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O mito do adulto

Entrevista com GEORGES LAPASSADE *

L. SOCZKA -Georges Lapassade, tu escre- ma adulta, como no insecto perfeito. digamos,


veste um livro (L'Enírée dans la Vie) que após a fase larvar; ou então, após a metamor-
aborda o problema do adulto. Poderias fazer- fose pode ainda haver um período de matura-
-nos um resumo da tese que aí defendeste? ção, no fim do qual o animal adquiriu a sua
G. LAPASSADE -A tese resume-se muito forma definitiva. Mas já na Biologia se encon-
simplesmente. Em poucas palavras, direi que o tram excepções, e penso numa em particular,
conceito não é um conceito, precisamente, e que a que dediquei um capítulo do meu livro L'En-
a palavra «adulto» é uma palavra que não trée dans Ia Vie. É o caso da neotenia. Trata-se
coincide com uma realidade psicológica ou de um fenómeno já observado por Darwin e
sociológica. Que talvez haja uma realidade bio- explicado mais tarde por Dumenl e por bió-
lógica do estado adulto, mas que nas Ciências logos franceses, creio, por volta de 1870, e
Sociais e Humanas o termo deixa de ser opera- entre 1870 e 1914, que fizeram investigações
cional e passa a ter uma função puramente sobre o estado de neotenia, ou seja: da conser-
ideológica, e direi mesmo repressiva. I? preciso vação das formas juvenis que se tornam formas
dizer que do ponto de vista biológico, com definitivas. Nalguns casos, a forma, o girino,
excepção do caso da neotenia, a palavra adulto não faz a sua metamorfose e reproduz-se no
designa o fim do crescimento. Adultus est, o que estado de girino. É o caso do axioloto, que é
em latim significa o estado do organismo que habitualmente a forma transitória do amblis-
parou de crescer. Por exemplo, pode dizer-se toma, que na forma perfeita, em certas con-
que quando o girino se metamorfoseou em rã, dições ecológicas, não realiza a sua metamor-
chegou ao seu estado adulto, à. sua forma defi- fose e reproduz-se no estado de girino. Torna-se
nitiva. Ora, adulto pode então significar a che- portanto adulto do ponto de vista sexual, mas
gada à. forma definitiva, é o que acontece na do ponto de vista morfológico não é adulto e
metamorfose, que conduz imediatamente à. for- conserva as suas formas juvenis. Isto é algo
sobejamente conhecido. Acrescentarei também
que Bolk. um antropóloga ainda demasiado
* Psicossociólogo. Professor na Universidade de ignorado, produziu em 1926 a hipótese da neo-
Vincennes (Paris). Esta entrevista é parte de um con-
junto de quatro conversas com U . Lapassade, a editar tenia da espécie humana. O homem seria, se-
brevemente em Portugal. A Livraria Bertrand agrade- gundo Bolk, aforma neoténica de uma espécie
cemos a oportunidade de aqui publicarmos em prí-
meira mão este texto. antropomorfa. Bolk dedicava-se à. Antropologia

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Física, e deixou-nos estas hipóteses numa grande Chegou a essa hipbtese (a que Bolk chegara
obra que é um pouco o seu testamento inte- por via da antropologia) por via da investiga-
lectual, Das Problem der Menschwerdung, o ção psicolbgica, psicanalítica: a f&aíiztção do
problema do tornar-se homem. Para Bolk, a homem, a sua juveailização, a sua perda dos
forma adulta não é o homem, 6 o macaco. Faz caracteres adultos da espécie. Estamos de
notar que, do ponto de vista anatómico e fisio- acordo? Eis, em grandes linhas, como se apre-
lbgim, o recém-nascido é gíabro, o que 6 carac- senta o problema ck~ponto de vista biológico.
terístico dos macacos em estado fetal. O homem Faço notar que Freud teve a ideia, a intui-
apresenta, mesmo depois de nascer, caracterís- ção de tudo isto. Mas o que é necessário acres-
ticas fetais. Essa fetalização, Boik explica-a por centar é que a própria prática da psicanálise,
um mecanismo evolutivo que seria o retardar a terapêutica psicanalítica, não tem por objec-
(retardierung) e a travagem, devido a fenóme- tivo libertar o homem da sua infância, como
nos hormonais, ecológicos, etc., na fiiogénese muitas vezes se pensa, mas reconcifiaro homem
da espécie humana, que dzria um atraso do com a sua infância. Quero com isto dizer que,
processo de crescimento que tornava a adoIes- se se tiver uma perspectiva apressada da
cência cada vez mais prolongada até ao ponto psicanálise, uma perspectiva um tanto ... nor-
de a tornar permanente. O homem ficou como mativa e normalizante, conservadora em suma,
o axioloto: não fez a sua metamorfose, não dir-se-á que as pessoas que se sentem doentes
atingiu a sua forma biológica perfeita. O homem e recorrem ao psicanalista, a neurose, etc., é
seria um agirino» de macaco, um macaco em tudo uma questão de fixação a um estádio
estado larvar, mantido no seu estado adoles- infantil do desenvolvimento, ou uma regressão,
cente. etc. Bom. Tratar-se-ia então de «libertam essas
L. S. - Mas, e do ponto de vista psicológico, pessoas que procuram o psicanalista, através da
cognitivo-emocional? cura analítica, e cuja evolução pessoal foi blo-
G. L. -Ora do ponto de vista psicológico, queada ...
o que é curioso é que mais ou menos na mesma L.S.-Então a psicanálise teria por função.. .
