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INSTITUTO ENSINAR BRASIL

FACULDADE DOCTUM DE JUIZ DE FORA

Solange Souza Oliveira

O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

Projeto apresentado à Disciplina Integradora I como


requisito final de avaliação, sob orientação
Profª/Coord. Laira Carone Rachid

JUIZ DE FORA

NOVEMBRO/2018

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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................03

Objetivos ...........................................................................................................................04

Resumo....... ......................................................................................................................05

Formação Geral..................................................................................................................07/08

Introdução ao Estudo do Direito .......................................................................................09

Ciencia Politica..................................................................................................................10

Antropologia......................................................................................................................11/12

Conclusão...........................................................................................................................13

Bibliografia .........................................................................................................................14

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INTRODUÇÃO

O estudo em questão pretende tratar sobre o livro O Caso dos Exploradores de


Caverna, obra ficticia, de LON L FULLER.
Cinco membros de uma sociedade espeleológica exploravam uma caverna quando
aconteceu um deslizamento de terra que bloqueou a saída. Devido a demora no resgate e os
imprevistos, a única forma de sobreviverem era matando e comendo a carne de um deles, o
que foi decidido jogando dados para ver quem seria morto pelo grupo, para que servisse de
alimento para os colegas.
Serao demonstrados neste trabalho a interdisciplinaridade entre as disciplinas que
compoe o primeiro periodo do curso de Direito: Formação Geral, Introdução ao Estudo do
Direito I, Ciencia Politica e Antropologia.

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OBJETIVOS

GERAL:
Resumo do livro e demonstrar as varias vertentes com as disciplinas do curso de
direito.

ESPECÍFICOS:
- Formação Geral
- Introdução ao Estudo do Direito I
- Ciência Política
- Antropologia

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RESUMO DO LIVRO

No ano de 4.300 d.C. na cidade de “Newgarth.”


Cinco exploradores ficaram presos numa caverna, por causa de um deslizamento.
Durante os trabalhos de resgate, houve outro deslizamento, e 10 operários morreram.
No vigésimo dia a equipe de resgate conseguiu fazer contato com os exploradores por
rádio. Um deles, chamado Whetmore, perguntou quanto tempo eles demorariam para
ser resgatados. Os engenheiros responderam que, pelo menos, mais dez dias.
Então o mesmo Whetmore pediu para falar com um médico e perguntou se, com as
provisões que tinham, conseguiriam sobreviver por mais dez dias. O médico disse que
as possibilidades eram muito poucas. Depois de oito horas, novamente Whetmore
perguntou se eles sobreviveriam caso se alimentassem da carne de um deles. O
médico, a contragosto, disse que sim.
Com isso cessaram as comunicações e, quando os homens foram resgatados, ficou-
se sabendo que, no trigésimo terceiro dia após a entrada na caverna, os demais
comeram a carne do próprio Whetmore para se manterem vivos.
Os quatro sobreviventes foram acusados pelo homicídio de Roger Whetmore e,
perante o júri, ficou evidenciado que o Whetmore foi o primeiro a propor que um deles
fosse morto para servir de alimento aos demais. Ele mesmo propôs também que fosse
tirada a sorte nos dados (curiosamente, ele tinha um par de dados consigo). No
entanto, antes de tirarem a sorte, ele – Whetmore – desistiu. Os outros prosseguiram.
Quando chegou a vez dele, lançaram os dados para ele. E o “sorteado” foi o próprio
Whetmore.

Os quatro réus foram condenados à forca em primeiro grau. Apesar da condenação,


tanto o júri quanto o juiz enviaram uma petição ao chefe do Poder Executivo para que
este comutasse a pena de morte em prisão de seis meses, o que, até o momento do
julgamento do recurso pelo tribunal, não tinha acontecido. Da condenação pelo
tribunal do júri, houve recurso à Suprema Corte de Newgarth.

