entre uma previsão [antiga] e outra [atual]? Ela
é, apenas, redacional ou ela pode ser entendida como uma alteração
substancial, como uma alteração de conteúdo?
105
Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, volume 1: comentários sistemáticos
às Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 160-161.
53
(...).
Por causa dessas razões e, mais ainda, para evitar questões que dizem
respeito aos laboratórios do processo e que, embora sejam relevantes, têm
muito mais aptidão de criar problemas do que resolvê-los quando
apresentados no foro em ‘estado bruto’ é que me parece, antes de tudo,
necessário não ver na redação do inciso I do art. 475-N nenhuma ‘novidade
substancial’. É como se tivesse alterado a redação do antigo inciso I do art.
584 para que não restasse dúvida nenhuma de que qualquer sentença
proferida no processo civil que diga respeito à existência de uma prestação a
ser cumprida é título executivo judicial. Pouco importa o conteúdo desta
prestação (fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia), o que releva é
que ela não foi adimplida a tempo e modo oportunos de acordo com as
regras de direito material e que por isto mesmo a atuação do Estado-juiz para
realizá-la concretamente – e, se for o caso, contra a vontade do devedor –
faz-se inevitável. (Itálicos do autor) 106
Como bem expõe o autor, uma segunda interpretação trata apenas de entender
que a nova redação apenas clareou um significado que já era extraído da antiga redação, não
ensejando mudança semântica nenhuma, mas tão somente alteração redacional. Diga-se, não
houve alteração da substância do dispositivo.
106
Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, volume 1: comentários sistemáticos
às Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 161-162.
54
Desde logo já se observa como característica geral que a lei nº. 11.232/2005 é
lei ordinária, tendo passado por processo legislativo ordinário, o que facilita a sua análise a
seguir, nos termos teóricos do processo legislativo brasileiro, conforme já apresentado 107.
A fase introdutória do processo legislativo, que trata das iniciativas, se deu com
108
a Mensagem nº. 140 do Presidente da República, datada de 25 de março de 2004 . Tal
mensagem denota o respeito ao artigo 61 da Constituição Federal, que concede ao Presidente
da República a iniciativa concorrente para projetos de lei em matéria processual civil, que é
matéria de legislação privativa da União federal (art. 22, I, CF).
107
Todo o processo legislativo a seguir foi acompanhado nos sítios eletrônicos da Câmara dos Deputados (eCÂMARA,
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=158523, acessado em 18 de outubro de 2007) e do Senado Federal
(Atividade Legislativa,
http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/Detalhes.asp?p_cod_mate=69455&titulo=MSG%20140%20de%202004%
20(%20Origem:%20PRESIDENCIA%20DA%20REPUBLICA%20), acessado em 18 de outubro de 2007).
108
A cópia digitalizada do documento pode ser conferida em, Câmara dos Deputados – eCâmara,
http://imagem.camara.gov.br/MostraIntegraImagem.asp?strSiglaProp=PL&intProp=3253&intAnoProp=2004&intParte
Prop=2&codOrgao=100043, acessado em 18 de outubro de 2007.
55
A deliberação a respeito do projeto de lei seguiu seu curso normal, tendo sido
sua Redação Final com as emendas aprovada por unanimidade pela CCJC em 07 de julho de
2004, em consonância com o artigo 58, § 2º, I da Constituição Federal. Finda a deliberação
nesta Casa legislativa, o Projeto de Lei nº. 3.253/2004 foi enviado ao Senado federal pelo
Ofício PS-GSE/981/04 em 05 de agosto de 2004.
109
Cópia digitalizada disponível para consulta pública no seguinte sítio: SENADO FEDERAL,
http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/diarios/pdf/sf/2004/08/10082004/25489.pdf, acessado em 18 de outubro de 2007.
110
Todas as emendas podem ser conferidas no relatório oficial do Senador Antonio Valadares, publicado no DSF de 06 de
dezembro de 2005, cuja cópia é disponibilizada: SENADO FEDERAL,
http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/diarios/pdf/sf/2005/12/05122005/42785.pdf, acessado em 18 de outubro de 2007.
