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Unipê – Centro Universitário de João Pessoa

Psiquiatria I
Professora: Manoelliny Cipriano da Silva Cordeiro
João Pessoa, 24 de Janeiro de 2017
Aluna: Letícia Mirelle da Silva Rocha 7° Período – B (Tarde)

Holocausto Brasileiro

ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 1. Ed. - São Paulo: Geração Editorial, 2013.

Daniela Arbex jornalista brasileira, formada em Comunicação Social pela


Universidade Federal de Juiz de Fora, onde iniciou a carreira no jornal Tribuna de Minas, do
qual atualmente é repórter especial. Também, autora do best-seller Holocausto brasileiro,
eleito por melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte
(2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti (2014). Com mais de 150 mil
exemplares vendidos no Brasil e em Portugal. Sendo ela, uma das jornalistas mais premiada,
tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais em seu currículo.
O livro aborda, em quatorze capítulos, relatos de homens, mulheres e crianças que
perderam a vida e aqueles que sobreviveram num campo de concentração chamado Colônia.
No primeiro capitulo do livro, começa retratando testemunhos de pessoas que trabalharam
no pavilhão. O local é descrito como “cidade encravada, na cerra de Mantiqueira, o maciço
rochoso de Minas Gerais”, cercado por suas muralhas não tinha visão para dentro do
complexo, apenas janelas grandes todas gradeadas. Ao chegar mais próximo do Afonso Pena,
subia um cheiro insuportável que vinha de dentro, causando náuseas para quem não estava
acostumado. Pacientes bebiam agua do esgoto, dormiam amontoados em cima do capim, por
conta do frio e da superlotação, eram cerca de 5 mil pacientes projetado para 200, porém
restaram 200 sobreviventes nos dias atuais. As locomotivas traziam pessoas de vários lugares
do Brasil, a expressão “trem de doido” surgiu ali. O testemunho do paciente que sobreviveu
relata inúmeras vezes que sofreu ao ser levado ao eletrochoque, pessoas morriam com
tamanha descarga, muita das vezes a rede de energia da cidade não aguentava, subsequente os
pacientes também não sobreviviam. Hoje não a eletroconvulsoterapia existe, desde 1938,
para tratamento de doenças mentais, mas seu uso, no século passado, foi muito controverso. A
tecnologia do eletrochoque se modernizou. No Brasil, o método só passou a ter mais controle
em 2002, quando o Conselho Federal de Medicina estabeleceu regras específicas para a
adoção da técnica, como a necessidade de aplicar anestesia geral. Além da anestesia, a
utilização de relaxantes musculares ameniza as convulsões, mas nem sempre foi assim. No
segundo capítulo (na roda da loucura) a união e o respeito é relato de experiências dentro
da colônia. Sônia, mulher, que sobreviveu ao holocausto, relata os sofrimentos vividos, teve
dois filhos biológicos, mas por conta das transgressões, adotou uma filha dentro da colônia,
Terezinha, juntas, saíram de mãos dadas, rumo à liberdade. Sônia hoje ganhou identidade,
liberdade de poder saborear o melhor, além de ser ousada para vivenciar as oportunidades.
Esquecendo-se do que ficou para trás, toma consciência de sua humanidade. (O único
homem que amou o colônia) terceiro capítulo, Luiz Felipe carneiro, hoje relata o seu
nascimento dentro do holocausto, seu pai mestre de obras da colônia, cresceu vendo e
escutando sobre “os loucos”, mas nunca entendeu que loucura era essa, o que via era homens
escravizados e sabia que algo estava errado. Só tomou conhecimento das atrocidades passadas
no hospital de Barbacena décadas depois de ter saído de lá, quando descobriu que os homens
que abriam caminhos do progresso estavam privados de ir e vir. Apesar de ter nascido no
hospício, berço de uma tragédia silenciosa, seus olhos de criança pouco puderam ver. Hoje,
entende por que ninguém consegue enxergar o Colônia através do seu olhar e muito menos
amá-lo como ele. No quarto capítulo (A venda de cadáveres) são relatadas as atrocidades
das vendas de corpos sem autorização de familiares. A dignidade daqueles que morriam não
eram preservadas, em vida havia sofrimento, depois de mortos o sofrimento foi também para
quem conheceu esse trágico fim. Ivanzir, professor de uma das faculdades, antes de morre
relatou a cena que o comoveu, um pátio cheio de corpos, não entendeu ele o porquê de tudo
aquilo, mas era o horror para seus olhos. Tudo isto, se deu em um grande comercio lucrativo
nos anos 70. (A filha da menina de Oliveira) sétimo capítulo, um dos relatos onde mãe e
filha eram separadas. O pedido de Sueli foi dirigido à assistente social da instituição em 2002,
quando completava trinta e um anos de internação no Colônia. A proximidade do aniversário
de Débora (sua filha) que por sua vez adotada, sempre foi acompanhada de choro e crises
registradas nos prontuários. — Uma mãe nunca se esquece da filha, mesmo quando não está
mais com ela — repetia Sueli, por anos. Debora foi ao encontro do passado, mas já era tarde,
Sueli sua mãe já havia falecido, em janeiro de 2006, Sueli não resistiu ao infarto. Faleceu
chamando por Débora. Puxando na memória, a “filha morena” da menina de Oliveira retorna
aos seus sete anos, no dia em que conversou com uma paciente do hospício de Barbacena
dentro do pavilhão feminino. Lembrou-se de a mulher ter lhe dito que era mãe de duas
meninas. Percebeu, então, que era uma delas. Sem saber, mãe e filha estiveram nos braços
uma da outra por alguns segundos. Por isso, a funcionária havia saído do pavilhão para