1º - Foster: Ele propôs que os acusados não poderiam ser condenados, pois as leis
legais não se encaixavam neste caso. Foster diz que como as leis legais são para a
sociedade, os quatros réis não estavam numa sociedade, então as leis legais perdem

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valor e entra as leis naturais. Aqueles homens só fizeram aquilo para garantir a própria
sobrevivência.

2º- Tatting: Combate fortemente o argumento de Foster, pois não se tem conhecimento


destas “leis naturais”, e quando é que estas leis naturais começaram a valer? Antes ou
depois de matarem Whetmore? No final ele se encontra numa controvérsia emocional,
por um lado ele os acusa por seus atos terríveis, por outro ele tem simpatia por eles.

3º - Keen: Fala que se ele pudesse ele iria libertar todos, pois eles já sofreram demais.
Mas como o seu trabalho não é moral e sim legal, ele necessita aplicar a lei. A lei diz
que todo homem que matar outro vai cumprir com a pena de morte, ele acusa os réus.

4º - Handy: Primeiramente ele levanta as valides do acordo feito na caverna onde


todos aceitaram depois ele levanta a opinião pública. Ele mostra uma pesquisa feita
com a população onde 90% das pessoas acreditam que os réus devem ser absolvidos,
então ele fica do lado da opinião pública.

Pelo Fato de a Corte Suprema estar proporcionalmente dividida, a condenação


proferida pelo Tribunal de Primeira Instancia deve ser mantida.

A suprema corte, estando igualmente dividida mantém o primeiro resultado do tribunal


dando sentença de morte aos acusados.

“Determina-se que a execução da sentença ocorra às 6 horas da manha do dia 2


do mês de abril do ano de 4300 (uma sexta-feira), quando o Verdugo Publico
devera proceder com toda conveniente Diligencia para enforcar cada um dos réus
até que estejam mortos. “

1) FORMAÇÃO GERAL

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- Relação da Formação Geral com o caso: Pelo prisma dos direitos humanos, tópico
trabalhado na disciplina Formação Geral, matar um homem para se alimentar de sua carne
não seria uma opção.

Os Direitos Humanos visam concretizar as exigências de dignidade da pessoa humana, de


liberdade e igualdade, as quais devem ser reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos em
âmbito nacional e internacional.

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988, diz:

“ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos


brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito  à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Dentro da caverna, não estavam assegurados nenhum direito humano, estavam privados por
exemplo da liberdade, mas estavam em grau de igualdade, pois todos estavam presos!!

‘Matar um homem para se alimentar de sua carne não seria uma opção”
Mas também não tiveram outra opção ante o silencio das autoridades questionadas, conforme
esta no próprio texto:

“Depois de 20 dias, conseguiram comunicar-se com os exploradores através de um rádio,


neste rádio eles perguntaram quanto tempo demoraria para eles saírem e a resposta foi mais
10 dias, depois perguntaram para um médico se eles poderiam sobreviver sem comer por
mais 10 dias e ele respondeu que provavelmente não.Houve um tempo de silêncio então eles
perguntaram se comendo carne humana eles poderiam sobrevier, o médico respondeu que
provavelmente sim, então os exploradores recorreram as autoridades religiosas, políticas,
médicas e ninguém aceitou participar da decisão.”

Em minha opinião, creio que logicamente os exploradores fizeram a única coisa possível a
fim de saírem da caverna com vida.

Se mutilassem seus próprios órgãos a fim de se alimentar deles, creio que também não seria
uma solução, dado as condições que estavam. Eles teriam que fazer a amputação com
materiais não esterilizados, num local extremamente úmido e rico em bactérias, nestas
condições provavelmente todos que se mutilassem seriam mortos devido a infecção que viria.

Direitos Humanos de quem???

