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A prisão como função da pena se deu pelo Código Penal Francês em 1791 e

se expandiu por todo mundo. A história do sistema penitenciário no Brasil


revela que, desde o início, a prisão foi local de exclusão social e questão
relegada o segundo plano pelas políticas públicas, importando,
consequentemente, a falta de construção ou a edificação inadequada dos
edifícios penitenciários, na maioria das vezes improvisada, as superlotações,
os envolvimentos de presos em organizações criminosas.

‘’Aqui, o trabalho, a disciplina e a bondade resgatam a falta cometida e


reconduz o homem a comunhão social’’. Essa era a frase escrita no edifício
principal do Carandiru;

Idealmente cada preso deveria ficar sozinho em sua cela, mas, o grande
problema é a superlotação. Ela impede que o preso tenha uma vida digna, Por
conta dela, os detentos acabam tendo que brigar por necessidades básicas, por
exemplo, por um lugar onde dormi, Existiram momentos em que o número de
detentos no local chegou a mais de oito mil. O relator especial da ONU para
tortura, Juan Méndez, disse que a própria superlotação das unidades é um
fator crucial para o agravamento da situação de maus-tratos dentro das prisões
brasileiras.

A rotina da casa não muda. De manhã, às cinco horas, os carcereiros do


período noturno fazem a contagem em cada cela para ver se alguém não fugiu
ou morreu. Em seguida é servido o café da manhã nas próprias celas. Depois,
a turma é liberada para o banho de sol, atividades esportivas e de trabalho. Às
dezessete horas todos são recolhidos, e as dezenove e trinta é a hora da
tranca. Tudo é muito rápido, ninguém pode ficar de fora, vacilou na primeira
vez tem o nome anotado. Na reincidência, são trinta dias de castigo na
“Isolada”. Se der moleza um dia, no dia seguinte não se consegue trancar mais
ninguém, diz um carcereiro.

A comida é feita em péssimas condições, alimentos estragados, baratas


andando pela cozinha aumentando assim os níveis de doenças por intoxicação
alimentar, O local contava com poucos funcionários, pois os próprios presos
eram obrigados a realizar todas as atividades básicas para manter tudo
funcionando. O Dr. Dráuzio Varella foi médico voluntário no Complexo do
Carandiru durante 13 anos, de 1989 a 2002. Ele conta que as doenças nos
presídios são inúmeras, principalmente as DST´s. ele e sua equipe
entrevistaram e colheram amostras de sangue de 2492 detentos e constataram
que 17,3% dos presos da casa de detenção estavam infectados pelo vírus HIV.
Os fatores de risco eram: uso da cocaína de parceiros sexuais. Dos 82
travestis presos na casa de detenção, 78% eram portadores do vírus.
A visita no presídio era feita no sábado para uns e domingo para outros, não é
qualquer pessoa que pode visitar um preso, só parentes diretos têm esse
direito e, mesmo assim, precisam fazer um cadastro e ter sua vida vasculhada
antes de ter a visita liberada. A revista era feita em tudo, roupas, comida, para
prevenir a entrada de drogas. Cães eram usados nas revistas, e a revista
intima, olhavam até mesmo as partes intimas da mulher.

O critério da distribuição obedece às regras básicas. Reincidentes, no pavilhão


oito; primários, nove Os raríssimos universitários vão morar nas celas
individuais do pavilhão quatro. Este poderia ser o mais privilegiado. Contém
menos de quatrocentos presos. Deveria abrigar, além dos universitários, o
Departamento de Saúde e Enfermaria. Mas, por necessidade de proteção aos
marcados para morrer, a direção se viu obrigada a criar um setor especial, no
térreo, denominado “Masmorra”, de segurança máxima.
É o pior lugar da cadeia. Ali ficam sem banho de sol, trancados o tempo todo
para escapar do grito de guerra do crime. Convivendo com ratos e baratas,
com o cheiro de gente aglomerada e a poluição de fumaça de cigarro. A
masmorra aloja aqueles que perderam a possibilidade de conviver com os
companheiros. Mesmo dali, aceita ser transferido para outro pavilhão, pois o
instinto de conservação da vida fala mais alto. Há ainda neste pavilhão uma
galeria cujas celas são identificadas com um cartão: “DM”- Doentes Mentais.
Como não existe serviço especializado em psiquiatria na casa, o critério para
lhes atribuir tal rótulo é incerto e a medicação psiquiátrica que recebem é
praticamente a mesma para todos. Por sua vez o pavilhão cinco é o mais
abarrotado da cadeia. Moram ali 1.600 homens, o triplo do que o bom senso
recomendaria para uma cadeia inteira. Nele ficam os presos integrantes da
faxina, encarregados da limpeza geral e de distribuição de refeições, os que
trabalham nos patronatos e no judiciário. No quarto andar ficam os que foram
expulsos dos outros pavilhões devido a maus procedimentos ou derrota em
disputas pessoais, além de outros estupradores e justiceiros. O que mais
chama a atenção do visitante neste andar são a presença dos travestis com as
maçãs do rosto infladas de silicone, calças agarradas e andar rebolado.
No último andar, fica a ala da Assembleia de Deus, o grupo evangélico mais
forte da casa. São inconfundíveis, sempre de sapatos, camisas de manga
comprida abotoada no colarinho e a Bíblia desbotada. Alguns pavilhões tinha
sua facção, disputando na cadeia a venda de drogas, cigarro, álcool, e quem
vai ‘’Mandar no presidio ‘’.

Relatos de um detento que não há projetos de ressocialização ou educação no


contexto carcerário, mas o inverso disso tudo: violência dos agentes contra os
presos; o uso de gás lacrimogênio e de balas de borracha.

Apesar de a Constituição Federal prever no seu artigo 5º, inciso XLIX, do


Capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais, que "é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral", o Estado continua fracassando
nas condições do cumprimento de pena e da ressocialização do preso.

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