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Experiência da prisão de Stanford de Philip Zimbardo

Explicação breve da matéria


Será que todos os seres humanos nascem bons, mas acabam por ser
corrompidos pela sociedade? Ou todos nascem egoístas, e a sociedade só
reflete esse aspeto? Estas são duas perguntas de caráter muito complicado
e são responsáveis por uma das maiores e mais polêmicas discussões da
história da filosofia. Em 1642, o filósofo inglês Thomas Hobbes defendeu a
tese da maldade essencial. E foi contestado, no século seguinte, pelo suíço
Jean-Jacques Rousseau, que colocou a culpa na sociedade. Em 1971, uma
experiência realizada na Universidade Stanford parecia comprovar, sem
margem de dúvida que Rousseau tinha razão. A maldade seria uma
construção social, e o ambiente uma força capaz de transformar qualquer
pessoa, até a mais bondosa, numa pessoa cruel. A Experiência da Prisão de
Stanford tornou-se o estudo de psicologia mais influente de todos os
tempos. Ao longo das décadas seguintes, foi citado em centenas de
trabalhos científicos, analisado em dezenas de livros, recontado em mais de
dez filmes e documentários. Philip Zimbardo, transformou-se numa
celebridade e referência no estudo dos instintos humanos.
O Efeito Lúcifer surgiu no decorrer desta experiência, que saiu do controle
e desencadeou diversos estudos de como diversos fatores externos podem
favorecer o comportamento violento de qualquer pessoa. A partir desse
estudo, o poder e a obediência passaram a exemplificar algumas das formas
de facilitar esse tipo de comportamento. O psicólogo Philip Zimbardo tinha
a intenção de analisar as consequências psicológicas do ambiente prisional. O
Efeito Lúcifer em conjunto com a psicologia social pretende demonstrar que
existem diversas formas de compreender o comportamento violento e
criminoso. A obediência, a autoridade e a relação em grupo são alguns
aspetos desses estudos sociológicos que demonstram a facilidade como
pessoas aparentemente normais podem agir de forma reprovável pela
sociedade e que qualquer um está sujeito a isso, sendo relevante
compreender como isso acontece e o que pode ser feito de forma
preventiva.

Guardas
Não foi dada formação específica aos guardas para desempenharem o seu
papel. Tinham liberdade, dentro de certos limites, para fazer o que fosse
necessário para manter a lei e a ordem na prisão e para assegurar o respeito
dos reclusos. Os guardas elaboraram as suas próprias regras. Contudo,
foram avisados da potencial seriedade da sua missão e dos possíveis riscos
da situação que estavam prestes a enfrentar como sucede, de facto, com os
verdadeiros guardas que, de forma voluntária, assumem este trabalho
perigoso.
Todos os guardas estavam vestidos com uniformes idênticos, transportavam
um apito ao pescoço e um bastão emprestado pela polícia. Os guardas
também usavam uns óculos de sol especiais. Os óculos de sol espelhados
impediam que se pudesse ver os seus olhos ou perceber as suas emoções e,
assim, contribuíam para a preservação do seu anonimato. Assim, não eram
apenas os reclusos que estavam a ser estudados mas também os guardas,
pois estes estavam a desempenhar um papel de poder que lhes tinha sido
conferido.
A experiência começou com nove guardas e nove reclusos na nossa prisão.
Três guardas trabalhavam num dos três turnos de oito horas, enquanto três
reclusos ocupavam cada uma das três celas nuas 24 horas por dia. Os
restantes guardas e reclusos encontravam-se de prevenção para o caso de
serem necessários. As celas eram tão pequenas que existia somente espaço
para três casacos em cima dos quais os reclusos dormiam ou se sentavam,
sem grande espaço para mais.