altura em que Bolk lançava a sua hipótese, G . L. - ... permitir às pessoas tornarem-se
Freud lançava uma hipótese análoga. No mesmo adultas.
ano. Mas sem conhecer a obra de Bolk. Aliás, L. S. -Exacto. E «libertar» assim o homem
já muito antes, em 1905, nos Três Ensaios sobre da sua infância?
a Teoria da Sexualidade, Freud fala da evolu- G . L. - Pois.
ção bifásica da sexualidade. E porque é que L. S. - ...encarada portanto como algo ne-
surge o complexo de Édipo? Porque, diz ele, gativo?
há uma espécie de primeira erupção da maturi- G.L. -Seria exactamente isso: a infância
dade, relativa é claro, mas é já a maturidade vista como algo negativo. Ora eu creio que a
que surge por volta dos cinco anos, e que depois psicanálise não tem esse objectivo. Freud sabia
é retomada no desenvolvimento, até à. puber- bem que não é possível libertar o homem da sua
dade. Ora isto coincide com o facto de que, se infância! Freud tinha o sentido da riqueza da
quiseres, os antepassados antropóides do homem infância, da criatividade e da disponibilidade
chegariam ii maturidade ao fim de cinco anos. da criança, tal como Bolk o tinha. Apagar a
Freud parte da hipbtese, igualmente, de que se infância através da cura psicanalítica seria im-
verificou um decréscimo da velocidade de ma- possível, pois não se pode alterar o inconsciente,
turação, do ponto de vista filogenético, no e o inconsciente é modelado pela infância. O
homem, sem no entanto explicar o fenómeno. que se pretende então é reconciliar o homem
Trata-se, como disse, da hipótese bolkiana, da com a sua infância, permitindo-lhe reencontrar
qual Freud estava, sem o saber, muito próximo. a infância. Não a infantilização, mas a infância.

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Penso que isto vai também ao encontro de iniciação, têm por função, nessas sociedades,
toda uma linha de pensamento filosófico, auxiliar a criança, o adolescente, a renunciar
Kiexkeggard, por exemplo. Talvez Freud tenha ao seu estado de infância, de pré-maturidade,
admitido a existência de uma maturidade rela- e a passar para o campo dos adultos. Daí que
tiva, mas a palavra «adulto» não figura no seu muitas vezes haja provas difíceis, de resistência,
vocabulário, no seu glossário, o que é curioso. etc. Daí também decorre o modelo, que é sem-
Procurei em vão. Penso que Freud admitiu pre o mesmo nos ritos de passagem, e que Van
que o homem se constrói, se transforma, evolui, Gennep analisou muito bem, em três momentos:
enriquece-se até ii morte. A ter de atingir a um momento de separação - separa-se a crian-
maturidade, só a atinge na morte. Está em ça do seu meio, com um conjunto de rituais
evolução perpétua. 13 isto que é fundamental simbólicos: corta-se o cordão umbilical que a
no pensamento de Freud. Há bocado eu disse, une ainda ii mãe, se quiseres, teatraliza-se so-
entre parêntesis, que Bolk pensava o mesmo. cialmente o momento em que a criança deve
Sim. Bolk dizia que o homem se pode tornar abandonar o mundo da infância. O adolescente
um ser inteligente porque as suas células corti- abandona a sua aldeia para fazer um retiro,
cais se fetalizaram. Isto é, conservaram a plas- passa a um estado de separação, de marginaii-
ticidade (souplesse) fetal, e não endureceram zação. Apbs a separação, passa algum tempo
num estado adulto de especialização. O que deu numa floresta, por exemplo, ou numa casa es-
a polivalência das células nervosas, de que pecial, longe dos seus pais, dos seus amigos. €I
decorre a possibilidade de ajustamentos mais isolado. Isola-se o grupo dos adolescentes du-
ricos e a própria corticalização. rante um certo tempo. Como aliás em certos
L. S. -0 que disseste há pouco levanta um rituais religiosos. Após ter aprendido os rituais,
problema interessante do ponto de vista antro- regressa il sua aldeia, onde é acolhido pelos
pológico, ou, se quiseres, sociológico. 13 que homens da sua sociedade, pelos homens adultos.
