Você está na página 1de 3

Curso de Educação e Formação de Adultos

FICHA DE TRABALHO
Formador: Liliane Ramos

Área: Cidadania e Profissionalidade


CP1 – RA 1
Núcleo Gerador: Direitos e Deveres
Tema: Liberdade e Responsabilidade Pessoal
Critérios de Evidência:
- Identificar situações de autonomia e responsabilidade partilhadas;
- Compreender as dimensões inerentes à construção e manutenção do Bem Comum: Bem individual vs. Bem
público na comunidade;
- Explicitar situações de liberdade e responsabilidade pessoal.

Email: lilianneramos@hotmail.com
Leia com atenção os seguintes textos:

Texto A
“Em 1924, dois adolescentes de Chicago raptaram e assassinaram um rapaz apenas para
provar que conseguiam fazê-lo. Apesar da brutalidade do acto, não pareciam especialmente perversos,
provinham de famílias ricas, eram ambos estudantes excelentes.
Os seus pais contrataram Darrow, o advogado mais famoso da altura, para os defender. Eles já
tinham admitido a sua culpa, pelo que o trabalho de Darrow era apenas mantê-los longe da forca. Falou
durante mais de doze horas, não sustentou que os rapazes eram loucos, ainda assim, disse, não eram
responsáveis pelo que tinham feito e apelou a uma nova ideia que os psicólogos tinham proposto,
nomeadamente que o carácter humano é moldado pelos genes do indivíduo e pelo ambiente. Disse ao
juiz: “as pessoas inteligentes sabem agora que todo o ser humano é o produto de uma hereditariedade
infindável que o precede e de um ambiente infinito que o rodeia. Não sei o que levou estes rapazes a
realizar este acto louco, mas sei que houve uma razão para que o tenham realizado. Sei que não o
produziram por si. Sei que qualquer uma de um número infindável de causas que remontam ao começo
pode ter actuado na mente destes rapazes.”
Os psiquiatras tinham atestado que os rapazes não tinham sentimentos normais, pois não
mostravam qualquer reacção emocional ao seu acto. Darrow tirou partido disto: descreve Loeb como
alguém que, na infância, esteve privado do afecto de que um rapaz precisa, tendo passado os dias a
estudar e as noites a ler secretamente histórias de crimes enquanto fantasiava cometer o crime perfeito e
enganar a polícia. Quanto a Leopold, ele era fraco e não tinha amigos. Cresceu obcecado com a filosofia
do “super-homem” de Nietzsche, desprezando as outras pessoas e querendo desesperadamente provar a
sua superioridade. Depois os dois rapazes conheceram-se e, juntos, cometeram um crime que nenhum
deles poderia ter cometido sozinho…”
James Rachels, Problemas da Filosofia, Tradução de Pedro Galvão (adaptado)

A ideia moderna (determinismo) de que a nossa personalidade resulta da “hereditariedade-mais-


ambiente” alega que os réus não eram responsáveis pelas suas acções. Com a ascensão da ciência
moderna, tornou-se comum conceber o universo inteiro como um grande sistema determinista: a natureza
consiste em partículas que obedecem às leis da física, e tudo o que acontece é governado pelas leis
causais invariáveis.
O que serão exactamente “as causas subjacentes ao nosso comportamento”? Como Darrow
observou, as causas “últimas” podem ser remotas. Porém, as causas imediatas são acontecimentos que
ocorrem no nosso cérebro. Realizam-se, por vezes, cirurgias cerebrais apenas com anestesia local, pelo
que o paciente pode dizer ao cirurgião que experiências está a ter enquanto várias partes do seu cérebro
são sondadas. Esta técnica foi introduzida há mais de meio século pelo Dr. W. Penfield (The excitable
Cortex in conscious Man, 1958) e, desde então, os neurocirurgiões utilizam a técnica de Wilder. Sabem
que, se sondarmos um lugar, o paciente sentirá um formigueiro na mão; se sondarmos outro lugar, o
paciente sentirá o cheiro do alho; se sondarmos outro lugar ainda, ele pode ouvir uma canção dos Guns
N’Roses.
José Delgado, que desenvolveu a sua investigação na Universidade de Yale há quatro décadas
atrás, descobriu que, estimulando várias regiões do cérebro, conseguia causar todos os tipos de
movimentos corporais, incluindo franzir as sobrancelhas, abrir e fechar os olhos, mover a cabeça, os
braços, as pernas e os dedos.
Alguns filósofos diriam que o procedimento de Delgado não causa acções, mas apenas
movimentos corporais. As acções implicam razões e decisão, e não apenas movimentos. Mas isto não é
tudo. Quando Delgado fez a sua experiência com seres humanos, (…)além de terem realizado os
movimentos sem surpresa nem medo, também deram razões para os terem realizado. Num paciente, a
estimulação eléctrica do cérebro produziu “um virar de cabeça e um deslocamento lento do corpo para
cada um dos lados numa sequência bem orientada e aparentemente normal, como se o paciente estivesse à
procura de algo” (…). Quando lhe perguntavam “O que está a fazer?”, ele respondia “Estou à procura dos
meus chinelos.”, “Ouvi um barulho”, “Estou impaciente” ou “Estava a olhar para debaixo da cama”.
Será que as nossas decisões também são produzidas por disparos de neurónios? E as outras
circunstâncias que nos rodeiam? Cada um de nós nasceu de pais específicos numa época e num lugar
específicos, e não é preciso pensar muito para compreender que, se essas circunstâncias tivessem sido
diferentes, também nós poderíamos ter sido diferentes.. Um jovem “escolhe” tornar-se corretor da bolsa –
será coincidência que o seu pai tenha sido corretor da bolsa? O que teria ele escolhido se os seus pais
tivessem sido missionários? Sabemos também que as condições sociais influenciam as nossas decisões de
formas que escapam à nossa consciência, mas que se revelam nas estatísticas. Em cada caso particular,
pode parecer que o indivíduo está a fazer uma escolha livre e independente. Todavia, se as circunstâncias
sociais se alteram, a proporção de pessoas que tomam essas decisões também muda. (…)
http://criticanarede.com, 20/05/09

Texto B
“Podemos não ser livres de escolher o que nos acontece mas podemos escolher como reagir ao
que nos acontece.”
Fernando Savater, Ética para um jovem.