chorar. Todos conheciam a história delas, menos Sueli e Débora, vítimas da loucura dos
normais. O oitavo capítulo (sobrevivendo o holocausto) conta a historia de Adelino e Nilta,
casal que se conheceram no Colônia, se casaram e vivem em liberdade. No nono capítulo
uma mãe é separada do filho, só em 2011 que houve o reencontro depois de muito sofrimento.
No decimo capítulo, registro do fotógrafo que desabafou com Eugênio Silva. — Aquilo não é
um acidente, mas um assassinato em massa. Só precisei clicar a máquina, porque o horror
estava ali. Uma das cenas que mais chocaram Luiz Alfredo ao entrar no Colônia foi a dos
doentes cobertos de moscas. Ele teve a nítida impressão que os pacientes tinham sido
deixados ali para morrer. E a experiência no arquivo só fez a vontade aumentar. Por conta de
o destino ter mudado para Luiz, o desejo de ir mais profundo no que tinha visto no Colônia
ficou esquecido... Só apenas em 2011, quando as fotos dele completaram meio século, as
perguntas começaram a ser respondidas. O autor das fotos contava, então, com setenta e sete
anos, e suas memórias deram o pontapé inicial à minha investigação. A tragédia provocada
pelo Colônia começou a ser revelada pelo olhar dos sobreviventes e de suas principais
testemunhas. No decimo primeiro capítulo (Turismo com Foucault), impressionado com a
realidade da loucura naquele Estado, Foucault deixou o parlatório onde ministrava sua
palestra e sentou–se no chão junto com os estudantes, a fim de ouvir os relatos sobre a forma
de tratamento nas casas destinadas aos loucos. Ronaldo Simões Coelho, oitenta anos, um dos
primeiros médicos a denunciar o Colônia. Apesar de Minas ter produzido a maior tragédia da
loucura no país, por meio do Hospital Colônia, o Estado acolheu as primeiras manifestações
em favor da reforma psiquiátrica. Assim como na Inconfidência Mineira, importante
movimento social da história do Brasil, ocorrido em 1789, à luta pela mudança de paradigma
na saúde mental, deflagrada oficialmente em 1979, contou com a ajuda de insurgentes, dentre
eles Simões. Francisco Paes Barreto, setenta anos, também se rebelou contra a desumanidade
de Barbacena. Hiram Firmino, jornalista denunciou a situação do hospital em 1979. Helvécio
Ratton, cineasta, ao entra em contato com o Colônia realizou o documentário “Em nome da
razão”, filmado em 1979 no interior do Colônia. No ultimo capítulo a autora termina
declarando: “Compartilhar o sofrimento de Conceição Machado, Sueli Rezende, Silvio Savat,
Sônia Maria da Costa, Luiz Pereira de Melo, Elza Maria do Carmo, Antônio Gomes da Silva
e outros tantos brasileiros que resistiram ao nosso holocausto é uma maneira de manter o
passado vivo. Tragédias como a do Colônia nos colocam frente a frente com a intolerância
social que continua a produzir massacres: Carandiru, Candelária, Vigário Geral, Favela da
Chatuba são apenas novos nomes para velhas formas de extermínio. Ontem foram os judeus e
os loucos, hoje os indesejáveis são os pobres, os negros, os dependentes químicos, e, com
eles, temos o retorno das internações compulsórias temporárias. O fato é que a história do
Colônia é a nossa história. Ela representa a vergonha da omissão coletiva que faz mais e mais
vítimas no Brasil. Os campos de concentração vão além de Barbacena. Estão de volta nos
hospitais públicos lotados que continuam a funcionar precariamente em muitas outras cidades
brasileiras. Multiplicam–se nas prisões, nos centros de socioeducação para adolescentes em
conflito com a lei, nas comunidades à mercê do tráfico. O descaso diante da realidade nos
transforma em prisioneiros dela. Ao ignorá-la, nos tornamos cúmplices dos crimes que se
repetem diariamente diante de nossos olhos. Enquanto o silêncio acobertar a indiferença, a
sociedade continuará avançando em direção ao passado de barbárie. É tempo de escrever uma
nova história e de mudar o final.
O livro põe trazer a recordação antiga e ainda aberta na sociedade, o preconceito com
o anormal que faz com que o se torne diferente. E por ser considerado fora do padrão é
separado, jogado, descartado... Segundo os oficiais, pelo menos 60 mil pessoas morreram por
detrás dos muros do Colônia como os tímidos, mães solteiras, gays, alcoólatras, indigentes,
esposas inconvenientes, que era confinado no hospício até a morte. O seu valor em cada
detalhe e testemunho foi de grande intenção, para mostrar que um lugar como o Colônia
jamais poderá existir novamente. Ao trazer este museu de historia para os dias atuais, a autora
de Holocausto Brasileiro pode traçar em nossas mentes o modelo entre os manicômios de
ontem e os hospitais de hoje. E mostra-se consciente dos deveres do jornalismo em denunciar
atrocidades e incentivar o pensamento crítico, humanitário para a sociedade, assim possibilita
o exercício real da cidadania para a população.
Recomendo a leitura para professores e alunos universitários. E para toda população
que não tem consciência que há pessoas que vivem no mesmo mundo, mas que não tem
liberdade como elas. Contudo, é uma obra que vai direto ao ponto, sem amenizar nada para o
leitor (um choque de realidade), com um trabalho excepcional de pesquisa e texto. Portanto o
livro é uma realidade que aconteceu em nosso país, uma parte da história que ficou de fora de
tanta coisa encoberta aos longos dos anos. O livro é impactante para quem o ler, onde
oportunizou conhecer a outra face do Brasil.

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