há, apesar de tudo, sociedades que produzem A sociedade institucionaliza, portanto, a passa-
o conceito de adulto (a nossa é uma delas). Ora, gem da infância & idade adulta, & idade dita
como é que se chega então ao conceito de adulta. Quando se é adulto, é-se suposto tudo
adulto, por que mecanismos? saber, já não há aprendizagens a fazer, tem-se o
G. L. - Repara na sociedade tradicional. controle do savoir-vivre e do savoir-faire, re-
Bom. I3 uma sociedade estável. Mesmo quando nuncia-se A infância, já não é possível compor-
não reconhece o estado de adolescência, con- tar-se como uma criança. Diz-se: «Não sejas
sidera que há dois momentos fundamentais na criança!, Certas liberdades são um privilégio
vida: a infância e a maturidade. A que pode- da infância. Renuncia-se a elas em troca de ou-
ríamos acrescentar a velhice, depois. Mas enfim: tros privilégios, outras gratificações. As crian-
ou se está num ou se está noutro momento. ças tornaram-se adultos. Já não podem voltar
Há uma barreira delimitada. Por exemplo, nas atrás. Fazem parte da sociedade dos adultos,
sociedades ditas primitivas, há ritos de pas- daí em diante.
sagem, de iniciação. Os ritos de passagem, como Ora isto é o modelo corrente. Mas é preciso
o demonstrou o antropólogo francês Arnold notar que houve antropólogos que estudaram
Van Gennep, não se resumem aos ritos da mais recentemente estes ritos e demonstraram
adolescência. São-no, também, os ritos do nas- que mesmo assim as coisas são relativas. Isto
cimento, os do enterro - tudo isto marca pas- é, de facto nessas sociedades há ritos de pas-
sagens na vida. Mas associou-se particular- sagem até il morte, há aprendizagem. Num livro
mente os ritos de passagem com os da puber- de Didier Anzieu, Plzantasme et Formation, um
dade, que são apenas um dos casos de ritos de livro de psicologia social, há uma nota, de que
passagem. Esses ritos, também chamados de infelizmente não tenho a referência exacta,

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creio que é de Thomas (um antrop6logo que entenda-se a posse plena de comportamentos,
traWou no hnegai). que refere os antropó- capacidade de a@o, etc., então são os homens
logos ingieses que introáuziram essa correcção: das classes dominantes, dos grupos dominantes
mamo nas sociedades ditas primitivas, os ritos da sociedade, que têm o privilégio de ser adul-
de passagem ZI idade adulta são completamente tos, e que mantêm as muiheres em estado in-
S. Já nessas sociedades elementares se fantil e de subordinação, por exemplo, O con-
o homem não cessa de crescer até i3 ceito de adulto encontra-se assim iigado a uma
espécie de tomada do poder e de dominação.
I L.S.- k o faz-me pensar na distinção, intro- Gostaria de acrescentar a isto que quando tra-
duzida pelo etologista ingíês Michael Chance, balhei sobre a noção, ou melhor, o mito do
relativamente às sociedades de primatas, entre adulto, não quis fazer trabalho de etnologia, ou
as sociedades hedónicas e as sociedades agó- de antropologia, ou de etologia, ou mesmo de
nicas. Seria então uma característica destas psicanálise, ou de sociologiia. Era um trabalho
últimas sociedades, a produção dos adultos, isto teórico, um trabalho filosófico, de reflexão, que
é: de acentuar a dicotomia entre a infância intentava demonstrar que seja qual for o sector
enquanto período de jogo c a adultidade en- em que se faça funcionar a noção de adulto,
quanto período de dever e responsabilidade, de essa noção funciona mal ou não funciona de
poder político, também. 13 claramente o caso todo. O que é curioso (e talvez deva fazer aqui
de certas sociedades muito hierarquizadas, como um pouco de autobiografia, ou de auto-análise
os babuínos. do meu trabalho), é que o meu primeiro pro-
Ora bem. O que eu te quero perguntar é se jecto não era proceder à crítica do conceito de
achas que se pode fazer uma extensão desta adulto, mas, pelo contrário, trabalhar o con-
divisão para as sociedades humanas? Por ceito de jovem adulto, o que me fora proposto
exemplo, os Pigmeus M'buti são uma sociedade pelo Professor Daniel Lagache, que então diri-
muito lúdica. Mesmo os «adultosn passam muito gia a minha tese, as minhas pesquisas. Os jovens
tempo a jogar, a brincar, como as crianças. adultos englobavam esse período entre a ado-
Não têm uma dicotomia rigorosa entre o adulto lescência e a idade adulta, entre os 18 e os 25
e a criança, a transição é muito plástica. A pr6- anos, na categorização habitual. Comecei então
pria passagem da criança a adulto fame através a trabalhar nesse tema, e de repente apercebi-
de ritos que são executados não pelos próprios -me que esse conceito era demasiado imprecisa
Pigmeus mas pelas tribos bantas circumvizi- em toda a literatura científica francesa, inglesa,
nhas, que vivem fora da floresta. São os Bantos americana ... Isso pôs-me um problema: fala-
quem realiza os ritos de passagem, não os -se a torto e a direito dos jovens adultos, dos
Pigmeus, que se limitam a comer e beber à velhos adultos, dos adultos, mas afinal o que é
custa dos vizinhos enquanto duram as cerimó- que significa essa palavra «adulto»? A força de
nias. Produziram assim uma sociedade onde a investigar, disse: não existe. Não tem sentido.
infância é permanente. Inversamente, encon- Os sentidos atribuídos i palavra «adulto» eram
tramos sociedades muito rígidas, muito hierar- tantos que a palavra perdera totalmente qual-
quizadas, que se caracterizam pela produção quer significado preciso. Estava perante um
do adulto, como entidade institucional, como termo que em parte nenhuma tinha um valor
poder político. garantido.