Todo o indivíduo possui a capacidade de actuar segundo a sua própria decisão. A liberdade
humana é sempre liberdade de escolher dentro dos limites que a nossa circunstância nos impõe. Da nossa
circunstância fazem parte o país onde nascemos, o nosso grupo social de referência, a nossa família e os
nossos hábitos. Daí que as nossas escolhas suponham valores e normas sociais.
Apesar dos condicionalismos o homem é um ser livre, pois, em última instância, é sempre ele
que decide agir ou não agir. Sendo livre pode escolher ajustar-se ou não às regras sociais que encontra,
realizar ou não actos que constituem verdadeiras rupturas com os condicionalismos e as solicitações
externas ou internas.
A liberdade individual é um valor fundamental para qualquer pessoa contudo, isto não quer dizer
que podemos “fazer tudo aquilo que nos apetece”. Pelo facto de vivermos e sermos seres sociais, a nossa
liberdade tem de ser articulada com a dos outros. Ser livre é agir com responsabilidade. Ser responsável é
assumir as consequências do que fazemos, respondendo pelos nossos actos não culpando apenas os
outros, as circunstâncias, a sociedade e os erros do mundo.
Num contexto democrático a liberdade é um dos valores fundamentais. Assim sendo, os deveres
constituem a outra face dos direitos e são encarados como responsabilidades, formando uma rede de
obrigações horizontais entre os cidadãos. Deste modo, em democracia exigem-se virtudes cívicas, ou seja,
características tais como responsabilidade moral, autodisciplina, respeito pelo valor individual próprio e
alheio, dignidade humana, capacidade crítica, vontade de negociar e alcançar compromissos, respeito pela
supremacia do Direito. Sem estas virtudes não é possível planear a satisfação dos direitos individuais,
quanto mais cumpri-los.
A responsabilidade de todos e de cada um perante os outros, a consciência de deveres e de
direitos, o impulso para a solidariedade e para a participação, o sentido de comunidade e de partilha, a
insatisfação perante o que é injusto, a vontade de aperfeiçoar, de servir e de realizar e o espírito de
inovação, de audácia e de risco é o que se chama cidadania.
Sala tic.sabermais, Porto Ed;
Educação para a cidadania, Plátano Ed. (adapt)
1. Tendo em conta as posições defendidas no Texto A (as pessoas não podem ser consideradas
responsáveis pelo que fazem) e no Texto B (as pessoas são livres e responsáveis), seleccione,
nos textos, as razões que são apresentadas para justificar cada uma. (cerca de 20 linhas ou
esquema comparativo, por exemplo, com das colunas)

As razões defendidas no texto A para afirmar que o homem não é livre são: “as pessoas
inteligentes sabem agora que todo o ser humano é o produto de uma hereditariedade infindável
que o precede e de um ambiente infinito que o rodeia”; “Sabemos também que as condições
sociais influenciam as nossas decisões de formas que escapam à nossa consciência”.
As razões defendidas no texto B para afirmar que o homem é livre são: “Apesar dos
condicionalismos o homem é um ser livre, pois, em última instância, é sempre ele que decide
agir ou não agir”; “Todo o indivíduo possui a capacidade de actuar segundo a sua própria
decisão. A liberdade humana é sempre liberdade de escolher dentro dos limites que a nossa
circunstância nos impõe. Da nossa circunstância fazem parte o país onde nascemos, o nosso
grupo social de referência, a nossa família e os nossos hábitos. Todo o indivíduo possui a
capacidade de actuar segundo a sua própria decisão. A liberdade humana é sempre liberdade
de escolher dentro dos limites que a nossa circunstância nos impõe. Da nossa circunstância
fazem parte o país onde nascemos, o nosso grupo social de referência, a nossa família e os
nossos hábitos”.

2. Posicione-se, manifestando o seu acordo ou desacordo, face às posições expressas nos textos A e
B. Justifique clarificando o seu ponto de vista pessoal sobre “liberdade” e “responsabilidade”.
(não exceder um página A4).

Defendo o ponto de vista expresso no texto B, pois acho que somos livres de fazer o que
queremos mas antes de agirmos temos que pensar nas consequências das nossas acções. Pelo
facto de vivermos e sermos seres sociais, a nossa liberdade tem de ser articulada com a dos
outros. O homem é um ser livre apesar dos condicionalismos, pois, em última instância, é
sempre ele que decide agir ou não agir, sendo livre pode escolher ajustar-se ou não às regras
sociais. Ser livre é agir com responsabilidade. Ser responsável é assumir as consequências do
que fazemos, respondendo pelos nossos actos não culpando apenas os outros, as circunstâncias, a
sociedade e os erros do mundo.

Você também pode gostar