Guardas
Não foi dada formação específica aos guardas para desempenharem o seu
papel. Tinham liberdade, dentro de certos limites, para fazer o que fosse
necessário para manter a lei e a ordem na prisão e para assegurar o respeito
dos reclusos. Os guardas elaboraram as suas próprias regras. Contudo,
foram avisados da potencial seriedade da sua missão e dos possíveis riscos
da situação que estavam prestes a enfrentar como sucede, de facto, com os
verdadeiros guardas que, de forma voluntária, assumem este trabalho
perigoso.
Todos os guardas estavam vestidos com uniformes idênticos, transportavam
um apito ao pescoço e um bastão emprestado pela polícia. Os guardas
também usavam uns óculos de sol especiais. Os óculos de sol espelhados
impediam que se pudesse ver os seus olhos ou perceber as suas emoções e,
assim, contribuíam para a preservação do seu anonimato. Assim, não eram
apenas os reclusos que estavam a ser estudados mas também os guardas,
pois estes estavam a desempenhar um papel de poder que lhes tinha sido
conferido.
A experiência começou com nove guardas e nove reclusos na nossa prisão.
Três guardas trabalhavam num dos três turnos de oito horas, enquanto três
reclusos ocupavam cada uma das três celas nuas 24 horas por dia. Os
restantes guardas e reclusos encontravam-se de prevenção para o caso de
serem necessários. As celas eram tão pequenas que existia somente espaço
para três casacos em cima dos quais os reclusos dormiam ou se sentavam,
sem grande espaço para mais.
Exercendo a autoridade
Às duas e meia da manhã os reclusos foram rudemente acordados por apitos
estridentes para a primeira de muitas “contagens”. As contagens serviam o
propósito de familiarizar os reclusos com os seus números (as contagens
ocorriam várias vezes em cada turno e frequentemente à noite). Mas mais
importante ainda, estes acontecimentos representavam uma oportunidade
para os guardas exercerem regularmente controlo sobre os reclusos. Numa
primeira fase os reclusos não tinham assumido completamente os seus
papéis e não levavam estas contagens muito a sério. Estavam ainda a afirmar
a sua independência. Os guardas também sentiam que ainda não estavam
habituados aos seus novos papéis e não tinham a certeza de como deveriam
exercer a autoridade sobre os reclusos. Isto foi o princípio de uma série de
confrontações diretas entre os guardas e os reclusos.
As flexões constituíam uma forma habitual de castigo físico impostas pelos
guardas para punir infrações das regras ou manifestações de atitudes
impróprias para com os guardas ou a instituição. Quando os guardas exigiam
flexões dos prisioneiros pensámos inicialmente que era um tipo de punição
inapropriada. Todavia, soubemos posteriormente que se utilizavam as
flexões como uma forma de punição frequente nos campos de concentração
nazis.
Ao quinto dia, segundo Zimbardo, tinha surgido uma nova relação entre
reclusos e guardas. Estes sentiam-se mais à vontade no seu trabalho.
Existiam três tipos de guardas. O primeiro tipo era constituído por guardas
duros mas justos que seguiam as regras da prisão. O segundo tipo era
formado pelos guardas que faziam pequenos favores aos reclusos e nunca os
puniam. Por fim, cerca de um terço dos guardas era hostil, arbitrário e
criativo na forma como humilhava os reclusos. Estes guardas pareciam
desfrutar completamente o poder de que dispunham.
Envolvimento do pesquisador