G. L. - Sim. Efectivamente, como poder Ora bem, peguemos no campo do pensa-
político. E necessário analisar os adultos em mento político. Também aí se fala de «matu-
termos de poder, acima de tudo. E de poder ridade das massas» ou de cimaturidade das
sobre as crianças, também. Pode-se dizer que, massas». Por exemplo, um texto de Rosa
em última análise, se há adultos (e por adultos Luxemburgo: «Estão as massas maduras?» E

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há montes de textos de Lenine sobre este as- Por aqui se vê que do ponto de vista do
sunto. Mas o que é isso, a «maturidade» das pensamento sociológico e poiítico -e também
massas? Havia também outra ideia a esta ligada, podemos demonstrá-lo no campo da dinamita
a de amaturidade histórica», no pensamento de grupo, quando em psicologia social se fala
das Luzes. Na filosofia do período das Luzes, de um grupo «estável», de um grupo «adulto»,
Kant diz: «O que são as Luzes? São o Homem de um grupo que tem uma conduta «reflec-
que atingiu a sua maturidade.» Mas que homem tida»- o que é que tudo isto significa senão
é este que atingiu a «maturidade»? Fi a burgue- aquilo que Sartre denunciou num dado mo-
sia! Fi a classe dominante da época, é a bur- mento, em Kurt Lewin, como o detichismo da
guesia chegada a plena posse das suas facul- totalidade», quando Sartre fez a crítica da
dades que proclama a maturidade da História. Gestait? A isto opõe Sartre a ideia de que os
É Hegel, proclamando que a História atingiu
grupos nunca estão completados, o grupo é um
a maturidade, proclamando a burocracia prus-
estado de autoprodução permanente de si pró-
siana, o Estado burocrático mundial. Mais uma
prio, de inacabamento constante. O grupo é
vez, apercebemo-nos de que a ideia da maturi-
sempre totalização em processo, e processo de
dade é uma ideologia, e que quando se faz uma
totalização, e nunca totalidade acabada. Totali-
reflexão mais profunda sobre o assunto se chega
a posições como as de Trotsky, e dos chineses, dade acabada significa: tentativa de atingir um
dos maoístas, nalguns casos, que falam de estado de acabamento que nunca se realiza. Um
revolução permanente, ou de revolução inin- grupo passa o seu tempo a transformar-se sem
terrupta. G claro que se proclama num dado nunca chegar a um estado de estabilização, ou
momento que a Revolução acabou e atingiu se aí chega morre, desfaz-se.
a idade adulta, então é o Gulag! A idade adulta Ora bem, para te resumir a coisa: o que é
é a instalação num estado repressivo. 12por isso necessário pôr em questão, e finalmente recusar,
que Engels dizia que a ideia de completarnento é a ideia de um acabamento do homem. Creio
da História não faz sentido nenhum. A Histó- que o homem é dos pontos de vista, biológico:
ria não se pode completar. Creio que um dos psicológico, social, um ser definitivamente ina-
sentidos da ideia de revolução permanente é cabado. O progresso consiste não em procurar
combater a ideia de uma revolução que passa atingir um acabamento mas sim em instalar-se
por certos estádios para chegar a um estado de no inacabamento.
perfeição da Humanidade, um estado de feli- JOSE G A B R I E L PEREIRA BASTOS -
cidade, de satisfação de todas as necessidades - Gostaria de te fazer uma pergunta. Como é que
sem conflitos, ao fim e ao cabo; perfeito aca- explicas que em 1951 Erik Erikson tenha produ-
bado, uma espécie de Paraíso. É uma ideia fan- zido uma perspectiva da ontogénese em oito
tasmática, 21 qual se opõe a ideia da necessidade etapas que punha ponto final ao conceito de
de retomar continuamente o processo de trans- adulto e que os psicólogos genéticos tentem
formação, de mudança, que é conotado pelo voltar atrás e encontrar etapas de formação até
conceito de revolução permanente ou de revo- ii adolescência, como se existissem o adoles-
lução ininterrupta. Destruir incessantemente o cente, o adulto e o velho, mas como se entre os
que se tenta edificar conío estado de cristali- 25 e os 60 anos, num período de 35 anos, não
zação, ou seja: como estado adulto. O estado se dessem transformaçóes nenhumas?
adulto da História 6 um Estado cristalizado. G. L.-Exacto. Em que trabalho é que
um Estado burocratizado, é em última análise Erikson fala disso?
a morte de uma sociedade, e consiste em infan- J . G. P. B. - Childhood and Society, 1951.