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É praticamente impossível para qualquer ser humano manter o seu controle emocional diante
do iminente risco de morte, complementado ainda pelo medo de ser sacrificado enquanto
dorme ou apunhalado pelas costas, gerando contenda e desconfiança entre eles.
Ocorre que nesse momento “nasce” uma situação de perigo atual, e de injusta agressão
eminente e diante de um risco de vida o homem faz de tudo para sobreviver, inclusive tirar a
vida de outrem para não perder a sua. Uma situação de pavor, que só pode ser compreendida
por alguém que passou por situação semelhante, uma busca imensa de sobreviver.

“Os direitos humanos estão vinculados com os direitos naturais, e descendem desta tradição,
eles constituem o elemento utópico por trás dos direitos legais. Os direitos humanos
representam a necessária e impossível reivindicação da lei à justiça. Eles extraem sua força do
sofrimento do passado e das injustiças do presente e atuam como parasitas no corpo dos
direitos, ao consumir o hospedeiro e projetar um futuro a partir de uma história jurídica
(DOUZINAS, 2009, p. 383).”

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2) – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I

Relação da Introdução ao Estudo do Direito I com o caso: As normas são feitas para
regulamentar uma sociedade, garantindo ordem/paz social e segurança jurídica. Dentro da
caverna, numa situação completamente adversa, os exploradores fizeram novas regras. As
regras do Direito regem a sociedade não eram cabíveis na caverna. Em razão do estado de
necessidade, chegaram à conclusão de que um dos exploradores deveria ser morto para que os
demais se alimentassem da carne dele.

“TODA LEI É OBRA HUMANA E APLICADA POR HOMENS; PORTANTO


IMPERFEITA NA FORMA E NO FUNDO, E DARÁ DUVIDOSOS RESULTADOS
PRATICOS, SENAO VERIFICAREM, COM ESMERO, O SENTIDO E O ALCANCE DAS
SUAS PRESCRIÇÕES.” (CALDARA, AP CIT PAG. 4)

Existiam naquela situação extraordinária elementos que caracterizam o “Estado de


Necessidade” – que é o instinto de sobrevivência, frente ao art. 4º do CP - “Considera-se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado”, porém estamos diante da inexistência de um ambiente jurídico ou político o que
caracteriza um fato atípico, além uma condição não prevista no ordenamento, e na ocasião as
normas jurídicas se encontravam inválidas.

A situação a qual os exploradores se encontravam era crítica, fome e falta de alimentos, o


medo da morte, a incerteza de o resgate chegar a tempo aliada a forte pressão psicologia e o
medo de servir de alimento para os demais gerou uma situação tão adversa que com certeza
enquadra-se dentro do que se entende por estado de necessidade.

Vale lembrar que o sacrifício veio após um período de 21 dias sem alimentos, e a única
maneira de se manterem vivos foi comendo a carne de um deles, não havia outro modo para
os exploradores se alimentarem, e sendo água e comida indispensáveis à vida, não tendo eles
alternativas, pois havia o risco de morte por desnutrição, sendo inviável aguardar a morte
natural de um dos indivíduos para se alimentarem de sua carne, visto o lapso temporal
exigido, diminuindo ainda mais as chances de sobrevivência, sendo adiado o máximo
possível à medida extrema de sobrevivência conforme relatos dos réus.

Portanto, observa-se evidentemente a presença do estado de necessidade como excludente de


ilicitude a fim de provar a inexistência de crime, visto que os sobreviventes usaram de meio
necessário, para salvar suas vidas, onde o elemento subjetivo era única e exclusivamente a
sobrevivência.

O agente que pratica o fato em estado de necessidade terá o benefício da excludente de


ilicitude referida por se tratar de caso extraordinário, conforme previsão legal no Código
Penal Brasileiro:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em


legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito.
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Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

Ainda de acordo com o texto do art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. Entende-se que no período em que estavam afastados da sociedade, os
acusados sofreram variações mentais causadas pelas circunstâncias do meio em que se
encontravam o que influenciou no comportamento psicossocial deles. Não possuía desta
forma, o discernimento mental mínimo necessário para tornar o sacrifício punível.