Exercendo a autoridade
Às duas e meia da manhã os reclusos foram rudemente acordados por apitos
estridentes para a primeira de muitas “contagens”. As contagens serviam o
propósito de familiarizar os reclusos com os seus números (as contagens
ocorriam várias vezes em cada turno e frequentemente à noite). Mas mais
importante ainda, estes acontecimentos representavam uma oportunidade
para os guardas exercerem regularmente controlo sobre os reclusos. Numa
primeira fase os reclusos não tinham assumido completamente os seus
papéis e não levavam estas contagens muito a sério. Estavam ainda a afirmar
a sua independência. Os guardas também sentiam que ainda não estavam
habituados aos seus novos papéis e não tinham a certeza de como deveriam
exercer a autoridade sobre os reclusos. Isto foi o princípio de uma série de
confrontações diretas entre os guardas e os reclusos.
As flexões constituíam uma forma habitual de castigo físico impostas pelos
guardas para punir infrações das regras ou manifestações de atitudes
impróprias para com os guardas ou a instituição. Quando os guardas exigiam
flexões dos prisioneiros pensámos inicialmente que era um tipo de punição
inapropriada. Todavia, soubemos posteriormente que se utilizavam as
flexões como uma forma de punição frequente nos campos de concentração
nazis.
Ao quinto dia, segundo Zimbardo, tinha surgido uma nova relação entre
reclusos e guardas. Estes sentiam-se mais à vontade no seu trabalho.
Existiam três tipos de guardas. O primeiro tipo era constituído por guardas
duros mas justos que seguiam as regras da prisão. O segundo tipo era
formado pelos guardas que faziam pequenos favores aos reclusos e nunca os
puniam. Por fim, cerca de um terço dos guardas era hostil, arbitrário e
criativo na forma como humilhava os reclusos. Estes guardas pareciam
desfrutar completamente o poder de que dispunham.

Envolvimento do pesquisador

A experiência de Stanford consistia num conjunto de: prisioneiros, guardas,


uma prisão falsa e ainda um amontoar de regras. No entanto, a prisão de
Stanford era apenas um ambiente manipulado onde tantos guardas como os
prisioneiros atuavam de acordo com regras pré-definidas. Desde o início, as
prioridades dos guardas eram impostas pelos Zimbardo. Cada guarda,
inicialmente, tinha a função de despir os prisioneiros e estes eram
obrigados a usar uniformes. Apesar de os guardas na maioria das vezes
agirem sem qualquer tipo de instrução isto não significava que estes eram
completamente autónomos. Zimbardo era o supervisor de toda a
experiência.
Ocasionalmente, aconteciam disputas entre os prisioneiros e os guardas que
ficavam fora de controlo. Todavia, o feedback dado pelo Philip, era bastante
favorável incentivando atos violentos.
Desta forma, podemos concluir que Philip Zimbardo, teve um papel bastante
relevante no decorrer da sua própria experiência.
O papel do próprio Zimbardo foi severamente questionado. Uma vez que,
durante o experimento não só atuou como "diretor" daquela prisão como
também aconselhou os guardas sobre como se deviam comportar,
estimulando as condutas abusivas. 
"O experimento mostra-nos que a natureza humana não está totalmente
sujeita ao livre arbítrio, como gostamos de pensar, mas que a maioria de nós
pode ser seduzida a se comportar de maneira totalmente atípica em relação
ao que acreditamos que somos", disse à BBC.

Testemunho de um guarda prisional

Para tornar a nossa apresentação mais explícita decidimos recolher um


testemunho de uma guarda prisional, que agora vos vou apresentar.
Há 23 anos, Maria Oliveira saía da tropa e recebia luz verde a dois
concursos públicos para os quais se candidatava: um para a Guarda Nacional
Republicana e outro para o Corpo de Guardas Prisionais. Escolheu o segundo
e, ao fim de uma semana, quis voltar atrás na decisão. Hoje, Maria Oliveira
tem 49 anos e o seu currículo está repleto de “aventuras”. Desde da sua
estreia em Tires e ainda várias passagens por prisões femininas de menor
dimensão e também por masculinas. 
Olhando para o seu caso pessoal e apontando para o futuro, Maria
Oliveira não sonha com postos nem com posições de destaque mas antes com
algo que, segundo ela, é aparentemente difícil de alcançar por parte de
quem faz da vida guardar condenados. Esta guarda prisional afirma: “Quero
acabar a minha vida profissional não em função do posto que tenha, não em
função de tentar ir mais alto na carreira, mas sim com a minha sanidade
mental no lugar” “Estou a falar da sobrevivência num meio onde estamos
inseridos, que nos afeta muito mentalmente. E chegar ao fim da carreira e
estar completamente destruída não é opção”, justifica a chefe Vidigal.
Maria Oliveira constata:
“Não temos acompanhamento psicológico”
Contudo se houvesse, e ainda mais, se fosse obrigatório acompanhamento
psicológico, metade dos problemas não existiam.
Para lá dos problemas mentais, há as questões físicas, numa profissão em
que a força é algo importante. “Noto que nós, com o decorrer da
carreira, nos vamos desleixando na preparação física. Acomodamo-nos à vida
profissional e, com a vida familiar, acabamos por não ter tempo”, analisa
esta. Para Maria Oliveira, o ideal seria ter duas horas de trabalho físico
para uma profissão que exige muito e, de preferência, “incluídas em horário
de trabalho”. E vinca: “Quem está em cadeias mais complicadas, sai do
serviço completamente arrumado e já não tem coragem para mais nada.”

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