tilizar o conjunto da sociedade numa situação É um trabalho que já vinha de 1947. Apresenta
de dependência e de constrangimento. um modelo do crescimento em oito etapas, das

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quais quatro para o aadultos: procura da iden- científica os pi'econceitos fundamentais da socie-
tidade, intimidade, geratividade e integridade. dade em que estão mergulhados.Ora essa socie-
G. L -Mas não designava isso pela paiavra dade, por mil e uma naihs, mais uma vez.
adulto? conserva a ngão de adultos. que aparece
J. G.P.B. -Não, nunca utiliza o conceito como uma evidência não criticada, que pertence
de adulto. Tudo o que há são etapas, cada uma ao senso comum. Ser adulto, entrar na vida, é
das quais tem a ver com um problema vital de ganhar o seu primeiro salário, é usar calças
base que é necessário resolver. Muda-se para compridas, é casar-se, é ter meninos. Enfim,
a etapa seguinte quando se começa a ter um isto muda, evidentemente, segundo as socieda-
problema vital diferente. Quando se muda de des, mas de modo geral é assim. Portanto pa-
problema, muda-se de etapa, mas não existe o rece evidente que num dado momento o ser
conceito de adulto. humano deixa de ser uma criança, deixa de
G. L. -Pois. Foi precisamente isso que eu crescer (é claro que a estatura se estabiliza, é
disse há bocado ... Só lamento não ter conhe- verdade), e então tudo parece indicar que na
nossa sociedade aí pelos 25 anos o crescimento
cido essa obra de Erikson quando fiz o meu
psicológico tem fim, os testes demonstraram-no,
trabalho.
etc. Aí chegados, chega-se ao estado estável, ao
1.G. P. B. -fi um psicanalista muito conhe-
estado de maturidade, que muda conforme as
cido na América, um psicanalista da psicologia sociedades, mas de forma geral corresponde a
do Ego ... uma pressão social interiorizada que instala a
G. L. - Erikson? maturidade no ser humano, que o constrange $I
I . G. P. B. - Sim. maturidade. fi verdade que os psicólogos não
G. L. -Ah. se esforçam por abrir uma brecha crítica neste
1. G. P. B. -Porque é que os psicólogos con- conceito, de desembaraçar a psicologia gené-
tinuam a não querer ver que se trata de um tica, e a psicologia rouf court deste conceito.
conceito ultrapassado, o de adulto? Porque é Salvo algumas excepções, aqui e ali, pensadores,
que tentam sempre voltar atrás e recomeçar com filósofos, psicólogos, que tiveram disso o pres-
o jogo da psicologia da adolescência, da psico- sentimento, mas de forma geral ficaram-se pela
logia do adulto, etc.? vertente mais forte, a que tu te referias há bo-
G. L. -Encontramos isso em Piaget, sim. cado, e onde se encontra a adolescência, a matu-
12 aquilo a que chamo em Piaget o «adulto- ridade, a velhice. etc. ...
-padrão». Aliás isto desagradou & brava ao 1.G. P. B. -No fim do século XIX o poder
Piaget, não gostou nada e ficou todo zangado estava nas mãos das pessoas que tinham 60-80
quando fiz esta crítica & sua obra. Mas até anos. E conhecemos grandes poiíticos que o fo-
mesmo Wallon cai no mesmo, se bem que ram aos 80 anos. Neste momento a ideologia
Wallon seja mais dialéctico, mais plástico. Mas converge para colocar o máximo de poder aos
também ele edifiwu uma imagem normativa da 40-45 anos. Começou-se a falar da velhice como
ontogénese. Em Piaget, então, é evidente. segunda infância: «OS velhos são como as criam
L.S.-Ah, mas Piaget também diz que o çasn. Na psicanálise encontra-se também a ideia
ideal dele é ser, até & morte, uma criança, por- de que o homem luta todos 06 dias com a nos-
que-a infância é a fase eminentemente criadora! talgia da sua infância.
Acho que dizer isso é desconhecer Piaget ... G. L. -Foi isso que eu disse, de facto.
G. L. -Creio que a coisa tem a ver, antes de J . G. P. B. -Ora eu pergunto-me se não ha-
mais, com o prestígio muito forte de que gozam verá um mecanismo político de produção de um
os psicólogos genéticos, mas que não fazem mais pólo infantil nos adultos? Isto é: em todas as
do que traduzir numa linguagem que pretendem sociedades há sempre no grupo dos adultos dois

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subgrupos. O subgrupo dos que produzem o rios que decidem fazer o menos possível, da
esforço, e têm o dever de o produzir, para que ideologia beurtnik, hippie, etc. -enfim, ganhar
a sociedade se mantenha; e outro subgnipo a vida ii justa para tentar gozar a vida o mais
que não tem de fazer esforço. Era a aristocra- possível sem investir um labor obstinado, sem
cia dos séculos XVI-XVIII. Não tinha de tra- valorizar demasiado o trabalho como produção
balhar: dançava, tocava cravo, desbaratava ri- de bens, como condição de vida, como dor
quezas. O rei era como uma criança, dizia-se. necessária ii vida- um pouco como no parto
A burguesia veio acabar com isto. Tentou aca- sem dor, enfim ...