3) - Relação da Ciência Política com o caso: A opção a que chegaram, de matar um colega
para se alimentarem de sua carne, não foi imposta. Houve uma votação para sua aceitação e,
posteriormente, houve sorteio de quem deveria ser morto. Nada foi imposto, tudo debatido e
decido de forma imparcial. Esse modelo se assemelha à democracia.

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Sim. Houve democracia, a partir da decisão de cada um, e foi através do voto, sem qualquer
ameaça, tudo consentido.

Pode a democracia ser imposta e continuar democracia? Tomada de cima para baixo e sem
ponto de toque com o sistema de valores do povo, a lei estaria condenada a ser transgredida.
Pior: Direitos humanos impostos nada mais são que justificação para a dominação do mais
forte, do mais rico, do mais letrado e assim por diante (RUFINO DOS SANTOS, s/d, s/n).5

4) Relação da Antropologia com o caso: Um dos tópicos trabalhados na Antropologia é o


multiculturalismo. Em algumas culturas o canibalismo é aceito. Portanto, pode-se falar em

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direitos humanos universais, ou os mesmos dependerão da cultura de uma determinada
sociedade?

Novamente temos que colocar o estado de necessidade, pois nesse caso em minha opinião,
não se pode falar ou pensar que no estado em que se encontravam a cultura e ou direitos
universais valeria algo, já que foram privados devido aos acontecimentos.

Quando Roger Wetmore foi morto, o grupo não se encontrava em um estado de sociedade
civil‟ e sim em um estado natural‟. Portanto, as leis impostas aos réus não devem ser as
nossas e sim as apropriadas a eles.”(pág. 14-15).

Sabe-se por meio da Antropologia que a sociedade passou por um estágio triplo de evolução.
Desde a selvageria, passando pela barbárie até a civilização. Estes estágios são os tópicos para
se aferir o desenvolvimento das sociedades.

Quando o grupo entrou na caverna, compartilhava um estado de civilização, estágio mais


desenvolvido pela classificação de Morgan.

Porém, quando, a partir do momento em que o grupo se encontrou enclausurado dentro da


caverna, diversos fatores fizeram com que o grupo mudasse seu comportamento. Com a falta
de convívio social e a fome que aumentava a cada dia que passava, os exploradores de cavernas
passaram a apresentar características selvagens, necessárias devido à adaptação ao ambiente
em que se encontravam (a caverna).

A fase selvagem permite a prática de atos totalmente reprováveis pelas sociedades civilizadas,
como o canibalismo. Esta ação foi praticada pelos exploradores,mas só ocorreu para manter
os seus corpos alimentados e continuarem vivos, uma vez que dentro da caverna não existia
nenhuma outra fonte de alimento. Portanto, deve-se analisar que o grupo estava em um estado de
necessidade.

A concepção de um direito humano pode variar de cultura para cultura. Em determinada


região, o que de um lado cultural pode ser um direito, na visão cultural de outra pessoa pode
até ser uma afronta a moralidade e a tradição que lhe foi passada de pai para filho há gerações.
(multiculturalismo, diversidade cultural e direito coletivo) revista unibrasil.

CONCLUSAO

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O livro é excelente, e leva a variadas conclusões dentro do direito.

Minha opinião pessoal dentro dos fatos aqui narrados é de absolvição dos réus, já que
naqueles momentos vividos não tinham o que fazer a não ser conseguir um meio ainda
que terrível de sobreviver, o tempo necessário a suas salvação, ainda que não soubessem
ao certo se sobreviveriam e quando seriam e se seriam resgatados.

Valendo-me aqui novamente do Artigo 24 do código penal que diz:

“considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,


que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.”

BIBLIOGRAFIA
O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA, LION L. FULLER

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CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988

CODIGO PENAL BRASILEIRO

O NOVO DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO – LUIS ROBERTO


BARROSO

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