111
Cf. nota de rodapé anterior.
56
Esta foi a única emenda do curso de todo o processo deliberativo que fez
menção em alterar o teor do artigo 475-N, I do Projeto de Lei em questão. Este, seguindo o
curso do processo legislativo, foi aprovado pelo Plenário do Senado Federal em 07 de
dezembro de 2005 com todas as modificações propostas pelas emendas parlamentares,
conforme consta do DSF de 08 de dezembro de 2005 (p. 43150-13153) 112.
112
Cópia digitalizada disponível para consulta pública no seguinte sítio: SENADO FEDERAL,
http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/diarios/pdf/sf/2005/12/07122005/43150.pdf, acessado em 18 de outubro de 2007.
113
Cópia digitalizada disponível para consulta pública no seguinte sítio: SENADO FEDERAL,
http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/diarios/pdf/sf/2005/12/08122005/43536.pdf, acessado em 18 de outubro de 2007.
57
114
STF, Pleno, ADC nº. 3-0, Rel. Min. Nelson Jobim, D.J. 09/05/2003. Cf., no mesmo sentido, STF, Pleno, ADIn nº. 2.666-
6/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, D.J. 06/12/2002; STF, Pleno, ADIn nº. 2.238-5, Rel. Min. Ilmar Galvão, D.J. 21/05/2002.
115
Neste sentido já alertou Cássio Scarpinella Bueno: “Até porque a se entender que houve mesmo, no Senado Federal, uma
modificação substancial no sentido da regra – a par de tal iniciativa conspirar contra os ideais subjacentes à Lei nº.
11.232/2005, o que, no máximo poderia receber o repúdio da comunidade científica do processo –, as conseqüências daí
decorrentes são bem mais graves. É que, assim entendido, o dispositivo tende a cair em flagrante inconstitucionalidade
porque ele foi enviado à sanção (e efetivamente sancionado) sem o reenvio exigido pelo art. 65, parágrafo único, da
Constituição Federal, à Câmara dos Deputados.” (Cassio Scarpinella BUENO, A nova etapa da reforma do Código de
Processo Civil, volume 1: comentários sistemáticos às Leis nº. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005, p. 161).
116
É o que determina o artigo 2º, § 3º da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-lei nº. 4.657/1942), que assim dispõe:
Art. 2º – (...):
§ 3º – Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
59
Não é por outra razão que, a nosso ver, a primeira interpretação, que enterraria
a norma por ser inconstitucional, deve ter sua aplicação vedada, devendo ser entendida como
correta, pois de acordo com a Norma Suprema, apenas a segunda interpretação, entendendo
que a modificação operada no Senado Federal foi de ordem tão somente redacional, não
influindo, no sentido normativo do texto.
60
CONCLUSÃO
O presente trabalho teve, desde seu início, como sua finalidade última a análise
da constitucionalidade formal do recém criado artigo 475-N, I do Código de Processo Civil.
Neste sentido, verificamos os meandros teóricos envolvidos no controle de
constitucionalidade e no processo legislativo como um todo, para posteriormente efetuarmos
tal análise com a devida propriedade acadêmica.
se caracteriza por ser concentrado, uma vez que todas as decisões acerca da análise de
constitucionalidade de atos normativos se concentram em um único órgão, o Tribunal
Constitucional, e abstrato, visto que a análise não exige a existência de um caso concreto,
mas tão somente o conflito normativo, que pode ser apenas em tese.
BIBLIOGRAFIA
117
Texto retirado do sítio eletrônico da Câmara dos Deputados. Cf. CÂMARA DOS DEPUTADOS,
http://imagem.camara.gov.br/MostraIntegraImagem.asp?strSiglaProp=PL&intProp=3253&intAnoProp=2004&intPartePro
p=1&codOrgao=180, acessado em 03 de novembro de 2007.
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
118
Cf. SENADO FEDERAL, http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/getHTML.asp?t=7384, acessado em 03 de
novembro de 2007
78
79
80
81
82
83
84