bar com os adultos que não servem para nada. L. S. -Trata-se de uma recusa do estado de
As actuais monarquias conservam ainda essa adulto.
instituição social, essa família infantilizada, que G. L. - Ah, é a recusa de algo que efecti-
serve apenas de pólo fantasmático na sociedade: vamente estava ligado ao estado de adulto. O
um máximo de poder com um mínimo de res- adulto é o trabalhador. A destruição da valori-
ponsabilidade social, ou de esforço. O que eu zação do trabalho. é a destruição da valoriza-
pergunto é se não começarão agora a surgir ção do adulto enquanto ideologia do trabalho.
estes dois pólos em duas gerações, ou duas L. S. -E como masoquismo.
etapas vitais: o adulto, que tem de desenvolver G. L. - E como masoquismo! E isso.
demasiados esforços (os «quadros» das empre- 1.G. P. B. -E como sadismo.
sas, os professores universitários, que vivem em G. L. - Sim, é isso! fi um dos processos a
stress, que desenvolvem esforços estúpidos para que assistimos na sociedade moderna. Há tam-
ultrapassar recorús anteriores), e uma etapa em bém o tema do «ficar jovem», etc.
que se pode de novo ser criança, a velhice. L. S. - A publicidade ...
G. L.-Ou seja, aquilo que faz o filo adulto, G. L. - A publicidade, sim. Cada vez nos
é o pólo das responsabilidades sociais e do poder afastamos mais da ideia do adulto, estabelecido,
social. trabalhador, sério, consciencioso, etc.
J . G. P . B. -E do esforço ... L.S.-Bom. Então, voltando ao tema de
G. L. -E do esforço. E do trabalho, por- há bocado, o adulto é o poder, é a ordem. Re-
tanto. E aqui chegamos a uma ideia social que tomo então o tema etológico. Nos primatas o
começa a ser muito criticada, a de esforço, de adulto não é apenas o que pode reproduzir-se,
produção, de trabalho. E mesmo algo que é do ponto de vista da sua maturidade sexual.
posto em questão no pensamento socialista, no O adulto é fundamentalmente aquele que detém
pensamento marxista. E verdade que Marx o poder. O que passa, nas sociedades de pri-
dizia que o socialismo permitiria um maior matas, pelo controle das fêmeas, dos jovens. A
desenvolvimento das forças produtivas, uma conquista do poder faz-se sempre através de
libertação das forças produtivas, que cessariam uma cisão (os jovens separam-se e vão fazer a
de crescer no capitalismo (o que aliás é falso). loja para outro lado) ou de um derrube dos
Contra esta ideia vão neste momento todos os poderes, do macho ou machos dominantes. Ora,
ecologistas, dado que se prova que o desenvol- gostava de saber o que pensas das teses de
vimento das forças produtivas industriais tem Moscovici e de Morin?
resultados desastrosos, etc. - sabemo-lo agora. G. L. -Ora bem, Moscovici e Morin tentam
Ora esta ideia do valor fundamental do traba- enraizar a sociedade na natureza. I3 a grande
lho começa cada vez mais a ser criticada teori- ideia dos nossos dias, e é profundamente verda-
camente. Mas também praticamente, pelas no- deira e positiva. I3 perfeitamente válido não
vas gerações, de há uns vinte anos para cá. separar a cultura e a natureza, e, pelo contrário,
Assistimos aos fenómenos de abandono, de demonstrar que os comportamentos sociais estão
deserção perante o trabalho, de jovens operá- profundamente enraizados na natureza. Não

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está errado partir-se dos fenimenos sociais do LS.-Portanto, a cultura é a instituição.
mundo animal para tentar compreender melhor G. L. -Sim. a sociedade humana é a ins-
os fenómenos sociais humanos. tituição. Tal como é difícil imaginar uma socie-
L.S.-Mas isso tem implicações, sabes? dade sem linguagem.O que náo significa que
Nas teses clássicas encontrava-se uma explica- se negue a existência de sociedades animais. Há
ção para a divisão do poder ideológico e poli- ou não há instituições nas sociedades animais?
tico a partir da divisão dos poderes emnómicos. 13 provável que as haja, não?
Ora o que essas investigações nos vêm revelar é L. S. -Diz-me o que é uma instituição que
que há primeiro uma divisão do poder político, eu logo te respondo.
baseado no poder sexual, no poder do adulto. G. L. -Pois, isso levanta-nos um problema:
12 prévia à alienação económica, à alienação o que é uma instituição? fi uma questão que
ideológica, a alienação política. I2 a subversão não está resolvida. E o que é a linguagem, afi-
da tese tradicional. nal? Bem, mas tudo isto era para pôr em ques-
G. L. -13 exacto. E não é de espantar que tão um mito da revolução, um mito, uma utopia
um dos primeiros trabalhos de Edgar Morin das pessoas que dizem: todas as instituições são
( L ’ H o m et Za Mort) recorra a Bolk, e ao más, e portanto uma revolução perfeita poria
fenómeno da neotenia, legitimando o facto de fim às instituições sociais. Mas o que significa
se partir da observação da natureza (como eu uma sociedade sem instituições? Sem meios de
próprio fiz ao recorrer ao conceito de neotenia) comunicação, sem meios de troca, sem meios
para compreender os fenómenos culturais hu- de organiza6o-não é possível uma socie-
manos. dade sem instituições. O que não significa
L.S.-Sim, mas não deixamos lá por isso que as nossas instituições sejam boas. Eu não
de encontrar leituras ideológicas da cultura que disse nada disso. Não disse que eram eternas,
assentam em bases naturalistas. Refiro-me a não creio que o sejam, nem um bocadinho.
Konrad Lorenz, que interpreta a crise de gera- Todas as instituições que nós conhecemos podem
ções, o conflito entre gerações na espécie hu- desaparecer, quer seja a Escola, a Igreja, o Casa-
mana, partindo de dados etológicos simples, mento, o Salário, o Dinheiro. Mas isso não
de sociedades animais. quer dizer que após o desaparecimento dessas
E já agora aproveito para observar que creio instituições seja possível uma sociedade sem
recordar-me que puseste em causa esta noção instituições.
de sociedades animais, na tua conferência da L. S . -Bom. Mas para voltarmos a batata
Reitoria, há quinze dias ... quente, dado que no6 afastamos um pouco do
G. L.-Ah, sim? tema central, que é o adulto ...
L. S. -Sim. Disseste que não havia socie- G. L. - O Adulto é também uma instituição.
dades sem instituições, sem linguagem, sem L. S . -Pois é.
shbolos. G. L. -0 Adulto é, aliás, o instituído. O
G. L. -Mas há simbolizações e linguagens oposto do instituinte.
nos animais! L.S.-Mas volto ao problema que é a
L. S. -Linguagens? Articuladas e tudo? ... passagem da leitura naturalista do conflito de
G. L. -Bem, não ... Enfim, comunicações! gerações, do qual Lorenz demonstra o carácter
L. S. -Ah, comunicações. Bom, então fui eu adaptativo no tocante às sociedades animais, à
que compreendi mal. leitura, digamos: culturalista, do problema. O
G. L. - Espera aí, eu não disse nada disso! conflito entre o instituído adulto e aqueles que
O que eu disse (há contra-sensos chatos!) foi querem por seu tuma ocupar esse estatuto.
o que disse algures o Castoriadis, que não pode- G. L. -0 que pergunto é se esse conflito
mos imaginar uma sociedade sem instituições ... de gerações será tão forte Como isso, na nossa

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miedade. Onde é que nós vemos verdadeira- tempestades, as rupturas, o acesso Zt vida se-
mente jovens lutando para se tomarem adubos? xual, enfim: o grande tumulto interior. %a
Lutando para substituir os adultos, entre nós, hoje sabemos, os antropólogos mostraram isso,
nas nossas sociedades ocidentais, capitalistas?! Margaret Mead entre outros, que há sociedades
Vocês vêem isso?! Talvez no campo político, onde a adolescência não apresenta crise alguma.
talvez nos partidos políticos, se verifique uma No livro Coming of Age in Samoa. A partir de
questão de dira-te-d'aí-para-eu-me-pôr-lá,, mas então tomámo-nos mais prudentes quanto às
isso são lutas interiores a um sistema burocrá- «crises da adolescências, que tendem a desapa-
tico. Mas será um fenómeno social geral, pode- recer cada vez mais da psicologia genética. 0 s
mos de facto dizer que todos os jovens desejam psicólogos falam cada vez menos de crise da
nos nossos dias tomar-se adultos, substituir 06 adolescência!
adultos? Não tenho nada a certeza disso. J.G. P . B.-Sim, mas ...
L.S.-Portanto, não há conflito de gera- G. L. -No início dizia-se: a crise da adoles-
ções? cência! Tomava-se um fenbmeno da nossa socie-
G. L. -B como a questão da crise da ado- dade por um fenómeno geral.
lescência ... O que vem a ser isso do conflito J . G .P . B. -Sim, mas pergunto se a magni-
de gerações? O que está por detrás disto tudo ficação da crise da adolescência não é uma
é o facto de as ciências sociais, as ciências hu- forma ideológica de denegar a existência das
manas, a psicologia, a sociologia, funcionarem crises dos 25, 35, 45 anos? Penso que há escri-
com conceitos recolhidos na rua. Foram buscar tores, como Balzac, que viram muito bem que
coisas que pertencem a linguagem corrente, uma mulher de 18 anos não é o mesmo que
como essa da crise das gerações, que apareceu uma mulher de 35. Há escritores, há psicólogos.
antes de mais no domínio da literatura, para mas são uma minoria, que sabem muito bem
descrever fenómenm como o romantismo. Por que a crise existe sempre. Ora quando os psicó-
exemplo, em Coimbra, no fim do século pas- logos pegam na temática da crise da adoles-
sado, os estudantes estavam de facto em conflito cência, pergunto a mim próprio porque é que
com a geração dos mestres, com a velha escola eles nunca pegam na crise dos 35 anos como
académica, para tentar definir novos valores objecto de estudo científico?
artísticos. No domínio da literatura, é claro, há G. L.-Para já, por uma razão muito simples.
conflitos desse tipo, enre os antigos e os mo- É que as pessoas aperceberam-se de que não
demos. E fala-se então de conflito de gerações. existe uma psicologia das fases do adulto. A
Mas não se trata de gerações, mas de uma psicologia do adulto é a psicologia geral. A
parte da juventude que quer defender os seus psicologia genética pára precisamente naquilo
próprios valores contra os valores defendidos a que se chama a idade adulta. Toda a gente
por anciãos, velhos académicos. B um fenómeno sabe isso. Segue-se o desenvolvimento da crian-
constante na arte. Na arte há sempre a substi- ça dia a dia, quase hora a hora. Gesell, por
tuição do antigo pelo novo. Caso contrário não exemplo, descreve minuciosamente, dia a dia,
há arte. Num dado momento o gótico substitui a evolução da criança. Mas depois? ...
o românico, etc. Mas a partir desta constatação J . G .P . B. -E Bianca Zazzo, com os addes-
começou-se a falar de uma lei geral, de conflitos centes ...
de gerações, como se falou da crise da adoles- G. L. - E depois? Quando se chega aos 20
cência. Toda a gente dizia que a crise da adoles- anos? Acabou! Não existe nenhuma literatura
cência era fenómeno universal. Por todo o lado sobre o assunto, ou é muito vaga, muito escassa,
a criança passa a adolescente no meio de uma muito geral. Tanto quanto sei não há investiga-
crise dos diabos, que Jean-Jacques Rousseau @& nessa linha; enfim, já não me dedico há
foi o primeiro a descrever, no Émile, com as muito psicologia genética, mas ...

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I . G. P. B. -I% então ~m tabu? -
1.G. P.B. Isso recorda-me algo; creio que
G.L.-Ekm ... sim ... talvez seja um tabu, foi FEud quem disse que o homem começou
sim. Bem, talvez seja demasiado dizer que é sempre por estudar aquilo que estava mais
um tabu. Pode-se dizer, simplesmente, que se longe de Si pdprio: a astrologia, a mineralo-
seguiu o senso comum e se considerou que a gia, a geometria, a física, a qujmica. O corpo
partir daí já não acontecia nada. Acabou. E humano só.muito tarde foi estudado. A mio-
como os Iobínhos que o Luís tem lá dentro. iogia começa no século XIX. A psicologia ...
Os lobos pequenos são giros, são interessantes, G. L.-A psicologia, m o dizia Ribot, creio,
educamo-los, socializamo-los, e de repente vão é a psicologia do homem adulto, branco, civili-
tornar-se uns lobos enormes, uns lobos adultos, zado. E curiosa esta associação. Branco, adulto,
e acabou ... o Luís Soczka volta a pô-los no civilizado!
Jardim Zoológico. Esperarão aí a morte, será o I . G. P. B. -E do sexo masculino!
fim para eles ... Deixarão de ser interessantes, -
G. L. Sim,e masculino.
terminarão a fase de crescimento, desenvolvi- J . G. P. B.-E burguês.
mento, etc. Tomam-se grandes, adultos, já não G. L. -Bom, está bem, podem-se acrescen-
terão história. tar todas essas características, sim ... Mas é gira
L.S.-Olha que não, doutor, olha que não ... essa posição: branco por oposição a negro,
G. L. -Ora quando se afirma que os adultos adulto por oposição a criança e civilizado por
não existem, é necessário fazer uma psicologia oposição a selvagem. A psicologia é isso.
genética até a morte. L. S.-Logo, criança igual a primitivo?
I . G. P. B. -Sim. G. L. -Sim: criança inclui animal e primi-
G. L. -I3 necessário descrever as fases que tivo.
vão até a morte. Foi o que me impressionou no I . G. P. B. - ... e a mulher?
caso dos ajovens adultos». E se Lagache me G. L.-Bem, não vamos incluir a mulher
pediu para trabalhar neste campo foi justamente porque há movimentos feministas! Adiante,
porque sabia que não existiam trabalhos sobre adiante ... Bem, vamos lá acabar com isto e
os jovens adultos. Há milhares de trabalhos que comer mais umas bolachinhas porque já estou
se detêm na adolescência, mas muito poucos cansado!
abordam os jovens adultos, e ainda menos tra-
tam do chamado adulto. Mais uma vez é preciso
Lisboa, 9 de Julho de 1977
insistir no facto de que a ideia de que há adultos (Transcrito do gravador)
estabilizados na idade adulta evacuou a exigên-
cia de se elaborar uma psicologia genética
dessa fase da vida.

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